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O impacto da saúde bucal na qualidade de vida de crianças infectadas pelo HIV: revisão de literatura.

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1 Departamento de Odontopediatria e Ortodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Brigadeiro Trompowsky s/n, Cidade Universitária. 21941-590. Rio de Janeiro RJ. anabodonto@yahoo.com

O impacto da saúde bucal na qualidade de vida

de crianças infectadas pelo HIV: revisão de literatura

The impact of oral health on the quality of life

of HIV infected children: a literature review

Resumo Em busca de uma melhora da saúde de pacientes sistem icam ente com prom etidos e um maior entendimento do impacto de doenças nas suas vidas, grande interesse tem sido dado à qua-lidade de vida relacionada à saúde, principalmente em crianças com doenças crônicas. Neste sentido, a qualidade de vida relacionada à saúde bucal tem sua importância haja vista que a mesma é um componente indissociável da saúde geral e tam-bém pela relevância dos problemas orais na vida destes pacientes. Assim, a avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde bucal em pacientes infantis infectados pelo HIV pode ser de grande relevância uma vez que estas apresentam alta pre-valência de doença cárie e periodontal, além da presença de manifestações orais da própria infec-ção pelo vírus. Dessa forma, o objetivo deste arti-go é, através de uma revisão de literatura, apre-sentar alguns conceitos relacionados à qualidade de vida e utilização de instrumentos de avaliação da mesma, bem como analisar o impacto da saúde bucal na qualidade de vida de crianças infectadas pelo HIV.

Palavras-chave Criança, Infecções por HIV, Qualidade de vida, Saúde bucal

Abstract The search for im provem ent of the health of systemically compromised patients and for a better knowledge about the impact of diseas-es on their livdiseas-es has brought great interdiseas-est for health-related quality of life, mainly in children with chronic diseases. The quality of life related to oral health is thus relevant, not only for being an inseparable component of the general health but also due to the importance of oral problems in the lives of these patients. The evaluation of oral health-related quality of life in HIV infected chil-dren can be of great importance seen that these patients show high prevalence of caries and peri-odontal diseases besides the oral manifestations of the virus infection itself. The aim of this article is to present some concepts about quality of life and the use of instruments for its evaluation on the basis of a literature review as well as to analyze the impact of oral health on the quality of life of HIV infected children.

Key words Child, HIV infections, Quality of life, Oral health

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yn Introdução

A saúde bucal (SB) é um componente indissoci-ável da saúde geral, por isso tem havido grande interesse pelo desenvolvimento e utilização de instrumentos de mensuração de qualidade de vida relacionado à saúde (QVRS), com o objeti-vo de avaliar o impacto da doença na vida do indivíduo. Em crianças, a QVRS deve ser

consi-derada de forma diferenciada de adultos1. A

ava-liação da qualidade de vida (QV) em populações infantis com doença crônica permite determinar de maneira significativa o impacto dos cuidados

com a saúde quando a cura não é possível2.

Dentre as doenças crônicas de grande rele-vância para os pacientes infantis, destaca-se a infecção pelo HIV, uma vez que tiveram sua so-brevida aumentada com a terapia anti-retrovi-ral, o que proporciona uma melhora significati-va da QV para estes pacientes. Muitos dos que nasceram infectados na década de 1980, hoje, es-tão com a doença sob controle, tornaram-se adultos e estão tendo filhos sem o vírus, graças aos avanços da medicina. No entanto, ainda é significativo o número de crianças que convivem com os sintomas da doença, tornando-se urgen-te e essencial a busca de instrumentos que sejam capazes de relacionar a QV com a saúde e, ainda, o impacto da SB na vida dessas crianças, uma vez que a prevalência de manifestações orais ou de problemas gerados pela doença ainda são

muito altos3,4.

Cabe destacar que os indicadores tradicio-nais (morbidade, CPO-D, índice de placa, entre outros) são capazes de avaliar a patologia, mas são limitados quando se pretende avaliar os

efei-tos da doença5, principalmente no caso do

indi-víduo em desenvolvimento. Assim, merecido des-taque tem sido dado a avaliação não só da pre-sença da enfermidade causada pelo vírus HIV, como também da qualidade de vida destes paci-entes infantis, em virtude deste ser um compo-nente auxiliar na mensuração da saúde do paci-ente. Dentro deste contexto, objetiva-se, através de uma revisão de literatura, apresentar alguns conceitos relacionados à qualidade de vida e à utilização de instrumentos de avaliação da mes-ma, e ainda analisar o impacto da saúde bucal na qualidade de vida de crianças infectadas pelo HIV.

Qualidade de vida e saúde bucal

O Grupo de Qualidade de Vida da Organização

Mundial de Saúde6 definiu QV como “a

percep-ção do indivíduo de sua posipercep-ção na vida, no con-texto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Nesta definição, fica implícito que o conceito de QV é subjetivo, mul-tidimensional e que inclui elementos de avaliação

tanto positivos quanto negativos7.

Bastos8 destaca que, uma vez que a QV decorre

dos aspectos sociais, econômicos, políticos e cul-turais de uma sociedade, a problemática das do-enças que afetam os indivíduos já não pode mais ser explicada unicamente pelos fatores biológicos que as caracterizam. Classificar a saúde em boa, má ou razoável é também definir a QV, pois ela surge das condições da classe social, das relações no trabalho, da alimentação, da moradia, do sa-neamento básico, do meio ambiente saudável, do acesso à educação, ao transporte, ao lazer, aos serviços de saúde, enfim, de tudo o que diz respei-to à vida. Dessa forma, como as doenças refletem de várias formas na vida do indivíduo, a concei-tuação do termo saúde adquire uma complexi-dade muito grande, tendo em vista os vários as-pectos que envolvem a vida em sociedade.

Em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como “o completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença”. Esse é um conceito biológi-co, pertencente ao paradigma médibiológi-co, com seu foco em agentes etiológicos e em resultados clíni-cos, cujas origens filosóficas do modelo são en-contradas no dualismo do corpo-mente no qual a mente e o corpo são entidades separadas, e a saúde e a doença são vistas como fenômenos es-tritamente biológicos. A alta tecnologia e os ser-viços de saúde são vistos como sendo uma chave para restaurar e melhorar a saúde tanto indivi-dual quanto de populações. Como resultados, o corpo é isolado da pessoa e as experiências sub-jetivas de saúde e doença são ignorados. No en-tanto, houve, uma mudança do paradigma mé-dico para um conceito mais amplo de compor-tamento social que se compromete a desenvol-ver maneiras de medir percepções, sentimentos e

comportamentos9. Como resultado, tem-se

pas-sado de uma preocupação com a doença, para uma preocupação com a saúde; não preocupa-ção em curar e sim em prevenir e promover saú-de; não ênfase aos serviços de saúde e sim ao ambiente social e físico como maiores determi-nantes de saúde. Logo, o paciente é visto não como um corpo e sim como uma pessoa, dan-do-se uma crescente importância às experiências subjetivas do indivíduo e às suas interpretações

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Esta mudança de paradigma refletiu-se tam-bém na odontologia. Antes, havia uma tendên-cia de tratar cavidade bucal como se fosse uma estrutura anatômica autônoma que acontece de estar localizada em um corpo, mas não está co-nectado a ele ou a pessoa de maneira alguma. No entanto, com a busca de uma perspectiva mais holística de saúde e doença, esta visão está mu-dando e isto tem sido acompanhado por duas descobertas: a descoberta de corpo e a descober-ta da pessoa, e isto tem resuldescober-tado em um aumen-to nas pesquisas preocupadas em ligar as condi-ções bucais a doenças de outras localidades da

boca e a conseqüência da saúde na QV9.

Locker9 relatou que ainda permanece certa

confusão a respeito dos conceitos de doença, saú-de, SB e QV e as maneiras nas quais estes termos são relacionados. O discurso sobre ter SB é con-fuso e a boca é sempre foco de análise ao invés de se olhar o indivíduo como um todo, havendo uma ambigüidade do que seria SB e saúde geral e o quanto a SB interfere na QV de um indivíduo. SB é um estado da boca e estruturas associadas onde a doença está contida, a futura doença é inibida, a oclusão é suficiente para mastigar co-mida e o dente tem uma aparência social

saudá-vel11. Assim, é uma dentição confortável e

funci-onal que permite o indivíduo a continuar a

de-sempenhar o papel social12.

Sob a ótica da promoção de saúde, a relação entre SB e QV tem sido motivo de atenção dos profissionais da odontologia, principalmente pela relevância de problemas bucais e dos impactos físicos e psicossociais que ela acarreta na vida das pessoas. Os problemas bucais podem causar dor, desconforto, limitações e outras condições decor-rentes de fatores estéticos que afetam a vida soci-al, a alimentação, o exercício de atividades diárias

e o bem-estar do indivíduo13, acarretando

pro-blemas significativos na QV do indivíduo, o que torna essencial entender como o indivíduo perce-be a própria condição bucal, pois seu

comporta-mento é condicionado por esta percepção14.

Índices como o CPO (cariados, perdidos e obturados) ou o IPC (índice periodontal comu-nitário) consideram apenas as dimensões clíni-cas, dependentes do diagnóstico profissional, da cárie dental e das doenças periodontais. Entre-tanto, alguns problemas possuem fortes raízes sociais e econômicas e só podem ser suficiente-mente compreendidos e explicados quando seus portadores são ouvidos e quando os autodiag-nósticos e opiniões destas pessoas são tomados em consideração. Os indicadores QVRSB deve-riam ser vistos não como substitutos para os

critérios normativos e sim como um importante

complemento a eles5.

Qualidade de vida e saúde bucal em crianças e adolescentes

No caso do indivíduo em desenvolvimento, as propostas para definição de QV apresentadas ainda são muito conflitantes e algumas caracte-rísticas do universo infantil contribuem para isto. A criança e o adolescente têm diferentes graus de percepção de si mesmos e do mundo, em função da sua fase de desenvolvimento e, com isso, difi-cilmente podem ser uniformizados numa só

con-cepção de satisfação pessoal15.

Para crianças e adolescentes, QV pode signi-ficar “[...] o quanto seus desejos e esperanças se aproximam do que realmente está acontecendo”. Também “reflete sua prospecção, tanto para si, quanto para os outros” e “[...] é muito sujeita a alterações sendo influenciada por eventos

cotidi-anos e problemas crônicos”16. E ainda, segundo

Bradlyn et al.17, QV pode ser definida como

mul-tidimensional, pois inclui a interação social, o funcionamento físico e emocional da criança e do adolescente e, quando indicado, de sua famí-lia, devendo ser um parâmetro sensível às altera-ções que ocorram no evoluir do desenvolvimen-to do indivíduo.

Avaliações de QVRSB em pacientes infantis dão uma compreensão das conseqüências das doenças bucais e deformidades na vida da crian-ça; desta maneira, muitas avaliações tradicionais de SB representam uma dimensão

unidimensio-nal do aspecto da SB da criança18. Isto não

signi-fica que os parâmetros clínicos não sejam impor-tantes, eles são com certeza imporimpor-tantes, se não essenciais para mensurar a condição bucal; o pro-blema começa quando os indicadores são

com-parados com SB e necessidade de tratamento19.

SB é o padrão de saúde dos tecidos orais e relaci-onados que permitem um indivíduo comer, falar e socializar sem a atividade da doença, desconfor-to e embaraço, e o que contribui com o bem-estar

geral20. Assim, vai além de puramente

indicado-res clínicos e desta maneira não devem ser

iguala-dos com a ausência de doença e deformidade21.

Avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde

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yn enfatizado, havendo uma proliferação de

instru-mentos de avaliação de qualidade de vida

relacio-nada à saúde (QVRS) (Quadro1). Mulhern et

al.22 propuseram as seguintes características como

essenciais a um instrumento de avaliação de QV: (1) incluir a abordagem da função física, desem-penho escolar e ocupacional, ajustamento social e auto-satisfação; (2) ter sensibilidade para de-tectar os problemas funcionais mais comuns de crianças (câncer e aqui pode-se acrescentar “e outras doenças crônicas”); (3) ser confiável e

válido para o grupo de pacientes em que será utilizado; (4) ser breve, simples, fácil de adminis-trar e computar, e reprodutível; (5) valer-se de informação de cuidadores familiares ao trato com a criança; (6) ser corrigido para a idade, sob nor-mas populacionais; (7) estar adequado para de-tectar desempenho acima da média; (8) permitir estimativa confiável do funcionamento pré-mór-bido; (9) e permitir à criança capaz de entender o conceito de QV ou seus componentes a oportu-nidade de fornecer sua auto-avaliação.

Quadro 1. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde bucal.

Índice

Oral Health Impact Profile (OHIP)

The Dental Impact on Daily Living (DIDL)

Oral Impacts on Daily Performances (OIDP)

Child Oral Health Quality of life

Questionnaire (COHQoL)

Child-Oral Impact on Daily Performance Index (CHILD-OIDP)

Autores

Original: Slade e Spencer44

Formulário breve: Slade45

Leão e Sheiham46

Adulyanon e Sheiham47

Jokovic et al.48

Gherunpong

et al.49

Objetivo

Avalia a percepção da pessoa do impacto social de alterações orais no seu bem-estar

Comparar conseqüências psicossociais

relacionadas à qualidade de vida com o status em termos de SB de um indivíduo ou de uma comunidade

Avaliar o impacto odontológico de desempenho diário

Avaliar o impacto físico, social e psicológico da saúde bucal na qualidade de vida

Avaliar o impacto odontológico na qualidade de vida e a necessidade de tratamento odontológico

N° de itens

Original: 49 Formulário breve: 14

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Impacto

Limitação funcional, desconforto psicológico, dor física, incapacidade física, incapacidade psicológica, incapacidade e empecilho social

Aparência, dor, conforto, performance geral e restrições alimentares

Estado da SB, alterações em tecidos bucais e satisfação com a aparência

Alterações e doenças dental, oral e/ou orofacial

Saúde bucal, satisfação com aparência e desempenho psicológico e social

Modo de administração

Auto-administrado

Questionário

Entrevista

Auto-administrado

Auto-administrado

População

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Embora inúmeros instrumentos sejam utili-zados para este fim, ainda não há nenhum ins-trumento que tenha conseguido abranger todas estas características. Principalmente porque a QV é uma concepção pessoal de difícil quantificação, variando suas definições de acordo com os inte-resses do indivíduo, de seu grupo cultural e de seus próprios valores. Assim, ela é um conceito global que aborda diferentes facetas da vida de um indivíduo (saúde, família e meio ambiente,

entre outras)23.

As medidas de QVRSB, mostrando a exten-são para qual os distúrbios dentários e bucais condicionam e alteram o desempenho diário fí-sico, psicológico e social, são fundamentais, tra-duzindo-se em impactos que podem ser catego-rizados como desempenho funcional e físico (por exemplo, comer e apreciar a comida, e falar e pronunciar com clareza); desempenho psicoló-gico (como sorrir, dar risadas e mostrar os den-tes sem constrangimento); e desempenhos soci-ais (afetando as interações com as pessoas e a

realização de tarefas e funções importantes)5.

Existe uma abundância de mensurações de QVRS desenvolvidos para adultos e que foram utiliza-dos em crianças. Entretanto, mensurações de-senvolvidas para adultos podem não ser adequa-das para crianças pelo perfil e validade do con-teúdo. É imperativo avaliar a confiança, validade e adequação do instrumento para faixa etária em

particular do estudo1.

Uma estratégia para abordar as diferentes fases de desenvolvimento da criança é criar múl-tiplas formas de um mesmo instrumento para crianças, cada uma desenhada para diferentes faixas etárias. Esta maneira é vantajosa por levar em consideração os diferentes estágios de desen-volvimento da criança, incluindo sua concepção de doença, assim como sua causa e impacto. Com esta estratégia, é possível desenhar uma série de questionários garantindo que o formato e o con-teúdo sejam apropriados para a idade de todas

as crianças24.

Tem havido uma crescente preocupação com as populações pediátricas com doenças crônicas e para isso instrumentos de mensuração de QVRS genéricos e específicos para doença têm sido de-senvolvidos. A avaliação através de um instru-mento de QVRS genérico conta com a proteção de populações saudáveis, possibilita compara-ções padronizadas acerca das condicompara-ções da saú-de crônica pediátrica e facilita a comparação com

populações saudáveis25. No entanto, não é capaz

de avaliar os sintomas específicos da doença e os efeitos colaterais do tratamento de relevância

particular ao grupo doente. Em contraste, avali-ações específicas para doenças crônicas (por exem-plo, para asma, diabete e artrite) podem prover informações sobre o manejo dessas doenças no nível individual. Todavia, esses instrumentos são incapazes de prover comparação entre grupos saudáveis e doentes. Assim sendo, deve-se inte-grar uma abordagem combinando os méritos relativos de instrumentos de QVRS genéricos e

específicos para doença26, a fim de se obter um

maior entendimento do impacto da doença nes-tes paciennes-tes.

Há uma falta de consenso a respeito da ad-ministração do instrumento de avaliação de QVRS na criança ou num procurador (por exem-plo, responsável ou equipe de saúde). Sempre que a criança for hábil em prover dados confiáveis e válidos, a aplicação direta nestes pacientes é a estratégia ideal porque é consistente com a defi-nição de QVRS que enfatiza a perspectiva

subje-tiva do paciente27. Entretanto, as crianças,

parti-cularmente as pequenas, podem não ser hábeis em prover informação confiável, devendo os pes-quisadores avaliar a idade apropriada do instru-mento, incluindo o vocabulário, instruções, es-trutura das frases, conteúdo e opções de respos-ta, preocupando-se com as limitações de desen-volvimento. Uma opção para este problema se-ria desenvolver um instrumento administrado na forma de entrevista que pode incluir procedi-mentos padronizados para ensinar a criança a responder a mensuração e instruindo-a a não responder questões que não entender, e ainda, checando a compreensão dos itens pela criança. Entretanto, um instrumento administrado por entrevista pode ser mais dispendioso de ser usa-do que o questionário auto-administrausa-do. Para crianças muito jovens ou gravemente debilita-das, responsáveis podem prover informações que não poderiam ser obtidas de outra forma. Além disso, a perspectiva dos responsáveis é impor-tante por causa da natureza dependente da rela-ção responsável-criança. É este responsável quem avalia o impacto da saúde da criança e decide se esta deve receber o tratamento, ele pode também informar o impacto da doença da criança e do tratamento no funcionamento familiar, o que é

uma parte integral da QVRS da criança24.

Entretanto, existem diversas desvantagens em usar os pais como respondedores. Primeiro, um relato por procuração é de alguma forma incon-sistente como conceito de QVRS que é definido

de acordo com a opinião subjetiva do paciente24.

Segundo, o relato de pais e mães pode não ser

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yn seja feita avaliação dos dois pais e depois cruzar

as informações com o objetivo de captar

possí-veis erros24. Terceiro, o relato dos responsáveis

sobre o impacto da doença nas suas crianças é baseado no conhecimento acerca de como eles mesmos são afetados. Finalmente, não é total-mente claro que pais sejam os adultos mais

ade-quados a responder o questionário29, uma vez

que algumas crianças podem passar mais tempo com professores, cuidadores ou outro membro da família do que com os pais, e assim outro adulto teria um conhecimento maior acerca do

funcionamento social e psicológico da criança24.

Devido a esta falta de consenso, alguns pes-quisadores têm sugerido obter em conjunto

in-formações de responsáveis e crianças28. Esta

abor-dagem pode prover uma informação mais com-pleta de como a doença ou o tratamento causam

impacto na vida das crianças e suas famílias24. No

entanto, Kuczynski & Assumpção15 afirmam que

é evidente que ainda se está muito aquém de uma concepção uniforme e universal de QV na infân-cia, como também de meios de avaliação deste conceito adaptados ao universo infantil. É priori-dade que se tenha clara a necessipriori-dade de instituir definições que traduzam os interesses das crian-ças e do adolescente, e não dos adultos que os avaliam, e que se instaurem métodos de avaliação que captem a percepção do indivíduo a ser avali-ado, e não as expectativas e percepções do cuida-dor, seja ele pai ou profissional de saúde.

A avaliação da QVRS em criança reflete-se na percepção dos pacientes sobre sua SB e com isso pode melhorar a comunicação entre pacientes,

pais e a equipe odontológica30. Isto permite um

melhor entendimento das conseqüências do es-tado de SB na vida da criança e da vida da sua

família31, podendo ainda ajudar na priorização

de cuidados e estimar a conseqüência das

estra-tégias de tratamento e iniciativas32.

Qualidade de vida e saúde bucal

em pacientes infantis infectados pelo HIV

Desde que a Síndrome da Imunodeficiência Ad-quirida (aids) foi catalogada, o aumento de sua incidência foi progressivo, representando enor-me desafio para a enor-medicina. A doença deixou de afetar um grupo específico (homossexuais, he-mofílicos e drogados), passando a ocorrer de

forma crescente em mulheres e crianças33.

Gra-ças à melhora do tratamento e evolução dos medicamentos, a infecção pelo vírus da imuno-deficiência humana (HIV) não é mais uma doença

aguda e letal, e tornou-se uma condição crônica e subaguda, embora a ameaça de mortalidade ainda esteja presente. Dessa forma, grande aten-ção tem sido voltada à QVRS, com as subse-qüentes implicações para o longo período de cui-dados aos indivíduos HIV-positivos, sua regula-ção social com a doença e sua interaregula-ção com os

provedores de assistência médica34.

Destacam-se, ainda, as condições orais que podem estar afetando a vida dos pacientes pedi-átricos, uma vez que as manifestações orofaciais são comuns na infecção pelo HIV e podem servir como marcadores da infecção ou prognóstico

da progressão do HIV para aids3. Dentre as

le-sões orais encontradas em crianças, destacam-se a candidíase, hipertrofia de parótida, estomatite herpética, leucoplasia pilosa, estomatite aftosa,

eritema linear gengival e linfadenopatia cervical35.

Apesar da utilização de terapia medicamento-sa em crianças infectadas pelo HIV estar promo-vendo a diminuição na prevalência de manifesta-ções bucais em tecidos moles ao longo dos anos, observa-se uma constância na alta prevalência de doença cárie e gengival, sobretudo devido à influência crônica de alguns fatores envolvidos no

processo da infecção pelo HIV4. Dentre eles,

des-tacam-se o uso prolongado de medicamentos

açu-carados4, alterações no fluxo salivar pelo uso de

medicamentos e/ou por alterações de glândulas

salivares36, dieta rica em carboidratos4,37,

repeti-dos episódios de internação4, higiene oral

defici-ente37 e imunossupressão pela infecção pelo HIV37.

É importante considerar que nenhuma do-ença nos tempos atuais fez crescer tanto o núme-ro de papéis clínicos, emocionais ou éticos, como

fez a infecção pelo HIV38. O controle da

pande-mia de HIV/aids extrapola os limites da inter-venção médica ou da saúde pública em sua con-cepção mais estreita. O complexo nosológico HIV/aids assume características de problema so-cial e multifacetado, seja pelas associações doen-ça, sexualidade e morte, seja pelo estigma a ele atribuído ou até mesmo pelas conseqüências eco-nômico-produtivas que acarreta ao infectado ou doente. Assim, não se pode desprezar a força das representações simbólicas do processo saúde-doença e seu impacto sobre a vida dos

indivídu-os que com ela convivem no seu cotidiano39.

A infecção pelo HIV é uma das poucas doen-ças crônicas e ameaçadoras da vida que afeta tan-to pais e criança simultaneamente. É verdadeira-mente uma doença familiar onde todos são

afe-tados40,41. A doença parental pode levar a um

au-mento dos níveis de depressão, ansiedade e

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Colaboradores

AK Buczynski trabalhou na revisão bibliográfi-ca, estruturação e redação do texto. GF Castro e IPR Souza foram orientadoras do estudo, parti-cipando da concepção, discussão e revisão final do estudo.

forma, a QV do indivíduo portador do vírus HIV é significativamente afetada não só pelas mani-festações da infecção, mas também pelo impacto que a doença causa em sua vida. Isto é ainda mais relevante ao se considerar os pacientes de baixa idade e ainda em desenvolvimento, uma vez que apresentam doença crônica e podem ter percep-ção diferenciada quanto a sua QV, quando com-parados a outras crianças clinicamente saudáveis. Por terem de lidar com doença cárie e perio-dontal, que indubitavelmente podem levar à dor e problemas estéticos, e também com outras ma-nifestações orais da infecção pelo HIV, torna-se relevante avaliar a QVRS. Todos estes problemas gerados pela doença afetam significativamente o cotidiano destas crianças. Seja o desempenho fun-cional e físico, psicológico e social, todas as esfe-ras sofrem um impacto considerável ao serem analisadas e devem ser levadas em consideração quando se pretende cuidar e tratar estas crianças para que o universo delas seja melhor compreen-dido e o seu tratamento individualizado.

Identificar os fatores que reduzem a QV nos casos de HIV/aids é um importante passo para melhorar a QV nesta população, permitindo aos clínicos examinar esses fatores e intervir. Assim, tornam-se cada vez mais necessários

instru-mentos que auxiliem o cirurgião-dentista e de-mais profissionais responsáveis por estas cri-anças a avaliar não só a presença da enfermida-de causada pelo vírus HIV, como também a QVRS destes pacientes infantis, em virtude des-te ser um componendes-te auxiliar na mensuração da saúde do paciente.

Conclusão

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Artigo apresentado em 30/05/2006 Aprovado em 22/05/2007

Versão final apresentada em 15/06/2007 39.

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