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Policondrite recidivante com perda auditiva severa.

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Academic year: 2017

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rev bras reumatol.2015;55(2):174–176

w w w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r

REVISTA

BRASILEIRA

DE

REUMATOLOGIA

Relato

de

caso

Policondrite

recidivante

com

perda

auditiva

severa

Francisco

Vileimar

Andrade

de

Azevedo

,

Juliana

de

Deus

e

Albuquerque

e

Deborah

Pereira

Gonc¸alves

HospitalGeralDr.WaldemarAlcântara,Fortaleza,CE,Brasil

informações

sobre

o

artigo

Históricodoartigo:

Recebidoem3deoutubrode2013 Aceitoem20demarçode2014

On-lineem1denovembrode2014

Palavras-chave:

Policondrite Perdaauditiva Vasculite

r

e

s

u

m

o

Policondriterecidivanteéumacondic¸ãorara,imunomediada,caracterizadaporepisódios deinflamac¸ãodeestruturascartilaginosas,principalmenteorelhas,nariz,articulac¸õese sistemarespiratório.Acometetambém estruturas ricasem proteoglicanoscomo olhos, corac¸ão, vasos sanguíneos e ouvido interno. Em torno de 1/3 dos casos apresentam associac¸ãocomoutrasdoenc¸ascomovasculitessistêmicas,doenc¸asdotecidoconectivo ousíndromemielodisplásica.Desordensdoouvidointernoocorremem40%-50%dos paci-entes.Perdaauditivaprofundaérara.Oobjetivodoestudofoidescreverocasodeuma pacientecomdiagnósticodepolicondriterecidivanteassociadoàperdaauditivasevera bila-teralemanifestac¸õesclínicasdevasculitesistêmica.Estetrabalhoreforc¸aaimportânciado diagnósticoprecoceedotratamentoimediatoemcasodemanifestac¸õesseverasdadoenc¸a. ©2013ElsevierEditoraLtda.Todososdireitosreservados.

Relapsing

polychondritis

with

severe

hearing

loss

Keywords:

Policondritis Auditiveloss Vasculitis

a

b

s

t

r

a

c

t

Relapsingpolychondritisisanuncommon,immune-mediatedconditioncharacterizedby episodesofinflammationofcartilaginousstructures,especiallytheears,nose,jointsand respiratorytract.RPalsoaffectsproteoglycan-richstructuressuchastheeyes,heart,blood vesselsandinnerear.Aroundonethirdofcasesareassociatedwithotherdiseasessuchas vasculitides,connectivetissuediseasesormyelodysplasticsyndrome.Disordersoftheinner earoccurin40-50%ofpatients.Profoundhearinglossisrare.Theaimofthisstudywasto describethecaseofapatientwithrelapsingpolychondritisassociatedwithseverebilateral hearinglossandclinicalmanifestationsofsystemicvasculitis.Thisstudyreinforcesthe importanceofanearlydiagnosisandimmediatetreatmentincaseofseveremanifestations ofthedisease.

©2013ElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.

Autorparacorrespondência.

E-mail:vileimar@yahoo.com.br(F.V.A.deAzevedo).

Introduc¸ão

Policondriterecidivante(PR)éumacondic¸ãorara, imunomedi-ada,caracterizadaporepisódiosdeinflamac¸ãodeestruturas http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2014.03.030

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Figura1–Àesquerda,lesãovasculíticano2quirodactilo damãodireita.Àdireita,edemaempavilhãoauricular

poupandolóbulo.

cartilaginosas,principalmenteorelhas,nariz, articulac¸õese sistemarespiratório. Também acomete estruturasricas em proteoglicanos como olhos, corac¸ão, vasos sanguíneos e ouvidointerno.Adoenc¸afoiinicialmentedescritaem1923por Jaksch-Wartenhorst,usandoonomepolicondropatia.Pearson etal.introduziramotermopolicondriteem1960.1Acondic¸ão

afetahomemsemulheresigualmente,podendoservistaem todasasrac¸as.Opicodeincidênciaéentre40e60anos.2

AetiologiadaPRédesconhecida.Apredisposic¸ãogenética ésugerida pelaassociac¸ãocom antígenoleucocitário HLA--DR4.3evidênciasdesurgimentodeautoimunidade,tanto

humoralcomocelular,contracomponentesdamatrizda car-tilagem,comocolágenotipoII,tipoIX,XIematrilina-1.2

RelatamoscasodePRassociadoàperdaauditivaseverae lesõescutâneasvasculíticas.

Relato

de

caso

DMD, 31 anos, feminino, com febre diária há dois meses, associadaa calafrios, astenia,poliartrite, perdaprogressiva bilateraldaaudic¸ão,zumbidoeepisódiosdetontura.Háum mêsevoluiucomaparecimentodelesõescutâneasemmãose membrosinferiores,edemabilateralempálpebraseorelhas, alémdedorcontínuaemregiãodistal2◦quirodáctilodamão

direita.

Ao exame, apresentava artrite em punhos, cotovelos, tornozeloseinterfalangeanas proximais bilateralmente. As lesões cutâneas caracterizavam-se por pápulas,pústulas e placas purpúreas em mãos, pés e regiãoanterior das per-nas.Naorofaringeeramobservadasúlcerasaftosas.Notava-se tambémedemaedoràpalpac¸ãoempavilhõesauriculares, poupandolóbulos,eedemaeeritemabilateralemconjuntiva. Naregiãodistaldo2◦quirodáctilodireitoobservava-secianose

fixa,dolorosaassociadaàreduc¸ãodetemperatura(fig.1). Osexames complementaresevidenciaramanemias nor-mocíticaenormocrômica(hemoglobina7,9g/dL),leucocitose de 16.000 mm3 sem desvio e elevac¸ão de provas infla-matórias:proteína C reativa (PCR,196mg/L), velocidadede hemossedimentac¸ão (VHS, 45mm na 1a

hora). As sorolo-gias para hepatites B e C e HIV foram não reagentes e a

Figura2–Cartilagemhialinaauricularcontendo

numerosascélulasinflamatóriascomdegenerac¸ãoda

matriz.(Hematoxilina-eosina–100×).Nodetalhe,aumento

de400×evidenciainfiltradocompostopornumerosos

neutrófilosassociadoalinfócitosehistiócitos.

pesquisadeautoanticorpos(fatorantinuclear,anticorpo anti-citoplasmadeneutrófilo,fatorreumatoide)ecrioglobulinas foinegativa,assimcomoapesquisadeBAARnalinfa.Coombs direto,dosagemdecomplementos,sumáriodeurina,func¸ão hepática e renal apresentavam-se dentro dos padrões de normalidade.Endoscopiadigestivaalta,radiografiadetórax, ultrassomabdominaledopplerdemembrosforamnormais. Ecocardiogramanão mostroualterac¸ões. Nashemoculturas eurinoculturanãohouvecrescimentodemicroorganismos. Foramrealizadasbiópsiasdalesãocutâneaem2◦quirodáctilo

direitoedopavilhãoauricular.

O diagnóstico de policondrite recidivante foi proposto baseadonasmanifestac¸õesclínicasencontradaseresultado deexamescomplementares.Medianteessesachados, trata-mento comprednisona 1mg/kg/dia foiiniciado. Apaciente evoluiucomresoluc¸ãodafebre,daslesõesemconjuntivaedo quadroarticular,porémsemmelhoradoquadrodesurdeze deisquemiaem2◦ quirodáctiloapósumasemanade

trata-mento.Nessemomento,foidecididoiniciarpulsoterapiacom metilprednisolona1g/diaportrêsdias.

Oestudohistopatológicodopavilhãoauricularevidenciou cartilagemcominfiltradolinfocíticoeneutrofílicoassociado àdegenerac¸ãodamatrizhialina(fig.2).Ohistopatológicoda lesãocutâneadamãodireitaevidenciounecrosecomgrande infiltradodeneutrófiloselinfócitos.

Após pulsoterapia paciente evoluiu com melhora do quadro cutâneo e desaparecimento de dor isquêmica em 2◦ quirodáctilo, porém com perda importante de tecido

por necrosedistal. Foi observada normalizac¸ão das provas inflamatórias (VHS, 10mm na 1a

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Discussão

Pacientescompolicondriterecidivanteapresentamumlargo espectrode sinaisclínicosesintomas quefrequentemente elevamodesafiodiagnóstico.Oscritériosdiagnósticosforam propostos por MacAdam, e requerem três ou mais das seguintes características clínicas: condrite auricular bila-teral, poliartrite soronegativa não erosiva, condrite nasal, inflamac¸ãoocular,condritedotratorespiratórioedisfunc¸ão vestibulococlear.4 Umamodificac¸ão recentedessescritérios

sugerequeodiagnósticopodeserfeitopelapresenc¸adepelo menosumdoscritériosdeMacAdamassociadoàconfirmac¸ão histológicadedanoàcartilagemouàcondriteemduasregiões anatômicasdistintascomrespostaacorticoideoudapsona.5

Apacientedescritaapresentavacondritebilateraldo pavi-lhãoauricular,conjuntivitebilateral,poliartritenão erosiva soronegativa,perdaauditivaneurossensorialeachados histo-patológicoscompatíveis,reunindocritériosparaodiagnóstico dePR.Abiópsiadepavilhãoauricularfoirealizada,porémo histopatológiconemsempreénecessárioparaaconfirmac¸ão diagnóstica.

Odiagnósticoprecoce édifícil. TrenthameLerelataram que o tempo médio para estabelecê-lo é de 2,9 anos.6 A

manifestac¸ãoclínicamaisfrequenteéainflamac¸ão da car-tilagem auricular uni ou bilateral com incidência variando de43%-83%.Artriteéasegundamanifestac¸ãomaiscomum. Em torno de 1/3 dos casos ocorrem em associac¸ão com outrasdoenc¸as,comovasculitessistêmicas,doenc¸asdotecido conectivo ou síndrome mielodisplásica.2 No caso relatado,

alémdecondriteauricularepoliartrite,apaciente apresen-tavaperdaauditivaneurossensorialsevera emanifestac¸ões cutâneascompatíveiscomvasculite.

Desordensdo ouvido interno ocorrem em 40%-50% dos pacientes. Perda auditiva profunda é rara.3,7 Foi relatada

associac¸ão de vasculite cutânea e perda auditiva severa, porémapatogênesedalesãoneurossensorialaindaéincerta. Háhipótesedeumavasculiteobliterativanaartériaauditiva internacausandolesãootológica.8,9Outrahipótese,levantada

porIssingetal.,seriaapresenc¸adeanticorposantilabirinto nosorodepacientescomdisfunc¸ãoaudiovestibular.10

Manifestac¸õesmucocutâneasocorrememmaisde50%dos casos, sendo asúlceras aftosas a alterac¸ão mais comum.2

Avaliac¸ãohistológica daslesões cutâneastem evidenciado, commaiorfrequência,vasculiteleucocitoclástica,infiltrados neutrofílicosetrombosedosvasosdapele.11

Vasculite é observada histologicamente em 14%-25% dos casos, podendo ser indolente ou fulminante, e pode surgir de forma simultânea ou independente de outras manifestac¸ões.12

O tratamento medicamentoso em pacientes que apre-sentam condrite ou artrite deve ser iniciado com anti--inflamatóriosnãohormonais,dapsonaoucorticosteroides. Paraospacientescommanifestac¸õesseveras,vasculite sistê-micaouperdaauditivaneurossensorial,ousodeprednisona 1mg/kg/diaoupulsoterapiacommetilprednisolonaéo trata-mentodeescolha.Emcasosderesistênciaaesteroides,outros agentesimunossupressores,incluindoazatioprina, metotre-xatoe ciclofosfamida, são relatados como sendo úteis. Há

relatodecasosisoladoscomresultadospotencialmente bené-ficosàterapiacomantagonistasdofatordenecrosetumoral.2

No caso relatado, foi iniciado prednisona 1mg/kg/dia para pacientecomquadroclínicocompatívelcomvasculite cutâ-neaelesãoseveraemouvidointerno.Comonãoevoluiucom melhoraesperadadasmanifestac¸õesmaisgraves,foidecidido pelapulsoterapiacommetilprednisolonaeciclofosfamida.

Estima-sequeasobrevidaemcincoanoséde74%. Paci-entes com idade menor que 51 anos evasculite sistêmica apresentampiorprognóstico.13

A policondrite recidivante é uma doenc¸a multissistê-mica, de apresentac¸ão variável, que, em seu espectro de manifestac¸ões, pode levara lesões graves irreversíveis em órgãos-alvo.Éprovávelquenocasorelatado,apermanência desequelaauditivasevera,mesmocominstituic¸ãodeterapia agressiva, sejaexplicadapelotempoprolongadopercorrido, do iníciodas manifestac¸ões clínicas, até o diagnóstico ea instituic¸ão da terapia. Umdiagnóstico precoce associado a umaterapia agressiva,emcasos demanifestac¸õesseveras, podetrazerefeitosbenéficosnaprevenc¸ãodesequelasgraves.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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Referências

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