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Em outra coisa não falavam os pardos, cabras, e crioulos: o "recrutamento" de escravos na guerra da Independência na Bahia.

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Academic year: 2017

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RESUMO

Este artigo analisa o recrutamento de es-c ravos para as forças patriotas du ra n te a guerra pela indepen dência bra s i l ei ra na Bahia (1822 a 1823) e faz uma distin-ção en tre os rec rut a m en tos de escravo s e de hom ens livres e libertos de cor, f re-qüentemente confundidos.O alistamen-to de escravos du ra n te esse con f l i alistamen-to foi uma medida improvi s ada pelo com a n-d a n te bra s i l ei ro, e não havia prom e s s a s de liberdade para os escravos. Depois do con f l i to, o govern o bra s i l ei ro man do u alforriar os escravos que serviram, com-pen s a n do seus don o s . Ao mesmo tem-po, a utori d ades lidaram com a gra n de qu a n ti d ade de hom ens de cor alistado s du ra n te a guerra , con tra s te marc a n te à fileira principalmente branca do final da é poca co l on i a l . A participação de solda-dos libertos n o Leva n te solda-dos Peri qu i to s de 1824 serviu de pretex to para depor-t á - l o s , e depor-também soldados não-bra n co s , da guarnição baiana.Dessa maneira,au-toridades restauraram a demarcação en-tre escravo e soldado,obscurecida de for-ma inaceitável durante a guerra. Pa l avra s - ch ave : i n depen d ê n c i a ;e s c ravi-dão; recrutamento militar.

ABSTRACT

This article examines the recruitment of s l aves for the patriot forces du rin g the Brazilian In depen den ce War in Ba h i a ( 1 8 2 2 — 1 8 2 3 ) , d i s tinguishing bet ween the frequ en t ly con f l a ted en l i s tm ent of s l aves and that of f ree or freed people of co l or. The slave rec ru i tm ent that too k p l ace du ring this con f l i ct was an ad hoc ex ped i ent by the Brazilian com m a n der, and no formal promises of l i berty were tendered to the slaves. After the conflict, the Brazilian govern m ent arra n ged to f ree those slaves who had served , gra n-ting com pen s a ti on to their own ers . At the same ti m e , a ut h ori ties had to de a l with the large nu m ber of m en of co l or enlisted during the war, a sharp contrast to the mostly wh i te late - co l onial reg u-l a rs . The parti c i p a ti on of form er su-lave s o l d i ers in the Peri qu i tos Rebell i on of 1824 provi ded the occ a s i on for the de-port a ti on of f reed and non - wh i te soldiers f rom the Bahian ga rri s on . In this way, a ut h ori ties re s tored the dem a rc a ti on bet ween slave and soldier, u n accept a bly blu rred du ring the con f l i ct .

Key word s : i n depen den ce ;s l avery; m i l i-tary recruitment.

os pardos, cabras, e crioulos”:

o “recrutamento” de escravos na

guerra da Independência na Bahia

Hendrik Kraay1

University of Calgary2

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E n tre as décadas de 1770 e 1820, gra n de parte das colônias escravi s t a s das Am é ricas con qu i s t a ram sua independência em lutas vi o l entas e às ve ze s revo lu c i on á rias con tra as potências co l on i a l i s t a s . Um aspecto comum a essas g u erras foi o rec rut a m en to de escravo s , rec u rso tanto de patriotas qu a n to da-queles leais aos metrópoles que procuravam aumentar suas forças. Para os es-c ravo s , os re su l t ados dessas lutas pela independênes-cia foram am bíguos, va-ri a n do de vi t ó va-ria deles no Ha i ti ao tva-riu n fo da classe sen h ova-rial (e um sistem a e s c ravista fort a l ec i do) nos Estados Un i dos e no Bra s i l . Na Am é rica espanhola ( s a lvo as exceções de Cuba e Porto Ri co ) , a escravidão en trou em dec ad ê n c i a du ra n te as guerras da indepen d ê n c i a , mas perdu rou até meados do século X I X3. Em todos esses casos, a participação m ilitar de escravos foi percebi d a

como algo sign i f i c a tivo. Pa ra mu i tos sen h ores de escravo s , foi um ep i s ó d i o preoc u p a n te que solapou sua autori d ade e que ameaçou torn a r-se revo lu c i o-n á ri o ; p a ra escravo s , coo-n s ti tu iu uma oportu o-n i d ade de que mu i tos se aprovei-taram com entusiasmo.

Apesar de que a guerra da independência no Brasil — na qual patri o t a s do recôncavo açucareiro de Salvador, capital da Bahia,assediaram tropas por-tuguesas que se fortificaram na cidade (meados de 1822 até 2 de julho de 1823) — não se aproximasse do tamanho nem da du ração das lutas d’alhu re s , o s p a triotas tod avia recorreram ao rec rut a m en to de escravo s , e o con f l i to aba-lou a escravidão nessa região de gra n de con cen tração de en gen h o s . O ep i s ó-d i o, con tu ó-do, tem recebi ó-do pouca atenção ac aó-dêmica e con traó-dições notávei s perm eiam a litera tu ra sobre esse rec rut a m en to de escravo s . Um histori ador ch ega a negar que escravos fo s s em rec rut ado s4, en qu a n to outros con f u n dem

o rec rut a m en to de escravos com os esforços maiores de mobilizar a pop u l a-ção não-branca, livre e liberta, contra as forças portuguesas5.

De fato, h o uve rec rut a m en to de escravos na Ba h i a , mas foi um esfor ç o mu i to improvi s ado, que não foi orden ado nem reg u l ado por dec reto. An te s , o gen eral francês nom e ado pelo im perador Dom Ped ro I para comandar as forças patriotas na Ba h i a ,P i erre Labatut , rec rutou e alistou escravos que fo-ram con f i s c ados de sen h ore s - de - en genho portugueses ausen te s .E m bora La-b a tut solicitasse autorização formal para tal rec rut a m en to da junta patri o t a l oc a l , o Con s elho In terino do Govern o, ele não a recebeu , e po u co depois foi de s ti tu í do do com a n do num go l pe pac í f i co em maio de 1823 (por razões não l i gadas diret a m en te ao seu em penho ao rec rut a m en to de escravo s ) . Con tu do, a guerra de s ordenou prof u n d a m en te a ordem social dessa soc i ed ade escra-vista,da mesma maneira que os conflitos em outras regiões das Américas afe-t a ram a insafe-ti afe-tu i ç ã o. A nece s s i d ade de mão-de - obra miliafe-tar levou os paafe-tri o afe-t a s a abandon a rem a exclusão de não bra n cos das forças arm adas reg u l a res (o ex é rc i to ) , vi gen te na época co l on i a l , e con tri bu iu à fácil aceitação de tra b

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l h adores escravos em funções militares auxiliare s . A con s eq ü en te prox i m i d a-de a-de escravos e soldados levou inexoravel m en te ao rec rut a m en to a-de alguns escravos sob pretexto de serem livres.

A vi t ó ria patriota requ eria a re s o lução dos probl emas legados por esse “rec rut a m en to” de escravo s , o que veio na forma de um dec reto imperial qu e recomendou a libertação de todos os escravos que tivessem servido como sol-d asol-do s , por meio sol-de com pensação pec u n i á ria aos sol-donos que não pusol-de s s em s er conven c i dos a libertar espon t a n e a m en te seus escravo s .O rdem nada fácil de cumpri r, esse dec reto e as libertações com pen s adas provoc a ram proce s s o s pro l on gados nos quais sen h ores defen deram ciosamen te seu direi to de pro-pri ed ade e o pro-pri n c í p i o, i m p l í c i to mas fundamen t a l , da n ão-intervenção do E s t ado nos direi tos sen h ori a i s . Os escravo s - s o l d ados cuja condição liberta foi enfim recon h ec i d a ,f i c a ram como soldados na guarnição do ex é rc i to bra s i l ei-ro em Sa lvador, mas sua pre s ença incom od ava as autori d ade s . Sua parti c i p a-ção no Leva n te dos Peri qu i tos em fins de 1824 forn eceu a ju s tificaa-ção para a transferência dos soldados negros e libertos para fora da província.

Ao distinguir cuidado s a m en te en tre o rec rut a m en to de escravos e o de l i bertos e hom ens de cor livre s , dem on s tro a natu reza essen c i a l m en te re s tri t a da iniciativa de Labatut no sen ti do de rec rutar escravo s , que tod avia con tri-bu iu para de s e s t a bilizar o regime escravista (como também fez o con f l i to no s eu sen ti do m ais am plo). Essa distinção é essen c i a l , pois o rec rut a m en to de l i bertos n ão se diferen c i ava do rec rut a m en to de hom ens livre s , en qu a n to o rec rut a m en to de escravos tocasse na questão fundamental do direi to de pro-priedade dos senhores.A segunda parte do artigo analisa os esforços pós-guer-ra de re s t a u pós-guer-rar a ordem social na Bahia e de re s t a bel ecer a dem a rcação en tre e s c ravo e soldado, ob s c u recida de uma forma inacei t á vel pela guerra . Ta n to du ra n te a guerra qu a n to depois del a , veremos os esforços impre s s i on a n te s dos escravos no sentido de resistir à dominação dos senhores quando se apro-veitaram das oportunidades novas decorrentes da guerra. Todavia,a indepen-dência bra s i l ei ra veio sob a direção da classe sen h orial e escravista que re s o l-veu , com êxito, o probl ema do rec rut a m en to escravo e se manteve no poder du ra n te m ais duas gera ç õ e s . A con clusão co l oca o caso baiano no con tex to mais amplo das Américas.

O “RECRUTAMENTO”DEESCRAVOS NAÉPOCA DAGUERRA, 1822—1823

Em m eados de 1822, alguns meses depois da derrota das unidades do ex é rc i to bra s i l ei ro pelas forças portuguesas em Sa lvador, ocorrida em feverei-ro, s en h ore s - de - en genho patriotas ju ra ram fidel i d ade a Dom Ped ro I, que na

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época aos poucos construía um governo autônomo no Rio de Janeiro e se pre-p a rava pre-para a ru pre-ptu ra def i n i tiva com Lisboa . Eles or ga n i z a ram o assédio a Sa lvador com um ex é rc i to improvi s ado com po s to de m ilícias ru ra i s , s o l d a-dos e oficiais da pri m ei ra linha de Sa lvador ref u gi aa-dos no Rec ô n c avo, a milí-cia não-branca da cidade,e uma grande quantidade de unidades patriotas or-ga n i z adas por vo lu n t á ri o s . Em fins de outu bro, ch egou Pierre Labatut para comandar as forças patriotas em nome de Ped ro, além de um pequ eno con-ti n gen te de tropas e milicianos do Rio de Ja n ei ro, uma força maior de Per-n a m bu co, e um a gra Per-n de qu a Per-n ti d ade de arm a s . Em Ja Per-n ei ro de 1823, o Ba t a-lhão do Im perador, com 800 efetivo s , ch egou do Rio de Ja n ei ro e ju n to u - s e ao número cre s cen te das forças patriotas loc a i s6. Pelo fim do assédio, o Ex é

r-c i to Par-c i f i r-c ador, n ome dado às suas forças pelos patri o t a s , a prox i m ava-se de um efetivo de 15.000 homens7.

O rec rut a m en to em larga escala em preen d i do em 1822 e 1823 inevi t a-vel m en te provocou mudanças na com posição social da filei ra , da qual preto s e pardos eram of i c i a l m en te exclu í dos no final da época co l onial (apesar de que estes fo s s em às ve zes ad m i ti dos se tive s s em a pele cl a ra )8. Algumas fon te s

d i s persas su gerem que a filei ra patriota era notavel m en te mais escura do qu e a da época co l on i a l . Uma te s temunha ocular viu “bra n co s , pretos e pardo s” na guarnição de um forte no litora l , en qu a n to numa companhia de tropas ir-reg u l a res serviam trinta e um pardo s , qu a tro bra n cos e dois cabra s , con tu do s ob com a n do de três oficiais bra n co s9. O rec rut a m en to pen etrou mais fundo

na população anteri orm en te isenta em meados de novem bro de 1822, qu a n-do Labatut solicitou que o Con s elho forn ecesse o maior número de “p a rn-dos e pretos forro s” que fosse po s s í vel para preen ch er o proj et ado Batalhão de Li-bertos Constitucionais e Independentes do Imperador (que não deve ser con-f u n d i do com o Batalhão do Im perador do Rio de Ja n ei ro ) . O Con s elho rep l i-cou que proc u ra ria rec rutar tais hom en s , mas sem coa ç ã o, pois qu a l qu er rec u rso ao rec rut a m en to for ç ado era “o reb a te mais eficaz para afugentar e d i s persar pelos matos famílias intei ras em dano da Causa e da agri c u l tu ra”1 0.

A essa altu ra ,L a b a tut não ten c i on ava rec rutar escravo s ; a penas solicitava qu e a utori d ades civis aban don a s s em sua relutância em rec rutar liberto s , e espe-cialmente libertos negros.

A questão dos escravos era bem diversa.Há indícios de que,já em setem-bro de 1822 (antes da chegada de Labatut), patriotas pretendiam usá-los. Ma-ria QuitéMa-ria de Je sus con tou depois a Ma Ma-ria Dundas Graham que patri o t a s então qu eriam obri gar seu pai, um portu g u ê s , a con tri buir com um escravo, pois n ão tinha filhos para dar ao ex é rc i to. A re s posta dele —”que intere s s e tem um escravo para lutar pela in dependência do Bra s i l ? ” — s em dúvida re-f l etia ati tu des bem dire-fundidas, e a ju l gar pela reação po s teri or às propo s t a s

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p a ra rec rutar escravo s , é improv á vel que os patriotas inten t a s s em alistar esse e s c ravo ; é mais prov á vel que ele fosse de s ti n ado a trabalho braçal em apoio à m obi l i z a ç ã o. Seja como for, Graham não deixa cl a ro se o pai de Ma ria Quité-ria se de s fez de um escravo por essa época (ele ac a bou perden do sua filha, o que causou outros probl emas para os com a n d a n tes patriotas qu a n do foi de s-coberto que ela se alistara)11.

L a b a tut era menos escrupuloso no que toc ava ao rec rut a m en to de escra-vo s , e em de zem bro de 1822 o Con s elho In terino qu ei xou-se de que o gen e-ral francês em preen dera a “h orroro s a” m edida de criar um “ Batalhão de ne-gros cativo s , c rioulos e afri c a n o s ,” cujos soldados já estavam sen do trei n ado s . Ap a ren tem en te , o gen eral con f i s c a ra e rec rut a ra à força os escravos de alguns s en h ores portugueses que estavam ausen te s , pri n c i p a l m en te a família Tei xei-ra Ba rbo s a , e em decorrência disso corriam boa tos que qu a l qu er escxei-ravo qu e se oferecesse vo lu n t a ri a m en te seria liberto1 2. Sem fim previ s í vel para a guerra

e em face da falta de rec rutas livre s ,L a b a tut propôs em abril de 1823 que o Con s elho or ganizasse uma con tri buição vo lu n t á ria de escravos pelos sen h o-res baianos. Aparentemente, ele discutira a proposta privadamente com o juiz de fora de São Fra n c i s co e Sa n to Am a ro em fins de feverei ro, e apre s en to u - a como uma “p a tri ó tica propo s i ç ã o” do ju i z . O gen eral tod avia con s i derava - a mais do que uma su ge s t ã o, pois mandou dois oficiais do seu qu a rtel - gen era l p a ra Cach oei ra afim de ad m i n i s trar essa leva . O Con s elho esqu ivo u - s e , a pe-l a n do a Labatut para que epe-le agisse de forma mais pru den te , e su geri n do qu e as câmaras municipais fo s s em con su l t adas antes de qu a l qu er rec rut a m en to1 3.

Uma semana mais tarde , os vere adores de Ja g u a ri pe ju l ga ra m , com o era de e s pera r, que a proposta de Labatut era um gra n de erro. Além de não haver mu i tos escravos dispon í veis na vi l a ,f a l t avam-lhes a hon ra e o de s i n teresse de “um digno filho de Ma rte” ; a penas a oportu n i d ade de saquear a propri ed ade a l h eia os motiva ria a lut a r. Mais import a n te , con clu iu o Con s el h o, a sel e ç ã o de escravos para o serviço militar teria resultados funestos quando os que não fo s s em libertos se ju n t a riam aos escravo s - s o l d ados para se leva n t a rem1 4. E s s a

proposta não foi ad i a n te e a qu eda de Labatut em maio de 1823 pôs fim ao esforços para recrutar escravos.

Pa ra o Con s elho In teri n o, a iniciativa de Labatut era prof u n d a m en te preoc u p a n te , não só por causa da ameaça do rec rut a m en to de escravos ao di-rei to de propri ed ade , mas também porque tocou a questão rac i a l . “É verd ade já incon te s t á vel ,” e s c reveu o Con s elho em meados de abril de 1823, “que as classes de cor têm no Brasil o maior ciúme por não entrarem promiscuamen-te nos em pregos públ i co s”. E n qu a n to os portugueses esperavam que um con-f l i to racial en tre os bra s i l ei ros con corresse para a pre s ervação do seu dom í n i o s obre o Bra s i l , não era “f á c i l , n em de modo algum po l í ti co con ceder já aqu el a

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i g u a l d ade para aparecerem hom ens de cor nos pri m ei ros em prego s”. Port a n-to, “mu i to convém ter a maior po l í tica com a situação destas cl a s s e s , de s a r-m a n do-as del i c ada e pru den ter-m en te”. L a b a tut agi ra de forr-ma ir-mpru den te , i n s i s tiu o Con s el h o, re su m i n do os esforços do gen eral para rec rutar escravo s e a sua recusa em prestar atenção às advertências del e . Mais om i n o s a m en te , ele co l oc a ra publ i c a m en te a questão do rec rut a m en to escravo ; em decorr ê n-c i a , “já pelas ruas em outra n-coisa n ão falavam os pardo s , n-c a bras e n-cri o u l o s”. Adem a i s , o capitão de milícias en c a rregado por Labatut do rec rut a m en to era um liberto e, con s eq ü en tem en te , i n tere s s ado demais no êxito da med i d a : el e “não ce s s ava de conversar com escravo s ,s en do até pelas ruas [da Cach oei ra ] cercado por eles”15.

Essa exposição do debate sobre o alistamento de escravos em 1822 e 1823 su gere diversos pon tos import a n te s . Em pri m ei ro lu ga r, o rec rut a m en to de e s c ravos foi um rec u rso improvi s ado : a p a ren tem en te , L a b a tut nunca em i tiu um dec reto convi d a n do escravos a se ju n t a rem aos patriotas em troca de li-berd ade . Que nen hum dos mu i tos inimigos dele o ac u s a ram disso po s teri or-m en te é uor-m forte indício de que ele taor-mbéor-m não o fez inforor-m a l or-m en te1 6.

De-vera s , os escravos con f i s c ados e rec rut ados foram alistados n o Batalhão de L i bertos Con s ti tu c i onais e In depen den tes do Im perador, mas esse alistamen-to em si sign i f i c ava , no máximo, a penas uma promessa implícita de liberd a-de.Em segundo lugar, Labatut respeitava sempre o direito de propriedade dos s en h ores bra s i l ei ro s . Ele con su l t ava repeti d a m en te o con s el h o ; os escravo s a l i s t ados em fins de 1822 pertenciam a sen h ores portugueses ausen tes qu e a p a ren tem en te não tinham herdei ros bra s i l ei ros (qu a n do havia tais herdei-ro s , os bens eram ad m i n i s trados para el e s ) . Dessa form a , o con f l i to en tre La-b a tut e o Con s elho tra t ava da disposição de La-butim de guerra de gra n de va l or. Em tercei ro lu ga r, por mais que Labatut e o Con s elho discord a s s em sobre a prudência do recrutamento de escravos, concordaram num ponto fundamen-tal,mas sempre implícito: soldado e escravo eram categorias distintas (e, por-t a n por-to, o alispor-tamen por-to de s por-te implicava uma mudança da sua con d i ç ã o ) . Que o deb a te sobre o rec rut a m en to de escravos causou tanta agitação na Cach oei ra dem on s tra que os escravos também sabiam disso. F i n a l m en te , a preoc u p a ç ã o do Con s elho com o apoio de Labatut ao rec rut a m en to de escravos passou fa-c i l m en te à ansied ade sobre as “fa-classes de fa-cor,” a qu ele medo geral da parte de uma el i te branca numa soc i ed ade com maioria esmagadora de não bra n co s , tão comum na época posterior à revolução haitiana.

Em decorrência dos esforços de Labatut no sen ti do de alistar escravos e da de s a rticulação social provoc ada pela guerra de 1822 e 1823, os escravo s baianos enfrentavam novas oportunidades. Havia poucos levantes nesses anos; como João José Reis tem su s ten t ado, a repressão brutal de duas revoltas

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monstrou a futilidade de rebeliões numa época em que a classe senhorial,ape-sar de divi d i d a , e s t ava bem arm ad a1 7. Oportu n i d ades para outras formas de

re s i s t ê n c i a , por é m , mu l ti p l i c ava m - s e : “Al ex a n d re , p a rd i n h o, f u giu no tem po da guerra para o Rec ô n c avo, e foi para Pern a m bu co com a tropa dali, de on-de o manon-dei venon-der,” comentou posteriormente uma mulher. Outros simples-m en te de s a p a recera simples-m , cosimples-mo Ma ria Ri t a , usimples-ma cri o u l a , que “f u giu qu a n do as tropas de Portu gal se reti rava m ,” e a Idade de Ou ro do Bra s i la tri bu iu esse fe-n ô m efe-no preoc u p a fe-n te ao mau exemplo dos sefe-n h ores patri o t a s1 8. “ Mu i tos

es-cravos” se aglomeravam no acampamento principal brasileiro, recordou o fu-turo visconde de Pirajá,onde foram empregados nos trabalhos de fortificação, en qu a n to os oficiais esco l h eram alguns para servi rem de cri ado s . E s tes era m tantos que o sucessor de Labatut, José Joaquim de Lima e Silva, emitiu ordens no sen ti do de re s tri n gir o número deles com direi to à et a p a . Proc u ra n do mi-nimizar o número de escravos alistados no ex é rc i to, P i rajá su s ten tou que a maioria deles foi mandada para trabalhar como sapadores ou camaradas, em-pregos trad i c i onais para escravos de trabalho braçal e serviço pe s s oa l1 9. O

u-tros escravos en con travam-se a serviço da causa patriota sob ordens dos seu s s en h ore s . O dono de duas armações de baleia mandou seus sessenta escravo s p a ra a con s trução de fortificações e o carrega m en to de víveres às linhas pa-tri o t a s2 0. Ta n to a fuga de escravos do ac a m p a m en to patriota qu a n to a prox

i-m i d ade de escravos e soldado s ,s ei-m falar dos boa tos provoc ados pelas inicia-tivas de Labatut no sentido de recrutar escravos,aumentaram a probabilidade de que escravos fora gi dos fo s s em inadverti d a m en te rec rut ados pelos patri o-t a s . Nos úlo-timos meses do assédio, com a n d a n o-tes a cujas unidades falo-tava m s o l d ados podiam ter fech ado seus olhos à condição escrava dos fora gi dos qu e se ofereciam vo lu n t a ri a m en te para servi r, m as não há nen huma evi d ê n c i a concludente de que isso acontecesse.

D ada a natu reza irregular e com freqüência de s ordei ra do rec rut a m en to p a ra as forças patri o t a s , é impo s s í vel estabel ecer o número de escravos alista-do s . Em julho de 1823, o Batalhão de Libertos tinha um efetivo de 327, i n-clu i n do oficiais e soldado s , mas alguns e talvez mu i tos deles já eram liberto s a n tes da guerra , rec rut ados como livres mas segregados nessa unidade por causa de sua anteri or condição escrava2 1. Essa cifra , é cl a ro, não incluía os

es-c ravos qu e , es-como dois perten es-cen tes a Ana Joa quina do Livra m en to, “perees-ce- “perece-ram na guerra”2 2. Além disso, como os processos de com pensação an alisado s

a b a i xo deixam cl a ro, alguns escravos serviam em outras unidade s .O n de fo s-se que s-servi s s em , tais hom ens ainda era m , de ju re ,e s c ravo s , pois nem Laba-tut nem o Con s elho In terino lhes ofereceram a liberd ade em troca de servi ç o m i l i t a r. Nem se haviam tom ado medidas para liquidar o direi to de propri e-dade dos seu donos.

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ASCONSEQÜÊNCIAS DO“RECRUTAMENTO”DEESCRAVOS

Depois da guerra , os vi toriosos sen h ore s - de - en genho baianos en f ren t a-vam a difícil tarefa de re s t a u rar sua autori d ade sobre uma população escrava que vi ra e ouvi ra muitas novi d ade s , s obre um ex é rc i to cuja filei ra con ti n h a um número aprec i á vel de escravos (cuja condição ainda não fora re s o lvi d a ) , e sobre “classes de cor ” que ga n h a ram nova consciência de sua import â n c i a em con s eqüência dos seus serviços na guerra . Re s t a u rar a linha divi s ora en tre e s c ravo e soldado foi um passo fundamen t a l , efetu ado pela libertação dos es-c ravos que servi ram of i es-c i a l m en te es-como soldado s , e pela devo lução do re s t a nte à condição de escravo. Po s nteri orm en nte , as autori d ades rem overam os ex -e s c ravos (-e também a maioria dos soldados n-egros) da Ba h i a , d-essa form a tra ç a n do mais ex p l i c i t a m en te a linha divi s ora en tre escravos e soldado s . O le-va n te do Batalhão dos Peri qu i tos (outu bro a novem bro de 1824), percebi do como uma revolta de soldados negros e ex-escravos, urgiu essas medidas.

Uma vez de posse de Sa lvador, o governo baiano em i tiu ordens às auto-ri d ades locais para que escravos vadios fo s s em captu rados e devo lvi dos aos s eus don o s2 3. O “gra n de número de cativo s” a l i s t ados no Ex é rc i to Pac i f i c ador

constituía um problema mais complicado, como explicou Lima e Silva: “Con-s ervei - o “Con-s” na filei ra “e “Con-sem pre lhe“Con-s ob “Con-s ervei prova“Con-s de va l or e intrep i de z , e um dec i d i do en tusiasmo pela causa da independência do Bra s i l .” Além disso, e s-ses “ i rmãos de arm a s” f i c a ram sob disciplina du ra n te a ocupação de Sa lva-dor; port a n to, “n ada me parece mais du ro” do que devo lvê-los à escravi d ã o2 4.

O governo imperial acei tou essa lem brança e en c a rregou-se de reg u l a rizar a n ova condição del e s , orden a n do que o governo baiano agenciasse a sua ma-nu m i s s ã o. Os interesses fiscais motiva ram a esperança de que sen h ores liber-t a s s em vo lu n liber-t a ri a m en liber-te seus escravo s ; s en ã o, o governo ofereceria com pen-s a ç ã o, pro tegen do apen-spen-sim o direi to de propri ed ade e (logo que po pen-s pen-s í vel) o princípio de que a alforria era privilégio exclusivo dos senhores25.

A decisão do governo imperial de ra tificar o alistamen to de escravos e a con clusão de que tais escravos eram of i c i a l m en te hom ens livres era provavel-m en te no interesse dos sen h ores baianos. Afinal de con t a s , devo lvê-los à es-c ravidão teria sido ainda mais impru den te do que rees-c rut á - l o s . Mu i tos sen h o-res ac a b a ram acei t a n do a com pen sação e abri ram mão do seu direi to de propri ed ade , e “s o l d ados liberto s” às ve zes aparecem em doc u m entação po s-teri or, en tre eles um nagô que depôs no processo con tra os escravos rebel de s de 18352 6. O utros sen h ores nega ram-se a libertar seus escravo s - s o l d ado s , o

que motivou requ eri m en tos em que estes solicitaram liberd ade ao govern o. Em pelo menos dois casos, m i n i s tros orden a ram que as autori d ades provi n-ciais ten t a s s em conven cer os donos relut a n tes a acei t a rem justa recom pensa e

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a libert a rem seus escravo s ; um de s s e s , Ma n oel Rufino Gom e s , era sargen to em 182527.

Nem sem pre era fácil obter com pen s a ç ã o, ainda mais depois da rem o-ção da maioria dos escravo s - s o l d ados da Bahia em fins de 1824 (vi de abai-xo). José Lino Coutinho aproveitou-se de uma visita ao Rio de Janeiro no iní-cio de 1825 para provar seu domínio sobre os soldados Fra n c i s co Anastáiní-cio e João Gu a l berto, i rmãos que se decl a ravam alfabeti z ado s ,p a ra os quais acei-tou 600$000,160$000 menos do que o valor em que foram avaliados. José Fe-liciano dos Sa n tos goz ava de menos sorte e ainda reivi n d i c ava a posse de um certo Jac i n to, em 18262 8. Dois casos arra s t a ram -se até 1829. Logo depois da

reocupação de Sa lvador, G eminiano Lázaro vo l tou à sua sen h ora , i n fel i z m en-te anen-tes que ch egasse a Sa lvador a notícia da libertação dos escravo s - s o l d a-do s . De alguma manei ra , ac a bou servi n a-do no batalhão m iliciano de negro s em 1829, qu a n do autori d ades militares re s o lveram que ela fosse com pen s ad a . Um com p a n h ei ro miliciano ade Gem i n i a n o, Antônio Ri bei ro, tinha ra bo -de - p a l h a . Ten do -de s ert ado do ex é rc i to antes que sua condição escrava fo s s e l i qu i d ad a , vo l tou a Sa lvador on de foi alistado na milícia negra . Ali foi en con-trado por seu don o, e autori d ades militares ju l ga ram que perdera seu direi to à liberdade por causa da deserção, e o devolveram ao senhor29.

Nem sem pre era fácil re s o lver as reivindicações dos sen h ore s , dos escra-vo s - s o l d ados e do Estado. Um angolano fora gi do, Caetano Perei ra , a l i s to u - s e vo lu n t a ri a m en te no dia 9 de junho de 1823 (m as não no Batalhão de Liber-to s ) . Deu baixa no dia 7 de ago s Liber-to e logo en f ren Liber-tou um dono en f u rec i do qu e ten t ava vendê-lo para fora da prov í n c i a . Caet a n o, provavel m en te saben do da decisão do governo imperial no sen ti do de libertar escravo s - s o l d ado s , proc u-rou seu anti go com a n d a n te , que acei tou alistá-lo nova m en te no dia 6 de ou-tu bro. O dono era cidadão porou-tu g u ê s , o que provavel m en te fac i l i tou a dec i-são do oficial de dar abri go a Caet a n o. Tod avi a , e com muita ra z ã o, o don o acusou o oficial de inten c i on a l m en te alistar um escravo fora gi do e repeti d a-m en te ex i gia satisfação del e , t a lvez porque ju l gasse a bu roc racia ia-mperial in-s en in-s í vel à in-sua recl a m a ç ã o3 0. In evi t avel m en te , alguns soldados e civis de s

cobri-ram jei tos de ti rar va n t a gem do progcobri-rama de com pen s a ç ã o. “G era l m en te con s t a [ va ] ,” s eg u n do um of i c i a l , que soldados e civis co l a boravam na fei tu ra de requ eri m en tos falsos, a través dos quais os “e s c ravo s” e seus “don o s” rep a r-tiam o va l or do “e s c ravo”3 1. A preocupação com tais fra u des estava por tr á s

da exigência de com provação de domínio e de iden ti d ade de escravo s - s o l d a-do s , os qu a i s , por seu laa-do, f ru s travam a-donos que nem sem pre tinham tal a- do-cumentação à mão.

Nem todos os escravos que servi ram à causa patriota con qu i s t a ram su a l i berd ade , como já vimos no caso de Antônio Ri bei ro. Da ilha de It a p a ri c a , o

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com erc i a n te , s en h or de en genho e govern ador militar da loc a l i d ade , ten en te -coronel Antônio de Souza Lima, explicou em 1825:

Nen hum escravo pre s tou aqui serviço du ra n te a campanha, com direi to à liber-d aliber-de , por que nunca para tal tive orliber-dem , e n em en tenliber-di que esse inliber-du l to se es-tendia além do corpo, que com a den ominação de ‘ L i berto s’ foi cri ado pelo Ge-n eral do Ex é rc i to Pac i f i c ador (...). AlguGe-ns fizeram servi ç o s ; mas foram os qu e f u gi n do da cidade , ou os que aqui ficaram abandon ados de seus sen h ore s ,a n d a-vam va ga n do pelos campo s ,f a zen do ro u bos e de s ordens (...) foram en treg u e s aos seus senhores, logo que requisitaram32.

Ao minimizar os serviços prestados por esses escravos e ao negar sua con-dição de soldado s , os sen h ores que se op u s eram ao rec rut a m en to de escravo s con ti nu avam a lutar em defesa da sua propri ed ade . Os escravos que servi ra m na guerra , ao con tr á ri o, va l eram-se dos seus serviços para reivindicar re s pei-to da parte das aupei-tori d ade s . Apesar de não ter sido liberpei-to depois da guerra , o a f ricano Dom i n gos Sudré con s i derava-se veterano da indepen d ê n c i a . Al for-ri ado pelo seu dono em 1836, foi preso em 1862 por pr á ticas de candom bl é em sua casa. Ve s tiu-se or g u l h o s a m en te com a farda dos veteranos da inde-pendência na pri s ã o, por mu i to de sgo s to do su b del egado, que lem brou ao ch efe de polícia que Sudré era escravo du ra n te a guerra e que fora vi s to po s-teriormente a serviço do engenho do seu senhor33.

No decorrer da década de 1820, a bu roc racia imperial aos po u cos re s o l-veu as pretensões dos escravos e dos sen h ore s , dem a rc a n do o mais cl a ra m ete po s s í vel a linha divi s ó ria en tre escravos e soldado s , uma linha qu e , s eg u n-do ton-dos os envo lvi n-do s , devia ex i s tir e devia ser cl a ra . De fato, o govern o imperial ressaltou esse princípio em 1824,ao d ecretar que homens de cor pro-va s s em “sua condição livre” a n tes de se alistarem vo lu n t a ri a m en te3 4. O

paga-m en to de copaga-m pensação aos don os cujos escravos se alistarapaga-m e lut a rapaga-m na campanha da independência baseavse no princípio anti go do direi to rom a-no que escravos que servi ram ao Estado não deveriam con ti nuar a-no cativei-ro, e a decisão de 1823 era, de vez em quando, citada como um precedente pa-ra re s o lver casos de fopa-ra gi dos alistados há mu i to tem po cujos don o s pretendiam sua devo lu ç ã o, uma po l í tica bem estabel ecida no ex é rc i to bra s i-leiro já nos anos de 184035.

L i bertar os escravos alistados casu a l m en te em 1822 e 1823 re s o lveu al-guns probl em a s , mas dei xou sem re s o lução a questão maior de como ad m i-n i s trar uma guari-nição i-na qu a l , depois da ii-ndepei-n d ê i-n c i a , s ervia um gru po s i gn i f i c a tivo de ex - e s c ravos e mu i to mais soldados não-bra n cos do que anti-ga m en te . O riu n dos de uma mobilização pop u l a r, os soldados da guarn i ç ã o

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de Sa lvador pós-guerra eram de s ordei ro s . Em face dessa qu ebra de disciplina m i l i t a r, o governo bra s i l ei ro dec retou em 1823 que soldados culpados de pri-m ei ra e segunda de s erção sipri-mples recebe s s epri-m su pri-m a ri a pri-m en te 30 e 50 ch i b a t a-das, respectivamente (em vez de passarem por complicados conselhos de guer-ra ) , c a s ti go dobguer-rado em 1824 e aplicado em 1825 a qu a l qu er forma de de s ordem3 6. A insti tuição de ch i b a t adas como casti go para de s ertores era o

con tra pon to natu ral do rec rut a m en to de escravos na guerra da indepen d ê n-c i a . So l d ados libertos podiam ser n-con tro l ados som en te pela n-ch i b a t a , ou pel o m enos assim pen s avam autori d ades militare s . Na Ba h i a , con tu do, a utori d a-des provinciais ainda não estavam sati s fei t a s . O pre s i den te ex i giu “uma abso-luta reform a” da tropa em maio de 1824, de s t ac a n do que “de nen huma ma-neira podem convir os pretos de que se compõem os batalhões, que quase não têm bra n co s , ou pardos que ch eg u em à décima parte”3 7. De forma mais

pito-re s c a , Fel i s berto Ca l dei ra Brant Pon te s , com a n d a n te da guarnição na décad a de 1810 (e futu ro marquês de Ba rb acen a ) , decl a rou du ra n te uma visita a Sa l-vador em feverei ro de 1824, que “a não ser os uniformes poderiam bem con-s i dera r-con-se aocon-s con-soldadocon-s com o armação da Cocon-sta da Mi n a”. Pa ra mel h orar a g u a rn i ç ã o, Brant recom en dou uma volta à pr á tica co l onial de rec rut a m en-to — n en hum soldado preen-to, i n feri ores som en te bra n cos e, p a ra “n eutralizar a i n f luência dos pardo s ,” 800 mercen á rios estra n gei ro s . Apesar de con cord a r com a nece s s i d ade de mu d a n ç a s , Ped ro re s o lveu , com pru d ê n c i a , não esta-c i onar tropas estra n gei ras em Sa lvador, mas Bra n t , esta-como ministro em Lon-d re s , foi instru m ental na con tratação Lon-dos m ercen á rios alemães e irl a n Lon-de s e s mandados enfim para o Rio de Janeiro38.

No calor da hora , t a n to Brant qu a n to o pre s i den te provavel m en te ex a ge-ra ge-ram na proporção de negros na filei ge-ra . O utge-ras fon tes su geri ge-ram que havi a um grau de segregação na guarnição de 1823 e 1824, qu a n do mu i tos dos ex -e s c ravos ac a b a ram s-ervi n do no Batalhão dos P-eri qu i to s ,c a ra t-eri z ado por um c ronista com o “com po s to pela maior parte de libertos e outras pe s s oas de classes heterog ê n e a s”3 9. O cônsul francês distinguia en tre os batalhões qu a

n-do de s c reveu o leva n te n-dos Peri qu i tos como um con f l i to en tre tropa branca e n egra4 0. Ta lvez essa segregação ref l etisse uma po l í tica oficial do govern o ; pode

também indicar uma relutância da parte dos livres de servi rem ao lado de ex -e s c ravo s ,a ti tu d-e -evi d-en t-e na Sa bi n ada d-e 1837, qu a n do soldados r-eb-el d-es r-e- re-c u s a ram-se a servir re-com os esre-cravos alistados pelo ef ê m ero governo rep u bl i-c a n o4 1. Autori d ades perceberam a gra n de in imizade en tre os Peri qu i tos e os

soldados dos outros batalhões42.

O rdens para dem i tir o popular com a n d a n te do Batalhão dos Peri qu i to s em fins de 1824 e para tra n s ferir a unidade para fora de Sa lvador foram o es-topim do motim du ra n te o qual o com a n d a n te da guarnição foi morto. O

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va n te perdeu as qu a l i d ades pri m i tivas e vi rou um con f ron to en tre tropas re-bel de s — du ra n te algum tem po em con trole do governo provincial—e os au-toprocl a m ados legalistas que abandon a ram a cidade . Depois de um mês ten-s o, ch eio de con f ron toten-s e negoc i a ç õ e ten-s , a maioria doten-s Peri qu i toten-s anu iu ao em b a rque para Pern a m bu co e os legalistas reoc u p a ram a cidade4 3. Em con s

e-qüência dessa revo l t a , os governos baiano e bra s i l ei ro ex p u l s a ram soldado s de s ordei ros da guarnição de Sa lvador e mostra ram-se determ i n ados a man-ter a ordem , “c u s te o que custar”. A repressão assu m iu uma feição racial com a remoção de soldados negros e ex - e s c ravos da cidade . O em b a rque do Ba t a-lhão dos Peri qu i tos e a po s teri or dispersão dos seus soldados por outras uni-d auni-des uni-de s terrou os que eram então vi s tos como os mais peri go s o s . Na hipó-tese de que escravos negros seriam menos peri gosos no mar do que em terra , a marinha foi o destino final de muitos. Mesmo antes do fim da revolta, o go-verno provincial ten tou tra n s ferir à marinha os soldados libertos que não es-t avam de s i gn ados para a ex pedição a Pern a m bu co, m edida que o govern ador das armas então ju l gou impru den te , porque servi ria apenas para provocar a de s erção del e s . O utros foram depois envi ados a uma das unidades negras do ex é rc i to bra s i l ei ro, os Batalhões 10 e 11, e s t ac i on ados na seg u ra m en te rem o t a e quase sem pre assed i ada cidade de Mon tevi d é u4 4. A legislação imperial sobre

o rec rut a m en to repetiu a exclusão co l onial de pretos do ex é rc i to, uma exclu-são a que o govern ador das armas deu atenção em meados de 1825, qu a n do recusou um rec ruta por causa de sua “cor pret a”4 5, e com o já vi m o s , h om en s

de cor (isto é, p a rdos) que qu eriam servir vo lu n t a ri a m en te foram obri gado s em 1824 a comprovar “sua condição livre” (ou liberta).

Tu do isso não foi nada menos do que uma purga racial m aciça dos re-m a n e s cen tes do Ex é rc i to Pac i f i c ador. Foi tare-mbére-m re-mu i to bere-m - su ced i do : nu-ma lista de 366 de s ertores dos batalhões baianos du ra n te 27 meses, de 1825 até o início de 1827, há apenas 15 pretos en tre 275 pardo s , 8 cabra s , 4 cabo-clos e 64 bra n co s , mu i to lon ge da filei ra 90 por cen to negra de que recl a m a ra o pre s i den te em 18244 6. Esses dados revelam o re su l t ado de um esforço

inten-c i onal de rem over negros e ex - e s inten-c ravos da guarn i ç ã o. Negros livres ou liber-tos podiam servir no ex é rc i to, mas ac a b a riam “goz a n do do frio de Mon tevi-déu,” como ironizou um contemporâneo sobre o destino dos Periquitos47.

CONCLUSÃO

A derrota do Leva n te dos Peri qu i tos e a remoção inten c i onal dos ex - e s-c ravos da guarnição de Sa lvador re s o lveu , da pers pes-ctiva dos sen h ores baia-n o s , os probl emas dei x ados por Pierre Labatut . O gebaia-n eral fra baia-n c ê s , recobaia-n h

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cen do que o rec rut a m en to trad i c i on a l , que no geral exclu í ra os não-bra n co s da filei ra , era inadequ ado às nece s s i d ades patri o t a s , e em p u rrou o rec rut a-m en to para esses setores anti ga a-m en te isen to s , tra zen do assia-m a-mu i tos não bra n cos e alguns escravos ao Ex é rc i to Pac i f i c ador. As exigências militares as-sim abalaram o regime escravista e as hiera rquias raciais implícitas no rec ru-t a m en ru-to co l on i a l . O que nem Labaru-turu-t nem o Con s elho In ru-terino fizera m , ru- to-davia, foi oferecer liberdade aos escravos que serviriam nas forças patriotas.

Nesse respeito, o recrutamento na guerra da independência brasileira di-ferenciou-se dra m a ti c a m en te da ex periência da Am é rica inglesa e espanhola, on de tais ofertas eram freq ü en te s . Basta citar alguns exem p l o s . Em de zem bro de 1775,lorde Dunmore,o governador britânico da Virgínia,sitiado pelos re-bel de s , em i tiu um bando que convi d ava os escravos dos sen h ores rere-bel des a se ju n t a rem às forças britânicas em troca de liberd ade ; já no início de 1775, por volta de 300 serviam no dito “ Regi m en to Et í ope”. O estado de Rh ode Is-l a n d , que se esfor ç ava para com p Is-l etar sua cota para o Ex é rc i to Con ti n en t a Is-l em 1778,criou um batalhão negro, oferecendo liberdade aos escravos que ser-vi s s em du ra n te todo o tra n s correr da guerra , e com pen s a n do seus sen h ore s até o va l or de 400 dólare s ; o utros estados do norte fizeram o mesmo, mas os do su l , mais depen den tes da escravi d ã o, rej ei t a ram todas as propostas nesse s en ti do. Nos últimos anos da luta pela independência das tre ze co l ô n i a s , o s e s forços militares bri t â n i cos con cen tra ram-se no sul escravi s t a , c u jas econ o-mias e regimes escravistas foram deva s t ados pela luta e pela fuga de milhare s de escravos para as linhas bri t â n i c a s ; mu i tos foram enfim evac u ados qu a n do as tropas britânicas se reti ra ram da região no início da década de 17804 8. Na

Am é rica espanhola, governos patriotas na Ar gen tina em i ti ram mu i tos dec re-tos no sen ti do de libertar escravos e de com pensar donos que apre s en t a s s em sua propriedade humana ao exército;em 1816, Simón Bolivar decretava o fim da escravidão à medida que suas tropas ava n ç avam em Nova Gra n ad a , m a s recrutou à força todos os libertos válidos para seu exército49. Deveras,as

eman-cipações bo l ivianas foram po s teri orm en te revogadas e a escravidão perdu ro u no norte da Am é rica do Sul até meados dos anos de 1850. Todas essas med i-das na América espanhola e inglesa diferenciaram-se do que aconteceu na Ba-h i a , on de n ão Ba-havia reg u l a m entação oficial do alistamen to de escravos nem medidas para compensar donos durante a guerra da independência50. Da

mes-ma form a , o rec rut a m en to de escravos em preen d i do por Labatut diferen c i a-va-se do que o Brasil em preen deu du ra n te a Gu erra do Pa raguai nos anos 1 8 6 0 : nessa guerra , a utori d ades abstiveram-se de obri gar sen h ores a cederem seus escravos às forças armadas;a partir de dezembro de 1866, o governo ofe-receu com pensação aos sen h ores para incen tivar alforrias sob a condição de

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s ervir na guerra . Du ra n te toda essa guerra , s en h ores tiveram que libertar es-cravos antes que pudessem ser alistados51.

Os dec retos que libert avam escravos sob a condição de servi rem , en tre-t a n tre-to, são apenas uma partre-te da histre-tóri a . O fatre-to de que não havia nen hum na Bahia revela o poder da classe sen h orial qu e , assim como seu correl a tivo no sul dos Estados Un i do s , recusou a armar seus escravo s . Mas os “p a rdo s , c a-bras e cri o u l o s” que não falavam em mais nada no início de 1823, recon h e-ciam que as medidas de Labatut eram inovações import a n te s . Que tan tos es-c ravos fugiam aos aes-c a m p a m en tos patriotas su gere que viam oportu n i d ade s para si mesmos na luta pela liberdade de Portugal.

A falta de re s o lução sobre a condição pós-guerra dos escravo s - s o l d ado s dei xou um probl ema com p l exo para o Estado bra s i l ei ro recém indepen den te . A emancipação com pen s ada só veio depois da vi t ó ria patriota em julho de 1 8 2 3 . Pro tegeu o direi to de propri ed ade dos sen h ore s , preocupação funda-m ental nufunda-ma soc i ed ade escravi s t a . Suas cl á u sulas re s tritas asseg u ra rafunda-m qu e po u cos escravo s — a penas os que servi ram efetiva m en te como soldado s — s e-riam ben ef i c i ado s , e que eles ficae-riam sob con trole da hiera rquia militar co-mo soldados ra s o s . Mesco-mo assim, era peri goso demais m antê-los em Sa lva-dor, perto dos que não foram alforri ado s . Por isso a purga racial depois do l eva n te dos Peri qu i tos rem oveu mu i tos soldados pretos e libertos da guarn i-ç ã o. Nesse sen ti do, “ Dois de Ju l h o” foi , como ob s erva João José Rei s , um “ j o-go du ro”5 2, mas o re su l t ado não deve su rpreen der. Afinal de con t a s , a cl a s s e

senhorial baiana emergiu da guerra abalada,mas vitoriosa.Enquanto não pdiam evitar o rec rut a m en to in formal de escravos em 1823 e 1824, os sen h o-res baianos ob s t a ram uma leva formal de escravo s , e ad i a ram a questão da li-bertação dos escravos-soldados até depois da guerra, quando podiam resolvê-la de uma posição mais forte.

NOTAS

1 Hen d rik Kra ay é assistant profe s so rde Hi s t ó ria e Ciências Po l í ticas na Un ivers i d ade de

Ca l ga ry, Ca n ad á . Além de diversos arti gos em revi s t a s , é autor de Ra ce , St a te , and Arm ed Fo rces in In d epen d en ce - Era Brazil: Ba h i a ,1 7 9 0 s - 1 8 4 0 s( S t a n ford , 2001) e or ga n i z ador de

Af ro - B razilian Cu l tu re and Pol i ti cs: Ba h i a , 1 7 9 0 s - 1 9 9 0 s( Arm on k ,1 9 9 8 ) . Atu a l m en te de-s envo lve pe de-s quide-sade-s de-sobre cultu ra patri ó tica no Rio de Ja n ei ro e em Sa lvador póde-s-indepen- pós-indepen-dência, abordando o tema através de uma análise de festas cívicas e de monumentos.

2 Uma versão preliminar de s te arti go foi apre s en t ada à Con feren ce on Latin Am erican Hi

s-tory, Chicago, em 7 de janeiro de 2000;agradeço os comentários dos participantes e ao So-cial Scien ces and Hu m a n i ties Re s e a rch Coun cil of Ca n ad a , que deu o apoio financei ro principal à pe s qu i s a . A revisão do tex to português é de Mônica Nog u ei ra de Sá. As seg u i

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tes abrevi a tu ras são usadas nas notas:A A P E Ba(Anais do Arq u ivo Públ i co da Ba h i a) ,A H Ex ( Arqu ivo Hi s t ó ri co do Ex é rc i to ) , AHMI (Arqu ivo Hi s t ó ri co do Mu s eu Im peri a l ) ,A PE Ba ( Arqu ivo Públ i co do Estado da Ba h i a ) , BNRJ/SM (Bi bl i o teca Nac i on a l , Rio de Ja n ei ro, Se-ção de Ma nu s c ri to s ) ,R I G H Ba(Revista do In s ti tu to Ge o gr á f i co e Hi s t ó ri co da Ba h i a) ,C L B

(Coleção das Leis do Brasil);RIHGB(Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro).

3 Essas com p a rações são esbo ç adas por BLAC K BU R N , Robi n .The Overt h row of Col o n i a l

Slavery, 1776-1848. Londres, Verso, 1988, pp. 258-260, 286-291, 372-375, 411-414.

4 M O RTO N , F. W. O. “The Con s erva tive Revo luti on of In depen den ce :E con omy, Soc i ety,

and Politics in Bahia.” Tese de Doutoramento, Oxford University, 1974, pp. 267-268.

5A M A RA L , Braz do.Hi s t ó ria da In d epen d ê n cia na Ba h i a .2ªed . Sa lvador: Prefei tu ra do

Município do Sa lvador, 1 9 5 7 , pp. 7 ,2 7 2 ,2 8 5 ,2 9 1 - 2 9 2 ;F E R RA Z , Aydano do Co uto. “O es-c ravo negro na revo lução da independênes-cia da Ba h i a”. In Revista do Arq u ivo Mu n i ci pa l

(São Pa u l o ) , vo l .5 , nº5 6 ,1 9 3 9 , pp. 1 9 5 - 2 0 2 ; R E I S , João Jo s é , e SILVA ,E du a rdo.Nego ci a-ção e co n f l i to: a re s i s t ê n cia negra no Brasil escravi s t a. São Pa u l o : Com panhia das Letra s , 1 9 8 9 , pp. 9 0 ,9 6 - 9 8 ;A RAU J O, U bi ratan Ca s tro de . “Sans gl oi re : le soldat noi re sous le dra-peau br é s i l i en ,1 7 9 8 - 1 8 3 8 ”. In CRO U Z E T, Fra n ç oi s , et al. ( or gs . ) .Pour l’histo i re du Brésil: m é l a n ges of ferts à Kátia de Queirós Ma t to so, Pa ri s : L’ Ha rm a t t a n , 2 0 0 0 , pp. 5 3 6 - 5 3 7 ; RO-D R I G U E S , José Hon ó ri o.In d epen d ê n cia: revolução e co n tra - revol u ç ã o.5 vo l s . Rio de Ja n ei-ro: Francisco Alves, 1975, vol. 3, pp. 90, 213-214.

6Sobre aspectos políticos e militares da independência na Bahia, vide TAVARES, Luís

Hen-ri que Di a s .A indepen d ê n cia do Brasil na Ba h i a. 2ªed . Rio de Ja n ei ro : Civilização Bra s i l ei-ra ,1 9 8 2 ; K RA AY, Hen d ri k .Ra ce , St a te , and Arm ed Fo rces in In d epen d en ce - Era Brazil: Ba-hia, 1790s-1840s. Stanford: Stanford University Press, 2001, cap. 5.

7 S I LVA , Ign acio Acioli de Cerqu ei ra e.Mem ó rias históricas e pol í ticas da prov í n cia da Ba-h i a. 6 vo l s . Sa lvador: Im prensa Oficial do Estado, 1 9 1 9 - 1 9 4 0 , vo l .4 , p. 5 9 ,n .2 8 ;A M A RA L .

Op. cit.,p. 450.

8 Sobre o recrutamento militar no final da época colonial, vide KRAAY.Op. cit., pp. 76-78.

9 DO R E S , Ma n oel Morei ra da Pa i x ã o. “ Di á rio do capelão da esqu ad ra imperial com a n d

a-da por Lord Coch ra n e”. In R I G H Ba ,vo l .6 7 ,1 9 4 1 , p. 3 2 ; “Lista da Gu errilha Vo lu n t á ria do Pedrão.” In RIGHBa, vol. 48, 1923, pp. 387-389.

10 Con s elho In terino do Governo ao Ped ro [Pierre] Labatut , Cach oei ra , 22 de novem bro

de 1822,AAPEBa, vol. 41, 1973, p. 28.

11 G RA H A M , Ma ria Du n d a s .Jou rnal of a Voya ge to Brazil and Re s i d en ce T h ere du ring the

Years 1821, 1822, 1823.Nova York: Praeger, 1969, p. 293.

12 Con s elho In terino ao Mi n i s tro do Im p é ri o, Cach oei ra , 23 de de zem bro de 1822,R I G H-Ba, vo l .1 4 ,1 8 9 7 , pp. 5 6 1 ,5 6 3 . Vi de também SILVA .Op. ci t . ,vo l .3 , p. 4 0 1 ; e TITA RA ,L a-dislau dos Sa n to s .Pa ra g u a s su: epopéia da guerra da indepen d ê n cia do Brasil na Ba h i a .E d . Fac s i m i l a r. São Pa u l o : In s ti tuto Hi s t ó ri co Bra s i l ei ro e Con s elho Federal de Cu l tu ra ,1 9 7 3 , p. 452, n. j.

13 L a b a tut ao Con s elho In teri n o, Ca n g u ru n g u , 3 de abril de 1823. In A M A RA L ,op. ci t . ,p.

2 9 1 ; Con s elho In terino ao Labatut , Cach oei ra , 12 e 14 de abril de 1823,A A P E Ba, vo l .4 1 ,

(16)

1 9 7 3 , pp. 8 8 ,8 9 ;L a b a tut ao Con s elho In teri n o, Ca n g u ru n g u , 16 de Abril de 1823, in SIL-VA ,Mem ó ri a s ,vo l .4 , p. 2 ,n .2 ; Con s elho In terino ao Mi n i s tro do Im p é ri o, 16 de abril de 1823,RIGHBa, vol. 17, 1898, p. 362.

14 “Termo de Veriação,” Jaguaripe, 23 de abril de 1823,AAPEBa, vol. 10, 1923, pp. 63-65.

15 Con s elho In terino ao Mi n i s tro do Im p é ri o, Cach oei ra , 16 de abril de 1823,R I G H Ba, vo l .

1 7 ,1 8 9 8 , pp. 3 6 2 - 3 6 4 . In fel i z m en te , o Con s elho não men c i onou o nome do of i c i a l ,m a s s eg u n do Ma n oel Corrêia Garc i a , ele era José Joa quim Ex po s to, prom ovi do a major para comandar e or ganizar essa unidade .G A RC I A , Ma n oel Corr ê i a. Hi s t ó ria da indepen d ê n ci a da Ba h i a .Sa lvador, E m presa Editora ,1 9 0 0 , p. 7 8 . Pode ser que Garcia tivesse ra z ã o, m a s Ex po s to não ficou mu i to tem po no com a n do dos liberto s : o capitão Vi ctoriano de So u z a Bulcão Limei ra foi indicado como com a n d a n te deles na reor ganização das tropas de maio de 1823. S I LVA ,op. ci t . ,vo l .4 , pp. 2 9 - 3 1 . Seg u n do Ladislau dos Sa n tos Ti t a ra ,L i m ei ra fora oficial do Quarto Batalhão de Milícias de Sa lvador, o batalhão de pardo s ,T I TA RA ,Pa ra-guassu,p. 506, n. e.

16 RU Y, Af fon s o.Do s s i er do Ma re chal Ped ro La ba tu t. Rio de Ja n ei ro : Bi bl i o teca do Ex é rc i to,

1960.

17 R E I S , João Jo s é .Sl ave Rebellion in Brazil: The Muslim Uprising of 1835 in Ba h i a.

Tradu-ção de Arthur Brakel. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1993, p. 54.

18 Con ti nuação das decl a rações de D. Anna Joa quina Ma ria de Je su s”, Sa lvador, 12 de ju l h o

de 1828, i nven t á ri o, Ma n oel Ferrei ra da Si lva ,A PE Ba / S J / I T, 0 4 / 1 7 3 1 / 2 2 0 1 / 0 2 , fo l .3 1 7 ; i n-ven t á ri o, Custódio Gomes de Al m ei d a ,i bi d . ,0 4 / 1 7 4 8 / 2 2 1 8 / 0 1 , fo l .6 8 r;Idade de Ou ro do Brazil, 28 de janeiro de 1823, p. 1.

19 Joa quim Pires de Ca rvalho e Al bu qu erque ao Ma j or Com a n d a n te , Arti l h a ria Fixa, Ri o

de Ja n ei ro, 16 de março de 1825, A H Ex / RQ ,J J - 2 3 7 - 5 7 9 0 ; O rdem do Di a , 6 de ju nho de 1822, BNRJ/SM, II-33, 36, 35.

20 Requerimento de João Antunes Guimarães ao Imperador, c.1825,BNRJ/SM/DB, C801.14

21 SILVA,Memórias,vol. 4, p. 59, nota 28.

22 Requerimento de Anna Joaquina do Livram.toa Pedro I, Salvador, c.março de

1826,AH-MI, I-POB-[1826]-PI-B.r.1-10.

23 Bando, 31 de julho de 1823,AAPEBa, vol. 10, 1923, p. 69.

24 José Joa quim de Lima e Si lva ao Mi n i s tro do Im p é ri o, Sa lvador, 16 de julho de 1823,

BNRJ/SM, II-31, 35, 4.

25 Decisão 113, 30 de julho de 1823,C L B. Sobre a natu reza privada de manu m i s s õ e s , vi de

C U N H A , Ma nu ela Ca rn ei ro da.Negro s ,e s tra n gei ros: os escravos libertos e sua volta à Áfri-ca.São Paulo: Brasiliense, 1985, pp. 44-48.

26 O L I V E I RA , Ma ria Inês Côrtes de . “Viver e morrer no meio dos seu s : nações e comu n

i-dades africanas na Bahia do século XIX.” In Revista USP,vol. 28, 1995-1996, p. 191.

27 Port a ri a , Mi n i s tro do Im p é ri o, 10 de ja n ei ro de 1824, em A M A RA L ,op. ci t ., p. 2 9 2 ;

Mi-n i s tro de Ju s tiça ao Pre s i deMi-n te , Rio de Ja Mi-n ei ro, 22 de setem bro de 1825, A PE Ba / S AC P, m . 755, fol. 450.

(17)

28 Requ eri m en tos e doc u m en tos com prob a t ó rios de José Lino Co uti n h o, A H Ex / RQ ,J Z

-1 0 -1 - 3 0 3 7 ; G overn ador das Armas ao Pre s i den te , Sa lvador, -14 de março de -1826, A PE-Ba/SACP, 3366.

29 G overn ador das Armas ao Pre s i den te , Sa lvador, 4 de setem bro de 1829, 20 de ago s to de

1829, APEBa/SACP, m. 3.370.

30 Ten en te - Coron el Com a n d a n te , D é c i m o - Q u a rto Ba t a l h ã o, ao Govern ador das Arm a s ,

Sa lvador, 23 de março de 1827; e Fé de Ofício de Caetano Perei ra , 22 de março de 1827, A PE Ba / S AC P, m .3 3 6 7 . Que donos portugueses que requ eriam a devo lução de escravo s eram malvi s tos na Bahia se depreen de do com en t á rio críti co na imprensa sobre um outro caso, “Reflexões,”O Grito da Razão, 25 de maio de 1825, p. 1.

31 Ten en te - Coron el Com a n d a n te , Bri gada de Arti l h a ri a , ao Pre s i den te , Sa lvador, 9 de maio

de 1825, BNRJ/SM, II-33, 31, 4, nº5, doc. 19.

3 2An tonio de Souza Lima ao Govern ador das Arm a s , It a p a ri c a , 30 de julho de 1825

(có-pia), APEBa/SACP, m. 3.365.

33 Su b del egado ao Ch efe de Po l í c i a , Freguesia de São Ped ro, 27 de julho de 1862. In

HAR-D I N G , Rach el E.A Ref u ge in T h u n d er: Candomblé and the Al tern a tive Spa ces of B l a ck n e s s s .

Bloomington: Indiana University Press,2000, p. 199. Minha interpretação desse documen-to difere da de HARDING,op. cit.,pp. 93-96.

34 M ATTO S , Ra i mu n do José da Cu n h a .Repert ó rio da legislação militar atu a l m en te em vi go r no ex é rci to e armada do Im p é rio do Bra s i l .3 vo l s . Rio de Ja n ei ro : Typ. Im perial e Con s ti tu-cional de Seignot-Plancher, 1834-1842, vol. 1, p. 229.

35 Sobre essa po l í ti c a , vi de KRA AY, Hen d ri k .“ ‘The Shel ter of the Un i form’ : The Bra z i l i a n

Army and Ru n aw ay Sl ave s ,1 8 0 0 - 1 8 8 8 .” In Jou rnal of S o cial Hi s to ry,vo l .2 9 , nº3 ,1 9 9 6 , pp. 637-657 (tradução portu g u e s a :“ ‘O abri go da fard a’ : o ex é rc i to bra s i l ei ro e os escravos fu-gidos, 1800-1888,”Afro-Asia, vol. 17, 1996, pp. 29-56).

36 O rdem do Di a , Rio de Ja n ei ro, 6 de junho de 1823; Mi n i s tro da Gu erra , Port a ria Ci rc

u-lar, 28 de maio de 1824,BNRJ/SM,II-31,35,12, nº2; Decisão 251,3 de novembro de 1825,

CLB.

37 Pre s i den te ao Im perador, Sa lvador, 8 de maio de 1824, A N R J / S PE ,c ó d i ce 603, vo l .1 , fo l .

66v.

38 Fel i s berto Ca l dei ra Brant Pon tes ao Mi n i s tro de Negócios Ex teri ore s , Sa lvador, 12 de

fe-verei ro de 1824; Mi n i s tro de Negócios Ex teri ores a Bra n t , Rio de Ja n ei ro, 10 de março de 1 8 2 4 . In BRA S I L , MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXT E R I O R E S .Arq u ivo Di pl o m á ti co da In d epen d ê n ci a. 6 vo l s . Rio de Ja n ei ro : L i t h . - Typ. F lu m i n en s e ,1 9 2 2 - 1 9 2 5 , vo l .2 , p. 8 ; vo l .1 , pp. 59-60.

39 SILVA.Op. cit.,vol. 4, p. 179.

40 C ô n sul Francês ao Mi n i s tro de Ma rinha e Co l ô n i a s , Sa lvador, 24 de novem bro de 1824,

AAPEBa, vol. 39, 1970, p. 168.

41 K RA AY, Hen d ri k .“ ‘As Terri f ying as Un ex pected ’ : The Bahian Sa bi n ad a ,1 8 3 7 - 1 8 3 8 ”. In Hi s panic Am erican Hi s to rical Revi ew,vo l .7 2 , nº4 ,1 9 9 2 , pp. 517-518 (versão portu g u e s a :

(18)

“ ‘Tão assu s t ador qu a n to inesperado’ : a Sa bi n ada baiana, 1 8 3 7 - 1 8 3 8 .” In R I G H Ba, vo l .9 6 , 2001, pp. 327-357).

42 Pre s i den te ao Mi n i s tro da Gu erra , Sa lvador, 28 de outu bro de 1824, B N R J / S M ,I I - 3 3 ,2 2 ,

1 , doc . 2 0 ; G overn ador das Armas In terino ao Pre s i den te , Sa lvador, 24 de novem bro de 1824, ibid., II-34, 1, 3, doc. 210.

43 TAVA R E S , Luís Hen ri que Di a s .O leva n te dos Peri q u i to s. Sa lvador: Cen tro de Estu do s

Baianos, 1990.

44 “ E s qu ad r ã o. Relação das praças incorri g í veis (...),” 14 de de zem bro de 1824, B N R J / S M ,

I I - 3 4 ,1 ,3 , doc .2 7 ; G overn ador das Armas ao Pre s i den te , Sa lvador, 9 de feverei ro de 1825, A PE Ba / S AC P, m .3 3 6 5 ; 24 de novem bro de 1824, B N R J / S M ,I I - 3 4 ,1 ,3 , doc .2 0 8 ; 2 de ou-tu bro de 1824, A PE Ba / S AC P, m .3 4 6 5 ; Ten en te - Coron el Com a n d a n te , Gu a rda Militar de Polícia, ao Presidente, Salvador, 20 de maio de 1829, ibid., m. 6304.

45 “ In s truções (...) para na con form i d ade delas se proceder ao rec rut a m en to (...),” 10 de

ju-lho de 1822,CLB; Governador das Armas ao Presidente, Salvador, 6 de julho de 1825,AP E-Ba/SACP, m. 3.365.

46 “ Relação dos de s ertores dos corpos da 1ªL i n h a , Polícia e Batalhão nº 28 ex ped i c i on á ri o

de janeiro de 1825 a março de 1827,” 28 de julho de 1827, BNRJ/SM, II-33, 32, 28.

47 “ Mem ó ria de s c ri tiva dos aten t ados da facção dem a g ó gica na província da Bahia con

ten-do a narração circ u n s t a n c i ada da rebelião de 25 de outu bro de 1824 (...).” In R I H G B, vo l . 34, 1867, p. 316, n. 55.

48 A obra clássica é a de QUA R L E S , Ben ja m i n .The Negro in the Am erican Revol u ti o n. Ch

a-pel Hi ll , Un ivers i ty of North Ca rolina Pre s s ,1 9 6 1 ;s obre o impacto da guerra na escravi-dão no Su l , vi de FREY, Sylvia R.Wa ter from the Ro ck: Black Re s i s t a n ce in a Revol u ti o n a ry Age. Princeton: Princeton University Press, 1991.

49 Vi de SALES DE BO H I G A S , Nu ri a .“ E s cl avos y reclutas en su d a m é ri c a ,1 8 1 6 - 1 8 2 6 .” In Sobre esclavos, reclutas y mercaderes de quintos. Barcelona: Ariel, 1974, pp. 59-135.

50 Antônio Ma rques de Perdigão Ma l h ei ro, o ju rista da escravi d ã o, não percebeu isso ao

es-c rever seu ensaio sobre a eses-cravidão bra s i l ei ra . Su s tenta que “p a ra servi rem na guerra da i n dependência foram escravos com prados e de s a propri ado s ,d a n do-se-lhes porém a liber-d aliber-de”,A escravidão no Brasil: ensaio históri co, j u r í d i co, so ci a l. 2 vo l s . 3ª ed . Petr ó po l i s : Vo-ze s ,1 9 7 6 , vo l .1 , p. 1 0 0 . Como vi m o s , alguns escravos foram liberto s , mas som en te d epo i s

de terem servido.

51 K RA AY, Hen d ri k . “Sl avery, Ci ti zenship and Mi l i t a ry Servi ce in Bra z i l ’s Mobi l i z a ti on for

the Pa ra g u ayan Wa r.” In Sl avery and Ab ol i ti o n ,vo l .1 8 , nº 3 ,1 9 9 7 , pp. 228-256 (versão por-tu g u e s a :“ E s c ravi d ã o, c i d adania e rec rut a m en to militar na Gu erra do Pa ra g u a i ,”Es tu d o s Afro-Asiáticos, vol. 33, 1998, pp. 117-151).

52 REIS e SILVA.Op. cit.,p. 79. 126

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