PLANTA DANINHA V (2): 8-13, 1982
CON TRO LE DE AZE VÉM
(Lol ium mult iflo rum L.),
E GORGA
(Spergula arvensis
L.)
E S E L E T I V I D A D E D E H E R B I C I D A S A S
CULTURAS DE TRIGO, CEVADA E CENTEIO
J. A. R. O.VELLOSO* &R.DAL'PIAZ** * En g.' Ag r. ; Pe sq ui sado r do Ce nt ro Na ci on al de
Pe sq ui sa de Tr ig o/ EM BR AP A, Pa ss o Fu ndo, RS, 99100.
** Téc. Agric., Centro Nacional de Pesquisa de Trigo/EMBRAPA, Passo Fundo, RS, 99100.
RESUMO
Fo ra m re al iz ad os tr ês exp er im ent os a ca m-po em 1980, no Centro Nacional de Pesquisa de Tr ig o/ EM BR AP A, Pa ss o Fu nd o, RS , vi sa nd o co nh ece r o co mp ort ame nt o do s he rb ic id as dic lo -fop, dicamba, a associação 2,4 D com dic amba e a m i s tu r a d i c l o fo p + ( 2 ,4 D + d i c a m b a ) , n o cont ro le de aze vé m (L ol iu m mu lt if lo ru m L. ) e gorga (Sp ergula arv ensis L.) . Ao mesmo tempo foi avaliada a seletividade que estes herbicidas a p re s e n t a m à s c u l tu r a s d e t r i go (T ri ti c u m aest iv um L. ), ce va da (H orde um vu lg are L. ) e centeio(Secale cereale L.).
Os re su lt ad os da av al ia çã o vi su al de fi to to-x ic id ade mo stra ram que o d ic amb a causou o ma io r grau de injú ria pa ra as três cu ltur as . Ce -vad a mostrou se r a cu ltu ra mais se nsí ve l ao dicamba na fase inicial. Trig o, ce vada e centeio foram tolerantes ao diclofop.
A m i s t u r a d i c l o f o p + ( 2 ,4 D + d i c a m b a ) nã o co ntrolou o azevém nas trê s cu lturas. Esta mi st ur a ap re se nt ou ai nd a re du çã o no co nt ro le de gorga, nas culturas de cevada e centeio.
Dicamba oc asionou re dução no re ndimen to de grão s da s cult ur as , mo st ra ndo se r po uc o sele ti vo na dos e te sta da. Ce nt eio so fr eu um a re du çã o no re nd im ent o de gr ão s ca us ad a po r di -cl of op , enq ua nt o qu e a mi stur a di -cl of op + (2 ,4 D + d i ca m ba ) fo i se le ti v a p a ra to da s a s c u l -turas.
PA LA VR AS CH AV E: Co nt ro le , se le ti vid ad e, trigo, cevada, centeio.
SUMMARY
CONTROL OF RYE GRASS (Lolium multi-forum L.) AND CORN SPURRY (Spergula arvensis L.), AND SELECTIVITY OF HER-BICIDES TO WHEAT, BARLEY, AND RYE CROPS
Three field experiments were carried out, in 1980, at the National Wheat Research Cen-ter/EMBRAPA, Passo Fundo, RS. They aimed at testnig the responses of herbicides diclofop,
dicamba, the association 2,4 D with dicamba, and the mixture diclofop + (2,4 D + dicamba) in the control of rye grass (Lolium multif lorum L.) and corn spurry (Spergula arvensis L.). Si-multaneously, the selectivity of these herbicides to whe at (Tritic um aes tiv um L.) , barl ey (Ho r-deu m vul gare L.) , and rye (Secale cereale L.) was evaluated.
The results of visual evaluation of phytoto-xicity showed that dicamba caused the greatest degree of inj ury to the three cro ps stu die d. Barley was the most sensitive crop to dicamba in the initial growth stage. Wheat, barley, and rye were tolerant to diclofop.
Mixture diclofop + (2,4 D + dicamba) pro-vided no control of rye grass in the three crops. Additionally, this mixture showed a reduction in the control of corn spurry in barley and rye crops.
Dicamba caused reduction in grain yield of the three crops, showing to be little selective at the tested dosage. Rye suffered a reduction in grain yield caused by diclofop, while the mixture diclofop + (2,4 D + dicamba) was selective to all crops studied.
KEYWORDS: Control, selectivity, wheat, barley, rye.
INTRODUÇÃO
A ocorrência de azevém (Lolium multiflorum L.) e gorga ( Spergula arvensis L.) como infestantes em lavouras de trigo
(Triticum aestivum L. ), cevada (Hordeum vulgare L.) e centeio (Secale cereale L.), pode causar perdas consideráveis no rendi-mento de grãos, qualidade de semente, bem como dificultar as operações de co-lheita.
tra-9 CONTROLE DE AZEVÉM E GORGA
dicio nalmente com herbi cidas à base de 2,4 D e MCPA. Esta prática fez com que as ervas tolerantes a estes compostos quí-micos, passassem a constituir um sério problema. O cipó-de-veado (Polygonum convol vulu s L.) é um exem plo dis to, Costa et al. (4 ) ve ri fi ca ra m qu e he rb ic id as à base de 2,4 D e MCPA são pouco eficien-tes no con trole des ta esp éci e dan inh a, qu e al ém de re du zi r o re nd im en to de gr ão, di fi cult a a pr od ução de se me nt e de trigo. Segundo Carvalho (3 ), 20% dos lotes amostrados pelo Ministério da Agri-cultura, RS, no período 1976/77, foram considerados fora de padrão pela presen-ça de cipó. Outr o exem plo importa nte é o aum ent o da oco rrê nci a do aze vém co-mo pla nt a daninh a em tr ig o e cev ad a, pois, sendo uma gramínea com hábitos semelhantes ao destas culturas, o seu controle torna-se bem mais difícil.
Venturella & Rückheim (7) encon-tra ram re duç ão de 60% no ren dim ent o de grãos de trigo, causada pela alta in-fest ação de azev ém, gorg a e cipó-de-vea-do. Ist o dem ons tra o pot enc ial com pet i-tivo destas espécies dannihas.
Bor go & Rosito (1) ve ri fic aram que a associação 2,4 D + dicamba é muito efi-ciente no controle do cipó-de-veado em trigo. Entretanto pouco se conhece da se-leti vida de dest es comp osto s às cult uras de cevada e centeio.
Diclofop tem se mostrado muito apropriado para o controle de azevém na cul tur a de tri go, segundo Bor go & Ros i-to (1) , Fle ck & Paulis tsc h (5) e Bor go et al. (2). Este composto apresenta seletivi-dade a esta cultura, proporcionando um excelente controle desta gramínea.
No Rio Gran de do Sul, nas cult uras de inverno é comum a ocorrência de mono e dicotiledôneas em uma mesma área. Isto obriga, muitas vezes, a utilização de mais de um herbicida. Entretanto, algumas destas associações não são viáveis, pois aumentam os riscos de injúria às culturas e podem, ainda, diminuir o controle das plantas daninhas, o que não é des ejá vel. Vel loso et al. (6) ve rif ica ram que a associação diclofop com herbicidas de pós-emergência, como basagram e
aci-fluorfen, reduziu a ação do diclofop, com-prometendo o controle das gramíneas.
O presente trabalho visou estudar o co mp or ta me nt o do dicl of op , di ca mb a, 2,4 D + dicamba e a mist ura dicl ofop + (2,4 D + dicamba), sobre o controle de az ev ém e go rg a, be m co mo ve ri fi ca r o grau de seletividade que estes compostos apresentam às culturas de trigo, cevada e centeio.
MATERIAIS E MÉTODOS
A presente pesquisa foi conduzida a campo em 1980, no Centro Nacional de Pe sq ui sa de Tr ig o/ EMB RA PA , Pa sso Fund o, RS. Os ex peri ment os (3) de tr i -go, cevada e centeio, foram instalados em so lo pe rt en cent e à Un id ad e de Ma pe a me nt o Pa ss o Fu nd o (L at os so lo Ve rm e -lho Escuro Distrófico), textura argilosa. Apresenta as seguintes características fí-si ca s e qu ím ic as : ar ei a gr os sa 8, 9% ; ar ei a fi na 21 ,6 % ; si l te 16 ,4 %; ar gi la 53,1%; matéria orgânica 4,0%; pH 4,6 ; fós for o 7 ppm ; potássio 58 ppm ; Ca + Mg 7,5 me/ 100 g e Al tro cáv el 2,2 me/ 100 g.
A adubação de manutenção foi rea-lizada conforme as recomendações pro-venientes da análise executada pelo labo ra tó r io de An ál is e de So lo s do Ce n -tro Nacional de Pesquisa de Trigo da EMBRAPA. A adubação nitrogenada foi completada com a aplicação de 20 kg/ha de nitrogênio sob a forma de uréia, em cob ert ura , no per íod o de per fil ham ent o das culturas, cinco semanas após a emer-gência.
A semeadura de trigo, cevada e centeio foi realizada manualmente em filas espaçadas de 0,2 m. Uma densidade mé-dia de 300 planta s por metro quadra do do cul tiva r de trigo CNT 10 e 225 pla n tas do cultiv ar de cev ada FM 404 e cen -teio branco cul t ivar Abr uzzi foi usa da. O azevém foi semeado a lanço empre-gando-se a densidade de 20 kg/ha de se-mente.
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propanóico) 720 g/ha, dicamba ( ácido 3,6-dicloro-0-anísico) 392 g/ha, a associa-ção 2,4 D ( ácido 2,4 diclorofenoxiacético ) com dicamba (576 + 97 g/ha) e a mist u ra diclof op 720 g/h a + (2, 4 D + dicam -ba) 576 + 97 g/ha.
As aplica ções dos comp ost os quími -cos foram feitas 30 dias após a emergên-cia das culturas, no estádio de perfilha-mento. Nesta ocasião, as plantas de aze-vém encontravam-se com duas a quatro folhas de 10 cm de altura e as de gorga com quat ro a cin co fol has e 4 cm de al -tura. As plantas daninhas presentes na área experimental eram exclusivamente des tas dua s espéc ies . Par a a apl ica ção dos produtos, empregou-se um pulveriza-dor cos tal , de gás car bôn ico, ope rad o a 4,21 kg/cm2 de pressão. Houve deposição da pulverização numa faixa de 1,20 m de larg ura e o volume da calda aplicada foi de 250 1/ha. Utilizaram-se bicos de pulve-rização, tipo leque n.o 11003, espaçados de 40 cm entre si.
Os efeitos dos tratamentos foram analisado s atrav és de obser vação visual de fitotoxicidade realizada 15 dias após a aplicação dos herbicidas. Utilizou-se a es-cala de ALAM (sendo 1 — morte total de plantas ; 2 — muito severo ; 3 — dano se ver o ; 4 — da no mo de ra do ; 5 da no leve e 6 — nenhuma injúria às plantas). Para a aval iação da população das plan -tas daninhas foram realizados dois levan-tamentos, o primeiro antes da aplicação dos herbicidas e o segundo 30 dias após, densid ade popula cional de planta s das três culturas e o rendimento de grãos. Fo ra m co lh id as as qu at ro fi le ri as ce n -trai s das parc elas (áre a útil de 2,0 m2). O material, após trilhado e limpo, foi pe-sa do e tr an sf orma do em kg/ ha , tend o sido corrigida a umidade dos grãos para 13%.
Os tratamentos foram arranjados no delineamento experimental de blocos ao acaso com quatro repetições.
Os dados coletados foram submeti-dos à análise da variância, e as médias dos tratamentos foram comparadas apli-can do-se o teste de Dunapli-can ao nível de 5°/ode probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados dos três ensaios encon-tram-se nos Quadros 1 e 2.
Para a fitotoxicidade, avaliada visualment e, as média s encon tr ada s per mit i -ram verificar que dicamba na dose estu-dada (392 g/ha ), foi o composto químico que maior efeito fitotóxico apresentou às trê s cultur as. A mis tur a diclof op + (2, 4 D + dicamba) mostrou-se menos seletiva para trigo e cevada (Quadro 1). Os re-sultados encontrados com a cultura da ceva da, mostrara m se r esta, a cult ura mais sensível ao dicamba. Em todos os tratamentos em que participou este com-posto manifestaram- se sintomas de injú-ria foliar. O centeio foi a cultura que mostrou, inicialmente, mai or tolerância ao s he rb ic id as , ap re se nt an do ap en as danos leves. Trigo, cevada e centeio mo st ra ra m se r to le ra nt es ao di cl of op (Quadro 1).
Diclofop foi o único tratamento que efi cie nteme nte con trolou o aze vém nos três experimentos, apresentando um con-trole superior a 90%.
A mi st ur a di cl of op + (2 ,4 D + di camba) mostro u bai xo contro le do az e -vém (Quadro 1 ), confirmando os resul-ta do s an te ri or me nt e en co nt ra do s po r Velloso et al. (6). Os autores observaram que a mist ura de dicl ofop com bent azon e com acifluorfen, provocou a perda do efeito graminicida do diclofop, devido à incompatibilidade da mescla.
Os herbicidas que se destacaram no con trole da gor ga, nas trê s cul tur as, fo-ram dicamba e a combinação (2,4 D + di-camba ). A mistura diclofop + (2,4 D +dicamba) apresentou nas culturas de ce-vada e centeio, uma redução no controle desta planta daninha de 72%, enquanto que o diclofop não a controlou.
CONTROLE DE AZEVÉM E GORGA
inicial destas duas culturas, poderia ter interceptado parte do herbicida no mo-mento da aplicação, protegendo as plan-tas de Borga, e possibilitando o escape da espécie ao controle. No trigo, que apre-sentou um desenvolvimento inicial: me-nor, tal não ocorreu.
Não houve diferenças entre os tra-tamentos, quanto à redução da população de plantas de trigo, cevada e centeio. Isto mostra que os herbicidas testados não afetaram a densidade de plantas das três culturas.
As di fer en ças em re nd im en to de grãos observadas nos três experimentos foram significativas (Quadro 2 ). ' Foi constatado que dicamba ocasionou redução no rendimento de grãos das três cul -turas, mostrando com isso ser poucp se-letivo. Apenas o centeio apresentou redu-ção de rendimento no tratamento com dic lof op. Ist o ev ide nciou ser este com -posto seletivo às culturas de trigo é de cevada.
A mi st ur a di cl of op + (2 ,4 D + di -camba ), mostrou-se seletiva para todas as culturas testadas pois a produção de grãos obtida não diferiu da testemunha capinada.
Q u ad ro 1 . Fito to x icid ade , pe rce ntage m de co ntro le d e p lantas d aninhas po r e sp é cie , e m re spo sta à ap licação de he rb icid as de pó s- emer gê ncia nas cultur as de tri go (Tri ticum aest ivum L.), ce vada (Hordeum vulgare L.) e ce ntei o (Secale cere ale L.),
Qu adro 2. Po pu laçã o de plantas e rendimen to de grãos, em resposta à apli cação de he rbicidas de pó s -emer gê ncia nas cultur as de trig o
