Um problema de extens˜
ao relacionado
a raiz quadrada do Laplaciano
com condi¸
c˜
ao de fronteira de Neumann
Michele de Oliveira Alves
Tese apresentada
ao
Instituto de Matem´
atica e Estat´ıstica
da
Universidade de S˜
ao Paulo
para
obtenc
¸˜
ao do t´ıtulo
de
Doutor em Matem´
atica Aplicada
Programa: Matem´atica Aplicada
Orientador: Prof. Dr. S´ergio Muniz Oliva Filho
Durante o desenvolvimento deste trabalho o autor recebeu aux´ılio financeiro da CAPES
a raiz quadrada do Laplaciano
com condi¸
c˜
ao de fronteira de Neumann
Esta vers˜ao definitiva da tese cont´em as corre¸c˜oes e altera¸c˜oes sugeridas pela Comiss˜ao Julgadora durante a defesa realizada por Michele de Oliveira Alves em 15/12/2010.
Comiss˜ao Julgadora:
• Prof. Dr. S´ergio Muniz Oliva Filho (orientador) - IME-USP
• Prof. Dr. Orlando Francisco Lopes - IME-USP
• Prof. Dr. Pl´acido Zoega T´aboas - ICMC-USP
• Prof. Dr. S´ergio Henrique Monari Soares - ICMC-USP
Agradecimentos
Ao final deste trabalho quero primeiramente agradecer `a Deus por acreditar em mim e por me dar a gra¸ca de concluir mais uma etapa de minha vida. Pelo apoio e sustento sempre concedido nos momentos mais dif´ıceis.
`
A minha fam´ılia por ser minha base, dando-me apoio, alegria, amor e por compreender minha ausˆencia em muitos momentos. Ela com certeza ´e parte fundamental desta conquista.
Ao meu noivo Emerson pela paciˆencia, amor e carinho, pelas in´umeras vezes que me incentivou a continuar e a acreditar mais em mim. Obrigada pela sua presen¸ca, ela foi meu combust´ıvel para prosseguir sempre.
Ao professor S´ergio por todos os ensinamentos, paciˆencia, amizade, disponibilidade para me aten-der, esclarecer d´uvidas, etc... com ele obtive um grande crescimento matem´atico.
Aos meus amigos de p´os-gradua¸c˜ao pela amizade. Em particular, Fernanda e Anderson (Super!) pela maravilhosa convivˆencia n˜ao s´o no IME mas tamb´em em casa. Vocˆes com certeza acompanharam de perto toda esta minha trajet´oria. Obrigada pelas conversas e in´umeras risadas que tivemos ao longo deste per´ıodo.
`
A minha amiga Gleiciane pelo conv´ıvio iniciado na gradua¸c˜ao, pelos estudos durante o per´ıodo de disciplinas, semin´arios e por v´arias vezes sanar minhas d´uvidas.
Agrade¸co tamb´em aos amigos da Par´oquia Nossa Senhora dos Pobres que me acolheram com tanto amor e carinho.
Aos professores do departamento e funcion´arios do IME. Tamb´em aos professores Orlando Fran-cisco Lopes, Pl´acido Zoega T´aboas, S´ergio Henrique Monari Soares e Joana Isabel Afonso Mour˜ao Terra pelas corre¸c˜oes e importantes sugest˜oes.
`
Resumo
Neste trabalho definimos o operador n˜ao local, raiz quadrada do Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann, atrav´es do m´etodo de extens˜ao harmˆonica. O estudo foi feito com o aux´ılio das s´eries de Fourier em dom´ınios limitados, como sendo o intervalo, o quadrado e a bola. Posteri-ormente, aplicamos nosso estudo, `a problemas el´ıpticos n˜ao lineares envolvendo o operador n˜ao local raiz quadrada do Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann.
Abstract
In this work we define the non-local operator, square root of the Laplacian with Neumann boundary condition, using the method of harmonic extension. The study was done with the aid of Fourier series in bounded domains, as the interval, the square and the ball. Subsequently, we apply our study, the nonlinear elliptic problems involving non-local operator square root of the Laplacian with Neumann boundary condition.
Sum´
ario
Lista de S´ımbolos xi
1 Introdu¸c˜ao 1
2 Preliminares 9
2.1 Espa¸cos de Sobolev, Slobodeckij e H¨older . . . 10
2.1.1 Imers˜oes Cont´ınuas e Compactas . . . 12
2.1.2 Teorema do Tra¸co e Desigualdade de Poincar´e . . . 13
2.2 Espa¸cos de Sobolev das fun¸c˜oes peri´odicas . . . 15
2.2.1 Teorema do Tra¸co para as fun¸c˜oes peri´odicas . . . 19
3 C´alculo Funcional 21 3.1 Estudo do Operador −∆N . . . 21
3.2 Raiz Quadrada do operador−∆N . . . 26
4 O Operador 35 4.1 Caso Ωi = (0, π) . . . 36
4.2 Caso Ωq= (0, π)×(0, π) . . . 43
4.3 Caso Ωb =B(0, π) . . . 54
5 Aplica¸c˜ao 81 5.0.1 Solu¸c˜ao fraca no intervalo . . . 82
5.0.2 Solu¸c˜ao fraca no quadrado . . . 84
5.0.3 Existˆencia de Solu¸c˜ao Fraca . . . 86
A Apˆendice 99 A.1 Fun¸c˜oes Especiais . . . 99
A.2 Operadores . . . 102
A.3 Teorema do Multiplicador de Lagrange . . . 103
Referˆencias Bibliogr´aficas 105
´Indice Remissivo 109
Lista de S´ımbolos
∆N Operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann
Ct(Rn) Espa¸co de H¨older sobreRn
Ct(U) Espa¸co de H¨older sobreU
Cper∞(Rn) Conjunto das fun¸c˜oes infinitamente diferenci´aveis que s˜ao 2π
−peri´odicas
Cper∞(Rn+1
+ ) Conjunto das fun¸c˜oes infinitamente diferenci´aveis que s˜ao 2π−peri´odicas emx∈Rn
L2(U) Espa¸co de Lebesgue em U
L2(U;r) Espa¸co de LebesgueL2(U) com pesor
Hs(U) Espa¸co de Sobolev se s
∈Z+ e Espa¸co de Slobodeckij se s >0 n˜ao inteiro Hs
per(Rn) Espa¸co de Sobolev peri´odico na vari´avelx∈Rn
Hpers (Rn+1) Espa¸co de Sobolev peri´odico na vari´avelx∈Rn, para todo (x, z)∈Rn+1 +
Jp Fun¸c˜ao de Bessel de primeiro tipo de ordem p∈R
Yp Fun¸c˜ao de Bessel de segundo tipo de ordemp∈Rfracion´ario
֒→ Imers˜ao Cont´ınua
c
֒→ Imers˜ao Compacta
Rn+1
+ = {(x, z)∈Rn+1 | x∈Rne z >0} Ωi = (0, π)
Ωb = B(0, π)
Ωq = (0, π)×(0, π)
I = N∗ em Ω
i
I = (N×N)\{(0,0)}em Ωq
I = (N∗×N)\{(1,0)}em Ωb
X =
u∈L2(Ω)
Z
Ω
u(x)dx= 0
Qn =
{x∈Rn
| |xj| ≤π,∀j= 1,· · ·, n}
uΩ =
Z
Ω
u(x)dx
< u, v > =
Z
Ω
u(x)v(x)dx
(˜v(·,·, z))Ω = Z
Ω ˜
Cap´ıtulo 1
Introdu¸
c˜
ao
As potˆencias fracion´arias do Laplaciano s˜ao geradores infinitesimais do processo de difus˜ao est´avel chamado de processo de L´evy e aparecem nas dinˆamicas populacionais, rea¸c˜oes qu´ımicas em l´ıquidos, entre outros assuntos do cotidiano.
Neste trabalho, estudamos a raiz quadrada do operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann, (−∆N)
1
2, em trˆes tipos de dom´ınios, utilizando t´ecnicas de extens˜ao harmˆonica.
Posterior-mente, aplicamos `a problemas el´ıpticos n˜ao lineares.
As potˆencias fracion´arias do operador Laplaciano, podem ser interpretadas de algumas formas. Considere uma fun¸c˜aou:Rn−→Rsuficientemente regular. Utilizando a Transformada de Fourier,
temos
\
(−∆)su(ξ) =|ξ|2s b
u(ξ),
e ainda, atrav´es da F´ormula da Derivada Fracion´aria de Riesz,
(−∆)su(x) =Cn,s Z
Rn
u(x)−u(y)
|x−y|n+2sdy,
ondeCn,s´e alguma constante de normaliza¸c˜ao e s∈(0,1).
As potˆencias negativas s˜ao dadas por
(−∆)α= 1 2πi
Z
γ
(−λ)α(λI−∆)−1dλ,
ondeγ ´e qualquer curva simples suave por partes satisfazendo algumas propriedades e Re(α)<0. Para s= 1
2, podemos ainda considerar (−∆)
1
2 como sendo um operador positivo tal que
(−∆)12 ◦(−∆) 1
2u=−∆u,
para qualqueru∈D(−∆u).
O m´etodo de definir o operador (−∆)12 por meio de t´ecnicas extens˜ao harmˆonica, consiste em
considerar o operador T dado por
ondeu:Rn
−→R´e uma fun¸c˜ao suave limitada ev:Rn+1
+ −→R´e a ´unica solu¸c˜ao do problema (
∆v(x, z) = 0 em Rn+1
+ =Rn×(0,∞)
v(x,0) = u(x) em Rn . (1.1)
Observe que
1. Se colocarmos−vz(x,0) como condi¸c˜ao de Dirichlet no problema (1.1), verificamos que−vz(x, z)
´e solu¸c˜ao deste novo problema, logo pela defini¸c˜ao do operadorT, temos que
T(T(u))(x) =T(−vz(x,0)) =vzz(x,0) =−∆xv(x,0),
Ent˜ao,
(T ◦T)(u))(x) =−∆xu(x).
2. Usando o M´etodo de Integra¸c˜ao por Partes, vemos que
Z
Rn
u(x)T(u)(x)dx = −
Z
Rn
v(x,0)vz(x,0)dx
= −
Z
Rn+1
+
v(x, z)∆v(x, z)dxdz+
Z
Rn+1
+
|∇v(x, z)|2dxdz
=
Z
Rn+1
+
|∇v(x, z)|2dxdz≥0,
logo, o operador T ´e positivo.
Portanto, o operadorT que mapeia a condi¸c˜ao de Dirichlet u na condi¸c˜ao de Neumann −vz(·,0)
´e de fato o operador (−∆)12.
O artigo [8] generalizou este m´etodo com o objetivo de definir um problema de extens˜ao seme-lhante para cada potˆencia fracion´aria do Laplaciano. Para uma fun¸c˜ao u :Rn −→R suave limitada,
considerou-se o seguinte problema
(
∆xv(x, z) +
a
zvz(x, z) +vzz(x, z) = 0 em R
n+1 +
v(x,0) = u(x) em Rn ,
tal quea= 1−2s.
Com isso, mostrou-se que
(−∆)su(x) =−vz(x,0),
onde s ∈ (0,1) e a potˆencia fracion´aria do operador Laplaciano foi expressada pela F´ormula da Derivada Fracion´aria de Riesz.
Outro trabalho baseado nesta id´eia de extens˜ao harmˆonica ´e o artigo de [7], onde estudou-se a raiz quadrada do operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Dirichlet (−∆D)
1
2, em um dom´ınio
Ω ⊂ Rn limitado, suave. Tal operador foi definido via m´etodo de extens˜ao harmˆonica no cilindro
3
Por meio de algumas pesquisas, observamos que n˜ao se tˆem na literatura, um estudo das potˆencias fracion´arias do operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann, via m´etodo de extens˜ao harmˆonica e ainda usando s´eries de Fourier.
Nosso trabalho foi definir a raiz quadrada do operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann (−∆N)
1
2, usando o m´etodo de extens˜ao harmˆonica e o aux´ılio das s´eries de Fourier em trˆes
tipos de dom´ınios, o intervalo Ωi= (0, π), o quadrado Ωq = (0, π)×(0, π) e bola Ωb=B(0, π).
Para definir o operador (−∆N)
1
2, consideramos os seguintes problemas de extens˜ao
∆˜v(x, y, z) = 0 em R3 + ˜
v(x, y,0) = ˜u(x, y) em R2 lim
z→∞kv˜(·,·, z)kL2(Ω) = 0
lim
z→∞kv˜z(·,·, z)kL2(Ω) = 0
(˜v(·,·, z))Ω = 0 ∀z≥0
,
quando o dom´ınio for Ωq ou Ωb, onde
(˜v(·,·, z))Ω= Z
Ω ˜
v(x, y, z)dxdy,
para qualquerz≥0 e
∆˜v(x, z) = 0 em R2
+ ˜
v(x,0) = ˜u(x) em R
lim
z→∞k˜v(·, z)kL2(Ωi) = 0
lim
z→∞k˜vz(·, z)kL2(Ωi) = 0
(˜v(·, z))Ωi = 0 ∀z≥0
,
quando o dom´ınio for Ωi, onde
(˜v(·, z))Ωi =
Z
Ωi
˜
v(x, z)dx,
para qualquerz≥0.
O estudo foi feito com o aux´ılio das s´eries de Fourier, onde definimos o operador (−∆N)
1 2 como
sendo uma s´erie das autofun¸c˜oes e autovalores de−∆N, ou seja,
(−∆N)
1 2u=
∞
X
i∈I λ
1 2
i < u, ϕi > ϕi,
ondeϕi e λi s˜ao as autofun¸c˜oes e os autovalores de −∆N, respectivamente.
Verificamos que o operador (−∆N)
1
2 ´e de fato a raiz quadrada do Laplaciano com condi¸c˜ao de
fronteira de Neumann, pois,
(−∆N)
1
2 ◦(−∆N)12u=
∞
X
i∈I
λi < u, ϕi > ϕi=−∆Nu,
para qualqueru∈D(−∆N).
fazer todas as contas e verificar quais eram de fato as solu¸c˜oes dos problemas de extens˜ao, bem como para definir o operador (−∆N)
1 2.
Como uma aplica¸c˜ao, estudamos a existˆencia de solu¸c˜oes fracas n˜ao nulas de problemas el´ıpticos n˜ao lineares envolvendo o operador n˜ao local (−∆N)
1
2 nos dom´ınios Ωi e Ωq. Ou seja, estudamos o
seguinte problema el´ıptico n˜ao linear
(−∆N)
1
2u=up, (1.2)
onde p= 2 + 1
s, coms >1 ´ımpar, quando o dom´ınio for Ωq, e p=p+
1
s, comp par e s≥1 ´ımpar,
quando o dom´ınio for Ωi.
Como sabemos, o operador (−∆N)
1
2 ´e n˜ao local. Assim uma das vantagens de definirmos este
operador por meio de t´ecnicas de extens˜ao harmˆonica ´e que resolver o problema el´ıptico n˜ao local (1.2), se resume em resolver o seguinte problema el´ıptico local
∆˜v(x, y, z) = 0 em R3 + ˜
vz(x, y,0) =−u˜p(x, y) em R2
lim
z→∞k˜v(·,·, z)kL2(Ωq) = 0
lim
z→∞k˜vz(·,·, z)kL2(Ωq) = 0
(˜v(·,·, z))Ωq = 0 ∀z≥0
,
tal que ˜v ´e par, peri´odica nas vari´aveisx e y, ˜u ´e a extens˜ao par, peri´odica de u`a R2. Quando o dom´ınio for Ωi, o problema el´ıptico local correspondente ´e
∆˜v(x, z) = 0 em R2
+ ˜
vz(x,0) =−u˜p(x) em R
lim
z→∞kv˜(·, z)kL2(Ωi) = 0
lim
z→∞kv˜z(·, z)kL2(Ωi) = 0
(˜v(·, z))Ωi = 0 ∀z≥0
,
onde ˜v ´e par, peri´odica na vari´avelx, ˜u´e uma extens˜ao par, 2π-peri´odica de u `a R.
O trabalho est´a organizado da seguinte maneira. No Cap´ıtulo 3, fizemos um estudo do operador local Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann,
−∆N :D(−∆N)⊂X −→ X
u 7−→ −∆(u),
onde
D(−∆N) = n
u∈H2(Ω) ∂u
∂n
∂
Ω= 0 e (u)Ω= 0 o
,
para verificarmos que faz sentido considerar a potˆencia fracion´aria deste operador.
Com isso, usamos a teoria de C´alculo Funcional de [15] e [27], para escrevermos o operador
(−∆N)
1
5
como sendo uma s´erie envolvendo as autofun¸c˜oes e os autovalores, do operador−∆N, ou seja,
(−∆N)
1 2u=
∞ X i∈I λ 1 2
i < u, ϕi > ϕi,
onde ϕi s˜ao as autofun¸c˜oes de −∆N, nos dom´ınios citados anteriormente, λi s˜ao os correspondentes
autovalores e
D((−∆N)
1 2) =
u∈L2(Ω) (u)Ω= 0 e
∞
X
i∈I
λi|< u, ϕi >|2 <∞
.
No Cap´ıtulo 4, definimos o operador A1
2 :D(A12)⊂X −→X tal que
A1
2u=−(˜vz(·,0))|Ω,
onde
D(A1 2) =
n
u∈Hs(Ω) ∂u
∂n
∂Ω = 0 e (u)Ω = 0 o
,
coms >2 para Ωq e Ωb,s >
3
2 para Ωi, e ˜v ´e a ´unica solu¸c˜ao cl´assica de
∆˜v(x, y, z) = 0 em R3 + ˜
v(x, y,0) = ˜u(x, y) em R2 lim
z→∞kv˜(·,·, z)kL2(Ω) = 0
lim
z→∞kv˜z(·,·, z)kL2(Ω) = 0
(˜v(·,·, z))Ω = 0 ∀z≥0
,
quando o dom´ınio for Ωq ou Ωb, ou solu¸c˜ao cl´assica de
∆˜v(x, z) = 0 em R2
+ ˜
v(x,0) = ˜u(x) em R
lim
z→∞k˜v(·, z)kL2(Ωi) = 0
lim
z→∞k˜vz(·, z)kL2(Ωi) = 0
(˜v(·, z))Ωi = 0 ∀z≥0
,
quando o dom´ınio for Ωi.
A partir desta defini¸c˜ao, consideramos uma extens˜ao deA1
2 definida da seguinte maneira
B1
2 :Y ⊂X −→ X
u 7−→ ∞ X i∈I λ 1 2
i < u, ϕi > ϕi
,
onde
Y =
u∈L2(Ω) (u)Ω= 0 e
∞
X
i∈I
λi|< u, ϕi >|2<∞
Com isso, provamos o seguinte teorema.
Teorema 1. O operador B1
2 coincide com o operador (−∆N) 1
2, ou seja,
< u, B1
2u >≥0,
para qualquer u∈D(B1 2) e
B1 2 ◦B
1
2u=−∆Nu,
para qualquer u∈D(−∆N).
No Cap´ıtulo 5, verificamos a existˆencia de solu¸c˜ao fraca n˜ao nula do problema n˜ao linear (1.2), com o aux´ılio do Teorema do Multiplicador de Lagrange em espa¸cos lineares topol´ogicos para os dom´ınios Ωi e Ωq.
Para isto, consideramos as seguintes condi¸c˜oes
1. Se o dom´ınio for Ωi
(a) ˜v(−x, z) = ˜v(x, z), quase sempre emx∈R, para qualquer z≥0,
(b) ˜v(x+π,0) =−˜v(x,0), quase sempre em x∈R,
(c) (˜v(·, z))Ωi = 0, para qualquer z≥0.
2. Se o dom´ınio for Ωq
(a) ˜v(−x, y, z) = ˜v(x,−y, z) = ˜v(x, y, z), quase sempre em (x, y)∈R2, para qualquer z≥0, (b) ˜v(x+π, y,0) =−v˜(x, y,0), quase sempre em (x, y)∈R2,
(c) (˜v(·,·, z))Ωq = 0, para qualquerz≥0.
Sejam as aplica¸c˜oes
Ii :Hi −→ R
˜
v 7−→ 1
2
Z ∞
0 Z
Ωi
|∇v˜(x, z)|2dxdz,
onde
Hi= n
˜
v ∈Hper1 (R2 +)
˜v satisfaz 1. e lim
T→∞kv˜(·, T)kL2(Ωi)= limT→∞k˜vz(·, T)kL2(Ωi)= 0
o
,
e
Iq:Hq −→ R
˜
v 7−→ 1
2
Z ∞
0 Z
Ωq
|∇v˜(x, y, z)|2dxdydz,
onde
Hq = n
˜
v ∈Hper1 (R3
+)
˜v satisfaz 2. e lim
T→∞kv˜(·,·, T)kL2(Ωq)= limT→∞kv˜z(·,·, T)kL2(Ωq)= 0
o
7
Para algum a >0 fixo, verificamos a existˆencia de m´ınimo dos funcionaisIi eIq, respectivamente,
sobre os conjuntos
Hi,a =
˜
v ∈Hi
Z
Ωi
(˜v(x,0))p+1dx=a
,
Hq,a =
˜
v∈Hq
Z
Ωq
(˜v(x, y,0))p+1dxdy=a
.
Atrav´es deste m´ınimo, mostramos a existˆencia de solu¸c˜ao fraca n˜ao nula do problema n˜ao linear (1.2) nos dom´ınios Ωi e Ωq, utilizando o Teorema do Multiplicador de Lagrange em espa¸cos lineares
Cap´ıtulo 2
Preliminares
Vejamos as nota¸c˜oes e alguns resultados importantes sobre espa¸cos de fun¸c˜oes que utilizaremos durante nosso trabalho. O estudo sobre os espa¸cos de fun¸c˜oes foi baseado em [33] e para o caso de espa¸cos de fun¸c˜oes peri´odicas nos baseamos em [20].
Para n∈Z+∗, consideremos
Rn+1
+ ={(x, z)∈Rn+1 |x∈Rne z >0}
Seja U subconjunto aberto de Rn. Denotaremos por L2(U) o espa¸co de Banach das fun¸c˜oes
f :U −→R, Lebesgue mensur´aveis, satisfazendo
kfkL2(U)=
Z
U|
f|2dx
1 2
<∞.
Consideremos tamb´em, o espa¸co de Hilbert
X =
u∈L2(Ω)
Z
Ω
u(x)dx= 0
,
onde o dom´ınio Ω ser´a o intervalo, o quadrado ou a bola, com as seguintes nota¸c˜oes
Ωi = (0, π)
Ωq = (0, π)×(0, π)
Ωb = B(0, π).
O produto interno e a norma do espa¸co de fun¸c˜oesX s˜ao dados, respctivamente, por
< u, v >=
Z
Ω
u(x)v(x)dx e kuk=√< u, u >,
para qualqueru, v∈X.
Denotaremos por Kh, o cone de alurah, definido como
Kh ={(x ′
, xn)∈Rn | 0< xn< h, |x ′
|< axn},
Defini¸c˜ao 1. ( [33]) Um dom´ınio U ⊂Rn limitado ´e um dom´ınio do tipo cone se existem dom´ınios
U1,· · ·, UM e cones C1,· · ·, CM, que podem ser obtidos por rota¸c˜oes sobre o cone Kh, tais que M
[
j=1
Uj ⊂∂U e (Uj∩U) +Cj ⊂U
para qualquer j= 1,· · ·, M.
Exemplo 1. Ωq = (−π, π)×(−π, π)´e um dom´ınio do tipo cone.
2.1 Espa¸cos de Sobolev, Slobodeckij e H¨older
SejaU ⊂Rn aberto. Durante nosso estudo usaremos frequentemente os espa¸cos
Hs(U) =H2s(U),
coms∈Z+ous >0 n˜ao inteiro. Por isso, nesta se¸c˜ao, definiremos estes espa¸cos de fun¸c˜oes e veremos
algumas de suas propriedades.
Consideremos S=S(Rn) o conjunto das fun¸c˜oes f :Rn
−→Ctais que f ∈C∞(Rn) e satisfazem
sup
x∈Rn|
xα∂βf(x)|<∞,
para quaisquer multi-´ındices α, β ∈Nn. O conjuntoS ´e chamado Espa¸co de Schwartz. Denotaremos
o dual de S porS′ =S′(Rn) que ´e o espa¸co das distribui¸c˜oes temperadas.
Defini¸c˜ao 2. 1. Se s∈Z+, os espa¸cos Hs(Rn) s˜ao os Espa¸cos de Sobolev definidos como
Hs(Rn) =
{f ∈S′(Rn)
| kfkHs(Rn) <∞},
onde
kfkHs(Rn)=
X
|α|≤s
kDαfk2L2(Rn)
1 2
,
para qualquer f ∈Hs(Rn).
2. Se s >0 n˜ao inteiro, os espa¸cos Hs(Rn) s˜ao os Espa¸cos de Slobodeckij dados por
Hs(Rn) ={f ∈S′(Rn) | kfkHs(Rn) <∞},
onde
kfkHs(Rn)=k(1 +|x|2) s
2F fkL2(Rn),
para qualquer f ∈Hs(Rn), onde F ´e a Transformada de Fourier emRn.
Tendo definido os espa¸cos Hs(Rn) para s > 0, podemos, ent˜ao definir os espa¸cos Hs(U) como
sendo a restri¸c˜ao dos espa¸cos Hs(Rn).
2.1. ESPAC¸ OS DE SOBOLEV, SLOBODECKIJ E H ¨OLDER 11
1. Se s∈Z+, os Espa¸cos de Sobolev Hs(U) s˜ao definidos como
Hs(U) ={f ∈L2(U) | ∃g∈Hs(Rn) com g(x) =f(x),∀x∈U},
com a norma
kfkHs(U) = inf g|U=f g∈Hs(Rn)
kgkHs(Rn),
para qualquerf ∈Hs(U).
2. Se s >0 n˜ao inteiro, os Espa¸cos de Slobodeckij Hs(U) s˜ao definidos como
Hs(U) ={f ∈L2(U) | ∃g∈Hs(Rn) com g(x) =f(x),∀x∈U},
com a norma
kfkHs(U) = inf g|U=f g∈Hs(Rn)
kgkHs(Rn),
para qualquerf ∈Hs(U).
Quando o dom´ınio U tem certas propriedades, os espa¸cos Hs(U) podem ser caracterizados com normas definidas emU. Para isso, consideraremos
D(U) =C∞
0 (U) ={f :U −→R |f ∈C∞(U) com suporte compacto}, e D′(U) o dual de D(U).
Lema 1. Seja U ⊂Rn um dom´ınio n˜ao limitado do tipo cone, limitado do tipo cone ouC∞-limitado.
1. Se s∈Z+, ent˜ao
Hs(U) ={f ∈D′(U) | kfkHs(U)<∞},
onde
kfkHs(U)=
kfk2L2(U)+
X
|α|=s
kDαfk2L2(U)
1 2
,
para qualquerf ∈Hs(U).
2. Se s >0 n˜ao inteiro, ent˜ao
Hs(U) ={f ∈D′(U) | kfkHs(U)<∞},
onde
kfkHs(U)=
kfk2L2(U)+
X
|α|=[s] Z
U×U
|Dαf(x)−Dαf(y)|2
|x−y|n+2{s} dxdy
1 2
,
para qualquerf ∈Hs(U), onde s= [s] +{s} com [s] inteiro e{s} ∈[0,1).
Defini¸c˜ao 4. Seja t ≥ 0, os Espa¸cos de H¨older, denotados por Ct(Rn), s˜ao definidos da seguinte
maneira
1. Se t∈Z+, ent˜ao Ct(Rn) denota o completamento de S(Rn) na norma
kfkCt(Rn)=
X
|α|≤t
sup
x∈Rn|
Dαf(x)|.
2. Se 0< t= [t] +{t}, ent˜ao
Ct(Rn) ={f ∈C[t](Rn) | kfkCt(Rn)<∞},
onde
kfkCt(Rn)=kfkC[t](Rn)+
X
|α|=[t] sup
x6=y
|Dαf(x)−Dαf(y)|
|x−y|{t} .
Analogamente aos espa¸cos de Sobolev e Slobodeckij, podemos definir os espa¸cos de H¨older sobre
U atrav´es da restri¸c˜ao dos espa¸cosCt(Rn).
Defini¸c˜ao 5. Seja U ⊂Rn um dom´ınio C∞-limitado. Ent˜ao, o Espa¸co de H¨older sobre U, denotado
por Ct(U), ´e dado por
Ct(U) ={f | ∃g∈Ct(Rn) com g(x) =f(x),
∀x∈U},
com a norma
kfkCt
(U) = ginf|U=f g∈Ct(Rn)
kgkCt(Rn).
2.1.1 Imers˜oes Cont´ınuas e Compactas
Durante nosso trabalho as imers˜oes cont´ınuas e compactas s˜ao de muita utilidade. Por isso, enunciaremos tais imers˜oes para os espa¸cos de Sobolev, Slobodeckij e H¨older.
As nota¸c˜oes utilizadas para imers˜ao cont´ınua e compacta, s˜ao dadas, respectivamente, por ֒→ e
c
֒→.
Proposi¸c˜ao 1. (Imers˜oes Cont´ınuas) Seja U ⊂Rn um dom´ınio arbitr´ario.
1. Se −∞< t≤s <∞ , ent˜ao
Hs(U)֒→Ht(U).
2. Se t≥0, s > t+n
2, ent˜ao
Hs(U)֒→Ct(U).
3. Se 2≤q <∞, s >0 e
s≥n1
2− 1
q
,
ent˜ao
2.1. ESPAC¸ OS DE SOBOLEV, SLOBODECKIJ E H ¨OLDER 13
Proposi¸c˜ao 2. (Imers˜oes Compactas em dom´ınios do tipo cone) Seja U ⊂Rn um dom´ınio limitado
do tipo cone.
1. Se 0< s < 1
2 e s < t <∞ e , ent˜ao
Ht(U)֒→c Hs(U)
2. No caso em que s= 0, temos
Ht(U)֒→c L2(U).
3. Se 2≤q <∞, s >0 e
s > n1
2 − 1
q
,
ent˜ao
Hs(U)֒→c Lq(U).
Proposi¸c˜ao 3. (Imers˜oes Compactas em dom´ınios limitados suaves) SejaU ⊂Rn um dom´ınioC∞
-limitado. Se −∞< s < t <∞, ent˜ao
Ht(U)֒→c Hs(U).
Tamb´em, se s >0 e
s > n1
2− 1
q
,
ent˜ao
Hs(U)֒→c Lq(U).
2.1.2 Teorema do Tra¸co e Desigualdade de Poincar´e
Enunciaremos nesta subse¸c˜ao, o teorema do tra¸co emRne emU ⊂Rndom´ınioC∞-limitado. Estes
teoremas podem ser encontrados em [33]. Nosso objetivo, ´e provar que faz sentido considerarmos o tra¸co de uma fun¸c˜ao deHs(Ω×(0,∞)), onde Ω⊂Rn´e um aberto arbitr´ario es= 1,2.
· · ·. Tamb´em enunciaremos a Desigualdade de Poincar´e para um dom´ınioU limitado em uma dire¸c˜ao.
Teorema 2. (Teorema do Tra¸co em Rn) Sejam s = 1,2,· · · e x = (x
1,· · · , xn−1) ∈ Rn−1. Ent˜ao, existe uma aplica¸c˜ao linear, cont´ınua,
γ : Hs(Rn) −→ sY−1
j=0
Hs−j−12(Rn−1)
f 7−→ γ(f) =
f(x,0), ∂f ∂xn
(x,0),· · ·,∂
s−1f
∂xsn−1
(x,0)
.
Observa¸c˜ao 1. O teorema anterior ´e v´alido para s > 0 n˜ao necessariamente inteiro, desde que
s−j−1
Teorema 3. (Teorema do Tra¸co em U) Sejam U ⊂ Rn um dom´ınio C∞-limitado e 1
2 < s < ∞. Ent˜ao, existe uma aplica¸c˜ao linear, cont´ınua,
γ : Hs(U) −→
[s−12]− Y
j=0
Hs−j−12(∂U)
f 7−→ γ(f) =
f
∂U,
∂f ∂ν
∂U,· · ·,
∂[s−12]−f
∂ν[s−12]−
∂U
,
onde ν ´e o vetor normal exterior em rela¸c˜ao ao ∂U e[s− 12]− ´e inteiro.
Com isso, temos o pr´oximo lema sobre o tra¸co das fun¸c˜oes emHs(Ω×(0,∞)), paras= 1,2.· · ·.
Lema 2. Seja u∈Hs(Ω×(0,∞)), onde Ω⊂Rn aberto e s= 1,2.· · ·. Ent˜ao,
γ(u) =u(x,0)∈Hs−12(Ω× {0})
e existe C >0 tal que
kγ(u)k
Hs−12(Ω×{0})≤CkukHs(Ω×(0,∞)).
Demonstra¸c˜ao. Sejau∈Hs(Ω×(0,∞)), ent˜ao u∈L2(Ω×(0,∞)) e existe g∈Hs(Rn+1) tal que
g(x, z) =u(x, z),
para qualquer (x, z)∈Ω×(0,∞).
Pelo Teorema 2.,γ(g) :=g(x,0)∈Hs−12(Rn) e existe C >0 tal que
kγ(g)k
Hs−12(Rn) ≤CkgkHs(Rn+1).
Temos, ainda que
Hs−12(Rn)֒→L2(Rn),
logo,γ(g)∈L2(Rn), em particularγ(g)
Ω×{0}∈L
2(Ω× {0}). Como Ω× {0} ⊂Rn, temos que
γ(g) =g(x,0) =u(x,0) :=γ(u),
para qualquer (x,0)∈Ω× {0}. Ent˜ao,
γ(u) :=γ(g)Ω×{0}∈Hs−12(Ω× {0}).
Ainda,
kγ(u)k
Hs−12(Ω×{0}) = inf
F∈Hs−12 (Rn) F|Ω×{0}=γ(u)
kFk
Hs−12(Rn) (2.1)
≤ kγ(g)k
Hs−12(Rn)
2.2. ESPAC¸ OS DE SOBOLEV DAS FUNC¸ ˜OES PERI ´ODICAS 15
Observe que todas as contas que fizemos anteriormente para a fun¸c˜ao g, continuam valendo para uma fun¸c˜aoh que tenha as mesmas propriedades da fun¸c˜ao g, ou seja, h∈Hs(Rn+1) tal que
h(x, z) =u(x, z),
para qualquer (x, z)∈Ω×(0,∞). Logo, em (2.1), segue que
kγ(u)k
Hs−12(Ω×{0}) ≤ C h∈Hs(infRn+1)
h|Ω×(0,∞)=u
khkHs(Rn+1)
= CkukHs(Ω×(0,∞)).
Portanto, existeC >0 tal que
kγ(u)k
Hs−12(Ω×{0})≤CkukHs(Ω×(0,∞)), para qualqueru∈Hs(Ω×(0,∞)).
A pr´oxima proposi¸c˜ao nos fornece a Desigualdade de Poincar´e, a qual ser´a muito ´util na verifica¸c˜ao de existˆencia do m´ınimo de um funcional, que ´e uma das hip´oteses do Teorema do Multiplicador de Lagrange.
Proposi¸c˜ao 4. (Desigualdade de Poincar´e) Seja U ⊂ Rn limitado em uma dire¸c˜ao. Ent˜ao, existe
C >0 tal que
Z
U|
˜
v(x)|2dx≤C
Z
U
˜
v(x)dx
2 +C
Z
U|∇
˜
v(x)|2dx,
para qualquerv˜∈H1(U).
2.2 Espa¸cos de Sobolev das fun¸c˜oes peri´odicas
Denotaremos por Cper∞(Rn), o conjunto de todas as fun¸c˜oes infinitamente diferenci´aveis que s˜ao
2π−peri´odicas, isto ´e,
˜
v(x+ 2π·t) = ˜v(x),
para qualquerx∈Rn et= (t
1,· · ·, tn)∈Zn.
As fun¸c˜oes do conjuntoCper∞(Rn), ficam unicamente determinadas no cubo
Qn={x∈Rn | |xj| ≤π,∀j= 1,· · ·, n}.
Defini¸c˜ao 6. Sejas∈R. DefinimosHs
per(Rn)como sendo o fecho deCper∞(Rn), com respeito a norma
kukHs
per(Rn)=
X
k∈Zn
(1 +|k|2)s|ub(k)|2
1 2
onde bu(k) s˜ao os coeficientes de Fourier de u dados por
b
u(k) = (2π)−n2
Z
Qn
e−ik·xu(x)dx,
e k·x=kix1+· · ·+knxn.
Em particular,L2per(Rn) =H0
per(Rn) ´e um espa¸co de Hilbert com o produto escalar
< u, v >Qn=
Z
Qn
u(x)v(x)dx= X
k∈Zn
b
u(k)vb(k).
Estes espa¸cos de Sobolev das fun¸c˜oes peri´odicas, tem uma rela¸c˜ao com os espa¸cos de Sobolev e Slobodeckij emQn.
Para a demonstra¸c˜ao do pr´oximo lema, usaremos um resultado de [17], que nos diz que dados
a, b∈[0,∞) es≥0, existem constantes positivasms e Ms dependendo somente des, tais que
ms(as+bs)≤(a+b)s≤Ms(as+bs). (2.2)
Lema 3. Seja Qn⊂Rn. Temos
1. Se s∈Z+, ent˜ao Hs
per(Rn)⊂Hs(Qn) e suas normas s˜ao equivalentes.
2. Se 0< s <1, ent˜ao Hpers (Rn)⊂Hs(Qn) e suas normas s˜ao equivalentes.
Demonstra¸c˜ao. 1. Seja u∈Hpers (Rn), temos queu∈C∞
per(Rn). Por outro lado, temos que
C∞(Qn)⊂Hs(Qn),
ent˜ao
C∞(Qn)⊂Hs(Qn),
com a norma de Hs(Qn). Como C∞
per(Rn)⊂C∞(Qn), segue queu∈Hs(Qn).
Temos ainda, usando (2.2), que
X
k∈Zn
(1 +|k|2)s|ud(k)|2 = X
k∈Zn
(1 +|i|k||2)s|ud(k)|2
≤ Ms X
k∈Zn
|ud(k)|2+Ms X
k∈Zn
|(i|k|)sud(k)|2
= Ms X
k∈Zn
|ud(k)|2+Ms X
k∈Zn
|D\s(k)|2
= Ms Z
Qn|
u(x)|2dx+
Z
Qn|
Dsu(x)|2dx
.
Comos∈Z+, sabemos que
|Dsu(x)|2= X
|α|=s
2.2. ESPAC¸ OS DE SOBOLEV DAS FUNC¸ ˜OES PERI ´ODICAS 17
Logo,
X
k∈Zn
(1 +|k|2)s|ud(k)|2 ≤ Ms
kuk2L2(Qn)+
X
|α|=s
kDαuk2L2(Qn)
= Mskuk2Hs(Qn),
ou seja,
kukHs
per(Rn)≤
p
MskukHs(Qn).
Por outro lado, usando (2.2), tamb´em temos que
X
k∈Zn
(1 +|k|2)s|ud(k)|2 = X
k∈Zn
(1 +|i|k||2)s|ud(k)|2
≥ ms X
k∈Zn
|ud(k)|2+ms X
k∈Zn
|(i|k|)sud(k)|2
= ms
kuk2L2(Qn)+
X
|α|=s
kDαuk2L2(Qn)
,
ou seja,
kukHs
per(Rn)≥
√m
skukHs(Qn).
Portanto,Hpers (Rn)⊂Hs(Qn) e suas normas s˜ao equivalentes.
2. O fato deHpers (Rn)⊂Hs(Qn), para 0< s <1, segue pelo mesmo racioc´ınio usado no item 1.
Sejau∈Hs
per(Rn), usando propriedades de convolu¸c˜ao e m´odulo, temos que Z
Qn
Z
Qn
|u(x)−u(y)|2
|x−y|n+2s dxdy = Z
Qn
Z
Qn
|u(y−x)−u(y)|2
|x|n+2s dxdy (2.3)
=
Z
Qn
1
|x|n+2s Z
Qn|
u(y−x)−u(y)|2dy
dx.
Considere, para cadax∈Qn, a fun¸c˜ao
gx(y) =u(y−x)−u(y),
e observe que
b
gx(k) = (2π)−
n 2
Z
Qn
e−ik·zgx(z)dz (2.4)
= (2π)−n2
Z
Qn
e−ik·zu(z−x)dz−(2π)−n2
Z
Qn
e−ik·zu(z)dz
= (2π)−n2
Z
Qn
e−ik·(z−x)u(z)dz−ub(k)
Assim, por (2.4) e pela Identidade de Parseval, segue em (2.3) que
Z
Qn
Z
Qn
|u(x)−u(y)|2
|x−y|n+2s dxdy = Z
Qn
1
|x|n+2s Z
Qn
gx(y)gx(y)dy
dx
=
Z
Qn
1
|x|n+2s X
k∈Zn
|gbx(k)|2
dx
= X
k∈Zn
|ub(k)|2
Z
Qn
|eik·x−1|2
|x|n+2s
dx.
Observe que se |k|= 0, ent˜ao
Z
Qn
Z
Qn
|u(x)−u(y)|2
|x−y|n+2s dxdy= 0,
e assim
kukHs(Qn) =kukL2(Qn)=kukHs per(Rn).
Caso contr´ario, fazemos a mudan¸ca de vari´avelx= t
|k|, logo
Z
Qn
|eik·x−1|2
|x|n+2s dx=|k| 2s
Z
Qn
|eik·|kt| −1|2
|t|n+2s dt=As|k| 2s.
Sendo assim, Z
Qn
Z
Qn
|u(x)−u(y)|2
|x−y|n+2s dxdy=As X
k∈Zn
|k|2s|bu(k)|2.
Ent˜ao, usando (2.2), segue que
kuk2Hs
per(Rn) ≥ mskuk
2 L2
per(Rn)+ms
X
k∈Zn
|k|2s|ub(k)|2
= mskuk2L2(Qn)+
ms
As Z
Qn
Z
Qn
|u(x)−u(y)|2
|x−y|n+2s dxdy
≥ cskuk2Hs(Qn).
Analogamente, existe Cs>0, tal que
kuk2Hs
per(Rn)≤Cskuk
2 Hs(Qn).
Portanto,Hpers (Rn)⊂Hs(Qn) e suas normas s˜ao equivalentes.
O lema anterior ´e importante, pois as imers˜oes v´alidas para os espa¸cosHs(Qn), tamb´em s˜ao v´alidas
para os espa¸cos de Sobolev das fun¸c˜oes peri´odicas Hpers (Rn), para qualquers
2.2. ESPAC¸ OS DE SOBOLEV DAS FUNC¸ ˜OES PERI ´ODICAS 19
Consideremos tamb´em, o conjunto de todas as fun¸c˜oes infinitamente diferenci´aveis que s˜ao 2π -peri´odicas com respeito a vari´avel x, isto ´e,
˜
v(x+ 2π·t, z) = ˜v(x, z),
para qualquer (x, z)∈Rn+1
+ e t= (t1,· · · , tn)∈Zn. Este conjunto ser´a denotado porCper∞(Rn++1)
Defini¸c˜ao 7. Definimos Hpers (Rn+1
+ ) como sendo o fecho deCper∞(Rn++1) com respeito a norma
ku˜kHs
per(Rn+1+ )=
Z ∞
0 s X
j=0
kDjzu˜(·, z)k2Hs−j per(Rn)dz
1 2
para qualqueru˜∈Hpers (Rn+1
+ ). Em particular,L2per(Rn+1
+ ) =Hper0 (Rn++1) ´e um espa¸co de Hilbert, com o produto interno dado por
<˜v,w >˜ Qn×(0,∞)=
Z ∞
0 Z
Qn
˜
u(x, z) ˜w(x, z)dxdz,
para todo ˜u,w˜∈L2per(Rn+1
+ ).
Analogamente, aos espa¸cos Hpers (Rn), temos que Hs
per(Rn++1) ⊂ Hs(Qn×(0,∞)), para qualquer
s≥0.
Em particular, para s= 1, temos que
kuk2H1
per(Rn+1+ ) =
Z ∞
0 1 X
j=0
kDjzu(·, z)k2H1−j per(Rn)dz
=
Z ∞
0 Z
Qn|
u(x, z)|2dxdz+
Z ∞
0 Z
Qn
n X
j=1 ∂x∂u
j
(x, z)
2dxdz+
Z ∞
0 Z
Qn|
uz(x, z)|2dxdz
=
Z ∞
0 Z
Qn|
u(x, z)|2dxdz+
Z ∞
0 Z
Qn|∇
u(x, z)|2dxdz
= kuk2H1(Qn×(0,∞)).
2.2.1 Teorema do Tra¸co para as fun¸c˜oes peri´odicas
Analogamente aos espa¸cos de Sobolev e Slobodeckij, temos para os espa¸cos de Sobolev das fun¸c˜oes peri´odicas, o tra¸co bem definido, como enunciaremos a seguir.
Lema 4. ( [20])Considere o operador tra¸coγµ sobre Cper∞(Rn++1) dado por
˜
u7−→u˜(x,0),(Dzu˜)(x,0),· · · ,(Dµz−1u˜)(x,0)
,
Ent˜ao, ses≥µ, o operadorγµ pode ser estendido continuamente a uma fun¸c˜ao limitada tal que
γµ:Hpers (Rn++1)−→ µ Y
j=1
Hs−j+
1 2
Cap´ıtulo 3
C´
alculo Funcional
Neste cap´ıtulo, estudaremos o operador Laplaciano com condi¸c˜ao de fronteira de Neumann, deno-tado por −∆N, nos dom´ınios Ωi, Ωq e Ωb.
Para facilitar a nota¸c˜ao, quando o estudo independer do dom´ınio, denotaremos o dom´ınio somente por Ω, quando necess´ario faremos a distin¸c˜ao.
Veremos algumas propriedades deste operador, com o objetivo de concluir que−∆N ´e um operador
positivo e por isso faz sentido calcularmos sua raiz quadrada. Tamb´em veremos que o operador (−∆N)
1
2 ´e dado como uma S´erie de Fourier, isto ´e,
(−∆N)
1
2 :D((−∆N)12)⊂X −→ X (3.1)
u 7−→ (−∆N)
1 2u=
∞
X
i∈I λ
1 2
i < u, ϕi> ϕi,
onde I = N∗ em Ω
i, I = (N×N)\{(0,0)} em Ωq e I = (N∗ ×N)\{(1,0)} em Ωb, {ϕi}i∈I forma
um sistema ortogonal completo de autofun¸c˜oes do operador−∆N em cada dom´ınio Ω,{λi}i∈I s˜ao os
correspondentes autovalores e
D((−∆N)
1 2) =
u∈X
∞
X
i∈I
λi< u, ϕi >2<∞
.
Este cap´ıtulo ser´a dividido em duas se¸c˜oes. Na primeira se¸c˜ao, estudaremos algumas propriedades do operador −∆N e concluiremos que este operador ´e um operador positivo. Na segunda se¸c˜ao,
definiremos o operador (−∆N)
1
2 como uma S´erie de Fourier, envolvendo as autofun¸c˜oes e os autovalores
do operador−∆N nos dom´ınios Ω e tamb´em daremos uma caracteriza¸c˜ao do D((−∆N)
1 2).
3.1 Estudo do Operador −∆N
Considere o operador
−∆N :D(−∆N)⊂X −→ X
u 7−→ −∆u ,
onde, paransendo o vetor normal, unit´ario, exterior ao ∂Ω, temos que
D(−∆N) = n
u∈H2(Ω) ∂u
∂n
∂
Ω = 0 e Z
Ω
Durante o texto, usaremos frequentemente a nota¸c˜aouΩ, tal que
uΩ= Z
Ω
u(x)dx,
para qualquer dom´ınio Ω.
Lema 5. O operador −∆N ´e mon´otono, sim´etrico e satisfaz R(I−∆N) =X.
Demonstra¸c˜ao. Primeiramente, observemos que o operador −∆N ´e densamente definido.
Sejau∈X∈L2(Ω), logo como C0∞(Ω) =L2(Ω), segue que existe {un} ∈C0∞(Ω) tal que
kun−ukL2(Ω)
n→∞ −→0,
ondeC0∞(Ω) ´e o conjunto das fun¸c˜oes infinitamente diferenci´aveis com suporte compacto em Ω. Considere a fun¸c˜ao
vn(x) =un(x)−
(un)Ω
m(Ω), e observe que
1. vn∈C∞(Ω)⊂H2(Ω), para qualquern∈N.
2. (vn)Ω = 0, para qualquern∈N.
3.
∂vn
∂n
∂Ω =
∂un
∂n
∂Ω= 0, poisun tem suporte compacto em Ω, para qualquern∈N.
Ent˜ao, de 1., 2. e 3. segue que{vn} ⊂D(−∆N) e ainda
ku−vnk ≤ ku−unkL2(Ω)+
mu(Ω)Ω −(mu(Ω)n)Ω L2(Ω)
≤ 2ku−unkL2(Ω)
n→∞ −→0,
logo, temos que X =D(−∆N).
Por outro lado, sejam u, v ∈ D(−∆N). Temos usando Integra¸c˜ao por Partes para Ωi e Ωq, e as
F´ormulas de Green para Ωb, que
<−∆Nu, u > = Z
Ω|∇
u(x)|2dx≥0,
<−∆Nu, v > = Z
Ω∇
u(x)∇v(x)dx
= < u,−∆Nv >,
3.1. ESTUDO DO OPERADOR −∆N 23
Sejag ∈X, queremos encontraru∈D(−∆N) tal que (I−∆N)u =g, isto ´e, queremos encontrar
u∈H2(Ω) tal que
−∆u+u=g em Ω
∂u ∂n
∂Ω= 0
uΩ = 0
.
Considere a: Ξ×Ξ−→R tal que
a(u, v) =
Z
Ω∇
u(x)∇v(x)dx+
Z
Ω
u(x)v(x)dx,
onde Ξ ={u∈H1(Ω) | uΩ = 0} ´e um Espa¸co de Hilbert.
A fun¸c˜aoa´e bilinear e usando a Desigualdade de H¨older, para qualqueru, v∈Ξ vale que
1.
|a(u, v)| ≤
Z
Ω|∇
u(x)∇v(x)|dx+
Z
Ω|
u(x)v(x)|dx ≤ 2kukH1(Ω)kvkH1(Ω).
2.
|a(u, u)| =
Z
Ω|∇
u(x)|2dx+
Z
Ω|
u(x)|2dx
= kuk2H1(Ω).
Ent˜ao, tomandoF : Ξ−→Rtal que
F(v) =
Z
Ω
g(x)v(x)dx
para qualquerv ∈Ξ, temos que F ∈Ξ′ e pelo Teorema de Lax-Milgran, segue que existe uma ´
unicau∈Ξ tal que
Z
Ω∇
u(x)∇v(x)dx+
Z
Ω
u(x)v(x)dx=
Z
Ω
g(x)v(x)dx, (3.2)
para qualquerv∈Ξ e em particular para qualquer v∈H1(Ω).
Ent˜ao, por [6], temos que u ∈H2(Ω) e ainda usando o M´etodo de Integra¸c˜ao por Partes para Ωi e Ωq, e as F´ormulas de Green para Ωb, em (3.2) segue que
Z
Ω
[∆u(x)−u(x) +g(x)]v(x)dx=
Z
∂Ω
∂u
∂n(x)v(x)dσ, (3.3)
Em particular, para v∈C0∞(Ω)⊂H1(Ω), segue em (3.3) que
Z
Ω
[∆u(x)−u(x) +g(x)]v(x)dx= 0 =⇒ −∆u+u=g quase sempre.
Voltando `a (3.3), temos que Z
∂Ω
∂u
∂n(x)v(x)dx= 0
para qualquer v∈H1(Ω). Em particular, para
v= ∂u
∂n ∈H
1(Ω),
segue que Z
∂Ω
∂u∂n(x)2dx= 0 =⇒ ∂u
∂n
∂
Ω= 0 quase sempre.
Portanto,u satisfaz
−∆u+u=g em Ω
∂u ∂n
∂
Ω= 0
uΩ = 0
,
ou seja, R(I−∆N) =X.
Pelo lema anterior, temos a seguinte proposi¸c˜ao.
Proposi¸c˜ao 5. O operador−∆N ´e um operador auto-adjunto.
Demonstra¸c˜ao. A demonstra¸c˜ao segue do Lema 5. e de [26], p´agina 20.
Proposi¸c˜ao 6. O operador−∆N ´e limitado inferiormente, isto ´e, existem∈Rtal que para qualquer
u∈D(−∆N), vale
<−∆Nu, u >≥mkuk2.
Demonstra¸c˜ao. Seja u ∈ D(−∆N), usando o M´etodo de Integra¸c˜ao por Partes para Ωi e Ωq, e as
F´ormulas de Green para Ωb, temos que
<−∆Nu, u > = − Z
Ω
∆u(x)u(x)dx
=
Z
Ω|∇
u(x)|2dx. (3.4)
Para concluirmos a demonstra¸c˜ao, usaremos a Desigualdade de Poincar´e Generalizada em cada caso de Ω.
1. Se Ω = Ωi, considerando ˜u como sendo a extens˜ao par, 2π-peri´odica de u, temos que ˜u(0,2π) = 0 e ˜u∈H1(0,2π), ent˜ao pela Desigualdade de Wirtinger, segue que
Z 2π
0 | ˜
u(x)|2dx≤
Z 2π
0 | ˜
3.1. ESTUDO DO OPERADOR −∆N 25
para qualquer ˜u∈H1(0,2π), logo, tomandom= 1 e usando a periodicidade de ˜u, temos que
m
Z
Ωi
|u(x)|2 ≤
Z
Ωi
|∇u(x)|2dx.
2. Se Ω = Ωb, temos por [11], que existe M >0, tal que
u− 1
m(Ωb)
uΩb
L2(Ω b)
≤Mk∇ukL2(Ω
b)=⇒ kukL2(Ωb) ≤
1
m(Ωb)k
uΩbkL2(Ωb)+Mk∇ukL2(Ωb)
ComouΩb= 0, tomando m= min
n
1, 1 M2
o
, segue que
m
Z
Ωb
|u(x, y)|2dxdy ≤
Z
Ωb
|∇u(x, y)|2dxdy.
3. Se Ω = Ωq, temos por [22], que existe N >0, tal que
kuk2H1(Ω q)≤N
2k∇uk2 L2(Ω
q)+
Z
Ωq
u(x, y)dxdy
2=⇒ kuk2H1(Ω q)≤N
2k∇uk2 L2(Ω
q).
Como, kuk2L2(Ωq) ≤ kuk2H1(Ωq), segue param= min
n
1, 1 N2
o
, que
m
Z
Ωq
|u(x, y)|2dxdy ≤
Z
Ωq
|∇u(x, y)|2dxdy.
Portanto, em cada caso de Ω, existe m >0 tal que em (3.4) vale
<−∆Nu, u >≥mkuk2L2(Ω).
Com isso, temos o seguinte teorema.
Teorema 4. O operador −∆N ´e um operador positivo.
Demonstra¸c˜ao. Pelas Proposi¸c˜oes 5., 6., e o Teorema 14., temos que−∆N ´e um operador setorial tal
que
Re(σ(−∆N))≥m.
Temos tamb´em, por [9], que σ(−∆N)⊂ h
m,+∞, logo,
σ(∆N)⊂(−∞,−m] =⇒[0,+∞)⊂ρ(∆N).
Por defini¸c˜ao de Operador Setorial, temos que o operador−∆N ´e fechado, densamente definido e
para algum 0< φ < π
2,M ≥1, vale que
e
k(λI+ ∆N)−1k ≤
M |λ−m|,
para qualquer λ∈Sm,φ.
Assim, dados∈R+ temos, pelo fato dem >0, queλ=−s∈R−⊂Sm,φ, logo,
k(sI−∆N)−1k ≤
M |s+m|.
Ent˜ao,
(1 +s)k(sI−∆N)−1k ≤ M
1
|s+m|+ s |s+m|
≤ M
1
m + 1
,
para qualquer s∈R+, ou seja, existe Mf≥1, onde
f
M = (1 +m)
m M
tal que
(1 +s)k(sI−∆N)−1k ≤M ,f
para qualquer s∈R+.
Portanto,−∆N ´e um operador positivo.
3.2 Raiz Quadrada do operador −∆N
Como vimos na se¸c˜ao anterior, o operador−∆N ´e um operador positivo, logo, conclu´ımos que faz
sentido considerarmos a raiz quadrada de −∆N, ou seja, o operador
(−∆N)
1
2 :D((−∆N) 1
2)⊂X −→X,
est´a bem definido.
Para escrevermos (−∆N)
1
2 como uma S´erie de Fourier e caracterizarmos oD((−∆N)12), usaremos
a teoria de C´alculo Funcional de [15] e [27].
Sabemos que o operador−∆N ´e setorial eRe(σ(−∆N))>0, ent˜ao por [15] temos que
(−∆N)−
1
2 :X−→X,
´e um operador linear, limitado tal que
(−∆N)−
1 2 = 1
π
Z ∞
0
λ−12(λI−∆N)−1dλ.
Como nosso objetivo ´e usar a teoria espectral, vamos inicialmente, exibir um sistema ortogonal completo para X, formado pelas autofun¸c˜oes do operador−∆N e os respectivos autovalores, em cada
3.2. RAIZ QUADRADA DO OPERADOR−∆N 27
Proposi¸c˜ao 7. Considere o operador −∆N em Ω.
1. Se Ω = Ωi, ent˜ao suas autofun¸c˜oes ortonormais ϕj e seus respectivos autovalores λj s˜ao dados
por
ϕj(x) = r
2
πcos(jx) e λj =j
2,
para qualquerj ≥1.
2. SeΩ = Ωq, ent˜ao suas autofun¸c˜oes ortonormaisϕjk e seus respectivos autovaloresλjk s˜ao dados
por
ϕjk(x, y) =βjkcos(jx) cos(ky) e λjk =j2+k2,
onde
βjk =
√
2
π se k= 0 ou j= 0
2
π se k, j≥1
,
para qualquer(j, k)∈(N×N)\{(0,0)}.
3. Se Ω = Ωb, ent˜ao suas autofun¸c˜oes ortonormais ϕjk s˜ao dadas por
ϕj0(x, y) =wj0(r, θ) =Aj0J0 µj0r
π
,
onde
Aj0 = 1
π32|J0(µj0)|
,
para qualquerj ≥2,
ϕjk(x, y) =wjk(r, θ) =
AjkJk µjkr
π
cos(kθ)
BjkJk µjkr
π
sin(kθ)
,
para qualquerj, k≥1, onde
Ajk =Bjk =
√
2µjk
π32(µ2
jk−k2)
1
2|Jk(µjk)|
e seus respectivos autovaloresλjk s˜ao dados por
λjk = µjk
π
2
,
para qualquer(j, k)∈(N∗×N)\{(1,0)}, onde µ
jk s˜ao os zeros estritamente positivos de J ′ k.
Demonstra¸c˜ao. O caso em que o dom´ınio ´e Ωi ´e facilmente verificado, pois sabemos que as fun¸c˜oes
senos, cossenos e constantes formam um sistema ortogonal completo para L2(−π, π). Sendo assim, como qualquer fun¸c˜ao de X pode ser estendida par em (−π, π), e usando o fato desta fun¸c˜ao ter m´edia nula, verificamos que os coeficientes de Fourier desta fun¸c˜ao, que envolvem as fun¸c˜oes senos e constantes se anulam, logo {ϕj}j≥1 forma um sistema ortogonal completo paraX no caso Ωi.
Por outro lado, temos em [14] que as autofun¸c˜oes e os respectivos autovalores do operador −∆N
s˜ao dados desta forma em Ωq e Ωb, considerando que estamos estudando as autofun¸c˜oes com m´edia
nula.
Vamos, ent˜ao verificar que estas autofun¸c˜oes formam um sistema ortogonal completo para X, ou seja, mostrar que elas formam um conjunto completo em X, j´a que a ortonormalidade ´e f´acil de se verificar. A demonstra¸c˜ao ser´a feita para cada caso de Ω.
1. Ω = Ωq.
Temos por [32], que vale a Identidade de Parseval em L2(Q2), isto ´e,
1
π2kfk 2
L2(Q2)=
∞
X
j,k≥0
δjk(a2jk+b2jk+c2jk+d2jk),
para qualquer f ∈L2(Q2), onde
ajk =
1
π2 Z
Q2
f(x, y) cos(jx) cos(ky)dxdy,
bjk =
1
π2 Z
Q2
f(x, y) sin(jx) cos(ky)dxdy,
cjk =
1
π2 Z
Q2
f(x, y) cos(jx) sin(ky)dxdy,
djk =
1
π2 Z
Q2
f(x, y) sin(jx) sin(ky)dxdy,
para todoj, k≥0 e
δjk =
1
4 se j=k= 0
1
2 se j >0, k= 0 ou j= 0, k >0
1 se j >0, k >0
.
Sejag∈X, tome sua extens˜ao par nas vari´aveisxe y, isto ´e,
f(x, y) =
g(x, y) se (x, y)∈ [0, π] × [0, π]
g(−x, y) se (x, y)∈ [−π,0] × [0, π]
g(x,−y) se (x, y)∈ [0, π] × [−π,0]
g(−x,−y) se (x, y)∈ [−π,0] × [−π,0]
3.2. RAIZ QUADRADA DO OPERADOR−∆N 29
Comof ´e par emx e y, temos quebjk =cjk =djk = 0, para todoj, k≥0, e pelo fato de g ter
m´edia nula, temos tamb´em quea00= 0. Ent˜ao,
4
π2kgk 2 L2(Ω
q)=
∞
X
(j,k)∈I
δjka2jk,
onde
ajk =
4
π2 Z
Ωq
g(x, y) cos(jx) cos(ky)dxdy.
Portanto,
kgk2L2(Ω q)=
∞
X
(j,k)∈I
|< g, ϕjk >|2,
isto ´e, vale a Identidade de Parseval em X, logo, {ϕjk}(j,k)∈I forma um sistema ortogonal
completo paraX em Ωq.
2. Ω = Ωb.
Sejau∈X tal que< u, ϕjk >= 0, para qualquer (j, k)∈ I. Logo, Z 2π
0 Z π
0
rU(r, θ)wjk(r, θ)drdθ= 0,
para qualquer (j, k)∈ I. Sabemos, parap∈R, que
n
Jp µjp
π ·
o∞
j=1,
forma um sistema ortogonal completo paraL2((0, π);r), ondeL2((0, π);r) ´e o espa¸co L2((0, π)) com pesor.
Assim,
(a) sek= 0 e j≥2, ent˜ao Z
π
0
rh(r)J0µj0 π r
dr= 0,
para qualquerj ≥2, onde
h(r) =
Z 2π
0
U(r, θ)dθ.
Comoµ10= 0, temos queJ0 µ10
π r
= 1 e
Z π
0
rh(r)J0 µ10
π r
dr=
Z 2π
0 Z π
0
rU(r, θ)drdθ= 0,
poisuΩb = 0.
Ent˜ao, D
h, J0 µj0
π ·
E
para qualquer j≥1, logo Z 2π
0
U(r, θ)dθ = 0,
para qualquer r∈(0, π). (b) se
wjk =Jk µjk
π r
cos(kθ),
ent˜ao usando a mesma id´eia do caso anterior, segue que
Z 2π
0
U(r, θ) cos(kθ)dθ= 0,
para qualquer r∈(0, π), k≥1. (c) se
wjk =Jk µjk
π r
sin(kθ),
temos que Z
2π
0
U(r, θ) sin(kθ)dθ= 0,
para qualquer r∈(0, π), k≥1.
Usando o fato de que 1
√
2π,
cosθ √
π ,
sinθ √
π ,
cos(2θ)
√ π ,
sin(2θ)
√
π ,· · ·
,
forma um sistema ortogonal completo para L2([−π, π]), temos que U(r, θ) = 0 para qualquer (r, θ)∈(0, π)×(0,2π). Portanto, as autofun¸c˜oes do operador−∆N formam um sistema ortogonal
completo paraX em Ωb.
A pr´oxima proposi¸c˜ao descrever´a o operador (−∆N)−
1
2, como uma S´erie de Fourier formada pelas
autofun¸c˜oes e respectivos autovalores do operador−∆N.
Proposi¸c˜ao 8. Para qualquer u∈X, temos que
(−∆N)−
1 2u=
∞
X
i∈I λ−
1 2
i < u, ϕi > ϕi,
onde {ϕi}i∈I ´e um sistema ortogonal completo de X, formado por autofun¸c˜oes do operador −∆N e
{λi}i∈I s˜ao os respectivos autovalores.
Demonstra¸c˜ao. Sejaϕi autofun¸c˜ao do operador−∆N, para qualquer i∈ I. Como ϕi∈X, temos que
(−∆N)−
1
2ϕi = 1
π
Z ∞
0
λ−12(λI−∆N)−1ϕidλ.
Mas,
3.2. RAIZ QUADRADA DO OPERADOR−∆N 31
para qualqueri∈ I e comoλ∈[0,∞)⊂ρ(∆N), temos que
(λI−∆N)−1ϕi=
1
λ+λi
ϕi,
para qualqueri∈ I. Ent˜ao,
(−∆N)−
1
2ϕi= ϕi
π
Z ∞
0
λ−12
λ+λi
dλ=λ−
1 2
i ϕi,
para qualqueri∈ I. Sejau∈X, logo
u=
∞
X
i∈I
< u, ϕi> ϕi.
Assim, considerando a soma parcial
sm = m X
i∈I
< u, ϕi> ϕi,
temos que
(−∆N)−
1 2u−
m X i∈I λ− 1 2
i < u, ϕi> ϕi
=(−∆N)−
1
2u−(−∆N)− 1 2sm
≤Kku−smkm−→→∞0.
Portanto,
(−∆N)−
1 2u=
∞ X i∈I λ− 1 2
i < u, ϕi > ϕi.
Observa¸c˜ao 2. Para qualquer u∈D((−∆N)
1
2), temos que (−∆N)− 1
2u∈D((−∆N) 1 2).
De fato, por defini¸c˜ao temos que
D((−∆N)
1
2) ={u∈X | (−∆N)12u∈X}.
Obviamente, (−∆N)−
1
2u∈X, para qualquer u∈X, e por defini¸c˜ao
(−∆N)−
1
2 = ((−∆N) 1 2)−1,
noD((−∆N)
1 2), logo
(−∆N)
1
2((−∆N)− 1
2u) =u∈X,
para qualqueru∈D((−∆N)
1
2). Portanto,(−∆N)− 1
2u∈D((−∆N) 1
2), para qualquer u∈D((−∆N) 1 2).
Sendo assim, comoλi 6= 0, para qualqueri∈ I, temos por [27], que
(−∆N)
1 2u=
∞ X i∈I λ 1 2