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De escola paroquial a escola pública: o significado da escola no desenvolvimento de Sananduva/RS

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(1)

.

DE ESCO]'.~ PAROQllIAL A ESCOLA POELICA: o slgnj.fjcaéo da escola no uescnvolv_~

mente ue S~~nanduV3/aS

(2)

-.

DE ESCOLA PAROQUIAL A ESCOLA PÚBLICA: o ' significado da escola no desenvolvl:,

mento de Sananduva/RS

Se lina Maria Da Z. Moro Neubarth

Dissertação submetida como requisito ~arcia1 para obtenção do gra u de Mes

tre em Educação.

Cândido Grzybowski é:--Orientador

Rio de Janeiro

Fundação GetGlio Vargas

Inst ituto de Estudos Avançados em Educação Dep artamen to de Filosofia da Educação

(3)

rlIl colono Zavo1'a ta terra

E mantiene ogni classe di gente

Lui lavora .. Z.ui Buda per nien te

Sem pre vive netz.a sua povl~etá . /I

(O colono trabalha a terra ~Iantém toda s as classes

Ele trabalha , ele sua em vao Sempre vive na pob re za" .)

:i.i i

(4)

A meus pais, Benigno e Lina, que construiram sua exi~tência

e família, calejando as mãos c a vida no árduo trabalho da

terra.

À memória de Ivo e Abilio, amores fraternos sempre presentes.

(5)

AGRADECIMENTOS

Este trabalho será sempre considerado meu

enge-nho . En:retanto, para que fosse realizado muitas mentes

pensaram comigo c coraçoes amigos viveram as emoções senti

das nesta construção. Corro o risco de esquecer a l guém .

Não posso, porém, deixar de nomear aqueles que, neste mo mento, consigo recordar.

Em primeiro l ugar, Cândido Grzybowski, meu orien

t ador. Neste tra b alho Cândido, não só me oriento u no sen tido de dominar as regras do trabalho intelectual. Mais que isto , fez - me sentir a experiência de que nada se con cretiza se o coração estjver a parte. Acima de tudo, cami

nhou ao meu lado como amigo. Conheci Lurdes, esposa, de

quem me tornei amiga e amei Luana e Jaciara, filhas .

Nos momentos de cansaço e insegurança José Ba. r os Motta.> a quem dedico carinho especial. me encorajou e apoiou. Não me faltou incentivo vibrante de Luiz

Guilher-me

Pessoa da Silva e o estímulo de Renato Zanolla.

Corno pedras preciosas colhi um a um os dados des ta h istória que me foram alcançados por mu itos. Nomeio, no vílio Costa, entusiasta pesquisador da imigração j t aliana no Rio Grande do Sul e incentivador desta pesquisa; Loreno Zambonin , Demétrio Dias de Moraes e Fidélis Dalcin Barbosa, historiadores regionais.

Em cada jnstitui ç ão onde se realjzou a pesquisa cada funcionãri0 colaborou dentro de suas possibilidades, sem contudo, por limites i sua dedicaçio . Os Colonos torna ram- se os principais colaboradores. Relataram-se as "es

r ias" da história de Sananduva fazendo de su as pa lavras um hino ao pa:ssado .

(6)

Houve, entretanto, pessoas que agiram de modo de cisivo para que eu pudesse realizar meu curso de mestrado e esta dissertação. Waldemar Menon e Osvaldo Pedro Camoz.-zato, re spectivamente, ex-prefeito e prefeito atual de Sa-nanduva. Darci Gelain, prefeito de São José do Ouro. Nil sa Agenta Moreira, Delegada da 22~ Delegacia de Educação da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul, Terezinha Rodrigue s Cadorin, Diretora do Orgão Municipal de Educação de Sananduva, Padre Ilírio Guauagnin, e Padre Carlos Stte-fens, Vigários de Sananduva e D. Henrique Gclain, Bispo da Diocese de Vacaria.

Nunca me negando apoio e amor meus pais, Lina e Benigno e meus irmãos lutaram e vibraram comigo.

Deixo o IESAE e o Rio de Janeiro. Levo ao Rio Grande do Sul as saudades dos amigos. Dr. Raymundo Moniz. de Aragão, Diretor do IESAE e todos os professores e cole-gas do curso. Convivi com Gaudêncio e Edite Frigotto e senti o carinho de Giovana e ~arissa. Vi nascer Alexandra .

Maria Stella Moraes e Clemente Viscaillo acoll\e-ram-me em sua casa e Lenira Bolsoni esteve ao meu lado, es pecialmente nas horas de ansiedade .

O toque final deste trabalho foi dado por Ercí-lia Lopes de Souza e Regina Heredia Daria. Ao revisar a lin.guagem e o aspecto técnico en.caixaram as peças, confe-rindo maior unidade ao trabalho. Como hábeis artesãs, Ma!, Iene Perei ra Ramos e Antonia Lemos dos San tos, da tilógra-fas tornaram possivel a apresentação desta dissertação.

Amigos, assumo este trabalho . Devo, porém, a to dos minha gratidão pelo apoio e incentivo recebido.

(7)

LISTA DE TABELAS

1 - Rede escolar da Colônia Sananduva mantida pelo poder municipal : 1905-30 .

2 - Evolução dos preços dos prin cipais produtos comprados pelos Colonos: 1926 e 1930.

3 - Evolução dos preços dos principais produtos

ven-pág .

101

In

didos pelos Colonos : 1926 - 1930 - 1931 118

4 - Principais culturas de Lagoa Vermelha : 1920-40 145

5 - Principais indústrias de Sananduva em 1955 154

6 - Situação do ensino oficial no Rio Grande do

Sul em 1937. 161

7 - Situação do ensino mantido pelo Estado na

re-gião de colonização italiana - 1937 . 161

8 - Escolas municipais criadas em Sananduva no pe-ríodo 1930-37.

9 - Distribuição da red e esco lar no Rio Grande do

16 2

Sul: 1937 a 1942. 175

10 - Despesas efetuadas com o Ensino Primário no es tado do Rio Grande do Sul: 1937-1942.

11 Rede escolar de Sananduva. na data da crnancipa -çao: J.955.

vii

1 82

(8)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

pág .

Casa típica dos imigrantes italianos . 14

- Trilhadeira de trigo. tração animal . " 53

Esco l a Municipal da Linha São Domingos regida pe

-l o prof . A16xio Provenzi. 57

Fachada e interior da Capela Santo Antônio da Li-nha Tigre. Sanandu\ra, modelo típico d as Capelas

da região de colonização italiana. 70

Vigário e Vigários Cooperadores ladeados pelos f~ briqueiros e outros membros da Diretoria da

Paró-quia . .

o

Vigário a caminho da Capela.

A cam inho da Paróquia para participar da Santa

73

85

Mi ssa . 97

Diploma de louvor conferido ã Cooperativa Uni ão Colonial Sananduvense de Produtos Suínos pelo lns

tituto Agrícola Brasileiro em 1936 em razao da

qualidade dos produtos. 135

Instalação da Cooperativa Sananduve nse de

produ-tos surnos. 136

Modernas instalações da Cooperativa Regional carnes e derivados.

- Varanda para condicionamen to de tr 19o.

viii

de

142

(9)

- Uma granj a de trigo.

- A serraria - indústria da madeira.

Um dia de exames na Escola Nunicipal da Linha São Paulo de ~1ão Curta, regida pelo prof . Benigno Dal ~1oro. Ano 1942.

1898: na clareira da floresta o inicio da Co16nia marcado pela religião.

1920: A mata cedeu 9 lu gar para o homem const ruir sua cidade.

- 1940: A Paróquia: o coraçao da Colônia. - 1950: Desenvolvimento e modernização.

- 19 70; A cidade de Sananduva.

1980: Sananduva : um município que se projeta cenário gaúcho.

ix

no

pâg.

150 152

1 56

221

221

222 222

223

(10)

LISTA DE ILUSTRAÇOES

MAPAS

pág.

Di visão poli tico-adminis tra tiva do Es tado do Rio

Grande do Sul - 1898. 18

Mapa do município de Lagoa Vermelha - 1915 . 32

- Planta da fazenda e posse São João do Forquilha . 33

Planta do núcleo ce n tral da Colônia Sananduva. 39

Colônias do Sananduva , Tigre e Boa Vista . 41

Mapa do municipio de Lag oa Vermelha - 1938 . 113

- Divisão político - administrativa do RS em 1955 . 149

(11)

L ISTA DE TABELAS

LISTA DE FOTOGRAFIAS

sU~IIiRIO

LISTA DE ILUSTRAÇOES - MAPAS

SINOPSE

SUM~IARY

INTRODU ÇÃO

PRIMEIRA PARTE: 1898 - 1926

Capítulo 1 - O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DE SANANDUVA

pâg .

vii

viii

x

xv

xvi

1

14

E DE INTEGRAÇÃO DOS COl.ONOS NO MERCADO lS

1.1 O contexto em que se insere a coloni-zação de Sananduva .

1 . 1.1 A crise da economia gaGcha c a colo

17

nização de Sananduva . 19

1 . 1.2 IIltercsscs politicos dos republica-nos em torno ao povoamento de Sanan

duva. 23

1.1 . 3 Interesses particulares embutidos no

negócio da coloni zação de Sananduva. 31

1.2 As bases da exist~ncia dos Colonos. 36

1.2.1 De terra "livre" a terra dos Colonos . 37

1.2.2 As estrat6gias dos Colonos. 45

Capi tu10 2 - A ESCOLA E A I'RI: SERVAÇliO DO PATRH10

-NIO RELIGIO SO-C UL rURAL DOS COLONOS. S 7

(12)

2 . 1 As virias intenções que determinaram a ge nese e a expansao da escola em Sanan duva .

2 . 2 A Religião Católica e Cultura entre os

pâg.

60

imigrantes italianos . 66

2.2 . 1 A CAPELA . Centro da vida social das

Co 15nias Italianas. 69

2 . 2 . 2 As práticas religiosas dos imigran

-tes italianos nas "Colônias Velhas" , 74

2.2 . 3 O Padre - leigo. 75

2.2 . 4 A escola nas "Colônias-Velhas" . 78

2.3 A Religião Católica e Escola em Sanan-duva .

2.3.1 A Igreja em Sananduva no período de

83

1900 a 1930. 87

2 . 3.2 As práticas religiosas nas "Colônias Velhas ",

2.3 . 3 A esco l a e a preservaçao da religio-sidade.

2.3.4 I rmãs de São José em Sananduva .

SEGUNDA PARTE : 1927 - 1955

Capítulo 3 - REESTRUTURAÇÃO ECONOmCA E AGUÇAMENTO DAS TENSOES SOCIAIS NA COLONIA SANANDU

96

100 108

VA. 113

3 . 1 1927/32: transjção e crise. 115

3.2 As lutas e as estratégias dos difere

n-tes agenn-tes sociais envolvidos. 122

(13)

pág. 3.2.1 O Síndica to da Banha: a reaçao dos

grandes comerciantes e industriais . 122

3.2.2 O Sindicato e os Colonos de

Sanandu-va. 1 27

,

3.2.3 Do Sindicato i Liga Colonial: a

rea-ção dos Colonos. 129

3.2.4 A trajetória da Cooperativa e a sui

-nocultura. 135

3.3 As novas alternativas do s Colonos e o processo de diferenciação social em Sa

n anduva .

3.3.1 A triticultura.

3.3.2 A extração da madeira, alternativa p~ Ta a expansão das lavoura5 e a mar

-142 143

cha dos Colonos para novas fronteiras. 151

Capi tu10 4 - A TRANSFOIU-IAÇÁO DA ESCOLA PAROQUIAL EM

ESCOLA POBLICA. 156

4.1 Estado c Escola.

4.4.1 Período de transição. 4.].2 política de educação.

4.1.3 A nacionali zaç io do ensino .

4.1.4 Sentido da Uorientação e controle" exercido pela Inspe to ria do Ensino

158

160

166

179

Municipal. 1 84

4.2 Igreja e Escola .

4 . 2.1 Objetivos da Ilic rar qui a cat6lica e a

luta para a conq ui sta de um espaço "legal" para D difusão da Dou tl"in<l

189

Cntó1ica. 190

(14)

pág.

4.2.2 Igreja e Escola em Sananduva. 198

4.3 A Escola na perspectiva dos Colonos. 204

4.3.1 Escolas: inicia ti va dos Colonos. 204

4 . 3.2 Escola: espaço para apropriação dos instrumentos para a defesa dos inte-resses dos pequenos produtores cató-licos-brasileiros.

4.4 De "Escola Paroquial" a "Escola

Públi-ca IO.

210

217

A SINTESE VISUAL DA HIST(lRIA DE SANANDUVA 220

CONCLUSJ\o 224

BIBLIOGRAFIA 226

ANEXOS 241

(15)

S I N O P S E

A escola, como institu l Ção social presente em S~ nanduva/RS, ê vista integrando-se no contexto sócio-econô mico de dois períodos históricos que se sucedem: 1898-1926 e 1927-55. O significado desta instituição, nesta região. durante o transcurso destes dOj5 períodos históricos tra-duz os interesses do Estado, Igreja e Colonos em torno

-

a

educação. O papel predominante de um ou de outro destes agentes na orientação do processo educacional levou a ins-tituição escolar a apresentar, sucessivamente significados diferentes. Nos primórdios do povoamento da região (1898-1927) colocada, especialmente a serviço da Igreja e dos Co lonas caracterizou-se como instrumento de preservaçao do patrimônio religioso-cultural destes Colonos. Ap5s trinta, tanto serviu ao Estado, quanto à Igreja e aos Colonos. Tor nau-se a escola de "todos". Passou, por esta razão a evi-denciar, de modo particular, o seu caráter de "e s cola

pú-blica".

(16)

SU~lMARY

The school, a social institution a150 present in Sananduva/RS. is analised in terms of it5 insertion in the social economical context of two historical periods: from 1898 to 1926 and from 1927 to 1955. The importanee of the

institution to tha t region,throghout those two historical

periods, envolves different educational interests: th05C

of the 5tate, th05e of the Catholic ChUTC h, plust the anes

defended by the settlers. The differcnt and aI ternate

roles played by the educational process during these hi5-torical pcriods have changed according to which af th05e three mentioned agents represented tho prevailing face at a givcn time. Firstly, at the beginning of the settlement proeess (1898-1927) the sehoo1 took the shape of the neee! si ties of the church and the settlers . It was seen as a useful instrument to the preservation of the settlers' rc-ligious and cultural traditions. In the thirties, though, it served the State. as well as the Church anã the Settlers . It bccame the schoo1 "for alI ". lt was now

caracterized as "S ta te school".

xvi

(17)

rNTRODuÇÃO

As questões relativas ao en sino no meio rura l fazem parte de minhas preocupações, de modo particular,de~

de que assLUni em 1978 o cargo de responsável pela educação da rede municipal de ensino de Sananduva. no Rio Grande do Sul . No exercício da função senti - me sensibilizada por duas ordens de questões: de um lado, os pequenos produto -res rurais-colonos} de Sananduva estabeleciam junto ao DE.

gao Municipal de Educação uma verdadeira luta no sentido da ampliação da rede de ensino e da expansão das s~ries

terminais do ensino de 19 grau; de outro, cu me defronta-va, como coordenadora do ensino municipal, com significa-tivos problemas de ordem técnico-pedagógico, especialmen-te evasão escolar, reprovação e desqualificação de profe~

sores. Problemas esses que se evidenciavam, especialmen-te no meio rural.

Creio que se torne interessante traçar o perfil dos trabalhadores rurais que buscav'am o Orgão Municipal de Ensino tendo como objetivo reivindicar a instala ção de c~ colas em suas comunidades rurais ou a expansão da s séries terminais do ensino de 19 grau.

Geralmente eram pe qu enos produtores Turais, des cendentes de imigrantes italianos que apenas sabiam ler c escrever e que sempre est iveram radicados no meio l"ura l de Sa nandu va . Tota lm ente dedicados ao trabalho agriccla, em regj me fami! iar, hav iam, en tret<J n to, abandonado os mé -todo s tttradicionais" de produção e adotado os implelJlcntos e as técnicas "modernas ". ~lantin ha m r elações com estahe-l ecimentos financeiros, cooperativas, cart61"ios etc. Rei-vindicavam escolas para seus filhos n~ o para ori.entá-los

(18)

2

para um mercado de trabalho assa l ariado, mas a fim de que pudessenl participar com mai s efici~ncia na defesa dos in-teresses da família . O depoimento que segue

ê

o que me -lhor expressa o se n tido de sua reivindicação.

"Hoj e em dia seria outro causo., porque eu

penso., ni! Hoje em dia n~o seria como

es-tes tempos atrás. A gente vai no banco .,

tem quase pouco dinheiro no bolso~ tem que

fazê um cheque. Que nem eu~ n~o sei fazê

cheque e tenho cheque -our o . Se eu mando

faze ali por alguém que é um "veiacofl

.,

po-de até n~o mudá a minha a88inatura~ mas mu

dá a quantia. Então eu quero que maus fi=

lhos ati a Ba. série que tenha . Depois se

se querem estudá mai8~ em ajudo até ollde

querem i . Atá a Ba . série sabe., pratica

-ment e ~ preenche um cheque e no banco ( ... J

Se vai o meu filho (eZe pede): - Opalá .' ta

p1"onto ' o meu contrato? Então dá cá que eu

quero lê ant e s de assiná porque assinatura

vale comprominso . Aqui com meus amigos v~

Ze a paZavra como compromisso . Mas tu vai

fora~ eZes te logra. A lealdade dos ita

-lianos morreu 112.

Não poucos daqueles que buscavam na PrefeItura alternativas para a educação dos seus filhos haviam sido meus amigos ou colegas de infânci a . DaJa a amizade manti da, enfatizavam a necessidade de se atender suas reivindi cações usando argumentos que se identificam com o depoi -menta que segue :

"Hoj e não é como no s tempos de criança. A

gen t e fa lava como sabia . Todos en tendia .

Quem não a creditava na palavra? A gente fa

lava dialeto e era respeitado . HOJ ' e ~ se

não sabe as pala vra s qua os eontT'ato$dizem~ a

gente $e arisca a assina um contrato que

dá até a .terra de graça . Não é d e dúvida

qu e algum dia algum contrato dê cadeia pa-ra um colono.,,3

2Entl'evist3 nQ 3 .4"

(19)

3

Enquanto ouvia os argumentos daqueles qllC vinhanl reivindicar escolas, geralmente em nome da comunidade, eu me remontava a meus tempos de estudante na Escola Munici -paI da Linha ·Mão-Curta. Eu era a filha do professor e lem bro da insistência dos pais em mandar seus filhos na escola para que se apropriassem dos saberes básicos do ler, escr~

ver e co'ntar, "necessários para fazer os negócios com 08

comerciantes. "Ii

No exercício da função de coordenadora do ensino, nao fugia de minha percepção o sentido espccífico da rei -vindicação dos Colonos. Embora não pudesse entendê-la nas suas múltiplas s ignifica ções e nem se constituisse o foco de minhas preocupações, percebia-a articulada às condições sociais vividas pelos Colonos e suas famílias . Neste sen-tido, além dos traços hi stór icos e culturais que revestiam a reivindica ção dos pequenos agricultores de Sananduva,não me passavam despercebidas as profundas transformações que ocorriam na agricultura e nas relações sociais.

Entretanto, se, de um lado, a reivindicação dos Colonos me sensibilizava, de outro, eu nao

da força

avançava política

no sen desta tido de entendê-la como expressão

classe de trabalhadores. Enquanto isso, minha luta, que era a luta comum das pessoas que exerciam suas funções no Ór -gao 1-1unicipal de Educação, era dirigida no sentido de ele-var o nível de ensino nas escolas da rede municipal, sanar problemas técnico-pedagógicos, expand ir novas séries , sem, contudo, ter prcsente que a configuração d e minhas práti -cus era dada, também, pela pressão vinda dos Colonos.

Passei a sentir mais necessidade de buscar solu-ções para a questão da educação para o nlcio rurnl quando fui convidada a trabalhar na fIDENE/IjuíRS _ junto a pro -fessores-rurais que faziam seus cursos universitirios em

(20)

4

~égime intensivo, nos períodos de f~rias de inverno e ve-rao. As questões formuladas por estes professores se iden tificavam com as minhas e transformaram o processo ensino-aprendi zagem numa significativa pesquisa de alternativas de solução para as questões levantadas. Diante deste quadro o curso de mestrado passou a ser visto, por mim, como um momento significativo para encontrar respostas às questões que vinha formulando e que, explicitamente, eram colocadas no sentido de encontrar soluções "pré - fabricadas" aos pro blemas pedag6gico-administrativos das escolas rurais.

Ao l ongo do curso meus questionamentos foram-se canalizando. Definia-se como centro de minha s preocupa-ções urna questão que, Jloje , considero fundanlcntal: a eduaa

ção é uma prática contraditória; sua configuração é dete~

minada pela disputa dos vários agentes nela interessadoD.

Neste sentido passei a entender que as contradições senti das em T.clação ã educação em Sananduva se tornariam com-preensíveis se inseridas no debate mais amplo que já se trava

va no s meios educacionais.

" A educação - afi TIDa Aída Bezerra - é um e lemen

-to conjuntural marcado pelo contex-to em que De desenvo7,

Ve. ,,5

" A educação no campo é detel~minada também pelas

propostas educacionais das clasces subalternas, em

espe-cial as pro postas qu e brotam no intel~ior dos segmentos mais

com~fl.t-ívos da classe trabalhador>a rura l" , postula Cândido Grzybm'lski. Além disso, acrescenta Grzybowski,

"C . . . )

ca-be 1.embl"'ar~ antes de mais nada~ a luta histór>iea dos traba

lhadol'es l"'ul~aiB por uma escolaridade m-ínima pal'a Deus fi

-lhos, entendida como garantia d e condições pal'a aprendeI' a

SBEZERRA. Aída . As atividades em educação popular . 111:

Rodrigues . org .. Á questão po7.:Ítica àa educação populCO".

Brasilicnsc, 1980,p. 25.

URJ\NIl~O

c.

(21)

5

ler, escrever e oon tal' . Esta íuta~ que nao e outra coisa

-

-que a luta peZa escola p~bliaa , universal e gratuita , mo!

tra como um direito bási~o, garantido por lei só se

efeti

va na medida da capacidade de ir.tel·venção politica da

classe trabalhadora."6

Disputada pelas diferentes classes sociais, a educação ela mesma uma arena particular no confrontoe!!.

tre as classes sociais.,,7 Neste sentido, a educação ~ c~ como um campo de disputa social. Para entendõ-la e neces sário encará-la tanto a partir da perspectiva das classes dominantes , manifestando-se mediante as propostas que rc~

lizam, como a partir dos interesses das classes subalter nas. "Supõe-se ter presente, portanto, o fato de que nas relações sociais capitalistas as relações entre os gT'UpOS

que as compõem não são algo abstrato ou estático e sim T'e

1.ações contraditórias que se manifestam numa luta papma

nente por impor interesses antagônicos .,,8

Embora a educação cumpra funções que atendem aos interesses das classes dominantes que detêm o poder, ela se delimita, também , pela s possibilidades de intervenção politica das classes trabalhadoras nos caminhos e desca minhos a que são submetidos pelo conjunto das estratégias engendradas em vista ao desenvolvimento do capital . Nes-te sentido a "qualificação (é) como uma faca de dois gu

-mes qu e " ao mesmo tempo que prepara a força de trabalho

para a rca7,iaação do capital" eleva o va1.ol'" desta força de

trabalho - o que permit e perceber meZhor o lado positivo

6GRZYB()\'SLI, cândido . Trabalhadores nlTais e educação. In: R:l\-OOItl-c.l\ll.J, Departamento de Economia Rural, org. A mâo-de-cbm volante 1UZ

agricult;ura. são Paulo, {'olis, ] 982, p. 309 .

'Id . ibid . p. 307. 8

CAJAROO. ~ld rce la. latino-arllcricano.

Educarão rura 1. no

p . 10.

Educação populor e conscicntiz.<.lção no lIlejo In: \'.'EHl1IEHI. Jorge f, BORDENAVE. Jtti1J1 lJiãz .

terceiro r.nmdo . Rio de Jane:i 1'0, Pa z e Terra>

(22)

6

da expansão das oportunidades educaeionait; , /19 Em suma,as

diversas análises levaram-me a concluir com Gaudêncio

Fri-gatta: /ta qu estão da escola, na sociedade capitalista.. é

fundamentalm ente uma questão da luta pelo saber e da

arti-culação desse saber com 08 interesses de classe."lO

Foi visando tornar cola como instituição social ta pesquisa foi realizada .

• compreensível o sentido da es presente em Sananduva que es A escolha da área foi defini-da, em parte, por motivos afetivos. Em Sananduva es-tio minhas raizes, e ali, por vários anos exerci minha ati vidade profissional. Sananduva constitui-se numa área on-de se evion-denciam, on-de modo particular , as variações on-de sJ...&, nificado atribuídas pelos sujeitos da educação c seu gru-po familiar

ã

instjtuição escolar. AI~m disso, ao longo da história de Sananduva a escola foi amplamente reivimli cada pelQs Colonos; também pelo fato de ter sido orienta-da, em sua gênese, pela Igreja e gradativamente assumida pelo podel' público. vislumbrei uma realidade plena de sig -nificações.

Para compreender 3S mutações de significado atri burdas a escola, impu s -me a tar efa de periodizar a hist6 ria do municíp io . De imediato. lancei-me ã tarefa tendo como critério bisico as transformações que se deram a ni vel sócio-econômico.

9 PAIVA, Vanilda . Estado c educação popular: recolocando o problema.

In: B~~ÀO, CarJos Rodrigues,

org.

A questão da educação popular.

São Paulo. Brasiliense, 1982, p. 83 .

(23)

7

o

povoamento de Sananduva deu-se no inicio do s~ culo atrav~s de um projeto de colonização11particular. Tomando como ponto de partida este fato, delimitei três pc -r1odos aqui sinteticamente caracterizados:

1. 1898 a 1926 - Nesta fase a produção mercantil dos Colonos era determinada pelas exigências de desenvolvi. mento do capital mercantil. A tensão sentida nas relações de mercado era escamoteada sob o manto da solidariedade 6tnica mantida entre comerciantes e Colonos. A educação. basicamente orientada pela Igreja, era reivindicada pelos Colonos como instrumento para a apropriação dos conteúdos da doutrina cristã . O Estado mantinha-se o grande ausente na orientação do ensino . Sua participação na re so lução do problema educacional e~ Sananduva restringia - se ao pagame~

to dos salários dos professores, através da Inspetoria do Ensino ~1unicipal .

2 . 1927 a 1955 - As transformações em Sananduva ocorrem num quadro em que avança o capital urbano-indus trial no

mudam as

conjunto relações

da economia brasileira . Devido a isto entre os Colonos e o capital. Expan

dem-se a suinocultura e a triticultura, det CYlll in:ldas pelos setores capitalistas interessados na industrialização d~ seus produtos e favorecidas pelo apoio do governo para es-tes seto re s . No plano político rompe-se a solidariedade

é!

nica entre comerciantes e Colonos. Estes reagem ãs estra-té gias do capital comercial no sentido de lhe s extrair I113is sobretraballlo, criando suas cooperntiva s . Ainda no plano político concretiza-se, em 1955, a crnancipaçio polrtico-a~

ministrativa de Sananduva, anscio dos Colonos desde o inf-cio de 1930. O Estado passa a participar com a Igreja na

110 tenHO colonização

é

aqui entendido como "povoamento org~11lizado", Í:! to é, COItO lUTI processo de distribuição de terras "liV1'CS" e de orga-ni.zação do espaço e locali zação da população no i ntcrior de lDTla (k tClmi.nada área. Ver GH ZYBWSKT, Cândido. PClrmatúm de la [:truc&w'c

agrairo cn Rio Grande do Sul, Paris, Univcl"slté de Pal'js ljTnstitut

d ' ~tude du Dévéloppcmcnt Economique et Social. p . 180 . Tese de Dou to

(24)

8 orientação, do processo pedagógico. Os Colonos reivindicam a cs col a como lOCU 8 onde poderiam apr opriar-se dos

instrumen-tos que lhes possibilitariam a defesa de seus interesses nas relações que estabelecem com os comerciantes.

3 . 1956 a 1980 - As exigências da agroindústria determin.am a nova opção de produ ç ão dos Colonos: a monocu! tura de trigo e soja. Expande-se o sistema de crédito. Os Colonos aderem ao sistema moderno de produção e passam a utilizar implementos agrícolas modernos . Amplia - se a rede escolar e criam-s~ no meio rural escolas de 19 grau comple to. A Orientação do processo ped a gógico torna-se tarefa c.x

clusiva do Estado, A Igreja apenas mantém o controle so

-brc o ensino religioso orientando os professores em reu-niões pastorais realizadas no Centro Paroquial. Os Colo -nos reivindicam a continuidade de estudos para seus filhos tendo como objetivo sua capacitação nas novas relações so-ciais definidas pela modernização da agricultura.

Seria desnecessirio mencionar que em relação a

Sananduva pratic amente inexistem estudos. Salvo um l evan-tamento de dados históricos realizado por Loreno Luiz Zam-bonin,12 que proporcionou informações-chave para o proces-so de análise. não pude contar com nenhum outro trabalho já sistematizado.

Pelo fa t o de nao exi s tirem outras análises e Po)" se trat a r de um ca s o muito particular, pres se nti a s difi -culdacles qu e deveriam ser superad as .

de um lado, pelo apoio e competente

t-1antiv e o entu s iasmo, orientação de Cindido Grzyb""ski e, do ou tro, porqu e s enti que poderia contr i buir de forma original para a p esqui sa em torno da jmigl' ação jt.'!

liana quc se de s envolve no Rio Grande do Sul, orientada p~

la Es c ola Sup oria)' de Teolo gia São Lour e ll ç o d e Brinde s de

12ZJ\J.IBON IN, Loreno Luiz . Hi8tÓl'ia de Sanânduv a .

1975.

(25)

9

Porto Alegre (EST). em colaboração com a Universidade de Caxias do Sul (UCS).

At6 este momento a pesqui sa centrou - se , basic;\-mente sobre a imigração italiana nas "Colônias Velhas."13 Existem, entretanto. pouquíssimos estudos sobre as "Colô-nias Novas" I '+ que se originaram da imigração interna.

Para o levantamento de dados optei por dois ca-minhas:

- pesquisa bibliográfica e documental - entrevistas.

Na pesquisa .bib liográfica, al~m dos estudos te6

rico s já selecionados durante o curso, pude contar com o

apoio integral do editor Rovílio Costa. ligado ã EST. que

me pôs ao alcance a vastíssima b ib liografia por e le edit~

da sobre a imigração italiana no Rio Gr and e do Sul. Cola bOTaram de modo muito particular o hjstoriador Demétrio Dias de Moraes e o rom ancista Pidelis Dalcin Barbosa. am-bos residentes em Lagoa Vermelha, RS.

-

-A coleta documental levou-m e a diversos orgaos públicos e instituições p::lrticu lares e religiosas. Os da-dos sócio-econômicos foram coletada-dos na Prefeitura Munici paI de Sananduva e Lagoa Vermelha, Secretaria de Agricu l-tura do Rio Grande do Sul, rEGE, Fu nda ção de Economia e Estatística de Porto Alegre . Os dados históricos encon -trados na Prefei tura ~1unicjpal de Lagoa Vermelha foram COl.!!.

pletados em pesquisa realizada no Arquivo Público, no Ar-quivo Hist6rico do Estado do Rio Gra nd e do Sul e no lnsti

13DenoillÍJlam-se "Colônias Velhas" os primeiros núcleos de coloniz.lção com imigrantes curopel's que se radicanlTn na sC'rril gU1ícha (it<llj a -nos) no centro °do estado (alemães) .

(26)

10

tuto Histórico Geográfico de Porto Alegre. Contei com o

total apoio da Cúria Metropolitana de Porto Alegre. da Dia cesé de Vacaria e da Paróquia São Joio Batista de Sanandu -va.

A pesquisa em torno ao setor educacional levou-me às prefeituras acima citadas, i 22a . Delegaci a Re giona l de Educação da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul, locali zada em Lagoa Vermel113, i própria Secretaria de Educação em Porto Alegre. e

ã

escola particular Santa Te rezinha de Sananduva.

Dados significativos foram encontrados no Stta

-ffetta Riograndense, hoje, Correio Riograndense, semanário

editado pela Editora são ~1iguel, mantida pela Sociedade A~

sistencial São Boaventura, em Caxias do Sul

CRS);

e no Co~

reio do Povo, diário mantido pela Companhia Jornalística

Caldas Junior de Porto Alegre e arquivado na Biblioteca pQ blica de Porto Al egre. Visitei também o Arquivo Capanema,

mantido no CPDOC/FGV. onde foram encontrados dados signifi.

cativos sobre a nacionalização do ensino no Rio Grande do Sul durante o Estado Novo.

As entrevistas foram realizadas com doi s objeti-vos:

1 . junto aos pioneiros da colonização para complementar os dados empíricos não encontrados em documentos. na imprensa escrita ou no acervo bibliográfico;

2 . junto aos Colonos, no se ntido de encontrar indicadores das direções a serem tomadas para tornar compreensiva sua reivindicação por escolas .

(27)

11

entrevista livre onde cada participante pudesse expressar,

livremente, seu pensamento. Nos debates, que em muitas ocasiões se tornaram acalorados. eu não me coloquei TIUI'l3

posição de interrogadora . O domínio do dialeto vêncto P0!: mitia-me compreender a linguagem corrente e participar re-latando minhas próprias experiências ou observações feitas

no tempo de infância, guardadas na memória. Normalmente.

realizei os encontros sem aviso prévio: nos sábados à tar-de, na bodega da Capela; aos domingos, após o culto domini cal; ã noite, na casa de um agricultor.

A identidade dos entrevistados naa

é

revelada no

desenvolvimento do estudo I pois a história dos Colonos e uma história de pessoas que, no anonimato, se constituiram como "gru po social" . Nesta história. um + um não

é

dois". Com "um + um .. . " construiu-se o "todo" . Foi esse todo

que opôs resistência ao capital cuja força foi d1ssimulada atrás dos atores individuais.

A notícja de que eu estava realizando uma pesqui sa "para escrever um livro sobre os Colonos de Sananduva" se alastrou com rapidez . ~1obilizados e sensibj lizados. a.,!

guns Colonos me procuraram em minha própria casa para rela

tar fatos, para eles. de significativa importância .

Ao dedicar-me i análise do s dados defrontei-me com uma realidade plena de significações . Para torná-la compreensiv~ tornar-5e-ia necessário palmilhar longos e complexos caminhos. Colocava-se, porém um obstáculo: o li mitc de tempo. A opçio foi delimitar o desenvolvimento do projeto, sem que isso se configurasse como abandono da paI. cela do estudo n50 reali zada no momellto . Talvez pareça

C!

(28)

-12

tão de justiça. t-tinha contribuição para a pesquisa sobre a imigração italiana

i.

especialmente, a anilise dos pri -mórdios da colonização de Sanandu\ra. Acima destas

ques-tões coloca - se a necessidade de tornar conhecidas as rai zes daqueles que se constituem os sujeitos da educação em Sananduva . De modo especial, entendo que a ordenação dos fatos

daaos

ao longo da história de Sananrluva poderão auxi liar ã compreensão das questões atuais relativas

ã

educa -çao . Por estas razões, meu estudo, no momento , cobre o p~ . riodo histórico que se estende de 1898 a 1955. Entretan-to, posso assegurar que já se delineia a possibilidade de concluí-lo como trabalho de pesquisa a ser realizado junto a Universidade de Passo Fundo-RS.

A an51ise reflete as limitações e inseguranças de quem percorre pela primeira vez os caminhos da pesquisa . Além disto. a forma de linguagem espelha minhas caracterí~

ticas pessoais . Filha de imigrantes. minha linguagem

é

ma!,

cada pelo uso cotidiano. no convív io familiar. do dialeto vêneto . Se. de um lado. o domínio desta linguagem, muito próxima à língua italiana, me facilitou o trabalho de pes -quisa. de outro sinto que me tolheu quanto à expressão do pensamento.

o

plano de trabalho foi estruturado da seguinte forma : o Capítulo I contém a anilise do processo d e coloni

zação de Sananduva e do modo de inscrção dos Colonos na e~ trutura produtiva. O Capítulo 2 procura tornar compreens.! velo papel da escola como instl'ulIlcnto de prcservaça o da

identidade étnico - cultural dos COIO]10S no pel'íodo inicial .

A seguir, no Capítulo 3. a análise tem como objeto as tran~ formações ocorridas na Colônia Sano.nduva. antes. dUl"antc c

após a crise de 1929; a reação dos agent e s sociais frent e

ã crise e as novas opções de produ ção dos Colonos. O

Capi

tulo 4 traça o p erfil da escola ne s te perIodo. definido de modo singular, na disputa travada entre E5tado"·Igreja-Col ~

(29)

13

Em síntese. com este e s tudo pretendo entender o significado da escola, como instituição social, inserida em Sananduva. Significado que se definiu nos entendimen -tos (ou desentendimentos) estabelecidos entre Estado.TgT~

ja e Colonos. Por esta razão, procurarei palmilhar o caroi -)1ho que leva

ã

fonte de sua existê nci a : as propostas gove!,.

namentais " 08 intel"e88eS da Igreja e dos Colonos. Para en

(30)
(31)

CAP!TULO 1

o

PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DE SANANDUVA

E DE INTEGRAÇÃO DOS COLONOS NO MERCADO

"No coraçao do imigrante italiano

estaVa a esperança de- sua , futura

afirmação econômica B, na alma, e~

tava O desejo de constituir fami-lia, tendo seu nome ligado a uma

propriedade."

(Rovílio Cos ta)

Casa típica dos imigrantes italianos.

(32)

Para se compreender o significado os Colonos

é

necessário. em primeiro lugar, co ndições de vida destes trabalhadores e de

16

da escola para

desvendar as

sua família , as r elações que estabeleceram em SCJ contexto social e as al

-ternativas que propuseram para defender seus interesses fre!! te à exploração a que foram submetidos pelo capital. Como bem afirma Cândido Grzybowski,

"inicialmente importa I'econhecer a determi

-nação das condições de erodução material

nas condições de produçao cultural, em

par-ticular no tipo, qualidade e e xtensão da

educação". 15

n,

pois , neste sentido que, neste capít u lo, se

procurará entender o processo do colonização de Sananduva e o modo como os Colonos se integraram no mercado . Ao se buscar os dados que compõem esta história, quatro aspectos fundam e ntais chamaram a atenção:

a) o núcleo foi instalado numa conjuntura de cri se da economia brasileira;

b) a colonização partiu da iniciativa de politi-cos lagoenses ligados ao Partido Republicano Rio - Grandense;

c) a "leva de Colonos" que alí se assentaram e ra, essencialmente, constituida por im igrantes ou de scenden tes de i.migrantes italianos radica-dos nas "Colônias Velhas" do Rio Grande do

Sul;

d) os Colonos migr3vam tendo como objetivo a con servação de sua condi.ção de pe qu e nos

proprie-tários rurai s . i nteg rados ao lTIcrcJdo .

lSGHZYI30WSK I. Cânrlido. Trabalhadores l'UX'Q1: s e educação. op. cit o p.

(33)

17

Entende - se, pois, que o caminho que leva ã com-preensao do processo de colonização e povoamento de

Sanan-duva, primeiro núcleo de :olonização de Lagoa Vermelh a , de verá ser traçado de modo que pernita o ·entc n dimento:

1. da relação entre o projeto de colonização com o contexto político-econômico daquele momento de depressão;

2 . dos interesses especificos dos agentes respo~ sáveis pela colonização;

3. da forma como se estabeleceu a · inserção dos

Colonos na estrutura produtiva.

1.1 O contexto em que se insere Sananduva

A história da instalação da Colônia Sananduva

iniciou-se no final do século passado e se estendeu até

meados da segunda décad<J deste século. Em 1898, emigrados

das regiões montanhosas de Caxias do Sul, Fiorentino Bacdd, sua mulher Filomena Monari e o casal Antônio e Zelinda Bacchi aportaram em Lagoa Vermelha. 16 Com a chegada destes imigrantes . de origem i taliana. registrou-se o início do aesbravamento das terras de mata do noroeste do ~tunicípio (até então habitados por índios da tribo dos Caingangues e por alguns esparsos posseiros de origem lusa) 17 e a instalaçio de uma economia agrícola de excedentes. baseada na pequena produ-çio de regime de trabalho familiar, que se desenvolveu ar-ticulada e subordinada aos interesses do capital hegcmôni-co na ehegcmôni-conomia brasileira .

16ZA,\OOJ IN, Lorcno Luiz.. op. clt. p . 19.

17ATqllivo Histórico do Rio Grande do Sul. Auto n9 1006 de legItimação

da posse de terras, 20, mar. 1900. P0rto Alegre, RS.

(34)

)0

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RIO GRANOe 00 SUL

169B

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(35)

1.1 . 1 A crise da economia gaGcha e a

colonização de So.nanduva

19

A colonização do núcleo Sananduva deu-se num ce-nário onde os agentes sociais nela envolvidos se moveram

obedecendo às regras do capital mercantil, forçando sua própri a expansão. Ao mesmo t empo, dado que o povoamento

mais intenso da área se deu num momento de crise da econo -mia, o desenvolvimento inicial de Sananduva revela como a agropecuária dos Colonos se reorganizou para fazer frente

à

vicissitudes econômicas do momento . A crise de que se

fala (do fina l do século passado e início deste) c que se engendrou, externamente aos limites nacionais, perpassando pelos canais do comércio, via Estados Unidos atingiu o com plexo cafeeiro pílulista~ pólo dinâmico da economia e ponto ma ximo de acumulação capitalista a nível nacional . O ônus da conjuntura desfavorávc~ que se criou, transferiu-se, m~ diante as interme diações do mercado interno, a toda a econ2, mia brasileira e refletiu-se nas áreas gaúchas dentro das características próprias da região.

o

Rio Grande do Sul mantinha desde sua integra-çao ao mercado nacional a peculiaridade de uma economia agropecuária dependente e integrada ao mercado interno, ex portando gêneros alimentícios e produtos agropecuarios.

No período da mineração a necessidade de alimen -tar os escravos com um produto barato valorizava a carne bovina da pecuária gaúcha e o Rio Grande tornou - !'e um gra~ de exportador de charque.

No período cafeeiro. a repl"odução, a baixos cus-to s, da força de trabalho assalarjado, empregada no

cafe-zal, abriu mercado pal"a os produtos agr ope cuál'i os das fa

-zendas e lilvouras gaúchas . A abundância do produ to 110 llIel'

cada favorecia sua aquisição por pre-;:os baixos. Isto per-mitia aos f;lzendeiros Jlwnter os salários em níveis tnmbém

(36)

20

Com a República, esta posição foi mantida e con-firmada . Nesta condição de dependência. a economia gaúcha, como um todo, foi atingida pela crise internacional, tran~

mitida pelo elo mediador do mere ,l do nacional. Ou seja, com

a queda dos preços e o decréscimo das vendas no complexo cafeeiro, registrou-se, também, O rebaixamento dos preços pagos pelos produtos das lavouras gaúchas, instaladas como economias complementares de alimentos para a economia agr~ exportadora, e a diminuição das vendas.

Para fazer frente a crise, tanto a pecuária ex-tensiva quanto a agropecuária dos Colonos recuaram, articu laTam estratégias e se reorganizaram no sentido de encon-trar saídas viáveis.

Acentuou-se nestas lavouras a crise determinada pela concorrência no mercado dos produtos cultivados nas l avour as abandonadas pelo café em são Paulo e ~1inas Ge-rais. I 8 Esta concorrência acirro u-se maj s em funçã.o do d~

senvolvimento de outros núcleos coloniais que . instalauos mais próximos ao Centro, estavam mais bem servidos por vias de transporte e, portanto, podiam exportar seus produtos com mais facilidaue. Fig ur aram entre eles os nGcleos

de

Blumenau c as colônias do Espírito Santo.

Associou-se a esses fatores a suspens30 da taxa ferrovi5ria para O arroz c outros cercais. 19 Os nficleos

18"Estudando a integração entre as economias regionais brasileiras na época da. cafeicultura, Antonio Castro mostrou que nos períodos da

expansão da economia cafeeira, São Paulo desenvolveu as regjões

vi-xinhas que amaram com seus mercados abas teceJol'cs. Nos períodos de retração cafeeira. São Paulo se au to-abas teceu e ~dnda desenvolveu outras produções. As oscilações da economia cafceira instauraram, pois um processo de crises, superações, lcviÃndo São Paulo a

dedi-car-se - nos períodos de crise do café -

ã

produção de outros "gêne ros ". Ver ANTONf\CCI, ~lal'ja Antonieta . A Revoluçno de 1923: as oposT

ç.õcs na República Velha. In: D .. \ü\.NAL, José 11) I dcbrando fi

OONZAtif\:-Sergius . RS: economia e polí.tioo . Porto Alegre, r.lel'cado Aberto,

1979. !l. 23l.

1911Ji'il1\ÇÃO DE ECO~t).\lIJ\ E ESTATfsTrCA. A meuanização da agrieu.7.tura do

(37)

21

mais bem servidos pelas vias f6rreas, escoando rapidamente seus produtos, supriram o mercado, ocasionando a estagna-<;:.ao na produção das colônias gaúchas mais isoladas.

Aliou - se às conseqUências da crise o esgotamento do solo, decorrente dos limites do próprio sistema ,técnico de produção que, associado ao contínuo fracionamento da terra, levou

à

diminuição da produtividade. 20 Para suprir suas necessidades e garantir sua so br evivência , frente a deterioração dos preços, os Colonos foram levados a

produ-zir mais . Além disto, a impossibilidade de auferir melho-re s melho-rendimentos na base da produtividade, em face das limi tações iropas tas pelo sis tema técnico de produção. foi su-prida pelo aumen 'to das áreas de cultivo e, conseqUentemen-te, a jornada de trabalho passou a ser ampliada. Gradativ~

mente, as lavouras alcançaram os limites dos lotes dos Co-lonos. O principal meio de produção - a terra - tornou-se insufici~nte para satisfazer às necessidades da família ru ralo

Paralelamente a esta situação no Rio Grande do Sul, na própria região cafeeira gerou - se um amplo exceden-te de mão-de-obra. Os novos imigrantes foram enviados ao Rio Grande do Sul, mesmo contra a vontade das autoridades gaúchas, responsáveis pela colonização. 21 Esses novos imi-gran tcs vieram colabo1"<:lr para o inchamento dos núcleos.

A insuficiência de terras dos núcleos já exis te!!. tes, reforçada pelo retalhamento dos lotes para assentamen to desses novos imigrantes ou dos herdeiros, reverteu-se num processo de expansão da colonização de terras de

flo-2 CtROQ-[E, Jean. A coloni:;ação alemã e o Rio Grande do Sul. Por.to Ale-gre, Globo, 1969. p . 114 .

2 1"A partir de 1895 a colonização e povoamento passou a ser atribui-ç50 dos Est:1.dos . Até então a tarefa era assegurada pele gOVC1110 fe-de ral através da D:dcgacia de 'l'el"as e (oloniz.ação." MAN llID I , olI via. /, colonização italiana no RS. ImpLicações eco1".ãmicas" poZÍ-ti:::

(38)

22

restas do Estado. Há, inicialmente, uma expansão, não pl~ nejada, na periferia das próprias colônias. Mas o processo tomou direções cada vez mais amplas e distantes, obrigando o Estado a abrir novas frentes de colonização. como forma de se antecipar aos conflitos potenciais que poderiam ad-vir dest~ situação .22

Na data da emancipação, em 1884, Conde D'Eu (Ga-ribaldi) contava com uma população de 6 . 306 habitantes e D. Isabel (Bento Gonçalves), 9.604. De abril de 1884 a de

zembro de 1885, 4.109 habitantes foram colocados duas colônias. O número de nascimentos, nesse mesmo do, foi de 1.064. D. Isabel passou a contar com uma lação de 14.300 habitantes e Conde D'Eu com 6.785."

nessas

-peTl2.

popu-A colocação dos novos imigra11tes e dos exceden-tes das colônias de Conde D'Eu, D. Isabel e Caxias do Sul obrigou a "Comissão de Terras e Colonização" a atravessar o Rio das Antas e fundar

à

margem deste rio, em terr as lagoenses, uma nova colônia que foi denominada Alfredo Cha ves. 2 '+

Os núcleos coloniais. entretanto, continuaram a expandir-se de modo surpreendente. Em poucos anos. os ter ri tórios de signados para a caloai zação foram in te iramen te ocupados e os novos imigrantes avançaram. procul'ando novas terras longe das zonas previstas pelas autoridades comp e -tentes.

Fiéis a sua etnia e a sua religiosidade. avança-ram em direções distantes daquelas tomadas pelos colonos "al.e mãe s -pl'o t e stant e s" .. Eles eram. acima de tudo. católi-cos pratica ntes. O empenho em conservar-se unidos tinha

"W\NFROI, Olívio . op. cito p. 68. " Id. ibid . p . 78.

(39)

23

como objetivo manter a prática de sua reli gião . Nesta

prá-tic a eles e ncontraram a sua própria identidade e sua defe-sa como gr upo.

Este tema será abor dado com mais profundidade quando se analisar, mais a diante. o sentido da

reivindica-ção dos colonos por escolas. Como se vera, será no inten

-to de gara ntir a manutenção de sua identidade que e l es pa~ saram a reivindicá-las e a tratar como especialmente signl ficativo o instrumental por elas transmitido .

"A expansao efeti v ou -s e ~ no iní. cio ~ na pari

f eria das antigas colônias ~ tomando3 em se=

guida~ direções cada vez mais amplas e dis

-tantes . Assim, a fundação das colônias de

Alfredo Chav es , Nova Prata, No va Bassanô,

Antônio Prado , Guaporé , Encantado ... marca

-ram a primeira etapa desta conquista~ tl~a ­

çando a grande linha da expansão italiana:

toda a região florestal~ situada entre os

campos de Soledade ~ os campos de Vacaria

até o vale do Rio Upuguai . De Guaporé e de

A lfredo Chaves a onda expansionis ta prosse-guiu rumo às regiões florestais dos

munici-pios de Passo Fundo (Cas ca ~ Vi la Maria" Ua

-rau, Mato Ca8 te Lhano , Água San ta, Tapejar>a" Getúlio Vargas " Ercxim) e de Lagoa VermeLha

(Araçá " Chimarrão " Forquilha" ~acique Doble SANANDUVA ( •• • ) " ( grifo meu). 2 '

1.1 .2 Interesses políticos dos republicanos em to r no do povoamento de Sananduva

Cabe salie n tar que se, por uma lado, as condi-çoes estrutur ais e conjunturais favoreceram a

colonização e os fatores culturais definiram il

expansão da direção das correntes migratórias, de outro, os interes ses políticoS do " grupo republicano" na lu ta para garantir sua hegemonia aceleraram o processo de expansão dos núcleos de coloniz.a-çao. A instalação da Colônia Sananduva não deixo u de ser

(40)

uma resposta a esses interesses .

1.1. 2.1 O Partido Republicano Rio-Grandense no quadro político do Rio Grande do Sul

Não se pretende neste estudo e nem constitui ob -jeto de análise a questão da gênese e consolidação do Par-tido Republicano no Rio Grande do Sul. O fato que aqui se tem presente é que Sananduva foi instalada, em parte, como iniciativa dos republicanos lago c nses. Como projeto cnqu~

drou- se , portanto, nos esquemas das estratégias do PRR em-penhado em sustentar sua he gemonia . O quadro que aqui se traça tem apenas o objetivo de indicar as direções políti -cas tomadas pe l o PRR .

A instalação da República no país representou um ajustamento do nível político às novas necessidades gera-das na economia e na sociedade brasileira .

Durante o Império o grupo dos cafeicultores es-cravistas do Vale do Paraíba do Sul manteve o controle do poder político. Entretanto, as transformações econômico -sociais produzidas no complexo cafeeiro paulista foram, gra dativamente, deslocando do poder os I'velhos políticos" e, conseqUentemente, tornando inviável o regime monárquico no qual se sustentavam.

A

Monarquia caiu através de um golpe militar, mas foi a burguesia agrária paulista que tomou o comando da máquina política e a pôs a serviço do setor di-nâmico da economia .

No Rio Grande ~to Sul, a transição do regime mo -nârquico para o regim e republ iCelllO não fugiu

das transformações dauas. no país. Obedeceu,

ao contexto

(41)

2S

comércio e instalação de novas indú strias , era o setor pc-cua ris ta o predominan te no Estado.

Politicamente, o Rio Grande do Sul ingressou no regime republicano apresentando uma divisão no interior das classes dominante s . Quase no final do 11 lmp~rio, o Partido Liberal constituiu-se, sob a liderança de Gaspar Silveira Martins. como a principal força política da 1'ro-víncia .2 6 No entanto, uma no va geração de políticos come-çou a se manifestar, enquanto setores da oligarquia e das novas clas ses urbanas, especialmente comerciantes e

industriais, passaram a desafiar a Monarquia e O Partido Lib e

-ral. Em 1882, por iniciativa do "Clube Republi cano ", que

convocara uma convençao regional, foi criado o Partido Re-publicano Rio-Grandense como instrumento de condução dos interesse s do grupo republicano. Com a liderança as cencio nal de Júlio de Castilhos, começaram a definir-se os rumos programáticos do PRH.

o

Partido procurou capi talizar as "falhas" do sis tema político imperial explorando especialmente sua pouca repre sentatividade e a excessiva centralização. "f ... ) dis

tanciando-ae da ideo'logia 'liberal dominante, o PRR fez da

filosofia positivista a sua doutrina c se ol'ganizou de tal

forma que, mesmo sendo minoria e tendo grandes opositol'cS

nos grupos dominantes gaúchos , chegou em 1889 com uma

for-ça capaz de tomar> o podel' e tornar - se o pal,tido hegemônico por longos anos no Rio Grande do Su'l.,,27

Com uma proposta política reformista e

moderni-HEm rc13ção aos l')artidos políticos do Impérjo, ver : PIOOL.O.Helga )'r<1 cema Landgraf. A política rio-gTandcnse no Império. In: DACANAL,

Jo

sé I-lildebrando ti GONZAGA, Sergius . RS : Economia e Pol{tica . Portõ

Alegre, Mercado Ahcrto, 1979 . p. 93-117.

27PIN1D. cê1i R. Jard.im. Contribui.ção ao cSUldo da fonnaç5o do Part.i do Re publicano Rio- Gr .. lI1dense (1882-1891). DissCltação de mestl'[!-:-do em Ciência política. Porto Alegre, ]979. In: DACANAL, José

(42)

26

zante, informada ideologicamente pelo positivismo, aprese!! tam-se como o partido de todos 05 grupos sociais . O Esta

-do era identifica-do como porta-voz e defensor de ~odos os interesses e não de um só segmento social . Isto

uma rápida e sólida aceitação do partido entre os sociais poli ticamente disponíveis. De acordo com MUller,

permit:lu grupos Geraldo

"( . . . ) uma diferenciação possivel entre o

par "tido de Gaspar Si l..veira Martins e o de

Júlio de CaBtilho8 (PRRJ pode Bel' feita em

termos de o prim ei ro assentar-se em antigos

quadros de mando~ com uma ideologia incapaz

de incorporar 08 novos contingentes

politi-camente di8poniveis~ ao passo que o segundo

dispõe de uma ideologia capaz de incorporar

08 contingentes aeima" . ze

o

PRR apresentava como medidas para o des e nvolvi mento do Rio Grande do Sul, a defesa de propriedade e do latifúndio; a modernização da pecuária e o aparelhamento dos meios de transporte.

Apesar da rápida consolidação do PRR, os republi canos tinham consciência das dificuldades que haveriam de enfrentar e, sem perda de tempo, devotaram-se ao trabalho urg e nte do controle político do Estado. Entretanto. do p~ ríodo histórico iniciado em novembro de 1889 até o fim do governo Castilhos, em j a nei ro de 1898, transcorreu uma dé-cada de grande agi taç.ão poli tica que culminou com a derro-ta dos liberai s na Revolução Federalisderro-ta de 1892 - 1 895 e com a instalação, por Castilhos, da Assembléia de Representan-tes e m outubro de 1895.

Para pode r ma nter afastada do poder a parcela da clas se dominante "v encida" , o PRR em nenhum mome nto deixou de parte a luta para a ampliação de suas bases suciais. Por

ze~1ULLER, Geraldo. Pel'>if~l ' ia e dependêl'wia. Est;udo do desen/Jol:V1:men to

do capitaLismo no Rio Grande dv Sul . Dissel'lt...'!.ção ue mes trado .

(43)

27

isso continuou realizando aliança com outros grupos, tais como as classes médi as e os comerciantes da fronteira. O preço desta aliança era pago pelo governo procurando aten-der aos vários interesses econômicos presentes no es ta de • . Para tanto procurou desenvolver os transportes, amparar a agricultura e conceder incentivos fiscais

ã

indústria. Com

isto o governo positivista legitimava sua dominação e fic~ va coerente com seus postulados teóricos que afirmavam que o Estado ~ o representante de todos os grupos sociais. Nes te qu~dro a colonização passou a ter sentido. Como estra-tégia dos republicanos foi conduzida de modo a levar os imigrantes a se comprometer com o poder constituído, tor-nando-se, pois, uma base s61ida de sustentação desse

po-der.

1.1.2.2 Interesses dos republicanos 1agoenses

em

torno do povoamento do Nunicípio

A

consolidação do regime

da

Primeira República impôs as unidades administrativas regionais a necessidade de sua reorganização em termos político-administrativos.

A

Intendência de Lagoa Vermelha, criada pela Lei

n9 1.309, de maio de 18 81 , e instalada em 26 de janeiro de

1883,29 já no declínio do Império, passou a ser dirigida a partir de lS de ab ril de 1890, mediante nomeação advinda do Presidente do Estado, por um triullvirato administrativo formado por Jorge Guilherme Moojen, Napoleão Ce za r Bueno (filho de José Bueno de Oliveira) e José Muliterno.

A e lei ção reali.zada cm 3 de julho de 189 2 condu-ziu .o Cel. Heleodoro de Moraes Branco1 0 ao cargo do Primei

TO Intendente de Lagoa Vermelha.

29Fundação de Economia e Estatística. De Provincia de são Pedro a Es

-tado do Rio Gl1Q.ncle do Sul, . Porto Alegl"c, 1981. p . 19 .

30~DltAES. Demétrio Djas de . Brasil. Grundo e História de Lagoa

(44)

28

Eleito por voto direto e apoiado pelos pecuaris-tas filiados ao PRR. Heleodoro iniciou uma verdadei ra car-reira político-administrativa que se estendeu de 4 de se

-tembro de 1 892 , data de sua posse. até 5 de setembro de

1912. 31

Nesta data, em razão de divergências que se engen-draram no interior do partido, Heleodoro foi substituído, por indicação dos correligionarios e confirmação do Presi

-dente do estado, Borges de Medeiros, pelo Cel. Adolfo Paim

de Andrade, vice-intendente.

A ec lo são da Revolução Federalista de 1892 atin-giu Lagoa Vermelha e envolveu em suas lutas os administra-dores locais, não lhes permitindo maior atenção qu an to aos aspectos administrativos da Intendência. PacificaJo o es

-tado, com a vitória dos . Republicano s sob re os Federa~istas

ou Liberais, liderados por Gaspar Silveir.a Martins, pôde o

In tenden te cuidar da unidade adminis tr a ti va den t-ro dos principias do PRR, de cariter positivista , que se consoli-dava. "Como herói da Revolução .. Heleodoro firmou-se em

ba-ses sólidas e gozava do prestigio e do apoio do Presidente

do estado .. Júlio de Castilhos",32 e l ograra o apoio de am

-plos setores da população, especialmente dos colonos ita-li anos de Alfredo Chaves.

Mal começou efetivamente, a administração de He-lcodoro passou a defrontar-se com entraves de ordem

econo-31Heleodoro era filho do padre .português Antônio de ~braes Bronco, que imigrara no período do Império para o Brasil. Sua carreira po1-!tica embasou-se na prcjeção política alcança da por seu pai, como Cape -lão da Colônia Mili tal' de Cas eiros. Ins talada em 1853/54. em Lagoa Vcnnelha, a Colônja destinava-se ao assentamento dos soldados brasi lei1'os , excluídos do Exército por doença ou defeit.os físicos adqui-=-ridos durante as "Guerras Cj splatinas". (Ver BARBOSA , Fjdclis Dalcin.

Referências

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