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Displasia fibrosa do osso temporal e vasculopatia oclusiva cerebral relato de caso.

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Academic year: 2017

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DISPLASIA FIBROSA DO OSSO TEMPORAL E VASCULOPATIA

OCLUSIVA CEREBRAL

RELATO D E CASO

ELAINE INAMORATO * — ROBERTO GOMES NOGUEIRA **

SUSANMEIRE N. MINATTI-HANNUCH *** — ELIOVA ZUKERMAN ****

RESUMO — Displasia fibrosa é doença óssea benigna de etiologia desconhecida. O envolvi-mento craniofacial pode causar distúrbios neurológicos. O diagnóstico é feito pelo aspecto radiográfico. É apresentado uni caso d e associação entre quadro clínico de displasia fibrosa, com envolvimento do nervo facial, infartos cerebrais e título elevado de anticorpo anticar-diolipina. A angiografia mostrou oclusões de várias artérias cerebrais. O1 exame pós-morte

revelou infarto recente do miocárdio, amolecimento cerebral isquêmico e arteriosclerose gene-ralizada.

PALAVRAS-CHAVE: displasia fibrosa, trombose cerebral, anticorpo anticardiolipina.

Fibrous dysplasia of t h e temporal bone and cerebral occlusive vaseulopathy: c a s e report.

SUMMARY — Fibrous dysplasia is a benign disease w i t h unknown etiology. Skull attempt may cause neurological disorders. The diagnostic can be made through radiological exami-nation. A case of a patient w i t h right temporal bone involvement w i t h facial palsy, right parietal lobe infarctions and elevated anticardiolipin antibody titers is presented. Cerebral angiography showed occlusion of several cerebral arteries. P o s t mortem examination displayed recent myocardial infarction, ischemic cerebral softening, a n d generalized arteriosclerosis. T h e simultaneous occurrence of fibrous dysplasia and a probable anticardiolipin syndrome is commented.

KEY W O R D S : fibrous dysplasia, cerebral thrombosis, anticardiolipin antibody.

A displasia fibrosa ( D F ) , descrita em 1891 por von Recklinghausen, é doença progressiva, benigna e de etiologia desconhecida, na qual há substituição do tecido esponjoso da medula óssea por tecido fibroso anormal, formado por metaplasia óssea e que contém trabéculas de o s s o primitivo pouco calcificadas, justificando o nome proposto por Lichtenstein em 1938 2,14. A D F se apresenta nas formas monostótica (a mais frequente), poliostótica sem endocrinopatia e poliostótica com endocrinopatia (a mais rara), sendo então chamada de síndrome McCune-Albright. O acometimento ocorre durante o crescimento ósseo, sendo ao redor de 14 anos, habitualmente, na forma monostótica, dos 11 anos na poliostótica sem endocrinopatia e dos 8 anos na poliostótica com endocrinopatia 1 4> ! 6 .

A oportunidade de examinar um paciente com D F no qual se verificou título sérico elevado de anticorpo anticardiolipina motivou o presente registro.

Setor de Investigação e Tratamento das Cefaléias (SITC) d o Departamento de Neuro-logia e Neurocirurgia (1) e Departamento de Diagnóstico por I m a g e m (2) da Escola Paulista de Medicina: * Pós-graduanda ( 1 ) ; ** Professor A s s i s t e n t e d e Neurorradiologia ( 2 ) ; *** Dou-tor em Medicina e Médica A s s i s t e n t e ( 1 ) ; **** Professor Adjunto e Chefe do SITC (1).

(2)

OBSERVAÇÃO

ARS, paciente do sexo masculino, com 39 anos de idade, acometido s u b i t a m e n t e de paralisia facial periférica d i r e i t a h á 7 dias e hemiparesiia completa desproporcionada de predomínio b r a q u i a l n o dimidio esquerdo, além de hemi-hipoestesia de m e s m a localização. Após 5 dias novo icto, com, piora do déficit motor, mais acentuado no m e m b r o superior esquerdo. E s t e déficit permaneceu i n a l t e r a d o até o q u i n t o mês após o icto, quando ocorreu o óbito. F o r a m realizados os seguintes exames — H e m o g r a m a : eritrocitos 5000000/mm3; hemoglobina 14,5g/dl; hematócrito 4 5 % ; glóbulos brancos 6100/mm3, com diferencial n o r m a l ; plaquetas 408000/mm3. V H S : 40mm n a primeira hora. 'Fosfatase alcalina: 189/UL. Cálcio: 9,4mg/dl; F ó s f o r o : 4,2mg,/dl. Eletroforese de proteínas séricas (em g / d l ) : a l b u m i n a 3,66; alfa-1: 0,17; alfa2: 0,66; b e t a : 1,16; g a m a : 2,66; proteínas t o t a i s : 8,30. P r o t e í n a de Bence J o n e s : negativa. Colesterol total 245mg/dl; H D L 33mg/dl; L D L 187mg/dl. U r i n a tipo 1 normal. Reação p a r a anticorpo anticardiolipina positiva (1/640). FAN negativo; CH50: 252U. R X do c r â n i o : aumento d a densidade e espessura do osso temporal direito. E s t u d o radioló-gico do esqueleto; normal. Tomografia computadorizada de crânio (Fig. 1 ) : m o s t r o u a s alterações observadas n o R X d e crânio e á r e a s isquémicas n a s regiões fronto-parietal e tem-poral direitas. Angiografia c e r e b r a l (Fig. 2 ) : oclusão total d a a r t é r i a carótida i n t e r n a di-reita no nível d a bifurcação, oclusão parcial n a origem d a a r t é r i a cerebral a n t e r i o r esquerda e opacificação d a s a r t é r i a s cerebrais anteriores a t r a v é s de anastomoses pericalosas com o sistema v e r t e b r o basilar. Biópsia do osso temporal (efetuada n a ocasião em que foi feita a descompressão do osso temporal) revelou cortical óssea normal e material necrótico, não sendo conclusiva. A verificação de óbito, realizada no I n s t i t u t o Médico Legal, mostrou infarto a g u d o do miocárdio, amolecimento cerebral isquémico e arteriosclerose generalizada.

COMENTÁRIOS

DF é a mais frequente das doenças esqueléticas benignas que acometem o

crânio !6. O envolvimento craniofacial ocorre em 10% na forma monostótica, variando

(3)

fre-quentemente afetados. Os ossos temporais são afetados em cerca de 18% dos

casos

14,16.

Conforme o grau de envolvimento, pode haver deslocamento do globo

ocular, compressão do nervo óptico e comprometimento do nervo olfatorio, causando

distúrbios visuais, hiposmia ou anosmia. O envolvimento do osso temporal pode causar

«tinnitus», hipoacusia neurossensorial progressiva, distúrbios da função vestibular e

paralisia facial periférica

4

.

1 4

.

O diagnóstico da DF é feito pelo exame radiológico convencional

1 2

. Nos

pa-cientes com sintomas neurológicos, o estudo radiológico deve compreender todo o

esqueleto, mesmo na ausência de outras manifestações clínicas, pois são comuns as

formas poliostóticas assintomáticas

4

A angiografia cerebral pode ser indicada para

o diagnóstico diferencial com meningeoma cm p l a c a

1 1

; na DF as alterações

angio-gráficas são exclusivamente extracranianas, sendo possível a ocorrência de dilatação

da artéria temporal superficial e seus ramos, presença de pequenos vasos anormais

extracranianos, opacificação precoce de grandes veias e aneurismas arteriais e venosos

extracranianos n . Alguns autores acreditam que, na forma monostótica, o diagnóstico

deve ser confirmado por biópsia

i 3 ,1 4

.

Entretanto, Freire e col. a indicam apenas em

casos excepcionais

4

.

(4)

A cirurgia está indicada nos casos em que ocorre compressão de nervos ou

alterações estéticas importantes. Cerca de metade dos pacientes cirúrgicos necessita

de duas ou mais intervenções. As compressões recidivam em cerca de 25% dos

casos !5.

O caso por nós relatado é compatível à forma monostótica de DF e o

acome-timento do nervo facial, cuja sintomatologia deu início ao quadro clínico, é explicado

pelo comprometimento do osso temporal. As alterações vasculares encontradas não

são descritas na DF e, no caso, fazem parte da síndrome da anticardiolipina, na qual

existem alterações oclusivas. A anatomia patológica mostra a parede do vaso normal

ou com edema endotelial, não sendo encontrados infiltrados celulares próximos do

vaso na região comprometida. Acredita-se que a doença vascular oclusiva ocorra por

reação imune a nível da cascata de coagulação causando trombose e não por alteração

na parede do vaso 10.

A síndrome da anticardiolipina caracteriza-se pela presença de abortos

recor-rentes, trombocitopenia, tromboses, coréia, epilepsia e acidente vascular cerebral

1.5-9.

Outras condições autoimunes podem estar associadas à doença vascular oclusiva e

elevado título de anticorpo anticardiolipina. Entre elas encontram-se o lupus

eritema-toso sistêmico em 23 a 42% dos casos, a artrite reumatóide cm 33% dos casos e em

28% dos pacientes com doença de Behçets.

No presente relato verificamos DF e vasculopatia arterial oclusiva com elevado

título sérico de anticorpo anticardiolipina sem, no entanto, preencher os critérios

clí-nicos e laboratoriais para quaisquer das doenças autoimunes citadas. Esta associação,

até onde é do nosso conhecimento, não foi descrita na literatura.

R E F E R Ê N C I A S

1. Brey R L , H a r t RG, S h e r m a n DG, Tegeler CH. Antiphospholipid antibodies and cerebral ' isquemia in y o u n g people. Neurology 1990, 40:1190-1195.

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