Avaliação da morfologia interna de sementes de
Terminalia argentea
(Combretaceae) pelo teste de raios X
1Evaluation of the internal morphology of seeds of
Terminalia argentea
(Combrateceae) by x-ray testing
Kever Bruno Paradelo Gomes2*, Rosana de Carvalho Cristo Martins3, Ildeu Soares Martins3 e Francisco
Guilhien Gomes Junior4
RESUMO - As espécies florestais, particularmente as de Cerrado, são caracterizadas pela alta ocorrência de predação, frutos vazios e deficiência na formação do embrião. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a morfologia interna de sementes de
Terminalia argentea Mart. et Zucc. pelo teste de raios X e verificar a sua relação com a germinação. O experimento foi conduzido
no Laboratório de Análise de Imagens do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior “Luis de Queiroz” na cidade de Piracicaba, SP. Três lotes de sementes deT. argentea foram coletados e levados ao Laboratório onde se procederam as análises
radiográficas com 200 sementes de cada lote. As sementes foram posicionadas a 28,0 cm da fonte de emissão de raios X, utilizando o equipamento digital Faxitron X-ray, modelo MX-20 DC 12. Em seguida as sementes foram classificadas de acordo com a morfologia interna visualizada nas imagens radiográficas, sendo estabelecidas três categorias: sementes Cheias, Vazias e Mal formadas. Para cada categoria de sementes realizou-se o teste de germinação. O delineamento estatístico utilizado foi em esquema fatorial, com três lotes e três categorias. Pelos resultados obtidos neste trabalho, a utilização do teste de raios X em sementes de
Terminalia argentea é promissora na detecção da qualidade dos frutos dos lotes de sementes, auxiliando na separação de sementes
vazias e com anormalidades embrionárias, inviabilizando seu uso de imediato ou para armazenamento. O teste de raios X, na intensidade de 26 kV por 1,2 segundos é eficiente na avaliação da morfologia interna de sementes deTerminalia argentea.
Palavras-chave: Análise de imagens. Espécie arbórea do Cerrado. Germinação.
ABSTRACT - Forest species, especially those from the Cerrado, are characterised by a high incidence of predation, empty fruit and deficiency in embryo formation. The objective of the present work was to evaluate the internal morphology of seeds of Terminalia argentea Mart. et Zucc. by X-ray testing, and to verify its relationship to germination. The experiment was conducted at the Laboratory for Image Analysis of the Department for Plant Production, at the Escola Superior Luis de Queiroz, in the city of Piracicaba, in the state of São Paulo, Brazil. Three batches of seeds ofT. argentea were collected and taken to the laboratory, where radiographic analysis of 200 seeds from each lot was carried out. The seeds were placed 28.0 cm from the source of the X-ray emissions, digital equipment from Faxitron X-ray, model MX-20 DC 12. The seeds were then classified according to their internal morphology as seen in the radiographs, with three categories being established: full, empty and misshapen seeds. Germination tests were performed for each category of seed. The statistical design employed was a factorial scheme of three groups and three categories. From the results obtained in this work, use of X-ray testing of seeds ofTerminalia argentea is promising for the detection of the fruit quality of the seed lots, aiding in the separation of empty seeds and those with embryonic abnormalities, and precluding their storage or immediate use. X-ray testing at an intensity of 26 kV for 1.2 seconds was effective in assessing the internal morphology of seeds ofTerminalia argentea.
Key words: Image analysis. Tree species of the Cerrado. Germination.
*Autor para correspondência
1Recebido para publicação em 05/10/2013; aprovado em 22/05/2014
Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor defendida na Universidade de Brasília
2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, Campus Gama, Lote 01, DF 480, Setor de Múltiplas Atividades, Gama,
Brasília-DF, Brasil, 72.429-005, kever.gomes@ifb.edu.br
3Departamento de Engenharia Florestal, Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília-DF,
Brasil, 70.910-900, roccristo@gmail.com, ildmarti@unb.br
4Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Av. Pádua Dias, 11,
INTRODUÇÃO
Terminalia argentea Mart. et Zucc.,
popularmente conhecida como capitão, capitão-do-mato ou capitão-do-campo, pertence à família Combretaceae (LORENZI, 2008). Espécie pioneira de porte arbóreo, encontrada na região do Centro-Oeste e do Sudeste, abundante no Bioma Cerrado e na floresta semidecídua; ocorrendo preferencialmente em topos de morros e alto de encostas onde o solo é bem drenado. Espécie recomendada para programas de recuperação de áreas degradadas devido ao seu bom desenvolvimento em solos empobrecidos. Possui fruto tipo drupa com característica seco e indeiscente,
apresentando semente fusiforme (FERREIRA et al.,
1998; OLIVEIRA; FARIAS, 2009). Seus produtos madeireiros são bastante utilizados na construção civil, tendo em vista tratar-se de madeira pesada e dura. Destaca-se também o uso de produtos não madeireiros desta espécie florestal, como uso medicinal através dos extratos vegetais da casca e folhas (LORENZI, 2008; SILVA; MORAES; SEBBENN, 2004).
As compensações ambientais, como a reposição obrigatória de mata nativa nas propriedades rurais, e a recuperação de áreas degradadas, visando atender as leis federais e estaduais, propiciaram o aumento na demanda de sementes de espécies florestais arbóreas nativas, que constituem insumo básico nos programas de recuperação e de conservação do ecossistema (VECHIATO, 2010). Neste contexto, a utilização de procedimentos não destrutivos que propiciem eficiência na identificação de sementes Cheias, Mal formadas ou Vazias, a exemplo do teste de raios X pode ser um indicativo da qualidade fisiológica e genética das sementes destas espécies florestais.
A análise de sementes através das imagens radiográficas obtidas através do teste de raios X é uma alternativa relativamente recente para classificar de imediato os diversos aspectos das sementes (GOMES JUNIOR, 2010). Neste sentido, a captura e o processamento da imagem radiografada têm permitido o estabelecimento de relações entre integridade, morfologia e determinação do potencial fisiológico das
sementes (MARCOS FILHOet al., 2010). Essa técnica
foi inicialmente utilizada por Simak e Gustafsson (1953), na avaliação da qualidade de sementes de
Pinus sylvestrisL., por apresentar a vantagem de não
alterar a viabilidade das sementes permitindo que as mesmas sejam semeadas para comparação com o teste de germinação, possibilitando o estudo da germinação em relação à imagem radiográfica. Esta metodologia de análise de sementes tem sido aprimorada e já foi comprovada a sua eficiência na identificação de
propriedades não visíveis a ótica humana e sua relação
com o potencial fisiológico em sementes de Cedrella
fissilis Vell. (MASETTO; FARIA; QUEIROZ, 2008); Peltophorum dubium (OLIVEIRA; CARVALHO; DAVIDE,
2003);Lithraea molleoides (MACHADO; CICERO, 2003)
eTabebuia heptaphylla (Amaralet al. (2011).
As espécies florestais, particularmente as de Cerrado, são caracterizadas pela alta ocorrência de predação, frutos vazios e deficiência na formação do embrião. Desta maneira, o teste de raios X é recomendado por ser uma técnica viável no controle de qualidade de sementes. Considerando os interesses econômicos e de conservação das espécies arbóreas do Cerrado, torna-se necessário intensificar as pesquisas referentes à avaliação da morfologia interna das sementes para auxiliar na identificação de sementes com potencial para germinação.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a
morfologia interna de sementes deTerminalia argentea
Mart. et Zucc. pelo teste de raios X e verificar a sua relação com a germinação.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos-sementes de Terminalia argentea
Mart. et Zucc. foram coletados em áreas de Cerrado
sensu stricto do Distrito Federal no ponto de maturação
fisiológica diretamente na árvore, considerando o vigor, porte e sanidade das matrizes selecionadas no período de setembro de 2012. A escolha das regiões para seleção de matrizes e formação dos lotes de sementes foi realizada com base nas características dos fragmentos de vegetação encontrados em centros urbanos (Lote 1); Área de Proteção Ambiental (APA) destinada a conservação e proteção do ecossistema (Fazenda Água Limpa) (Lote 2) e ao longo da rodovia BR 040 que liga Brasília (DF) a Cristalina (GO) em ambientes degradados (Lote 3). Foram colhidos frutos em 20 matrizes de cada lote.
As sementes foram beneficiados retirando as partes aliformes e submetidos a uma escarificação mecânica, promovendo um pequeno corte na parte lateral do fruto, com o auxílio de um estilete no Laboratório de Sementes e Viveiros Florestais da Universidade de Brasília. As sementes foram homogeneizadas e armazenadas em sacos de papel em
câmara do tipo B.O.D (Biochemical Oxygen Demand)
Em cada lote foram retiradas três amostras de 10 sementes para a determinação da massa e do teor de água. O peso das amostras foi obtido através de uma balança digital de precisão de 0,001 g. Em seguida, foi determinado o teor de água pelo método padrão de estufa a 105 °C ± 3 °C, por 24 horas (BRASIL, 2009).
O teste de raios X foi realizado no Laboratório de Análise de Imagens do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, na cidade de Piracicaba, SP. Para obtenção das imagens radiográficas das sementes foi utilizado o equipamento digital Faxitron X-ray, modelo MX-20 DC-12, acoplado ao computador Core 2 Duo (3.16 GHz, 2 GB de memória RAM, Hard Disk de 160 GB) e monitor MultiSync (LCD1990SX, de 17 polegadas). Dessa forma, 200 sementes de cada lote foram radiografadas sendo as radiografias obtidas com as sementes posicionadas a 28,0 cm da fonte de emissão de raios X. A intensidade de radiação e o tempo de exposição das sementes aos raios X foram determinados automaticamente pelo aparelho de raios X. Para o posicionamento adequado das sementes durante a exposição aos raios X foi utilizada fita dupla face transparente aderida sobre uma transparência de retro projeção (29,7 x 21,0 x 0,1 cm). Após radiografadas, as sementes foram colocadas em células individualizadas de uma bandeja de plástico para posterior germinação. As sementes foram classificadas de acordo com a morfologia interna visualizada nas imagens radiográficas. Foram consideradas três categorias de sementes: Cheias, Vazias e Mal formadas. A interpretação dos resultados de raios X foi realizada por meio do confronto da imagem radiográfica com a respectiva imagem da plântula normal, anormal ou semente morta e/ou dormente após o teste de germinação. Para cada categoria de sementes obtidas pelo teste de raios X foi realizado o teste de germinação no Laboratório de Sementes e Viveiros Florestais do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, Brasília - DF.
As sementes deTerminalia argentea Mart. et Zucc.
previamente enumeradas foram postas em rolos de papel filtro (20 sementes/rolo) acondicionados em câmara do tipo B.O.D a 25 ºC e fotoperíodo de 8 horas/dia. Para embebição das sementes foi utilizado água destilada na proporção 2,5 vezes sua massa. O período para análise e da germinação foi de 70 dias. Foi feito a troca do rolo de papel 30 dias após o início do teste de germinação.
O delineamento estatístico utilizado foi em esquema fatorial, com três lotes e três categorias (3 x 3), com os tratamentos replicados 20 vezes e as 10 unidades experimentais dispostas inteiramente ao acaso. Foram feitas análises da variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey, em nível de
5% de probabilidade. Foram feitas análise de regressão e de correlação dos resultados do teste de germinação com os respectivos testes de raios X.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As sementes deTerminalia argentea apresentaram
um baixo teor de água (9 - 10%). Os valores obtidos foram inferiores aos apresentados por Oliveira e Faria (2009), ao constatarem o teor de água de 20,6% das sementes de Terminalia argenta recém-colhidas, oriundas da
região do Pantanal Mato-grossense; diferente dos frutos
colhidos em regiões do bioma Cerrado sensu stricto.
Resultados superiores foram encontrados em espécie
do mesmo gênero por Ivaniet al. (2008), ao avaliarem
a germinação de sementes de Terminalia catappa L.
(Combretaceae), obtendo-se cerca de 30% do teor de água nas sementes analisadas. Dados inferiores do teor de água (cerca de 6%) também foram encontrados por Netto e Faiad (1995) em sementes de capitão-garrote (Terminalia fagofolia- Combretaceae).
O baixo teor de água encontrado nas sementes de
Terminalia argentea permitiu visualizar adequadamente as
partes internas das sementes. Souzaet al. (2008), avaliando
sementes dePlatypodim elegans Vog (jacarandá-branco),
verificaram que o baixo teor de água das sementes (6 -8%) levou a uma maior densidade ótica, possibilitando melhor visualização da morfologia interna das sementes radiografadas.
A exposição das sementes deTerminalia argentea
aos raios X, em intensidade de radiação de 26 kV por 1,2 segundos, foi eficiente para a visualização da morfologia interna das sementes. Da mesma forma, Carvalho, Carvalho e Davide (2009) verificaram que a potência de 25 kV, durante 2 minutos, foi eficiente para diagnosticar as
estruturas internas das sementes deOcotea pulchella e de
Persea pyrifolia, ambas pertencentes à família Lauraceae.
Em sementes de sucupira (Bowdichia virgilioidesKunth.)
submetidas à análise radiográfica, a intensidade de 30 kV por 45 segundos foi eficaz para verificar as partes internas das sementes (ALBUQUERQUE; GUIMARÃES, 2008).
No entanto, não foi possível verificar as partes
do embrião de sementes de Terminalia argentea com
nitidez, uma vez que a semente formada tinha o mesmo grau de radiopacidade. Essa mesma observação foi
feita por Pupimet al. (2008), em imagens de sementes
de embaúba (Cecropia pachystachya) radiografadas,
O exame das imagens das sementes deTerminalia argentea Mart. et Zucc., obtidas pelo teste de raios X,
permitiu avaliar a condição interna das sementes. Com
base em trabalhos de sementes deTabebuia serratifolia
desenvolvidos por Oliveira et al. (2004) e através
das indicações das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), foi possível estabelecer os critérios de identificação para a determinação de sementes consideradas através da imagem radiografada como Cheias (totalmente formadas), Vazias e Mal formadas (Figura 1).
Figura 1 - Sementes de Terminalia argentea Mart. et Zucc. classificadas como Mal formadas (A), Cheias (B) e Vazias (C) através da análise das imagens radiografadas
Tabela 1 - Análise de variância para a frequência de sementes de Terminalia argentea Mart. et Zucc. em cada categoria
considerando os fatores Categorias de raios X e lotes, bem como suas interações
Fonte de variação GL SQ QM F Sig.
Lote 2 0,4247 0,2123 0,00* 0,000
Categoria 2 834,6346 4417,3173 160,04* 0,000
Lote x categoria 4 27,4668 6,8667 2,633* 0,0359
Resíduo 171 445,8992 2,6075
*Significativo ao nível de 5% de probabilidade
Na análise da variância para as frequências de sementes de todas as categorias (Tabela 1), foi observada interação significativa entre as categorias classificadas pelo teste de raios X e os lotes utilizados. Verificou-se que as repetições de sementes em cada categoria pelo teste de raios X e seu efeito com os lotes, foi significativo ao nível de 5% de probabilidade.
Na Tabela 2, observa-se a porcentagem de sementes viáveis e não viáveis, sendo as Cheias consideradas viáveis, enquanto Vazias e Mal formadas consideradas inviáveis.
De acordo com a Tabela 2, pelas imagens radiografadas do teste de raios X verifica-se que os lotes 2 e 3 se destacaram em relação ao lote 1, quanto à porcentagem de sementes viáveis; sendo que, apesar de estatisticamente o lote 2 e 3 não diferirem entre si, é possível identificar o lote 2 como sendo superior em termos de qualidade de formação dos frutos e por possuir os menores valores também para as sementes inviáveis (vazias e mal formadas), em relação aos outros lotes considerados.
A categoria de sementes cheia para todos os lotes foi a que apresentou um maior número, diferindo estatisticamente das categorias vazias e mal formadas.
Houve diferença significativa (p < 0,05) entre as categorias
vazias e mal formadas em todas as observações.
A porcentagem de sementes Cheias dos três lotes variou entre 57,5 e 68,5%. Esses valores foram próximos aos encontrados por Sturião, Landgraf e Rosa (2012), ao avaliarem a morfologia interna de sementes
de palmeira jerivá (Syagrus romanzoffiana) através do
teste de raios X; esses autores observaram cerca de 60,5% de sementes viáveis (Cheias). Segundo Brasil (2009), frutos-semente ou sementes classificadas como Cheias ou totalmente formadas pelo teste de raios X contêm todos os tecidos essenciais para a germinação, sendo assim consideradas viáveis.
Os porcentuais de 22,5 a 30,5% de sementes classificadas na categoria Vazias são um indicativo de que o processo de classificação das sementes pode ser aprimorado, através de testes rápidos a exemplo do de raios X que possam evitar custos desnecessários como os de produção de mudas e testes de laboratório. Segundo a Associação Internacional para Análise de Sementes (INTERNACIONAL SEED TESTING ASSOCIATION,1995), a ocorrência de sementes vazias influencia diretamente o armazenamento, a eficiência da semeadura e a comercialização dos lotes de sementes. Este fato é observado com alguma frequência em espécies florestais onde a estrutura de
dispersão não é uma semente verdadeira (SOUZAet al.,
Tabela 2 - Porcentagens de sementes deTerminalia argentea Mart. et Zucc. e teor de água obtidos em cada categoria de acordo com o teste de raios X
*Médias seguidas pela mesma letra minúscula na horizontal para as categorias de raios X e letras maiúscula na vertical para os lotes não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade
Lote Teor de água (%) Categoria raios X (%)*
Cheias Vazias Mal formadas
1 B 9,2 57,5 a 26,0 b 16,5 c
2 A 9,4 68,5 a 22,5 b 09,0 c
3 A 10,1 61,5 a 30,5 b 08,0 c
Sementes mal formadas deTerminalia argentea
também foram encontradas pelo teste de raios X, confirmando a eficiência deste método na detecção de anormalidades embrionárias. Embora sejam os menores valores observados para todos os lotes (8 a 16,5%), essas sementes devem ser descartadas antes de serem armazenadas ou semeadas, devido a uma alta probabilidade de produzirem plântulas anormais ou sementes não germinadas e/ou mortas, inviáveis para o desenvolvimento em campo. Em sementes
radiografadas de cedro-rosa (Cedrela fissilis), Masetto,
Faria e Queiroz (2008) encontraram cerca de 30% de sementes mal formadas. De acordo com os resultados desses autores, a deformação do embrião impossibilitou o crescimento normal das plântulas.
Espécies arbóreas florestais como as de
Terminalia argentea que são recomendadas para a
recuperação de áreas degradadas, devem possuir lotes de sementes com boa formação genética, visto que as plântulas formadas necessitam de uma boa resistência e sobrevivência a solos empobrecidos; portanto, sementes mal formadas, danificadas e/ou vazias constatadas pelo teste de raios X devem ser eliminadas dos programas de produção de mudas nativas, visando assegurar um bom desempenho germinativo dos lotes.
O descarte de sementes mal formadas detectadas pela análise das sementes radiografadas também foi recomendado por Machado e Cicero (2003) para sementes
de aroeira (Lithraea molleoides) e por Oliveira, Carvalho e
Davide (2003) para sementes de canafístula (Peltophorum
dubium); ambos apontaram a morte das sementes no teste de
germinação. Assim como Amaralet al. (2011) observaram em
sementes deTabebuia heptaphylla, as imagens radiográficas
de sementes de Terminalia argentea permitiram visualizar
as anormalidades embrionárias, que provavelmente tiveram origem durante a formação e maturação das mesmas.
A germinação de sementes de Terminalia
argentea iniciou-se no 26° dia após o inicio do teste para
o lote 02 e posteriormente no lote 03 e 01, no 29° e 31°
dias, respectivamente. Segundo Salomãoet al. (1997)
o período de germinação das sementes de Terminalia
argentea se estende de 13 a 70 dias. De acordo com Carvalho e Nakagawa (2012), em algumas espécies, as sementes adquirem a capacidade de germinação somente após um período de tempo relativamente longo. Para esses autores a germinação de sementes pode ser influenciada pela maturação fisiológica e dormência, tendo sua avaliação dificultada no teste de germinação.
Segundo Nogueiraet al. (2013), fatores extrínsecos como
faixa de temperatura ideal, quantidade de água e luz, são variáveis que também devem ser controladas de forma a otimizar o poder germinativo dos lotes de sementes. Neste sentido, torna-se importante ressaltar que as sementes utilizadas neste estudo foram submetidas à prática de desponte na parte inferior basal do fruto, visando acelerar os processos fisiológicos germinativos.
Para a porcentagem de germinação, a análise da variância mostrou efeito significativo somente entre as categorias obtidas pelo teste de raios X (Tabela 3).
Para os três lotes analisados, as porcentagens de germinação das categorias Cheias diferiram estatisticamente das demais categorias. O lote 2 foi o que obteve uma maior porcentagem de germinação (67,94%), porém não diferiu estatisticamente dos lotes 1 e 3. Para as categorias vazias e mal formadas foram observadas 100% de sementes não germinadas ao final do teste de germinação.
Tabela 3 - Germinação de três lotes de sementes deTerminalia argentea Mart. et Zucc. em relação as categorias de sementes Cheias, Vazia e Mal formadas, obtidas através da análise das imagens de sementes radiografadas
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade
Lote Categoria raios X Germinação (%)*
1 Cheias Vazias Mal formadas 61,74 a 0,00 b 0,00 b
2 Cheias Vazias Mal formadas 67,90 a 0,00 b 0,00 b
3 Cheias Vazias Mal formadas 52,84 a 0,00 b 0,00 b
Em todos os lotes, os valores da germinação para as categorias Cheias foram superiores aos encontrados por Oliveira e Faria (2009), que obtiveram uma média de germinação de 26%. Entretanto, resultados superiores foram alcançados por Salomão, Santos e Cunha (2003), que encontraram uma germinação de 70% para as sementes deTerminalia argentea.
De acordo com os resultados obtidos no teste de germinação, as sementes morfologicamente perfeitas (Cheias) originaram plântulas normais e sementes não germinadas (mortas). Esse tipo de resultados é esperado, pois, na radiografia, as imagens indicam se há ou não tecidos formados; porém, não estabelecem, necessariamente, relação direta com os processos fisiológicos da semente. Este parâmetro de análise
também foi notado por Pupim et al. (2008), onde
algumas sementes com características adequadas no teste de raios X não germinaram, provavelmente, devido à infecção por microrganismos, danos mecânicos e possível dormência.
Considerando a utilização de sementes de
Terminalia argentea no teste de germinação, a rigidez
do pericarpo pode ter representado um impedimento à entrada de água nas sementes, inibindo ou retardando a germinação. Em espécies não domesticadas, como
Terminalia argentea, a germinação das sementes no
tempo é uma estratégia de perpetuação da espécie para adaptação e tolerância às adversidades ambientais, encontradas no Bioma Cerrado. Baixo potencial germinativo relacionado à dureza do tegumento também foi observado por Carvalho (2003) em sementes de
jatobá (Hymenaea courbaril L.).
Pelos resultados obtidos neste trabalho, a utilização do teste de raios X em sementes de
Terminalia argentea é promissora na detecção da qualidade dos lotes de sementes, auxiliando na separação de sementes Vazias e com anormalidades embrionárias, inviabilizando seu uso de imediato ou para armazenamento. Nota-se que condições fenotípicas e genéticas podem influenciar a qualidade dos lotes de sementes.
O teste de raios X aplicado neste trabalho
revelou a inviabilidade das sementes de Terminalia
argentea que possuíam a região do eixo embrionário
imperfeita ou vazia, visto que todas as sementes desta categoria (Mal formadas e Vazias) não germinaram. Este relato também foi observado por Machado e Cícero (2003) em sementes de
aroeira branca (Lithraea molleoides Vell. Engl.)
radiografadas submetidas ao teste de germinação. Segundo Carvalho e Oliveira (2006), o teste de raios X não detecta todos os problemas relacionados à qualidade fisiológicas das sementes, porém, permite um diagnóstico rápido e não destrutivo para as sementes examinadas, fornecendo dados úteis e essenciais para as pesquisas de laboratórios de análise de sementes agrícolas e florestais.
A análise de regressão linear simples (Tabela 4) mostrou diferenças significativas das frequências de sementes observadas em cada categoria obtidas pelo teste de raios X e sua relação com os resultados do teste de germinação.
O valor do coeficiente de correlação (rxy = 0,80)
demonstra que as alterações sofridas por uma das variáveis é acompanhada pelas alterações na outra, sendo uma
correlação de intensidade forte. Para Andradeet al. (1995),
uma correlação linear de intensidade forte entre duas
variáveis apresenta um coeficiente entre 0,7 < rxy < 0,9.
Valores dos dados das categorias Cheias, Vazias
e Mal formadas das sementes de Terminalia argentea
obtidas através do teste de raios X, plotados em função do resultado do teste de germinação, podem ser visualizados na Figura 2.
Observa-se que a reta ajustada é linear positiva, indicando que é apenas uma aproximação da realidade para demonstrar a tendência dos dados, sendo necessário aferir o valor do coeficiente de determinação. Analisando o modelo estatístico linear ajustado (y =
0,659x - 0,8634), verifica-se que 64,7% (coeficiente de
Tabela 4 - Análise de variância da regressão linear simples da variável independente (frequência observada)versus variável dependente (germinação) e sua correlação
*Significativo ao nível de 5% de probabilidade
Figura 2 - Diagrama de dispersão dos dados da regressão linear simples da variável categoria de raios X e sua associação com a germinação das sementes de Terminalia argentea Mart. et Zucc
relacionada ao baixo controle experimental. Apesar da boa correlação existente entre a variável germinação e categorias de raios X não se pode prever que na medida em que se aumenta uma categoria de análise pelo teste de raios X, há uma maior incidência de sementes germinadas. Neste caso, a presença de sementes Vazias e Mal formadas culminou com os resultados tendenciosos.
A adequação do método do teste raios X aplicado às sementes florestais nativas do Cerrado, como objeto deste trabalho, promove agilidade na identificação da viabilidade e qualidade fisiológica dos lotes de sementes a serem empregadas na produção de mudas.
CONCLUSÕES
1. O teste de raios X mostrou-se eficiente na avaliação
da morfologia interna de sementes de Terminalia
argentea. As análises das imagens das sementes
Fonte de variação GL QM F Sig. rxy
Regressão 1 568,0764 326,2662* 0,000 0,80
Resíduo 178 1,7411
Total 179
radiografadas permitem detectar as anormalidades embrionárias, inviáveis para a sua utilização em processos de semeadura;
2. O percentual germinativo de sementes deTerminalia
argentea pode ser comprometido pelo número de
frutos formados sem tecidos embrionários e/ou embriões mal formados.
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