FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
I~
BISERKA DJURAGIN VUKOVICEXPORTAÇÃO COMO CANAL PARA AUMENTO DA
COMPETITIVIDADE DA MANGA BRASILEIRA: UM ESTUDO
EXPLORA TÓRIO.
Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação da EAESPIFGV. Área de Concentração: Mercadologia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Administração.
ORlENT ADOR: PROF. DR. TADEU FRANCISCO MASANO
SÃO PAULO
1999
II
1199901101
Functaçao Getulio Vargas
Escola de Ad ministração ,
....:;...- f~"ü0l.tli"1l':1at::l
fo-sY
,\.t'''~(~'\)
\lq~q
s.
Tornbo '\YLS,
j
101/99
e.
1-VUKOVIC, Biserka Djuragin.
Exportação como canal para aumento da
competitividade da manga brasileira: um estudo exploratório.
São
Paulo: EAESPIFGV; 1999. 170p. (Dissertação de Mestrado apresentada
ao curso de Pós-Graduação da EAESPIFGV, Área de Concentração:
Mercadologia).
Resumo:
O estudo faz uma abordagem do mercado da manga, e como a
exportação pode ser usada como um canal para incrementar a sua
competitividade neste mercado. O estudo tem foco principalmente na
região do Vale do São Francisco pela importância da região no cultivo e
exportação da manga
Esclarece como a exportação pode auxiliar na estruturação do setor,
identificando os principais aspectos referentes ao marketing de
exportação e as principais variáveis que afetam a competitividade da
exportação de mangas no Brasil.
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, pessoas que me guiaram por
muitos anos com amor e carinho, possibilitando que eu chegasse até aqui. E pela compreensão, pelas inúmeras horas que não pude ficar ao lado deles.
Aos meus amigos, que com seu companheirismo e amizade, me
incentivaram e deram forças para que concluísse este trabalho.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Tadeu Francisco Masano, pela sua orientação e por ter aceito a condução deste trabalho.
A todas as pessoas que contribuíram para a confecção deste trabalho, direta ou indiretamente, minha gratidão pelo incentivo e sugestões.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO
1.1.Importância do estudo
1.2.Objetivos do estudo 1.3. Metodologia da pesquisa 1.4. Organização do trabalho
01 01 09
10
13
2.A MANGA NA FRUTICULTURA
2.1. Características da cultura
2.2. Fisiologia e pós-colheita da manga
2.3. Utilização da manga
16
16 21 31
3. A MANGA NO MERCADO INTERNACIONAL
3.1. Produção de manga no mundo 3.2. Principais importadores de manga
3.2.1. Europa
3.2.2. Estados Unidos
3.2.3. Japão 32 32 33 34 41 48
4. A MANGA NO MERCADO BRASILEIRO
4.1. Aspectos da fruticultura no Brasil 4.2. Produção de manga no Brasil
4.3. Produção de manga no Vale do São Francisco 4.4. Canais de comercialização no mercado interno 4.5. Preços da manga no mercado interno
4.5.1. Evolução dos preços da manga
5. EXPORTAÇÃO COMO ESTRUTURADOR DO SETOR
5. 1.
Marketing Internacional5.1. 1. Marketing de exportação
5.1.2. Ciclo de vida internacional do produto 5.2. Métodos de exportação
5.3. Panorama das exportações brasileiras na fruticultura
5.4. Custos da manga na exportação
76 78 80 91 95 100 107
6. VARIÁVEIS QUE AFETAM A EXPORTAÇÃO DA MANGA
BRASILEIRA
112
6.1. Análise das oportunidades e ameaças do setor 6.1.I.Oportunidades
6.1.2. Ameaças
6.2. Análise das forças e fraquezas do setor 6.2.1. Forças 6.2.2. Fraquezas 112 113 125 135 135 138
7. CONCLUSÃO E LIMITAÇÕES DO ESTUDO
7.1. Conclusões
7.2. Limitações do estudo
147
147 151
8. BffiLIOGRAFIA 152
ANEXOS
Anexo I - Produção brasileira de manga Anexo II - Área colhida de manga
Anexo m - Preços em US$lkg manga no CEAGESP Anexo IV - Preços manga em US$lkg - CEASAs Anexo V - Custos de produção de manga
Anexo VI - Custos de exportação de manga
RELAÇÃO DE GRÁFICOS, FIGURAS E TABELAS
Tabela 1
-Tabela 2Tabela 3 -Tabela 4Figura 1 -Tabela 5Gráfico 1 -Tabela 6-Tabela 7Figura 2 Tabela 8 -Figura 3-Gráfico 2Gráfico 3 -Gráfico 4-Tabela 9-Tabela 10Tabela 11
-Gráfico 5-Gráfico 6Gráfico 7 -Tabela 12-Tabela 13Tabela 14 -Gráfico 8-Gráfico
9-Projeções de demanda para algumas frutas tropicais no ano 2000 naCEE
Época das safras dos países fornecedores de manga Coloração x maturação da manga
Tempo para maturação de mangas com tratamento Pós-colheita da manga
Produção de frutas no mundo (1996)
Participação dos principais países produtores de manga (1997) Disponibilidade de manga no mercado europeu
Disponibilidade de manga no mercado americano Distribuição de manga nos EUA
Disponibilidade de manga no mercado japonês Distribuição de frutas no mercado japonês
Participação na produção brasileira de manga por região (1995) Produção brasileira de manga
Área colhida de manga
Perfil da fruticultura no Vale do São Francisco
Comparação entre o Vale do São Francisco e a Califórnia (EUA) Comparação de resultados na produção de manga: método tradicional x reguladores de crescimento (em R$/ha/ano)
Evolução dos preços da manga Haden
Evolução dos preços da manga Tommy Atkins Sazonalidade dos preços da manga (Tommy Atkins)
Comparação entre marketing internacional e comércio exterior Saldo da balança comercial brasileira (US$ bilhões)
Exportações brasileiras de frutas frescas - 1993 a 1996 Destino das exportações agrícolas brasileiras
Gráfico 10- Exportações brasileiras de manga 107
Tabela 15- Tempo gasto no preparo de refeição (média nacional) 120
Tabela 16- Distribuição da população brasileira por idade 120
Tabela 17- Expectativa de vida 121
Figura 4- Marca "Brazilian Fruit" 123
Tabela 18- Vantagens e desvantagens do uso de uma marca 125
Tabela 19 - Impostos incidentes sobre a manga 127
Tabela 20- Custos comparativos dos portos 127
Gráfico 11 - Frutas mais importadas pelo Brasil (1996) 133
Tabela 21 - Custos de produção de frutas de exportação para produtores de 137 diversos portes
Tabela 22 - Custos de aquisição e de manutenção de caixas de vários materiais 144
1.1. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Segundo Carraro, a demanda por produtos alimentícios de alta qualidade
vêm crescendo regularmente nos países desenvolvidos, o que vêm
provocando importantes aumentos do consumo, principalmente de frutas
frescas e de outros produtos exóticos importantes para o hemisfério sul.
A ênfase que se observa no cuidado com a saúde e nos aspectos nutritivos
dos alimentos é um dos principais fatores que tem contribuído para a
manutenção e crescimento do consumo de frutas frescas. A manutenção
dessa tendência deve-se também a possibilidade de consumir produtos
frescos durante todo o ano, o que permitiu o aparecimento das
oportunidades da contraestação.
Por sua vez, a melhoria dos sistemas de transporte e dos sistemas de
conservação tomaram possível que produtos que antes não podiam chegar
aos mercados externos com qualidade suficiente, atualmente possam ser
comercializados sem inconvenientes.
1Nos Estados Unidos, a importação de frutas e vegetais mais que dobrou no
período de 1979-89, de um valor de US$ 2 bilhões para US$ 4,8 bilhões.
Em meados de 80, a comercialização de frutas e vegetais excedeu em
1 CARRARO, Antônio F., CUNHA, Marcelo M. da. Manual de Exportação de Frutas. Brasília:
valores a comercialização de qualquer outro produto agrícola, incluindo os
cereais.
2Essa tendência se manteve em 1996, quando o mercado
internacional de frutas movimentou US$ 20 bilhões, superando os
complexos soja (US$ 17 bilhões) e trigo (US$ 18 bilhões).
3A demanda no mercado da União Européia cresceu nos últimos cinco anos
numa taxa de 22% ao ano, de acordo com os dados da Organização
Mundial de Comércio e, segundo a
FA04,o consumo continuará crescendo
cerca de 5% ao ano no mundo. Para as frutas abacaxi, abacate, manga e
papaia está previsto um crescimento maior, cujas demandas poderão se
elevar em 28%, no período compreendido entre 1996 até 2000
5,
como pode
ser visto na Tabela 1.
2 COLLINS, Jane L. Farm size and non-traditional exports: determinants of participation in world markets. World Development, USA, v. 23, n. 7, 1995, p. 1103.
3PROGRAMA visa a tomar Nordeste grande exportador de frutas. OEStado de São Paulo, São Paulo, 25 set. 1997.
4Food and Agriculture Organization
S NEVES, Evaristo Marzabal. Exportação de frutas de mesa: sinais de mercado. Preços Agrícolas,
Tabela 1 - Projeções de demanda para algumas frutas tropicais no ano 2000 na CEE (Comunidade Econômica Européia) - (toneladas)
Demanda
Variação %
1996
2000
Abacate
174.000
238.000
37
Abacaxi
695.000
854.000
23
Manga
271.000
364.000
34
Papaia
78.000
101.000
29
TOTAL
1.218.000
1.557.000
28
Fonte: FAO, 1996
O relatório da FAO enfatiza que os norte-americanos serão os maiores
responsáveis pelo crescimento da demanda de manga (41
0/0),seguidos pela
Comunidade Européia (22%) e Japão (4,2%). A expansão da demanda se
dará em países ou regiões (EUA, CEE, Japão e outros asiáticos) que
impõem sérias restrições
àfruticultura de mesa com respeito
àqualidade,
defesa fitossanitária, monitoramento e controle de resíduos químicos com
legislação e normas que dificultam a entrada de frutas de mesa em seus
mercados internos.
6Atualmente, o Brasil está posicionado como o maior produtor mundial de
frutas
in natura,porém destina apenas 1
%da sua produção para o exterior.
7Ocupa o
10lugar na produção mundial de laranja, mamão e banana, o
3° lugar na produção de abacaxi e tangerina e o 5° lugar na produção de
manga.
Dentre as frutas frescas exportadas pelo Brasil, a manga
éuma das frutas
tropicais que apresenta enorme potencial de crescimento nas exportações,
pois segundo Barreto Filho, ainda pode-se dizer que
éuma fruta
desconhecida nos mercados externos. "Cerca de 95% dos europeus jamais
colocaram um pedaço de manga na boca, e por isso não sabem o sabor da
fruta nem como comê-la. Quando experimentam, jamais deixam de
comprar manga".
8A falta de informação para o consumidor sobre o produto
éuma das causas
da restrição do mercado internacional. Não se pode esperar que um
habitante de clima temperado saiba quando a manga está no ponto de
maturação ideal para consumo. Isso leva um grande número deles a formar
uma imagem negativa do produto, por tê-lo consumido antes ou depois do
ponto ideal de maturação. Quem prova e não gosta, dificilmente compra
outra vez.
o
insignificante consumo atual de manga na Europa (1OOgpor habitante
por ano)" poderia crescer substancialmente se os produtores divulgassem
informações sobre a maturação e o prazo de validade da manga.
Produtores e exportadores de kiwi da Europa e da Oceania fizeram um
trabalho em conjunto, há cerca de seis anos, para divulgar a fruta nos países
importadores, como o Brasil. O resultado foi a abertura do mercado para o
8BARRETO FILHO, Manoel Dantas. O sabor das frutas do Brasil. Agroanalysis, v. 17, n. 11, 1997, p.2.
kiwi. Esse pode ser um exemplo a ser seguido na ampliação do mercado europeu de manga
in natura.
Além do consumidor europeu, que tem poucas informações sobre a manga,
o produtor brasileiro ainda tem pouco conhecimento sobre a condução da
cultura de manga. O uso de técnicas químicas de indução de florada com reguladores de crescimento, e outras técnicas, como o anelamento do tronco ou ramos e a indução de estresse hídrico, permitem produzir manga em qualquer época do ano.
Na conquista e manutenção do mercado internacional de frutas frescas, a qualidade torna-se um dos principais fatores de competitividade. Atributos
como tamanho, sabor, consistência, coloração, suculência, odor, aparência geral, vida de prateleira (shelf-life) e homogeneidade, tornam-se decisivos. lO
Pode-se dizer que a qualidade também é a chave para os mercados mais lucrativos no mercado interno.
Produzida de forma bem distribuída ao longo do ano, a manga brasileira poderia tomar -se presença constante no mercado internacional. Associando a isso a manutenção do padrão de qualidade da fruta, o produtor brasileiro teria o controle de dois fatores de grande importância na preferência do consumidor estrangeiro pela manga do Brasil.
Um fator adicional e igualmente importante, é a definição da marca, que
serviria para diferenciar o produto brasileiro e orientar o consumidor no mercado externo na hora da compra.
Hoje, esse consumidor é assediado por várias marcas, uma em cada época
do ano. A manga brasileira é encontrada na Europa, por exemplo, entre
novembro e janeiro. De janeiro a abril, chega a manga da África do Sul. De
agosto a novembro o europeu encontra a fruta ainda de Israel (variedades
tommy atkins, kent e keitt). Nos períodos restantes, o mercado é suprido
com produto de países africanos mais próximos da Europa, como a Costa
do Marfim, e países latino-americanos com menor volume de exportação,
como a Costa Rica e a Venezuela. O México, embora seja importante
produtor, destina 95% da sua produção aos parceiros do NAFTA (Estados
Unidos e Canadá).ll
O produto brasileiro se tornará mais conhecido se estiver no mercado
durante todo o ano, com bom padrão de qualidade e identificado por uma
marca. Se o consumidor provar a manga no ponto ideal de maturação,
muito provavelmente passará a preferir essa marca.
Segundo Almeida, apesar do Brasil estar posicionado como o
maiorprodutor mundial de frutas, a fruticultura nacional ainda se encontra mal
organizada. Se forem subtraídos os volumes de citrus, que está vinculado a
uma dinâmica particular de processamento e exportação, e a banana que
sempre foi cultivada em diversas regiões do país sem preocupação com
qualidade, o Brasil cai para 37° lugar na produção mundial de frutas."
"Geograficamente, a fruticultura nacional encontra-se "pulverizada" por
todo o país, agravando seu controle, regulamentação e apresentando
11Idem, p. 275.
dificuldades técnicas pelo baixo número de pesquisas locais. Para grande
parte das frutas, a tecnologia empregada para a produção não está em concordância com a metodologia de pós-colheita que deve ser aplicada.?"
"A velocidade com que a fruticultura se espalhou no Brasil nos últimos
15 anos também proporcionou uma dificuldade a nível infra-estrutural e técnico (canais de escoamento, armazéns reguladores, centros de excelência
em pesquisa de fruteiras, etc.), que determinou em grande parte o fracasso em algumas regiões.,,14
Apesar do cenário desfavorável, algumas regiões despontaram na
organização da fruticultura, alcançando números expreSSIVOS de
performance. É o caso da região do Vale do São Francisco, atualmente a
maior produtora e exportadora de frutas tropicais do país. Situada entre dois
estados da região Nordeste - Bahia e Pernambuco - a região oferece condições climáticas que permitem a produção de frutas de alta qualidade
com custos relativamente reduzidos.
Na região, há a possibilidade de se produzir manga em qualquer época do ano com o uso de técnicas de indução de florada", o que dá ao Brasil uma forte vantagem competitiva em relação a concorrência.
Para ser competitivo e conquistar mercados externos através da exportação exige-se um planejamento de marketing'", tornado-se indispensável a
13Idem, p. 1. 14Ibidem, p. l.
identificação de mercados específicos, até se chegar no que chamamos de
nichos de mercado. Investimentos em promoção comercial, logística,
tecnologia e conhecimento das regras fitossanitárias em cada país, são itens
fundamentais, assim como a integração governo, iniciativa privada e
centros de pesquisa.
Para entrar no mercado internacional, há uma série de fatores a serem
analisados, que devem ser equacionados através de um planejamento
integrado de marketing internacional.
17Em seu conceito básico, o planejamento de marketing internacional possui
as mesmas características aplicadas ao marketing doméstico. Porém, um
número bem maior de variáveis irão contribuir para a diferenciação e a
sofisticação requeridas pelo marketing de exportação.
A passagem do mercado nacional para o internacional colocará a empresa
numa nova situação de competitividade, exigindo sua adaptação à nova
situação. Para entrar no mercado internacional tão competitivo é necessário
uniformizar o produto e gerenciar a pós-colheita da manga, necessariamente
elevando a qualidade do produto fmal e forçando o produtor a se organizar
no mercado interno.
16 Segundo Cobra, o planejamento mercadológico "é uma organização sistemática de ações programadas para atingir os objetivos da empresa no tempo e no espaço através de análise, avaliação e seleção das melhores oportunidades de mercado." COBRA, Marcos H. N. Marketing básico: uma perspectiva brasileira.São Paulo: Atlas, 1983, p. 170.
1.2. OBJETIVOS DO ESTUDO
o
propósito desta dissertação é realizar um estudo sobre o mercado damanga, e como a exportação pode ser usada como um canal para
incrementar a sua competitividade neste mercado. O estudo focou a região do Vale do São Francisco pela importância que representa no cultivo de manga e na exportação da mesma.
Partindo-se deste objetivo básico, este estudo pretende:
• Levantar as características próprias da cultura que afetam a qualidade do produto e conseqüentemente a sua competitividade no mercado interno e externo.
• Fazer uma análise mercadológica da manga no Brasil e no mundo, com as características dos principais mercados.
• Traçar um panorama das exportações brasileiras na fruticultura, especificamente manga.
• Identificar os principais aspectos referentes ao marketing de exportação.
• Esclarecer como a exportação pode auxiliar na estruturação do. setor.
1.3. METODOLOGIA DA PESQillSA
A dissertação utiliza metodologia exploratória e descritiva, com objetivo de
levantar conceitos e sistematizar idéias, não havendo intenção de estabelecer hipóteses e testá-las.
A pesquisa exploratória é recomendada quando o pesquisador já tem algum
conhecimento sobre o assunto em questão, permitindo estruturar de forma mais clara os conceitos relativos ao mesmo. Segundo Mattar, utiliza-se a pesquisa exploratória para os seguintes objetivos":
• Familiarizar e elevar o conhecimento e a compreensão de um problema em perspectiva;
• Auxiliar a desenvolver a formulação mais precisa do problema de pesquisa;
• Acumular, a priori, as informações disponíveis relacionadas a um problema de pesquisa conclusiva que será efetuada futuramente;
• Ajudar no desenvolvimento ou na criação de hipóteses explicativas de fatos a serem verificados em uma pesquisa causal;
• Auxiliar na determinação de variáveis relevantes que serão consideradas em um problema de pesquisa conclusiva;
• Clarificar os conceitos;
• Estabelecer prioridades para futuras pesquisas.
Para a elaboração de um estudo exploratório, SelItiz, Wrightsman e Cook propõem'":
• Uma resenha da ciência social afim e de outras partes pertinentes da literatura;
• Um levantamento de pessoas que tiverem experiência prática com o problema a ser estudado;
• Uma análise de exemplos que "estimulem a compreensão".
Geralmente, os estudos exploratórios utilizam uma ou várias destas
abordagens.
Na condução deste estudo foi realizada uma revisão bibliográfica através de
pesquisa em artigos, livros e materiais que tratam do assunto, em bibliotecas e instituições vinculadas à área, a fim de recolher, selecionar, analisar, articular e sintetizar as contribuições existentes sobre o tema.
Foi realizada também uma viagem para Petrolina (PE), que se localiza no Vale do São Francisco. A viagem ocorreu no mês de novembro de 1996 visando a coleta de evidências através de entrevistas e observações diretas. O Vale do São Francisco representa hoje o principal pólo produtor e exportador de frutas tropicais do Brasil.
Foi feita uma entrevista com a principal empresa exportadora da região do
Vale do São Francisco - a Valexport (Associação dos Produtores
Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco). A
Valexport foi criada em 1988 para representar os produtores de frutas do
Vale do São Francisco, com metas de melhorar a exportação de frutas da
região, incrementar a pesquisa de frutas irrigadas, adequar a infra-estrutura
dos portos e aeroportos e integrar a produção de frutas a nível de país.
A Valexport criou o Brazilian Marketing Board (BGMB), uma iniciativa
pioneira no setor de exportação de frutas brasileiras e que vem obtendo
ótimos resultados. O BGMB foi criado após o fracasso anterior da cultura
de melão na região" e devido as dificuldades em se explorar o mercado
internacional.
Trata-se de uma constituição de um grupo de produtores visando redução
de custos e maior poder de barganha na comercialização de uvas no
mercado internacional, além do estabelecimento e consolidação de uma
marca diferenciadora do produto.
A Valexport foi escolhida por representar 80% da produção de frutas do
Vale do São Francisco, sendo representativa para auxiliar no delineamento
da fruticultura da região, assim como fornecer informações referentes às
experiências de sucesso no BGMB, que poderão auxiliar a determinar
variáveis relevantes para incrementar a competitividade da exportação da
manga no Brasil.
20
o
pólo produtor de melões que havia em Petrolina e Juazeiro entrou em declínio por várias razões,A entrevista no estudo em questão foi de natureza aberta e não-disfarçada. 21
A entrevista foi realizada com um executivo da organização, Sr. Fernando B. de Almeida, superintendente da Valexport e um dos principais idealizadores do BGMB.
Foram realizadas visitas a algumas propriedades da região que produzem
manga, assim como à Embrapa, Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido. Essas observações diretas foram utilizadas como
segunda fonte para análise da produção e exportação de manga da região.
Os cuidados metodológicos a serem seguidos durante a revisão bibliográfica, a consolidação das idéias e a preparação do texto [mal com
conteúdo e forma típica de uma dissertação de mestrado incluirão algumas das recomendações citadas por Ruiz.22
1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
A dissertação constará de oito capítulos, sendo que este primeiro capítulo contém a importância do estudo, objetivos e metodologia utilizada.
Os próximos quatro capítulos constam de uma revisão teórica, com todos os sub-itens pertinentes ao tema. No segundo capítulo são abordadas as
21Na pesquisa aberta, o pesquisador pode perguntar a respondentes-chave pelos fatos de um assunto, bem
como sua opinião a respeito destes mesmos fatos e "não-disfarçada" refere-se ao fato de que o motivo das entrevista está claro para o entrevistado. BOYD, Harper, WESTFALL, Ralph. Pesquisa Mercadológica,
6. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1984, p 142.
22RUIZ, Jõao Álvaro. Metodologia Científica - Guia Para Eficiência Nos Estudos. São Paulo: Editora
características da manga e de sua cultura, assim como as implicações diretas do correto manejo da colheita e pós-colheita na qualidade do
produto e na sua competitividade.
Caracterizado o produto, faz-se uma análise do mercado onde o mesmo se encontra inserido. No terceiro capítulo traça-se um panorama do mercado mundial de manga, com os principais mercados importadores e suas
características. São abordados também aspectos da comercialização e distribuição da manga nestes mercados.
Como a produção de manga no Brasil ainda tem foco no mercado interno, e
o mesmo tem grande potencial de crescimento, faz-se uma análise do mercado brasileiro e mais especificamente, do Vale do São Francisco,
principal região produtora e exportadora de manga no Brasil. Faz-se uma
análise dos preços no mercado interno e sua interrelação com as exportações.
o
quinto capítulo aborda as questões referentes à exportação e como este canal pode ser usado para incrementar a competitividade da manga no Brasil e no mercado externo, através de um marketing de exportação bem estruturado. Traça-se um panorama das exportações brasileiras e dos custos envolvidos na exportação de manga.No sétimo e oitavo capítulos serão encontradas as conclusões, limitações do
estudo e bibliografia. Os anexos encontram-se no final deste trabalho.
...2~AMANGANAFRUTICULT(JRA
2.1. CARACTERÍSTICAS DA CULTURA
A mangueira pertence à família Anacardiaceae e à espécie Mangifera
indica e é de origem indiana. É considerada uma planta tropical e
subtropical, cujo porte varia entre 3 a 30 metros de altura.23
o
crescimento vegetativo da mangueira se dá por períodos em cada ano, a depender das condições climáticas, variedades e região. Geralmente esta atividade vegetativa é mais intensa a partir de setembro, terminando em março. Nas condições de semi-árido, cada período de crescimento dura emtomo de 30 a 45 dias. A maturação dos ramos ocorre de 45 a 75 dias após
õ
período de crescimento (3 a 4 meses).24 Em cada período de crescimento, as
folhas mudam de coloração, dependendo da variedade.
o
início do florescimento da mangueira ocorre entre o período de julho a agosto, a depender das variedades e condições climáticas. Nas regiões semi-áridas, o florescimento pode iniciar-se a partir de março, sendo mais comum em junho, sob condições de indução floral. As panículasf sãoemitidas a partir dos meses de julho/agosto, e frutificando entre os meses de setembr%utubro.
A mangueira é considerada uma planta de polinização" cruzada, embora
inúmeras variedades sejam auto-polinizadas. Podem-se destacar como agentes polinizadores as abelhas, formigas, moscas e trips que são atraídos pelo néctar das flores.
A mangueira apresenta-se com um tipo de fruto denominado drupa carnosa, achatado lateralmente, com variações conforme o tipo, tamanho, forma,
coloração, presença de fibras, aroma e sabor. Com relação ao seu tamanho, encontramos frutos a partir de 100g, sendo mais comum entre 300 e 600g.27
A época de produção de manga no Brasil é de aproximadamente 6 meses, considerando a safra normal. Com o uso de antecipação da florada a produção pode ser aumentada em mais um ou dois meses, indo de agosto a
abril. Variedades precoces, de meia estação e tardias são responsáveis pela
24Idem, p. 12.
2S Tipo de inflorescência da manga.
26 Transporte do grão de pólen da antera para oestigma.
27 Sll,VA, Aristonildo C. da. Botânica da mangueira. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et alo Manga:
ampliação da época de colheita. O clima tem efeito importante também na
antecipação ou retardamento da colheita. Assim, as mesmas variedades que
são colhidas em São Paulo de novembro a março, podem ser colhidas um
mês mais tarde no Paraná.
O Brasil, com maior período de safra entre final de setembro e março, tem
sua produção fora daquela dos países do hemisfério norte, alguns grandes
produtores, como a Índia, China, Paquistão e México, tendo assim uma
vantagem competitiva em relação aos mesmos. Países africanos e alguns
países da América do Sul têm produção no mesmo período do Brasil. A
maioria dos países produz manga por apenas 3 a 4 meses no ano. A época
de produção dos principais países produtores de manga pode ser visto na
Tabela 2 - Época das safras dos países fornecedores de manga
País J F M A M J J A S O N D
África do Sul
• •
•
Brasil
•
• •
• •
•
•
Burkina Fasso
• •
•
•
Costa do Marfim
• •
•
Costa Rica
•
•
•
•
•
Guatemala
•
• •
Guiné
•
•
Haiti
• • • •
Índia
•
•
•
Israel
• •
•
Jamaica
•
•
Malí
• •
•
México
• •
•
• •
Nicaraguá
•
•
•
Paquistão
• •
•
Peru
•
•
•
Porto Rico
•
•
•
•
•
Quênia
•
• •
•
Venezuela
• •
•
Fonte: ffiRAF28/DATAFRUTA, Janeiro 1994. In: CARRARO, Antônio F., CUNHA, Marcelo M. da.
Manual de Exportação de Frutas. Brasília: MAARA-SDR-FRUPEX, 1994, p. 19.
Segundo Silva, a mangueira comumente apresenta-se como uma espécie de produção anual alternada, isto é, um ano com produção boa e outro ruim.
Esta baixa fertilidade da mangueira é explicada em parte por falta de um bom agente polinizador, no caso a abelha, que quase não visita as flores em questão. Outros aspectos ligados a baixa fertilização podem ter diversas
origens botânicas como: produção de pequeno número de grãos de pólen; porcentagem baixa de flores férteis; dicogamia (amadurecimento dos
órgãos sexuais masculinos e femininos em períodos diferentes); grande
número de flores masculinas, em tomo de 75% com relação às flores hermafroditas; alta porcentagem de flores perfeitas que não são polinizadas;
falha de germinação do grão de pólen nos estigmas; danos causados por trips; estigma desprovido de substância para fixação do grão de pólen; grão
de pólen do tipo agregado dificultando a soltura e o transporte durante a polinização. 29
Outros fatores também podem ser considerados como: a falta de umidade no solo; alta temperatura; adubação inadequada, etc. Para diminuir ou evitar a alternância de produção, usam-se técnicas de indução artificial de florescimento da mangueira, como por exemplo, a aplicação de produtos
químicos. Os aspectos relacionados à indução de florada serão abordados no Capítulo 4, item 4.3.
A mangueira é propagada por sementes (propagação sexual) e por via vegetativa (propagação assexual). Quando a propagação é por sementes,as plantas originadas são parecidas com as matrizes, mas os frutos por elas
29 SILVA, Aristonildo C. da. Botânica da mangueira. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et a!.Manga:
produzidos não são da mesma qualidade que das plantas genitoras, sendo geralmente inferiores.
Hoje o processo mais utilizado e recomendado para se produzir mudas de mangueira, em plantios comerciais, é o da enxertia, e para isto toma-se
necessário o reconhecimento de alguns aspectos relacionados às variedades utilizadas tanto para enxerto como para porta-enxerto. Com respeito aos
porta-enxertos, as sementes que irão originar os mesmos, devem ser oriundas de frutos e de plantas que apresentem as seguintes características: serem provenientes de árvores vigorosas, sadias e produtivas, bem adaptadas à região onde se pretende implantar o pomar, serem originárias
de plantas cujas sementes sejam poliembriônicas e tolerantes à "seca da mangueira", além de apresentar sistema radicular bem desenvolvido."
2.2. FISIOLOGIA E PÓS-COLHEITA DA MANGA
o
desenvolvimento da manga pode ser dividido em quatro estádios: juvenilidade, amadurecimento, maturação e senescência. A manga pode completar a maturação mesmo após a colheita, por se tratar de uma fruta com respiração do grupo c1imatérico. Segundo Medina, o grau dematuridade ideal para a colheita depende do tempo que a manga levará para ser consumida ou industrializada. Para utilização imediata, colhem-se frutos
completamente maduros e para transporte ou armazenagem por períodos
30 RAMOS, Victor Hugo V. Propagação da mangueira. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et alo Manga:
longos, no estádio de vez, a fim de chegarem ao mercado varejista em bom estado de conservação e maturação."
o
critério mais usado para se determinar o ponto de colheita da manga é amudança de cor da casca, conforme mostra a Tabela 3. Também utiliza-se como critério a queda dos primeiros frutos maduros, o que ocorre de 90 a
120 dias após o florescimento, a depender da cultivar e da região de cultivo. Além desses critérios, outros têm sido usados no estabelecimento de pontos ótimos de colheita, como gravidade específica, resistência da polpa à pressão, sólidos solúveis, entre outros.32
31MEDINA, Valdique Martins. Fisiologia e pós-colheita da manga. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et alo
Manga: Tecnologia de Produção e Mercado. Vitória da Conquista: Uesb, 1996, p. 208.
Tabela 3 - Coloração x maturação da manga
Fase
Coloração
Descrição
do
estádio
1
2
Coloração verde com pequenas partes amarelas e vermelhas, essa é a coloração normal da fruta após a colheita. Essa fruta madura e com consistência firme proporciona o maximo shelf-life (tempo de
rateleira , entre o embar ue e o consumo.
Conforme começa o ciclo de maturação, a manga se toma mais verde clara a amarela, sendo que algumas variedades também levam um tom levemente avermelhado. Ainda consistente, esta fruta madura está ronta ara ser comercializada.
3
Nesse estágio, a fruta está praticamente amarela comapenas algumas' pequenas partes verde-claras,começando a se tomar mais macia na sua consistência. Algumas variedades podem estar com uma coloração avermelhada. Neste estágio, a manga está a ro riada ara ser ex osta no vareio.
4 Ideal para o consumo, a fruta neste estágio estácompletamente madura e com a cor predominante
amarela, com algumas variedades apresentando a cor vermelha.
Color Chart, Endereço Eletrônico: Fonte: FRUTffiRAS Mango
http://www.frutibras.comlmanchart.htm
1996.
Têm ocorrido muitos problemas com a manga brasileira que
é
exportada devido ao ponto de colheita errado. Às vezes, são colhidas excessivamente verdes por erro do produtor ou por querer aproveitar preços altos. As frutasexcessivamente maduras têm maior risco de. colapso interno e doenças e obrigam o importador a vender precipitadamente em detrimento do preço.33
Uma vez estabelecido o grau de maturidade ideal, faz-se a colheita, de preferência manual, torcendo-se a manga até ruptura do pedúnculo, ou
cortando-se com tesoura de poda. No entanto, este modo de colheita só é possível quando as plantas ainda estão com porte baixo. Para as plantas de porte elevado, utiliza-se a vara de colheita. Devem ser evitados ao máximo
danos mecânicos como cortes, abrasões e choques, pois como a manga é um produto vegetal perecível, isso facilita sua deterioração."
Para preservar a qualidade dos frutos durante a colheita, as caixas contendo
as mangas devem ser mantidas
à
sombra para evitar aquecimento e conseqüente aumento da transpiração e respiração, bem como queimaduras pela radiação solar.Concluída a colheita em parte ou totalmente, as caixas devem ser transportadas para o galpão de beneficiamento, onde os frutos são lavados,
polidos, selecionados e classificados manual ou mecanicamente. A mecanização só é economicamente viável em grandes propriedades ou cooperativas, com movimento de carga superior a 5.000 t /ano."
34Durante a colheita, alguns cuidados devem ser observados:
a) Evitar choques dos frutos com galhos da planta, com o solo ou com as caixas de colheita, independentemente do grau de maturidade e tipo de colheita;
b) Evitar movimentos bruscos na vara de colheita, para que não ocorram abrasões entre os frutos contidos no saco;
c) Cortar a porção do pedúnculo ainda aderida ao fruto para evitar ferimentos na casca, por onde podem penetrar microrganismos patogênicos;
d) Evitar o contato da região peduncular com o solo, pela mesma razão acima; e) Acondicionar cuidadosamente os frutos nas caixas evitando-se choques e abrasões;
f) Evitar que o látex escorra sobre a casca dos frutos, para prevenir queimaduras que depreciam o produto;
g) Nunca usar o método de colheita por sacudidelas dos ramos da planta.
35MEDINA, Valdique Martins. Fisiologia e pós-colheita da manga. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et alo
• Beneficiamento manual
As mangas são lavadas em pequenos tanques para remover a poeira, o látex e outras sujeiras; separam-se os frutos com manchas, lesões e
deformidades. Estes frutos não devem ser descartados, podendo ser usados
para consumo
in natura
ou no preparo de geléias e compotas na propriedade, ou mesmo destinados a mercados pouco exigentes com relaçãoa qualidade devido a questões de natureza sócio-econômica. As mangas são então enxutas, polidas com esponja sintética não abrasiva ou com flanela, colocadas sobre uma esteira ou tablado, classificadas por tamanho ou peso e
grau de maturidade e, finalmente, embaladas. A classificação por faixa de
peso é efetuada com balança ou calibrador de pequena capacidade.
• Beneficiamento mecanizado
Através de verte dor mecânico ou hidráulico, as caixas de frutos são submersas em água corrente, onde sofrem uma pré-lavagem e saem por flutuação. Daí seguem por esteira rolante e são lavados e polidos com jatos
de água e escovas.
A classificação por peso é também mecanizada. As mangas seguem rolando
e passam sobre alvéolos ligados a um contrapeso que se afasta em função do peso dos frutos, basculando os alvéolos e liberando os frutos. Estes
podem cair diretamente na embalagem ou rolar em uma rampa, onde são selecionados para eliminação daquelas manchadas, lesionadas ou deformados. O acondicionamento nas embalagens é feito manualmente. 36
Em seguida, a manga é embalada. Para o mercado interno, o Ministério da
Agricultura regulamentou apenas o uso de embalagens de madeira. Para
exportação, utilizam-se caixas de papelão ondulado, com capacidade de
absorver choques, resistentes ao empilhamento e à umidade. Os tipos de
embalagem existentes serão discutido no item 6.2.2.
Durante o processo de beneficiamento, lavagem e polimento, a cutícula
cerosa da casca da manga é inevitavelmente danificada, aumentando a
perda de água por transpiração. Por essa razão,
éconveniente o uso de
embalagens individuais (papel manteiga ou filmes plásticos de polietileno)
ou o enceramento. O uso do papel apresenta o inconveniente de ser opaco,
obrigando o consumidor a removê-lo para avaliação do produto, deixando-o
exposto. O filme plástico supera este problema, mas causa um novo:
poluição ambiental e conseqüente restrição, principalmente pelos países
desenvolvidos.
Em muitos países, esse problema tem sido superado aplicando-se uma
película cerosa sobre o fruto. Atualmente, existem no mercado formulações
de cera de carnaúba e de polietileno em solução alcalina. O produto
édiluído em água e aplicado aos frutos por submersão ou pulverização. A
camada de cera deve ser fma para não bloquear totalmente as trocas gasosas
do fruto com o ambiente, o que causa acúmulo excessivo de gás carbônico
e redução de oxigênio na polpa e conseqüente fermentação e danos pelo
C02. Tais danos caracterizam-se por descoloração e manchas na casca
semelhantes a escaldadura, escurecimento da polpa e maturação irregular,
utilizam-se concentrações que variam de 1 a 20%, isto é, quanto maior o
teor de sólidos menor a concentração de cera a ser aplicada na manga.
Além de reduzir a perda de água e conseqüente murcha e enrugamento, a
cera após a secagem e polimento confere a manga um melhor aspecto,
tomando-se mais atrativa para o consumidor.
37Na comercialização da manga, a qualidade é fundamental. Assim, os frutos
com até 500g, casca colorida e brilhante, sem manchas, polpa firme,
oriundos
de
pomares
bem
conduzidos,
colhidos
cuidadosamente,
beneficiados e acondicionados em embalagens apropriadas, têm a
preferência do consumidor e alcançam maior cotação no mercado,
principalmente o internacional. Para este mercado, deve-se ter o cuidado de
não se interromper a refrigeração das mangas, as quais devem ser
transportadas em caminhões frigoríficos com a mesma temperatura da
câmara da propriedade e do navio, ou seja em tomo de 12,5 "C. No porto,
até que seja embarcada, a carga deve ser transferida dos caminhões para
câmaras com essa mesma temperatura.
Como todo fruto tropical, a manga é altamente sensível a danos causados
pelo frio, mesmo a baixas temperaturas acima do ponto de congelamento, o
qual para tecidos vegetais é ligeiramente negativo. A faixa de segurança
para mangas é de 10 a 13°C. Temperaturas inferiores causam manchas na
.casca e impedem a maturação normal do fruto .após remoção da câmara
frigorífica,
Quando adequadamente produzidos, colhidos no grau de maturidade ideal e armazenados a temperaturas na faixa de segurança e sob umidade relativa
de 85 a 900/0,pode-se conseguir até 45 dias de boa conservação.
Em determinadas situações, é necessário acelerar o processo de maturação da manga, visando a comercialização e consumo imediatos. Isto pode ser conseguido utilizando-se etileno, acetileno, ethephon ou carbureto. 38
o
etileno em concentrações variando de 10 a 100 ppm e o acetileno a 1.000 ppm, são aplicados aos frutos em câmaras de maturação com 22 a25°C e umidade relativa de 85 a 90%. Após 24 a 48 horas da aplicação,' os
gases são removidos renovando-se o ar da câmara. O tempo de exposição pode ser reduzido, aumentando-se a concentração dos gases.
A indução da maturação com etileno é afetada pelo grau de maturidade na colheita, de modo que mangas com menor grau levam mais tempo para
amadurecer.
Quando as mangas são colhidas com maturidade adequada, a antecipação da maturação não afeta a qualidade da manga, a julgar pela cor, teor de sólidos solúveis e acidez titulável, os quais são semelhantes nos frutos induzidos ou não com o etileno.
Quando não se dispõe de câmaras de maturação com etileno ou acetileno, pode-se optar pelo uso de carbureto (2 g/kg de fruto) ou ethephon (400 a 2.000 ppm). O tempo para maturação das mangas com cada um dos produtos acima pode ser visto na Tabela 4.
Ao [mal de cada estação de produção, os galpões de beneficiamento,
câmaras frigorificas, tanques de tratamento, esteiras rolantes, calibradores,
caixas de colheita, carretas e outros, devem ser rigorosamente lavados e, se
necessário, esterilizados, para minimizar riscos de perdas na safra seguinte.
As paredes e o piso dos galpões e câmaras devem ser lavados com
detergente e, se possível, fumigados com gás formaldeído. As caixas e
equipamentos devem ser bem lavados e esterilizados com vapor d' água ou
fungicida antes de serem reutilizados.
Todos os equipamentos utilizados na manipulação das mangas devem ser
rotineira e criteriosamente inspecionados para prevenir o desenvolvimento
de fungos, principalmente naqueles pontos capazes de causar lesões nos
frutos, retendo material vegetal que serve de substrato para esses
. .
rmcrorgamsmos.
Tabela 4 - Tempo para maturação de mangas com tratamento
TRATAMENTO
DIAS
Carbureto
(2g1kgde fruto)
3,8
Ethephon (400
ppm)5,0
Ethephon (800 ppm)
3,8
Testemunha
8,0
A Figura 1 mostra de maneira resumida, todas as etapas envolvidas no pós-colheita da manga.
Figura 1 - Pós-colheita da manga
J
Seleção e descarte da manga
J
Classificação e uniformidade
J
Embalagem e empacotamento
I
/
Conservação, frigorificação, marca
I
<.
Mercado interno
Feiras e quitandas Hotéis
Supermercados Bares e restaurantes Mercados municipais
.• .
2.3. UTILIZAÇÃO DA MANGA
No mercado interno, a comercialização da manga está concentrada na
forma do fruto
in natura,
e o suprimento desse mercado através da
produção de variedades exportáveis vem crescendo. Mas além do consumo
da fruta fresca, o beneficiamento industrial é também importante para
obtenção, por exemplo, de sucos e polpas. No entanto, não há muito
enfoque no cultivo de variedades mais propícias para a industrialização, as
quais permitiriam a absorção do excesso de produção no pico da safra, além
de possibilitar o consumo do produto industrializado na época em que a
fruta não está disponível.
Os produtos industrializados mais promissores de manga são a manga em
calda e a polpa de manga. A polpa pode ser utilizada na elaboração de
polpas concentradas, doces, geléias, sucos e néctares, além de poder ser
adicionada a sorvetes, misturas de suco, licores e outros produtos.
Outros produtos que podem ser obtidos da manga são "chutney", manga
desidratada, manga cristalizada e picles de manga. Ela também pode ser
adicionada na salada de frutas tropicais, e sua casca e caroço podem ser
utilizados na elaboração de rações animais.
3939 BLISKA, Flávia M. de Mello. Mercado interno de manga. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et ai.
3. A MANGA NO MERCADO INTERNACIONAL
3.1. PRODUÇÃO DE MANGA NO MUNDO
A produção mundial de manga é de aproximadamente 18 milhões de
toneladas/ano conforme mostra a Tabela 5.
Tabela 5 - Produção de frutas no mundo (1996)
Frutas
Produção (toneladas)
Laranja 57.800.000
Uva 57.200.000
Banana 51.400.000
Maçã 42.100.000
Manga 17.900.000
Abacaxi 11.700.000
Tangerina 9.600.000
Mamão 5.800.000
Fonte: FRUTAS pressionam a balança comercial.Folha de São Paulo, São Paulo, 25 agosto 1997, Caderno de Negócios, p. 4.
Atualmente, a Ásia é o principal continente produtor de manga. Já os cinco principais países produtores no mundo são Índia, África, México, Brasil e
Gráfico 1 - Participação dos principais países produtores de manga (1997)
Brasil
Paquistão 4,5%
Outros 9,5%
México
7,0%
63,0% .11,0%
Fonte: FAOSTAT Database Results, 1998. End. Eletrônico: http://apps.fao.org/lim500/nph-wrap. pl?Production. Crops. Prirnary&Domain=SUA.
3.2. PRINCIPAIS IMPORTADORES DE MANGA
3.2.1. EUROPA
• EC European Community
DI EFTA European Free Trade Association
• Ralifiealion or non-ralifiealion 01 lhe Maaslriehl Treaty will alleel Ihese groupings.
EIUECHTENSTEIN
Fonte: Statesman Yearbook, 1993; The World Factbook, 1992. In: CZINKOTA, Michael R., RONKAINEN, Ilkka A. Intemational Marketing. 4. ed. Orlando: The Dryden Press, 1995, p. 195.
Segundo Medina, o consumo de manga na Europa foi iniciado pelas
minorias asiáticas e latinas residentes nos países europeus, mas atualmente
o
consumo
tem-se
estendido
amplamente
por
diversos
estratos
populacionais.
40o
crescimento no consumo de manga nos últimos anos tem sido constante,
numa taxa de mais de 10% ao ano. Os maiores consumidores são
Alemanha, Reino Unido e França.
Podem-se diferenciar 2 períodos nas importações de manga da Europa."
Período do verão: de abril a agosto. Registra o maior consumo de frutas em
geral. Também nesse período se registra a maior oferta do produto devido a grande quantidade de países do hemisfério norte produzindo manga simultaneamente.
o
preço no mercado europeu cai sensivelmente (US$ 5-8,OO/cx.) e embora o Brasil possa produzir manga durante o período mencionado, não é uma alternativa interessante para o exportador.Período do inverno: de setembro a março. O consumo de frutas é menor
pelas condições climáticas na Europa. A oferta de manga nesse período é escassa. A temporada no mercado europeu pode iniciar com preços de US$ IO-12,OO/caixas 4kg.
A manga, se comparada com frutas de clima temperado, é de conservação muito limitada o que acaba favorecendo os produtores brasileiros durante os
meses de setembro e outubro, dada a impossibilidade de estocar a grande produção de junho e julho do hemisfério norte.
o
mês de setembro é interessante para os exportadores brasileiros, porém as regiões brasileiras não oferecem o produto em quantidade. Existem diversos problemas técnicos que impedem a produção massiva em setembro, osquais podem ser resolvidos com uma pesquisa adequada, para atender um mercado com grande potencial.
De outro lado, o mercado interno brasileiro ainda está aquecido em
setembro, sendo atrativo par~ os produtores. Em outubro e novembro,
apenas o Vale do São Francisco oferece a fruta.
Em dezembro há um aumento na oferta, com a entrada de países como o
Peru, Equador, eventualmente África do Sul e outras regiões brasileiras,
como São Paulo e Rio Grande do Norte. Simultaneamente há uma retração
motivada pelas festas de fnn-de-ano. Os preços no mercado europeu se
tomam poucos atrativos nesse período (US$
5-6,OO/CX).42Janeiro, fevereiro e março apresentam novamente um certo interesse para o
exportador brasileiro.
No período setembro-novembro, a competência de outros países é mínima;
o resultado das exportações brasileiras nesse período depende do trabalho
de cada exportador e da capacidade de coordenação dos mesmos nos envios
de frutas a Europa.
A disponibilidade de manga no mercado europeu pode ser observada de
Tabela 6 - Disponibilidade de manga no mercado europeu
País Variedades J F M A M J J A S O N D
Brasil (NE) tomrny M M M
Brasil (Mossoró) tomrny M M
África do Sul tomrny/kent M M M M
Peru haden/kent M M M
Costa Rica kent m m m m
Porto Rico kent m m m m
México tommy/kent M M M M
Equador kent m m
Venezuela haden-air m m m
Israel tomrny M M M
kent M M
keitt M M M
Costa do Marfim arnellalkent M M M
Mali e Burkina kent m m m
m - países com volumes menores M - países com volumes maíores
Fonte: AGRIANUAL-98, São Paulo, 1997, p. 276
Segundo Medina, existe um envio desorganizado de mangas a Europa, com
forte concentração das remessas em algumas semanas. São muitos
exportadores independentes e sem coordenação, abordando os mesmos
importadores na Europa, além de outros problemas como cuidados na
colheita, controle de doenças e pragas, uso de defensivos, cuidados
pós-colheita, embalagem, transporte, etc., que acabam afetando a qualidade do
produto. O resultado é a queda dos preços internacionais para níveis incompatíveis com os custos da produção nacional.
Visando solucionar uma parte deste problema, a Valexport criou um pool
de fretes marítimos, com a principal meta de organizar os volumes a serem
exportados em navios, a consolidação da carga, a defmição do porto de
embarque e desembarque, a contratação dos armadores e eleição dos
equipamentos adequados, assim como a contratação dos operadores portuários e frigoríficos de retroporto.
A redução de fretes com opool é significativa, pela otimização operacional e ganhos na negociação de volumes. Os custos da organização são cobertos
por uma taxa de 1% sobre o frete negociado, de acordo com a entrevista realizada na Valexport.
A embalagem mais utilizada na Europa é de 30 x 40 x 11 em que se adapta
perfeitamente ao Europallet (80 x 100 em). Esta caixa comporta 4,5-5,0 kg. Os exportadores de contraestação (Nordeste brasileiro também) têm utilizado caixas de 30 x 35 x 11 que também se adaptam ao Europallet (100 x 120 em), com 4 kg de fruta."
A Europa reconhece 03 qualidades para manga: EXTRA, CLASSE I e
CLASSE lI. Cada qualidade dividida em 3 categorias, determinadas pelo
peso. A categoria EXTRA está defmida por frutas sem dano, firme,
aparência fresca, sem doenças nem pragas, limpa. Deve estar livre de látex,
escoriações e danos por baixa temperatura e deve estar no ponto de
maturação adequado. A tolerância da categoria EXTRA é 5% (podem
apresentar características da CLASSE I). Para a CLA~SE I e CLASSE II a
tolerância é de 10
%.44As variedades mais importantes de manga para a Europa são Haden,
Tommy Atkins, Keitt e Kent.
o
transporte da manga para a Europa era feito inicialmente via aérea, com a
idéia de que a fruta não suportaria o transporte marítimo. Atualmente, com
a melhor determinação do ponto de colheita, o controle de doenças e a
melhoria nos tratamentos de pós-colheita, o transporte marítimo apresenta
grandes vantagens.
o
transporte aéreo ainda é utilizado em início de temporada ou para cargas
especiais, onde os preços compensam o custo adicional. Os portos que
recebem mais mangas na Europa são Rotterdam, Hamburgo, Tilbury, Le
Havre, Antuérpia.
A distribuição comercial na Comunidade Européia vem sofrendo uma
significativa reestruturação, influenciada pela integração horizontal de
varejistas e distribuidores europeus, assim como pela integração vertical em vários níveis.
As principais tendências na comercialização e distribuição de manga na Europa são as seguintes45:
• alto nível de concentração de pontos de venda;
• aumento significativo da participação de supermercados e hipermercados na distribuição varejista (na França, por exemplo, 50% do total);
• predomínio das formas de distribuição associativas;
• importância do fator regional como elemento diferenciador (certificado de origem);
• tendência a internacionalização mediante alianças comerciais;
• tendência a otimização da logística.
Nos últimos anos, a quantidade de lojas de varejo individuais diminui e
aumentou a quantidade de supermercados, hipermercados e todo tipo de organizações múltiplas (cadeias de comércio de apenas um dono que possuem mais de uma sucursal) e afiliadas (grupos de comerciantes independentes que compram a mercadoria com atacadistas em comum através de um mesmo sistema de operação). As organizações múltiplas e afiliadas realizam a maior parte de vendas de alimentos da Europa.
Quanto
à
estrutura atacadista do comércio, os importadores e distribuidores
atacadistas
atuam como agentes e intermediários,
unindo a oferta à
demanda.
J3.2.2. ESTADOS UNIDOS
•
Fonte: Atlas Geográfico Mundial, 1. ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 1994, p. 81.
o
interesse pela manga nos Estados Unidos é bastante antigo, embora com
características
regionais.
O estado da Flórida tem sido decisivo na
Na Califórnia e estados próximos ao México, foram as populações de
origem asiática e mexicana que iniciaram o consumo de manga. Nos
estados do centro e norte, o conhecimento da fruta é muito pequeno e sua
penetração é lenta. Existe um grande potencial e o consumo seria muito
estimulado através de campanhas promocionais, para que a população
conhecesse a fruta.
Os Estados Unidos consomem anualmente mais de 100.000 tonode manga.
Os estados com maior consumo são Califórnia, Florida e Texas. Há uma
certa preferência por frutas médias e pequenas. Embora a preferência
dependa muito de cada estado e região, as variedades preferidas são:
Tommy Atkins, Haden, Kent.
Os Estados Unidos são abastecidos basicamente pelo México, país que
desenvolveu uma grande indústria baseada nas exportações de manga.
Também há importações de Porto Rico, países centro-americanos e
Venezuela.
Podem-se diferenciar 2 períodos nas importações de manga dos Estados
Unidos":
Período de verão: há uma oferta massiva de manga do México, transportada
por caminhão frigorífico. O nível de preço chega a ser muito baixo (US$
4-5,00/caixa) mas ainda compatível com os custos do México, que são
46 MEDINA, Voltaire Díaz. Mercado de exportação de manga para Europa, América do Norte e países
baixos. Existe forte fiscalização quarentenária pelo USDA 47 no México
devido a alta infestação de mosca-da- fruta.48
Período de inverno: o México e a Venezuela exportam até agosto.
Excepcionalmente até setembro, com a manga Keitt e Kent;: de baixa
qualidade. Setembro, outubro e metade de novembro são épocas que podem ser exploradas pelo Brasil. A temporada inicia-se com um curto período de
preços altos em setembro (US$ 12-13,OO/caixa), caindo até novembro.
Em novembro, Peru e Equador iniciam seus envios para os Estados Unidos, porém enfrentam problemas de produção e de qualidade, forçando uma
queda sensível dos preços (US$ 5-6,OO/caixa). Em dezembro ocorrem
dificuldades de comercialização similares às descritas para Europa.
Na Tabela 7, pode-se observar a época de fornecimento de manga aos Estados Unidos de maneira mais genérica.
Tabela 7 - Disponibilidade de manga no mercado americano
Brasil (NE)
País J F M A M J J A S
Brasil São Paulo Peru Costa Rica Porto Rico
México Venezuela Guatemala
Legenda:
Fonte: MEDINA, Voltaire Díaz. Mercado de exportação de manga para Europa, América do Norte e países asiáticos. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et alo Manga: Tecnologia de Produção e Mercado.
Vitória da Conquista: Uesb, 1996, p. 262.
A exportação de manga para os Estados Unidos só é possível cumprindo o tratamento quarentenário determinado pelo APHIS49 -USDA, que é o tratamento hidrotérmico. O tratamento hidrotérmico é um banho em água a 116,0
°P
(aproximadamente 47°C) durante 75 minutos para frutas até 425g e de 90 minutos para frutas com até 650g.5048Uma das principais pragas dos pomares de manga orientados para exportação, podendo causar sérios danos à cultura.
49APIDS: Animal and Plant Health Inspection Service
Os pomares devem ser registrados no MAARAlSDA51 e seguir o programa
de monitoramento e controle da mosca-da- fruta. Dos defensivos com uso permitido no Brasil para manga, apenas são tolerados resíduos do Benomyl
(3.000 ppm) e Parathion (1.000 ppm).
A empresa que pretende exportar mangas para os Estados Unidos deve ter
seu
packing house
e pomares credenciados e vistoriados pelo USDA(APHIS) / MAARA (SDA), e ser inspecionado integralmente por um
inspetor do USDAI APlllS durante o período de exportação.
Segundo Medina, a embalagem deve ser extremamente resistente e atrativa,
devendo suportar o transporte e alta umidade relativa do frio. A fruta deve
obrigatoriamente ser pré-resfriada em túneis com alta umidade relativa e elevada pressão.52
O acesso ao mercado dos Estados Unidos passa pelos diferentes agentes de
comercialização e distribuição, já que eles abastecem os grandes compradores, tais como as cadeias de supermercados, grandes instituições, restaurantes, etc.
Desta forma existem importadores,
brokers",
atacadistas, varejistas, recebedores e compradores diretos. A Figura 2 traz de maneira esquemática como operam tais agentes.51MAARA: Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária do Brasil / SDA: Secretaria de
Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária.
52 MEDINA, Voltaire Díaz. Mercado de exportação de manga para Europa, América do Norte e países asiáticos. In: SÃO JOSÉ, Abel Rebouças et al.Manga: Tecnologia de Produção e Mercado. Vitória da Conquista: Uesb, 1996, p. 259.
Figura 2 - Distribuição de frutas nos EUA
Recebedor Frutas importadas R, _L ..I
Distribuidores de t-- Atacadistas
serviços de alimentos Brokers
.---
Lojas deComestíveis
Serviços de
--
VarejistasAlimentação
Consumidores
Fonte: CARRARO, Antônio F; CUNHA, Marcelo M. da. Manual de Exportação de Frutas. MAARA-SDR-FRUPEX, Brasillia, 1994,p.52.
Segundo Carraro, os agentes envolvidos na comercialização e distribuição de manga nos Estados Unidos podem ser descritos como.'"
Recebedor: é um intermediário entre o exportador e o primeiro comprador; durante todo o ano recebe frutas e hortaliças importadas em consignação. Nas liquidações, os recebedores indicam, além do preço de venda, sua comissão (8 a
100/0)
e os gastos que se originaram nos serviços mencionados. O preço de venda surge das negociações realizadas entre orecebedor e o comprador norte-americano. A maioria das cadeias de
supermercados compra através deste tipo de agente, mesmo que algumas
comprem através de
brokers.Brokers:
são agentes de venda independentes, cobrando comissões pelas
vendas realizadas. Nos Estados Unidos existem .aproximadamente 1.700
brokers
de alimentos, no entanto o seu papel neste mercado vem perdendo
importância.
Distribuidores/Atacadistas:
estes agentes, além de comercializar produtos,
encarregam-se de processá-los. Abastecem o mercado varejista
e
diferenciam-se pela composição da cesta de produtos que oferecem. Os
distribuidores de maior porte oferecem entre 30 e 35 produtos diferentes
enquanto os menores oferecem entre 10 e 15 produtos. Atualmente, o
distribuidor de grande porte conta com transporte próprio para realizar
entregas imediatas, motivo pelo qual abastece os grandes compradores.
Os distribuidores abastecem os serviços de alimentação, sejam comerciais
(restaurantes,
cafeterias,
alojamentos,
comércios
varejistas)
ou
institucionais (escolas, hospitais. etc.).
Comerciantes/Atacadistas:
estes agentes compram e vendem frutas por
preços menores nos mercados atacadistas e realizam a distribuição entre
seus clientes. O setor varejista recorre a estes mercados para seu
abastecimento, comprando pouco em volume, mas freqüentemente.
Estes agentes vêm diminuindo sua participação no mercado, devido ao
aumento das compras através de distribuidores, os quais oferecem serviços
dos supermercados nas vendas de produtos hortifrutícolas, os qUaIS se
abastecem de forma direta.
Supermercados
e Cadeias
de Lojas:
as organizações integradas
horizontalmente, conhecidas como cadeias comerciais, monopolizam 60%
do mercado de compras norte-americano. As cadeias mais importantes se
abastecem diretamente com os distribuidores, enquanto que as menores
continuam utilizando os serviços dos mercados atacadistas.
Serviços de alimentação: este segmento do mercado, conhecido também
como mercado institucional, é constituído por restaurantes, companhias
aéreas, escolas, hospitais e órgãos públicos. Devido aos diferentes volumes
de vendas e a variedade do menu que oferecem, se abastecem a partir dos
distribuidores, os quais além de produtos frescos, fornecem também
produtos semi-processados e processados.
3.2.3. JAPÃO