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Avaliação da função pulmonar na obesidade graus I e II.

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Academic year: 2017

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Avaliação da função pulmonar na obesidade graus I e II*

Evaluatio n o f Pulm o nary Functio n in Class I and II Obe sity

ZIED RASSLAN, ROBERTO SAAD JUNIOR(TE SBPT), ROBERTO STIRBULOV(TE SBPT),

RENATO MORAES ALVES FABBRI, CARLOS ALBERTO DA CONCEIÇÃO LIMA

* Trabalho realizado n o Depart am en t o de Clín ica Médica da Facu ldade de Ciên cias Médicas da San t a Casa de São Pau lo

En d ereço p a ra co rresp o n d ên cia : Ru a Sílvia , 3 01 Ap t o . 2 2 Bela Vist a - Sã o Pa u lo SP. Tel: 5 5 - 11 - 2 8 9 4 4 6 5 Fa x: 5 5 - 11 - 3 2 2 6 7 3 0 0 . E- m a il: zied ra ssla n @ u o l.co m .b r

Receb id o p a ra p u b lica çã o , em 8 / 1 0 / 0 3 . Ap ro va d o , a p ó s revisã o em 1 2 / 5 / 0 4 . Introdução: A obesidade pode afetar o tórax, diafragma e m ú scu lo s ab d o m in ais, d et erm in an d o alt eraçõ es n a função respiratória.

Objetivo: Avaliar os efeitos da obesidade e correlacionar o índice de massa corporal (IMC) e a circunferência abdominal com os valores espirométricos em individuos obesos.

Método: Foram estudados 48 indivíduos não obesos e 48 indivíduos com obesidade graus I e II, não fumantes, ambos os sexos, idade variando entre 18 e 75 anos, IMC entre 30 e 40kg/ m2 e ausência de história progressa de morbidade. Foram realizadas espirometria e medidas da circunferência abdominal.

Resultados: Não houve diferenças significativas quando se comparou valores espirométricos de homens com obesidade graus I e II com de não obesos. Nas mulheres obesas, a capacidade vital forçada e o volume expirado forçado no primeiro segundo foram significativamente menores que nas não obesas. Homens e mulheres obesos apresentaram volumes de reserva expiratório significativamente menores que não obesos. Embora a capacidade inspiratória tenha sido maior em homens e mulheres obesos, esse aumento foi significativo apenas em homens. Em homens obesos houve correlação negativa e significativa entre o IMC e circunferência abdominal e o volume de reserva expiratório, e também correlação negativa e significativa entre a circunferência abdominal e o volume expirado forçado no primeiro segundo, o que não ocorreu entre as mulheres.

Conclusão: Mulheres com obesidade graus I e II apresentaram alterações na função pulmonar. Esta não é influenciada pelo IMC em homens obesos. No entanto, observou-se que eles apresentaram correlação negativa e significativa entre o IMC e o volume de reserva expiratório. A função pulmonar é influenciada pelos valores da circunferência abdominal em homens com obesidade graus I e II.

Backg round: Obesit y can effect t he t horax, diphragm an d ab d o m in al m u scles, t h ereb y resu lt in g in alt ered respiratory function.

Objective: To evaluate the effects of obesity and to determine whether body mass index (BMI) and waist circumference correlate with spirometry values in obese individuals.

Method: We studied 96 non-smokers of both sexes, 48 suffering from class I and class II obesity and ranging in age rom 18 to 75. All participants presented a BMI between 30 kg/m2 and 40 kg/m2 and none had a history of morbidity. Spirometry was performed, and waist circumferences were measured.

Results: No sign ifican t differen ces were fou n d bet ween t he spiromet ric valu es of men wit h class I or II obesit y an d t hose of n on - obese men . In obese women , forced vit a l ca p a cit y a n d fo rced exp ira t o ry vo lu m e in o n e secon d (FEV1) were sign ifican t ly lower t han in women who were n ot obese. Obese in dividu als of bot h sexes presen t ed sign ifican t ly lower expirat ory reserve volu me (ERV) t h a n d id n o n - o b e se in d ivid u a ls. Alt h o u g h in sp ira t o ry ca p a cit y wa s g rea t er in o b ese m en a n d women , t he differen ce was sign ifican t on ly for t he men . In o b e s e m e n , t h e r e w a s a s ig n if ic a n t n e g a t ive co rrela t io n , n o t seen in t h e wo m en , b et ween wa ist circu mferen ce an d FEV1.

Co nclusio n: Pu lm o n ary fu n ct io n is alt ered in wo m en su fferin g fro m cla ss I and II o b esit y. In o b ese m en , a lt h o u g h p u lm o n a ry fu n ct io n is u n a ffect ed b y BMI, we o b served a sig n ifican t n eg at ive co rrelat io n b et ween BMI a n d ERV. We c a n c o n c lu d e t h a t p u lm o n a ry fu n ct io n is in flu en ced b y waist circu m feren ce in m en su fferin g fro m class I and II o b esit y.

Key words: Respiratory function tests. Spirometry. Body mass index. Obesity.

J Bras Pneumol 2004; 30(6) 508-14

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INTRODUÇÃO

A obesidade pode afetar o tórax e o diafragma, det ermin an do alt erações n a fu n ção respirat ória mesmo quando os pulmões estão normais, devido a o a u m e n t o d o e s f o rç o re s p ira t ó rio e comprometimento do sistema de transporte dos gases(1- 6). A obesidade pode determinar também a

h ip ert o n ia d o s m ú scu lo s d o a b d o m e e a ssim comprometer a função respiratória dependente da a çã o d ia fra g m á t ica(7 ). Est u d o s rea liza d o s em

in d ivíd u o s o b e so s se m o u t ra s e n fe rm id a d e s sugeriram que a complacência pulmonar e da parede do tórax estavam diminuídas devido à deposição d e t ecid o ad ip o so n o t ó rax e ab d o m e, o q u e determina conseqüente aumento da retração elástica e redução da distensibilidade das estruturas extra-pulmonares(1,8). A obesidade pode ser classificada

utilizando- se o índice de massa corporal (IMC)(9),

o b t id o p e la e q u a ç ã o p e so / e st a t u ra2 . Fo r a m

con siderados os in t ervalos de 30 a 34,9, 35 a 39,9 e > 40kg/ m 2 com o obesidade grau I, II e III, respectivamente.

Está bem estabelecido que a obesidade grau III pode alterar os valores espirométricos devido ao compromet imen t o da din âmica diafragmát ica e t a m b ém d a m u scu la t u ra d a p a red e t o rá cica . Entretanto, em indivíduos com obesidade graus I e II essas alterações são muito variáveis, e necessitam de avaliação específica(10). O objetivo deste trabalho

foi o de det ermin ar os efeit os da obesidade grau I e II n a fu n ção pu lmon ar.

MÉTODO

Foram est u dados 96 in divídu os adu lt os, de ambos os sexos, durante o período de 30 de janeiro a 30 de julho de 2001, divididos em quatro grupos: 24 homens com obesidade graus I e II; 24 homens não obesos; 24 mulheres com obesidade graus I e II; e 24 mulheres não obesas. A participação desses in divídu os ocorreu após a ciên cia dos mesmos q u a n t o a o o b je t ivo d o e s t u d o e c o m o consentimento prévio de todos os integrantes, de acordo com as normas éticas vigentes. Os protocolos fo ra m a p ro va d o s p ela Co m issã o d e Ét ica em Pesquisa da Santa Casa de São Paulo. Os protocolos continham nome, idade, sexo, raça, estatura, peso, registro geral na Santa Casa, data, aferição do IMC e da circunferência abdominal, questionário sobre antecedentes mórbidos e os valores espirométricos. Con sideran do os objetivos do estu do, foram

adotados como critérios de inclusão: homens e mulheres com obesidade graus I e II, não fumantes, com idade entre 18 e 57 anos, com IMC 30 e 40 Kg/m², sedentários, e sem antecedentes mórbidos conhecidos. Os critérios de exclusão adotados foram: história prévia de tabagismo, presença de diabete melito, sinusopatias, hipertensão arterial sistêmica, doen ças pu lmon ares, cardíacas, psiqu iát ricas e h em a t o ló g ica s, u so p révio d e m ed ica m en t o s (broncodilatadores e broncoconstritores), cirurgias realizadas nos últimos seis meses, presença de outras doenças sistêmicas e internações recentes. Os grupos controles foram constituídos por homens e mulheres com idade entre 20 e 54 anos, não obesos, não fumantes, com IMC de 18,5 a 24,9 Kg/m², sem antecedentes mórbidos conhecidos. A medida da circunferência abdominal foi feita no ponto médio entre o último arco costal e a crista ilíaca ântero-superior, utilizando–se uma fita métrica.

O peso corporal foi obtido retirando- se roupas pesadas e calçados, e a estatura foi obtida utilizando-se um antropômetro acoplado à balança. O IMC foi obtido através da equação peso/estatura².

As provas de função pulmonar foram realizadas no Laboratório de Provas de Função Pulmonar da Santa Casa de São Paulo, pela mesma equipe de assistentes. Utilizou-se um espirômetro Koko, dotado de pneumotacógrafo acoplado a um computador, fabricado em 1.998. Foram realizadas espirometrias no período matinal, com a determinação das curvas volume- tempo e fluxo- volume.

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com o n orm ais os valores predit os por Crapo et a l. , e m 1 9 8 2(1 0 ). A c u r va vo lu m e - t e m p o

det erm in ada pela espirom et ria foi realizada de a co rd o co m o s crit é rio s p re co n iz a d o s p e la American Thoracic Societ y (1987- 1995)(11), sen do

escolhida a m elhor de t rês cu rvas aceit áveis. A part ir dest a cu rva foram com pu t ados os valores d a ca p a cid a d e vit a l f o rça d a (CVF), vo lu m e expirado forçado n o prim eiro segu n do (VEF1), e flu xo expirat ório forçado en t re 25% e 75% da CVF (FEF2 5 - 7 5 %), o s q u a is f o ra m a n a lisa d o s segu n do os valores predit os por Kn u dson et al., em 1983(12). Os resu lt ados das provas de fu n ção

p u lm o n a r f o r a m a n a lis a d o s p e lo m e s m o p n eu m o lo g ist a . Os p a râ m et ro s esp iro m ét rico s (absolu t os e valores predit os) avaliados foram : CVF , VEF1, VEF1/ CVF, FEF 25- 75 %, volu m e de r e s e r va e x p ir a t ó r io (VRE), e c a p a c id a d e in spirat ória (CI).

Utilizou- se o pacote estatístico SPSS, na versão 1 0 . 0 p a r a o Win d o w s . Co n s t a t a n d o - s e a d ist rib u içã o n o rm a l d o s d a d o s, o s e st u d o s estatísticos paramétricos aplicados foram a Análise de Correlação de Pearson e o Test e t de St u den t n ão pareado. As variáveis foram expressas como valores médios e respectivos desvios padrão, sendo con siderado como sign ificat ivo p men or qu e 5%.

RESULTADOS

As faixas et árias e est at u ras dos in divídu os avaliados não apresentaram diferenças significativas nos diferentes grupos avaliados, o que caracteriza as amostras como homogêneas. Os pesos, IMC, e circunferências abdominais apresentaram diferenças significativas quando comparados os grupos de obesos e de não obesos (Tabelas 2 e 3).

Não houve diferenças significativas entre os grupos de homens normais e com obesidade graus I e II, quando foram comparados os valores espirométricos CVF, VEF1 e FEF25-75% (Tabela 2). Entretanto, o VRE foi significativamente menor nos homens e mulheres obesos, quando em comparação com os valores obtidos em homens e mulheres normais (Tabelas 2 e 3). A CI observada foi maior em homens e mulheres obesos, embora esse aumento tenha sido significativo apenas com relação aos homens (Tabelas 2 e 3).

Nas mu lheres obesas, os valores da CVF e do VEF1 foram significativamente menores que nas não obesas (Tabela 3).

Em homen s obesos, observou - se correlação negativa entre o IMC e o VRE e entre a circunferência abdomin al e o VRE. Também hou ve correlação negativa entre a circunferência abdominal e o VEF1 (Tabela 4). Essas correlações não foram significativas nas mulheres obesas (Tabela 5).

TABELA 1

Dados an t ropomét ricos, valores dos ín dices de massa corporal, circu n ferên cias abdomin ais e valores espiromét ricos obt idos em homen s com obesidade grau s I e II e em n ão obesos

VARIÁVEIS OBESOS NÃO OBESOS SIGNIFICÂNCIA

n 24 24

Idade (an os) 31,4 ± 10,5 29,5 ± 7,27 NS

Est at u ra (m) 1,78 ± 0,07 1,76 ± 0,07 NS

Peso (Kg) 106,5 ± 9,29 69,9 ± 8,11 < 0,05

IMC (Kg/ m2) 33,7 ± 2,55 22,3 ± 1,89 < 0,05

CA (cm) 114,3 ± 5,88 81,7 ± 5,23 < 0,05

CVF (L) 5,08 ± 0,59 5,14 ± 0,69 NS

VEF1 (L) 4,17 ± 0,50 4,39 ± 0,50 NS

VEF1/ CVF 99,6 ± 6,51 103 ± 4,54 NS

FEF25- 75 % (L/ s) 4,18 ± 1,30 4,83 ± 0,88 NS

VRE (L) 1,16 ± 0,44 1,90 ± 0,34 < 0,05

% VRE 69,4 ± 23,8 119 ± 21,9 < 0,05

CI (L) 3,99 ± 0,39 3,30 ± 0,64 < 0,05

% CI 110 ± 10 92,5 ± 14,1 < 0,05

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A obesidade graus I e II, no sexo masculino, não determinou alterações significativas. No entanto, nas mulheres obesas foram observadas reduções significativas na CVF e no VEF1 (Tabelas 1 e 2). Nas m u lh e re s, a lé m d a o b e sid a d e , o co rre m e n o r compressão dinâmica como resultado da menor força muscular(12, 13). A hiperventilação fisiológica

determinada pela ação da progesterona no centro respiratório bulbar, vias respiratórias e no diafragma, também pode explicar essas alterações(14).

A obesidade e a gravidez são causas comuns de CVF re d u z id a , p o rq u e p o d e m in t e rf e rir n a movimen t ação do diafragma e n a excu rsão da parede torácica(15). Sahebjami(16), em 1998, realizou

estudo da função pulmonar em oito homens obesos saudáveis e, embora neste grupo a faixa etária tenha sido maior e o IMC discretamente menor, os valores espirométricos encontrados foram semelhantes aos do presente estudo.

Embora as anormalidades na função pulmonar, associadas à obesidade, t en ham sido descrit as há mais de 40 an os, a magn it u de dessas alt erações a p resen t a g ra n d e va ria çã o e p o d e n ã o h a ver n ecessariamen t e associação com o peso corpóreo e o ín dice de massa corporal(17).

As a lt era çõ es n a fu n çã o resp ira t ó ria m a is freqü en t emen t e en con t radas n a obesidade são de dois t ipos: alt erações proporcion ais à obesidade (redu ção do VRE e au men t o da capacidade de difu são) e alterações exclu sivas da obesidade grau III (redu ção da capacidade vit al e da capacidade pulmonar total). A redução do VRE e da capacidade residu al fu n cion al n a obesidade são devidas a a lt era çõ es n a m ecâ n ica d a p a red e d o t ó ra x, dim in u ição da com placên cia respirat ória t ot al, dimin u ição da freqü ên cia de flu xo e do volu me pu lmon ar, e redu ção do volu me residu al e de su a relação com a capacidade pu lm on ar t ot al. No en t a n t o , essa red u çã o n ã o é u n ifo rm e en t re in divídu os com IMC semelhan t es(17- 23).

Outros autores, em 1993, também observaram que a redução do VRE era a alteração mais sensível nos testes de função pulmonar na obesidade e que esta redução era mais intensa com o aumento da obesidade (graus I, II e III)(24). Em nossa casuística também

observamos redução significativa do VRE em ambos sexos, com dados compatíveis com os da literatura.

Embora a restrição de volume seja moderada na o b esid a d e, a ca p a cid a d e vit a l é in versa m en t e proporcional ao IMC(25, 26). No presente trabalho, os

TABELA 2

Dados antropométricos, valores dos índices de massa corporal, circunferências abdominais e valores espirométricos obtidos em mulheres com obesidade g raus I e II e em não obesas

VARIÁVEIS OBESAS NÃO OBESAS SIGNIFICÂNCIA

Idade (an os) 33,5 ± 8,20 34,4 ± 8,16 NS

Est at u ra (m) 1,60 ± 0,05 1,61 ± 0,05 NS

Peso (Kg) 88,7 ± 8,85 57,3 ± 5,95 < 0,05*

IMC (Kg/ cm2) 34,3 ± 2,74 22,0 ± 1,66 < 0,05 *

CA (cm) 104 ± 7,40 74,3 ± 4,74 < 0,05 *

CVF(L) 3,36 ± 0,56 3,70 ± 0,52 < 0,05 *

VEF1(L) 2,89 ± 0,48 3,20 ± 0,39 < 0,05 *

VEF1/ CVF 100 ± 4,80 101 ± 6,11 NS

FEF 25- 75 % (L/ s) 3,47 ± 0,77 3,89 ± 0,91 NS

VRE (L) 0,71 ± 0,38 1,29 ± 0,36 < 0,05 *

% VRE 58,9 ± 29,3 107 ± 35,1 < 0,05 *

CI (L) 2,68 ± 0,51 2,44 ± 0,38 NS

% CI 122 ± 21 109 ± 16,2 < 0,05 *

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homens obesos também apresentaram correlação inversa entre a CVF e o IMC, porém sem significância estatística. Nas mulheres obesas a correlação entre o IMC e a CVF foi positiva e também não significativa (Tabelas 3 e 4). No entanto, em indivíduos não obesos, a capacidade vital é diretamente proporcional ao IMC. Conseqüentemente, em grandes populações a relação entre a capacidade vital e o IMC (ou peso corporal) demonstra aumento inicial e subseqüente queda devido ao fato de o IMC não considerar a distribuição de gordura no organismo(27). Em nossa casuística foi

detectada relação diretamente proporcional entre a CVF e o IMC em indivíduos não obesos (grupo controle), de ambos os sexos, o que vem ao encontro dos dados obtidos por Lazarus et al.(27).

Sahebjami(22), em 1998, observou porcentagem

dos valores preditos de VRE maior e porcentagem dos valores preditos de CI menor do que os achados em nosso trabalho. No trabalho de Sahebjami os pacientes apresentavam maior faixa etária e IMC menor, o que pode justificar os valores distintos. Estes dados vêm ao encontro dos dados apresentados na literatura, ou seja, embora a obesidade graus I e II possa alterar os valores espirométricos, somente a o b e sid a d e g ra u III d e t e rm in a im p o rt a n t e comprometimento na função pulmonar.

Em nosso trabalho, observamos que os valores da CI foram significativamente maiores em homens e mu lheres com obesidade grau s I e II qu an do comparados aos não obesos. Esses resultados também foram observados por Rayet al.(19), em 1983. Estes

autores observaram que na obesidade graus I e II, a capacidade vital e a capacidade pulmonar total e st a va m p re se rva d a s d e vid o a o a u m e n t o compensatório na CI. O aumento da CI demonstra complacên cia pu lmon ar n ormal e habilidade da musculatura inspiratória em compensar, pelo menos transitoriamente, a deposição adiposa na parede torácica e abdominal (Tabelas 2 e 3).

Nest e est u d o , n ã o o b serva m o s co rrela çã o significativa entre o IMC e os valores espirométricos CVF, VEF1, VEF1/ CVF, e FEF25- 75%, em ambos sexos. A correlação entre o IMC e o VRE, assim como a porcentagem dos valores preditos do VRE, foi negativa e significativa somente no sexo masculino, devido à maior deposição adiposa abdominal (Tabela 3).

No Brasil, os valores espirométricos derivados para adultos não se relacionaram com o peso(13). Em

crianças, embora a contribuição tenha sido pequena, h o u ve in f lu ê n cia sig n if ica t iva(2 8 ). O p e so ,

provavelmente por refletir o aumento da massa muscular, tem considerável influência nos valores funcionais da adolescência(28). Schoenberg et al., em

1978, Dontas et al., em 1984, e Chen et al., em 1993, demon straram qu e as elevações do IMC podem determinar redução na função pulmonar(29- 31).

Na s m u lh e re s a d e p o siçã o d e g o rd u ra é predomin an t emen t e gin ecóide (qu adris e coxas) e n q u a n t o q u e n o s h o m e n s e la s e d á predomin an t emen t e n o abdome. Est e predomín io d e d e p o s iç ã o g o r d u r o s a p o d e ju s t if ic a r a correlação n egat iva e sign ificat iva en t re o IMC e o VRE n os homen s com obesidade grau s I e II.

TABELA 3

Correlação entre o índice de massa corporal e circunferência abdominal, e os valores espirométricos

em homens com obesidade graus I e II

Par de variáveis sin al sign ificân cia

IMC X C positivo NS

IMC X Variáveis (1) negativo NS IMC X VRE negativo < 0,05 * IMC X % VRE negativo < 0,05 * CA X CI positivo NS

CA X Variáveis (2) n egat ivo NS CA X VRE n egat ivo < 0,05 * CA X VEF 1 n egat ivo < 0,05 *

IMC: ín d ice d e m a ssa co rp o ra l; VRE: vo lu m e d e reserva expirat ória; %VRE: valores predit os do volu m e de reserva exp ira t ó ria ; CA: circu n ferên cia a b d o m in a l; VEF1: vo lu m e expiratório forçado no primeiro segundo; Variáveis (1): CVF, VEF1, VEF1/CVF, FEF25- 75 %; Variáveis (2): CVF, VEF1/CVF, FEF

25-75 % , % VRE; NS: não significativo. Sinal negativo: quanto maior o IMC menor a variável avaliada. Significância p < 0,05

TABELA 4

Correlação en t re o ín dice de massa corporal e circu n ferên cia abdomin al, e os valores espiromét ricos

em mu lheres com obesidade grau s I e II

Par de variáveis sin al sign ificân cia IMC X Variáveis (1) negativo NS IMC X Variáveis (2) positivo NS CA X VRE e CI negativo NS CA X Variáveis (3) positivo NS

IMC: ín d ice d e m a ssa co rp o ra l; VRE: vo lu m e d e reserva expirat ória; CA: circu n ferên cia abdomin al; Variáveis (1): CVF, VEF1, VEF1/ CVF, FEF25- 75%; Variáveis (2): CVF, VEF1/ CVF, FEF

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Como conseqüência da obesidade, principalmente n o s caso s d e d ep o sição ad ip o sa ab d o m in al, a ven t ila çã o d a b a se d o s p u lm õ es é red u zid a , especialmente nos que apresentam menores valores de VRE(32).

Vá rio s est u d o s evid en cia ra m a lt era çõ es n a função pulmonar de indivíduos com obesidade grau III, porém, poucos foram realizados em obesos com men or IMC(29,31,33).

Schoenberg et al. (29), em 1978, observaram que,

inicialmente, ocorria aumento na função pulmonar com o ganho de peso, devido ao aumento na força muscular, porém, secundariamente, ocorria redução na função pulmonar devida ao comprometimento da mobilidade da caixa torácica. Embora vários estudos tenham demonstrado que o peso corporal pode afetar a função pulmonar, ainda questionam-se esquestionam-ses dados(29,31,34). Em in divídu os joven s, o

aumento do IMC pode estar associado a aumento na função pulmonar, devido ao efeito muscular, porém, nos idosos, o aumento do IMC está associado à d im in u içã o n a fu n çã o p u lm o n a r d e vid o à adiposidade. Conseqüentemente, o impacto total do IMC na função pulmonar em estudos populacionais p o d e est ar red u zid o(34). A m aio ria d o s au t o res

concorda que o peso não contribui para explicar as variáveis espirométricas ou só o faz em casos de obesidade acentuada, mas a inclusão ou não do peso pode depender das características de cada p o p u la ç ã o e s p e c í f ic a(2 9 ). Em n o s s o e s t u d o

observamos que o aumento do IMC não determinou comprometimento da função pulmonar em homens e mulheres com obesidade graus I e II.

O au men t o da circu n ferên cia abdomin al foi acompanhado de redução significativa nos valores do VEF1 e VRE em homen s obesos, o qu e pode ser exp licad o p ela m aio r m éd ia d a circu n ferên cia abdomin al n os homen s obesos (em média 10 cm maior do qu e n as mu lheres obesas). A correlação en t re a circu n ferên cia a b d o m in a l e a s o u t ra s va r iá ve is e s p ir o m é t r ic a s n ã o d e m o n s t r o u significância estatística em homens e mulheres com o b esid ad e g rau s I e II. Lean et al., em 1998, observaram qu e n a obesidade ocorria associação n egat iva en t re a circu n ferên cia abdomin al e a relação VEF1/ CVF(15). Em n osso t rabalho t ambém

o b se rva m o s co rre la çã o n e g a t iva , p o ré m n ã o significativa em homens obesos. Nas mulheres com obesidade grau s I e II foi observada correlação positiva e não significativa. A explicação para essa

a s s o c ia ç ã o n e g a t iva n ã o e s t á t o t a lm e n t e estabelecida, porém suspeita- se que o aumento da circu n fe rê n cia a b d o m in a l d e t e rm in e e fe it o s m ecâ n ico s n a fu n çã o p u lm o n a r, p a rcia lm en t e explicados pelo compromet imen t o do movimen t o do diafragma e da parede do t órax.

Em est u do realizado para avaliar os efeit os da com posição corpórea e dist ribu ição de gordu ra n a fu n ção ven tilatória, Lazaru s et al.(27) , em 1998,

observaram qu e a CVF est ava associada com a circu n ferên cia abdom in al de form a n egat iva em hom en s, e de form a posit iva em m u lheres. Em n osso est u do t ambém observamos est es achados, porém os resu lt ados n ão foram est at ist icam en t e sign ificat ivos.

Os efeitos isolados da obesidade não associada a o u t ra s d o e n ç a s d e ve m s e r c o n h e c id o s e est ra t ifica d o s p a ra a a va lia çã o d et a lh a d a d a s c o m p lic a ç õ e s d a o b e s id a d e n a d is f u n ç ã o respirat ória. Est e aspect o é de su ma import ân cia devido ao au men t o das prevalên cias da obesidade e doenças respiratórias na sociedade atual. Embora n ã o co n clu sivo s, o s a ch a d o s d e st e t ra b a lh o su gerem qu e in divídu os com obesidade grau s I e II podem apresen t ar maior su scept ibilidade para alterações funcionais respiratórias em situações de m a io r m o rb id a d e , d e vid o à m e n o r re s e rva exp irat ó ria. As an o rm alid ad es n a esp iro m et ria observada em in divídu os com obesidade grau s I e II devem ser at ribu ídas à presen ça de doen ça respirat ória associada à obesidade.

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