PESQUISA COMO INSTRUMENTO DA PRÁ TICA*
Maura Maria Guimaraes de Almeidat
RESUMO: O trabalho aoda a utilização da pesquisa omo intrumento da pátia pofis sional da enfermaria na área de assistência, administração e ensino. Situa a ciência como proceso. Ressalta a resonsabilidade da enfermeira na produção da conhecimento científico. Destaca os fatores que dificultam e facilitam a pesquisa, além dos aspectos éticos envolvidos.
UNITERMOS: Pequisa em Enfermagem - Prática Profissional - Enfermeira/o
1 . INTRODUÇÃO
Ao sermos convidadas para falar sobre "es quisa como Instrumento da Prática" decidimos trazer para vocês aspectos que ajudassem a desmitifiar a Pesquisa omo uma atividade aca dêmica e complexa, realizada de forma isolada e independente das atividades da enfermeira, do ensinar e ou do assistir.
Para entender a pequisa como um elemento do ensinar, do assistir e do administrar, iniciare mos fazendo algumas onsideações sobre a CI ÊNCIA, da qual a pesquisa é a atividade básica.
Senso comum
1
Conhecimento Acrítico
· Sem profundidade
· Sem rigor lógico
· Imediatita, crédulo
Fata de Conhecimento Especializado
FIGURA 1 -Ciência como Processo
Como vimos, fazendo a Ciência pate deste contínuo, é impotante sabermos o que não é
Ci-2. CIÊNCIA COMO PROCESSO
\
Ciência é a pocura metdica do saber, uma aventua inteletual, o mdo de interpretar a eali- . dade, ou o saber realizado ou tecnizado. Porém, é impotante destacar que a realidade é sempre vita de forma parcial, or mais que seja delimita da.Para entender a Ciência como um processo podemos imaginar um espaço contínuo no meio do qual a colocamos, tendo como extremos o senso comum e a ideologia (Figura 1 ) .<4)
Ciência Ideologia
1
Caráter justificador
. Deturpaão de fatos Falsifiação Patidário
Posicionamento Político
ência, ao utilizarmos o conhecimento divulgado da ealidade. O que np�, dignifica deixar de
coni-• Conferência realizda no XI ENFNORDESTE. Salvador-Ba, 1 7 a 1 9 de agosto de 1 4.
Professora Ora. do Depatamento de Enfermagem Comunitária da Escola de Enfermagem da U FBa.
derar o conhecimento de senso com u m , pois é a patir dele q u e , m u itas vezes, chegamos ao co nhecimento científico.
Outo aspeto impotante é entendermos a
Ci-Cultural
ência como u m prod uto h u mano e enquadrá-Ia dento de u m contexto no qual o ser humano etá envolvido.
Histórico
Enquadramento
Social Político
Ciência
Produto Humano
Pressu postos Ideológicos
Pressu postos Filosófios
Pressu postos Teóricos
Razão Científicca
· Mutável
· Histórica
· Objetividade relativa
· Interpretativa
FIGURA 2 -Enquadramento da Ciência
Ao colocarmos a pesqu isa dentro de u m con teto pol ítico , hitórico , social e cultural podemos entender melhor a Ciência .
Aspecto potico - A pesq u isa i nteressa ao Es t a d o , à s e m p r e s a s , à s o c i e d a d e c i v i l . Modemamente, está o rgan izada em i nstituições ligadas ao Etado e/ou à i n iciativa privada .
Nos países desenvolvidos a porcentagem do PIB (Produto I nterno Bruto) d estinada à pesqu isa é bem maior do q u e em países em desenvolvi mento. No Brasil , a verba destinada à Secretari a d a Ciência e Tecnologia t e m d i m i n u ído, o que se reflete na Ciência , medid a através de atigos em revistas científicas de circu lação nacional ou in ternaciona l .(6l.
A pol ítica adotada pela Universidade valoriza a pesq u isa na avaliação dos pofessores (concu r so , progressão funcional entre outros) , porém não
propicia meios para o desenvolvimento desta ati vidade (acúm u l o de tarefas didáticas e adm i nis trativas, deficiência de pessoa l de apoio, entre o utros) , o que restringe a prod ução dos pofesso res e a l u n os. As Instituições de Saúde m u itas vezes não oferecem condições para o profissio nal desenvolver pesq u isas. Atualmente , i nstitui ções privadas etão estimulando o desenvolvimen to de pesq u isas, preocupadas com a q u a l idade d a assistência , o crescimento e a d ivulgação do trabalho rea l izado na I n stituição.
Aspecto histórico - A investigação deve ser entendida como uma prática social e a Ciência com o fenômeno, como toda rea l idade h istórica . Por ser histórica a rea l idade não é perene, nem fixa , i m utáve l , h a rm o n i osa , eq u i l i brada , ao con trá rio, a sociedade é conflitiva e em m utação, potanto a Ciênci a não pode ser algo totalmente
definitivo. É processo e está sempre e apenas em formação, porém há um limite que marca o surgimento de fases históricas e sua relativa per sistência temporal.(4).
Na enfemagem, a pequia gerado novos o n h eci m entos co m eçou co m os estudos d e Florence Nightingale. N o Brasil, as pesquisas e m enfermagem têm sua evolução associada à im plantação dos Cursos de Pós-Graduação em ní vel de Mestrado e Doutorado, sendo sua produ ção ealizada principalmente por docentes da re gião Sudeste do país.(2)
Aspecto social e cultura/ -O cientista pesqui sa aquilo que o meio lhe apresenta como proble ma de pesquisa ou lhe oferece condições para pequisar, de aodo com sua formação, vivência, valores, crenças e convicções do grupo a que p e rtence . E ntre os aspectos q u e pod e m condicionar as pesquisas realizadas, podemos citar as questões de saúde locais, a política e
Objeto
Real
oganização dos seviços, o processo de traba lho, o pefil ocupacional da força de trabalho em saúde, as relações de poder e o acesso aos co nhecimentos científicos e tecnológicos.
Para demontrar a influência do aspeto oci al na ciência, odemos dar como exemplo a ques tão do gêneo, em que a Ciência, em geral prdu zida pelo homem, apresentava a mulher como menos inteligente, menos apaz, sempre submi sa e inferiorizada. A mudança no papel social da mulher contribuiu para que estes conceitos se modificassem; a realidade hoje é interpretada de outra maneira, pelas mulheres e pelos próprios homens.
A ciência gea um conhecimento objetivo e ra cional, baseado em pressupostos teóricos, ideo lógios e filosófios, que muda, é histório, é uma interpretação da realidade, não há objetividade absoluta.
)
ObjetoCien ífico
elaborado
(teoria)
FIGURA 3
-
Objeto real e Objeto científicoPotanto, existe sempre um objeto real e um objeto cientíico que é contruído, elaborado e re flete a visão do cientista naquele momento.
3. PORQUE PESQUISAR EM ENFERMAGEM
Ao entendemos a Ciência como pceso, ju tificamos a necessidade das enfermeiras consi derarem a Pesquisa como um elemento inerente à sua prática (docente ou assistencial), ob pena de adicarem de uma paticipação ativa no aele rado processo históico de contrução do saber e das transfomações sócio-eonômias que trazem
avanços nos conhecimentos e nas técnicas. Sig nifica ainda, contentar-se com uma posição su balterna de simples consumidores detes conhe cimentos. Além disso, a investigação integra o controle de qualidade de ações profissionais e permite consolidar uma profissão com poder e
status.
A enfemeira equia para resolver oblemas práticos, ciando novos mdelos de assistênia e ensino, para formular e testar teorias educacio nais em enfermagem, paa conhecer a sua clien tela e os seviços de saúde, para entender as re lações existentes na sociedade.
A pesquisa é meio e fim no proceso eduaci onal, acontecendo o mesmo em relação ao as sistir. Os profisionais, ao investigarem a sua atu ação e os resultados, estão provavelmente, ga rantindo a melhoria da qualidade de suas ações.
A pesquisa não pode ser vita como algo que vem de fora para dentro do cuidar, ;é impotante
que a enfermagem descubra ao cuidar, ao ensi nar.(1) Mesmo quando a enfermeira não está pro-· duzindo, ela deve estar utilizando criticamente a produção científica existente em outras áreas e na sua área específica. O que torna indispensá vel o conhecimento da metodologia cientíia.
FIGUA 4 -Onde são real izadas as pesquisas na Enfermagem
Ensino
Pesquisa
t
Assistência Administração
Senso de obsevação Precisão
Idéias claras Cuiosidade
Poder de discemimento · Humildade
· Imparcialidade
· Honestidade
· Coragem
As pesquisas em enfermagem são produzi das, em sua maioria, por docentes, em geral Me tres ou Doutores, e seus oientadores. Encontra mos ainda, pesquisas realizadas por enfermeios assistenciais, com paticipação de médicos, es tatísticos, antropólogos, sóciólogos entre outros profissionais. (5)
Para que a investigação aconteça, entre os fatores ligados às enfermeiras podemos desta ar: desetar e desenvolver o senso de obseNa
ção, para peceber o que merece ser investigado,
registrar com precisão e idéias claras os fatos, ou fenômenos do seu trabalho, aguçar a curiosi
dade quanto à contribuição para melhoria da as
sistência elou do ensino, ampliação do conheci mento e impato social das ações desenvolvidas,
ser ousado e corajoso para tentar novas formas
de ação desafiando a organização e o poder, ter
sagacidade e discenimento para analisar as
ações pofissionais e a dinâmica das relações po fissionais e sociais.
Além disso, é necessário a enfermeira ficar atenta às informações reebidas de outros
prois-sionais, da equipe de enfermageme da clientela atendida, pois muitas vezes passam despercebi dos aspectos impotantes dessas informações, como sugestões para pesquisas, modificações nas ações de enfermagem e avaliação dos sevi ços, contribuindo para a leitura da realidade e o entendimento dos ftos e fenômenos em sua mag nitude, contexto, especificidade e totalidade.
A enfermeira embora conheça, pode não ser especialita nos métodos de pesquisa, e por iso deve trabalhar com outros rofissionais ao inves tigar. Os núcleos de esquisa permitem essa to ca de experiências.
Dificuldades para pesquisar
As enfermeias encontram alguns empecilhos para o desenvolvimento da pesquisa, entre os quais podemos citar:
· Escassez de enfermeiras.
· Baxa remuneração.
· Rotatividade das enfermeiras.
· Falta de disposição para pesquisa .
· Preparo deficiente.
· Condições i nadequadas de trabalho.
· Ausência ou deficiência de registros.
· Falta de incentivo da i nstituição.
· Escassez de instrumentos de divulgação.
Fatores que incrementam a pesqu isa
· Expansão dos programas de pó-graduação.
· Enfermeiras assistenciais em ás-graduação.
; I nteresse das instituições em pesq uisa . · Formação e desenvolvimento de núcleos de
pesq u isa .
· I nterdisci p l i n a ridade e atuação m u ltipro
fissional.
· G ru pos de estudo nas i nstituições.
· I m plementação de resultados de pesq uisas
na prática .
· Preparo nos cursos de graduação.
· Ampliação dos meios de d ivulgação.
· I ntecâmbio de pesq uisadores.
Aspectos éticos
o Cdigo de Ética dos Profissionais de Enfer
magem detemina no capítulo VI Atigo 78, que o
enfermeio deve facilitar o desenvolvimento das ati vidades de pesqu isa e ensino devidamente apro
vadasY>
A aprovação dos projetos de pesquisa deve ser feita pelo Comitê de Ética da instituição. Este Comitê deverá existir em toda instituição de saú de onde se real izem pesq u isas em seres h uma nos, conforme resol ução do Conselho Nacional
de Saúde.
Aspectos éticos a serem observados:
· Código de étia - as enfemeiras devem faci
litar a pesq u isa .
· Comitê de ética da i nstituição - analisa e aprova o projeto.
· Compromisso - do pesquisador com a clien
tela e a institu ição.
· Autorização dos pesquisadores para serem
sujeitos da investigação.
· Autorização para a divulgação dos resulta
dos.
· Ética na coleta , registro e i nterpretação dos
dados, com promisso do pesq uisador com a vedade.
4. CONCLUSÕES
A onscientização da enfermeira de que é res
ponsável pela produção de con hecimentos em saúde, o preparo adequado e a valorização da pesq u i sa pelas i nst itu i ções, são req u i s itos i nsdispensáveis da pesq uisa como instrumento da prática profissiona l .
A pesquisa , a l é m de atuar no contole d e q ua
lidade das ações, confere à enfermagem poder e
status de profissão univesitária, que contribui paa a melhoria das condições de vida da população e para a produção do saber.
A pesquisa deve ser realizada de forma om pa ti l ha d a . A i nterd isci pl i na l idade e a ação multi pofissional permitirão com preender melhor a realidade complexa em sua totalidade.
ABSTRACT: This paper speaks about the utilization of research as an i nstrument i n the
n u rsing professional practice i n the areas of assistance, adm i nistration, and teaching. It situates science as a process and emphasizes n u rsing responsability in the production and uti lization of the scientific knowledge. Also tands out factors that have same positive or negative influence in the scientific research , besides ethic aspects i nvolved .
KEWORDS : Nursing research-Professional practice - Nurse
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0, out. 1 2. Número Especial.
Recebido para publicaçêo em 20.4. 1 995 Aprovado para publicaçêo em 1 0.6. 1 995.