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Câmara de Topo Aberto, CTA : construção e uso

para observação de potencial tóxico da poluição

atmosférica urbana com bioensaios em plantas

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências

Área de Concentração: Fisiopatologia Experimental Orientador: Prof. Dr. Alfésio Luís Ferreira Braga

(2)
(3)

na manhã seguinte tinha

uma infinidade deles, de modo que hoje,

qualquer um

e portanto nenhum,

pode ser visto como sempre.”

(Trecho da peça Galileu Galilei

(4)

Dedico este trabalho à minha esposa e meus

filhos, lastros essenciais de minha alma,

cúmplices do meu dia a dia e razão maior de

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, no reconhecimento de minha ignorância, ter

colocado ao meu redor tantas pessoas para me auxiliar e amparar em todos

os momentos difíceis que passei, quanto me apoiar nesta jornada.

Agradeço especialmente à Carmen, esposa, companheira e cúmplice

em mais este projeto de vida, de quem não faltou estímulos, incentivos ou

apoio, essenciais ao se enfrentar o desafio desta tese, colocando ainda ao

meu alcance não só os conhecimentos científicos que acumulou em sua

própria vida acadêmica, mas também o conforto do lar e da família. Soube

não dividir, mas multiplicar as oportunidades em que mesmo no convívio da

família pudemos discutir cada detalhe do trabalho, dos dados iniciais às

conclusões finais.

Aos meus filhos, Marina e Luiz Guilherme, meus verdadeiros tesouros,

fonte de aprendizado e luz de alegria, mostrando com seus próprios

exemplos de vida que não existem limites estabelecidos às nossas

potencialidades, cabendo a cada um de nós expandir horizontes e encontrar

caminhos para as nossas realizações. Testemunho em vocês o desabrochar

do espírito, a formação de suas individualidades, a fome de aprender e o

quão importante é a família para esse florescimento enquanto, em

contrapartida, vocês nos nutrem com sua vitalidade e ampliam nossos

horizontes com seus questionamentos e seu desabrochar.

Ao Prof. Dr. Alfésio Luís Ferreira Braga, orientador nesta tese e

parceiro em tantos projetos desde 1998 quando iniciamos nosso convívio

acadêmico e pessoal, que aceitou assumir a árdua tarefa de me orientar em

um tema contendo alguns tópicos de engenharia e biologia. A sua postura

franca, aberta e sempre disponível, mesmo durante seus plantões e viagens,

(6)

Ao Prof. Dr. Paulo Hilário Nascimento Saldiva, capaz de reconhecer e

semear os potenciais acadêmicos em uma pessoa, contagiando a todos com

seu entusiasmo pela pesquisa, o gosto pelo questionamento, sempre

tornando a convivência rica, mas principalmente emocionante, qual

montanha russa, ao não se dignar a “sossegar a periquita” até encontrar o

caminho do conhecimento. Sua visão, capacidade transformadora, espírito

solidário e inesgotável capacidade mobilizadora fizeram com que esta tese

se materializasse em todas as suas etapas. Sua colaboração específica se

estendeu ainda à leitura de lâminas, o que foi feito durante vários dias,

provavelmente, entre as 23 h e 6h da manhã, além de ceder seu próprio sítio

para a cultura dos espécimes vegetais utilizados no experimento.

Ao Prof. Dr. Gÿorgy Miklös Böhm, aposentado na FMUSP há alguns

meses, mas cujo exemplo de dedicação, seriedade e postura deixa em todos

que com ele conviveram nesta escola, uma marca profunda e perpétua.

Aos professores Dra. Marisa Dolhnikoff, Dra. Maria de Fátima Andrade

e Dr. Marcos Abdo Arbex, membros de minha banca de qualificação, pelos

importantes comentários e considerações feitos.

À Dra. Débora-Jã de Araújo Lobo pelo auxílio em todas as etapas

experimentais e laboratoriais, dos cuidados com as plantas, coletas de

materiais, até a preparação e leitura de lâminas. Agregou a qualidade

indispensável aos procedimentos envolvidos neste trabalho, além das

sugerir comentários ao texto final da tese.

Às pesquisadoras Profa. Dra. Regiani Carvalho de Oliveira e Profa.

Angélica Barganha Ferreira, pela realização da análise elementar por

fluorescência de raio-X, agregando seu expertise, esforço e tempo neste

projeto. Tampouco pode ser esquecida a colaboração com artigos dessa

(7)

A Profa. Dra. Ana Júlia de Faria Coimbra Lichtenfels, pelo incansável

trabalho de amostragem de material particulado, expandindo suas

atribuições para suprir, dia a dia, as trocas de filtros e pesagens necessárias.

Ao Sr. Hélio Ramos de Jesus, jardineiro em Caucaia do Alto, pela

preparação e cuidados com as plantas utilizadas neste experimento.

Aos colegas do LPAE, pesquisadores, técnicos, colaboradores,

secretárias, enfim, todos que direta ou indiretamente incentivaram e

apoiaram este trabalho.

Aos meus padrinhos, pela dedicação e exemplo de luta e perseverança

na vida, imagens vivas em minha memória.

Ao meu pai (in memorian) e minha mãe, pela preocupação e zelo na

condução de minha educação e apoio na vida, criando as bases para me

lançar muito além do que lhes foi possível ir em vida. Sua presença em

todas essas etapas, o orgulho estampado em suas feições cada vez que

alcancei um novo degrau deixa em mim uma felicidade que não pode ser

descrita, mas apenas ser objeto do mais profundo agradecimento não só

(8)

Sumário

Resumo

Summary

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

1 INTRODUÇÃO...1

1.1 A origem do homem ...1

1.2 O homem e seu ecossistema ...2

1.3 A sociedade urbana em expansão ...4

1.4 O homem e a poluição ...5

1.5 A busca do desenvolvimento sustentável ...9

1.5.1 Os estudos epidemiológicos...10

1.5.2 Os estudos toxicológicos ...12

1.6 Bioensaios...17

1.7 Bioensaios em câmaras de topo aberto ...20

2 OBJETIVOS ...23

2.1 Objetivo geral ...23

2.2 Objetivos específicos ...23

3 MÉTODOS ...25

3.1 Câmara de topo aberto – CTA ...25

3.1.1 Princípio de funcionamento ...26

3.1.2 Câmara de exposição...27

3.1.3 Sistema de filtragem ...29

3.1.4 Unidade de insuflamento ...33

3.1.5 Sistema de Iluminação ...34

3.1.6 Sistema de umidificação...34

3.2 Espécimes vegetais ...35

3.2.1 Tradescantia pallida cv. purpurea...36

3.2.2 Tradescantia clone 4430 ...36

3.2.3 Tradescantia clone KU20 ...37

3.2.4 Preparação do substrato ...38

3.3 Caracterização ambiental...39

3.3.1 Concentração do material particulado ...39

(9)

3.4 Análise do material acumulado em folhas...46

3.4.1 Coleta e preparação da amostra ...46

3.4.2 Análise por Fluorescência de Raio-X ...47

3.5 Análise de mutação em inflorescência ...51

3.6 Análise de aborto em grão de pólen...52

3.7 Análise de toxicidade em pêlos estaminais...54

3.8 Protocolo de exposição ...55

3.9 Análise estatística ...56

4 RESULTADOS ...57

4.1 Preparação do sistema ...57

4.2 Início da campanha de exposição ...61

4.3 Monitoramento ambiental...62

4.4 Material acumulado em folhas ...67

4.5 Mutação em inflorescência...71

4.6 Mutação em grão de pólen...73

4.7 Toxicidade em pêlo estaminal ...75

4.8 Vitalidade dos espécimes vegetais ...77

5 DISCUSSÃO ...79

6 CONCLUSÕES...87

7 ANEXOS...89

ANEXO A: Dados da coleta de Material Particulado 2,5 μm ...90

ANEXO B: Dados diários da concentração de Material Particulado 10 μm, Temperatura (máxima e mínima), Umidade Relativa do ar (máxima e mínima), Pressão Atmosférica média e Índice pluviométrico acumulado ...92

ANEXO C: Dados obtidos na análise por FRX ...94

(10)

Lista de Figuras

Figura 1 - Esquema da câmara de topo aberto – CTA, identificando cada um dos sistemas que o compõe e o fluxo do ar. ...27

Figura 2 - Vista em corte do sistema de filtragem com a identificação de cada seção de filtragem do ar...30

Figura 3 - Imagem da direita apresenta os componentes do coletor de material particulado, composto por (1) coletor, (2) válvula agulha, (3) bomba de vácuo, (4) totalizador de vazão e (5) medidor de vazão, enquanto na imagem da direita é apresentado o coletor desmontado...40

Figura 4 - Imagem da planilha para registro das pesagens dos filtros utilizados na amostragem de MP2,5 desenvolvidas no aplicativo MS-Excel...42

Figura 5 - Imagem da planilha de campo para registro da exposição de filtros coletores de MP2,5. ...43

Figura 6 - Imagem da planilha para registro das amostragens e cálculo da concentração de MP2,5 desenvolvidas no aplicativo MS-Excel ...44

Figura 7 - Detalhe da instalação dos suportes de madeira, com cordas, dentro da Câmara de Topo Aberto, com a colocação das floreiras com plantas...58

Figura 8 - Vista dos suportes de madeira, com cordas, dentro da Câmara de Topo Aberto, com a colocação das floreiras de plantas ...58

Figura 9 - Vista da colocação dos filtros de ar no sistema de filtragem de ar da Câmara de Topo Aberto. ...58

Figura 10 - Detalhe dos estrados com proteção de sombrite 50%, com a colocação das floreiras com os espécimes vegetais. ...60

Figura 11 - Sistema de coleta de material particulado instalado para o monitoramento da concentração de MP2,5 no ambiente externo à Câmara de Topo Aberto...60

(11)

Figura 13 - Gráficos de caixas da concentração média diária na fração MP2,5 nas condições Filtrado e Não filtrado, no período de 07.dez.06 a 05.fev.07, em μg/m3...64

Figura 14 - Série das Temperaturas máxima e mínima (oC), e das Umidades Relativas máxima e mínima (%), diárias no período de 07.dez.06 a 05.fev.07, obtidas a partir dos dados da estação meteorológica do IAG/USP ...65

Figura 15 -Série do Índice pluviométrico (mmCA) e Pressão

Atmosférica (hPa), diários no período de 07.dez.06 a 05.fev.07, obtidas a partir dos dados da estação meteorológica do IAG/USP ...65

Figura 16 - Gráficos de caixas do total da % de micronúcleos (MN) nas condições Filtrado e Não filtrado...72

Figura 17 - Gráficos de caixas do total da % de abortos em grão de pólen nas condições Filtrado e Não filtrado. ...75

(12)

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Identificação do filtro e características operacionais de cada elemento filtrante do sistema de filtragem ...32

Tabela 2 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

máximos das concentrações (em μg/m3) de MP2,5 do ar nas condições Filtrado e Não filtrado, MP10 e relações entre concentração de MP2,5 filtrado e não filtrado, e MP2,5 não filtrado e MP10...63

Tabela 3 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

máximos das temperaturas mínima e máxima, da umidade relativa do ar mínima e máxima, do índice pluviométrico e da pressão atmosférica, diárias, no período de exposição ...66

Tabela 4 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

máximos da % em peso dos elementos químicos identificados por FRX das folhas colhidas nas condições Filtrado e Não filtrado...68

Tabela 5 - Cargas fatoriais, comunalidades e % de variância explicada obtidas na análise fatorial das variáveis Silício, Enxofre, Ferro, Titânio e Vanádio ...69

Tabela 6 - Estatísticas descritivas dos escores fatoriais nas duas condições de exposição...70

Tabela 7 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

máximos da % de MCN observados nas condições Filtrado e Não filtrado...71

Tabela 8 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

máximos da % de aborto de grão de pólen, nas condições Filtrado e Não filtrado...74

Tabela 9 - Médias, desvios-padrão (DP), mínimos, medianas e

(13)

RESUMO

André PA. Câmara de Topo Aberto, CTA : construção e uso para observação de potencial tóxico da poluição atmosférica urbana com bioensaios em plantas [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 2007. 104p.

A Câmara de Topo Aberto, CTA, foi adaptada para gerar um gradiente da concentração da poluição atmosférica ambiente por material particulado fino, capaz de ser utilizado em experimentos toxicológicos. Uma vez que os aerossóis urbanos são composições quimicamente complexas, com comprovada toxicidade na saúde e mecanismos de ação sobre o homem ainda pouco conhecidos, a utilização conjunta da CTA com sistemas sentinela simples e de baixo custo, capazes de detectar efeitos tóxicos agudos, constituem alternativa para avaliação desse ambiente. A Câmara de Topo Aberto, CTA, foi documentada em termos de dimensões, especificações e características operacionais, e avaliada durante 60 dias. A concentração ambiental média diária de material particulado fino no período foi de 28,6 μg/m3 e a redução média dessa concentração obtida no interior da CTA foi de 75%. Tradescantia clone 4430, KU20 e pallida cv. Purpurea

foram colocadas dentro e fora da CTA para avaliar a resposta de bioensaios nesse gradiente de exposição. O protocolo de mutação em inflorescência (Trad-MCN) foi aplicado nos três espécimes vegetais, e detectou uma menor quantidade de micronúcleos no interior da CTA (p=0,002). Nos clones foram aplicados os protocolos de mutação em pêlo estaminal (Trad-SHM) e aborto em grão de pólen, tendo sido detectada menor resposta para as plantas colocadas no interior da CTA (p=0,007 para pêlo estaminal e p= 0,041 para grão de pólen). Folhas dos três espécimes foram coletadas e submetidas à análise por fluorescência de raio-X. Foi detectada redução na concentração de titânio nas folhas coletadas dentro da CTA (p=0,049). A análise fatorial identificou a presença de fontes de solo e automotiva, com menor concentração observada nas folhas colhidas dentro da CTA. A utilização da CTA com bioensaios no ambiente urbano mostrou ser capaz de detectar efeitos agudos em plantas frente ao gradiente de exposição obtido.

(14)

SUMMARY

André PA. Open Top Chamber : erection and use for toxicological evaluation of urban air pollution using plants bioassay [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”, 2007. 104p.

Open Top Chamber was modified to obtain a differential concentration on environmental pollution capable to be used on toxicological studies. Since urban aerosol constitutes a very complex chemical composition, with well known toxic action on health but requesting clarification about their biological mechanisms, the use of Open Top Chamber with low cost sentinel systems seems to be an alternative to detect acute toxic effects on such environment. Open Top Chamber was described on its dimensional and operational characteristics, and operated on a 60 days campaign. During this campaign the daily average concentration of fine particles was 28,6 μg/m3 and inside the Open Top Chamber it was obtained a reduction about 75% on such concentration. Tradescantia clone 4430, KU20 and pallida cv. Purpurea were placed inside and outside the chamber to evaluate bioassay response on each pollution concentration. The Trad-MCN bioassay detected a lower micronuclei count on plants inside the chamber (p=0,002). Clones were submitted to stamen hair mutation (Trad-SHM) and pollen mother cell abortion protocols, detecting also a lower effect on plants inside the chamber (p=0,007 for stamen hair mutation and p=0,041 for pollen mother cells abortion). Leaves of all spices were collected and submitted to X-ray fluorescence analysis. The titanium concentration was lower on samplers collected inside the chamber (p=0,049). The factorial analysis identified the presence of elements from soil and automotive sources with a lower concentration on samples collected inside the chamber. The combined use of Open Top Chamber with bioassay on urban environment is capable to detect acute effects on plants when submitted to the obtained particulate concentration reduction.

(15)

1 INTRODUÇÃO

1.1 A origem do homem

O homem, desde os primórdios da sua origem animal, sempre

manteve forte ligação de dependência com o meio ambiente.

Na evolução do gênero humano é possível distinguir três etapas

principais. Na primeira, certas espécies de antropóides (nome genérico dos

macacos da superfamília dos hominoídeos que inclui o chimpanzé, o gorila e

o orangotango) conseguiram, com sucesso, se adaptar ao meio ambiente,

na segunda, o Homo erectus, que viveu há cerca de 500.000 anos atrás, se

destacou ao fabricar utensílios e ferramentas, na mesma época em que se

estima ter sido descoberto o fogo, demonstrações claras de sua capacidade

de utilizar os recursos naturais disponíveis para garantir sua sobrevivência, e

passo decisivo para o aparecimento, na terceira etapa, do Homo sapiens, já

entre 200.000 e 350.000 anos atrás nas savanas da África, que se destaca

por sua maior capacidade intelectual. Essa evolução do gênero humano fica

(16)

esse volume é de 400 cc, já no Homo erectus o volume médio era de 900 cc,

enquanto que no Homo sapiens mais arcaico esse volume médio superava

os 1.200 cc (o crânio simiesco descoberto em 1856, perto da aldeia de

Neandertal, tem volume cerebral de 1.600 cm3, avantajado até mesmo em

relação ao Homo sapiens sapiens, com média de 1.400 cc) (Barsa, 1999,

Galhardo, 2007a,b,c).

Haja vista a própria origem etimológica do nome, Homo sapiens,

significando homem racional, essa descendência se diferenciou dos

demais espécimes do planeta por sua capacidade de aprender e

habilidade em incorporar conhecimento ao seu desenvolvimento. Com

isso foi capaz de se adaptar às inúmeras modificações ocorridas no

planeta e suplantar aos demais espécimes animais, impondo-se como

dominante (Barsa, 1999).

1.2 O homem e seu ecossistema

Entretanto, nesse processo evolutivo, também a forma de explorar

as riquezas da natureza se transformou passando da simples atividade

extrativista, da coleta de frutos e plantas, da caça a outros animais, para o

uso extensivo dos recursos naturais quer seja para a construção de

moradia e proteção, para a produção de bens materiais de valor

mercantil, incluindo a exploração de minérios e sua transformação em

(17)

Em que pese a exploração crescente e continuada do meio

ambiente pelo ser humano, o próprio crescimento populacional foi muito

pequeno até antes da Revolução Industrial. Dados históricos estimam

uma população mundial abaixo dos 200 milhões de habitantes até antes

do século 2 AC, tendo atingido o primeiro bilhão de habitantes somente

no início do século XVIII. Nos últimos 200 anos de nossa história se deu

um crescimento mais acelerado, atingindo hoje a marca de 6,5 bilhões

(UN, 1999, USCB, 2006).

Chama-se de Ecossistema a associação estável existente entre uma

comunidade biológica e o ambiente físico onde ela vive. Implica em trocas

contínuas entre solo, plantas e animais, estabelecendo uma cadeia

alimentar. Quando uma população atinge os limites impostos pelo

ecossistema, seus números precisam estabilizar-se ou declinar em

conseqüência de doença, fome, competição, baixa reprodução e outras

reações comportamentais e psicológicas. Caso isso não ocorra, haverá um

desequilíbrio entre as comunidades biológicas e o ambiente físico,

instabilizando as relações estabelecidas na cadeia alimentar, o que traz

sérias conseqüências àquele ecossistema. Mudanças e flutuações no meio

ambiente representam uma pressão seletiva sobre a população, que deve se

ajustar. O ecossistema tem aspectos históricos: o presente está relacionado

com o passado, e o futuro com o presente. Assim, o ecossistema é o

conceito que unifica a ecologia vegetal e animal, a dinâmica, o

(18)

1.3 A sociedade urbana em expansão

Com o desenvolvimento progressivo da organização social do

homem, as atividades de exploração do ambiente, antes restrita ao

suprimento das necessidades para o próprio consumo (Barsa, 1999), foram

se expandindo, estabelecendo vínculos de troca entre os grupos, iniciando

uma atividade comercial com crescimento progressivo, exigindo a expansão

da atividade extrativista. Desse modo, os pequenos grupos nômades deram

lugar a agrupamentos populacionais mais densos e estáveis, localizados em

regiões onde as atividades agrícolas, extrativistas ou industriais podiam ser

realizadas em conjunto com o comércio dos produtos (Barsa, 1999). Essa

transformação culminou no século XVIII com a Revolução Industrial

(Crutzen, Carmichael, 1993), com a utilização de processos produtivos

intensos e a concomitante geração de resíduos dessa atividade como, por

exemplo, produtos da queima de carvão para a geração de energia e do

coque para a metalurgia (Barsa, 1999).

O Fundo das Nações Unidas para Populações, UNFPA (2007), estima

que até o início do século XIX a população urbana não ultrapassava 3% da

população mundial mas, principalmente após a Revolução Industrial, uma

enorme migração do campo para as cidades fez crescer brutalmente a

população urbana, chegando hoje a aproximadamente 47% da população

mundial, em menos de 200 anos.

Os contingentes populacionais cada vez maiores que convergiram para

(19)

toda a mão de obra necessária ao desenvolvimento das atividades industriais

e comerciais em expansão, precisaram ser acomodados e mantidos através

de uma estrutura urbana com moradias, sistema de transporte, rede de

distribuição de alimentação e apoio, gerando e agravando um progressivo

desequilíbrio do ecossistema (Blimbescombe, 1999, Barsa, 1999, André,

2002). Desse modo, tanto nos processos industriais e extrativistas quanto na

ocupação urbana, a emissão e lançamento de grande quantidade de gases e

particulados na atmosfera promoveram uma ação combinada, severa e nociva

sobre o meio ambiente e o próprio homem (Wark et al, 1998).

Assim, desde o início do século XIX, a dinâmica dessa expansão das

populações e a capacidade da Terra em prover alimentos, têm recebido

especial atenção dos estudiosos em ecologia, apesar desse termo ter sido

criado apenas no século XX, uma vez que a reposição natural dos recursos

planetários não mais restabelecia sua disponibilidade original no ambiente, o

que levou ao desenvolvimento de diversos estudos sobre a interação entre

predadores e presas, as relações competitivas entre espécies e,

principalmente, o controle populacional (Barsa, 1999).

1.4 O homem e a poluição

Poluição é o termo empregado para designar a deterioração das

condições físicas, químicas e biológicas de um ecossistema, que pode afetar

(20)

e vegetais. A poluição modifica o meio ambiente, ou seja, o sistema de

relações no qual a existência de uma espécie depende dos mecanismos de

equilíbrio entre processos naturais destruidores e regeneradores (Seinfeld,

Pandis, 1997, Barsa, 1999).

Mesmo antes da existência do homem, a própria natureza já produzia

materiais nocivos ao meio ambiente, como a erupção de vulcões com

grandes emissões de gases e sólidos, as tempestades de poeira originadas

nas áreas com baixa cobertura vegetal, névoa salina próximo ao mar, ou

mesmo alta cargas de pólen e esporos carreados no ar (Seinfeld, Pandis,

1997). Na verdade, uma certa quantidade de materiais sólidos no ar, como

poeira ou partículas de sal, é essencial como núcleos para a formação de

chuvas. Quando, porém, essas emanações aumentam muito, as gotas que

se formam são muito pequenas para cair na forma de chuva, podendo

assim, interferir seriamente no próprio regime pluvial (Barsa, 1999). A essas

emissões naturais se somam os gases e particulados gerados diretamente

em decorrência das atividades do homem, estas chamadas de emissões não

naturais ou antropogênicas, ou resultante da combinação química dos

elementos presentes na atmosfera (Hinds, 1998).

Já no século XIX se podia detectar a existência de graves problemas

ambientais, como mostram os relatos sobre poluição e insalubridade nas

fábricas e bairros operários (Barsa, 1999).

Assim, o ambiente atmosférico, particularmente o urbano, resultante

das emissões promovidas pelas atividades econômicas ou decorrentes da

(21)

em um novo ambiente, tanto em termos de elementos químicos presentes

nos estados gasosos ou particulados, quanto nas concentrações

encontradas, comparados com os ecossistemas originais (Word Resources,

1996), cujos efeitos na saúde são pouco conhecidos, enquanto os

contingentes populacionais a ele expostos são cada vez maiores em face do

adensamento urbano (WHO, 1996, UNFPA, 2007).

Em decorrência do aumento das emissões de poluentes originados

tanto pelo crescimento das atividades industriais como pela ocupação

urbana, durante o século XX ocorreram vários episódios de poluição com

grande impacto, que merecem destaque quer seja pela magnitude do efeito,

quer seja pelo impacto social promovido na sociedade moderna, mais

humanista e democrática:

Vale de Meuse, 1930

No início de dezembro de 1930, uma espessa névoa cobriu uma

grande parte da Bélgica. A região do vale de Meuse, densamente povoada,

estava entre elas. Nesse período a atmosférica fria e quase sem vento, não

permitiu a dispersão da fumaça emitida pelas inúmeras fábricas ali

instaladas, aumentando progressivamente a concentração dos poluentes na

atmosfera, que atingiu a máxima concentração em dois dias.

Algumas horas após atingir esse pico de poluição, e durante os 3 dias

em que essa concentração se manteve antes de dispersar, alguns milhares

de casos de doenças pulmonares agudas foram notificadas além do registro

(22)

causa majoritária dos efeitos em saúde registrados, a alta concentração de

dióxido de enxofre e seus compostos oxidativos, além de compostos de flúor

(Roholm, 1937).

Donora, 1948

A pequena cidade industrial de Donora experimentou um episódio de

severa inversão térmica no final de outubro de 1948. No período de quase 5

dias que se seguiram, pela impossibilidade de dispersão dos poluentes

emitidos pelas industrias ali instaladas, houve a saturação da atmosfera com

uma carga de material particulado e outros contaminantes, comprometendo

até mesmo a visibilidade local.

Nesse período, dos 14.000 habitantes locais, cerca de 7.000

adoeceram, dos quais 400 necessitaram de internação hospitalar e 20

morreram (Helfand et al., 2001).

Londres, 1952

Mas talvez o mais severo e marcante evento de poluição atmosférica,

em termos de efeitos à saúde, tenha ocorrido em Londres. Conhecida por

seu típico fog, Londres era uma cidade com alto consumo de carvão, quer

seja para o uso doméstico, na geração de eletricidade em termelétricas, ou

mesmo para o consumo industrial.

Entretanto, um atípico e denso fog se instalou entre os dias 5 e 9 de

(23)

dióxido de enxofre emitido, uma atmosfera altamente agressiva e letal, como

comprovado pelo excedente de mais de 3.000 mortes registradas apenas

nas primeiras três semanas de dezembro. Apesar dos estudos iniciais

atribuírem parte dessas mortes a uma epidemia de gripe, a poluição

atmosférica foi relacionada como uma das principais explicações para o

ocorrido (Bell, Davis, 2001).

1.5 A busca do desenvolvimento sustentável

Esses eventos mostraram, sem sombra de dúvidas, que a poluição

atmosférica era capaz de afetar a saúde das populações expostas, mas não

se sabia exatamente a extensão dessa ação e tampouco os mecanismos de

sua atuação no organismo humano (André et al., 2000).

Essa constatação gerou uma forte pressão das sociedades

organizadas sobre os governos, para estabelecer uma legislação ambiental

capaz de permitir que o crescimento econômico, necessário para o

desenvolvimento das sociedades, pudesse ser feito com base na

manutenção e proteção ao meio ambiente e garantindo a própria saúde e

integridade do ser humano (WHO, 1996).

Porém, antes de estabelecer qualquer legislação havia a necessidade

de se compreender os mecanismos e formas de ação dos poluentes sobre

(24)

Para tanto foi necessário contar com o auxílio da comunidade

científica para analisar esses eventos e desenvolver outros estudos que

permitissem compreender os mecanismos biológicos e toxicológicos

envolvidos, lançando mão de experimentos epidemiológicos e toxicológicos

para identificar e caracterizar a ação dos diversos agentes poluidores,

estabelecendo com clareza a relação entre causas e efeitos, principalmente

sobre a saúde humana (WHO, 1996, André et al, 2000).

1.5.1 Os estudos epidemiológicos

Os estudos epidemiológicos vêm desempenhando um importante

papel para a compreensão dessa relação (André et al., 2000). Neste tipo de

estudo uma amostra da população é analisada em conjunto com a

exposição ambiental e outros fatores que influenciem a relação entre ambos,

de modo a permitir inferir uma relação causal entre ambos (Rothman,

Greenland, 1998, André et al., 2000).

Considerando que fatores de ordem ética limitam a utilização de seres

humanos em estudos com exposições controladas, uma vez que essa

exposição pode causar uma doença, a maior parte dos estudos

epidemiológicos realizados é do tipo observacional, isto é, quando voluntária

ou involuntariamente pessoas são expostas a algum agente atmosférico

potencialmente perigoso, sem interferência intencional sobre a intensidade

(25)

Quando se pretende estudar os efeitos agudos de uma exposição

ambiental, ou seja, quando os efeitos sobre a saúde ocorrem logo após a

exposição, os estudos epidemiológicos do tipo ecológico e caso-controle são

os mais empregados. Já efeitos crônicos, quando a exposição precisa ser

realizada para permitir o acumulo das substâncias antes de disparar um

processo de resposta biológica no organismo, são mais bem avaliados em

estudos epidemiológicos de coorte (André et al., 2000).

Nos estudos caso-controle, a exposição é avaliada em termos

individuais, em dois grupos, enquanto nos estudos do tipo ecológico a

exposição é considerada em termos de uma população. Em ambos os

estudos, o resultado da avaliação é obtido em um espaço de tempo reduzido

e a um custo reduzido (Rothman, Greenland, 1998, André et al., 2000).

Por essas razões, a Organização Mundial de Saúde, (WHO, 1996)

vem recomendando a utilização desses estudos em países pobres ou em

desenvolvimento, onde o crescimento econômico é habitualmente priorizado

sem que haja o necessário cuidado para se evitar impacto ambiental, quer

seja pela urgência no crescimento econômico, pela não disponibilidade de

conhecimento para conduzir as avaliações, ou mesmo pela indisponibilidade

de recursos financeiros para realizá-las.

Assim, ao fornecer a esses países o estado da arte em estudos

epidemiológicos, de baixo custo e rápida realização, é possível reverter a

tendência atual de crescente prejuízo ambiental, ao mesmo tempo em que

habilita pesquisadores locais a realizar tais estudos, suprindo os tomadores

de decisão com melhores informações para legislar e planejar suas

(26)

Já os estudos do tipo coorte partem de grupos da população que não

têm a doença em estudo mas apresentam diferentes graus de exposição à

sua possível causa, acompanhando-os ao longo do tempo para medir e

comparar a taxa de incidência da doença em cada um dos grupos da coorte.

Este tipo de estudo pode considerar tanto efeitos crônicos quanto agudos, e

seus resultados normalmente são obtidos após longo período de tempo,

envolvendo custos mais altos para sua realização (Rothman, Greenland,

1998, André et al., 2000).

De uma maneira geral, os estudos epidemiológicos tem demonstrado

que o material particulado da poluição atmosférica apresenta uma relação

mais consistente com os desfechos de saúde analisados (Pope et al., 1995,

Schwartz, 1994, Schwartz, Dockery, 1992, Pope, Schwartz, Ramsom, 1992)

mas, claramente indicam a necessidade de estudos específicos para

esclarecer os mecanismos biológicos envolvidos e demonstrar a

plausibilidade da associação através de estudos toxicológicos (Saldiva et al.,

2002, Clark et al., 1999).

1.5.2 Os estudos toxicológicos

Desse modo, os estudos toxicológicos, mais do que competir com os

estudos epidemiológicos, vem complementar a cadeia de conhecimentos

necessário para entender os fenômenos da relação poluição atmosférica e

(27)

Uma das maiores preocupações na atualidade para os grandes

centros urbanos, as emissões por fontes automotivas, tem demandado a

realização de inúmeros estudos toxicológicos utilizando animais ou plantas

colocados em câmaras de exposição conectadas a motores diesel ou ciclo

Otto, ou pela instilação em animais ou tecidos do material coletado na

exaustão desses motores. Vários efeitos foram identificados como

inflamação do pulmão, danos fisiológicos e mutações, além da obtenção das

toxicidades relativas de diferentes combustíveis e tecnologias de motores

(Massad et al., 1986, Reed et al., 2006, Turrio-Baldassarri et al., 2006,

Oliveira et al., 2005, Seagrave et al., 2002, Saldiva et al., 1992).

Também o estudo toxicológico de gases como o monóxido de

carbono tem sido realizado em laboratórios para investigar efeitos agudos e

crônicos, utilizando para isso animais, bactérias, cérebro ou outros tipos de

tecidos, em ambientes enriquecidos com esses gases. Estresse oxidativo,

desordem cardíaca e falhas do coração, dano ao tecido cerebral, alterações

nas características do sangue ou dos parâmetros respiratórios foram

observados (Dadidova et al., 2005, Tofighi et al., 2006, Melin et al., 2005,

Mirza et al., 2005, Lee et al., 2005, Gu et al., 2005, Gosh et al., 2005).

Para os estudos toxicológicos com ozônio, as mesmas abordagens

acima tem sido empregadas, incluindo também estudos com plantas,

espécimes mais sensíveis que animais ou humanos, para isso. Exposições

“in vitro” e câmaras de exposição com enriquecimento de ozônio são

utilizadas para essa exposição, criando diferentes ambientes (Foucaud et al.,

2006, Huffman et al., 2001/2006, Moraes et al., 2006, Novak et al., 2003,

(28)

Devido à alta reatividade do ozônio sua absorção se processa quase

exclusivamente por inalação, apesar de ser plausível imaginar que ele

também afete as camadas mais externas da pele ao exaurir as vitaminas C e

E (Rojas et al., 2000;Valacchi et al., 2004).

Apesar de muito úteis no estudo da toxicidade dos poluentes, esses

estudos esbarram na limitação de não representar adequadamente a

atmosfera real, quer seja pela impossibilidade de reproduzir sua composição

e dosagem, ou tampouco os efeitos sinérgicos da interação entre os

poluentes presentes. No caso específico de componentes muito reativos ou

voláteis essa limitação torna-se uma restrição, impedindo considera-los na

exposição. Desse modo a transferência direta dos resultados obtidos nesses

estudos não pode ser feita para os seres humanos.

Concentrador de partículas atmosféricas

Para permitir que as características reais do ambiente atmosférico de

interesse seja plenamente considerado, foi desenvolvido o concentrador de

partículas atmosféricas, particularmente o construído pela Escola de Saúde

Pública da Harvard, que capta o ar ambiente e consegue concentrar seus

componentes de maior massa, o material particulado, até uma taxa de 27

vezes da concentração original do ambiente, disponibilizando-o em uma

câmara de exposição até poucos segundos de sua captação, evitando

qualquer degradação dos seus componentes (Sioutas et al., 1995, Godleski

et al., 2000). Uma das vantagens no uso desse equipamento reside no fato

(29)

uma carga de poluentes que só seria realizada em vários dias no ambiente

real. Essa vantagem é particularmente interessante ao reduzir ou eliminar

muitas condições de viés experimental, ou seja, aqueles com potencial para

interferir nos resultados do estudo (Sioutas et al., 1995,1997), como por

exemplo, evitar que os animais fiquem longos períodos em condições

ambientais não controladas, quando estão sujeitos a contaminação, permitir

melhor caracterização da exposição, uma vez que não se está sujeitando a

exposição às variações que ocorrem ao longo do dia e da semana, mas

apenas com poucas horas de duração (Sioutas et al., 1995,1997).

Desse modo, todos os componentes presentes na atmosfera em

estudo, gasosos ou particulados, mesmo que não medidos durante o

experimento, permanecem durante a exposição, mantendo as características

da poluição fresca real (Sioutas et al., 1997).

Estudos utilizando esse equipamento verificaram a existência de

efeitos da poluição atmosférica nos sistemas respiratório e cardiovascular,

em animais (Saldiva et al., 2002, Sioutas et al., 1995,1997, Godleski et al.,

2000, Clark et al., 2000) e humanos (Gong et al., 2004).

Apesar da grande contribuição desse tipo de equipamento aos

estudos toxicológicos, sua utilização ainda é bastante restrita devido à

existência de apenas poucos exemplares no mundo, aos altos custos

envolvidos na aquisição, operação e manutenção, sem mencionar a

necessidade de habilitar pessoal técnico para operá-lo. Também não deve

ser esquecido que menos de 50% desses concentradores são móveis.

(30)

operacionalização no local onde a poluição atmosférica de interesse está, é

uma tarefa de certa complexidade logística.

Exposições em múltiplos locais

Uma alternativa utilizada para analisar o potencial tóxico da poluição

de um local, é o de manter grupos de animais ou plantas em diferentes

locais onde em um deles o poluente de interesse está presente enquanto

no outro local não. Os problemas dessa abordagem passam pela

impossibilidade de se encontrar dois locais que se diferenciem apenas pela

presença/ausência do poluente, normalmente outros fatores também

variam entre os locais como temperatura, umidade relativa do ar, nível de

insolação, entre outros. Também esse desenho experimental exige a

disponibilização de duas estruturas de apoio para sua operação e

manutenção, criando barreiras adicionais para eliminar fatores de

confundimento, ou seja, fatores que podem interferir com a exposição ou o

desfecho em estudo no experimento.

Câmara de topo aberto

Um dispositivo alternativo ao concentrador de partículas atmosféricas

e à realização de exposição simultânea de espécimes em dois diferentes

locais, é a câmara de topo aberto.

Derivadas de câmara desenvolvidas para fumigação de plantas

(31)

a lado, onde uma recebe ar pré-condicionado em filtros, e outra o ar

ambiente fresco, criando desse modo dois ambientes que diferem apenas

pela ausência dos elementos retidos pelo sistema de pré-condicionamento.

Desse modo, ao manter animais ou plantas em exposições de longa duração

nas duas câmaras, obtêm-se um gradiente na exposição de interesse sem

que outros fatores ambientais, de confundimento, também variem, evitando

interferência na análise do experimento.

Comparado ao experimento em múltiplos locais, o uso de câmaras de

topo aberto permite que o gradiente de exposição e todo o experimento

sejam realizados em um único local físico, sem a necessidade de dispor de

duas estruturas de apoio ou dois grupos de pesquisadores para isso, com

direta redução de custos e eliminação de viés experimental.

1.6 Bioensaios

Segundo Ma (1994) a poluição ambiental gerada pelo homem, e

genericamente chamada de antropogênica, assume muitas vezes aspectos

perceptíveis, ou simplesmente visíveis, de maneira que pode-se

rapidamente identificar sua presença e perseguir ações mitigadoras, mas a

mais perigosa é aquela invisível, que passa desapercebida, na forma de

combinações ou misturas, capaz de se difundir no meio ambiente sem

nenhuma percepção de sua presença até que suas conseqüências mais

(32)

Nesse contexto, Ma (1994) lembra da importância de adotar um

sistema de alerta primário, a exemplo dos mineiros que carregavam canários

em seus capacetes ao entrar nas minas para que, em caso da presença de

gases tóxicos, mesmo em dosagens imperceptíveis para os seres humanos,

os efeitos no animal já dessem um aviso do risco no ambiente, antes que

conseqüências irreversíveis ocorram.

Apesar de já terem sido desenvolvidos protocolos de bioensaios

sensíveis para detectar poluentes atmosféricos desde a década de 30 do

século XX, muito pouco desses protocolos foi utilizado na análise ambiental

até há poucas décadas. Alguns desses protocolos demostraram ser

adequados apenas em exposições laboratoriais “in vitro”, como os que

utilizam tecidos, células ou animais, enquanto outros são pouco sensíveis ou

demandam muito tempo até produzir seus resultados (Ma, 1994).

Dentre os protocolos existentes mais sensíveis, rápidos e simples

de realizar, bioensaios com plantas são os mais freqüentes, utilizando

células germinativas como células alvo do sistema biológico.

Normalmente os espécimes vegetais superiores (vasculares) dispõem em

seu botão de flor camadas muito porosas onde a difusão dos poluentes

atmosféricos ocorre sem dificuldade, de maneira bastante rápida. Assim,

as células germinativas são facilmente expostas ao agente tóxico contido

na atmosfera (Ma, 1994, Krupa, Legge, 2000, Constantin, 1978, Manning,

2002, Rodrigues, 1997).

A utilização dos bioensaios com plantas na avaliação da

(33)

avaliação qualitativa e quantitativa da ação dessa contaminação, com o

intuito de estabelecer os riscos impostos aos sistemas biológicos. Apesar de

não haver ainda um consenso entre os diversos autores, vamos aqui

denominar genericamente de biomonitoramento a utilização de plantas para

esse propósito.

Os protocolos de bioensaio já padronizados, desenvolvidos para a

planta Tradescantia são o de mutação em pelo estaminal, denotado por

Trad-SHM, e o teste de mutagênese em célula-mãe de pólen, denotado por

Trad-MCN.

No protocolo Trad-SHM, a cor dos filamentos do estame é resultado

de um gene dominante. A ação do agente tóxico presente na atmosfera

provoca a mutação desse gene, e a conseqüente mudança da cor do

filamento para rosa. A freqüência dessa mutação é uma função proporcional

da toxicidade da exposição, permitindo uma quantificação do efeito (Ma

et al., 1994, Rodrigues, 1997).

No protocolo Trad-MCN, a ação tóxica do poluente ocorre durante o

processo de acelerada atividade de duplicação do material genético que

ocorre no botão jovem da flor, processo esse mais corretamente descrito

como replicação meiótica do cromossomo das células-mãe do pólen,

promovendo mutação ou quebra do cromossomo. No processo natural de

reparação desses danos, a anomalia ocorrida se transforma em um material

que é segregado, formando o chamado micronúcleo. Assim, o micronúcleo é

o rejeito da reparação do dano provocado pelo ataque do agente tóxico (Ma,

(34)

Vale destacar que as células germinativas em animais são bastante

protegidas e blindadas do ataque direto de substancias tóxicas. Assim,

qualquer substância precisa primeiramente entrar no organismo através do

sistema circulatório, atravessando vários órgãos desse sistema e

sobrevivendo aos diversos mecanismos naturais de defesa, antes de atingir

os testículos ou ovários do animal. Com isso o potencial tóxico da substância

originalmente dispersa no ar fica bastante diluído e atenuado ao chegar a

esse destino (Ma, 1994).

Outro método bastante interessante de identificar compostos

presentes no ar com a utilização de plantas, é a bioacumulação, isto é, o

material particulado presente no ar que se deposita na superfície das folhas

e penetra na estrutura das folhas, ficando retido. Esse processo se inicia por

simples penetração do material nos canículos da cutícula dos estômagos,

até chegar aos espaços intracelulares. Após isso, por processo metabólico,

há a passagem desse material para o interior das células (Keane et al.,

2001, Malavolta, 1985, Carneiro, 2004).

1.7 Bioensaios em câmaras de topo aberto

Nos países desenvolvidos, particularmente na Europa, redes de

biomonitoramento com plantas vem sendo implantadas como uma etapa

complementar ao monitoramento instrumental da qualidade do ar, pois

(35)

sejam incorporados ao modelo a nível de microregiões, o que seria técnica e

economicamente inviável de se realizar com monitoramento instrumental.

Além disso, sua implantação e operação é simples de ser feita e de baixo

custo, e os resultados que oferece são fáceis de ser demonstrados para a

população, permitindo que a comunidade compreenda e participe das

políticas ambientais (Klumpp et al., 2001).

Por sua vez, também na Europa, câmaras de topo aberto tem sido

largamente utilizadas para simular ambientes com a injeção de gases de

interesse, particularmente com ozônio (Manning et al., 2004, Manning,

Godzik, 2004, Manning, 2002, Bergweiler, Manning, 1999), mas muito

poucos experimentos utilizam a exposição ambiente local.

Essa constatação pode ser entendida ao considerarmos que, nessas

regiões, mesmo com o forte adensamento nas cidades, concentrando hoje

quase 65% da população, a implantação de políticas públicas para controle

de emissões de poluentes tem sido eficientemente realizada.

Por outro lado, é nas grandes cidades dos países em desenvolvimento

ou não desenvolvidos, mesmo não contando com tão forte adensamento

populacional, que encontram-se ao regiões urbanas com os maiores níveis de

concentração de poluentes, quer seja pela falta de planejamento das instalações

urbanas, pela inadequação dos seus sistemas de transporte, pela baixa

qualidade de seus combustíveis, pelo envelhecimento das frotas de veículos,

pela falta de cumprimento de uma legislação ambiental, ou mesmo pela

inexistência de tal legislação, enfim, até mesmo por não haver monitoramento

adequado dos parâmetros ambientais (WHO, 1996, World Resources, 1996,

(36)

A cidade de São Paulo é uma das maiores cidades do mundo,

concentrando aproximadamente 17 milhões de habitantes em sua região

metropolitana (UN, 1999). Estudos realizados em câmaras de topo aberto na

cidade com animais e plantas tem sido capazes de estabelecer um gradiente

de exposição e identificar vários desfechos em organismos vivos (Mohallem

et al., 2005, Pires-Neto et al., 2005, Lemos et al., 2006), alguns deles ainda

em desenvolvimento.

Desse modo o uso combinado de câmaras de topo aberto e

bioensaios com plantas pode ser uma alternativa suficientemente sensível,

de baixo custo e fácil de ser transportada para permitir sua utilização como

sistema para avaliar o potencial tóxico de diferentes regiões urbanas, tão

necessário para um país com tantas cidades e regiões metropolitanas com

altas concentrações de poluição atmosférica.

Entretanto, o único equipamento disponível para realizar esses

experimentos no Brasil, está instalado nos jardins da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo e foi seguidamente reformado em função de

problemas históricos e danos a alguns de seus componentes, não existindo

qualquer estudo que descreva sua construção e parâmetros de operação,

capaz de permitir a construção de sistemas similares para a expansão de

seu uso em situações similares de interesse. Tampouco foram feitos ensaios

simultâneos com diversos espécimes vegetais, testando os desfechos e

(37)

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

• Demonstrar as características operacionais da Câmara de Topo

Aberto e sua capacidade para estabelecer um gradiente de exposição

em cenário urbano, sensível a protocolos toxicológicos com plantas.

2.2 Objetivos específicos

• Descrever a construção, os parâmetros e as características de

projeto dos componentes mecânicos da câmara de topo aberto,

CTA, incluindo os sistemas seletivos de filtração de ar, no uso em

ambiente urbano;

• Utilizar bioensaio com protocolos de micronúcleos (Trad-MCN),

(38)

demonstrar a capacidade de identificação do gradiente de

exposição gerado na CTA;

• Utilizar bioensaio com protocolos de mutação em pelo estaminal

(Trad-SHM), com Tradescantia clones 4430 e KU20, para

demonstrar a capacidade de identificação do gradiente de

exposição gerado na CTA;

• Utilizar bioensaio com protocolo de mutação em grão de pólen, com

Tradescantia clones 4430 e KU20, para demonstrar a capacidade de

identificação do gradiente de exposição gerado na CTA;

• Utilizar bioacumulação, com o uso de Tradescantia clones 4430 e

KU20, e a espécie localmente disponível, Tradescantia roxa, para

comparar a acumulação dessas plantas quando utilizada em CTA

(39)

3 MÉTODOS

3.1 Câmara de topo aberto – CTA

A Câmara de Topo Aberto, daqui em diante denominada como CTA,

utilizada neste experimento, estava armazenada no Instituto de Botânica,

como contrapartida de sua participação em experimentos conduzidos em

conjunto com organizações de pesquisas estrangeiras em Cubatão, SP, na

década de 1980. Sem operar há anos, estava danificada pelas condições de

armazenamento precárias e inadequadas.

Entre 1998 e 2002 foi feita a reforma estrutural do equipamento e a

substituição dos ventiladores, para restabelecer sua funcionalidade original.

Entre 2002 e 2004 foi incorporado ao sistema de filtragem de ar mais um

estágio de filtragem mecânica, com filtro de alta eficiência, High Efficiency

Particulate Air filter, HEPA (US-DOE, 1997).

A CTA é basicamente composta por três partes: câmara de

(40)

Além disso, conta hoje com um sistema de iluminação para permitir

melhor controle de luminosidade, particularmente crítico em experimentos

com plantas, e muito útil em experimentos com animais.

Um sistema de umidificação está instalado para experimentos com

plantas, para permitir simultaneamente manter a hidratação do espécime e

evitar que flores e folhas sejam lavadas pela rega normal, que provoca

remoção de material depositado nas folhas e embaralha filetes dos estames.

3.1.1 Princípio de funcionamento

A estrutura principal da CTA, chamada câmara de exposição, é um

volume parcialmente segregado do ambiente externo. Um ventilador,

conectado à parte inferior dessa câmara, insufla ar captado no ambiente

externo, promovendo a contínua renovação de ar na câmara. Por uma

abertura na parte superior da estrutura sai o ar deslocado. Assim, o volume

interno da câmara é continuamente trocado a uma taxa entre 2,6 a 3,0 vezes

por minuto, o que impede o retorno de ar pela abertura superior.

Pode-se conectar uma unidade de filtragem à sucção do ventilador de

modo a, seletivamente, restringir a passagem de algum elemento ou

componente presente no aerossol do ambiente externo para a câmara de

exposição. A essa restrição denomina-se pré-condicionamento do ar.

O arranjo acima, representado na Figura 1, composto por câmara,

ventilador e unidade de filtragem, cria um ambiente interno idêntico ao

externo, exceto pela menor concentração dos elementos selecionados feita

(41)

Assim, pode-se intencionalmente obter um gradiente de concentração

de um elemento entre os ambientes externo e interno à câmara, adequado

ao estudo toxicológico, enquanto as demais características ambientais

permanecem idênticas, reduzindo o viés do experimento.

Figura 1 - Esquema da câmara de topo aberto – CTA, identificando cada

um dos sistemas que o compõe e o fluxo do ar

3.1.2 Câmara de exposição

A câmara de exposição é formada por uma estrutura metálica em

alumínio, de forma cilíndrica vertical, com 2 m de diâmetro interno, recoberta

externamente com uma película plástica.

Perfis do tipo U com 2” calandrados formam os anéis que dão a forma

cilíndrica da câmara, colocados no piso, no topo e mais um anel

intermediário. Perfis tipo U de 1” interligam e travam esses anéis, colocados

na vertical e na forma de X. A fixação entre esses perfis metálicos é feita

(42)

Ao primeiro segmento cilíndrico vertical, com 1,60 m de altura,

conecta-se um segmento cônico com altura de 0,55 m que reduz a seção

circular para o diâmetro de 1,60 m.

Acima do segmento cônico, alinhada ao eixo do cilindro e cone, e

separado por uma altura de 0,5 m, está colocada uma cobertura tipo domo,

na forma de segmento de esfera. Forma-se, assim, um espaço aberto acima

da face superior do cone e abaixo do domo.

O volume interno da CTA, perfaz 6,4 m3.

A cobertura da superfície do domo, do cone e do cilindro é feita com

uma película plástica flexível e transparente, com lining para filtrar raios

ultravioleta. A amarração da película na estrutura metálica é feita com o uso

de cordão de algodão passado por dentro de um bolsão nas extremidades

do plástico, apertado sobre a superfície externa das vigas circunferenciais

nos extremos do cilindro, cone e domo.

A película plástica que cobre a seção cilíndrica da câmara é dupla

acima do piso até a altura de 0,80 m, formando um bolsão, com furos com

diâmetro de 5 cm na superfície interna. Uma manga de mesmo material

plástico liga o bolsão ao exterior, para ser acoplado à saída do ventilador.

Desse modo, o ar insuflado pelo ventilador é conduzido para o bolsão

formado pelo plástico duplo, que é transferido para a câmara interna de

forma homogênea e sem grande turbulência, através dos furos na superfície

do plástico interno.

A estrutura é apoiada em uma laje de concreto lisa e nivelada sobre o

(43)

conjunto ao vento. A vedação entre estrutura e laje é feita com espuma de

poliuretano expansível.

A instalação elétrica local foi dimensionada para alimentar, proteger e

comandar o ventilador, iluminação e tomadas elétricas adicionais para

equipamentos de monitoramento e manutenção. Nessa instalação elétrica

também estão instalados 2 programadores de tempo (timer), capazes de

diariamente, na hora programada, ligar e desligar os circuitos que acionam a

válvula solenóide, responsável pela alimentação de água potável do sistema

de gotejamento para plantas, e a iluminação interna da CTA.

Na viga circunferencial do domo da câmara foram instalados dois

perfis metálicos próprios para fixação das luminárias do sistema de

iluminação e das tomadas elétricas.

Os espécimes que serão expostos podem ser colocados no interior da

câmara de exposição sobre prateleiras apoiadas no piso ou encaixadas em

estruturas de madeira penduradas nos mesmos perfis metálicos de fixação

das luminárias. Este segundo arranjo permite uma melhor ventilação entre

os vasos e floreiras pois apresenta uma menor obstrução ao fluxo de ar

interno ascendente dentro da câmara.

3.1.3 Sistema de filtragem

O sistema de filtragem de ar, responsável pelo condicionamento do ar

a ser injetado na CTA, é uma estrutura construída em perfis de aço tipo

(44)

sistema de filtragem são encaixados. Essa estrutura é fechada lateralmente

por painéis de chapa aço pintado rebitados ou fixados por parafusos, de

modo a permitir o acesso para troca dos filtros removíveis.

O ar captado em uma das extremidades da estrutura, é conduzido

através dos diversos estágios de filtragem de ar até a extremidade oposta,

onde um tubo flexível conecta o sistema à entrada do ventilador de

insuflamento da CTA. Assim, ao longo de todo o percurso do ar na caixa do

sistema de filtragem, temos uma pressão inferior à do ambiente. Para evitar

contaminação do ar externo, em todas as chapas de fechamento removíveis

estão instaladas guarnições de espuma de borracha.

A seção interna padrão dessa caixa é quadrada com 0,61 m de lado,

onde são instalados suportes adequados à fixação de cada elemento

filtrante. Na Figura 2 é apresentada uma vista em corte da caixa onde são

identificados cada um desses estágios de filtragem: captação, filtro inicial em

dois estágios, filtro químico em dois estágios, filtro fino e filtro extrafino.

Figura 2 - Vista em corte do sistema de filtragem com a identificação de

(45)

No caso do presente experimento não foram instalados os estágios do

filtro químico, mantendo apenas a retenção de material particulado que,

historicamente, é o poluente mais significativamente relacionado a saúde

humana (Dockery, 2001, Pope, Dockery, 1999, Samet et al 2000, Schwartz

et al 1996) e mais fácil de monitorar em experimentos toxicológicos. Apesar

de já terem sido realizados na CTA vários protocolos com o uso de filtragem

química, muitas dificuldades envolvem sua utilização: redução obtida na

concentração dos poluentes de interesse não foi alta, o monitor Trigás

disponível para monitoramento de gases, requer significativo apoio

laboratorial e sua adoção em protocolos para relacionar suas medidas às da

rede da CETESB, NO2 adotado é valor máximo de 1 h e SO2 adotado é

média de 24 h (CETESB, 2002), não viabilizam sua utilização nesses

experimentos, principalmente considerando os longos períodos de

exposição, além da grande variação na concentração de gases durante as

24 h; os filtros químicos utilizados na década de 1980 não são atualmente as

melhores opções disponíveis no mercado, carecendo do desenvolvimento de

testes para sua seleção e validação (Mohallem et al, 2005).

A seguir são descritos os estágios de filtração utilizados:

• Captação: composta por defletores e telas que evitam a entrada de

água de chuva ou insetos e folhas durante a captação de ar. São

peças não substituíveis fixadas diretamente à estrutura.

• Filtro inicial 1o estágio: composto por um filtro tipo plissado de

média eficiência de filtragem (30 a 35% ASHRAE). O filtro instalado

(46)

• Filtro inicial 2o estágio: composto por filtro tipo bolsa de média

eficiência de filtragem (60 a 65% ASHRAE). O filtro instalado é o

modelo TB-60 tamanho 12”x24”x15” fornecido pela Purafil.

• Filtro fino: composto por filtro tipo plisado de alta eficiência de

filtragem (87% ASHRAE). O filtro instalado é o modelo JFL-90

tamanho 24”x24”x5” fabricado pela Purafil.

• Filtro HEPA: composto por filtro tipo plissado com eficiência de

filtragem de 99,97% (ASHRAE) para material particulado com

diâmetro de 0,3 μm. O filtro instalado é o modelo PH-97 tamanho

24”x24”x11.1/3” fabricado pela Purafil.

A Tabela 1 apresenta para cada seção de filtragem a identificação do

filtro, nome comercial, vazão nominal, eficiência de filtragem e as perdas de

carga com filtro limpo (inicial) e filtro sujo (final).

Tabela 1 - Identificação do filtro e características operacionais de cada

elemento filtrante do sistema de filtragem

Perda de Carga (mmCA) Seção Filtro (Purafil) (ASHRAE) Eficiência nominal Vazão

(m3/h)

inicial final

Inicial 1o Estágio PP-30 12”x24”x2” 30-35% 1700 3,8 17,8

Inicial 2o Estágio TB-60 12”x24”x15” 60-65% 1700 4,6 20,4

Fino JFL-90 24”x24”x5” 87% 3400 7,6 30,5

(47)

3.1.4 Unidade de insuflamento

O sistema de insuflamento é constituído pelo ventilador de ar, tipo

centrífugo, com motor elétrico, base metálica, bocal de sucção, bocal de

recalque e válvula tipo borboleta para regulagem do volume de ar.

O ventilador original, fora de condições de operação, foi substituído

pelo modelo SLL-224 com motor elétrico de 1 CV, para operar nas condições

originais de vazão (1.020 m3/h) e pressão (89 mmCA), capaz de fornecer a

vazão de ar necessária para manter a taxa de renovação original de projeto.

O controle da vazão de ar é feito por uma válvula de borboleta

instalada no recalque no ventilador: válvula parcialmente aberta quando os

filtros estão novos e limpos, e totalmente aberta quando os filtros estão

sujos. A abertura da válvula é ajustada a partir de um indicador de pressão

diferencial de ar, manômetro, com escala superior a 115 mmCA, instalado

entre a sucção e recalque do ventilador. O ponto de operação ideal é o

obtido na pressão de 89 mmCA, aquela pressão estática do ventilador que

corresponde à vazão nominal de projeto, de 1020 m3/h.

Em 2003, com a adição do filtro extrafino, HEPA, para obter melhor

qualidade de filtragem, o sistema passou a requerer uma maior capacidade

do ventilador, aumentando a perda de carga inicial do sistema de 16 mmCA

para 41 mmCA. Como conseqüência, a manutenção da taxa de renovação

de ar obriga a realizar a troca dos filtros com maior freqüência, antes de sua

saturação. A estratégia de troca é a substituição dos filtros iniciais, mais

baratos, assim que a pressão do sistema chegue a 89 mmCA, preservando

(48)

3.1.5 Sistema de Iluminação

Estão instaladas 8 lâmpadas fluorescentes, tipo luz branca, com 20 W

de potência cada, além de 4 lâmpadas, do tipo incandescente, com 60 W

cada. Temos assim 8.480 lumens de luz fluorescente e 2.000 lumens de luz

incandescente. A instalação desse sistema ocupa todo o espaço físico

disponível no domo da CTA e supera a intensidade de luz recomendada por

Ma e colaboradores (1994) para garantir o crescimento das plantas.

O sistema é alimentado diretamente do painel elétrico e o comando

para ligar e desligar é feito por um programador (timer) regulado para que as

lâmpadas estejam funcionando das 8:00 h até as 18:00 h.

3.1.6 Sistema de umidificação

Para preservar a umidade das plantas, está instalado um sistema de

rega automático por gotejamento. A vantagem do sistema de gotejamento

frente ao de aspersão, é o de evitar a lavagem das folhas que,

principalmente ao se utilizar protocolo para bioacumulação, pode causar

perda do material depositado na superfície foliar.

A água disponibilizada para essa umidificação é a mesma fornecida

pela rede de abastecimento da cidade de São Paulo, tratada pela SABESP.

Todas as plantas receberam a mesma quantidade de água.

As plantas expostas, entretanto, estão sujeitas a receber água de

chuva, pois as jardineiras estão colocadas em bancada de madeira,

(49)

uma cobertura de sombrite 50% colocada e fixada sobre a estrutura de

madeira da bancada.

O sistema de gotejamento é formado por um conjunto de dutos

flexíveis que recobrem todas as jardineiras. Em cada duto são instalados

bicos de gotejamento, próprios para uma vazão de 2 lpm cada, modelo Micro

Drip código 1322-29 de 3/16”, um para cada jardineira. Tanto o duto flexível

quanto os bicos são comercializados pela Gardena. Cada trecho de duto

flexível foi conectado à mangueira de distribuição, alimentada diretamente

da rede pública de abastecimento de água.

Entre essa rede e a mangueira de distribuição está instalada uma

válvula manual para isolamento da linha e uma válvula solenóide de 2 vias

(uma entrada e uma saída), com bobina normalmente fechada, isto é, na

falta de energia elétrica a posição da válvula é de fechamento, ambas de

diâmetro 1/2”. A válvula solenóide é protegida, alimentada e comandada do

painel elétrico por um programador (timer) regulado para abrir toda manhã,

das 9:00 h às 9:05 h, tempo esse ajustado durante a exposição.

3.2 Espécimes vegetais

As espécies vegetais aqui descritas tem sido utilizadas em estudos no

Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental – LPAE, do Departamento

de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, seja por constituir espécime

já adaptado ao clima tropical, ou por ter sido amplamente utilizado em

(50)

3.2.1 Tradescantia pallida cv. purpurea

Este espécime, cuja denominação completa é Tradescantia pallida

(Rose) D.R. Hunt. Cv. Purpurea, popularmente conhecida como Coração

Roxo, Trapoerabão ou Trapoeraba roxa, é nativa da região norte e central do

continente americano, do tipo herbáceo, prostada e suculenta, com folhas e

flores roxas e pubescentes (USDA, 1997, Lorenzi, Souza, 2001).

Atinge 25 cm de altura e é muito utilizada no Brasil como planta

ornamental, de fácil cultivo e rápido crescimento, estando bem adaptada ao

clima tropical, dado suportar bem a alta incidência de raios solares.

Na região metropolitana de São Paulo é comum encontrar essa planta

em canteiros de avenidas e jardins, sempre encorpadas e viçosas,

confirmando sua boa adaptação e fácil manutenção.

Como a flor deste espécime é tetraploide, ele não é recomendado

para o protocolo de mutação em pêlo estaminal.

3.2.2 Tradescantia clone 4430

O clone 4430 é um híbrido entre a Tradescantia subacaulis e a

Tradescantia hirsutiflora. É habitualmente cultivada em casas de vegetação,

dado os cuidados que exige para seu desenvolvimento em clima tropical,

com inspeções diárias para prevenir o ataque de pragas, como pulgões e

(51)

Esse clone apresenta hastes longas e hígidas, folhas lisas e longas em

tom de verde claro, com flor na cor azul (predominante) do tipo heterozigoto.

Este espécime demonstra ser muito sensível a exposições

radiológicas e a agentes químicos, razão pela qual tem sido extensivamente

utilizado em estudos ambientais para detectar mutações via pêlo estaminal

ou micronúcleo (Schairer et al., 1978, Ichikawa, 1992, Carvalho, 2005).

Inflorescência é o termo que descreve o agrupamento de botões que

diminuem de tamanho conforme se aproxima da haste. De acordo com a

literatura, a coleta ocorre entre o 3o ao 5o botão da inflorescência, contando

de cima para baixo, onde a fase de tétrade, adequada ao estudo, melhor se

apresenta. Entretanto Ma, em sua visita ao Brasil, recomendou a coleta

entre o 5o e 8o botão, conforme sua própria experiência, prática essa

adotada, desde então, pelo LPAE.

3.2.3 Tradescantia clone KU20

O clone KU20 foi desenvolvido no Japão e sua constituição é muito

parecida com o clone 4430, apresentando hastes mais longas e não

apresenta a penugem na base, como a 4430, sendo porém de mais fácil

manejo e maior resistência. Seu emprego também está bem documentado

na literatura, sendo empregada para os mesmos fins que o clone 4430

Imagem

Figura 1 -  Esquema da câmara de topo aberto – CTA, identificando cada  um dos sistemas que o compõe e o fluxo do ar
Figura 2 -  Vista em corte do sistema de filtragem com a identificação de  cada seção de filtragem do ar
Tabela 1 -  Identificação do filtro e características operacionais de cada  elemento filtrante do sistema de filtragem
Figura 6 -   Imagem da planilha para registro das amostragens e cálculo da  concentração de MP2,5 desenvolvidas no aplicativo MS-Excel
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Referências

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