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Compre um cappuccino e salve uma criança

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Academic year: 2017

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G E T U L I O

novembro 2009 novembro 2009

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A

pesar do status de celebridade

intelectual – e internacional –, o ilósofo e psicanalista eslove-no Slavoj Žižek tem ciência de que seu nome é pronunciado,

errado, em quase todo o mundo:

exce-to em Liubliana, capital da Eslovênia, pequeno país da Europa Central, onde nasceu em 21 de março de 1949. Lá o so-ciólogo é chamado de “slávoich jíjék”. Mas o diretor internacional do Institu-to de Humanidades da Universidade de Londres não se importa com esse imbróglio – até porque, pesquisador do Instituto de Sociologia da Univer-sidade de Liubliana, pode se saciar na terra natal com a impecável pronúncia dos alunos e compatriotas. Especialista em Jacques Lacan pela Universidade de Paris, leciona ainda na European Graduate School e foi professor visi-tante em universidades americanas, como Columbia, Michigan e Prince-ton. O ilósofo esloveno tem mais de 50 livros publicados, em que se

desta-cam Um Mapa da Ideologia, O Mais

Sublime dos Histéricos, Eles Não Sabem

o Que Fazem e Bem-Vindo ao Deserto

do Real!, com o qual se destacou no

debate da cultura contemporânea ao questionar a postura da esquerda ame-ricana e europeia diante dos ataques de 11 de setembro às Torres Gêmeas, em Nova York. “Com essa esquerda”, procovou o marxista, “quem precisa de direita?” O texto a seguir recupera uma conferência do autor no Brasil, quando lançou A Visão em Paralaxe (Boitempo Editorial, 2008). Conhecido por usar a teoria lacaniana para uma nova leitura da cultura popular, Žižek vestia jeans e camiseta preta (com a frase “J’aime le cinéma!”, em letras prateadas) ao se

apresentar no ciclo de debates “Muta-ções – a Condição Humana”, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. E, para fa-lar sobre ideologia, começou justamen-te por Hollywood. Ainal, como disse, “é preciso enxergar de outra maneira para prevenir novas catástrofes”.

No creo en brujas...

Para entender o que é a ideologia predominante e universal hoje, a me-lhor forma é começar por Hollywood – lá tem ideologia em estado mais puro do que experimentamos na realidade. No último ilme do Batman, por exemplo,

O Cavaleiro das Trevas[Christopher

No-lan, 2008], a mensagem é interessante:

sustentar a ordem da pátria. Quando se descobre que a autoridade máxima do distrito (o combatente do crime) é na verdade o criminoso, o próprio Batman assume a culpa para salvar a moral da pátria, para sustentar a ordem vigente. É de alguma forma o grande sacrifício ético: heroicamente, um sujeito assume um crime por outra pessoa para susten-tar essa moral. Mas por que a cidade não podia saber desse fato? Bem, deixe-me usar uma anedota para ilustrar: um ho-mem recebe a visita de um amigo em sua casa de campo e o amigo nota que na entrada há uma ferradura (suposta-mente previne contra maus espíritos). Aí o amigo pergunta: “Você acredita nessa superstição?” E o homem respon-de: “Claro que não, isso é bobeira!” E o amigo: “Mas se você não acredita, por que tem uma ferradura ali?” O homem: “Eu não acredito, mas me disseram que funciona assim mesmo”. Ora, se nós mesmos não acreditamos, quem acre-dita por nós? [risos] Essa é uma face da ideologia hoje, essa estranha categoria

de crenças objetivas que funcionam sem que ninguém acredite nelas.

A lógica da galinha

É como aquela piada do velho louco que acreditava ser um grão: foi curado, libertado, mas voltou ao hospício. O psiquiatra perguntou: “Por que você está com medo? O que há de errado?” E ele disse: “Eu encontrei uma gali-nha no meio do caminho: iquei com medo de ela me comer”. O psiquiatra: “Mas agora você já sabe que não é um grão: é um homem!” Ele respondeu: “Eu sei que sou um homem; mas será que a galinha sabe?” [risos] A “galinha” nesse caso representa o senso comum. Hoje, por exemplo, em muitas famí-lias a criança é essa “galinha”: os pais gritam um com o outro, traem um ao outro, mas tudo em “segredo”, porque a criança nunca deve saber, não importa o que eles façam. Generalizando, nós supostamente vivemos numa sociedade permissiva na qual cada um faz o que quer e bem entende – mas sempre pre-cisamos de uma “galinha” para ingir nossa decência.

Não sabemos que sabemos

No cotidiano as coisas parecem mistiicadas. Mas existe uma diferen-ça entre as coisas como são e como parecem ser. E mais: como parecem parecer para nós. Não sabemos como parecem parecer. Soa confuso, mas essa é a estrutura do inconsciente, por exem-plo. Contarei outra velha história para ilustrar, sobre um momento ilosóico na política, quando Donald Rumsfeld

[ex-secretário da Defesa dos EUA] falava

da Guerra do Iraque, de armas de des-truição em massa. Ele disse algo assim:

Por João de Freitas e Luísa Pécora

para o ilósofo slavoj Žižek, a ideologia predominante hoje é uma estranha categoria

de crença que sobrevive sem que ninguém acredite – por isso papai Noel ainda existe

compRE um cappucciNo

E salVE uma cRiaNça

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“Existem coisas que sabemos que sabe-mos”. Por exemplo: hoje estou em São Paulo para uma conferência; e sei disso. Então Rumsfeld continuou: “Existem coisas que sabemos que não sabemos”. Aí já era o senso comum: algo como “sei que existem armas de destruição, mas ainda não vi”. Na sequência Ru-msfeld disparou um terceiro exemplo: “Existem coisas que não sabemos que não sabemos”. Ou seja, os chamados “unknowns unknowns” [ou variantes

desconhecidas, numa tradução livre].

A raiz epistemológica do fracasso dos EUA no Iraque reside aí, pois, na rea-lidade, Donald Rumsfeld não falou so-bre os chamados “unknowns knowns”, ou seja, aquilo que não sabemos que sabemos. Por exemplo, o racismo. Na sociedade liberal de hoje, dizem que ninguém é racista. Mas quando você interage com um negro ou um judeu, o modo como você trata a pessoa já deixa claro, inconscientemente, tudo aquilo que você “não sabe que sabe” sobre aquela pessoa. Para mim, foi isso que deu errado na invasão do Iraque pelos EUA. O problema não foram os “unknows unknows” (a possibilidade de Saddam Hussein possuir uma arma “mística” desconhecida). O problema foram os “unknown knowns”, as ar-madilhas políticas e os preconceitos arraigados que os próprios americanos tinham sem se dar conta disso.

A TV ri por você

Todos esses mecanismos de crença estão numa categoria que estou cha-mando de interpassividade – um con-ceito oposto à interatividade, no sentido de que outra pessoa faz o trabalho por você. É como icar cansado só de ver alguém trabalhar. Uma experiência passiva. Nesse sentido, uma das maiores contribuições dos EUA é a risada enla-tada. Na televisão, em séries americanas como Cheers e Friends, essa risada já faz parte da trilha sonora. E pensem sobre isso: é muito sério! A risada enlatada já está lá para fazer a maioria das pessoas rir. Por que vou rir se a TV já está rindo por mim? Você chega em casa à noite, liga a TV, sintoniza um programa es-túpido e pronto: a TV ri por você. Ao inal, você se sente aliviado. A mesma coisa acontece com as nossas crenças. Não precisamos acreditar, precisamos

de alguém para acreditar por nós (na política, inclusive). É o caso que citei há pouco, da ferradura na porta de casa.

Eu conio, se você conia

A antiga primeira-ministra de Israel, Golda Meir, tinha uma fórmula ótima para essa questão. Um dia pergunta-ram se ela acreditava em Deus. Gol-da Meier respondeu: “Eu acredito no povo judeu. E o povo judeu acredita em Deus”. Outro exemplo: sabe essas coisas de Natal? Papai Noel, renas vo-adoras? Ninguém realmente acredita, certo? Mas você diz: “Eu não acredito, só injo acreditar por causa dos meus ilhos”. E quando você pergunta para as crianças, elas dizem: “Eu não acre-dito, injo acreditar por causa dos meus pais”. Esse mecanismo funciona, inclu-sive, neste momento de crise inancei-ra. A todo o tempo dizem que é uma questão de “coniança” dos investido-res. Mas que tipo de coniança é essa? Não é só uma questão de “eu acredito”. Você “conia” ou “acredita” no merca-do apenas quanmerca-do tem certeza de que “a maioria pensa que a maioria acredi-ta”. Só assim o mercado funciona. Por isso é tão difícil estabelecer coniança, estão todos obcecados em saber se os outros também coniam.

Os óculos de Nada

Existe um velho e maravilhoso ilme de Hollywood que mostra a mensagem implícita de forma perfeita: Eles Vivem, de John Carpenter, 1988. É um dos me-lhores produtos da esquerda hollywoo-diana, em minha opinião. Um estudo ingênuo de como a ideologia

funcio-na. É a história de um trabalhador sem-teto, chamado Nada, que um dia se depara acidentalmente com óculos estranhos. Quando coloca esses ócu-los, Nada vê a mensagem ideológica real. Por exemplo: está andando pela rua e vê um grande outdoor com a pro-paganda de uma viagem para o Havaí. “Aproveite! Faça a viagem da sua vida!” Mas, quando Nada coloca os óculos, vê apenas um fundo cinza e letras escuras: “Não pense. Obedeça. Consuma”, ou algo assim, a mensagem verdadeira. Claro, esse é um estudo ingênuo. Mas a ideia é de que, quando somos cha-mados a consumir e a nos divertir, há sempre uma mensagem implícita.

Seja você, num Land Rover

Hoje, sejamos francos, estamos in-terrelacionados pela ideologia social, um mecanismo levemente espiritual. A sociedade não pede mais para nos sacriicarmos. Em vez disso, implora: “Seja você mesmo! Aproveite a vida!”, esse tipo de coisa levemente espiritual (um mecanismo que muda a moldura da publicidade, por exemplo). A pu-blicidade funciona de duas maneiras. Por um lado, temos a referência dire-ta à posse – para vender um carro, a mensagem enfatiza as qualidades: “O carro é forte, você pode ir à montanha, não gasta muita gasolina, é confortável para dirigir!” Já na outra camada da publicidade, temos a competição por status: “Compre agora e seja admirado por seus colegas!” Hoje, no entanto, um terceiro elemento está mais presente, e não faz referência à propriedade ou ao status, mas à promessa de uma experi-ência subjetiva autêntica. Assim: “Você se sente oprimido? Você expressa seu verdadeiro eu? Então compre um Land Rover! Dirija na loresta e sinta quem você realmente é!” O grande sonho da publicidade é tornar o consumo uma experiência profunda.

Compre um cappuccino e salve uma vida

Hoje, parece consenso que a comi-da orgânica é importante – mas não necessariamente porque ela seja mais saudável. Você compra porque acredita que está contribuindo com a ecologia, como uma causa maior. Por exemplo: compre uma xícara do café tal e “salve

Se a maioria das

pessoas não acredita

que a maioria

acredita, é como se

ninguém acreditasse.

Alguém precisa

acreditar por você.

Esse é um aspecto da

ideologia de hoje

filosofia

a vida” de um menino na Guatemala. Nos Estados Unidos, 5% do preço de uma garrafa de água é destinado a paí-ses em desenvolvimento. O ponto é: o preço normal da água é US$ 1, então 5% são 5 centavos. Mas eles cobram US$ 2 porque se você beber daquela água estará ajudando o planeta. É ideologia. Na publicidade de caridade, em jornais ou TV, vejo anúncios com crianças na África que dizem: “Pelo preço de dois cappuccinos, você pode salvar a vida desse garoto...” Ora, o que você veria se colocasse aqueles óculos da ideolo-gia? Algo como: “Somos maus e fod... os africanos, mas pague um pouquinho por caridade e você pode se esquecer disso”. Assim você continua ignorando – e se sentindo bem.

Os capitalistas estão loucos

A caridade hoje não é mais do que uma idiossincrasia, no sentido de que “alguns capitalistas estão loucos”. Ca-ridade é o modo pelo qual o capitalis-mo lida com a pobreza que gera. E se apresenta num discurso de emergência. Qual é a mensagem do carro ecológi-co? É a mesma da esquerda há 30 anos, quando dizia nas sociedades ocidentais: “Vivemos em grandes edifícios, mas de-vemos lembrar que há gente passando fome...” Hoje a mensagem é: “Não complique, esqueça o capitalismo, a ideologia. Pessoas estão passando fome, vamos ajudá-las!” Essa estratégia se utiliza do fato de não termos tempo para a política. Talvez tenha chegado o momento de inverter a clássica tese número 11 [Theses on Feuerbach] de Marx: os ilósofos só interpretaram o mundo, agora é hora de mudar. A pressão para agir, hoje, é uma forma de ideologia. Essa ideia de “não vamos só falar, vamos agir” é uma armadilha. A tese marxista precisa ser invertida: mais do que nunca precisamos pensar, porque pensar signiica justamente agir – quando se conhecem as coordenadas da ideologia existente.

A natureza é desequilibrada.

A ideologia não é apenas uma mi-tiicação. É eiciente porque está em produtos reais. O problema é que não existem só respostas falsas, mas também perguntas falsas. E aí precisamos de crítica. Por exemplo, a ecologia: estou

ciente de que é um problema real, mas digo que vemos a ecologia, predominan-temente, de um jeito meio espiritualista – essa coisa de “o homem moderno usa a tecnologia em excesso e desestabiliza a natureza”, ou ainda “devemos voltar os braços para a mãe natureza”. Essa é uma das mais perigosas ideologias. E, paradoxalmente, tento dizer que a pri-meira lição da ecologia prática deveria ser: não há natureza. A natureza sim-plesmente não existe no sentido de ser um equilíbrio absolutamente natural abalado ou quebrado pelo homem. Se há uma lição de homens inteligentes e progressistas é que a natureza é total-mente louca e desequilibrada. Pense no petróleo: você consegue imaginar que tipo de catástrofe ecológica aconteceu na Terra há milhões de anos para ter-mos petróleo hoje?

A política despolitizada.

A ideologia da tolerância se traduz em como se experiencia o próximo. Falar em tolerância é dizer “ame o próximo e ame você mesmo”. Mas o que isso signiica? Vamos supor: você tem alguém muito próximo, conhece essa pessoa, mas de repente ela faz algo ruim. Aí você pensa: “Será que conheço mesmo essa pessoa?” Ou seja, o próxi-mo vira um estranho – porque tem seus próprios sonhos, medos. Essa situação é parte da típica ideologia liberal sobre to-lerância: o inimigo é alguém cuja histó-ria você não ouviu. Agora cheguei a um ponto importante: se há algo a aprender com a psicanálise é que a história que contamos sobre nós estamos contando para nós mesmos. Não é a verdade, é

uma mentira. Estamos contando his-tórias a nós mesmos para mentir para nós mesmos. Não somos a verdade. E é difícil aceitar que a nossa verdade não está em nós, na nossa experiência inter-na. Você pode ser totalmente sincero sobre a sua experiência, e no im das contas fazer algo contrário a essa ver-dade. No livro de Stephen King, The

Shining, que Stanley Kubrick adaptou

para o cinema, um homem comum se torna assassino e tenta matar a família. A família se torna o próximo... O que quero dizer é que esse “retorno ao pró-ximo” é coisa dos liberais, esse sonho de poder ter um objeto sem pagar por ele o preço real. E o mesmo acontece na política – a política pós-moderna está num estágio de política despolitizada.

Torturando a linguagem.

Estou pronto para fazer algumas clarações mais radicais. Acho que de-veríamos demolir toda essa mitologia de compreender uns aos outros. “Ah, temos que entender uns aos outros”. Não, eu não posso entender. Primeiro porque ninguém está contando a ver-dade: sua história é provavelmente sua mentira fundamental. Como posso te entender se você não entende a si pró-prio? O problema para mim não é en-tender o próximo. O problema é como viver perto de você, sem te conhecer, e mesmo assim te respeitar. Não quero te entender, quero te respeitar. Além disso, quando é que você realmente aceita a outra pessoa? Bem, é preciso uma troca mínima. Então, hoje somos confrontados com a questão do próxi-mo. Vivemos o chamado pós-trauma, uma experiência dramática que pode ser qualquer coisa: violação física, catás-trofe, tsunami, guerra. Quando o trau-ma ica muito forte, você paga o preço sendo privado de toda a profundidade da sua identidade simbólica. Você não consegue mais ter empatia, envolvi-mento, sobrevive como uma concha vazia de você mesmo. Pode parecer confuso, mas inclusive faz parte da própria linguagem. E como decidir so-bre essas torturas de linguagem? Bem, uma autora [Julia Kristeva] diz que a linguagem é uma mentira – então nós devemos torturar a linguagem para ela dizer a verdade. Os ilósofos a torturam o tempo todo. E a arte também.

A natureza não

existe no sentido

de um equilíbrio

natural quebrado

pelo homem. Se há

uma lição de homens

inteligentes é que a

natureza é totalmente

louca e desequilibrada

Referências

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