Cad. Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
Sexualidade e corpo: o olhar do sujeito
at ravés das imagens em vídeo
Se xuality and the human b o dy:
the sub je ct’s vie w thro ug h vide o imag e s
1 Ce n t ro de Saú de-Es c o l a Germ a n o Si n val Fa r i a s , Escola N acion a l d e Sa ú d e P ú b l i c a , Fu n d ação Os w a l d o C r u z . Ru a Le op old o Bu l h õ e s , 1 4 8 0 , Ri o d e Ja n e i ro, R J 2 1 0 4 5 - 9 0 0 , Bra s i l . e p va r g a s @ o p e n l i n k . c o m . b r 2 N ú cleo de Te c n o l o g i a Edu ca cion al p ara a S aú d e, Ce n t ro d e Ciên cia s d a Saú d e, Un i v ersi da d e Fe d e ral d o Rio d e Ja n e i ro. h e l e n a . s i q u e i ra @ i m a g e l i n k . c o m . b r
Elian e Po rtes Vargas 1
Ve ra Helen a Fe r raz d e Si q u e i ra 2
Abst ract Th is stu d y an alyz es im a ges of t h e b od y lin k ed to sex u a l an d re p ro d u c t i ve b eh a vior
fou n d in t h e com m u n ication p rocesses m ed ia ted by so ca lled ed u ca tion al v id eo s. In t h e re l a -t ion sh ip b e-t w een su b jec-t an d -t ech n ology, -th e p ap er is in -t en d ed -t o ch ara c -t e r i ze -t h e d iscou rses an d th e view or p ersp ective cu rren t ly sh ap in g h ealth ed u cation pra c t i c e s . Focu sin g on th e p oten tial in t h e relat ion sh ip b etw een th e en u n cia tor a n d su b jects re p resen ted in th e text a n d th e in -t e rac-tion b e-tw een h eal-th p rofession als an d m essages, -th e s-tu d y a -t-tem p -t s -to ch ara c -t e r i ze -th e d is-cou rses an d q u estion s p rov id in g t h e ba sis for a given v iew of th e b od y a n d sex u a l i t y. Th e stu d y w a s con d u ct ed in t h e years 19 96 -1997 a n d focu sed on h ea lt h p rofession a ls fro m t h e p u blic h ealth system . T h e resu lt s sh ow a con cep t of sexu a lity th at t en d s to gen era l i ze th e m ea n in g a s-crib ed t o sex u a l ex p e r i e n c e , ign orin g t h e v a riou s w ays b y w h ich d ifferen t cu l t u ra lly d efin ed g rou ps a ttribu te m ea n in g to th e bod y.
Key words Health Ed u c a t i o n ; Ed u cation al Te c h n o l o gy ; Au d i ovisu al Aids; Sex Be h a v i o r
Resumo D el im it a d o em t orn o d e qu estões q u e m a n tém rela ções com p rá t ica s ed u cat iva s em
s a ú d e , est e estu d o tem com o p ersp ect iv a d e an álise as im agen s d o corpo vin cu la d as ao com por-t a m en por-t o sex u al e re p ro d u por-t i vo n os p rocessos d e com u n ica ção m ed iad os p elos ch a m ad os víd eos e d u c a t i vo s . Bu sca-se ca ra c t e r i z a r, n a relação d o su jeito com a tecn ologia , os d iscu rsos e a dire ç ã o d o olh ar qu e con form a m n a atu alid ad e tais prát icas. Com esp ecial in t eresse n as p ossibilid ad es d e rela ções qu e o vídeo ap resen ta en tre su jeitos en u n ciad or e re p resen ta do q u e com põem o tex t o e p rofission ais d e saú d e n as in terações com as m en sagen s, p ro c u ra -se ca ract eriza r os d iscu rsos e qu est ões qu e con form am a ba se d e u m a d et erm in a d a v isã o d o corp o e d a sex u a l i d a d e . O d ese-n h o d o est u d o t ev e com o su j eito p rofissioese-n a is d e sa ú d e d a red e p ú b lica d o Rio d e Ja ese-n e i ro ese-n o p eríod o d e 1996-1997. Os resu ltad os m ost ra m u m a con cepção d e sexu alid ad e qu e ten d e a gen e-raliz ar o sign ifica d o d a ex periên cia sex u a l , i g n o ran d o as va riações en tre d iferen t es gru p os, c u l-t u ralm en l-te d efin id os, n a al-t rib u ição de sign ificad os ao corp o.
Palavras-chave Ed u cação em Sa ú d e; Tecn ologia Ed u c a c i o n a l ; Recu rsos Au d i ov i s u a i s ; C o m p o
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 15(Sup . 2):69-83, 1999 I n t ro d u ç ã o
As reflexões aq ui d esen volvidas têm origem em u m trabalh o anterior (Va rg a s, 1998) cu ja an álise e s t ru t u ra-se em torn o de d ois eixos: as im agen s d o corp o p rod uzid as em vídeo, n o q u e con cer-n e às re p resecer-n ta ções d o c orp o e da sexu alid a-d e e su as relações com o a-discur so a-de p ro f i s s i o-n ais de saú de o-n a io-n teração com as im ageo-n s em p ráticas de edu cação n o cam p o da saú d e.
Neste art i g o, busca-se con tem p lar o sign ifi-c ad o atr ib uíd o à s d im en sõ es sexu a is e re p r o-d u t i vas o-d o c orp o, n a ó tic a o-d e p rofission ais o-d e s a ú d e, m ed iado p elos cham ados vídeos ed uca-t i vo s. Tem -se com o p rop ósiuca-to in dicar o con uca- tex-t o q u e in for m a e ofere ce a s p o ssib ilid ad e s d e relações qu e o vídeo ap resen ta en tre su jeitos – e n u n cia d o r e re p re s e n t a d o, q u e c om p õ em o texto – e p rofission ais de saú d e em suas ações, com b a se em u m a re fle xão sob re o p ro c e s s o socia l d e rec ep çã o d e m e n sa gen s at ra vés d e i m a g e n s, em co n texto e d u cativo. Ao b u scar c o m p reen d er a relação d os su je itos com a tec-n ologia , p ret etec-n d e- se um a c ara c t e riza ção d os d iscu r so s so ciais em te rm os d as re p re s e n t a -ç õe s e d os va l o res m od ela d ore s d o o lh ar e d a p e rcep ção d o su jeito sob re as im agen s p ro d u z i d a s. Assim , o u n iverso desse estudo en cont ra -se circ u n s c rito às re p re-sen tações do corp o e d a s e x u a l i d a d e, em ergen tes n o atu al con texto d as a b o r d agen s ed u c at ivas n o c am p o d a sa ú d e e p resen tes n a s im agen s em víd eo, q u e se liga m a d eterm in adas p ráticas sociais e sign ificad os, m o d e l a d o res d a c on stru ção d e gê n ero, d a ex-p e riên cia da sexu alid ad e e da re ex-p ro d u ç ã o.
O un iverso d o estudo ab ran ge parte de u m a p rodu ção em vídeo qu e se alin h a, d ireta ou in -d i re t a m e n t e, às for m u laç ões e re i v i n -d i c a ç õ e s m ais re ce n tes oriu n d a s d os m ovim e n to s s o -c iais p ela saú d e, e m erge n te s p ri n -c i p a l m e n t e n a d éc a d a d e 80. Esse s m ov i m e n t o s, q u e se c o n ven c ion ou ch am a r g a y, é tn ico, m u lh ere s e t c. – grosso m o d o e gu a rd an d o su as d e vid a s e sp ec ific id ad e s –, t en ta m am p liar a visã o d a a b o r d agem d as q u estõ es d e saú d e, h istor i c a-m en te ‘n a t u ra l i z a d a s’ e t rat ad as d e ua-m p o n to d e vista b iom édico. Apon tam , assim , p ara seu s con d ic io n an t es e d et er m in an te s so ciais, e m e sp ec ial as q u estõe s c u ltu ra is im p licad a s n a con stitu ição das id en tidad es sociais. To m a n d o esse tip o d e p rodu ção p re f e ren cialm en te n esta i n ve s t i g a ç ã o, te m -se com o p re ssu p osto q u e a u tilização e d ifusão d os vídeos com p õem as es-t raes-tégias d e am p liação desses m ov i m e n es-t o s, al-can ç an d o o in ter ior d as p r ática s n os serv i ç o s d e saúde.
Pret en d e m os a te r- n os n o p rese n te art i g o a o d elin e am e n t o d e algu n s asp ecto s m od
ela-d o res ela-d a p ercep ção ela-dos p rofission ais e ela-din am iz a d o res dos discursos sobre o corp o, d estacan d o o q u e em er ge c om o re l e van te n a s con cep -ções qu e ap óia m a ab ord agem d a sexu alid ad e e d as relações en tre os gên ero s. Pr ivilegia-se a a t rib u ição d e sen tid os aos even to s re l a c i o n a -dos ao corp o e a con stru ção do sign ificado co-m o u co-m a re laç ã o soc ial, en fa tizan d o -se a d i-m en são va l o ra t i va d os fen ôi-m en os sob ob ser-va ç ã o. A opção d e an álise, cen trad a n a re l a ç ã o d o su jeito com a t ecn o lo gia e c om ê n fa se n a ve rificação d o sen tid o, p autase n a com p re e n -são d e ser a sign ificação d o c orp o ligad a à se-xu alid ade u m a q uestão ce n tral n a con stitu ição d os su jeitos e d a s id en tid a d es sociais n a m o d e rn id ade (Costa, 1996; He i l b o rn , 1996). O ob jeto dessa in vestigação in sere s e, p ort a n t o, n u m a p rob lem ática situ ada n o in terior d as ciên -cias soc ia is, en c on tra n d o- se c irc u n s c rito à id e n tifica çã o d os d isc u rsos, exp re ssos p e los s u j e i t o s, q u e in form am n a atualid ad e p ráticas volta da s à p ro m oç ão d o com p or tam en to p re-ve n t i vo, à aç ão ed u cat iva e à co n scien tizaç ão dos d ireitos sociais.
Cont ext ualização do objeto
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d as n ecessidad es e dos va l o res d a clien tela-al-vo dessas práticas faz-se n ecessári o. Re s s a l t a - s e a qu ase in existên cia de estu d os qu e avaliem a recep ção d e m en sagen s p rod uzid as em víd eo.
Qu an to ao u n iverso d o víd eo, este cara c t e-r iza -se p oe-r u m a essen cial h e tee-roge n eid a d e e, en q u an to fen ôm en o d a im a gem eletrô n ic a, é m ú l t i p l o, va ri á vel, in stável e com p lexo (Mac h a-d o, 1996). De p a ra-se ain a-d a com um a im p re c i-são con ceitu al do term o “vídeo edu cativo” q ue se en co n tra p ou co p ro b lem at izad o d o p on to d e vista t eóri c o. Nã o se p re t e n d e, n o en tan to, c e n t ralizar a d iscu ssão so b re a cara c t e ri z a ç ã o da esp ecificid ad e do que se con ven cion ou cham ar víd eo ed u cativo, cham as, sicham , in d icar o con -texto d e p ro d u ç ã o, destacand o seu caráter e d uc a t i vo, qu e uc om u m en te o id en tifiuca e o d istin -g u e. Cab e ressaltar q ue é p recisam en te o cará-ter d e in cará-terve n ç ã o, caraccará-terístico d as p ráticas e ações d e sa ú d e con figu rad as p elos m ov i m e n -to s p ela m elh oria d a saú d e, q u e e n q u ad ra a p ro d u ç ão e m q u e stã o c om o se n d o d e ca rát er e d u c a t i vo. De ve-se co n sid era r, n o en ta n to, a n ecessidade de iden tificar elem en tos qu e d ê e m algu m a c o erên cia a esse u n iverso a p are n t e-m en te caótico. Assie-m , o olh ar sobre as ie-m agen s volta- se p ara a exp osição d e algum as cara c t e-rísticas qu e id en tificam u m con jun to esp ecífi-co de pro d u ç ã o. As in for m ações ecífi-colh id as d e le-van tam en to qu an titativo realizad o em acervo s d e b ibliotecas (in stitu cion ais e ONGs), catálo-g o s, f o ld e r si n f o rm a t i vos e en trevistas com p rofission ais d e serviços d e saúd e p erm item com -p or u m qu adro da -p rodu ção dos vídeos ed uca-t i vo s em uca-t erm os d e sua s car acuca-te rísuca-tic as m a is g e ra is q u a n to à te m á t ica , a o p ú b lic o e ao gê -n ero de p ro d u ç ã o. Co -n t u d o, tal cara c t e ri z a ç ã o n ão se tor n a su ficien te ao d elin eam en t o d os c o n t o rn o s d e u tiliza ç ão d a p rod u ç ão em ví-d e o s, p o is ví-d eixa à m a rgem algu n s ele m en t os fu n dam en tais do p rocesso com un icativo e in eren te a o tra b alh o ed uc at ivo. Um d os elem en tos qu e con stitui em p articu lar in teresse é a in -t e ração d o sujei-to c om as m en sa gen s ed u ca-ti- cati-va s, ap reen d id a a p artir d a in terp retação feita p elos p rofission ais d e sa ú d e sob re a s im agen s p rod u zidas em vídeo. Co n s i d e rase ser in ere n -te a esse pro c e s s o, com as carac-terísticas re c o r-t a d a s, a in scrição n o discu rso dos p ro f i s s i o n a i s das dim en sões sexu ais e re p ro d u t i vas do corp o p or sua vez m odelad as p or d eterm in ad as con -cep ções e re p resen ta ções a cerca d a saú d e, d o cor po e d a sexu alidad e. Tem -se com o p ersp ec-t i va q u e, n a in ec-tera ção com a s m en sagen s e n o p ro ce sso d e id en t ificaç ã o (Bo rg e s, 1996:135) d o s su jeit os, c o n c o rrem in ser ção socia l, p er-ten cim en to cu ltu ral e va l o res m orais exp re s s o s s u b j e t i vam e n te n as q uestões p ro b l e m a t i z a d a s
p elo coord en ador ao p roceder à leitu ra ou uti-lizar o vídeo com d eterm in ada in ten cion alida-d e ealida-ducativa .
A im agem tem se m ostrad o com o u m a lin -gu a gem p oderosa n o cam p o d a com u n icação, c u jo d esa fio con siste em con h ecer seu p o ten cial n os p rocessos e n as p ráticas de caráter e d u -c a t i vo. Po r t ra t a r-se d e víd eo s, h á ain d a u m a c a ract er ística p art i c u l a r, q u a l se ja a im age m e m m ov i m e n t o, q u e lh e c on fere u m esta tut o esp ecífico n esse cam po d e pro d u ç ã o. Não ob s-ta n te o recon h ecim en to d essa esp ecificid ad e, tem -se com o p rop ósito destacar, n esse con cei-t o, su a fu n ç ão d e re p r ese n cei-taçã o d a re a l i d a d e com o um d os asp ectos p rivilegiados n a an álise d o s fen ô m en o s e m c om un ica ç ão. Au m o n t (1993) c on sid e ra a im a ge m co m o m ed iad ora d e re p resen tações e propõe q ue “t oda re p re s e n -tação é relacion ad a por seu esp ectador – ou m e-l h o r, por seu s espectad ores h istóricos e su cessi-vos – a en u n ciad os ideológicos, c u l t u ra i s , em to-d o caso sim bólicos, sem os qu ais ela n ão tem s e n t i d o” (1993:248). Sua im p or tân c ia an alític a e n c o n t ra - s e, p or t a n t o, n as relações essen cia is q u e m an tém com o objeto d e in vestigação em t e r m os d e su a vin cu laç ã o c o m o d om ín io d o s i m b ó l i c o, o q u e con fere à im a gem u m a p osi-ção de m ediadora en tre esp ectador e re a l i d a d e.
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e m saú d e (Pitta & Me i ra , 1990; Ab ra s c o, 1992; Schall & St ru c h i n e r, 1995).
Isto p osto, cabe ressaltar que n ão se p re t e n -d e aq u i an alisar o u esb oça r p r op ostas -d e m o-d elos o-d e in t erve n ção o u alc a n çar re s p o s t a s c o n c l u s i va s, m as, an tes, bu scar ou tros ân gu los d e visão qu e con tribu am e som em esforços n a s u p e r ação dos d ilem as coloc ad os às in ter ve n -ções educativas em saú de n a atualidade. É p er-tin en te recon h ecer qu e as qu estões p on tuad as o f e r ecem o ap oio n ece ssár io à op ç ão p o r u m d e t e r m in ado tip o d e in terp re t a ç ã o, d en tre ou -t ra s, qu e se p re-ten d e realizar sobre as im agen s e m víd eo. O esfo rço em p reen d id o se faz n o sen tid o d e en fatizar, n o p rocesso com u n icati-vo – m ediad o p elo vídeo ed u catiicati-vo –, a im p or-tân cia de serem con tem p ladas, em gru p os cu l-t u ralm en l-te defin idos, as re p resen l-tações e va l o-res m od elad oo-res d a su bjetivid ad e, q ue p osicio-n am o su je it o osicio-n a estru t u ra so cial. No â m b it o d a s p olític a s p ú b lica s e aç õ es ed u cativa s / c o-m u n i c a t i va s, d ileo-m as e io-m p asses têo-m -se a p re-sen tad o m ed ian te as a tit u d es ap a re n t e m e n t e c o n t ra d i t ó rias d e h o m en s e m u lher es em ter-m os d o coter-m p orta ter-m e n t o sexu a l e re p ro d u t i vo n a p re ve n çã o e p ro teção c o n tra o vír u s H IV ( Bar b osa & Villela , 1994). Nessa d ireçã o p art ic u l a r m en t e riica, tem sid o a icon t r ib u içã o an -t ro p o lógic a n a an á lise d os com p or-t a m e n -t o s d os su jeitos im p ulsion ad o p ela AIDS (Gu i m a-r ã e s, 1994a , 1994b, 1996; Kn au th , 1995, 1996, 1998), on d e o tem a da se xualidad e em erge co-m o c en t ra l p e las p ró p ria s ca ra ct erísticas d e t ra n sm issão d a d oen ça e d e con figu raç ão d a ep id em ia. Esses estu d os sob re o con texto cu l-t u ral q u e age n cia a vu ln erab ilid ad e fem in in a m ed ian te a ep id e m ia, a o re ve l a rem a existê n -cia de um a lógica cu ltural esp ecífica regid a p or va l o res m ora i s, ten tam explicar a ap aren te c o n -t rad ição id e n -t ifica d a n o co m p or-ta m en -to n ã o p re ve n t i vo d o s su jeito s so cia is, e m situ aç õe s c o m p rova d a s, on d e os m esm os n ão se en c on t ram totalm en te d esin form ados sob re a d oen -ç a . O q u e se t en ta afirm a r n esses estu d os é a p ositivid ad e da cultura do segm en to p opular, o q ue im p lica p od er olh á- lo p or u m a ótica d ife-ren te d a q ue o rem ete à “i gn or â n c i a” ou à “f a l
-ta de in form ação” (Leal, 1995a), ótica esta, em -bora exaustivam en te den un ciada, ain da bastan-te p re va l e n t e. A an álise sob re o sen tido d a p roteçã o em joven s d e c am ad as p op u la res ( Mo n -t e i ro, 1999) in d ica a n ecessid ad e de in corp ora-çã o d as re p resen taç ões soc iais, p resen te s n a p e rcepção desse gru p o, n as estratégias p re ve n -t i vas p ro p o s-t as p ar a o en fren -tam en -to d a ep d em ia. Oferece ao deb ate, n o cam p o p re ve n t i-vo, u m a in teressan te con tribu ição ao destacar as perce pções e as p ráticas d e p roteção dos
jo-ven s relacion adas à doença. Esses estud os m a i s u m a vez co loc am em e vid ên cia a AIDS co m o um d os m aiores problem as a ser en fren tado n a at u alid ad e em te r m os d e p o lít ic as p ú b lic as e ta m b é m co m o p ro p i c i a d o ra d e d eb at es re l a-cion ad os aos sen tid os d o corp o, à sexu alid ade e às iden tidad es sexu ais. No que se re f e re a u m re c o r t e an alít ic o m ais am p lo, afin a d o com a s ve rten tes m ais trad ic ion ais d os estud os an tro-p o lógico s sob re a ‘c o n s t ru ç ã o’ d a Pe ssoa e d o Co r p o, p odem se iden tificar vários in ve s t im e n -tos e m an álises d os fen ôm en o s p a u t ad os n a e x p e riên cia da doen ça, do sofrim en to e do m a l -estar d esign a dos, n a cu ltu ra ocid en tal m oder-n a, com o doeoder-n ça e saú de (Du a rte & Leal, 1998). As p rátic as q u e co m p õe m o c on ju n to d e açõ es em saú d e d e ca rá ter ed u cativo, q u an d o an alisad as h istori c a m e n t e, re velam a p re s e n ç a do p rojeto h egem ôn ico d a m edicin a n as p ráti-cas d e saúd e. Co n s t i t u i - s e, p or t a n t o, com o u m con ju n to d e p rá tic as au t ori t á ri a s, n o r m a l i z a-d o ras e a-d isciplin aa-doras a-d e con a-d utas, fican a-d o o c o r p o, tom ado com o “i n d iv íd u o biológico”, su -b o rd in ad o às ações m éd icas (Os h i ro, 1988:10-18). Bo rges (1996), p rob lem atizan do os lim ites das in ter ven ções edu cativa s, ten do com o base o cam p o d a p sican álise, ch am a a aten ção p ara o m al-estar n o trabalh o de ed ucação em saú de. Este se exp re ssa p elo d esco n fo rto gerad o n a queles que se ocup am da tarefa de educar q u a n -d o -d ep ar am , com o n o -d izer -d a a u tora, c om “c o rpos re b e l d e s” e in su bordin ad os em re l a ç ã o às orien tações edu cativas p re ve n t i vas (Bo rg e s, 1996:20- 35). Ou t ros estu d os in dicam ain d a os lim it es d a s in te r ven ç õe s p au t ad as a p e n as n a i n f o rm açã o e n a resp o n sa b ilid ad e in d ivid u a l e/ o u ressa ltam a exist ên c ia d e p r ob lem as d e co m u n icaç ão e n tre o s a to res e n vo lvid o s n es-sas aç ões (Os h i ro, 1988; Pam p lon a, 1990; Vi e i-ra, 1990; Assis, 1992; Me l o, 1993; Pe re i i-ra, 1993; Ch a te l, 1995; Lea l, 1995a, 1995b ; He i l b o rn & Go u veia, 1997).
er-Cad . Saúd e Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
d er d e vista q ue te m as e con teú d os, m esm o os m ais p ro g ressistas e con siderad os n ecessári o s p a ra a m u d an ça d o c om p ortam en to p re ve n t i-vo, sã o d e ter m in ad o s h isto ri c a m e n t e. Além d i s s o, su a ab ord agem en con trase sob forte in -flu ên c ia d o m o d elo b iom éd ic o h e gem ôn ico ain d a p re valen te em gran de p arte d as an álises e in terven ções n o cam po d a saúd e. Pa rece p er-sistir ain da a idéia de serem os even tos re l a c i o-n ad os a o c orp o, e o-n tre o s q u a is se io-n clu i a r e-p ro d u çã o h u m an a , c on sid erad os co m o um p rocesso em in en tem en te b iológico ou n atu ra l qu e se efetiva de m odo extern o às relações so-cia is (Loyola, 1992:94). Tem -se com o p ro p ó s i-t o, co n sid eran d o i-tra i-t a r- se d e p rofission ais d e sa ú d e q u e fu n cion a m com o m ed iad o res d as p rá tica s re lac io n ad a s à c lien tela d os ser v i ç o s d e saú d e, n ão só re a f i rm ar o u so d e víd eos c o
-m o rec u rso d e co -m u n ic a çã o n o s p ro c e s s o s e d u c a t i vo s, m as tam bém in terrogar seu p oten -cial e seu real a p roveitam en to en qu an to m eio facilitad or p a ra o a lc an ce dos su jeitos a q u em se d estin am as m en sagen s ed ucativa s.
O processo de investigação:
algumas considerações metodológicas
Algu n s p on tos, q u e d izem resp e ito às op ç ões t e ó rico- m e to d oló gic as a d ot ad as, d evem ser c o n s i d e rad os com o in trín secos à m etod ologia utilizada. Em p ri m e i ro lu gar, vale dizer qu e tais op ções estão deter m in adas p or qu estões in ter-n as re l a t i vas t ater-n t o ao q u a d ro teó rico d e re f e-r ên c ia , q u a n to a o c on texto so cial e a s con d ições in stitu cion a is q u e em seu co n ju n to in -f l u e n c i a ram o d irecion am en to teórico e p ráti-co d a pesqu isa.
Bu scan d o sup rir as n ecessidad es d ecorre n -tes d o tip o de an álise p ro p o s t o, con tou -se com o a p o r te t eór ico e a c on t r ib uiçã o d e d ive r s a s á reas d o con h ecim en to. Assim , este estu do p ôde ser b en eficiad o p or reflexões teóricas ori u n -das d e cam p os d ive r s o s, com o o d as teorias d a re c e p ç ã o, m etod ologias de avaliação d a re c e p -ção d e m en sagen s e dos estu dos cin em atográ-ficos con stitu íd os com b ase n a exp er iên cia do cin em a. Com o n ão p od eria deixar d e ser m en -c i o n a d o, ben efi-ciou -se tam bém d as reflexões e c o n t rib uiç ões d o p e n sam e n to fre u d i a n o, em -b o ra n ão esteja a q u i p ro p o st o t rata r teori c a-m en te as qu estões valen d o-se de c on ceitos d o cam p o d a p sican álise. Po d e s e, assim , p erc o r -rer u m cam in h o con ceitu al qu e p ossib ilita u m deslocam en to d o olh ar da p rodu ção p ara a es-f e ra d a rec ep ç ão d e m en sagen s, c on c eb id a tam bém com o u m n ú cleo de sign ificação, e en -tão d e scre ve r o q u e e ste p ólo faz c om o q u e é
Cad . Saúde Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
d o víd eo n a c on stru çã o social d a id en tid a d e c u l t u ral, atr avés d o q u al o s d iscu rso s sob r e o m u n d o in d ígen a e n ã o in d ígen a são re p ro d u -z id o s. Pôd e- se, a in d a, ter ac esso a u m p ro j e t o d e a va lia ção d o víd eo ed u ca tivo (Roze m b e rg , 1995a, 1995b ) p rod uzido p a ra – e com a p art i-c ip a çã o d e – m o ra d o r es d e área en d êm ii-ca d e esq uistossom ose n o cam p o d a sa ú de. A d ive rsid ade de en foques e p rob lem atizações en con -t radas p ossibili-tou en -tre ver a exis-tên cia d e ex-ten sa va ried ade de ap licações e re c o rtes teóricos sobre o vídeo. Po rt a n t o, p ro c u rou se iden -t ific ar os ele m en -t os -te óric os e as es-tra -t é g i a s m etodológicas qu e m elh or p u d essem ofere c e r a lgum a co erên cia à an álise, visto q u e, sob re a tem ática do cor p o e da sexu alid ad e re l a c i o n ad a ao víad eo, co m ên fase n a rec ep ção ad e m en -s a g e n -s, n ão -se e n c o n t rou n en h um e-stud o.
Assim , a p resen te an á lise voltou se à com p reen são d o s m od os co m o os víd eos são co n -su m id os p or d ete r m in a d o gru p o social, n ã o ap en as b asea n d o-se em seu s c on te ú d o s, m a s tam bém valen dose da cara c t e rização das con -d iç ões so ciais -d e p ro -d u ção e con su m o -d o s c h a m ad os p rod u tos c u ltu ra i s. Nesse se n tid o, p au ta -se n a id éia d e co n su m o c om o ta m b é m com o esp a ço d e p ro d u ç ão d e sen tid o (Lo p e s, 1994:56). Segu in d o n a d ireção dessa cara c t e ri-z a ç ã o, u m a cla ssificaçã o d o s víd eos p or se g-m en to s d a p o p ulaçã o ou p ú b lic o e sp ec ífico p a ra o q ual estariam d irec ion ad as tais m en sa-gen s p o d e ser e n co n trad a n a s sin o p ses d o s c on t eú d os e d o s t ít u lo s, am b os in d ic an d o a s te m át ica s ab o rd ad a s e o p ú b lic oa lvo. No en t a n t o, c on stitui se u m p rob lem a teó ri c o c o n -c eitu al, q u e d eve ser en fre n ta d o em a n álise s p o s t e ri o re s, o fato de se p en sar a recep ção d as m en sagen s em vídeos ed u cativos p or u m gr u -p o so cial a q u e se d en o m in a, gen eri c a m e n t e , clie n tela d o s serviço s p ú b lic os d e saú d e ou segm e n to p op u lac ion al d efin id o a p a rtir d a s a ções d e saú de. Isso d eter m in ou a op ção p elo p rofission al de saú de com o in form an te p ri v i l e-gia d o d o est u d o, p o is, em se tr at an d o d e víd e o s, vídep arase com u m m evíd iavídor fu n víd am en tal, qu e elege o recu rso para o d esen vo l v i m e n -t o d e su a s a çõ es ed u ca-t ivas e p ro p o rc io n a o acesso n ecessár io ao vídeo ju n to à clien tela.
Sen d o assim , ain d a esta m os in stalad os n o p ólo da p ro d u ç ã o, con sideran do que p ro f i s s i o-n a is d e saú d e, a tra vé s d e su a s p rá tic as, sã o t am b ém co m p o n en te s d o s segm en t os sócio-p olítico -in stitu cion al, fo rm u l a d o res d os d is-cu rsos e d as con cep ções p red om in an tes sobre o corp o n a abord agem d a sexualid ad e. Não es-tam os con sid eran do a veicu lação de vídeos via s a t é l i t e, o q u e teo ric a m e n te c on feri r ia m aior a u t on o m ia d a re c e p ç ã o, m as sim a u t ilizaçã o
re s t rita n o âm b ito dos ser viços d e saú de. De t i-ve m o - n o s, d essa form a, em a p ro fu n d ar com o esses p rofission a is lid am com os disc u rsos re-velados p elas im agen s, in dican do os p on tos d e con tato e m ediações d e sua ação ju n to à clien -tela. At ravés das estratégias m etodológicas a d o-t a d a s, o-ten o-tou -se ab ran ger um n úm ero m aior (e p o s s í vel) d e ân gu los de visão q u e p erm i t i s s e m efetu ar o re c o r te n ecessário aos p rop ósitos d o e s t u d o.
M aterial e método
Em se tratan do de p esqu isa qu alitativa q ue t e m com o u n iver so em p írico as im agen s em víd eo e o discurso d os profission ais de saúd e, o estu-do in clu iu : levan tam en to e classificação estu-dos ví-deos disp on íveis; obser vação p articip an te; re a-lização d e gru p os d e d iscu ssão e en trevistas n o período d e ju n h o a setem b ro de 1996. O tra b a-lho de cam po foi feito em dois p ostos d e saú de ( zon as n orte e sul do Rio d e Ja n e i ro) e n o Ce n -t ro de Trein am en -to da Se c re -t a ria Mu n icip al de Saú de (SMS) do Rio de Ja n e i ro (RJ). Co m p u s e -ra m a am ost-ra n ove p ro fissio n a is (tr ês en fe r-m e i ra s, u r-m a p sic óloga, d u a s assist en te s soc i a i s, du as n u trisocion istas e u m a au xiliar d e en f e r m age m ), t od as d o sexo fem in in o, q u e d e s e n vo l vem ativid a d e s ed u c ativas e a ssiste n -ciais voltadas à clien tela n os serviç os p ú b licos de saú d e. Pa rte d esse gr up o tem com o fu n ção p rin cip al ativid ad es cu jo objetivo é a form a ç ã o d e eq u ip es m u ltip rofissio n a is n os cu rsos ofe-recid o s p ela SMS/ RJ. Preten d eu- se a in clusão d e p rofission a is com esse s d ois tip os d e atr i-b u ições n a am ostr a. Assim co m o a in ser ção e f e t i va d o p rofission al em a tivid ad es ed u catva s, a d isp on ib ilid ade e o in teresse em p art i c i-p ar d o trabalho d e cam i-p o.
Levantamento dos vídeos
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cificidad e do cam p o desse tip o d e p ro d u ç ã o. A e s t ru t u raç ão d esse b an co fo i re su lta d o d e le-va n tam en to realizad o em três b ib liotec as qu e p ossu em acervo de vídeo e em catálogos d e or-gan izações gove rn am en tais e ONGs dispon ibi-lizados p ara con sulta, re s p e c t i vam en te: Bi b l i teca Ce n t ra l / Fu n d ação Oswald o Cru z e Bi b l i oteca d a Escola Nacion al d e Saúde Pú blica/ Fu n -d a ção Oswal-d o Cru z – a m b a s vin cu la -d as ao De p a rtam en to d e Com u n icaç ão e Sa ú d e / Ce n -t ro d e In f o rm açã o em Ciên c ia e Te c n o l o g i a / Fun dação Oswaldo Cr uz (ex-Núcleo de V íd e o s ) ; Biblioteca d o NUTES/ U FRJ (Nú cleo de Te c n o-lo gia Ed u ca c ion a l p ar a a Sa ú d e / Un i ve r s i d a-d e Fe a-d e ra l a-d o Rio a-d e Ja n e i ro); ABIA (Assoc ia-ção Bra s i l e i ra In t e rd iscip lin ar de AIDS); CNDM ( Co n se lh o Nac ion a l d e Di re ito s d a Mu l h e r ) ; E COS (Estu d os e Com u n icaç ão em Sex u a l i d ade Hum an a); IBASE (In stituto Brasileiro ade An á -lises Socia is e Econ ôm icas); REDEH/ CEMINA ( Red e d e D efesa d a Esp é c ie Hu m an a ) e SOS Co r p o / Rec ife (SOS Co r p o, Gên e ro e Cid a d a -n ia). A seleção d os exem p lares q ue com p ori a m a am ostra foi re alizad a ob ser va n d o-se a lgu n s c ri t é ri o s, a saber: a va ried ade d e tem as d e saú -d e qu e se relacion a m -d iret a ou in -dire t a m e n t e à s e x u a l i d a d e, c om o o s víd eo s vo l t a d o s, p o r e x e m p l o, à con tra c e p ç ã o, à gestaç ão, às D ST/ AIDS etc.; a diversidade de p ú blico-alvo a q u e m o m aterial se d estin a, com o adolescen tes, edu-c a d o re s, m u lh e res e tedu-c.; e p ar tiedu-cip a ção e p rê-m ios re ceb id o s e rê-m rê-m ostra s d e víd e o. A tít u lo d e ilu stra ç ã o, p od e-se in d icar, com o re s u l t a d o m a is ge ra l d a a tivid a d e d e levan ta m en to d os v í d e o s, a ca ra c t e r izaçã o d o s segu in t es t em as co n tem p lad os p e los exem p la res: AIDS (a b or-dagem d a m orte associad a à AIDS; sen sib iliza-ção d e p rofission ais d e saúd e; im p acto d a ep i-d em ia n os jove n s; p rostitu iç ão ; m u lh eres n a relação com p arc e i ros; a d escoberta d a soro l o-gia p ositiva ; se xua lid a d e; h om osse xu alid a d e; t rab alh o com un itár io; p ossib ilidad e d e cu ra; o risco d e c on tam in a ção p ara as m u lh eres; m e-n ie-n os de rua; tabu s e form as de coe-n tágio); p ar-t e i r as; o in ar-t ere sse sexu a l n a id a d e m ad u ra ; a b o rto; relações de gên ero; casam en to; sexua-lid ad e fem in in a; sexu asexua-lid ad e n a a dolescên cia; sexu alid ad e e re p rodu ção; qu estão p op u lacio-n al; colacio-n tr a ce p ç ão ; d roga s; m ovim elacio-n t o fe m in ista ; p r át ica e d u ca tiva; p rostitu iç ão; c oin tra c ep çã o e gra v i d e z; laq u e a d u ra t ub ár ia; gera -ção d e ren da; assistên cia p erin atal e p ré-n atal; p a r t o; c o n d iç ão fe m in in a; D ST; ed u c aç ã o se-xu al n as escolas; n ovas tecn ologias re p ro d u t i-va s. As in form ações reu n id as sobre o acer vo fo-ra m d isp o n ib ilizad as p a fo-ra o Ban c o d e Ma t e-riais Ed u c a t i vo s organ izad o p elo LEAS (La b ora t ó rio de Ed u cação Am b ien tal em Sa ú d e, De
-p a rtam en to de Bi o l o g i a / In stituto Oswaldo Cru z / Fun dação Oswaldo Cruz), cu jo objetivo con sis-t e n a org a n i z a ç ã o, d ivu lga ção e d e sen vo l v i-m en to d e lin h a s d e in vestigação sob re esse tp o de tp rod u ção n o cam tp o ed u cativo tp re ve n t vo. Qu an to ao p ú b lic o, em su a m aior ia , d ir i-gem -se a t rês gr u p os: a a d olescen t es, m u lh e-re s, p o p u la ção em ge ral. Em b o ra os víd eo s a b o rd e m a sexu alid ad e e tem áticas afin s, d es-t aca- se u m ú n ic o exem p la r d irigid o a os h o-m e n s, coo-m ên fase n a h oo-m ossexu a lid ad e o-m as-cu lin a. Logo, essa produção estru t u ra-se com a ausên cia d e re p resen tação do m ascu lin o.
Realização de grupos de discussão
Trê s víd eo s (Ju l i eta e Ro m e u – ECOS, 1996;
Um a Vez in h a Só– ECOS, 1996; En t re Qu a t ro Pa re d e s– ABIA/ TV ZERO, 1995) qu e fazem par-te do u n iver so d a p esqu isa foram exib id os aos p rofission ais e assim se cara c t e rizam : 1) Qu a n -to ao gên ero: dois ficcion ais (Ju l i eta e Ro m e u e
Um a Vez in h a Só) e u m d o c u m en tár io (En t re Qu a t ro Pa re d e s), sen d o o p r i m e i ro d os ficc io-n ais p rem iad o em m ostra de víd eos. 2) Qu a io-n t o a o t em a: a b o rd a m c on t ra c e p ç ã o, gra v i d e z n a adolescên cia, n egociação d o uso do p re s e r va t i-vo, aborto e sexualidad e. 3) Quan to ao alvo: p ú-b lico em ge ra l, ad olesce n t es e m u lhe re s. Pre-ten deu -se d iversificar o en foq ue e a form a u ti-lizada n a abord agem dos tem as. Fo ram re a l i z a-d os cin co gru p o s, com postos p or p ro f i s s i o n a i s d e u m a m e sm a u n id ad e d e saú d e e m ist os. A d iscu ssão levan tou asp ec tos rela cion ad os a os con teú dos e form a s, ad eq u ação p úb lico/ m en -sagem , im p ressões ger ais c au sad as p elas im a-gen s e cen as m ob ilizadora s, bem com o a tem á-t ic a p red o m in a n á-te e o q u e e sá-te ve a u sen á-t e n a a b o rdagem .
O b s e rvação part i c i p a n t e
C ad. Saúde Púb lica, Rio de Janeiro , 15(Sup. 2):69-83, 1999 E n t re v i s t a s
Se m i - e s t ru t u rad as c om p ro fssio n a is d e saú d e d a red e p ú b lica q u e u t ilizam víd eo s em su a s a t i v i d a d e s.
Ca b e, p or fim , ressaltar q ue, em b ora o estu-d o ten ha tiestu-d o essa abran gên cia, n o p resen te ar-tigo n ão estarem os an alisan do a totalidad e d as i n f o r m a çõe s gerad as p ela in ve s t i g a ç ã o. Um a an álise m ais com pleta d os d ados reu n id os en -c o n t ra-se des-crita n o trabalho de Va rgas ( 1 9 9 8 ) , a n t e ri o rm en te citad o.
Perspect ivas de análise
Em term os con ceituais, tan to a im age m , quan -t o o olha r d o su je i-to so b re o víd eo ed u ca -tivo, i n t e resse esp ecífico deste art i g o, são vistos n a ótic a a n t ro p o lógic a, so c io ló gic a e d e a lgu n s estud os ap oiad os n a teoria p sican alítica , con -f o r m e já in d ic ad o. Os co n c eit os d e cor p o, gê-n e ro, s e x u a l i d a d e, id egê-n tid ade social e im agem ap óiam a an álise d as relações en tre o con texto d a produ ção vid eográfica à realidade social ob-j e t i va/ asp ectos sub ob-jetivo s, cu lturais e sim bóli-cos q u e vin cu lam -se à clien tela/ p úb lico re c e p-tor q u e se en con tram p resen tes n a in ter p re t a-ção d os p rofission ais d e saúd e.
Em se tra ta n d o d a s im agen s d o co rp o, n o q u e c on cern e ao c om p or tam en to sexu a l e rep ro d u t i vo, a in d icação dos discu rsos rep re va l e n -tes n a ab ord agem d a sexu a lid a d e co n stitu i-se em u m a d im en são teórica im p ort a n t e, on de se d estaca o c orp o com o c on stru ção soc ial (Bo l-tan ski, 1979) e sim b ólica, e n ão som en te com o b i o l ó g i c o. Busca-se relativizar as categorias q u e ap óiam a con strução d os discursos, n a exp lica-ção d os even tos q u e se ligam ao corp o n o in te-r iote-r de sistem as cu ltute-rais p ate-rt i c u l a te-re s, haja vis-t o a avis-t rib u ição d e valo r d a d a a e sses eve n vis-t o s a t ravés das classificações d icotôm icas d e com p o rt am en to s e atitu d es segu n d o os sexos ob -s e r vad a em toda -sociedad e (Héri t i e r, 1978; Du-a rt e, 1986; H e i l b o rn , 1993; Bo u rd ie u , 1995). D essa for m a, a ssin ala -se a existê n c ia d e d ife-ren tes lógicas ord e n a d o ras d as re p re s e n t a ç õ e s, e x p ressas n o s d iscu rso s, q ue fu n d am a s c on c ep çõ es sob re sexu alid ad e, id en t id ad e, c o m -p o r ta m en t o sexu a l e d em ais cate go ria s q u e h i s t o ricam en te p r o c u ra m exp lica r os e ve n t o s re lac ion a d os a o co rp o sexu a d o. Isso im p lic a p ro c e d e r-se a u m a relativização d a idéia de se-xo p a ra se d iscu t ir a q u estã o d a sexu alid a d e, q u e d ecorre d o recon h ec im en to da in existên -c ia d e u m re f e ren te m a io r ou e x-c l u s i vo d e ssa ( Costa , 1996). Nesse se n tid o, a sexu alid a d e é c o m p ree n d id a c om o u m a co n str u çã o soc ia l
basead a n as diferen ças fu n dam en tais en tre os s e xo s c o m b a se e m u m a a b or d a ge m n ão e s-sen cialista. A p alavra sexo, n esse en foq ue, p assa a d esign ar a c ara c t e rização an áto m o fisio -lógic a d os se res h u m an os co m vistas à d es-c o n s t rução d o m ito da essên es-cia sexual, b ase d a e x p e riên cia o u d a co n c ep ç ão d e sexu a lid a d e m o d e rn a s.
Ap oiad a n u m a c on cep ç ão d e id en t id a d e social c on stru íd a p or um “c o n j u n to d e m arc a s sociais qu e p osicion am u m su jeito em u m de-term in ad o m u n d o social”, He i l b o rn (1996) defi-n e-a com o “a m oldu ra possível on de os su jeitos pod em existir e se ex p re s s a r”. Postula ain da q ue a “m od el a çã o d a p essoa” co m p o rta sim u lta-n eam elta-n te três dim elta-n sões: a p ri m e i ra d elas d iz resp eito aos atribu tos e traç os q u e con stitu em c l a s s i f i c a t o riam en te o su jeito (in d icad ores d e e s t ratificaçã o soc ial, id ad e, gên ero etc.); a se gun da, ao m od o com o esses atrib utos in sere m -se n o cam p o d as sign ificações sociais, e, p or úl-t i m o, u m a úl-terc e i ra d im en são seria a exp re s s ã o de tais m arcas m ed ian te determ in ad os va l o re s q ue tom a m cor p o em sign ifica do s q u e art i c u -lam a im a ge m d e si e a re laç ão c om o ou tr o ( He i l b o rn , 1996:137). Destaca q u e esse p ro c e sso é sim u ltan eam en te exterior ao su jeito e ob -jeto d e um a in teri o ri z a ç ã o.
Qu an t o à d efin ição d e gên ero, o c on ceito tem sua or igem n a n oçã o d e c u ltu ra q u e “a p o n ta p ara o fat o d a vid a socia l e os va l o re s qu e a orga n iz am – com o, p or exe m p l o, t e m p o, esp aço ou a d iferen ça en tre os sexos – sã o p ro-du zid os e sa n cion a dos socialm en te, a t ravés de u m sistem a de re p re s e n t a ç õ e s” (He i l b o rn , 1994: 1). Assim , o que está con ven cion ad o p ara a u ti-lização do term o, en quan to categoria, é qu e ele p o ssib ilita u m a d istin ç ão en tre as d im en sõ es an átom o-fisio lógicas d o s se res h u m an o s e as dim en sõe s cu ltu ra is atrib u íd as a cada u m d os s e xo s. Ba se ad a n a p ro p osiç ão Du m o n d i a n a ( Du a rt e, 1986) da un iversalid ade da hiera rq u i a com o ord en am e n to do m un do social, He i l b o rn bu sca as razões q ue exp liq uem a con stan te est ru est u ra l d e assim e estria n a m on estagem d a s re l a -ções en tre os gên eros (He i l b o rn, 1993, 1998).
A emergência dos discursos e as imagens do corpo
-Cad. Saúde Púb lic a, Rio de Janeiro , 15(Sup . 2):69-83, 1999
cias b iom édicas, esteve in tim am en te ligad a ao corp o con cebido do p on to de vista de su a exis-tên cia b io lógica. Estu d os re c e n t e s, im p u lsio-n a d o s, em p art e, p elos m ovim elsio-n tos o corri d o s n o âm b ito d a socied ad e, c om o desd ob ra m e n -tos d o s m ovim en -tos soc iais, a p a rtir d o s an os 60, ten tam rom p e r c om os m od elos exp licat ivos p autados n a racion alidade m édica, qu e re -l e g a ram à m argin a-lid ad e as qu estões cu-ltura i s im p licadas n a con stituição das iden tid ad es so-c i a i s. Esse question am en to p ossib ilitou a aber-t u ra p ara an álises m ais ab ran gen aber-tes d os fe n ô-m e n os e q u estõ es re f e ren t es à sexu a lid ad e e re p ro d u ç ã o, ressalta n d o su as d im en sões p olí-tic as e soc iais. Desd e en tão, a q uestão d o s d ireito s sexua is e re p ro d u t i vos têm sid o am p la -m en te debatidos.
É tam bém recen te a con solid ação do víd eo, en q u an t o m e io d e p ro d u ç ão d e m en sagen s, com o su p or te d e m an ifestações cu ltu rais e d e resistê n cia, m arcad o e m su a o rigem p o r su a vin cu laç ão à in d ú stria c u lt u ra l e a o a p are c i-m en to d e n ovas tecn ologias n o fin al d os an os 50. Tais m an ifestações refletiam o clim a p olíti-c o / olíti-c u l t u ral d a ép oolíti-c a q u e in olíti-cid ia d ire t a m e n t e tan to n a c on stituiç ão d este cam p o, q ua n to n a tôn ica d as p roduções em vídeo, p or in flu ên cia d a vin c u la ção d e se u s re a l i z a d o res ao s m ov im en tos sociais. Aq u i se in clu eim os im ov i im e n -tos p ela d em oc ratiza ção d a saú d e art i c u l a d o s ao s d iver so s gr u p os en ga jad os n as lut as p ela igu a ld ad e d e d ire i t o s. Os gr u p os m ob ilizad os em torn o de qu estões e lu tas esp ecíficas (d e et-n ia, fem iet-n ista, g a ye t c.), gu ardan do suas p art i-c u l a ri d a d e s, p ro d u z i ram u m a gam a d e m at e-r iais e in ste-r u m e n tos d e in te e-rven ç ão p o lít ica, em p ar ticu lar n o ca m p o d o víd eo. As p ro d u -ç õ e s, p or t a n t o, em su a gê n ese, m an tê m re l a-ções com um con texto con ju n tu ral m ais am p lo da sociedad e b ra s i l e i ra em su as dim en sões es-t ru es-t u rais e ideológicas, com o dem on ses-trado p or Melo (1993) em an álise esp ecífica sob re a p ro-du ção fem in ista em vídeo.
Ta is te n ta tiva s, seja n o c am p o teó rico d e p olitização d as qu estões d e saú d e, seja atra v é s d e in iciativas de p rod u ções in dep en den tes n o c am p o d a c om u n ic ação, co m c on seq ü en t e qu estion am e n to da ord em de com u n icação vig e n t e, ap re s e n t a vam se com o resp ostas alter n a t i vas ao sab er h egem ôn ico e à p re d o m i n â n -cia d a s m en sage n s veicu lad a s p e los m e ios d e m assa. Assim , com p reen dem os q u e o p ro c e s s o d e ve icu lação d as m en sagen s e dos con teú dos re p rese n tados p or im agen s através dos ch am a-d os vía-d eos ea-d ucativo s, qu an a-d o an alisaa-d o à luz das ativid ad es edu cativas em saú de, deve estar re f e r id o ao m o m en to h ist ór ico d e su a p ro d u -ção e utiliza-ção.
Os víd eo s q u e c o m p õe m o u n iver so d e st a i n vestigação vin cu la m se a u m tip o d e p ro d u -ç ão q u e en c on tra su as ra í zes n a exp an são d os m ovim en tos de m ulh eres e d o m ovim en to h o-m osse xu al o-m a sc u lin o. De s d o b ran d o-se n o s an os 80, e sses m ovim en t os b u scam legit im ar c u l t u ra lm e n t e d e ter m in ad as p r áticas e re l a-ções en tre os sexo s, ap on tan do as con tra d i ç õ e s p resen tes n o u n iversa l sistem a d e d o m in açã o d as cu ltu ras tra d i c i o n a i s, em esp ecial n as re l a-ç ões en tre os gên ero s. Tam bém en con tra su a s ra í zes n a s d iversa s ve rten tes d os m ov i m e n t o s a l t e rn a t i vos e d e educação p op ular, torn a n d o -s e, -sob a in flu ên cia d e-ste-s, in -strum en to p olíti-c o e d e in t er ve n ç ã o. Em Ho llan d a (1993), p o-d e-se en con trar u m a referên cia con ceitual p a-ra se p en sar so bre os p ressu p ostos ori e n t a d o-res de m etodologias (Valla & Stotz, 1993) sobre p a rticip ação p op ular.
No c on texto b ra s i l e i ro, n o d e cor rer d a d é-cad a de 80, a p artir d os m arcos in iciais d e lu ta p ela igu ald ad e d e d ireitos sexuais e re p ro d u t i-vo s, p r o g ram as i-vo lta d os à s in t er ve n çõ es n a s qu estões de saú de ju n to às m ulheres foram de-s e n vo l v i d o de-s, ade-sde-sim com o a çõe de-s e m at eri a i de-s e d u c a t i vos com o ob jetivo d e m in orar os re f l e-xos das d esigualdades sociais n as con dições de saú d e d e h om en s e m u lh ere s. Ressalta-se aq ui a esp ecificidade da p articip ação dos setores fe-m in istas n o cafe-m p o d a sa ú d e, o q u e d eri vo u a e l a b o raç ão d e p rop ostas n o cam p o d as p olíti-c a s p ú b liolíti-ca s ob jetivan d o o at en d im en t o d a s ch am adas dem an das fem in in as (PAISM, 1983).
Educação e comunicação:
element os para se pensar a re c e p ç ã o das imagens em contexto educat ivo
Cad. Saúde Pública, Rio de Jane iro , 15(Sup . 2):69-83, 1999
Em se tratan d o d e relaçõe s com u n icativa s s o b re saúd e e doen ça, n o âm bito da p re ve n ç ã o, a s re p re sen t açõe s d o c or p o hu m a n o, sejam elas h egem ôn icas, ou con tra - h e g e m ô n i c a s, se-rã o sem p re p rod u ções sim b ólicas (Lefèvre, 1995). Su p õ e - s e, a ssim , q u e n a p ro d u çã o e m víd eo en c on t ra- se re p re sen t ad o u m d e term i-n ad o tip o d e re ce p t or d a s m e i-n sa gei-n s, p ara o qu al são dirigidas as m en sagen s ed ucativa s, n o sen so co m u m d en o m in a d o p ú b lico -alvo, ge-ralm en t e p e rte n cen t e às ca m ad as p o p u lare s. D ete n d o-se n as fo rm as atr avé s d as q u ais a s m en sagen s ed u cativas exp ressa m re p re s e n t a-çõ es sob re a sexu alid ad e, ten ta-se p ôr em evi-d ên cia c om o o c o rp o em im a ge n s – cor p o evi-d a c lien tela, p ú b licoalvo d as aç ões – a p re s e n t a -se com o estru t u ra com p on en te dos vídeos. Po-d e-se su p or a existên cia Po-d e u m a Po-d eterm i n a Po-d a visão d e um outro, con stituíd o cu ltu ralm en te e p osicion ado n a e stru t u ra social, qu e se en con -t ra e xpresso n a con s-tru ção de de-term in ados - tip os ou estere ó t i tip o s. Assim , tip reten d ese ava n -ç a r n a co m p ree n sã o d e q u e o sen t id o n ão se e n c o n t ra re s t r ito ao cam p o d a m en sa gem e m si, em term os d e seu s con teú d os, m as en feixa-d o em relações sociais con cre t a s.
A in teração com as m en sagen s, con sid era-d a com o relacion al e p roera-du to era-de um a ativiera-daera-de i n t e r p re t a t i va r ea liza d a p elos p ro f i s s i o n a i s, d istin gue-se do face a face, origem d e tod as as f o rm a s d e in t eraç ão soc ial. Ressa lta -se q ue o p r oc esso in tera t i vo c om p o rta u m a d im e n sã o relac ion al, já q u e origin a u m a im agem d o ou -t ro – q u e é, ao m e sm o -t em p o, im agem d e si p r ó p ri o, con form e Iser (1979). Ao se con sid era r o su jeito q u e olh a a im age m , o esp ec tad or o u en tão o receptor d as m en sagen s veiculadas em i m a g e n s, deve-se ter com o p arâm etro q ue a vi-são efetiva d esta s rea liza -se em u m c on t ext o m u ltip la m en te d eter m in ad o: c on texto socia l, con texto in stitu c ion al, con texto técn i c o, con -texto ideológico (Au m on t, 1993).
O s sentidos do corpo:
o olhar do sujeito sobre as imagens
As reflexões a se gu ir ap óiam -se n as segu in tes q u e s t õ e s, im p lic a d a s n o e sfo r ço d e c o n st ru -ção d e p a râ m et ros p a ra leitu r a d os víd eos: o s d isc u rso s em tor n o d a c on stitu iç ão d as id en -tid ad es soc iais; a sign ificação d o corp o ligad o à sexu alid ad e com o cen tral à con stitu ição d as id en t id ad es n a m od er n id ad e; a e m erg ê n c i a d estas form as d iscu rsivas em p rátic as e m ate-r iais d e n atu ate-reza edu cativa .
Co n s i d e rou -se a q uestão d a sexualidade d e d ifícil a bord agem e, n a in terp retação d os p
rof i s s i o n a i s, em er ge rela cio n ad a ao s com p ort a -m en t os d o s p e rson agen s re p re s e n t a d o s, c o-m ên fase esp ec ial, n os tip o s fem in in os. Fo i assi-n alad a, em u m a das iassi-n tera ç õ e s, um a certa difculd ade p or parte d e um a p erson agem fem in i-n a em falar sob re sexo, re f e rido aq ui a p ráticas sexu ais e re p ro d u t i va s, bem com o sobre assu n -tos con siderados tab us, com o: relações sexu ais com algu ém do m esm o sexo, a m astu rbação, o a b o rto etc.
“N a ve rd ad e é d ifícil fa zer u m víd eo sobre s ex u a l i d a d e . . .”
“En tão eu qu eria m u ito u m víd eo qu e botas-se essas coisas (...) m ais claras e m a is p re s e n t e s n o cotidian o de qu alqu er pessoa, seja ela assim , a s s a d o, qu e essas coisas existem n o cotid ian o de qu alqu er classe, q u a l q u e r. . . E a ssim qu eria u m vídeo ( . . . )qu e m ostrasse (...) m ais lu gar com u m . En t e n d e u ?”
o-Cad . Saúde Púb lic a, Rio de Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
m en s p er ten cen tes aos d iversos gru p o s, n o en -tan to tais exp eriên cias n ão gan ham re l e v â n c i a c om o o b je to d e d iscu rso p ar a os segm en t os p o p u l a re s. Dito d e ou tra form a, a sexu a lidad e p a rec e n ã o se con stitu ir em o b je to esp ec ífico do d iscurso e n em com o referên cia básica p ara a d efin iç ã o id en t it ár ia d esses segm e n t os so -c i a i s. An tes, o sexo, p ara d eter m in ad os gru p o s, e m e rge su b su m id o a u m a or d em m ora l fam i-lia r (Rop a & Du a rt e, 1985). Na ap ree n são d as re g ra s q u e c on stitu e m a m oralid ad e d os gr u -p os sociais, en con tra-se im -p licad a, e m term o s a n a l í t i c o s, a q u estão d a dem a rc ação d as fro n -t e i r as sim b ó lica s em relaç ão a o u -tro s gru p o s ou iden tid ades socais. De ve - s e, p ort a n t o, leva r em c on t a o lu ga r d e rele vân cia q u e o cu p a a in stân cia fa m ilia r n a orga n iza ção d os gru p o s sociais em geral (Du rham , 1983) e, em p art i c u -l a r, n a con stitu ição das id en tidad es em gru p o s p o p u l a res (Du a rt e, 1987:215).
Ao d escre ve ram a s im a gen s, o s p ro f i s s i o -n ais elegem , -n u m esp ec tro d e p ossib ilid ad es, qu estões q ue se re f e rem às su as exp eriên cias e re l a t i vas aos aten dim en tos ju n to à clien tela, às e x p e r iên cias d e n atu reza su b jetiva e ligad as à e s f e ra p essoal d eixan d o en tre ve r su a p e rc e p -ção acerca d os even tos e co m p orta m en tos se-xu ais e re p ro d u t i vo s. Essas exp eriên cias p arcem se con stitu ir, em últim a in stân cia, em m e-did a d e avaliação das im agen s p ro d u z i d a s. Po-d e - s e, assim , iPo-d en tifica r, c om o re c o r ren te n a n a r ra t i va d os p ro f i s s i o n a i s, u m tip o d e in t er -p re taç ão sob r e a s im agen s -p rod u zid a s q u e se c a ra c t e riza p or su a relaçã o en tre as situ aç ões e n c en a d as e a re a l i d a d e, d eixa n d o e n tre ve r a m a n e i ra com o con ce bem a ch am ad a vid a re a l . Dessa m an e ira, re velam alm ejar u m a fid elid de das situações re p resen tadas à realid ad e m an ifesta d a p or m e io d a cr ítica aos co m p o rt a m en tos d os p erson agen s e d a s d iversa s situ a -ç ões ap re s e n t a d a s, n otad a m en te q u a n t o: ao con texto d a situ ação en cen a da, ao grau d e in -f o r m a çã o d os p erson a gen s so b re os tem as d e sa ú d e e ao s estere ót ip os e t ip os fe m in in os e m ascu lin os re p re s e n t a d o s.
“Eu a ch ei in teressan te é q u e ju sta m en te os argu m en tos são as v árias – fa cetas d a p róp ria re a l i d a d e , d a p róp ria vid a . En t ã o, eles tra b a-lh am com as d iversas p ossibilid ad es p orq u e , d e re p e n t e , você p od e até... A gen te critica ach an do qu e ela tá bem in form adin h a, m as vo c ê , em d e-term in ad o m om en to, p od e ter u m a m en in a com m u ita in form ação, u m a ou tra qu e n ão te-n h a ta te-n ta, a gra te-n d e m aioria e ta l. Ete-n t ã o, e u ach o qu e joga r com esta m u ltip licid ad e d e op -ções e possib ilida des é o qu e é o in teressan te d o v í d e o, n é , e as in form ações qu e ele tam bém va i p a s s a n d o.”
“Eu ach ei tam b ém in teressan t e foi o fa to d e qu e q u an d o eu com ecei a ver eu d isse: ‘Ah ,n ã o ! Esse víd eo tá m u ito. . . tá m u it o fá cil, tá m u ito ó bv i o, eu ach o qu e eu n ão vou gostar dele’. (...) E cad a vez qu e você a cha va :‘Não! Isso aí tam bém é im possíve l ’, aí m u dava . Aí te d ava essas ou t ra s ve r s õ e s . Ou t ros ân gu los. Qu a n d o você ach a va : ‘ N ã o, esse ad olescen te está m u ito cert i n h o, m u i-to orien tad o, m u ii-to in form ad in h o. . .’, q u a n d o você ach ava qu e era isso: ‘ N ã o, esse vídeo n ão tá l e g a l , n ão é a re a l i d a d e’, aí ele m u d a.”
No d isc u rso d os p ro f i s s i o n a i s, as c on stru -ções d o m ascu lin o e do fem in in o são tom ad os com o elem en tos de referên cia n a d escrição das im age n s p o r m eio d os p erso n agen s. No q u e c o n c e rn e à dim en são re p ro d u t i va do corp o, n a re p resen tação do m asculin o e d o fem in in o, re-lacion ada à tem ática gra v i d ez n a adolescên cia, p od e-se ver destacada a já recon h ecida in teri o-r id ad e fe m in in a e m op osiç ã o à exteo-ri o o-ri d a d e m ascu lin a, em face d as qu estões re p ro d u t i va s, c o n f o rm e o segm en to:
“Eu a ch o qu e foi re f l ex o d a realid ad e sim . Hist orica m en te o h om em fica n u m a p osição m u ito côm od a, n é? E qu e prá ela n ã o in com o-d a tan t o p en sa r, o qu e ele [o vío-d eo ] colo ca , a h istória d a b arriga m esm o. Já a m u lh er, t e n d o ou n ão acesso a os serv i ç o s , ela t em u m a p re o-cu p açã o d e n ão en gra v i d a r. . . n ão d igo n em em relação à DSTs ou AIDS, n ã o. Ma s a grav id ez é u m a coisa m u it o con cret a e m u it o im ed ia t a; en tã o eu ach o qu e [o víd eo] reflet e n esse sen ti-d o sim.”
O b s e rvo u - s e, em u m a d as in tera ç õ e s, u m a p e rcep ção d e qu e as m en in as, q uan d o com pa-rad as ao s m e n in o s, ap resen tam -se m ais b e m i n f o r m ad as sob re assu n tos sexu ais e re p ro d u -t i vo s. Em re laçã o a o s ra p a ze s, fo i p e rc e p -t í ve l u m a certa recu sa qu an to aos tip os re p re s e n t ad os e um certo m alestar m eadian te a re p re s e n -t ação d o c om p or-t am en -to d e u m a d o lesce n -te em um a situação esp ecífica de ab ort o.
“Po rq u e é a q u ela h istória , se a gen t e q u er ch am ar o h om em p rá d iscu ssão, con stru ir u m a rela çã o n ova , n ão é? Po rq u e é qu e tem qu e só reforçar os estereótip os? Claro qu e, p or u m la-d o,( . . . )reforça n d o os estere ó t i p o s ,( . . . )n a d is-c u s s ã o, vois-cê v ai pon tu a r. . . M a s , ali [ re f e ri n d o -s e ao víd eo]eu ach o q u e, prin cip alm en te pa ra a d o l e s c e n t e , já tem qu e com eçar a a con t ecer a q u e b ra d esse estere ó t i p o, com o acon teceu lá n o o u t ro vídeo, n é ?”
Cad . Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
V á rias ten tativa s fora m feita s a fim d e d is-c e r n ir os e lem en tos gera d o res d e m al-estar n a p rod u ção d as im agen s sob re u m a situ ação es-p ec ífica d e ab o rt o. Nas ten tativa s d e elu cid a-ç ão d as c au sas d o d esco n fo r to gerad o p ela s i m a g e n s, for am ap on tad os o co m p o rt a m e n t o m a s c u l i n o, o tem a ab or t o, a cara c t e rização d o aten dim en to m éd ico etc. A referên cia à fam ília gan hou ên fase p ela au sên cia d essa re p re s e n t a-ç ã o n a a b o rd a ge m d esse tem a . No en t an t o, a q uestão n ão p arece se redu zir a u m a d efin ição d e con teú d o ou d o tem a ab ord a d o. As exp lica-ç ões oscila m , a lém d as re p resen ta lica-ções re f e r i-d as ao gên e ro, en t re a for m a i-d e ab o ri-d agem e su a adeq u ação p ara o p ú blico-alvo – o adoles-cen t e –, c o n fo rm e ve r ific ad o n a se gu in te se-qü ên cia d iscursiva :
“A im agem é pesad a, m e s m o.”
“E eu n ão sei n em se é o t em a ab ort o, p o r-q u e , por exe m p l o, o vídeo do Ja b a r-q u a ra é abort o t a m b é m . E eu gosto, é u m v íd eo qu e eu gosto de a s s i s t i r, e n t e n d e u ?”
“Se é vin cu la d o ao t em a. Eu ach o qu e p ro
( s i c )p ú b l i c o - a l vo, qu e é adolescen te, o tem a de-veria ser veicu lado de u m a form a, n ão sei de al-gu m a ou tra form a m ais leve , n é? Poderia ser, d e re p e n t e , até u m a h istória p are c i d a , m a s , sei lá , os p rofission ais poderiam ter ou tro tipo de con -d u t a , n é? Não sei.”
“É ,p o rqu e eu já vi u m vídeo, n ão m e lem bro q u a l , qu e tin h a situ ação d e a bort o, m as era d e o u t ra form a , a b o rt a va , m a s . . . n ã o ficava essa coisa pesad a com o você fala, n é? ( p a u s a )A g o ra , re a l m e n t e , o m en in o m e...”
“É , eu sen ti falta d a fa m ília ali. Eu sen ti fal-t a d a fa m ília n esse víd eo. A fam ília esfal-taria ..., em algu m m om en to teria qu e ter fam ília.”
“Pelo t ip o d e m en in a qu e está se d elin ean -d o, pelo p erfil -d ela, a fam ília iria p erc e b e r, a es-c o l a . Tá d eses-con textu a liza do n esse sen tid o, p o r-qu e ela p assa...”
A fam ília, com o u m dos tem as clássicos dos estu d os a n tro p o l ó g i c o s, tem sid o re c o r re n t e-m en te c on sid e ra d a, n as an á lises, coe-m o u e-m a in st itu iç ã o fun d a m en tal d e socializa çã o, q u e a g rega va lo r n a s d iver sa s p osiç õe s oc u p ad a s p elos su jeitos n a estru t u ra social – o qu e p arece ser um con sen so en tre os autore s. No en tan -t o, as d isco rd ân cia s a re sp ei-t o d o -te m a p a re-cem m ais n u m erosas e p arere-cem agre g a r-se em t o rn o das m u dan ças e tra n s f o rm ações d a fam í-lia na atual sociedad e m odern a (Du rham , 1 9 8 3 ; Salem , 1985; Da Matta, 1987; Fi g u e i ra, 1987; Ve-l h o, 1987). Logo, n a ó tica d os p ro f i s s i o n a i s, a s situ ações viven ciadas p elos p erson agen s pare-cem re p resen tadas fora de con texto. Um a q u e s-tã o im p ort an te ain d a a ser d e sta cad a re l a c i o-n a-se ao p ap el d e m ed iador d o p rofissioo-n al o-n a
utilização d o víd eo e sua percep ção sob re o ca-ráter com p lem en tar d esse recur so n o con texto d as p rát icas ed u c ativa s, con form e e xp re s s o n os fragm en tos ab aixo :
“Mas eu , p a rt i c u l a r m e n t e , ach o qu e isso n ão é o m ais... n ão é o fu n dam en tal, p o rqu e isso vo-cê p ode tirar de qu em está assistin d o.”
“Pois é, m as aí é q u e en tra o pa p el d o coor-d e n a coor-d o r. Eu ach o p esacoor-d o esse vícoor-d eo p ra estar t raba lh an do com ad olescen te.”
“Eu ach o q u e, p or exe m p l o, pod eria se d is-cu tir esse víd eo com a fa m ília, qu er d ize r, a fa-m ília tá au sen te, cad ê a fafa-m ília ? Qu er d ize r, a p róp ria falt a d a fam ília ali pod eria ser u m a qu est ão p ro ( s i c )p ú b l i c o, n é? Aon de está a fa -m ília? Qu e n ão apareceu n essa h istória aqu i. J á qu e em algu m m om en to ela d everia en tra r.”
De ve-se a ten tar, a qu i, p ara o fa to d e qu e o lu ga r oc u p ad o p e lo c oor d en a d or en con tra - s e defin id o por um a d eterm in ad a p osição qu e ele tem n o cen ário in stitu cion al. Suas ações en con -t ram -se d e-term in adas p or d iversas ra c i o n a l i d a-d e s, sejam elas técn icas e p olíticas in form a a-d a s p elas in stân c ias gove rn a m e n t a i s, ou m esm o p or m ovim en tos sociais que alcançam a re de de s e rv i ç o s. Essa heterogen eid ad e coloca, em últi-m a in stân cia, gran des con tradições p ara os ato-res e n volvid os n as ações q u e in teragem n o ce-n á rio do se tor saú d e. Um a d elas d iz resp eito a p o s s í veis d issociações en tre as orien tações diri-gidas à clien tela em term os do com p ort a m e n t o p re ve n t i vo e as con d u tas e atitu d es p essoa is e s u b j e t i va s d o p r óp r io coo rd e n a d o r, gera d o ra s d e c on flito s, em p ar ticu la r q u an to ao u so d e m éto d os co n tra c e p t i vos e p re s e r va t i vos c om vistas à p re ven ção d a AIDS.
“Ma s , p or exe m p l o, a s s i m , em relação ao u so da cam isin h a : eu n ão u so cam isin h a, com o d e-veria ser u sado, m as aí...( . . . )Eu n ão u so, m as eu n ão estou jogan d o a cu lp a n a s costas d e n in -g u é m( . . . )e n em qu ero d eixar d e falar qu e é im -p o rt a n t e ,e n t e n d e u ?”
“ ( . . . )Eu fiz ligadu ra , n ão m e arre p e n d o, e eu sei qu e h á tod a u m a p re s s ã o, tod o u m d iscu rso n o sen tid o con trário, en ten d eu ? Eu n u n ca m e sen ti côm od a p ara t raba lh ar n o p lan ejam en to f a m i l i a r.(...) A m im in com od a. Eu n ão vejo isso com o u m a co isa p essoal aqu i d a gen te n ão. É qu e leva n ta con tra d i ç õ e s , q u e , d iga m os a ssim , ch egam a m e su focar.”
“ ( . . . )E eu ach o qu e é m a is ou m en os isso: a gen te acab a m u itas ve zes rep etin d o algu m as coisas qu e ou v e , m ilh ões d e d iscu rsos qu e sã o c o n s i d e rad os teorica m en te corretos e qu e vo c ê n ão d á u m a p a ra d a , en ten d eu ? Pra sacu d ir e ver profu n d am en te o qu e é.”
-Cad. Saúd e Púb lic a, Rio d e Jane iro , 15(Sup. 2):69-83, 1999
cessos e d u ca tivo s com u n ic ativo s. Faz- se n e-c e s s á ri o, a in d a, relativizar a s exp lie-c a çõ es d o sen tir e agir hum an os, re f e rid os ao gên ero e ao s e xo, a fim de p ossibilitar u m a com preen são da e x p e riên cia sexual que recoloqu e o discu rso d o su jeito com o p ólo d e sign ifica ção. Ac re d i t a - s e qu e esse cam in h o p ossa re velar outros ân gu los distin tos d aq ueles socialm en te in stituídos e le -g i t i m a d o s. Isso está coloc a d o -gen eri c a m e n t e com o qu estão p ara tod a a ação ed u cativa p re-ve n t i va, m a s p arece ser ain d a m a is c om p lexo em se t ra tan d o d a a b ord age m d a se xu a lid ad e n esse ca m p o. Fi n a l m e n t e, n ão se p re t e n d e u a b a rcar a m u ltip licid ade de asp ectos p assíve i s d e an álise, n em tam p ou c o oferec er re s p o s t a s c o n c l u s i va s. Nossa in ten ção con sistiu em in d i-car a n ecessid ad e de q u e seja m con sid era d a s, n as ações e p rod uções de m ateri a i s, as con cep -ções do corp o e da sexualidade com o m edia-ções c u l t u rais determ in an tes do p rocesso ed ucativo c o m u n i c a t i vo, m od eladores d a su bjetividad e e da percepção dos sujeitos em va riados con textos.
Considerações finais
Pode-se dizer que os víd eose d u c a t i vo s, iden ti-ficad o s co m o u m recu rso p ara a re f l e x ã o, p o-ten c ialm en te p ro m ovem u m a id en t ific ação e se n sib iliza çã o d o p ú b lico p a ra o s t em as d e s a ú d e. No en tan to, eles p od em estar cu m p ri n -d o, em p ri m e i ra in stân cia, u m a fu n ção -d e ilu s-t ração dos d iscursos qu e in form am as p rás-ticas n o cam p o da saúd e n a a tualid ade, colocan d o-se à p art e n a exp lo raçã o d o im a gin á rio socia l qu e p erpassa de for m a diferen ciad a o com p or-tam en to p re ve n t i vo do s su jeitos p ert e n c e n t e s a gru p os cultu ralm en te d efin id os. Não se p od e d e t e r m in ar com o ocorre a recep ç ão d as m en -sagen s p ara o cham ad o segm en to p opu lar, p o i s e n c o n t ra seu s lim ites d e com p reen são d essas q uestões n a delim itação d o objeto d essa in ve s-t i g a ç ã o. Po rs-t a n s-t o, su gere-se a realização d e
ou-t ro s e sou-tu d os q u e c on ou-te m p lem a rec ep çã o d a s m en sagen s p elos d iversos gru p os aos q u ais as estas são d estin a das. Ac red itam os q u e a com -p ree n são d a s lógicas q u e r ege m os d iscu r sos s o b re o corp o gan ha im p ortân cia à m edida qu e o f e rec e u m ca m in h o d e q u estion a m e n to d o s e s t reitos lim ites de u m a visão n orm a t i va d a se-xua lid a d e q u e, en ge n d ra d a n os m ea n d ros d o tecid o social, d esafia os p rocessos de com u n i-cação voltados à in terven ção edu cativa. Sua re-le vân cia t am b ém r esid e n o at ra ve s s a m e n t o d essas con cep ções p or p r átic as soc iais d esen -volvid a s em diferen te s c on textos, en vo l ve n d o ao m esm o tem p o re a l i z a d o re s, pro d u t o res e re-c e p t o res d as m en sa gen s ed u re-c at iva s. Cu m p re, assim , buscar a atribu ição do sign ificado p e los su je it os so c iais q ue se c on stitu e m sin gu lar -m en te at ra vés d o olh a r q u e la n ça-m so b re o s d iscu r sos qu e lhes são ofer tad os e p elas a ções i n t e r ven cion istas q ue recaem sob re seu corp o. Ao re f l e t i r-se sobre as p r áticas edu cativas e d e com un icação n o cam p o da saú de, em erg e n -tes n u m m un d o on d e a d iferen ça se ap re s e n t a c om o a m ea ça e n ão c om o ab ert u ra a o n ovo, p od e-se re co n h e ce r q ue as p o ssib ilid ad es d e m u dan ça d o ân gu lo d e visão sobre os fen ôm en os q u e ac om et em o c o rp o h u m aen o een coen -t ram -se re s -t ri -t a s. A ab er-t u r a e a p ossib ilid ad e d e con str uç ão d e n ovos olh ares d e ru p t u ra d e um sab er ra cion al, seja ele q ua l for – até m esm os os esm ais p ro g ressistas –, qu e fala pelos ou -t ro s, en con -tram - se n a m an eira com o apre n d e-m os e en sin ae-m o s a ser su je ito s e coe-m o con s-t r u ím o s e d esc re ve m o s as im a ge n s d o o us-t r o, p or m eio d a s for m as d isc ur sivas e m e rg e n t e s n o cotid ian o, ou do s d iscu rsos m ateri a l i z a d o s e m im age n s. Com isso, p re t e n d e m o s, fu n d a-m e n t a l a-m e n t e, ten tar ilu a-m in ar a n ossa fora-m a de ve r, p erceber e recon ceb er p ráticas com u n ica-t i vas e d eica-term in ados p roce ssos esica-tru ica-t u ra d o re s d a p rática social q u e trad icion alm en te tem si-d o cen ário si-de in ter ven ções si-d iscip lin asi-doras so-b re vid a, sexu alid ade e m ort e.
R e f e r ê n c i a s
A B R A S CO (Associação Bra s i l e i ra d e Saú d e Co l e t i va ) , 1992. Com u n icaçã o Social em Saú de: Di a g n ó s t i c o Prelim in ar da s Práticas In stitu cion ais n a Saú de e Con tribu ições pa ra o Delin eam en to d e u m a Po l í-t i c a. Rio d e Ja n e i ro: Ab ra s c o.
AU M O N T, J., 1993. A Im a g e m. Cam p in as: Pa p i ru s. ASSIS, M., 1992. Da Hi p e rten são à Vi d a : Por u m a Pr