REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologia www.sba.com.brARTIGO
CIENTÍFICO
Analgesia
combinada
raquiperidural
em
trabalho
de
parto:
seus
efeitos
sobre
o
desfecho
do
parto
Suneet
Kaur
Sra
Charanjit
Singh
a,
Nurlia
Yahya
a,∗,
Karis
Misiran
b,
Azlina
Masdar
a,
Nadia
Md
Nor
ae
Lee
Choon
Yee
aaDepartamentodeAnestesiologiaeTratamentoIntensivo,UniversitiKebangsaanMalaysiaMedicalCentre,KualaLumpur,Malásia bDepartamentodeAnestesiologiaeTratamentoIntensivo,FaculdadedeMedicina,UniversitiTeknologiMARA,JalanHospital,
Malásia
Recebidoem5dejulhode2014;aceitoem3desetembrode2014
DisponívelnaInternetem15demarçode2016
PALAVRAS-CHAVE
Combinac¸ão raqui-peridural; Analgesiadeparto; Resultadofetal; Durac¸ãodoparto
Resumo
Justificativaeobjetivos: Aanalgesiacombinadaraquiperidural(RP)tornou-seumaopc¸ãocada vez mais popular para o trabalhode partotradicional devido ao seu rápido iníciode ac¸ão e ao resultado confiável. Este foi um estudo prospectivode amostragem convenientepara determinarosefeitosdaRPsobreodesfechodoparto.
Métodos: Foramincluídas110parturientesprimigestassaudáveis,comgestac¸ãoúnicade≥37 semanasenafaseativadotrabalhodeparto.AspacientesforamdesignadasparaosgruposRP (n=55)ounãoRP(n=55)combaseemseusconsentimentosparaaanalgesiacombinadaRP.As parturientesdogruponãoRPreceberamoutrosmétodosdeanalgesiaparaoparto.Asdurac¸ões doprimeiroesegundoestágiodotrabalhodeparto,astaxasdepartovaginalinstrumentale cesarianadeemergênciaeosescoresdeApgarforamcomparados.
Resultados: Amédiadedurac¸ãodoprimeiro esegundoestágiodotrabalhodepartonãofoi significativamentediferenteentreosdoisgrupos.Astaxasdepartoinstrumentalnão foram significativamentediferentesentreosgrupos,RP(11%)versusnãoRP(16%).Aincidência ligei-ramentemaiordecesariananogrupoRP(16%versus15%nonãoRP)nãofoiestatisticamente significativa.OdesfechoneonatalemtermosdeíndicedeApgarfoiinferiora7.
Conclusão:Nãohouvediferenc¸assignificativasemrelac¸ãoàdurac¸ãodotrabalho,àstaxasde partovaginalinstrumentalecesarianadeemergênciaeaodesfechoneonatalemparturientes quereceberamRPparaanalgesiadepartoemcomparac¸ãocomaquelasquenãoreceberam. ©2014SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:nurlia@ppukm.ukm.edu.my(N.Yahya). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.09.009
KEYWORDS
Combined spinal-epidural; Labouranalgesia; Foetaloutcome; Durationoflabour
Combinedspinal-epiduralanalgesiainlabour:itseffectsondeliveryoutcome
Abstract
Backgroundandobjectives: Combinedspinal---epidural(CSE)hasbecomeanincreasingly popu-lar alternative to traditional labour epidural due to its rapid onset and reliable analgesia provided.Thiswasaprospective,convenientsamplingstudytodeterminetheeffectsofCSE analgesiaonlabouroutcome.
Methods:Onehundredandtenhealthyprimigravidaparturientswithasingletonpregnancyof ≥37weeksgestationandintheactivephaseoflabourwerestudied.Theywereenrolledtothe CSE(n=55)orNon-CSE(n=55)groupbasedonwhethertheyconsentedtoCSEanalgesia. Non--CSEparturientswereofferedothermethodsoflabouranalgesia.Thedurationofthefirstand secondstageoflabour,rateofinstrumentalvaginaldeliveryandemergencycesareansection, andApgarscoreswerecompared.
Results:Themeandurationofthefirstandsecondstageoflabourwasnotsignificantlydifferent betweenbothgroups.Instrumentaldeliveryratesbetweenthegroupswerenotsignificantly different(CSEgroup,11%versusNon-CSEgroup,16%).Theslightlyhigherincidenceofcesarean sectionintheCSEgroup(16%versus15%intheNon-CSEgroup)wasnotstatisticallysignificant. NeonataloutcomeintermsofApgarscoreoflessthan7at1and5minwassimilar inboth groups.
Conclusion:Therewerenosignificantdifferencesinthedurationoflabour,rateofinstrumental vaginaldeliveryandemergencycesarean section, andneonataloutcome inparturients who receivedcomparedtothosewhodidnotreceiveCSEforlabouranalgesia.
©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
A dor durante o trabalho de parto é um dos tipos mais angustiantes que uma pessoa precisa suportar. O Colégio AmericanodeObstetraseGinecologistasdeclarou:‘‘O tra-balhodepartoresultaemdorgraveparamuitasmulheres. Nãoháoutra circunstânciana qualsejaconsiderado acei-tável que uma pessoa sinta uma forte dor, passível de intervenc¸ãosegura, enquanto estásob oscuidadosdeum médico’’.1Atualmente,maismulheresoptampormétodos dealíviodador duranteo trabalho departo. Aanalgesia peridural adquiriu cada vez mais popularidade no mundo inteirodevidoasuacapacidadedeforneceranalgesia supe-rioraoutrosmétodosdealíviodador.
Contudo,hácontrovérsiaquantoaoseuefeitotantono cursoquantonodesfechodotrabalhodeparto.Como resul-tado,pesquisasconsideráveisforamfeitaseasdescobertas levaram a mudanc¸as na prática. A analgesiaperidural foi previamente implicada no prolongamento do trabalho de parto,aumentouanecessidadedeocitocinaeastaxasde partos instrumentais e operatórios. Porém, há evidências crescentesquerefutamalgumasdessasalegac¸ões.2
Aanestesiacombinadaraquiperidural(RP)tornou-seuma opc¸ãocadavezmaispopularparaaperiduraltradicional.A combinac¸ão deanestésico local/opiáceoadministrada por viaintratecalforneceanalgesiadeiníciorápido,potentee confiável,combloqueiomotor mínimodurante aprimeira fasedotrabalhodeparto,permiteamobilidadematernae resultaemmaiorsatisfac¸ãomaterna.3,4Umestudorecente quecomparouacombinac¸ãodeRPcomaanalgesiaperidural tradicionalmostrouque,emboraambasastécnicasfossem
excelentesopc¸õesanalgésicas,aRPproporcionoualívioda dorsignificativamentemaisrápidoemelhordurantea pri-meirafasedotrabalhodeparto.5
VáriosestudosquecompararamanalgesiaperiduraleRP ouanalgesiaperiduralenãoepiduralrelataramresultados variáveis, mas nenhum deles comparou a RP com outros métodosdeanalgesiaemtrabalhodeparto.6---8Nasrevisões sistemáticasde2011dobancodedadosCochraneque com-pararamanalgesiaperiduralversusnãoepiduralounenhuma analgesiaemtrabalhodeparto,aRPfoiincluídajuntocom aanalgesiaperidural,enãocomoumaentidadeseparada. Devido ao exposto,decidimos observar o efeito que aRP tevesobreodesfechodotrabalhodepartoemcomparac¸ão commétodosopcionaisdeanalgesiadeparto.Nossos desfe-chosforamadurac¸ãodafaseativadaprimeiraedasegunda fase do trabalho de parto, as taxas de parto instrumen-tal vaginal e de cesariana de emergência e os resultados neonatais.
Métodos
gravidezoucontraindicac¸ãoparaaanalgesiacombinadaRP foiexcluída.
As parturientes foram examinadas pela equipe obsté-trica na enfermaria. Uma anamnese obstétrica detalhada foi feita e a apresentac¸ão fetal cefálica confirmada por umavarredura.Quandoaequipeobstétricaconfirmouque asparturientesestavamnafaseativadotrabalhodeparto (dilatac¸ãocervicalde3-4cmcomcontrac¸õesregulares),as pacientes foram transferidas paraa salade parto. Aque-las queconsentiramcoma analgesiacombinadaRP foram incluídasnogrupoRPeparaaquelasquedeclinaramdessa analgesia outras formas de analgesia foram oferecidas e asparturientes foramdesignadas parao grupo nãoRP.As parturientesdogruponãoRPreceberamentonox(N2O/O2,
50%/50%) ou50mgde petidinapor via intramuscular(IM) com12,5mgdeprometazinaIM(Fenergan).Apressão arte-rial e a pulsac¸ão das parturientes foram monitoradas em intervalos de uma hora. A frequência cardíaca fetal e a durac¸ãoeafrequênciadascontrac¸õesuterinasforam moni-toradascomcardiotocografiacontínua.
NogrupoRP,ainfusãodesoluc¸ãodeRingercomlactato foi iniciada e as parturientes foram colocadasna posic¸ão sentada.Oprocedimentofoifeitosobcuidadosdeassepsia emL3-L4ouL4-L5,comumkitpré-embaladoquecontinha umaagulhaperiduraldecalibre18G,umcateterperidural decalibre 20Ge uma agulhaespinhalde calibre27G (BD DurasafeTMPlus).Oespac¸operiduralfoiidentificadocoma
técnicadaperdadaresistênciaàinjec¸ãodesoluc¸ãosalinae, emseguida,aagulhaespinhalfoiinseridaatravésdaagulha peridural.Apósavisualizac¸ãodorefluxodolíquido cefalor-raquidiano,umadoseintratecalde0,5mLderopivacaínaa 0,2%com0,5mLdefentanil(25g)foiadministrada.O cate-terperiduralfoientãoinserido3-5cmnoespac¸operidurale fixado.Aparturientefoientãoposicionadaemdecúbito dor-salcomdeslocamentouterinoparaaesquerdaeacabeceira dacamaelevadaa20-30◦.Oníveldebloqueiosensorialfoi verificadoparagarantirqueonívelsensorialfosse≥T10e, emseguida,umainfusãoperiduralderopivacaínaa0,0625% com2g.mL-1 defentanilfoiiniciadaa8mL.h-1.Os parâ-metroshemodinâmicosdasparturientesforammonitorados aintervalosde5minutosduranteeapósoprocedimentonos primeiros15minutosedepoisacada15minutosnaprimeira hora e, depois disso, a cada meia hora. Hipotensão arte-rial,definidacomoumareduc¸ãode20%dosvaloresbasais napressãoarterialsistólica,foitratadacomgiroda partu-riente paraaposic¸ãolateralesquerdae administrac¸ão de oxigêniomaternoeinfusãodelíquidosporviaintravenosa ouvasopressora (6mgde efedrinaou50gdefenilefrina porbolus),conformeindicado.
Duranteotrabalhodeparto,osníveisdebloqueio senso-rialemotoreoescorededorforamavaliadosemintervalos deuma hora.O grau debloqueio motor foi avaliado com o escore de Bromage modificado (EBM), no qual 1 = blo-queio completo, incapazde moverospés oujoelhos; 2 = bloqueioquase completo,capaz demoverapenasospés; 3=bloqueioparcial,capazdemoverapenasosjoelhos; 4 =fraqueza detectávelde flexãodo quadrilem supinac¸ão; 5=nenhumafraquezadetectável deflexão doquadrilem supinac¸ão. As parturientes comEBM ≤2 e/ounível senso-rial≥T6foramconsideradascomo portadorasdebloqueio periduralexcessivamentedensooualto,respectivamente, eadequadamentetratadas.
Adorfoi avaliadacom aEscala deAvaliac¸ão Numérica (EAN),emque0indicaausênciadedore10apiordor ima-ginável.A dorincidental foi tratadacom aadministrac¸ão periduraldedosesadicionaisemboluse/oucomoaumento dataxadeinfusãoperidural,adependerdoescoredaEAN. Paraasparturientescomescoresdedor=3-5,ataxade infu-sãoperiduralfoigradualmenteaumentadaatéomáximode 12mL.h-1.Para aquelascomescore dedor≥ 6,doses em
bolus de lidocaína a 2% (2-3mL) foram administradas via
periduralatéomáximode8mL.Aperiduralfoiconsiderada ineficazseumadorsignificativa(escoreEAN>5)persistisse apesardaadministrac¸ãodadosemáxima.Aessas parturien-tesoferecia-seoreposicionamentoperidural.Casoelasnão concordassem,meiosopcionais deanalgesiaeramusados. Asparturientes queprecisaramdereposicionamento peri-duraloudemeiosopcionaisdeanalgesiaforamexcluídasdo estudo.Ainfusãoperiduralfoimantidaatéonascimentodo bebêeinterrompidasomenteapósasuturadaepisiotomia. Omanejoobstétricofoisemelhanteemambososgrupos. Amniotomia era feita se as membranas fetais estivessem intactas.Oexamepélvicoparaavaliaroprogressodo traba-lhode parto foi feito em intervalos regulares,de acordo com o protocolo. O aumento de ocitocina foi prescrito comonecessárioparaobterumataxadedilatac¸ãocervical
≥1cm/h.Adecisãodeprocederaopartovaginal instrumen-talouoperatóriofoi tomadadeacordocom asindicac¸ões maternasoufetais.
Osdados coletados incluíram a durac¸ão da primeira e dasegundafasedo trabalhodeparto, aumento de ocito-cina,resultadodotrabalho(partovaginalespontâneo,parto vaginalinstrumentaloucesariana),bemcomoosescoresde Apgar no 1◦ e 5◦ minutos. A indicac¸ão para cesariana de emergência por incisão no segmento inferior (CEISI) tam-bémfoiregistrada.Oresultadofetalfoiavaliadocombase emestudosanteriores,nosquaisescoresdeApgar<7foram consideradosbaixos.4,9 Alémdisso, qualquerincidênciade hemorragianopós-partofoiregistradae,paraaspacientes dogrupo RP,qualquerefeitocolateralobservado (náusea, vômito, prurido, cefaleia pós-punc¸ão) foi documentado e adequadamentetratado.ParaaspacientesdogruponãoRP, asrazõesparaodeclíniodaanalgesiacombinadaRPtambém foramdocumentadas.
Análise
estatística
Otamanhodaamostrafoicalculadocomafórmulade Sne-decor e Cochran (1989) para variáveis contínuas. O valor constantede10,51baseou-senovalor-˛ de0,05epoderde 90%.Comessafórmula,umtamanhodeamostrade45 paci-entesparacada grupo foiobtido.Considerando umataxa dedesistência de20%, 55 pacienteseram necessários em cadabrac¸o.OprogramaSPSS(versão20;IBMSPSSInc.)foi usadoparaaanáliseestatística.Aanálisedosdadosfoifeita comotestetindependenteparaosdadosparamétricoseo testedoqui-quadradoparaosdadosnãoparamétricos.Um valor-p<0,05foiconsideradoestatisticamentesignificativo.
Resultados
Tabela1 Característicasdasparturientes(valoresexpressosemmédia±desviopadrão)
GrupoRP(n=55) GruponãoRP(n=55) p
Idade 28,8±3,6 28,6±3,8 0,755
Peso(kg) 67,2±13,6 66,2±14,4 0,717
Altura(m) 1,6±0,1 1,6±0,1 0,642
IMC(kg.m−2) 26,7±5,0 26,6±5,3 0,857
Idadegestacional(semanas) 38,6±0,9 38,7±0,7 0,427
Tabela2 Característicasdotrabalhodeparto(valoresexpressosemmédia±DPouemnúmeroscompercentualentre parên-tesesquandoapropriado)
GrupoRPGrupo(n=55) NãoRP(n=55) p
Durac¸ãodaprimeirafase(h) 5,5±0,9 5,4±1,2 0,718 Durac¸ãodasegundafase(min) 22,3±8,6 23,2±11,5 0,675
Aumentodeocitocina 39(71%) 36(65%) 0,341
Tipodeparto
Partovaginalespontâneo 41(74,6) 40(72,7) 0,917
Partovaginalinstrumental
Fórceps 1(1,8) 1(1,8) 1,000
Vácuo 4(7,2) 6(10,9) 0,527
Cesáreadeemergência 0,808
Sofrimentofetal 8(14,5) 6(10,9)
Progressoinsuficiente 1(0,02) 2(0,04)
parturientesdeambososgrupos.Nãohouvediferenc¸a signi-ficativaemtermosdeidade,peso,altura,índicedemassa corporal(IMC)eidadegestacionalentreasparturientesde ambososgrupos.
Nãohouvediferenc¸asignificativanadurac¸ãodaprimeira edasegundafasedotrabalhodepartoentreambosos gru-pos,como mostraatabela2.Aporcentagemdepacientes que recebeu ocitocina foi de 71% e 65% nos grupos RP e nãoRP,respectivamente,e nãohouvediferenc¸a significa-tiva.Nototal,46pacientesdogrupoRPe47dogruponão RP tiveramparto vaginalnormal. As taxas de parto vagi-nalespontâneoeinstrumentalnãoforamestatisticamente diferentesentreosgrupos.Opartoporvácuoextratorfoio modomaiscomumdepartoinstrumentalassistido.Ataxade CEISInãodiferiusignificativamenteentreosgrupos.A prin-cipalindicac¸ãoparaCEISIfoisofrimentofetal,responsável por14,5%e10,9%doscasosnosgruposRPnãoRP, respecti-vamente.CEISIfoiindicadaemcasodemauprogressonos demaiscasosdeambososgrupos.
No 1◦minutos, três e dois recém-nascidos dos grupos RP e não RP, respectivamente, apresentaram escores de Apgar<7, masa diferenc¸anão foi estatisticamente signi-ficativa.Nenhumdosrecém-nascidosapresentouescorede Apgar<7no5◦minuto.
Pruridofoiacomplicac¸ãomaiscomumnogrupoRP--- pre-senteem24 parturientes(44%) ---masadurac¸ãofoi curta e não houve necessidade de intervenc¸ão. Duas gestantes (3,6%) do grupo RP queixaram-se de náusea sem vômito. Não houve outras complicac¸ões relacionadas à RP, como dor de cabec¸a pós-punc¸ão dural e hipotensão, ou outras complicac¸ões,comohemorragiapós-parto.Asparturientes
quedeclinaramaanalgesiacombinadaRPrelataram como motivoso medo desentirdoresnas costas,dormência ou incapacidade de suportar a segunda fase do trabalho de parto.
Discussão
Oefeitodaanalgesianeuraxialnosresultadosobstétricose detrabalhosdepartotemsidoestudadoextensivamenteao longodos anos. Entre osdesfechos estudados encontram--se a durac¸ão daprimeira e dasegunda fasedo trabalho de parto, o aumento da ocitocina, a taxa de partos ins-trumentais ecesáreos,asatisfac¸ãomaternaeoresultado neonatal.10---13
periduralconvencional.Outropostuladofoiqueotrabalho departodolorosoresultouemumaumentodonívelde adre-nalinamaternaque,emsi,podesertocolítico.Evidências demonstramqueaanalgesiaperiduralpodeaceleraroparto porqueofornecimentodeanalgesiaeficazreduzas cateco-laminasmaternase,portanto,minimizaseuefeitoinibitório nacontratilidadeuterina.19Portanto,eradeseesperarque ousocombinadodeRPcomseurápidoinícioeeficácia anal-gésica semelhante teria umefeito similar na durac¸ão do trabalhodeparto.
Acredita-sequeaanalgesiaperiduralprolongaasegunda fasedotrabalhodepartoao removero reflexo involuntá-rio da parturiente de suportar ou ao interferir na func¸ão motora.15 Oesforc¸omaternoinsuficientedurantea expul-sãopodecausarmáposic¸ãofetalduranteadescida,oque podelevaraumaintervenc¸ãosobaformadeparto instru-mental oucesariana. Contudo,na práticamoderna atual, quandosoluc¸õesanestésicaslocaisdiluídassãousadaspara forneceranalgesiaperidural,obloqueiomotore,portanto, afraquezadosmúsculosdoassoalhopélvicosãomínimosou inexistentes.Issofoiconfirmadoporumametanálise recen-tementepublicadasobreoefeitodebaixasconcentrac¸ões
versusaltasconcentrac¸õesdeanestésicoslocaispara anal-gesiadepartonosdesfechosobstétricoseanestésicos.20Os autoresdescobriramqueasbaixasconcentrac¸õesestavam associadas a uma reduc¸ão na incidência de parto vaginal assistido ea umasegundafasemaiscurtade trabalhode parto.Usamosumainfusãoperiduralcomumaconcentrac¸ão baixaderopivacaína a0,0625%e2g.mL-1 defentanilem nossoestudo,deacordocomoprotocoloinstitucional.Nãoé surpresaqueonossoestudonãotenhaencontradodiferenc¸a significativa entre os grupos RP e não RP em relac¸ão à durac¸ãodasegundafasedotrabalhodeparto.Esse resul-tado é semelhanteaos de outrosestudos randomizadose controlados que compararam a combinac¸ão de RP com a analgesiaperiduralconvencional.21,22
Ataxadepartoinstrumentalémaisumdesfecho impor-tante avaliado, pois o procedimento aumenta o risco de traumaperinealmaternoederesultadosneonatais adver-sosemcasodepartodifícil.13Arevisãode2011dobancode dadosCochranedaanalgesiaperiduralversusnãoperidural ou nenhuma analgesia durante o trabalho de parto mos-trouqueaanalgesiaperiduralfoiassociadaaoaumentodo riscodepartovaginalassistido.8Contudo,verificou-sequea incidênciadepartoinstrumentalnãofoisignificativamente diferente(RP,9%versusnãoRP,12,7%).Issocontrastacom estudosanterioresquerelataramtaxasmaisaltasdeparto instrumentalem peridural, em comparac¸ãocom opiáceos parenteraisouusodeóxidonitroso.9,12Estudosque compa-raramRPcomperiduralnãorelataramdiferenc¸asnostipos departo.21,22Devemosnotarqueosresultadossão frequen-tementeafetadospormúltiplosfatoresdeconfusão,como atécnicaanalgésicaneuraxial,ométododemanutenc¸ãoda analgesiaperidural,aconcentrac¸ãodeanestésicolocal,o grau de analgesia durante a segunda fasedo trabalho de partoeosfatoresobstétricos.13
Dados consideráveisapoiamanoc¸ãodequeaanalgesia neuraxialemtrabalhodepartonãoaumentaoriscode cesa-riana em comparac¸ão com a analgesia sistêmica.13 Neste estudo,nãoobservamosaumentosignificativodastaxasde cesariana em gestantes que receberam analgesia combi-nadaRP.ArevisãodobancodedadosCochranedaanalgesia
periduralversusnãoepiduralounenhumaanalgesiaem tra-balhodepartomostrouquenãoháevidênciadediferenc¸a significativanorisco em geral de cesariana,embora haja umaumentodoriscodecesarianaporsofrimentofetal.8De formasemelhante,Halpernetal.relataramqueoriscode cesariananãofoidiferenteentremulheresquereceberam opioides sistêmicos versus analgesia neuraxial.17 Também devemosenfatizarquemuitosfatores,alémdoprogressodo trabalhodeparto,podemcontribuirparaopartocesáreo, taiscomodesproporc¸ãocéfalo-pélvica,bebêmacrossômico, infecc¸ão eparidade materna.13 Osresultadosdesses estu-dos, incluindoo nosso,implicam que é improvável que a analgesianeuroaxial,em si,afeteaschancesdeumparto normal.
ResultadoneonatalavaliadopeloíndicedeApgarfoi simi-lar em ambos os grupos. Todos os cinco recém-nascidos nosdoisgrupos, comescoresdeApgar menordoque 7no 1◦minutorecuperaram no5◦min.Issoestádeacordocom outrosestudosquemostraramnãohaverdiferenc¸anos esco-resdeApgarounopHdocordãoempacientesquerecebem periduralouanalgesiaRP.6,9,12,23
O efeito colateral mais comum nas parturientes que receberam a analgesia combinada RP foi prurido, o que ocorreu em 44% das pacientes.Esse efeito foi transitório etolerável,semnecessidadedetratamento.Asqueixasdas pacientesrevelaramprurido como o efeitocolateral mais comumdos opiáceos intratecais.24 Miro et al. concluíram emseuestudoqueemboraaanalgesiacombinadaRPtenha sido mais comumente associado a prurido e dor nas cos-tas,essacombinac¸ãoproporcionouanalgesiadequalidade superior.23
naloxona,ventilac¸ãomecânicaouadmissãoemUnidadede TerapiaIntensivaNeonatal,nãoforaminvestigadosemnosso estudo.
Em geral, este estudo apoia outros estudos que des-cobriram que a analgesia combinada RP não afetou negativamente o resultado do trabalho de parto.17,18 As mulheresemtrabalhodepartopodemestarcertasdeque, alémdeobteranalgesiasuperiorcomacombinac¸ãodeRP, podemterum partovaginal seguro e normal.Em conclu-são,o presente estudo mostrou que nãohouve diferenc¸a significativana durac¸ão dotrabalho departo, na taxade partoinstrumentalvaginaledecesarianadeemergênciae noresultado neonatalem parturientes quereceberam RP em comparac¸ãocom aquelas quenão receberamRP para analgesiadeparto.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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