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A equipe de enfermagem frente à problemática da assistência individualizada ao paciente terminal.

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Academic year: 2017

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A R T I G O C I E N T fF I CO

A E Q U I P E D E

E N F E RMAG EM

F R E N T E

À PROB LEMÁT I CA

D A ASS I ST E N C I A I N.D I V I D UA L l ZA D A AO PAC I E N T E T E R M I N A L

Marta Lucia Carvalho Cheida' , Diva A. S. Christófolli2

CHE I D A , M. L. C. & CII RlSTOFOLLl, D . A . S. A equ ipe de ell fermagem frent e :1 problcmtlica da assistência illll i vitl ual izatl a a o pacicl l l c l C r l l I i llal . ReI'. Jras. ::11[.

Urasflb, 3 7 (3/4) : 1 65-1 7 3 , jul./dez.' 1984. .

R ESUMO. As autoras rea l i z a ram um estudo no H osp i t al Professor Anto n i o Prudente, n a cidad e d e Londr i n a·P R , especial i zJdo no a te n d i mento a pacien tes oncológicos, buscando i d e n t i f i car concei tos e reações d a equ i p e d e e n fermagem fre n t e a esse t i po de paciente, cons i d e rado ter m i n al. As pesq u isado ras também ten taram ident i f i car q u al a áre a de necessid ades h u m anas cons i d erada p r i o r i tá r i a n a ltu ação d.sq eq u i pe. Procurou·se, ainda, d e f i n ir as reações frente ao evento m o rte, reações essas q u e , n o entender d as a u toras, i n fl u e m no tipo de assistê n c i a prestadl.

ABSTRACT. The authors developed a stud y at Professor Antonio Prud e n te H osp i t al , a cancer h os p ital i n the c ity of Londr i n a- P R , try i n g to i d e n t i fy concepts a n d reacti ons of the n urs i n g team in relation to those p a t i e n ts, cons i d ered term i n al ones. The rese arche rs a l so tried to identify which area of human needs was cons i d ered prio nty in team p erto r­ m ance. D ef i n i ti o n of nu rsi n g team reacti ons fac i n g d e a th was stu d i ed and the authors assum e they do i n flue n c e ty pe of nursi n g c are g i ve n .

I NTRODUçAo

A Ell l"c l1 1 1 agc l l I . scgu n d o I IO RT A ( I <)7CJ ) .

pode ser deinida COmO " a cWllcia e a u r te de

assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades b:ísicas ... ". De acordo C 0 1 1 l essa teo­ ria, as necessidades büs:as do homem se classifi­ cam, inspirado em Mohana, em três grandes áreas:

psicobiológicas, psicossociais e psicoespiri tuais, as quais são inter-relacionadas e independentcs.

O ser humano, n o entendimen t o de B ASTOS

( 1983 ) , deve ser analisado e compreendido como

expressão de seus três plano s :

a) Um p l ano físico, vit al , sO1ítico, orgânico ; fi) Um plano psicossocial, onde ele vive e se rclaciona ;

c) Um p l a n o existencial (de val ores pessoais)

mediante o qual ele com preende e direciona sua exis tência.

O au tor considera esses três p l anos como " m a ­ n i festações distintas de um mesmo fenômeno ou diferentes ângulos da mesma realidade" .

Esse não tão novo enfoque do indivíduo como

u m todo indivis ível inspira um movimento n a área da sJúde, assim como e m ou tras áreus que estu dam

o homem, le individualização e humanização da

assistência.

1. Auxiliar de Ensino do Departamento de Enfermagem da Univcrsidade d e ondrina, PRo

2 . Professor Assistentc do Dcp[ut:ul\cn t o de Enfermagcm da Universidade de ondrina, l�R.

(2)

A Enfermagem . como profissão , sofre os refle­ xos desse movimento e passa hoje por um processo de auto-avaliação , onde seus profissionais buscam a deinição de uma metodologia de assistência mais planejada, nlais individualizada e que atenda o paciente considerando seus três planos : vitl , psi­ cossocial e existencial .

E o que se observa na assistência de enferma­ gem aos pacientes ditos "terminais" ?

En ten de-se por pacien tes terminais não apenas os pacientes agonizantes, mas todos a queles porta­ dore- de enfermidades que , mais ou menos rapida­

mente, evoluem para o óbito (D'ASS U N Ç ÃO,

( 984).

Num estudo sobre "O Adoecer e a Morte " , B ASTOS ( 1 983) afirma que o crescimento da Ta­ /lato/agia (Thanatos = morte , Logos = tratado) deve-se mais a historiadores, ilósofos e sociól ogos que aos proissionais da saúde, os quais apresentam certo grau de diicu:dade em l idar com esse assun­ to tabu . A morte. segundo esse autor. não é um evento puramen te biol ógico. mas também psico­ l ógico, ilosófico, social , religioso, ético, histórico, cul tural e jur ídico.

COST A ( 1 976) iden tiica duas posições assu­

midas pel os enfermeiros frente às situações de morte im inen te . Quando o paciente tem maior probabilidade de morre r. omitem-se do assunto morte e tendem a superval orizar os cuidados físicos. Quando a possibilidade da morte se apre­ sen ta em si tuações de emergência. mobilizam-se desveladumen te expressando depois um sentimen­ to de deve r cumprid o .

G U I M A RÃES ( 1 979) pergu n t a como ficaria

a situação das enfermeiras frente à morte dos

pacientes, se a maioria sen te medo e angústia ao pensar em sua própria morte ?

Airma LO UZÃ ( 1982), que o trabalho com p acientes terminais provoca desestabilização emo­ cional na e quipe de saúde , desenvolvendo sentimen­ tos que variam entre a culpa, depressão, tristeza, ansiedade e, até mesmo, identificação exagerada com o paciente , o que pode levar o proissional a uma confrontação com sua própria mortal idade .

KÜ 3 LER- ROSS ( 1 98 1 ) quest iona se o fa to da equipe de saúde concent rar-se " nos equipamen tos, pressão sanguínea, dados laboratoriais, não seria uma tentativa de rejeiçãO da morte iminen te , e de não ver o :osto angustiado do pacien te que faz lembrar as limitações e a falta de onipotência dessa e quipe .

Mas por que dirigir este trabalho , conforme pretendemos, para os pacien tes cncológicos, se

1 66 -R ev. Bras. Ellf, Brasília, 37 (3/4) dul./dez. 1 9 84.

o câncer nem sempre é mortal ? Por que escolher um hospital especial izado em câncer para a

reali-zação deste trab a l h o ? .

N UN ES ( l 9S0) descreve o câncer como um dos mais importantes s ímbolos da 1110rte em nos­ sos dias e airma que somente quando os médicos (e as autoras incluem a equipe de saúde como um todo) integrarem sua própria mortalidade e aban­ donarem suas fan t asias de onipotência, o trato diário com o paciente oncológico se tornará menos difícil .

WU LLIEM I E R ( 1 980) relaciona o comporta­ men t o do canceroso com o simbolismo dessa doen­ ça que "devora pur dentro" e descreve como cau­ sas do comportamen to desajustado da equipe de saúde , os seguintes fatores : a identi icação com o pacien te, que faz com que o pessoal hospitalar seja invadido pelo seu próprio medo da morte ; o sentimento de impotência diante da doença e o medo das pergu n t as dos pacientes .

Todavia. a pesar de todas as diicul dades, seria necessÍrio que os profissionais de saúde não fugissem do envolvimen to emocional com o pa­ cien te e falhiliares, a fim de que o atendimen to fosse menos frio e impessoal .

Mas como exigir que os membros de uma sociedade capitalista que diviniza a vida e "extin­ gue" a morte passem a conviver placidamente com o morrer '!

A anÍl ise do antropól ogo RO D R I G UES ( 1 983 ) sobre a m ortc nos levan ta alguns pontos que merecem rellexão :

• Exal ta-se a a i rmação "ele nem sen tiu que

ia morrer", ao contrÍrio de "sentiu a mor te se aproximar" .

• É importan te que a morte sej a "natura l " , porquc a natureza é cada vez mais dominada pelo homem, e por conseguinte , a morte também logo seria.

• A morte tem sempre u m responsável : o erro do médico em não diagnosticar mais precoce­ mente , a fal ta de incentivo à pesquisa para que a cura fosse logo descoberta ou a demora do pacien­ te em procurar o médico. Toda morte tem sempre um motivo, que poderia ter sido corrigido . Cri a-se assim o mito da iJr,ortalidade, ou como deine 9 autor, da a-mortalidade do homem.

• Ocul tamos a morte de nossas crianças (tal­ vez por considerÍ-la mórbida) e as presenteamos com canhões de brinquedo.

(3)

Ainda segundo RODRIGUES ( I 983), devido à negação da morte que infesta a sociedade (e conseqüen temente a família), a morte foi transfe­ rida para os üospitais. Essa transferência pode, às vezes, ser justiicada pelo desenvolvimento de técnicas médicas que eigem a;pmpanhamento técnico. equipamentos, mas, por outro lado , cria un problema sério - o isolamento do paciente terminal de tudo quanto ele gosta ou valoriza.

No hospital impera a mentira instituci.nali­ zada, que a princípio tem a funçao de prc �eger o paciente contra a angústia de sua morte, mas posteriormente essa mentira acaba por cumprir outro papel : o de fonecer à sociedade, família e equipe hospitalar uma "confortável ilUSãO, desobrigando-a de pensar na morte, permitindo a fuga de emoções" .

Chega-se a um ponto e m que a equipe de saúde, a família e o próprio paciente conhecem o diagnóstico, prevêem o desfecho, mas não con­ versam entre si . O médico espaça suas visitas, a enfermagem idem, n[o sabem como conversar, sentem-se impot�ntes. O pacien te ica só com todos os seus medos, sem sentir apoio - e morre só, muitas vezes sedado.

Este trabalho pretende iden tiicar os concei­ tos e reações da equipe de enfermagem frente ao

p

aciente terminal - no caso do estudo, pacientes oncológicos. procurando ainda definir em que área de neéessidades humanas está a prioridade na atuação desses proissionais. Pretende-se também deinir quais as reações dos membros da equipe frente ao even to morte , reações estas que enten­ demos como determinan tes do tipo de assistência prestada.

METODO LOG I A

Foi realizada uma pesquisa d e campo, descri· tiva, no Hospital Professor Antonio Prudente

(Londrina, PR) , especializado na assistência a pacientes oncológicos, durante o primeiro semestre

de 1 984. .

A população estudada é constituída de qua­ renta proissionais de enfermagem, assim com­ preendidos : seis enfermeiros, cinco bolsistas (estu­ dantes do curso de Graduação em Enfermagem, que cumprem estágio remunerado na Instituição), dois técnicos de enfermagem, seis auxiliares de enfermagein e 21 atendentes de enfermagem, sendo todos funcionáriQs nas unidades de interna­ ção, UTl, ambulatório e centro cirúrgico.

Os dados foram coletados através de en

Ú

evis­ tas formais, realizadas no período de trabalho dos proissionais, pelas próprias autoras.

Os resultados obtidos serão apresentados em percentuais, não separados por categoria proissio­ n al , uma vez que o padrãO das respostas foi uni­ forme.

RESULTADOS E COMENT ARIOS

A caracterização da população, estudada por categoria proissional , sexo, idade , religião e tempo de formado, está descrita nas Tabelas 1 a 5 .

TAB E LA 1 - População distriburda por categoria profissional.

Categoria

Enfermeiro Bolsista

Técnico de enfermagem Auxi l iar de enfermag·em Atendente de enfermagem

Total

%

1 5,0 1 2,5 5,0 1 5,0 52,5

1 00,0

TAB E LA 2 - População distribuída por sexo.

Sexo

Feminino Mascul ino

Total

%

7 7 , 5 22,5

1 00,0

T AB E LA 3 - População distriburda por faixa etária.

Idade (anos) %

menos de 1 9 1 5,0

20 1 1 29 52,5

30 1 1 39 22,5

401 1 49 1 0,0

Total 1 00,0

(4)

TAB E LA 4 Popul ação d istribu ída por rel igião. TAB E LA 6 - Tipo de assistência considerada prioritária no cuidado de enfermagem ao paciente

Rel igiãJ % terminal.

Catól ica Protestante Esp írita Messiân ica

72,5 Tipo de assistência 20,0

%

5,0 Enfocando plano f rsico 5,0

90,0 5,.0 2,5 Enfocando pl ano existencial

Enfocando plano f rsico e existencial

Total 1 00,0 ---..

----.---.--.---TAB E LA 5 - Popul ação distribuída por tempo de formada *.

Tempo de formado (anos)

menos de O I

0 1 1 1 02

02 1 1 05

05 1 1 1 0

1 0 I 1 26

Total

• F o ram excluldos d a Tab e l a 5 os b o l s i s tas.

%

20,0 1 4,3 34,3 22,9 8,5

1 00,0

Total 1 00,0

Foi constatado que , apesar de a enfermagem centralizar a maior parte de suas ações no campo físico, apenas 5% consideraram priori

t

ários os cuidados físicos. A assistência religiosa foi lembra­ da por apenas 7,5% dos entrevistados. A resposta predominante teve várias justificativas, entre as quais: "Esses pacientes precisnm muito mais da nossa a tenção e carinho quc de remédios."

Perguntando aos entrevistados se já lhes havia acontecido do paciente querer conversar sobre cân­ cer, 1 7 ,5% responderam que não. Dos restan tes, apresentamos na Ta bela 7 as respostas à pergun t a :

"Conseguiu manter um diálogo sobre o assunto? "

TAB E LA 7 - Respostas à pergunta : "Consegu iu manter um diálogo a respeito do câncer com o pa­ ciente ? "

Respostas %

1 . Sim

2 . N ão tem permissão do médico para conversar sobre o diagnóstico com o paciente

45,5 36,5 3. Não conversou para que o paciente não soubesse por esse diálogo o seu diagnóstico

. (são contra falar o di agnóstico para o paciente) 1 5,0 3,0 4 . N ão saberia o que falar

Total

, importante ressaltar que dos 45.5% dos en­ trevistados que conseguiram conversar sobre o câncer com seus pacientes, apenas 1 2,5% decla­ raram ter se sentido tranqüilos durante o diálogo.

Os 3 3% restantes verbalizaram entimentos de

tristeza e diiculdade em conversar.

Pode-se depreender dos depoimentos que a di1culdade reside no como conversar. Não existe nenhum tipo de sistemática de abordagem aos pacientes. Obviamente não se pode exigir um

168 -Rev. Bras. Eu!, Brasília, 3 7 (3/4), juL/dcz. 1 9 84.

1 00,0

comportamento estático, aplicável a todos os pacien t es. porém deveria haver para esses profis­ sionais algum treinamento sobre abordagem, a fim de que os diálogos fossem mais produtivos e menos reticentes.

A maior concentração de informações rece­ bidas recaiu sobre o item "câncer" e o enfoque, segundo

. as respostas, era dado sobre medidas terapêuticas.

(5)

infonnaçoes sobre assistência de enfermagem ao pacie'nte terminal, vários entrevistados relataram ter recebido informações sobre preparo do corpo, o que n[o foi considerado resposta positiva pelas autoras.

Um questionamento a ser levantado sobre os resultados dessa tabela : Como pode atuar satisfa­ toriamente um profissional que não recebeu infor­ maçOes sistematizadas sobre o problema mais grave enfrentado na instituiçãO onde atua ?

Um dos entrevistad0s respondeu que pergun­ taria a todo mundo para confrontar as respostas, pois sabe que a sistemática da equipe é mentir

TAB E LA 8 - Respostas à pergunta : "Você já recebeu algum tipo de informação cientrfica sobre : Morte e morrer, câncer, assistência de enfermagem a pacientes term inais ?"

Respos as

Morte e morrer

Câncer

Assistência de enfermagem

a pacientes· terminais

Sim

%

27,5

52,5 40,0

N ão

%

72,5

47 ,5 60,0

Total

%

1 00,0

1 00,0

1 00,0

TAB E LA 9 - R espostas à pergu nta : "Se você estivesse com sinais e/ou sintomas de câncer, questiona­ ria sobre seu diagnóstico ? A quem perguntaria ?"

Respostas

Não gostaria de saber Perguntaria ao méd ico

Perguntaria ao médico ou enfermei ra Perguntaria à enfermei ra

Perguntaria para quem soubesse ser mais sincero Perguntaria para todos ( para checar as respostas)

Total

para o pacien t e . E o paciente ? Não conseguirá ele também a s respost as que deseja, confrontando

as mentiras diferen tes que receberá dos membros da equ ipe de saúde ?

Pergu n t ando aos quaren t a cn t revisl ados se jü lhes acontcceu de u m pacien te agoniza n t e solici­

tar que pennancccssc m junt o a elc, apcna s tres responderam não. Dos 37 que passaram pela expe­

riência, apenas dois nUo a tenderam à solicitação

%

1 2,5 52,5 5,0 22,5 5,0 2,5

1 00,0

dos pacientes a legando fal ta de tempo. Os 35

restantes definiram seus sent imentos com rela­ ção ao ocorrido conforme discriminado na Ta­ bela 1 0.

A justificativa " fa l ta de tempo" colocada por

dois dos en t revist ados, foi levan tada também por

a l gulls, como justificat iva de não poder se dar

tanto tempo para as cOllversas de "pé de leito" como achariam necessürio.

TAB E LA 1 0 - Respostas à pergunta : "Como se sentiu ficando junto a u m paciente agonizante ?"

Respostas

Sentimento de impotência Sentimento de tristeza, depressão S!ntimento de compaixão

Sentimento le desorientação quanto à melhor atitJde a ser tomada Sentimento ruim, de desconforto com a situação

Sentimento de dever cumprido, de ter ajudado Nenhum sentimento

Total

%

22,9 22,9 5,7 5,7 5,7 3 1 ,4 5,7

1 00,0

(6)

Os en trevistados que responderam expressan­ do sentimentos de dever cumprido, explicaram esse sentimento vagamente, sem conseguirem deinir o porquê da certeza de terem ajudado.

A impotência colocada em 22,9% das respos­ tas revela que não só os médicos têm o mito da onipotência calcado em sua formaçuo. Parte da equipe de enfermagem padece do mesmo mal. Seria importante lembrar que a atuação da enfer­ magem nUo é só na recuperaçUo da saúde, mas também no proporcionar urna morte tranqila, quando essa recuperação da saúde já _lão é mais poss ível.

T ABE LA 1 1 - O paciente terminal deve ser esclarecido q uanto ao seu diagnóstico ?

Respostas

Sim Não

Total

%

67 ,5 32,5

1 00,0

Algumas das justificativas da l esposta NÃO:

- "Contar o iiagnóstico para o paciente pode desesperá-lo e ele tentar suicídio. A gente mata o paciente de nervoso. "

- "Não existe ninguém preparado para saber que tem câncer. Você pode aceitar ter urna doença do coração, da cabeça, mas não aceita o câncer." - "Mesmo que ele desconfie, a esperança é

grande, nós não podemos tirar do paciente a espe­ rança de cura".

- "Depois que conta é pior que n a hora, porque a gente não sabe como. levar a conversa depois".

Algumas justificativas da resposta SIM :

- "Dizem que é contra a ética contar o diag­ nóstico para o paciente, mas é contra a minha ética mentir" .

- "Quando o paciente não sabe o que tem , cada pequena melhora é um abandono de trata­ mento. "

- "Mais cedo o u mais tarde o p aciente acaba descobrindo" .

- "Quando o paciente sabe o que tem se cuida mais, aceita melhor o tratamento. "

- "O diálogo fica muito mais franco, sem disfarces. "

TAB E LA 1 2 - Respostas à pergunta : "Qual o significado da doença câncer para você ?"

Respostas

Uma doença como outra qualquer Encara com esperança de cura Sofrimento

Sofrimento e morte Morte

Uma coisa da pior espécie, não tem objetivo Tenebrosa, desfigurante, é o apodrecimento em vida

Total

Apenas 1 0% dos entrevistados encara o câncer

com relativo otimismo. A esmagadora maioria de

90% coloca o câncer como tlma doença especial,

. geradora de morte , sofrimento e mutilação. Essa é também a caracterização que NUNES ( 1 980) faz do câncer. Segundo a autora, essa doença repre­ senta essa tríplice ameaça, e mesmo que ela nem sempre mate, m utile ou provoque sofrimento, a imagem criada é a de "logotipo da morte".

Alguns entrevistados verbalizaram sentimento

de medo com relaçuo à morte como passagem,

demonstrando rel ativa confiança nUllla vida

pos-1 7 0 -Rev. Bras. En., Brasília, 37 (3/4 ) , j ul./dez. 1 9 84.

%

7,5 2,5 20,0 1 5,0 42,5 2,5 1 0,0

1 00,0

terior melhor que a atual. Mesmo com essa fé ,

sentiam medo da passagem, medo de sofrer dores. Duas entrevistadas que demonstraram aversão a velórios, deniram essa aversão em relaçãO ao mor­ to e nUo ao ambiente do velório. Uma delas colo­

cou : "Aqui no hospital a funerária desaparece com o morto. Deveria ser assim também fora daqui". Esse tipo de aversão ao cadáver, às manifestações da morte, à tanatomorfose é entendida por RODRI­ GUES ( 1 983) como negação da morte : "fazer su­ mir o morto , banir a morte, conservar a ilusão de

(7)

.-TAB E LA 1 3 - Respostas à pergu nta : "O que significa morte para você?"

Respostas

Passagem para uma nova vida, melhor que esta É sempre uma perda irreparável

N ão aceito Sofro muito

Morte é o fim, não existe outro lugar I nevitável e natural

N ão suporta velório, queria que o corpo sumisse

Total

Declararam 45% dos entrevistados, encarar a morte proissionalmente da mesma mancira como encaram-na como pessoas, quando existe apego ao paciente . Houve ainda quem diferenciasse a visão de morte "proissional " e "pessoal" , ale­ g:mdo encarar a morte dentro do hospital como um ai ívio do sofrimento.

Muito se falou, na introdução do trabalho, a respeito da confrontação da equipe de saúde com sua própria mortalidade , quando lidam com pacientes terminais. Fazendo a correlação com as respostas dadas sobre o conceito de morte, pode­ ria-se levantar outro questionamento importante : como podem os profissionais de enfcrmagem proporcionar uma assislência eficaz na área psico­ espiritual ou existencial se ainda não resolveram seus próprios conflitos nessa área?

TAB E LA 1 4 - Respostas à pergu nta : "Você já pensou a respei to de sua própria morte ?"

Respostas

Sim N ão

Total

%

82,5 1 7,5

1 00,0

e importante ressaltar que esses 1 7,5% dos entrevistados que nunca pensavam a respeito de sua própria morte se incluem tanto no grupo dos que aceitam a morte com "naturalidade", como no dos que têm sérios problemas em aceit�-la. Os que responderam SIM à pergunta da Tabela 1 4,

%

50,0 1 0,0 1 0,0 7,5 7,5 1 0,0 5,0

1 00,0

revel aram não aceitação e conlito na sua maioria (63,6%)

As autoras conseguiram, com as entrevistas, delinear uma linha de comportamento dentro da instituição que será relatada em seguida.

CONCLUSÃO

Buscando correlacionar os dados obtidos, foi construído o gráfico seguinte , que analisaremos descrevendo o porquê das inluências de um dado sobre o outro e como essa reação en cadeia poderia ser rompida.

As autoras consideraram a "falta de informa­ ções cientíicas sobre a morte e o morrer" como determinantes de toda a problemática represen­ tada no gráico. Por quê !

Num estudo realizado neste mesmo hospital , HADDAD ( 1 983) enfatizou a necessidade de "grupos de apoio", onde os enfermeiros que pres­ tam assistência a pacientes terminais discutem com psicólogos as angústias e ansiedades que surgem no trato diário com esses pacientes.

Concordamos com o parecer da autora sobre a necessidade dos "grupos de apoio" e de uma e quipe de psicólogos atuando concomitante­ mente junto aos pacientes e à equipe de sáúde , porém acrescentaríamos mais duas necessidades a serem sltisfeitas para se amenizar mais eicaz­ mente o problema : a discussão sobre morte tam­ bém com enfoque sociológico e filosóico, com toda a equipe de enfermagem, e o treinamento dessa equipe em técnicas de abordagem.

A Morte e o Morrer devem ser entendidos como duas coisas distintas. A morte é uma incóg­ nita. Não a podemos estudar uma vez que não

(8)

Se estivessem no lugar do paciente,

I

F a l t o de i n form ações cient rficas

I

gostariam de saber seu d iagn6st ico. - - - � sobre a morte e o m o rrer.

I I I

E ncaram sua pr6pria m o rte com confl ito interior.

Ó paciente deve con hecer seu d iagn6stico.

D ificuldade em acei tar o evento morte.

--- -- ---F a l to d e i n fo rmação cicnt lfica sobre o câncer e sobre ass i s tência d e enfermagem a pacientes termi· nais.

Caracterização câncer.

N ão sabem como conversar sobre o- câncer e sobre a morte com os pac ien tes ( angúst i a , impotência) .

podemos ncm sequer pensá-Ia . Como bem dcfine

ROD RIGU ES ( 1 983), "a t ravés de que meios

poderia um ser pensant e pensar sua condiç;io de

não·pensan te ? A que tipo de lógica recorreria

um existente para pensar a n ão-existência, se o próprio ato de pensar é a mais palmar rejeição do objeto pensad o ? "

Estudamos, portant o , os relexos da morte . Relexos no inter-relacio.amento de pessoas, na alteração da composiçãO social dos grupos. A pro­ blemática maior passa a ser a ausência de um ser e as conseqüências dessa ausência. Morte é ,'portanto, um evento principal mente sociológico, p sicológico, ilosófico, e os elementos dessas três ciências devem compor o que denomilUunos "informações cient íficas sobre a morte " .

E o m orre r ? Como s e deiniria ?

Curiosamente, o medo mais vezes expressado nas entrevistas não diz respeito ao depois da

mor-, 1 7 2 -R ev. Bras. EII., Brasília, 37 (3/4 ) , j ul./dcz. 1 984.

trágica da doença

te, (sor,) dos entrevistados acredita numa ou tra vida melhor, depois desta), mas ao "an tes " .

O medo maior é o do so frimento, da agonia, da dor física. Esse é um medo que dificilmente se conseguiria eliminar dos pacientes ou da equipe , uma vez que é , simplesmente, uma manifestação do nosso instinto de sobrevivência. Podemos sim , tentar a tenuá-lo.

Um in.iv:duo que já percorreu as cinco fases da morte definidas por KÜBLER-ROSS ( 1 98 1 ), encontrando-se na úl tima, a da aceitação, terá esse medo bastante atenuado) porque a ele não estarão somadas as angústias de tarefas inacabadas, de revol ta, de negação da morte .

(9)

Como indicação possíve l , a técnica de Relação de Ajuda, definida por LOF F REDI ( 1 980) como �'relações facilitadoras que favorecem a liberação de uma atitude consciente , que perm ite ao indiví­ duo aprender a enfrentar suas dificuldades" .

O treinamento do como falar e ouvir e a dis­ cussão e reflexão do que fal ar aos pacientes e por­ que falar, no entender das autoras. conseguiria diminuir a ansiedade da equipe de saúde quanto ao cuidado dos pacientes terminais. no caso em

estudo. dos oncológicos. Conseguindo-se êxito

nessa tarefa , o çonv ívio com a morte passaria a ser fator de cresciment o pessoal dos memb ros da equipe e não uma fonte de angústias e desajus­ tamentos.

CHE D A , M. L. C. & CR I STOFOLLI, D. A . S. Nursing tcam and the prob lcmatic or personalized assi stancc

01' terminal paticnts. R e I'. Bras. Enf , Brasília, 3 7

( 3 /4 ) : 1 65 - 1 7 3 , Jul./Dcc. 1 9 84.

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Referências

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