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Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.

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Academic year: 2017

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Condições de trabalho e saúde

dos pro f e s s o res da rede particular de ensino

de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil

Labor and health conditions of private school

teachers in Vitória da Conquista, Bahia, Brazil

1 Faculdade de Me d i c i n a , Un i versidade Fe d e ral da Ba h i a ,S a l va d o r, Bra s i l . 2 Núcleo de Ep i d e m i o l o g i a , De p a rtamento de Saúde, Un i versidade Estadual de Fe i ra de Santana, Fe i ra de Santana, Bra s i l .

C o r re s p o n d ê n c i a Fernando M. Ca rva l h o, De p a rtamento de Me d i c i n a Pre ve n t i va , Un i ve r s i d a d e Fe d e ral da Ba h i a . Rua C láudio Manoel da Costa 74, a p t o. 1 4 0 1 , S a l va d o r, BA 4 0 1 1 0 - 1 8 0 , Bra s i l . f m c @ u f b a . b r

Núria Se r re Delcor 1

Tania M. Araújo 2

Ed u a rdo J. F. B . Reis 1 La u ro A. Po rto 1

Fernando M. Ca rvalho 1

Manuela Ol i ve i ra e Si l va 1 L e o n a rdo Barbalho 1

Jonathan Mo u ra de An d rade 1

A b s t r a c t

The scientific litera t u re on teachers’ health is s c a rc e , re c e n t , and focuses predominantly on s t ress and burnout. This study describes the la-bor conditions of private school teachers in Vitória da Conquista, Bahia St a t e , Bra z i l . In-formation on 250 teachers from the ten largest schools in the municipality was collected t h rough a self-applied questionnaire . T h e most re l e vant characteristics of teachers’ w o rk , e valuated by the Job Content Qu e s t i o n n a i re w e re : speed of work , c reativity at work , a n d relations with colleagues. The most fre q u e n t complaints related to posture , mental stra i n , and voice pro b l e m s . Pre valence of minor psy-chological disorders according to the Self Re-p o rting Qu e s t i o n n a i re - 2 0was 41.5%, s t ro n g l y associated with long periods of intense con-c e n t ration on the same job and excon-c e s s i ve work . Results suggest an association between the p re valence of minor psychological disord e r s and certain characteristics of teaching work , emphasizing teachers’ ex p o s u re to stre s s .

Wo rking Conditions; Occupational He a l t h ; Fa c u l t y

I n t ro d u ç ã o

O trabalho humano possui um duplo caráter: por um lado é fonte de re a l i z a ç ã o, satisfação, p ra ze r, estru t u rando e conformando o pro c e s-so de identidade dos sujeitos; por outro, pode também se tra n s f o rmar em elemento

patogê-n i c o, torpatogê-napatogê-ndo-se patogê-nocivo à saúde 1. No

am-biente de tra b a l h o, os processos de desgaste do corpo são determinados em boa parte pelo ti-po de trabalho e pela forma como esse está or-g a n i z a d o.

No Brasil, a litera t u ra científica sobre as condições de trabalho e saúde dos pro f e s s o re s é ainda re s t rita. En t re t a n t o, a partir da década de 90, observou-se um aumento no número de estudos conduzidos neste grupo ocupacional. Estes estudos exploram especialmente os efei-tos do trabalho sobre a saúde mental, como es-t resse e a Síndrome de Bu rnoues-t. Eses-ta síndro m e afeta especialmente tra b a l h a d o res com muito contato social, como nos setores de Ed u c a ç ã o e Saúde 2.

As investigações de Codo 3s o b re a saúde

mental dos pro f e s s o res de 1oe 2og raus em

(2)

de-Delcor NS et al.

1 8 8

s e n volvido foram fatores importantes para o q u a d ro encontra d o.

A raújo et al. 4e Si l vany et al. 5re a l i z a ra m amplos estudos sobre as condições de saúde e t rabalho de 573 pro f e s s o res da rede part i c u l a r de ensino em Sa l va d o r, Bahia, em 1996. Pro b l e-mas de saúde nos 15 dias anteri o res à entre v i s-ta foram re f e ridos por 32,5% dos pro f e s s o re s. As queixas de saúde mais freqüentes foram do-res nas costas e pernas e, no âmbito psicoemo-cional, cansaço mental e nervo s i s m o. Ter calos nas cordas vocais foi re f e rido por 12% dos pro-f e s s o re s. A pre valência de distúrbios psíquicos m e n o res foi de 20%, associada a trabalho re p e-t i e-t i vo, insae-tisfação no desempenho das ae-tivida- ativida-d e s, ambiente intranqüilo e estre s s a n t e, ativida- des-gaste na relação pro f e s s o r- a l u n o, falta de auto-nomia no planejamento das atividades, ri t m o a c e l e rado de trabalho e à pressão da dire ç ã o.

A avaliação das condições de saúde e tra b a-lho de pro f e s s o res da rede particular de ensino é re l e vante porque: (1) há um número expre s-s i vo e cres-scente de profis-ss-sionais-s des-sta

catego-ria no Brasil 6; (2) a maioria dos estudos re a l

i-zados ava l i a ram saúde e trabalho de pro f e s s

o-res de escolas públicas 5, os quais estão

subme-tidos a processo e organização do trabalho dis-tintos dos existentes nas escolas pri va d a s.

O objetivo deste estudo foi descrever as c o n-dições de trabalho e saúde de pro f e s s o res da re-de particular re-de ensino re-de Vi t ó ria da Co n q u i s-ta, Ba h i a .

M e t o d o l o g i a

Re a l i zou-se um estudo epidemiológico de cor-te tra n s versal. Na cidade de Vi t ó ria da Co n q u i s-ta, em 2001, existiam 35 escolas da rede part i-cular de ensino, cadastradas pelo Sindicato dos Pro f e s s o res da Rede Pri vada de Ensino da Ba-hia (SINPRO/BA), com 600 a 700 pro f e s s o re s. Fo ram incluídos todos os pro f e s s o re s, de ensi-no pré-escolar até ensiensi-no médio, das dez maio-res escolas da rede particular de ensino da ci-d a ci-d e. Fo ram excluíci-dos ci-do estuci-do pro f e s s o re s de educação física, informática e línguas es-t ra n g e i ra s. Na colees-ta de dados foi ues-tilizado um f o rm u l á rio auto-aplicado com cinco blocos de q u e s t õ e s.

O pri m e i ro bloco continha informações so-b re características demográficas e econômicas, c a racterísticas ocupacionais e atividades do-m é s t i c a s.

O segundo bloco avaliou esforços físicos no t ra b a l h o, em sete questões medidas em uma escala de 0 a 3 (0 = ra ramente; 1 = pouco fre-qüente; 2 = freqüente e 3 = muito fre q ü e n t e ) ,

situações de risco no trabalho em oito ques-tões medidas em escala de 0 a 3 (0 = risco ine-xistente; 1 = baixo risco; 2 = médio risco e 3 = alto risco) e conteúdo do tra b a l h o, medido

ba-seando-se no Job Content Qu e s t i o n n a i re(J CQ )

modificado 7 , 8. A versão do JCQ em port u g u ê s

inclui 41 questões: 17 a respeito do controle so-b re o traso-balho (6 soso-bre haso-bilidades e 11 soso-bre poder de decisão), 13 perguntas sobre deman-das psicológicas (8) e físicas (5), e 11 perg u n t a s s o b re suporte social. Trinta e oito questões fo-ram medidas em uma escala de 1 a 4 (1 = dis-c o rdo fortemente; 2 = disdis-cordo; 3 = dis-condis-cordo e 4 = concordo fortemente); as outras três per-g u n t a vam sobre o número de funcionários que c o o rdena o pro f e s s o r, o número de pessoas no g rupo de trabalho e sobre ser ou não membro do sindicato. O JCQ tem sido usado em vári o s p a í s e s, especialmente nos Estados Un i d o s, Ca-nadá, Eu ropa, Japão e Coréia do Sul. Estudos de validação do JCQ indicam bom

desempe-nho deste instrumento 9 , 1 0. No Brasil, ainda n ã o

foi conduzido estudo para sua va l i d a ç ã o. Co n-t u d o, resuln-tados obn-tidos em esn-tudos bra s i l e i ro s que utilizaram o JCQ têm mostrado

consistên-cia com resultados obtidos em outros países 1 1,

re velando que o instrumento apresenta bom desempenho na identificação e classificação de diferentes situações de tra b a l h o.

O terc e i ro bloco investigou a saúde física. Ava l i a ram-se trinta queixas de saúde, classifi-cadas em uma escala de 0 a 4 (0 = não sente; 1 = ra ramente; 2 = pouco freqüente; 3 = fre q ü e n t e e 4 = muito freqüente). Também incluiu-se questões relacionadas com a voz, em escala de resposta Sim/Não e sobre o hábito de fumar.

O quarto bloco avaliou a saúde mental e ní-vel de suspeição de consumo abusivo de ál-cool. A saúde mental foi avaliada por meio de um instrumento de detecção de distúrbios psí-quicos menore s, o Self Re p o rting Qu e s t i o n n a i-re - 2 0( S RQ-20), desenvolvido por Ha rding et al.

1 2. Fo ram classificados como suspeitos de a p

re-sentar distúrbios psíquicos menores (DPM), os p ro f e s s o res que re s p o n d e ram positivamente a sete ou mais questões dentre as vinte pro p o s-tas pelo teste. Estudos de validação do SRQ - 2 0

f o ram realizados no Brasil por Ma ri 1 3e Fe

r-nandes & Almeida Filho 14. Indivíduos com d u a s

ou mais respostas positivas as quatro questões tipo Sim/Não do teste C.A.G.E. foram

classifi-cados como suspeitos de alcoolismo 1 5.

(3)

Em função das questões abordadas pelos i n s t rumentos de pesquisa e objetivando dimi-nuir ao máximo possíveis re s i s t ê n c i a s, mante-ve-se o anonimato do form u l á ri o, não sendo solicitado ao professor que se identificasse. A coleta de dados foi realizada por estudantes de medicina devidamente tre i n a d o s, no período de setembro a nove m b ro de 2001. Pa ra gara n t i r n í veis mais elevados de padro n i z a ç ã o, além do t reinamento foi utilizado um manual de ins-t ruções básicas para orienins-tar os pro c e d i m e n-tos durante as entre v i s t a s. Fo ram efetuadas vi-sitas prévias para contatos com a direção das e s c o l a s, a fim de obter permissão para a re a l i-zação da pesquisa. Obtida a listagem de pro-f e s s o res e o consentimento assinado de cada um deles, entrevistas foram realizadas em cada escola, coletando-se os questionários dentro de envelopes fechados para garantir o anoni-m a t o.

Com o pro g rama SPSS foram calculadas f reqüências e medidas de tendência central pa-ra a descrição das va ri á ve i s. Pa pa-ra a análise bi-va riada, as bi-va ri á veis do JCQ foram dicotomiza-d a s. O teste dicotomiza-do qui-quadicotomiza-dradicotomiza-do foi utilizadicotomiza-do para identificar prov á veis associações entre va ri á-ve i s, tomando como estatisticamente signifi-cante o nível de probabilidade de 5%. Ra z õ e s de pre valência e re s p e c t i vos intervalos de con-fiança 95% foram calculados.

R e s u l t a d o s

Dos 309 pro f e s s o res das dez escolas seleciona-d a s, 250 (80,9%) re s p o n seleciona-d e ram o questionári o. Dos 59 pro f e s s o res que não entra ram no estu-d o, um estava com licença por matern i estu-d a estu-d e, um encontra vase no hospital, três re c u s a ra m -se a participar verbalmente e 54 não devo l ve-ram o questionári o.

Os pro f e s s o res de Vi t ó ria da Conquista ti-nham média de idade de 34,5 ± 7,5 anos, 82,8% e ram mulhere s, 65,1% casadas e 72,1% com ní-vel de escolaridade superior (em curso ou c o m-pleto). Tra b a l h a vam em outra escola 59,3% e em mais de duas escolas 9,2%. De s e n vo l v i a m o u t ras atividades re m u n e radas além da docên-cia 19,1%. As características do trabalho destes p ro f e s s o res são apresentadas na Tabela 1.

A renda mensal média foi de R$ 886,00, cor-respondente na época da coleta a US$ 345. Vi n-te e três por cento recebiam menos de R$ 400,00; 33% de R$ 401,00 a R$ 800,00; 23% de R$ 801,00 a R$ 1.100,00 e 21% de R$ 1.101,00 ou m a i s. En t re aqueles que re a l i z a vam atividades d o m é s t i c a s, 16% não recebiam ajuda (16% nas m u l h e res e 20% nos homens), geralmente de uma empregada doméstica.

Esforços físicos realizados no trabalho ou associados a ele, apontados como “f re q ü e n t e s” ou “muito fre q ü e n t e s”, foram: permanecer em pé (96,7%) e correção de trabalhos escolare s (94,1%). As situações de risco na escola mais apontadas como de “m é d i o” ou “alto ri s c o”, fo-ram risco de queda e torções (24%) e acidentes de trânsito (17,9%). Mais da metade dos pro-f e s s o res re s p o n d e ram que “c o n c o rd a ra m” ou “c o n c o rd a ram fort e m e n t e” em algumas ques-tões do JCQ que identificavam aspectos negati-vos para o bom desenvolvimento do seu tra b a-lho: ritmo acelerado de trabalho (67,9%); posi-ção inadequada e incômoda do corpo (65,4%); atividade física rápida e contínua (63,8%); ritmo frenético de trabalho (54,9%); posições da cabeça e braços inadequadas e incômodas (53,4%) e longos períodos de intensa concen-t ração em uma mesma concen-tarefa (51,9%). Na q u e-las questões do JCQ consideradas como positi-vas para o desenvolvimento do tra b a l h o, mais de 90% dos pro f e s s o res “c o n c o rd a ra m” ou “c o n-c o rd a ram fort e m e n t e” em: nen-cessidade de ser

Tabela 1

Características do trabalho de pro f e s s o res da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.

Características do trabalho N M é d i a D e s v i o - p a d r ã o

Tempo de trabalho como professor (em anos) 2 3 4 1 1 , 4 6 , 9

N ú m e ro total de turm a s 2 4 8 3 , 9 3 , 0

N ú m e ro total de alunos por turm a 2 4 4 3 0 , 1 9 , 1

C a rga horária total semanal na escola 2 2 1 1 9 , 4 8 , 4

C a rga horária semanal em sala de aula 2 3 0 1 7 , 0 7 , 4

C a rga horária semanal em todas as escolas 2 3 9 3 4 , 3 1 6 , 9

(sala de aula e outras atividades)

(4)

Delcor NS et al.

1 9 0

c ri a t i vo (99,2%); necessidade de um alto níve l de habilidade (96,0%); possibilidade de apre n-der novas coisas (94,7%); opinaram que os co-legas são competentes em fazer suas ativida-des (91,2%); opinaram que as pessoas no tra-balho eram amigáveis (90,7%) e possibilidade de dar opinião sobre o que acontece no seu tra-balho (90,6%).

Os pro f e s s o res re f e ri ram, em média, 7,2 ± 5,7 queixas de saúde, dentre uma lista de tri n t a q u e i x a s, todas rotuladas como sendo “f re q ü e n-t e s” ou “muin-to fre q ü e n n-t e s”. De s n-t a c a ram-se as queixas de saúde relacionadas à postura: dor n o s b ra ç o s / o m b ro (52,1%), dor nas costas (51,4%) e dor nas pern a s / f o rmigamento (47,5%); pro-blemas psicossomáticos ou relacionados à saú-de mental: cansaço mental (59,2%) e pro b l e-mas relacionados ao uso intensivo da voz: dor na garganta (45,7%) (Tabela 2).

En c o n t rou-se que 92,6% dos pro f e s s o res ref e ri ram uso intensivo da voz, 62,3% cansava m -se para falar e 57% faziam força para -serem ou-v i d o s. Rouquidão nos últimos seis meses foi re-f e rida por 59,2% dos pro re-f e s s o re s. Nesta popu-l a ç ã o, 4,2% eram fumantes atuais e 11,4% ex-f u m a n t e s. O consumo de bebida alcóolica ex-foi re f e rido por 22,1% dos pro f e s s o re s. O teste C.A.G.E. classificou 1,3% dos pro f e s s o res como suspeitos de dependência do álcool.

Dos 250 pro f e s s o re s, 94,8% re s p o n d e ram a todas as perguntas do SRQ-20. A pre valência de distúrbios psíquicos menores estimada pelo S RQ-20 foi de 41,5%, va riando de 17,6% a 6 6 , 7 % d e n t re as escolas estudadas. A pre valência de DPM estava estatisticamente associada (p = 0 , 0 5 , respostas “c o n c o rd a ra m” ou “c o n c o rd a ram for-t e m e n for-t e”) com caracfor-terísfor-ticas do confor-teúdo do t rabalho: trabalho re p e t i t i vo (RP = 1,64), inten-sa concentração em uma mesma tarefa por um longo período (RP = 1,76), volume exc e s s i vo de t rabalho (RP = 1,65), ritmo acelerado de tra b a-lho (RP = 1,49), interrupção das tarefas antes de serem concluídas (RP = 1,38), tempo para realização das tarefas insuficiente (RP = 1,36), ausência de preocupação do coordenador pelo bem-estar da sua equipe (RP = 1,50), inexistên-cia de processos democráticos de tomada de decisões do grupo de trabalho (RP = 1,46), falta de interesse dos colegas de trabalho pelo que acontece com você (RP = 1,43) e exposição a hostilidades e conflitos com os colegas de tra-balho (RP = 1,39) (Tabela 3).

Apenas 28% dos pro f e s s o res re a l i z a vam os exames médicos periódicos previstos na legis-l a ç ã o. De 233 indivíduos que re s p o n d e ram so-b re diagnósticos médicos receso-bidos desde que c o m e ç a ram a trabalhar como pro f e s s o r, 73,4% re f e ri ram no mínimo um diagnóstico e 26,6%

re f e ri ram não ter diagnósticos de qualquer p roblema de saúde. Os diagnósticos médicos mais freqüentemente re f e ridos foram: va ri ze s em membros inferi o res (36,1%), gastrite ou e s o-fagite (24%), infeções do trato uri n á rio (18%), sinusite crônica (17,6%), LER (17,6%) e calos n a s c o rdas vocais (13,3%) (Tabela 4).

A associação entre a queixa de dor/form i-gamento nas pernas e o fato de o professor per-manecer de pé foi fraca (RP = 0,99; IC95%: 0,44-2,22) e não sofreu confundimento import a n t e devido à presença de va ri zes (RPMa nt e l - Ha e n s ze l= 1,05; IC95%: 0,48-2,29).

Problemas de saúde nos 15 dias anteri o re s à entrevista foram re f e ridos por 39,4% dos pro-f e s s o re s. Acidentes de trabalho pro-foram re pro-f e ri d o s por 7,1%. Atividade física fora do trabalho foi re f e rida por 38,9% dos pro f e s s o re s. Cinqüenta e três por cento dos pro f e s s o res disseram que d e d i c a vam algum tempo semanal ao lazer du-rante a semana.

D i s c u s s ã o

Os pro f e s s o res estudados da rede particular de ensino de Vi t ó ria da Conquista, re p re s e n t a m uma população jovem, principalmente do sexo f e m i n i n o, casadas e com nível de escolari d a d e s u p e ri o r. Estes dados sócio-demográficos e de e s c o l a ridade são similares aos relatados por

Si l vany et al. 5em pro f e s s o res da rede pri va d a

de Sa l va d o r, Ba h i a .

A predominância da mulher na profissão de educar também aparece em outras pesquisas s o b re a saúde e trabalho dos pro f e s s o res de en-sino básico, va riando de 75 a 85,6% 3 , 5 , 6 , 1 6 , 1 7. Com a expansão do setor educacional no Bra-sil, a partir da segunda metade do século XX, foi preciso a incorporação de muitos tra b a l h a-d o res para o ensino. A a-docência, assim como a e n f e rmagem, foi considerada na época, ativi-dade própria das mulheres por envo l ver “o cui-dado dos outro s”. As mulheres foram chama-das para ocupar os cargos de educadora s, con-s i d e rando-con-se o trabalho na econ-scola como uma continuação das tarefas exigidas no âmbito do-m é s t i c o, aparecendo a ido-magedo-m da “do-mãe educa-d o ra”. A crise econômica, a crise educa-de empre g o, a luta das mulheres pelos seus direitos e as mu-danças na família nuclear favo re c e ram a entra-da entra-da mulher no mundo do tra b a l h o. Os baixo s s a l á rios dos educadores também fazem com que as mulheres ocupem esses tra b a l h o s, para

complementar a renda familiar 3. Porém, a

pro-porção de pro f e s s o res do sexo masculino ve m aumentando no ensino médio em relação ao

(5)

Tabela 2

F reqüência de queixas de saúde referidas como “freqüentes” ou “muito freqüentes” pelos pro f e s s o res da rede particular de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.

Queixas de saúde re f e r i d a s n F reqüência F reqüência

s i m p l e s relativa (%)

P roblemas psicossomáticos ou relacionados à saúde mental

Cansaço mental 2 4 0 1 4 2 5 9 , 2

Esquecimento 2 4 1 8 9 3 6 , 9

N e r v o s i s m o 2 4 3 8 0 3 2 , 9

I n s ô n i a 2 4 5 4 6 1 8 , 8

A z i a / q u e i m a ç ã o 2 4 0 4 6 1 9 , 2

P roblemas relacionados à postura corporal

Dor nos braços/ombro 2 4 2 1 2 6 5 2 , 1

Dor nas costas 2 4 3 1 2 5 5 1 , 4

D o r / f o rmigamento nas pern a s 2 4 2 1 1 5 4 7 , 5

Dor na coluna 2 4 1 1 0 4 4 3 , 2

Inchaço nas pern a s 2 4 0 2 6 1 0 , 8

P roblemas relacionados ao uso intensivo da voz

Dor na garganta 2 4 5 1 1 2 4 5 , 7

P e rda temporária de voz 2 4 0 5 4 2 2 , 5

P roblemas relacionados à poeira e pó de giz

Entupimento nasal 2 4 0 6 7 2 7 , 9

R i n i t e 2 3 7 6 6 2 7 , 8

To s s e 2 4 2 5 2 2 1 , 5

Irritação nos olhos 2 4 2 4 3 1 7 , 8

Coriza 2 4 0 4 1 1 7 , 1

P roblemas de pele 2 4 2 3 5 1 4 , 5

O u t ros pro b l e m a s

S o n o l ê n c i a 2 4 3 7 4 3 0 , 5

Queda dos cabelos 2 4 1 6 6 2 7 , 4

Redução da visão 2 4 0 5 2 2 1 , 7

P roblemas digestivos 2 3 8 4 6 1 9 , 3

Tontura 2 4 4 3 8 1 5 , 6

F r a q u e z a 2 4 0 3 6 1 5 , 0

Zumbido 2 4 0 3 5 1 4 , 6

Falta de ar 2 4 0 2 4 1 0 , 0

P a l p i t a ç õ e s 2 3 8 2 1 8 , 8

Não ouve bem 2 4 0 1 6 6 , 7

A rdor ao urinar 2 4 0 1 2 5 , 0

Dor no peito 2 4 0 1 1 4 , 6

(6)

Delcor NS et al.

1 9 2

re p re s e n t a vam 2,6% da pré-escola a quarta sé-rie e 39,2%, no segundo grau. No presente es-t u d o, 2,0% dos pro f e s s o res no nível pré-escolar e ram homens e 47,5%, no nível médio. Em ou-t ros esou-tudos sobre condições de saúde e ou-tra b a-lho docente no nível superi o r, a proporção de p ro f e s s o res do sexo feminino va riou de 34,5% a 61,5% 1 8 , 1 9 , 2 0.

O fato de a mulher participar mais nos ní-veis iniciais de ensino, pode responder a uma maior demanda de um educador com o papel de “m ã e” nos pri m e i ros anos de escolari d a d e. Todos os pro f e s s o res homens de nosso estudo (n = 42) possuíam nível de escolaridade supe-ri o r, o que favo rece a que eles ensinem classes de níveis mais eleva d o s. Em nosso estudo, to-dos os educadores de ensino médio possuíam n í vel de escolaridade superior e só três pro f e s-s o res-s do ens-sino fundamental II não o s- pos-s u í a m .

Destacou-se a alta porcentagem de pro f e s-s o res-s com nível de es-scolaridade s-superior em Vi t ó ria da Conquista, similar à de 71,9%,

en-c o n t rada em Sa l vador 5. Dados do Mi n i s t é ri o

do Trabalho 2 1apontam apenas 22,3% dos

pro-f e s s o res da rede particular de ensino do Estado da Bahia com nível de escolaridade superi o r. A Lei de Di re t ri zes e Bases da Educação (aprova-da em deze m b ro de 1996) que passou a exigir e s c o l a ridade superior para todos os níveis de

e n s i n o, poderia ser a re s p o n s á vel por este au-mento no nível de qualificação dos docentes.

Em Vi t ó ria da Conquista, 26,2% dos pro f e s-s o res-s tra b a l h a vam s-simultaneamente em outra s-s escolas pri vadas e 28,4% tra b a l h a vam em ou-t ras escolas da rede esou-tadual ou municipal. Em Sa l va d o r, as porcentagens correspondentes

fo-ram 43,1% e 20,2%, re s p e c t i vamente 5. Estas

di-f e renças podem indicar uma menor odi-ferta de t rabalho em outras escolas em Vi t ó ria da Co n-quista, ou a necessidade de trabalhar em vári a s escolas para aumentar a renda familiar, em Sa l-va d o r. Mesmo assim, muitos pro f e s s o res de Vi-t ó ria da ConquisVi-ta Vi-tra b a l h a vam em ouVi-tras es-colas ou em outra atividade re m u n e rada, indi-cando a necessidade de complementar uma renda familiar insuficiente, com outros tra b a-l h o s, inca-lusive fora da área da docência.

A carga horária média semanal de tra b a l h o em todas as escolas (em sala de aula e ativida-des extraclasse) foi elevada. A essa carga horá-ria ainda devem ser somadas as horas para a p re p a ração de aulas, os deslocamentos de uma escola para outra e as atividades domésticas.

Segundo Gomes 2 2, as atividades domésticas

ocupam de 2 a 3 horas por dia do tempo do p ro-f e s s o r. Esta situação agra va-se para aqueles p ro f e s s o res que não recebiam qualquer tipo de ajuda em casa. Com toda essa carga de tra b a-l h o, 56,0% dos pro f e s s o res tinham renda

men-Tabela 3

Razões de prevalência (RP) e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%) para a associação e n t re distúrbios psíquicos menores e questões do Job Content Questionnaire(JCQ), nos pro f e s s o res a rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.

Questões do JCQ n RP (IC95%)

C o n t ro l e

O seu trabalho é re p e t i t i v o ? 2 4 5 1,64 (1,23-2,20)

Demanda psicológica

Seu trabalho exige longos períodos de intensa concentração em uma mesma tare f a ? 2 3 6 1,76 (1,27-2,44)

Você é solicitado a realizar um volume excessivo de trabalho? 2 4 6 1,65 (1,23-2,20)

Seu trabalho é realizado sob ritmo acelerado? 2 4 5 1,49 (1,03-2,13)

Suas tarefas muitas vezes são interrompidas antes que você possa concluí-las, 2 2 7 1,38 (1,02-1,87) adiando para mais tarde a sua conclusão?

O tempo para realização das suas tarefas não é suficiente para concluí-las? 2 4 4 1,36 (1,02-1,82)

Suporte social

Falta de preocupação do coordenador com o bem-estar da sua equipe de trabalho? 2 3 1 1,50 (1,13-2,00) Seu grupo de trabalho ou unidade não toma decisões democraticamente? 2 3 2 1,46 (1,08-1,96)

Falta de interesses das pessoas por você com quem você trabalha? 2 3 0 1,43 (1,06-1,93)

Exposição a hostilidades e conflitos com as pessoas com quem você trabalha? 2 3 5 1,39 (1,02-1,89)

(7)

sal inferior a quatro salários mínimos (R$ 7 2 0 , 0 0

ou US$ 270). Segundo Esteve 2 3, a sociedade

atual estabelece o status social com base no ní-vel salarial. Os baixos salários dos pro f e s s o re s estudados podem ser um forte fator na crise de identidade e na insatisfação da categoria, po-dendo afetar a saúde mental destes tra b a l h a-d o re s.

Os esforços físicos realizados no tra b a l h o f o ram freqüentemente apontados pelos entre-v i s t a d o s, destacando-se permanecer em pé, queixa também freqüente nos estudos de Pa

ra-nhos 2 0e de Araújo et al. 4, e correção de tra b

a-lhos escolare s. Na presente base de dados, não foi demonstrada associação entre dor/form i-gamento nas pernas e a freqüente perm a n ê n-cia em pé, mesmo entre os pro f e s s o res que re-f e ri ram padecer de va ri ze s. Explicações para este fato inusitado devem ser buscadas após a c o n s i d e ração de outros possíveis confundido-res que não foram aqui analisados.

As situações de risco no trabalho foram p o u-co apontadas. De fato, a profissão de educador, pela sua natureza, não tem por que comport a r riscos físicos re l e va n t e s.

Destacou-se a alta porcentagem de pro f e s-s o res-s que identificaram caracterís-sticas-s pos-ss-si- possi-velmente associadas aos principais pro b l e m a s de saúde apontados pela categoria. Ma n t e r uma posição inadequada e incômoda do corpo e precisar de esforço físico para desenvo l ver o t rabalho poderiam estar associados às queixas relacionadas à postura corpora l .

Os pro f e s s o res va l o ri z a ram pre d o m i n a n t e-mente aqueles aspectos do trabalho re l a c i o n a-dos ao controle e ao suporte social. Os aspetos n e g a t i vos especialmente apontados foram os relacionados com a demanda psicológica e fí-sica no tra b a l h o. Esses dados são similares a o u t ros estudos com pro f e s s o re s. Ritmo acele-rado de trabalho foi re f e rido por 67,9% dos p ro-f e s s o res de Vi t ó ria da Conquista e por 60,6% dos pro f e s s o res investigados em Sa l va d o r,

Ba-hia 5. Em Na va r ra, Espanha, uma pesquisa

so-b re saúde e traso-balho dos pro f e s s o res encon-t rou que as principais queixas foram aencon-tenção e l e vada, ritmo de trabalho elevado e volume de t rabalho exc e s s i vo, três aspectos que medem a

demanda psicológica no trabalho 2 4. Pro f e s s

o-res da Un i versidade Estadual de Fe i ra de Sa tana, Bahia, assinalaram como negativo s, pri n-c i p a l m e n t e, os aspen-ctos que medem demanda psicológica, como “exigência de concentra ç ã o” (71,6%) e “ritmo acelerado de tra b a l h o” ( 5 4 , 9 % ) , e os aspectos positivos mais re f e ridos foram os relacionados com o contro l e, como “t ra b a l h o c ri a t i vo” (100%) e o suporte social, como “ b o a

relação com os colegas” (93,7%) 2 0.

Me rece especial atenção o fato de que uma população re l a t i vamente jovem ter re f e rido em média, um número alto de problemas de d e, dentre os trinta listados. As queixas de saú-de mais freqüentemente re f e ridas estavam re-lacionadas com a postura corporal, pro b l e m a s psicossomáticos ou de saúde mental e queixas relacionadas à voz. Esse mesmo perfil de quei-xas foi detectado em outros estudos com pro-f e s s o res 5 , 1 9 , 2 0 , 2 5 , 2 6 , 2 7.

O percentual de pro f e s s o res com diagnósti-cos médidiagnósti-cos de saúde desde que começaram a t rabalhar foi também eleva d o. É import a n t e destacar que os diagnósticos mais fre q ü e n t e-mente re f e ri d o s, em pri m e i ro e quinto lugare s, re s p e c t i va m e n t e, foram va ri zes em membro s i n f e ri o res e lesões por esforços re p e t i t i vo s, doenças potencialmente relacionadas ao tra-b a l h o.

Um terço dos pro f e s s o res re f e riu pro b l e m a s de saúde nos 15 dias anteri o res à entrevista, o que pode-se traduzir em elevado ausentismo ao tra b a l h o. Esta porcentagem é semelhante à

relatada para pro f e s s o res de Sa l vador 5e em

in-q u é ritos domiciliares com populações de di-versos países 2 8.

A porcentagem de pro f e s s o res suspeitos de dependência do álcool foi reduzida e seme-lhante à relatada para pro f e s s o res de Sa l va d o r

4. O número de pro f e s s o res que se declara ra m

fumantes também foi menor do que da média populacional bra s i l e i ra, 23,9% 2 9.

Tabela 4

F reqüência dos diagnósticos médicos mais referidos por 233 pro f e s s o res da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.

Diagnóstico médico re f e r i d o F reqüência F reqüência

s i m p l e s relativa (%)

Varizes em membros inferiore s 8 4 3 6 , 1

Gastrite e esofagite 5 6 2 4 , 0

Infeção de trato urinário 4 2 1 8 , 0

Sinusite crônica 4 1 1 7 , 6

Lesões por esforços re p e t i t i v o s 4 1 1 7 , 6

Calos nas cordas vocais 3 1 1 3 , 3

A n e m i a 2 9 1 2 , 5

Hipertensão arterial 1 8 7 , 7

D e rmatite 1 7 7 , 3

Faringite crônica 1 5 6 , 4

Asma 1 1 4 , 7

Lombalgia 9 3 , 9

O u t ros 2 5 1 0 , 7

(8)

Delcor NS et al.

1 9 4

Destacou-se a alta pre valência de acidentes de trabalho re f e ri d o s, se comparada àquela en-c o n t rada em pro f e s s o res de Sa l va d o r, 3,4% 5.

Apesar deste quadro ocupacional adve r s o, as escolas não re a l i z a vam exames médicos pe-ri ó d i c o s, mesmo estes sendo obpe-ri g a t o pe-ri a m e n t e p revistos na No rma Re g u l a m e n t a d o ra (NR- 7 ) do Mi n i s t é rio do Trabalho 3 0.

A pre valência de distúrbios psíquicos me-n o res observada me-neste estudo (41,5%), supero u amplamente os resultados relatados por outro s a u t o re s, na faixa de 18 a 24,2% 4 , 1 6 , 1 8 , 1 9 , 2 0. Ca b e comentar que a pesquisa foi realizada num pe-ríodo de crise sindical e ao final do ano letivo, época de maior desgaste para os pro f e s s o re s,

como aponta Esteve 2 3. Tra vers & Cooper 3 1c

i-tam vários trabalhos sobre a dinâmica do es-t resse em pro f e s s o res duranes-te o es-tra n s c o r rer do ano letivo. Um estudo canadense, re f e rido por Tra vers & Cooper 3 1, re g i s t rou maior incidência de estresse ao final de cada semestre e ao final

do ano escolar. Ruiz et al. 3 2re g i s t ra ram que as

queixas de saúde e a pro c u ra por atendimento de saúde mostram forte tendência sazonal: são baixas no início do ano, elevam-se até o meio do ano, caem no início do semestre (após o pe-ríodo de férias) e voltam a subir significativa-mente no final do ano. Tendência similar pode ter ocorrido em Vi t ó ria da Conquista, pois os p ro f e s s o res foram avaliados ao final do ano le-t i vo. De ve-se ainda lembrar que os DPM cosle-tu- costu-mam ser tra n s i t ó ri o s, o que contribui para su-p e restimar a sua su-pre va l ê n c i a .

En t re as dez escolas ava l i a d a s, a fre q ü ê n c i a de DPM va riou de 17,6% a 66,7%, sugeri n d o que as condições de trabalho próprias de cada

escola apresentam alguma influência nesta va-ri a ç ã o. Algumas características avaliadas pelo J CQ estavam fortemente associadas (p < 0,05) com a pre valência de DPM, destacando-se as va ri á veis que re p re s e n t a vam demanda psico-lógica e suporte social no tra b a l h o. Ap e n a s uma va ri á vel de controle sobre o trabalho apre-sentou associação com a pre valência de DPM. Trabalho re p e t i t i vo (indicador de controle) e ritmo acelerado de trabalho (indicador de de-manda psicológica) também estavam estatisti-camente associados com DPM em pro f e s s o re s de Sa l vador 4.

Os estudos de corte tra n s versal cara c t e ri s t i-camente apresentam dois tipos de limitações: só incluem aqueles indivíduos que “s o b re v i ve-ra m” à doença e, por coletarem simultanea-mente dados de exposição e de doença, têm di-ficuldade para estabelecer uma relação de cau-salidade entre ambos. A maioria das doenças a valiadas na nossa pesquisa são crônicas, re-c o r re n t e s, ou não letais, re-como va ri ze s, lesões por esforços re p e t i t i vos e calos nas cordas vo-c a i s, pelo que difivo-cilmente se perd e ram vo-casos pelo pri m e i ro tipo de viés. Mesmo assim, não podemos deixar de considerar as possibilida-des de have rmos perdido informação daqueles p ro f e s s o res que: (1) abandonaram a pro f i s s ã o em decorrência de alguma doença ou desgaste relacionado ao trabalho; ou (2) por alguma ra-z ã o, estavam ausentes do tra b a l h o, na época da

coleta de dados. Esteve 2 3comenta que a época

de maior ausentismo para os pro f e s s o res é ao final do ano escolar. Nesta última possibilida-d e, os nossos possibilida-dapossibilida-dos estariam subestimanpossibilida-do a real pre valência da morbidade.

Tabela 5

Associação entre dor/formigamento nas pernas e permanecer em pé, segundo presença/ausência de varizes em pro f e s s o res da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, 2001.

Va r i z e s P e rmanecer em pé D o r / f o rmigamento nas pern a s To t a l RP (IC95%) F re q ü e n t e m e n t e R a r a m e n t e

S i m F re q ü e n t e m e n t e 5 0 2 9 7 9

R a r a m e n t e 2 1 3

To t a l 5 2 3 0 8 2 0,95 (0,42-2,15)

N ã o F re q ü e n t e m e n t e 5 7 8 1 1 3 8

R a r a m e n t e 1 2 3

To t a l 5 8 8 3 1 4 1 1,24 (0,25-6,22)

To t a l F re q ü e n t e m e n t e 1 0 7 1 1 0 2 1 7

R a r a m e n t e 3 3 6

To t a l 1 1 0 1 1 3 2 2 3 0,99 (0,44-2,22)

(9)

C o l a b o r a d o re s

N. S. De l c o r, T. M. Araújo e E. J. F. B. Reis part i c i p a ra m da concepção e desenho do estudo; N. S. De l c o r, T. M. A ra ú j o, E. J. F. B. Re i s, M. O. Si l va, L. Barbalho e J. M. A n d rade re a l i z a ram a coleta de dados; todos os auto-res part i c i p a ram da análise e interpretação dos da-dos; a elaboração da versão inicial do manuscrito foi feita por N. S. De l c o r; todos os autores re v i s a ram o m a n u s c rito e aprova ram sua versão final, submetida à publicação; pequenas alterações no texto fora m realizadas por F. M. Ca rva l h o, T. M. Araújo e L. A. Po r-t o, em resposr-ta às análises dos re v i s o re s.

R e s u m o

A litera t u ra científica sobre a saúde dos pro f e s s o res é escassa e re c e n t e , enfocando especialmente o desgaste e estre s s e . Este trabalho objetivou descre ver as condções de trabalho e saúde dos pro f e s s o res da rede part i-cular de ensino da cidade de Vitória da Conquista, Ba-h i a , Bra s i l . Num questionário auto-aplicado fora m coletadas informações de 250 pro f e s s o res de dez esco-l a s . En t re as características do trabaesco-lho docente, a va-liadas pelo Job Content Qu e s t i o n n a i re, d e s t a c a ra m - s e ritmo acelerado de tra b a l h o, ser criativo e ter boas re-lações com as pessoas no tra b a l h o. As queixas de saú-de mais freqüentes estavam relacionadas à postura c o r p o ra l , à saúde mental e a queixas relacionadas à voz . A pre valência de distúrbios psíquicos menore s ( D P M ) , medida pelo Self Re p o rting Qu e s t i o n n a i re - 2 0, foi de 41,5% e estava fortemente associada a longos períodos de intensa concentração em uma mesma ta-refa e volume exc e s s i vo de tra b a l h o. Os resultados su-g e rem relação entre a pre valência de DPM e alsu-gumas c a racterísticas do trabalho docente, evidenciando des-gaste psicológico do educador.

Condições de Tra b a l h o ; Saúde Oc u p a c i o n a l ; Do c e n t e s O tipo de amostragem de conveniência uti-l i z a d o, que seuti-lecionou as dez maiores escouti-las de Vi t ó ria da Conquista, pode ter compro m e t i-do a re p re s e n t a t i v i d a d e. Esta limitação decor-reu da inexistência de um cadastro fidedigno de todas as escolas part i c u l a res da cidade. As condições de trabalho nas escolas part i c u l a re s m a i o res são prova velmente diferentes das me-n o re s, eme-nvo l veme-ndo ambieme-ntes meme-nos familiare s e com maior número de alunos.

Da listagem inicial de pro f e s s o re s, conse-guiu-se uma proporção de resposta de 80,9%,

c o n s i d e rada na classificação de Babbie 3 3c

o-mo “muito boa”. Um inconveniente dos ques-t i o n á rios auques-to-aplicaques-tivos é a opção do enques-tre- entre-vistado não responder a todas as perg u n t a s, sendo difícil de contro l a r, pela mesma condi-ção de anonimato da pesquisa.

Em conclusão, encontrou-se uma popula-ção de pro f e s s o res jovens e de sexo feminino, com elevada carga horária, vários locais de tra-b a l h o, tra-baixa renda mensal e alta demanda psi-cológica e física. Este grupo ocupacional apre-sentou elevada proporção de queixas e diag-nósticos de problemas de saúde. Destacou-se a e l e vada pre valência de pro f e s s o res com distúr-bios psíquicos menores (41,5%) que supera re-sultados relatados em outros estudos. Co n s t a-tou-se associação entre a pre valência de dis-túrbios psíquicos menores e algumas questões do JCQ, principalmente aquelas relacionadas à demanda psicológica e ao suporte social. Os resultados apóiam a hipótese de que o desgas-te do corpo dos pro f e s s o res é dedesgas-term i n a d o, em boa part e, pelo tipo e pela forma de org a n i z a-ção de seu tra b a l h o.

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Recebido em 14/Ja n / 2 0 0 3

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