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Ética na pesquisa em Administração

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE

ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

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ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE

ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Administração, na área de Gestão Organizacional.

Orientadora: Maria Arlete Duarte de Araújo, Dra.

Co-Orientador: Mauro Lemuel de Oliveira Alexandre, Dr.

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Leite, Ana Patrícia Rodrigues

Ética na pesquisa em Administração/ Ana Patrícia Rodrigues Leite. – Natal, RN, 2012.

218 p.

Orientadora: Maria Arlete Duarte de Araújo.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Administração – Pesquisa – Tese. 2. Ética – Tese. 3. Pesquisa – Tese. 4. Princípios e parâmetros éticos – Tese. 5. Conduta ética –

Tese. I. Araújo, Maria Arlete Duarte de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.Título.

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ANA PATRÍCIA RODRIGUES LEITE

ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Administração, na área de Gestão Organizacional.

Natal, 17 de Setembro de 2012.

Professora Dra. Maria Arlete Duarte de Araújo Presidente – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professor Dr. Mauro Lemuel de Oliveira Alexandre Membro - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professora Dra. Jomária Mata de Lima Alloufa

Examinadora interna - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professor Dr. Tomás de Aquino Guimarães Examinador externo – Universidade de Brasília

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AGRADECIMENTOS

A Deus.

Agradeço aos meus pais, Eldo (in memoriam) e Irma, que com amor me propiciaram educação, estímulos e exemplos de que com esforço pessoal, honestidade e determinação atingimos nossos objetivos de vida.

Agradeço também a toda minha família, em especial meus irmãos Elma, Ana Cristina (in memoriam), Raíssa, Eudo e Ana Carla, que sempre me apoiaram em tudo na minha vida.

Em especial, agradeço à minha filha de coração e de criação Fernandinha que suportou todos os meus estresses, me consolou nos momentos difíceis e compreendeu minhas ausências momentâneas. Seu amor me dá ânimo para tentar ser uma pessoa melhor a cada dia.

Agradeço também ao meu noivoIvanilson, que me apoiou e me incentivou com suas palavras de força, de cobrança e também de muito carinho e orgulho por minha conquista.

À minha orientadora, Professora Maria Arlete Duarte de Araújo, o meu “muito obrigada” torna-se pequeno, perante a toda imensa gratidão e admiração que guardo por sua ajuda, resgate, compreensão, amizade e grande competência como orientadora. Exemplo de pessoa e de profissional. Sempre disponível e humana, sabendo ser dura quando necessário, mas sem perder a ternura jamais!

Aos professores do PPGA da UFRN que, através de cada disciplina que cursei, contribuíram para o meu aprendizado e para a construção do meu trabalho.

Às professoras Jomária Mata de Lima Alloufa e Tereza Souza, que participaram da minha qualificação e que com suas colocações pertinentes me ajudaram a construir o presente estudo.

Agradeço muito por ter encontrado nas salas de aula pessoas tão especiais - Júlio, Walid, Luana, Jaqueline, Tatiane, Luciana, Thaís, Patrícia, Jefferson, Adriana, Renata e todos os demais colegas das turmas do mestrado e doutorado de 2008, pois com a amizade de vocês foi mais fácil cada dia dessa longa jornada.

Agradecimento especial à minha grande amiga, Marli Tacconi, que de colega de doutorado, se transformou em uma grande e especial amiga, além de ser uma pessoa a quem muito admiro. E também ao meu grande amigo João Mendes, parceiro de turma e nos estudos, também meu pilar nessa caminhada árdua. A amizade de vocês dois revelou-se um grande presente do destino.

A todas as minhas amigas de infância: Suzete, Cynthia, Danielle, Dolores, Fernanda e Cinthya, que sempre estiveram presentes em todos os momentos, torcendo, apoiando, e incentivando as minhas realizações. A amizade verdadeira e duradoura de todas vocês é um dos sustentáculos da minha felicidade.

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Agradeço muito aos pesquisadores que aceitaram ser entrevistados na primeira fase da minha pesquisa e que contribuíram de maneira relevante com suas colocações.

Agradeço aos Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação em Administração: Professor Walter Fernando Araújo de Moraes, Professora Tereza Souza e Professor Anielson Barbosa da Silva que concordaram com a formação de grupos focais em seus Programas, como também a todos os pesquisadores que participaram dos grupos e muito ajudaram na reflexão da temática estudada.

Agradeço ao grupo de doutorandos do PPGA da UFRN que se colocaram disponíveis em participar da pesquisa de campo e que muito contribuíram com seus relatos.

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RESUMO

A ética na pesquisa científica é um tema abordado e muito discutido em diversas áreas do conhecimento ligadas à saúde. Na área da Administração, são raros os estudos que abordam o tema da ética na pesquisa. O presente estudo buscou preencher esta lacuna na produção do conhecimento sobre o tema, investigando como os princípios éticos encontrados na literatura e nos códigos de conduta são percebidos e considerados nas atividades de pesquisa em Administração, desenvolvidas por pesquisadores atuantes em Programas de Pós-Graduação em Administração. Teoricamente, o estudo apoiou-se principalmente nas abordagens de Creswell (2007) e Bell e Bryman (2007), que discutem os princípios éticos na pesquisa. Metodologicamente, tratou-se de um estudo de caráter exploratório, com abordagem de pesquisa qualitativa. Na coleta de dados foram feitas entrevistas pessoais e em profundidade e formados grupos focais. Na primeira etapa, foram realizadas entrevistas com quatro pesquisadores experientes, participantes de um evento de ensino e pesquisa e na segunda etapa, foi adotada a técnica de grupo focal. Os grupos focais foram realizados em quatro instituições de ensino superior junto aos Programas de Pós-Graduação em Administração nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Os resultados apontam para a existência de princípios gerais para a pesquisa científica propostos na literatura e em resolução oficial. Porém, na área da Administração existem apenas recomendações de boas práticas no tocante à submissão de artigos para publicações científicas, mas não foram encontradas orientações com princípios éticos que englobem todas as atividades da pesquisa científica e que atendam especificamente às particularidades das pesquisas em Administração. Os principais dilemas éticos, apontados pelos pesquisados se referem às questões éticas que surgem nas fases da coleta dos dados e na divulgação dos resultados. A maioria dos pesquisados não conhecem as diretrizes e as normas sobre ética na pesquisa existentes no país e nem enviam seus projetos aos comitês de ética na pesquisa. Em caso de dilemas, decidem a questão ética com base nos seus valores e senso comum. Estes elementos confirmam a tese de que a conduta do pesquisador nas atividades de pesquisa em Administração é predominantemente balizada por valores pessoais ou pelo senso comum e menos por princípios éticos, seja pelo desconhecimento de instrumentos normativos relacionados à ética, como também pela discordância com quaisquer regras de disciplinamento sobre conduta ética na pesquisa.

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ABSTRACT

Ethics on scientific research is approached and often discussed in several areas of knowledge connected to health. In the Administration area there are very few studies which approach the topic of ethics on research. The present paper tried to fill in this gap in the production of knowledge about the topic, investigating how the ethical principles found in the literature and in the codes of conduct are noticed and taken into account in Administration research activities developed by acting researchers in Administration Post Graduation Programs. Theoretically speaking, the study was based mainly on the approaches by Creswell (2007) and Bell and Bryman (2007), which discuss the research ethical principles. Methodologically speaking it was all about an exploratory kind of study, with qualitative research approach. Upon data collection, personal interviews were made aiming at its depth and focus groups were formed. The first stage had interviews with four experienced researchers who took part on a teaching and researching event and on the second stage we used the focus group technique. The focus groups were done in four college institutions along with the post graduation programs in Administration in the states of Rio Grande do Norte, Paraíba and Pernambuco, in Brazil. The results suggest the existence of general principles and parameters for the scientific research recommended in the literature and on official resolution. However, in the Administration area, there are only a few recommendations of good practices when it comes to submitting articles for scientific publications but we found no guidance with ethical principles and parameters which cover all the activities in the scientific research and which specifically meet the research particularities in Administration. The main ethical dilemma pointed by the researchers refers to ethical questions which arise at the time of data collection and on disclosing the results. Most researchers do not know the guidelines and the ethical norms on ethics about research that we have in our country neither do they send in their projects to the research ethics committee. When dilemma arises, they decide the ethical question based on their values and common sense. These elements confirm the thesis that the researcher’s procedure in the research activities in Administration is predominantly signed by personal values or by common sense and less by ethical principles, whether by not knowing the normative instruments related to ethics or by disagreeing with any disciplining rules on ethical behavior in the research.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O ponto de vista moral e quatro abordagens possíveis de análise ética ... 40

Figura 2 - Os três domínios da ação humana ... 54

Figura 3 – Desvios de conduta na pesquisa social ... 58

Figura 4 – O profissional e as pressões externas pela ética ... 62

Figura 5 – Caminhos da regulamentação e da orientação ética em pesquisa científica no Brasil ... 74

Figura 6 – Quatro princípios do modelo normativo da ética na pesquisa – Resolução n. 196/96-CNS ... 76

Figura 7 – Questões éticas e o processo de pesquisa... 94

Figura 8 – Categorias de princípios éticos identificados em códigos de ética na pesquisa social ... 96

Figura 9 – Dilemas éticos na pesquisa, enfrentados pelos entrevistados ... 126

Figura 10 – Possibilidade de tomada de decisão na pesquisa por parte dos pesquisadores ... 130

Figura 11 – Tomada de decisão na pesquisa por parte dos pesquisadores entrevistados.132 Figura 12 – Espaços sugeridos pelos entrevistados para ações educativas e reflexões sobre a ética na pesquisa em Administração ... 135

Figura 13 – Percepção dos grupos focais quanto à conduta ética na pesquisa científica.142 Figura 14 – Dilemas éticos apontados na discussão dos grupos focais ... 148

Figura 15 – Visão dos grupos focais quanto à conduta ética do pesquisador em Administração ... 153

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Doutrinas éticas fundamentais ... 30-31

Quadro 2 – Resumo das abordagens sobre teorias éticas ... 38

Quadro 3 – Classificação dos principais tipos de pesquisa ... 44

Quadro 4 – Questões éticas a serem observadas no processo de pesquisa ... 64

Quadro 5 – Áreas de preocupação ética em pesquisas ... 66

Quadro 6 – Resumo dos princípios éticos abordados na literatura ... 98-99 Quadro 7 – Grupos focais ... 107 Quadro 8 – Características dos documentos orientadores da conduta ética do

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CGEE Centro de Gestão de Estudos Estratégicos CNS Conselho Nacional de Saúde

CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

EnANPAD Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

EnEC Encontro de Editores Científicos de Administração e Contabilidade

EnEPQ Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade EPQ Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MS Ministério da Saúde

SISNEP Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFPB Universidade Federal da Paraíba

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA EM ADMINISTRAÇÃO ... 27

2.1 Ética ... 27

2.1.1 Evolução e definições da ética e da moral ... 27

2.1.2 Teorias éticas ... 35

2.2 Ética na pesquisa científica... 41

2.2.1 Produção do conhecimento e ética ... 41

2.2.2 Conduta ética e má conduta ética na pesquisa científica ... 51

2.2.3 Princípios éticos na pesquisa ... 64

2.2.4 Normas e diretrizes institucionais sobre ética na pesquisa científica ... 67

2.3 Ética na pesquisa em Administração ... 85

2.3.1 Pesquisa em Administração ... 85

2.3.2 Ética na pesquisa em Administração ... 88

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 100

3.1 Tipo de estudo ... 100

3.2 Abrangência do estudo ... 102

3.3 Participantes da pesquisa ... 104

3.4 Coleta dos dados e instrumentos de coleta ... 104

3.5 Análise dos dados ... 108

3.6 Limitações do estudo ... 111

4 REFLEXÕES E DISCUSSÕES SOBRE ÉTICA NA PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO ... 113

4.1Análise de documentos norteadores da ética na pesquisa científica ... 113

4.2 Análise das entrevistas ... 120

4.2.1 Percepção dos pesquisadores sobre boa conduta ética e má conduta na pesquisa científica ... 121

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4.2.3 Conhecimento dos pesquisadores em Administração acerca dos princípios

sobre ética na pesquisa existente no Brasil ... 127

4.2.4 Tomada de decisão ética por parte dos pesquisadores ... 129

4.2.5 Visão dos pesquisadores quanto à necessidade de orientação e/ou normatização ética na atividade de pesquisa em Administração ... 133

4.3 Ética na pesquisa à luz dos grupos focais ... 136

4.3.1 Percepção dos grupos focais quanto à conduta ética e responsável do pesquisador e quanto à má conduta na pesquisa científica ... 138

4.3.2 Dilemas éticos enfrentados pelos grupos focais no desenvolvimento das atividades de pesquisa em Administração ... 146

4.3.3 Conhecimento dos grupos focais acerca dos princípios sobre ética na pesquisa existentes no Brasil ... 149

4.3.4 Aspectos considerados na tomada de decisão sobre questões e dilemas éticos nas atividades de pesquisa ... 152

4.3.5 Visão dos grupos focais quanto à necessidade de orientação e/ou normatização ética na atividade de pesquisa em Administração ... 155

5 CONCLUSÃO ... 157

REFERÊNCIAS ... 163

APÊNDICES ... 171

APÊNDICE A – Instrumento de pesquisa 1 - Roteiro de entrevista ... 172

APÊNDICE B – Instrumento de pesquisa 2 - Guia de questões para grupo focal ... 173

APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido ... 174

ANEXOS ... 175

ANEXO A – Resolução n. 196/96-CNS ... 176

ANEXO B – Relatório da comissão de integridade de pesquisa do CNPq ... 188

ANEXO C – Código de boas práticas científicas - FAPESP ... 193

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1. INTRODUÇÃO

A ética é um tema que suscita debates, dilemas e diferentes abordagens teóricas. Constitui-se em uma remota preocupação humana. Desde o surgimento da filosofia, a ética vem sendo abordada e discutida em diversas áreas do conhecimento.

Na pesquisa científica, a ética também é atualmente um tema que gera muitas discussões. Porém, nem sempre foi assim. Campos e Costa (2007) colocam que por muito tempo a atividade de pesquisa foi considerada isenta de considerações de ordem ética. A neutralidade do pesquisador era exigência inexorável e a confiabilidade dos resultados depreendia da capacidade de se descolar de seus valores para se ater exclusivamente ao rigor do método. Assim, da pesquisa se cobrava tão somente a observância rigorosa dos métodos e dos procedimentos, abstraídas as consequências da aplicação de seus resultados. Desde que "científico", o conhecimento gerado legitimava-se e o pesquisador poderia ter certeza de servir à causa nobre do progresso da ciência.

Mais recentemente, os próprios cientistas passaram a reduzir essa distância. Há um fundamento ético na busca do conhecimento e na necessidade de aproximação da verdade. Atualmente, a ética está no centro dos debates sobre os limites da ciência. E esses debates envolvem pesquisadores, instituições, cidadãos em geral, juristas, religiosos, profissionais de diversas áreas e comunidades científicas (MATHEUS, 2006).

Guilhem e Zicker (2007) reforçam que é crescente o interesse pelo tema da ética em pesquisa e que esse crescimento está relacionado com o processo de globalização da pesquisa em saúde, com as questões econômicas envolvidas e com a vulnerabilidade de países em desenvolvimento como locais de estudo, de produção de conhecimento e de desenvolvimento de produtos. Além disso, com os novos conhecimentos científicos e as novas tecnologias surgem novas questões éticas que carecem de reflexão.

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Hutz (1999) destaca que até o ano de 1988 não havia no Brasil uma preocupação institucional com os aspectos éticos da pesquisa. O pesquisador era o único árbitro da adequação ética de sua pesquisa, a sociedade concedia licença total a seus cientistas para experimentar e pesquisar em seres humanos das formas que julgassem apropriadas ou necessárias.

A primeira diretriz brasileira com relação à normatização da ética na pesquisa com seres humanos foi a Resolução n° 1/1988, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão ligado ao Ministério da Saúde (MS), e representou um importante avanço. (CNS, 1988).

Anos depois, foi aberto um novo debate sobre o tema, envolvendo diferentes segmentos da sociedade. E esse grupo se dedicou a elaborar a nova resolução que pudesse abranger as múltiplas questões relativas às pesquisas com sujeitos humanos (CNS, 2008).

Surgiu assim a Resolução n° 196/96 – CNS/MS, que incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais ou princípios básicos da ética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (CNS, 1996).

Na referida resolução, é ressaltado que cada área temática de investigação e cada modalidade de pesquisa em qualquer área do conhecimento, além de respeitar os princípios emanados no texto da resolução, devem cumprir com as exigências setoriais e regulamentações específicas de cada área de pesquisa.

O item IX.I da Resolução n° 196/96 – CNS/MS (CNS, 1996) destaca que,

Todo e qualquer projeto de pesquisa envolvendo seres humanos deverá obedecer às recomendações desta Resolução e dos documentos endossados em seu preâmbulo. A responsabilidade do pesquisador é indelegável, indeclinável e compreende os aspectos éticos e legais.

A partir da Resolução n° 196/96 – CNS, foram criados, nas universidades brasileiras e em outras instituições ligadas à pesquisa científica, os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). Os comitês de ética em pesquisa são, conforme a Resolução n° 196/96 – CNS, item II.14,

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Francisconi et al. (2009) ressaltam que os CEPs devem ter a participação de pesquisadores de reconhecida competência, além de membros externos à comunidade científica e às instituições e devem avaliar especificamente os aspectos éticos das atividades científicas.

Os Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil estão, em grande parte, inseridos nas universidades brasileiras públicas e privadas, mas existem também comitês ligados às secretarias de saúde dos Estados e aos institutos de pesquisa.

Além das resoluções federais já existentes, levantou-se que, nos últimos anos, órgãos de apoio a pesquisa científica passaram a refletir sobre a integridade na pesquisa, e assim criaram diretrizes e códigos de boa conduta, em alguns casos motivados a partir de denúncias de fraudes em pesquisas.

A partir do recebimento de denúncias de fraude em publicações científicas envolvendo pesquisas apoiadas pelo órgão, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) criou, em 2011, uma comissão de integridade de pesquisa para elaborar algumas diretrizes sobre ética na pesquisa, de forma a nortear a conduta dos pesquisadores com bolsa de produtividade da instituição. (CNPq, 2011). A referida comissão elaborou um relatório final no qual abordou que:

A necessidade de boas condutas na pesquisa científica e tecnológica tem sido motivo de preocupação crescente da comunidade internacional e no Brasil não é diferente. A má conduta não é fenômeno recente, haja vista os vários exemplos que a história nos dá de fraudes e falsificação de resultados. (CNPq, 2011).

A comissão do CNPq preconiza que, as más condutas na pesquisa são assunto de interesse das agências de financiamento e que as mesmas devem zelar pela aplicação correta dos seus recursos em pesquisadores que sejam capazes de produzir avanços efetivos e confiáveis do conhecimento, instituindo assim, mecanismos de identificação e desestímulo de práticas fraudulentas na pesquisa, e dessa forma, estimulando a integridade na produção e na publicação dos resultados de pesquisas (CNPq, 2011).

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instituições e organizações de pesquisa e para os periódicos científicos apoiados pela referida fundação (FAPESP, 2011).

Segundo a FAPESP (2011), as diretrizes estabelecidas no código da fundação concernem a uma parte da esfera da ética profissional do cientista, parte esta que se refere apenas à integridade ética da pesquisa científica enquanto tal, ou seja, aos valores e padrões éticos de conduta que derivam direta e especificamente do compromisso do cientista com a finalidade de sua profissão: a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo.

No Brasil, a maioria das pesquisas científicas são realizadas nas universidades. Bianchetti e Valle (2011) colocam que, no país a pós-graduação teve seu processo de institucionalização iniciado nos primeiros anos da década de 1950 com a criação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mas que só nos anos de 1970 é que a pós-graduação ganhou forte impulso, principalmente em universidades públicas e confessionais. Destacam ainda que, a educação formal brasileira como um todo, expandiu-se de uma maneira sem precedentes a partir da queda do regime ditatorial e da retomada do processo democrático, o que ocorreu pela institucionalização da chamada Nova República, em 1985, e da aprovação de uma nova Constituição Federal para o país (1988) e de uma nova lei para a educação brasileira (a LDBEN n. 9394/96).

A partir da evolução da pós-graduação no país, percebe-se que se por um lado foram criadas resoluções, comitês de ética na pesquisa, diretrizes e códigos de conduta ética, observou-se, por outro lado, com relação aos pesquisadores no país, um crescimento no Brasil do número de pesquisadores doutores, atuando em bases de pesquisa no país. Entre 1996 e 2008, houve um crescimento de 278% no número de doutores titulados no Brasil, o que corresponde a uma taxa média de 11,9% de crescimento ao ano. Esta é uma das conclusões do estudo do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), transformado na publicação “Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira” (CAPES, 2010).

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Especificamente, no campo da Administração, levantou-se que o único documento que discute práticas éticas, elaborado no Brasil, foi de iniciativa da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), que em 2010, elaborou um manual de boas práticas voltado para publicação científica, onde são apresentadas diretrizes éticas norteadoras para a conduta dos autores, editores, revisores e integrantes de corpos editorias de periódicos.

A associação coloca que o Manual ANPAD de Boas Práticas da Publicação Científica (Boas práticas da publicação científica: um manual para autores, revisores, editores e integrantes de corpos editoriais), é um documento que visa ajudar os periódicos brasileiros a alcançar elevado desempenho e a ampliar o seu impacto como fonte de pesquisa referencial nas áreas de Administração e Contabilidade e, que as boas práticas recomendadas representam um conjunto de critérios e orientações a respeito da publicação científica e dos papéis dos principais atores envolvidos no processo, tanto sob o ponto de vista ético quanto do operacional. (ANPAD, 2010).

No Manual da ANPAD (2010) é colocado que o documento em questão não tem caráter normativo, mas sim de orientação, que foi construído com base na literatura e na prática de se produzir a publicação científica.

Dessa forma, observa-se o crescente interesse em debater e refletir sobre a ética na pesquisa no Brasil quer seja pelo aumento do número de pesquisadores e das pesquisas e publicações por parte dos pesquisadores, quer seja pelo aumento de fraudes e desvios de conduta denunciados no campo da pesquisa científica, conforme dados da CAPES (2010) e CNPq (2011).

Segundo Oliveira (1983), nas Ciências Sociais o método científico procura descrever o comportamento, predizer comportamentos, determinar as causas do comportamento, entender ou explicar o comportamento dos indivíduos. No entanto, dada a natureza “nebulosa” das variáveis ligadas à percepção, atitude e comportamento, o processo de aquisição de conhecimentos nas Ciências Sociais se torna mais complexo do que nas Ciências Exatas, onde os materiais, os objetos e as coisas são mais facilmente identificáveis, mensuráveis e observáveis.

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pesquisadores das ciências sociais, e defendem um reconhecimento mais explícito dos fatores contextuais envolvidos na pesquisa em Administração

Os autores supracitados colocam também que o aumento na regulamentação ética é visto por alguns pesquisadores do campo da Administração, no Reino Unido, como evidência de ataque contra a independência acadêmica e as estruturas éticas são tratadas como mecanismos reguladores que refletem a falta de profissionalismo dos acadêmicos. Porém, os autores salientam que a prática de se apoiar em diretrizes científicas sociais gerais não considera a possibilidade de que os pesquisadores da área de Administração tendem a enfrentar diferentes tipos de situações éticas de outros pesquisadores sociais.

Creswell (2007) salienta que, as questões éticas devem ser refletidas em todo o processo de pesquisa e recomenda que princípios éticos sejam considerados em cada etapa do processo da pesquisa. Esses princípios éticos referem-se a: beneficência; transparência na comunicação dos objetivos e dos órgãos apoiadores da pesquisa; não exposição dos participantes da pesquisa ao risco; autonomia e livre consentimento dos participantes; respeito à privacidade e ao anonimato; disponibilização do resultado final da pesquisa; honestidade nas práticas da pesquisa; qualidade na análise da pesquisa.

Quanto aos dilemas éticos, Medeiros et al.(2007) afirmam que, estão presentes em qualquer tipo de pesquisa desenvolvida nas distintas áreas das ciências. E que os principais aspectos dos dilemas éticos podem estar relacionados tanto aos próprios pesquisadores – no que tange a concepção inicial da proposta de pesquisa e seu delineamento – como ao processo de desenvolvimento da pesquisa em todas as suas etapas operacionais, incluindo-se o momento da comunicação do seu produto final.

Salienta-se assim que, o debate ético deve ser abordado em qualquer tipo de pesquisa, mas principalmente nas pesquisas científicas que sejam desenvolvidas em toda e qualquer área das ciências, como é destacado tanto pelas resoluções federais, como também pelos autores estudados.

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As Ciências Administrativas, diferentemente, de outras ciências, não carecem de princípios éticos para nortearem a conduta dos pesquisadores? Como então estimular o debate e a reflexão ética no campo da pesquisa científica em Administração?

A partir desses questionamentos, é pertinente investigar: Como os princípios éticos encontrados na literatura e nos códigos de conduta são percebidos nas atividades de pesquisa em Administração, desenvolvidas por pesquisadores atuantes em Programas de Pós-Graduação em Administração?

O campo de estudo se circunscreve aos Programas de Pós-Graduação em Administração, por estes se constituírem lócus de excelência de realização da atividade de pesquisa. Definido o problema de pesquisa, emergem duas categorias de análise: os princípios éticos e as atividades de pesquisa.

Japiassú e Marcondes (1996) definem princípios éticos como preceitos morais e normas de ação que determinam a conduta humana. Pode-se colocar assim que, por princípios éticos na pesquisa compreendem-se as orientações de boa conduta na pesquisa a serem seguidas por pesquisadores.

As atividades de pesquisa são todas as ações desenvolvidas em cada etapa do processo de: definição do problema da pesquisa; definição dos objetivos e indagações; aplicação da coleta de dados; análise e interpretação dos dados e divulgação, com a redação do relatório final da pesquisa, como destaca Creswell (2007).

Definidas as categorias foram formulados os seguintes questionamentos:

• O que os pesquisadores em Administração percebem ser conduta ética e má conduta no processo de pesquisa?

• Que dilemas éticos os pesquisadores em Administração enfrentam no desenvolvimento das atividades de pesquisa?

• Os pesquisadores que atuam na área da Administração conhecem, consideram e refletem sobre os princípios, diretrizes e parâmetros éticos existentes?

• Os pesquisadores em Administração consideram seus valores pessoais e morais e/ou os princípios e parâmetros éticos na tomada de decisão sobre questões e dilemas éticos nas atividades de pesquisa?

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O presente estudo tem por objetivo geral: Apreender como os pesquisadores atuantes nos Programas de Pós-Graduação em Administração percebem e consideram os princípios éticos da pesquisa científica.

E, como objetivos específicos:

a) Identificar a percepção dos pesquisadores quanto ao que consideram ser boa conduta ética e má conduta na pesquisa científica;

b) Conhecer os dilemas éticos enfrentados pelos pesquisadores no desenvolvimento das atividades de pesquisa;

c) Identificar o conhecimento dos pesquisadores em Administração acerca dos princípios sobre ética na pesquisa existentes no Brasil;

d) Levantar se os pesquisadores em Administração consideram seus valores pessoais e/ou os princípios éticos na tomada de decisão sobre questões e dilemas éticos nas atividades de pesquisa.

e) Conhecer a visão dos pesquisadores quanto à necessidade de orientação e/ou normatização na atividade de pesquisa em Administração;

f) Levantar os documentos existentes, no país, que busquem orientar a conduta ética dos pesquisadores em Administração.

O presente trabalho propõe-se então a examinar a seguinte tese: A conduta do pesquisador nas atividades de pesquisa em Administração é predominantemente balizada por valores pessoais ou pelo senso comum e menos por princípios éticos, seja pelo desconhecimento de instrumentos normativos relacionados à ética, seja pela discordância com quaisquer regras de disciplinamento sobre conduta ética na pesquisa.

A escolha do tema “ética na pesquisa em Administração” pode ser justificada de várias formas. Inicialmente, o interesse pelo tema “ética na pesquisa” surgiu a partir de buscas feitas nos livros das áreas de teoria da pesquisa e metodologia da pesquisa, quando foi constatado que muitos livros consultados não tinham nenhuma referência à ética na pesquisa científica.

Os poucos livros que apresentavam capítulos inteiros ou trechos de capítulos que abordavam o tema eram livros de pesquisa de marketing, voltados para a pesquisa comercial. E um número ainda menor de livros de métodos de pesquisa abordava as questões éticas no processo de pesquisa, como encontrado em Creswell (2007).

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observava-se, desde então, que, como em todas as outras áreas das ciências, podem ocorrer desvios de conduta por parte de pesquisadores em Administração.

A partir da constatação da referida lacuna no conhecimento sobre o tema da ética na pesquisa científica em Administração nos livros consultados, procurou-se levantar dados sobre pesquisas realizadas e observou-se que, a maioria dos artigos científicos encontrados e publicados em periódicos nacionais concentravam-se, no debate sobre a ética na pesquisa na área da saúde, enfocando a bioética.

Os levantamentos sobre a publicação de teses que abordassem o tema ética na pesquisa foram feitos no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no banco de teses da Capes. Através do acesso ao portal de periódicos da Capes, foram feitas, também, buscas e consultas em publicações internacionais e nacionais. Foram acessadas bases como EBSCO, Proquest, Web of Science, SAGE journals online, entre outras. Os termos pesquisados envolviam os nomes; “ética”, “ética na pesquisa”, “research ethics”, “ethics of management research”. As consultas e levantamentos nos locais indicados foram feitas no período de 2008 a 2011.

Com relação a busca por teses foram encontradas muitas teses da área de medicina e odontologia que abordaram o tema ética na pesquisa. Nas áreas afins, como Ciências Contábeis, foi encontrada uma tese (ANDRADE, 2011) que tratou da má conduta na pesquisa na Contabilidade. E onde o autor afirma que há “[...] diminuto número de estudos realizados no Brasil sobre má conduta na pesquisa na área de contabilidade.” (ANDRADE, 2011, p.8).

Na área de Administração, especificamente, não foram localizadas teses que abordam o tema “ética na pesquisa em Administração”, apenas teses com enfoque na “ética dos negócios”, ou mais especificamente, ética no marketing. Como não foram encontradas teses, no país sobre ética na pesquisa na área da Administração, observou-se assim, uma grande lacuna a ser preenchida na produção do conhecimento sobre o tema da presente pesquisa.

Já com relação a artigos internacionais, foram encontrados muitos artigos voltados ao estudo da bioética, mas poucos artigos que abordavam especificamente a temática da ética na pesquisa na área da Administração, como o artigo de Bell e Bryman (2007).

(25)

formato de ensaio teórico: Mattos (2005b) e Yokomizo (2008), até o período de levantamento bibliográfico.

Mattos (2005b) abordava a ética do pesquisador, colocando-a como uma dimensão pouco explorada. Já Yokomizo (2008) abordou os desvios de conduta na pesquisa acadêmico-científica. Outros artigos ligados a pesquisa científica foram levantados, com enfoque no produtivismo, como Mattos (2008); Alcadipani (2011); Bianchetti e Valle (2011) e Godoi e Xavier (2012).

A partir dessas constatações, foi iniciado o estudo sobre o tema e elaboradas pesquisas preliminares, em 2008 e 2009, em disciplinas do curso de Doutorado em Administração, do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A primeira pesquisa desenvolvida pela pesquisadora e colaboradores, abordando o tema “ética na pesquisa em Administração”, foi aplicada em 2008, junto a pesquisadores do Departamento de Ciências Administrativas (DEPAD) e do PPGA da UFRN. Esse trabalho inicial gerou um artigo: “Ética na Pesquisa em Administração - reflexões junto aos pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte” (LEITE et al., 2009), que foi publicado e apresentado na sessão temática que abordava o tema ética na pesquisa, no XXXIII Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), em 2009. Foi o único trabalho apresentado sobre a temática específica da “Ética na Pesquisa”. O trabalho se tratou de uma pesquisa exploratória e descritiva, que através de uma abordagem quantitativa, buscava verificar se as questões éticas estavam sendo consideradas no processo de pesquisa em Administração.

Vale salientar que, a Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), inseriu pela primeira vez o tema de interesse “Ética na pesquisa e produção do conhecimento em Administração e Contabilidade”, na divisão acadêmica “Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade” (EPQ), em 2009, dada a importância constatada do tema a ser pesquisado e discutido nos programas de pós-gradução do Brasil.

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através de uma abordagem inicial, conhecer as percepções dos pesquisadores sobre a ética no processo de pesquisa. Sendo aceito, apresentado e publicado nos anais do XXXIV EnANPAD, em 2010, na sessão temática “Ética na pesquisa e produção do conhecimento em Administração e Contabilidade”, na divisão acadêmica de EPQ.

Ao final do XXXIV EnANPAD, em 2010, foi realizado um fórum de editores científicos de Administração e Contabilidade, por ocasião do II Encontro de Editores Científicos de Administração e Contabilidade (II EnEC), onde foi elaborado um manual de “Boas Práticas da Publicação Científica: um manual para autores, revisores, editores e integrantes de Corpos Editoriais”, sendo que a versão final (revisada mediante consulta pública realizada com os editores) foi divulgada em dezembro de 2010. (MANUAL ANPAD, 2010).

O Manual da ANPAD representa a preocupação crescente, na área da Administração, com os aspectos éticos envolvidos na conduta dos editores, comitês ou conselhos editoriais, revisores e em particular do pesquisador. O manual está relacionado a um dos pontos finais do processo de pesquisa, que trata da publicação científica e produção de periódicos científicos. Mesmo assim, observa-se que a discussão e a elaboração do referido guia orientador reforça a importância da presente pesquisa, pois nesta, são discutidas as reflexões e considerações dos pesquisadores com relação a um tema – ética na pesquisa – que envolve a confiabilidade e a qualidade na condução do processo de pesquisa em Administração.

Diante do exposto, observa-se a relevância do estudo sobre o tema, ética na pesquisa em Administração, devido ao fato de ser um tema relativamente novo na área da Administração, relevante para o progresso da ciência na área estudada, original e pouco estudado até então. Além do fato de não existirem normas ou princípios éticos específicos e norteadores das pesquisas no campo da Administração, conforme Bell e Bryman (2007), o que reforça a importância do debate reflexivo sobre a ética na pesquisa em Administração.

Pretende-se dessa forma contribuir para a discussão aprofundada e crítica sobre o tema, buscando suprir as lacunas do conhecimento e gerar o debate sobre a importância da ética na pesquisa científica em Administração.

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O segundo capítulo trata do quadro teórico relacionado ao tema “ética na pesquisa em Administração” e para compor este quadro foram abordadas primeiramente, as definições, a evolução e as teorias sobre ética, enfocando a seguir, a relação entre ética e ciência, como também as normas e princípios éticos da pesquisa existentes no Brasil. E por fim, foram abordadas aspectos relacionados à ética na pesquisa científica no campo da Administração.

O terceiro capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados neste estudo, o tipo do estudo aplicado, os sujeitos da pesquisa, o processo de coleta dos dados, os instrumentos de pesquisa utilizados, os procedimentos adotados para a análise da pesquisa, como também as limitações encontradas neste estudo.

O quarto capítulo abrange toda a análise e discussão dos dados, onde são apresentados os resultados da pesquisa com os pesquisadores entrevistados e com os grupos focais sobre o tema da ética.

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2. ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA EM ADMINISTRAÇÃO

De forma a serem atingidos os objetivos da presente pesquisa, faz-se necessário incursões teóricas sobre a ética na pesquisa científica e, mais especificamente, sobre ética na pesquisa em Administração. Assim sendo, no presente capítulo serão abordados os seguintes temas: ética (conceitos, evolução e teorias éticas); ética na pesquisa científica (produção do conhecimento e ética, conduta ética e má conduta, normas e diretrizes éticas) e ética na pesquisa em Administração.

2.1. Ética

Na tentativa de compreender o tema “ética”, serão expostas algumas definições e conceitos, alicerçados em abordagens de diversos teóricos. Primeiramente, buscar-se-á apresentar as origens das palavras: ética e moral e, em seguida, discutir-se-á a evolução histórica do estudo da ética.

2.1.1 Evolução e definições da ética e da moral

Conceituar ética não é uma tarefa simples, considerando-se que este campo de estudo é bastante complexo. A ética constitui uma preocupação antiga do homem. Desde o surgimento da filosofia, a ética vem sendo abordada com ênfase. Etimologicamente, a palavra ética tem sua origem no termo grego ethos, que por sua vez significa modo de ser, caráter. (KAKABADSE et al., 2002; POLLI; VARES, 2008). Por sua vez, a palavra moral deriva do latim, mais precisamente do termo mos (singular) e mores (plural), significando costumes (POLLI; VARES, 2008).

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Já na etimologia, portanto, encontramos as duas vertentes clássicas da reflexão ética: a subjetiva, centrada em torno do comportamento individual, e a objetiva, fundada no modo coletivo de vida. Essas duas vertentes foram compridamente exploradas pelo pensamento grego. Na primeira delas, a individual, a regra de vida proposta foi a virtude (Areté); na segunda, a lei (nómos). (COMPARATO, 2008, p.96).

Segundo Valls (2008), entre os anos 500 e 300 a. C., aproximadamente, encontra-se o período áureo do pensamento grego. O autor coloca que foi um período onde surgiram muitas ideias, definições e teorias sobre o agir do homem e destaca os pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles. Conforme Pegoraro (2008, p.36), “a ética e a política de Aristóteles formam o primeiro grande tratado sobre o comportamento das pessoas e da sociedade”.

Comparato (2008) destaca que, a filosofia, ou teoria racional da ética, principia com Sócrates, que foi o primeiro que procurou definir as virtudes morais. A partir de Sócrates, o caminho do conhecimento racional foi aberto e a reflexão ética atingiu uma notável elevação com mais eminentes seguidores: Platão e Aristóteles. Sócrates procurou fixar o princípio ético fundamental de que os homens, em geral, e os governantes, em particular, são sempre pessoalmente responsáveis por seus atos ou omissões intencionais.

Já Aristóteles procurou demonstrar que o bem, como finalidade objetiva de toda ação humana, é tudo aquilo que apresenta um valor para o homem. Encontra-se aí, em germe, a ideia de que o bem e o mal são percebidos também pela inteligência afetiva, o que representa a base de toda teoria axiológica moderna (COMPARATO, 2008).

Aristóteles (2001, p.17) escreveu no Livro I, da sua obra “Ética a Nicômaco”, que o “bem é aquilo a que todas as coisas visam”. E coloca que, o bem deve ser a finalidade de todas as ações do homem. Aristóteles (2001) discorre sobre a natureza do “bem”, e que esse bem, em cada atividade assume diferentes formas.

“Se há, portanto, um fim visado em tudo que fazemos, esse fim é o bem atingível pela atividade, e se há mais de um, estes são os bens atingíveis pela atividade” (ARISTÓTELES, 2001). Chaui (2006) coloca que, se o pensamento filosófico dos antigos for examinado, será visto que nele a ética afirma três grandes princípios da vida moral:

• Por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa;

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consiste na consciência do bem e na conduta definida pela vontade guiada pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintos e impulsos irracionais descontrolados, que existem na natureza de todo ser humano;

• A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se, portanto, ao que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que está em nosso poder significa, principalmente, não se deixar arrastar pelas circunstâncias nem pelos instintos, nem por uma vontade alheia, mas afirmar nossa independência e nossa capacidade de autodeterminação.

Na ética antiga, destacavam-se três aspectos principais, como apresenta Chaui (2006):

1. Racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, deseja-o e guia a vontade até ele. A vida virtuosa é aquela em que a vontade se deixa guiar pela razão;

2. Naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a natureza (o cosmo) e com a nossa natureza (nosso éthos), que é parte do todo natural. Agir voluntariamente não é, portanto, agir contra a necessidade natural e sim agir em harmonia com ela, de forma que nossa vontade realize nossa natureza individual e a coloque em harmonia com o todo da natureza;

3. Inseparabilidade entre ética e política: relacionada à inseparabilidade entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontram-se liberdade, justiça e felicidade.

Assim, Chaui (2006) coloca que a ética era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica.

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Com relação às fases posteriores da evolução da ética, buscou-se agrupar, no quadro a seguir, as doutrinas éticas fundamentais. Vazquez (2005) discute alguns dos aspectos dessas doutrinas éticas e apresenta os principais filósofos e as características de cada doutrina.

Quadro 1 - Doutrinas éticas fundamentais

Doutrinas Éticas Visões e características Visões e características Visões e características Visões e características Visões e características

Ética grega Sofistas – não existem verdade nem erro, e as normas – por serem humanas – são transitórias.

Sócrates – A ética socrática é racionalista. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo.

Platão – a ética de Platão se relaciona intimamente com a sua filosofia política, como para ele e para Aristóteles, a polis é o terreno próprio da vida moral. O homem é bom enquanto bom cidadão.

Aristóteles – A ética de Aristóteles - como a de Platão – está unida à sua filosofia política, a comunidade social, e política é o meio necessário da moral.

Estóicos e Epicuristas –

A moral não mais se define em relação à polis, mas ao universo. A física é premissa da ética.

Ética cristã

medieval Ética religiosaA Igreja exerce – poder espiritual. A moral concreta e a ética estão impregnadas de conteúdo religioso. A ética cristã tende a regular o comportamento dos homens com vistas a outro mundo (sobrenatural).

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Ética moderna Ética

antropocêntrica – a razão separa-se da fé, e a filosofia da teologia. O homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral. Ética com centro e fundamento no homem.

Ética de Kant – O que o sujeito conhece é o produto da sua consciência. Homem como sujeito cognoscente ou moral é ativo, e está no centro tanto do conhecimento quanto da moral.Ponto de partida da sua ética é o fato da

moralidade. Ética formal e autônoma.

Ética

contemporânea

De Kierkegaard ao

existencialismo – Kierkegaard considerado pai do existencialismo – o que vale é o homem concreto, a sua subjetividade. 3 estágios na existência individual: estético,ético e religioso. Outros filósofos: Stirner e Sartre.

Pragmatismo –

Principais

expoentes: S.Pierce; W. James e J. Dewey.

Caracterizava-se pela sua

identificação da verdade com o útil, no sentido daquilo que melhor ajuda a viver e conviver.Na ética – os valores, princípios e normas variam de acordo com cada situação. Variante utilitarista marcada pelo egoísmo; versão do subjetivismo e do irracionalismo.

Psicanálise e ética – Psicanálise foi fundada por Freud. Pressuposto básico da psicanálise é a afirmação de que existe uma zona da personalidade, na qual o sujeito não tem

consciência,que é o inconsciente.O ato moral é aquele no qual o indivíduo age consciente e livremente, a partir de motivação inconsciente.

Marxismo – Para Marx, o homem real é, em unidade

indissolúvel, ser espiritual e sensível,natural e humano, teórico e prático, objetivo e subjetivo. É práxis, ser produtor, criador, transformador.Ser social; ser histórico. A moral cumpre função social, com caráter de classe.

Neopositivismo e filosofia analítica – Partiu da necessidade de liberar a ética do domínio da metafísica. Concentra atenção na análise da linguagem moral.Principais autores: Ayer; Stevenson; Hare; Nowell-Smith e Toulmin.

Fonte: Elaborado a partir de Vazquez (2005, p. 265-297).

(33)

“A ética não se opõe à felicidade humana, como parece ser o caso segundo Kant, ou oposta à minha felicidade e integridade pessoal, como para os utilitaristas, mas é uma parte integral da busca de felicidade”, avalia Furrow (2007, p.127).

A partir do exposto, observa-se que a ética tem diversas e distintas abordagens, observadas e discutidas ao longo da história, e pode-se destacar a relação da conduta virtuosa como caminho para alcançar o bem e a felicidade.

Com relação a conceitos e definições de ética, Valls (2008), coloca que a ética é tradicionalmente entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas.

“A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento” (VALLS, 2008, p.7).

Já Vazquez (2005) coloca que a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma específica do comportamento humano, que se ocupa de um objeto próprio: o setor da realidade humana chamado de moral, constituído por um tipo peculiar de fatos, visando descobrir-lhes os princípios gerais.

Define-se a ética como ciência ou estudo do comportamento moral, que se constitui a partir de uma reflexão sobre os fundamentos que norteiam nossas ações, podendo se mostrar crítica ao desvelar aspectos distorcidos desses fundamentos ou até mesmo legitimar determinado conjunto moral. (VAZQUEZ, 2005).

Resnik (2010) afirma ainda que a forma mais comum da definição de "ética", é que a ética engloba normas de conduta que distinguem o comportamento aceitável e o inaceitável. Observa-se que tanto Valls (2008), Vazquez (2005) e Resnik (2010), focam nas suas definições a questão do estudo do comportamento moral como elemento central da ética.

Fortes (1998 apud FORTES, 2004) também destaca que, ética é a reflexão crítica sobre o comportamento humano que interpreta, discute e problematiza os valores, os princípios e as regras morais a procura da “boa vida” em sociedade e do bom convívio social.

Fortes (1998 apud FORTES, 2004) insere, assim, a reflexão crítica sobre o comportamento humano como definição de ética, salientando que a partir desta reflexão pode-se gerar o bom convívio social.

(34)

delimitando espaços, o autor define a ética como o processo de decidir o que deve ser feito. O autor entende que, no lugar de dizer às pessoas o que é certo, deve-se ensiná-las a descobrir o que é certo, para que encontrem o caminho, sozinhas. Ao defender a ética como um processo de decisão, acredita que a partir de ensinamentos do que é certo, as pessoas se tornam autônomas para decidirem que caminhos seguirem.

Srour (2000, p. 19), coloca que “a ética estuda as morais históricas, as relações e as condutas dos agentes sociais que normas morais pautam”. O referido autor discute então o que é a moral, ou seja, um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades adotam. Chaui (2006) complementa afirmando que, a ética é o estudo dos valores, e, portanto que a ética é a reflexão sobre a moral.

Observa-se assim, outro aspecto bastante destacado nas definições acima, a questão da moral. Alguns autores apontam diferenças entre ética e moral, enquanto outros autores colocam que são sinônimos.

Para Srour (2000) a ética e moral são distintas e aponta as diferenças: enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais não. Segundo o referido autor, a ética opera no plano da reflexão ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais que podem conferir-lhes consistência, visando à sabedoria ou ao conhecimento temperado pelo juízo. A moral, em contrapartida, corresponde a um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar e que, como discurso, ilumina o entendimento dos usos e dos costumes.

Severino (1994) salienta que, muitas vezes, os termos ética e moral são tomados como sinônimos, tanto para designar as prescrições vigentes como para designar a disciplina que estuda os valores implicados na ação, onde só o contexto pode dizer em que sentido os termos estão sendo usados. O autor então apresenta seus conceitos de moral e ética.

“Moral: é o conjunto de prescrições vigentes numa determinada sociedade e consideradas como critérios válidos para a orientação do agir de todos os membros dessa sociedade” (SEVERINO, 1994, p.195).

(35)

Para Freitas (2006), diferente da moral, a ética tem sido conceituada como uma reflexão crítica sobre os costumes e valores. A autora considera que a ética é, portanto, dinâmica e, também diferente do direito, não se assentando sobre normas, leis ou códigos de permissão ou proibição, mas sobre referenciais que devem ser confrontados com as situações concretas que se quer imputar como boas, o bem, benéficas, ou não.

Rios (2006, p.81) coloca que, “quando procuramos questionar os valores que sustentam a moral, quando buscamos seus fundamentos, estamos no terreno da ética. A ética pode, então, ser definida como uma atitude crítica diante da moralidade, uma investigação sobre a consistência e o significado dos valores morais”.

A ética consiste exatamente numa atitude crítica, um esforço de reflexão sobre os valores que orientam as ações e as relações dos indivíduos em sociedade. Enquanto a moral é sempre normativa, apontando o que devemos e o que não devemos fazer, a ética tem um caráter reflexivo, isto é, indaga por que devemos ou não agir do modo como nos é imposto. Mais ainda, procura trazer referências mais amplas para esse agir. (RIOS, 2006, p.82).

Diferentemente, La Taille (2006) considera que, moral e ética são conceitos habitualmente empregados como sinônimos, ambos referindo-se a um conjunto de regras de conduta considerado como obrigatórias. Na visão do autor, tal sinonímia é perfeitamente aceitável: “[...] se temos dois vocábulos é porque herdamos um do latim (moral) e outro do grego (ética), duas culturas antigas que assim nomeavam o campo de reflexão sobre os ‘costumes’ dos homens, sua validade, legitimidade, desejabilidade, exigibilidade.” (LA TAILLE, 2006, p.25). O autor considera que, tanto a ética, quanto a moral, são campos de reflexão sobre os costumes humanos, enquanto que, as autoras Freitas (2006) e Rios (2006) abordam a reflexão e a atitude crítica sobre os valores, ou seja, diante da moralidade, como conceito central da ética.

Já Fourez (1995) discute que, cada sociedade desenvolve códigos morais, mas o debate ético é bem mais amplo do que esses códigos, e opta por falar de ética ou de moral, sempre tratar de discussões que se pode ter a respeito da maneira adequada de agir - paradigmas éticos - onde colocam em jogo razões, valores, ideologias, representações daquilo que se quer para os seres humanos.

Chaui (2008) discute ainda que, o campo ético-moral pressupõe:

(36)

• Uma intersubjetividade não violenta, consciente, racional e responsável, capaz de justificar seus atos e responder por eles;

• Valores ou fins, considerados bons e justos, válidos para todos os sujeitos ético-morais de uma sociedade historicamente determinada;

• Regras e normas de comportamento definidas pela noção de dever ou de obrigação para aqueles que interiorizam a moralidade de sua sociedade;

• A diferença entre necessidade natural e histórica, e a possibilidade transformadora aberta pela ação de sujeitos éticos e políticos;

• A ideia de situação ou determinação histórico cultural dos valores, normas e ações éticos, isto é, o reconhecimento de seres situados no mundo, condicionados pelas situações sociais, econômicas, políticas e culturais, mas capazes de compreendê-las, avaliá-las, superá-las ou transformá-las pela própria ação, na companhia de outros.

Observa-se que não há consenso entre os autores sobre as definições de ética e moral, e como já colocado anteriormente, ética é um campo de estudo bastante complexo, porém pode-se colocar que há em comum, entre os diversos autores citados, a visão de que a ética está relacionada ao estudo do comportamento moral, sendo considerada a reflexão crítica sobre a moral e o comportamento humano. Para fins do presente trabalho, será considerada esta abordagem, que aborda a ética reflexiva e crítica do comportamento moral. A partir das definições e conceituações da ética e moral, passa-se então para a apresentação de algumas correntes ou abordagens teóricas sobre ética.

2.1.2 Teorias éticas

Com relação às teorias éticas, Amoêdo (1997) indica que três são as teorias éticas que precisam ser elucidadas: a teleologia, a deontologia e o utilitarismo.

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deontologia – ou ética de princípio, entra no campo do subjetivismo e nas questões da moral. A força de uma ética de princípio é certamente seu respeito pelas pessoas como agentes morais, bem como sua ênfase em uma igualdade básica da dignidade humana. Mas, não considera as consequências de ações ou políticas.

utilitarismo – John Stuart Mill e Jeremy Bentham são os principais arquitetos do utilitarismo. Considerada a ética da conseqüência – analisa os efeitos de um ato ou de uma política, em seus aspectos positivos ou negativos.

Já Srour (2000) discorre sobre duas correntes teóricas sobre ética: ética da convicção e ética da responsabilidade. E coloca que, as duas correntes enfocam tipos diferentes de referenciais morais – prescrição versus propósitos – e configuram dois modos de decisão. Os agentes guiados pela ética da convicção seguem os imperativos da consciência, já os que se orientam pela ética da responsabilidade, guiam-se por uma análise de riscos.

O referido autor coloca que, nas duas correntes éticas fazem-se escolhas, porque em ambas a adesão a um curso de ação depende da concepção de mundo que os agentes têm ou da sua consciência da necessidade. Na ética da convicção, não há aferição dos efeitos a serem gerados, há uma obediência a valores, as escolhas derivam de pressupostos e são dedutivas. Na ética da responsabilidade, os adeptos seguem duas etapas: primeiro refletem sobre os fatos e as condições presentes e, depois, deliberam. A legitimação das decisões calca-se num pensamento indutivo. (SROUR, 2000).

Chanlat (2000), também destaca que a ética da responsabilidade, desenvolvida por Max Weber, remete às consequências das ações de cada pessoa pode ter sobre os outros e à reflexão que a precede. Ou seja, a ética da convicção obedece-se a valores e a consciência, sem avaliar-se os efeitos, e na ética da responsabilidade, a reflexão é anterior a tomada de decisão, e os riscos são analisados e ponderados.

Posto isso, Amoêdo (1997) configura duas abordagens para estudo da ética: uma normativa e outra descritiva. Resumidas da seguinte forma:

• Ética descritiva – descreve a forma como as pessoas agem e explica sua ação em termos de julgamentos de valor e pressuposições;

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ética vai buscar legitimidade na reciprocidade negativa, que estabelece como as pessoas não devem proceder).

Resnik (2005) também apresenta duas abordagens sobre a ética: a normativa e a aplicada. O autor coloca que, a ética normativa é o estudo dos padrões morais, princípios, conceitos, valores e teorias. A ética aplicada é o estudo de dilemas éticos, escolhas e padrões em várias ocupações, profissões e situações concretas e à aplicação de teorias e conceitos morais em contextos específicos.

Se para Amoêdo (1997) e Resnik (2005), o estudo da ética tem duas abordagens, Goodpaster (2003), ao discorrer sobre os modos de investigação da ética, afirma que o estudo da ética pode ser de três tipos: descritivo, normativo e analítico.

• A ética descritiva pode ser mais bem classificada entre as ciências sociais, já que seu objetivo é fazer descrição empírica e neutra dos valores dos indivíduos e seus grupos;

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dinâmica entre o senso comum da moral e as tentativas de pensá-la criticamente conduzem ao equilíbrio refletido.

• Quanto à ética analítica (também conhecida por metaética) não se presta nem a descrever os valores morais nem a cogitar os critérios para distinguir o certo do errado, em vez disso, posta-se atrás e além dessas duas atividades para colocar questões sobre o significado e a objetividade dos julgamentos éticos. O objetivo da ética analítica é explorar as diferenças entre os pontos de vista científico, religioso e ético; a relação entre lei e moralidade, e as implicações que as diferenças culturais têm sobre o julgamento ético.

Quadro 2 – Resumo das abordagens sobre teorias éticas

Autores Enfoque das abordagens sobre as teorias éticas

Amoêdo (1997)

• Ética descritiva - como as pessoas agem e explica sua ação em

termos de julgamentos de valor e pressuposições;

• Ética normativa ou prescritiva - como as pessoas devem agir e

analisa os julgamentos de valor e pressuposições que justificam tais ações;

Resnik (2005) • Ética normativa - estudo dos padrões morais, princípios,

conceitos, valores e teorias;

• Ética aplicada - estudo de dilemas éticos, escolhas e padrões em

várias ocupações, profissões e situações concretas e à aplicação de teorias e conceitos morais em contextos específicos.

Goodpaster (2003) • Ética descritiva - fazer descrição empírica e neutra dos valores dos indivíduos e seus grupos;

• Ética normativa - julgar o certo e o errado, o bom e o mau, a

virtude e o vício;

• Ética analítica - colocar questões sobre o significado e a

objetividade dos julgamentos éticos.

Fonte: Elaborado a partir de Amoêdo (1997); Goodpaster (2003) e Resnik (2005).

Destaca-se assim, em comum, nas abordagens dos três autores anteriormente citados, o estudo da ética pelo tipo normativo, que busca a interação e o equilíbrio entre o raciocínio moral pelo senso comum e o pensamento crítico sobre a moral.

(40)

aquilo acordado entre os seus, baseado nos valores morais vigentes, utilizados à luz do conhecimento das atividades e dos valores básicos da atividade organizacional.

Porque, como afirma Valls (2008), cabe à ética resolver as contradições entre necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a vontade.

Guerreiro citado por Amoêdo (1997) coloca que, a eticidade só emerge em processos de interação em que indivíduos humanos interagem em situações relacionadas com valores éticos. Esses valores emergem juntamente com as diversas formas de convívio e diálogo entre indivíduos humanos no contexto de um grupo ou de uma comunidade humana.

Goodpaster (2003) salienta que, o ponto de vista moral é uma perspectiva mental e emocional que considera que todas as pessoas têm certa dignidade e valor, de onde palavras como “dever”, “obrigação” e “virtude” derivam seus significados. Assim, afirma que dois aspectos importantes das ações merecem destaque especial, onde qualquer ação ou decisão possui (GOODPASTER, 2003):

• Um aspecto aretológico (Areté – palavra grega que significa virtude), que realça a natureza expressiva das escolhas feitas pelas pessoas. A chave para o aspecto aretológico da ação é seu enfoque nas ações como manifestações de uma postura interna, uma personalidade, um sistema de valores ou prioridades. Em que, quatro virtudes são, com frequência, o centro das atenções da análise e reflexão éticas: prudência, justiça, moderação e coragem. E outras se destacam, tais como: honestidade, compaixão, fidelidade a promessas e a dedicação à comunidade – bem comum. Os vícios individuais ou de grupos incluem a avareza, a crueldade, a indiferença e a covardia;

• Um aspecto deôntico, que realça a natureza eficaz das escolhas feitas pelas pessoas – o modo como essas ações influenciam os relacionamentos com outras pessoas e mudam o mundo a sua volta. Os aspectos deônticos das ações estão relacionados aos efeitos que as ações causam no mundo, particularmente, o efeito que causam nos seres vivos, cujos interesses podem estar em jogo.

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Figura 1 - O ponto de vista moral e quatro abordagens possíveis de análise ética
Figura 2 - Os três domínios da
Figura 3 - Desvios de conduta na pesquisa social
Figura 4 - O profissional e as pressões externas pela ética
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Referências

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