INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MARIA FRANCISCA THERESA PINTO FERREIRA
A IMAGEM DA MULHER DE MEIA-IDADE NOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL
TIISOP F383i
FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS
liA IMAGEM DA. MULHER DE MEIA-IDADE NOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL"
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, .salã.lios
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
"A IMAGEM DA MULHER DE MEIA-IDADE !'tOS MEIOS
DE COMUNICAÇÃO SOCIAL"
por
MARIA FRANCISCA TKERESA PINTO FERREIRA
Dissertação submetida como requisito parcial para ob tenção do grau de
MESTRE EM PSICOLOGIA
Ma.IL..i.a. Ca.lLol..i.rr.a.,
que ..i.rr...i.c..i.a. a.golLa. a. 4Ua. lu~a..
Adela...i.de,
A
Dra. Monique Augras, por sua orientação, pelo interesse de-monstrado, por suas observações e intervenções sempre
perfeitamente l6gicas, incisivas & esclarecedoras;
ao Amigo e Professor
a
de Almeida, pelo apoio constante, pelodesprendimento, pela confiança, pelos conhecimentostrans
mitidos;
i Teresa, pelos ensinamentos, incentivos e.carinho com que sem
pre acompanhou meu crescimento;
is minhas av6s, por suas histórias e seus exemplos;
i Débora, pela colaboração e atenção dedicada.
Finalmente,
a meus pais e irmãos, que sempre souberam fazer de nossa con
-vivência uma relação de amor, e,
nin memoriam" , ao Piragibe, por tudo o que me ensinou.
o
presente trabalho teve por finalidade investigara posição ocupada pela mulher dita de meia-idade nos meios de
comunicação social. Para tanto, foram selecionadas cerca de
quinze Revistas Femininas, editadas pela Bloch e Abril Cultu
-ral, tendo sido as fotos e ilustrações apresentadas em tais
veículos de comunicação, submetidas ã Análise de Conteúdo,
pa-ra a qual se contou com uma equipe formada por quatorze juízes,
selecionados aleatoriamente.
Os estímulos apresentados foram classificados em
três categorias, quais sejam, "mulher jovem", "mulher de
meia-idade" e "mulher idosa", e os resultados obtidos submetidos a
uma análise lógica e estatística.
Efetuou-se um estudo sobre a condição da mulher, s~
gundo as dimensões biológica, social e psicológica,
considera-dos aspectos relativos
ã
mítica feminina, além de um-breve hi~tórico sobre a situação da mulher no contexto social do Pais.
Foram, também, observados dados referentes
ã
Psicologia do Consumidor.
A partir dos resultados obtidos constatou-se que a
incidência de estímulos classificados como sendo mulheres de
meia-idade não foi significativa, alcançando, a figura da
mu-lher jovem, a quase totalidade dos estímulos apresentados em
res de mais idade.
Observou-se, também, uma tendência acentuada a se
classificar na categoria "jovem" figuras femininas que se apr~
sentassem como sexualmente atraentes, fisicamente belas e, ain
da, a de artistas populares - esta, mesmo naqueles casos em
que, reconhecidamente, se sabia possuidoras de idade superior
aos 43 anos.
Desse modo, concluiuse que a figura feminina cor
-respondente à mulher considerada de meia-idade, inexiste como
forma de apelo social, o que contribuiu, sobremaneira, para
tornar ainda mais conflitivo um período já crítico em si mesmo,
como o
é
o climatério.The objective os this work was to study the degree
of participation of the middle age woman in the media of
social communication in Brazil.
About 15 magazines, published by "Bloch" and
"Abril Cultural", have been selected for ""this study. The
readers basic characteristics and profiles have been obtained,
from the publishers, for each one of the above mentioned
magazines.
The photographs and illustrations in the magazines
were submitted to "Content Analysis", being classified in
three different groups - " the young woman", "the middle age
woman", and "the old woman" - by 14 randomly selected judges.
After the classification the results were submitted
to a logical and statistical analysis.
It was also investigated the condition of the
woman. considering the dimension of the biological, social
and psychological leveI, and some aspects related to the
mythicism of the feminine being. A short historical review
about the woman situation in the social environment of Brazil
is also presented, as some data about the Consumer's
Psychology.
. '
being almost alI stimuli in the class "young woman", even in
the media said to be directed to middle age women.
The study shows that, independent of published
matter and magazine, almost the totality of obtained stimuli
is concentrated in the class "The young woman".
1-I t is presented, in the conclusion", that "the
middle age woman" does not exist as a form of social appeal,
whit must contribute to maintain conflitive such a period as
the climacteric .
QUADRO I: Proporção de estímulos classificados nas cate
gorias A, B, C e D, por revista --- 92
QUAD~O 11: Proporção de estímulos classiiicados nas categ~
rias A, B, C e D, por revista --- 93
QUADRO JII: Média das proporçoes dos estímulo? classifi cados, respectivamente, por 14 e por 12 juí
-zes, em cada categoria, em todas as revistas ---- 94
QUADRO IV: Estímulos nao aproveitados, por revista --- 94
QUADRO V: Total de estímulos aproveitados, por revista ---- 9S
QUADRO VI: Média da proporçao de estímulos que incidem
em cada categoria, em todas as revistas --- 9S
.'
ANEXO I: "Perfil dos Leitores" --- 112
ANEXO 11: Proporção de Estímulos Classificados em cada Categoria, por Juiz, em cada
Revista --- 125
Agradecimentos --- iv
Resumo --- v
Summary --- vii
Relação de Quadros --- ix
Relação de Anexos --- x
INTRODUÇÃO CAPITULO I: O PROBLEMA --- 006
1. O CONTEXTO ---~--- 006
1.1. Mulher - A Situação --- 006
A - Espaço Biológico --- 007
B - Espaço Social --- 011
C - Espaço Psicológico --- 022
D - Raízes --- 037
E - A Mítica --- 046
1.2. Mulher de Meia-Idade - A Ruptura --- 057
1. HIPdTESE --- 079
2. DEFINIÇÃO DA AMOSTRA --- 079
3. APLICAÇÃO DA TEcNICA --- 083
4. TRATAMENTO ESTATrSTICO --- 097
CAPrTULO 111: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS --- 092
CAPrTULO IV: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSOES --- 096
CAPITULO V: RECOMENDAÇOES --- 103
CAPrTULO VI: COMENTÁRIOS FINAIS --- lOS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS --- 109
.'
Pode ser observada, nos dias atuais, uma atenção
crescente em torno da temática "Mulher", e o interesse em so,!!
dá-la em seus múltiplos aspectos vem suscitando a realização
de uma série de estudos os quais, longe de esgotarem q tema,
descobrem sempre novas facetas a serem exploradas.
O presente trabalho tem por finalidade abordar tal
temática em um dos seus aspectos que se revelam como mais cru
ciais, que é o referente ao climatério. Para tanto, decidiu
-se.investigar, a partir do enfoque fornecido pela Psicologia
-do Consumo, a imagem da mulher de "meia-idade", isto e,
aque-la que está vivenciando o período do climatério, tal como
se-ria apresentada em um veículo de comunicação social, de modo
a verificar sua expressividade no contexto da sociedade
con-temporânea.
No que se refere ã questão feminina, o que de fato
surpreende, é a acei tação da idéia da suj eição da mulher a uma
condição de vida que sempre a caracterizou como a segunda pe~
soa da parelha macho-fêmea humanos.
Entretanto, em momento algum, no decorrer da histi
ria da humanidade, deparou-se com uma argumentação logicame,!!
te construída, ou com fatos sólidamente irrefutáveis, que evi
denciassem uma relação de valor entre 0'5 seres feminino e mas
culino. Ao contrário, o que parece ocorrer, é que aposição de
de uma explicação convincente, aparece muito mais como uma
"solução" artificialmente encontrada, e socialmente elaborada,
visando a justificar e manter tal situação.
Dentro desse contexto, ressalta-se com especial vi
gor a situação da mulher no climatério. Período caracterizado
pela transitoriedade, corresponde ao inverso da puberdade, se~
do normalmente percebido, tanto por homens como por mulheres,
como uma "doença" impossível de ser evitada, e cujas
manifes-tações são esperadas como inevi táveis: um sofrimento pelo qual
a mulher deve passar, e o homem suportar, com a resignação e
c0Ill:placência que o caracterizam como o ser "mais equilibrado
e completo" que pretende ser.
o
que haveria de tão desprezível no climatério aponto de ser este, a todo custo, tratado como doença, é uma
questão que ainda não obteve uma resposta satisfatória. Isto,
sem dúvida, contribui para acentuar o caráter já naturalmente
conflitivo do período, além de conferir
à
"menopausa" a quali:. ficação de algo tão temível que não deve sequer ser ~encionado.
o
presente estudo consta de uma parte inicial naqual Sao levantadas algumas considerações sobre a condição
da mulher, em geral, e da mulher de meia-idade, em particular.
Em seguida, apresenta-se um relato de um trabalho efetuado a
partir da aplicação da Análise de Conteúdo a fotos e
Considerando o ser humano segundo suas três
compo-nentes básicas, quais sejam, as dimensões biológica , psicol~
gica e social, procurou-se analisar a situação feminina sob
este tríplice aspecto.
De modo a possibilitar uma melhor compreensao da
situação da mulher na sociedade, efetuou-se um breve
históri-co, no qual as influências exercidas pela Igreja Católica
A-postólica Romana, e as consequências de um sistema social cal
cado no patriarcalismo, foram consideradas como algumas das
determinantes na constituição da sociedade brasileira e, por
extensão, da formação do ser feminino.
Em seguida, foram abordados aspectos referentes
mítica que envolve a mulher, e levantados dados relativos , a
,
a
Psicologia do Consumo, onde se pode observar sobre a importâ~
cia da "imagem" no contexto da sociedade contemporânea.
Finalmente, foram apresentados Resultados e Concl~
soes, Recomendações e, ainda, tecidos alguns comentários, ao
término do trabalho, acerca dos dados levantados.
Cabe, mormente, ressaltar que, independentemente do
fato do climatério vir acompanhado de alterações fisiológicas,
parece constituir, antes, um fenômeno de cunho eminentemente
psicológico, e com algumas repercussões que se estendem ao nf
Quanto aos motivos que levam' a se colocar a fêmea
humana em segundo plano, no binômico homem-mulher,parecem ser
os mesmos que levam ao seu anulamento, quando vivenciado o
climatério. Mesmo que com algum esforço, tais motivos podem
ser identificados.
o
que permanece, ainda, difícil de se compreender,{.:
é o fato da mulher, um ser constitucionalmente preparado para
daravida, paradoxalmente ter se omitido ~urante tanto tempo
"Ma..s
o 6a.toê
que. f, empne.ê
outo no no outo no,E o -<.nvVU1o vem de.po~ 6a.taime.nte.,
E há. f,Ô wn c.am-<.nho paJta. a. v-<'da., que.
é.
a. v-<.da. • •• "1. O CONTEXTO
CAPrTULO I
O PROBLEMA
1.1. MULHER - A SITUAÇAO
g pelo contraste, antes que por qualquer outro
fa-tor, que se definem o masculino e o femihino, e a partir. da
condição mais primária: a biológica.
Ainda que a definição dos sexos repouse, num plano
mais rudimentar, sobre características que se excluam mutua
-mente, em momento algum ficou declarado pela natureza uma
re-lação de valor entre tais predicados. Entretanto, uma posição
de inferioridade da fêmea humana diante do macho, nao so cons
titui uma realidade indiscutível como já adquiriu, com raras
excessões, "status" de verdade, tendo sido até mesmo
institu-ciona1izada e legitimada pelo código social vigente.
Proceder a uma análise da situação da mulher signi
fica historiar uma relação de superioridade do macho sobre a
fêmea, sendo o fantasma da inferioridade o grande companheiro
da condição feminina - para não dizer seu determinante.
Em 1949, S. Beauvoir iniciava seu livro, "O
Segundo Sexo", com o verbo "hesitar" (5, p. 7). Com isto, demons
-trava o quanto tal temática, já naquela época desgastada por
Mais adiante, lança a seguinte questão: "Em
ve~da-de,
have~~ mulhe~?" (5, p. 7).A) - O ESPAÇO BIOL6GICO
Conforme se ascende na escala animal, mais sofisti
cados e elaborados se fazem os organismos, e quanto maior seu
grau de complexidade, maior a liberdade conquistada.
O nível mais elevado já alcançado por um organismo
nessa escala evolutiva, o foi pelo macho e pela fêmea humanos.
-Curiosamente, porem, e exatamente este refinamento
na sua condição biológica, que se impõe ã mulher como o pri
-meiro obstáculo ao exercício de si mesma.
Antes de se constituir como um ser que atua e deli
bera, dotado de lógica e afetividade própria, a fêmea humana
é
uma enorme matriz, um aparelho gerador composto de útero eovários, sendo em número de seis os fatos que orientam sua vi
da:
• a menarca
• a menstruação
• a gestação
• o parto
• a amamentação
Todos estes fatos gravitam em torno de uma única
realidade: a reprodução. Portanto, antes de qualquer outra de
finição, a mulher é um ser reprodutor por excelência.
Contrastando com o macho que, por estar mais volta
do para a açao e orientado para a produção de bens e valores,
adotou a posição de "mantenedor da vida", a mulher voltou- se
para a adoção de um papel que se alonga no sentido diacrônico,
que é o de "mantenedor da espécie".
A mulher, muito mais que o homem, é prisioneira de
seu ciclo biológico e, por extensão, da espécie. Está
mais amarrada às necessidades de seu aparato gerador que
suas próprias exigências.
g
a portadora do óvulo:útero ditam as condições de sua existência.
~ . ovarlO
muito
~
as
e
Enquanto a anatomia masculina constitui-se num
va-lor absoluto, sendo usada como meio de relação direta com o
mundo circundante, o corpo feminino se sobrecarrega com o
pe-50 que lhe confere a extrema sutileza de sua especif~cidade ,
55 adquirindo valor enquanto exercendo a função para a qual
foi destinado: a reprodução. E, ainda assim, com um agravante,
pois, se no macho a produção de espermatozóides não encontra
limites, na fêmea, desde a vida embrionária, a quantidade de
ooócitos já se acha determinada. Logo, remonta ao momento da
concepçao a aquisição, pela mulher, do estado de prisoneira da
espécie.
.'
e nao o contrário, aparece como a condicionante
quência dita natural de outros fatos:
de uma
se-• é
o espermatozóide que se movimenta é o macho que se rea liza na ação, é o homem o idealizador de projetos;• é o óvulo que espera- é a fêmea que se conserva -.imóvel,
é
a mulher que, passivamente, recebe a ação;
· é
a fêmea que sofre o coito, que a aliena de si mesma pelapenetração do macho (6, p.42), e que sofre a fecundação, que
dá continuidade ao processo de alienação através da manuteg
ção, em seu organismo, de um elemento estranho, ao qual
permanecerá inevitavelmente ligada até que este tenha, final
-mente, e independentemente de sua vontade, se tornado
autô-nomo.
Logo, enquanto o macho se "realiza na ação", a
fêmea permanece desincumbindo seu ofício silencioso de
re-produtora, acompanhando, em harmonia, o curso da natureza.
Assim, as características fisiológicas da. fêmea
fazem com que esta seja, simbólicamente identificada
ã
natureza, em oposição ao macho que, por interferir nesta última,
identificado
ã
cultura.-e
Enquanto o homem exerce uma atividade externa,
1i-vre, criando objetos relativamente duradouros, a mulher
exer-ce uma atividade que tem a si mesma como pano de fundo, e em
função de um objetivo, alheio a ela, de produzir seres pereci.
.'
Or~ner (25, p. 102) apresenta três níveis de
discus-sao que, em última instância, pretendem explicar a associação
que se faz da fêmea ao plano da natureza:
- Inicialmente, coloca-se que a fisiologia feminina torna a m~
lher mais próxima da natureza, na medida em que dispende a
maior parte de seu tempo com "espécies de vida" - já a fisi~ logia masculina deixa o homem mais livre para assumir esque-mas culturais;
- Num segundo nível,considera-se que a fisiologia feminina con duz a mulher a desempenhar papéis ditos socialmente inferio-res àqueles exercidos pelos homens no processo cultural; e
- Finalmente, que os papéis sociais tradicionalmente femininos,
impostos por sua fisiologia, conferemà mulher uma estrutura
psíquica diferente que é, então, percebida como sendo mais próxima da natureza.
Esteja ou nao mais ligada
-
a natureza, quer por imp~sição fisiológica ou social, quer como resultante de um proce~
so de treinamento (socialização) mais sutil, o fato é que a
situação da fêmea humana,no mundo ,está intimamente relacionada
ao maior envolvimento do corpo feminino com a função natural
de procriação.
A destinação da mulher a um contexto doméstico
so-cialmente desvalorizado e estruturalmente subordinado, o
exer-cicio de seu papel maternal e da complexa tarefa de socializar
crianças, faz com que pareça mais próxima do curso dos
fenôme-nos naturais.
Uma vez que as atividades que visam
-
a destruiçãoa habilidade feminina de procriar - a m'oTte, nesse aspecto
assumindo valor transcendente, na medida em que é capaz de in
terromper o fluxo natural da vida - os planos culturais, que
objetivam submeter, controlar e transcender a natureza, consl
deram, por analogia, natural a subordinação da f~mea ao
ma-cho.
Ainda que a ótica oferecida pela biologia seja
usa-da para justificar uma relação hierárquica entre macho e f~
mea, as diferenças encontradas entre um e outro só adquirem
significado de valor (superior-inferior, melhor-pior) no
con-texto de um sistema de valores culturalmente definidos.
Se, biologicamente, o domínio da mulher sobre o mun
do. é menos extenso que o do homem e, se a mulher é mais
es-treitamente submetida aos ditames da espécie, o fato de conc~
ber, criar e alimentar novos seres ainda é uma habilidade úni
ca da f~mea.
Embora parecendo mais próxima da natureza que o
homem, a mulher tem consci~ncia, pensa, fala, comunica e mani
pula símbolos, conceitos e valores. Está tão envolvida e
com-prometida com o esquema cultural quanto o homem. E efetua- se
na práxis de modo contundente ao parir outros seres dotados
de consciência,que pensam, falam, comunicam e manipulam símbo
los, conceitos e valores.
('I
Marcada pelo estigma biológico da reprodução,ainda
é
o útero o principal determinante do papel a ser desempenhadopela mulher na esfera social. As atividades que lhe cabe reali
zar, na verdade, não são mais que o prolongamento natural de
suas características biológicas específicas que estabelecem
para o ideal feminino, o possuir um lar, pertencer a um homem,
e gerar filhos.
Cabe à mulher desenvolver um genero de personalid~
de que lhe permita ajustar-se às funç6es que, ·como € de se
es-perar, venha a desempenhar, no lar, no duplo papel de esposa e
mae.
Sua orientação € basicamente a dom€stica; seu
com-portamento a aquiescência; sua atitude o silêncio.
Ainda como "mantenedora da esp€cie", sua dimensão
biológica tem continuidade na dimensão social, ao se incumbir
da socialização das crianças. A educação se imp6e como
exten-são do ato de procriar, e equivale a uma segunda gestação: a
transformação lenta e gradual de um ser primitivo em um ser so
cializado.
Aqui, a função exercida permanece tendo um caráter
alienamente, com a diferença de que, agora, o elemento estra
-nho que lhe suga o sangue está alojado fora do útero.
Com a função de agente socializador de crianças, a
dos grupos domésticos, de modo que, nesta ótica, o fato de po~
suir ou não um lar é elemento decisivo na obtenção de
reconhe-cimento social.
Dentro deste quadro, o casamento assume feições es
peciais, constituindo-se em fator imprescindível e condição de
felicidade pessoal da mulher, pela consolidação do "status" so
cial e garantia de estabilidade e prosperidade econômicas.
Sendo a fragilidade socialmente admitida - e
valo-rizada ~ como característica própria do sexo feminino,
despon-ta a figura masculina como o único elemento capaz de lhe
pres-tar a proteção de que necessita. Consequentemente, cabe
ã
mu-lher retribuir o benefício com o qual foi contemplada, através
de uma dedicação completa e exclusiva
ã
família, personificadana pessoa de seu chefe. Sob o rótulo "boa esposa" jaz a mulher
silenciosa e submissa, caprichosa no cumprimento de seus
deve-res, zeladora da tranquilidade intrafamiliar, depositária das
tensões extradomésticas, econômica e socialmente subordinada ao
marido, pelo sagrado vínculo do matrimônio.
À exploração da mulher pelo homem convém a extrema
diferenciação entre os sexos, que vem a se refletir, num nível
mais acentuado, por um "padJLã.o duplo de mOJLal-i..dade" 19, p.254J:
ao homem, toda a liberdade de ação, todas as oportunidades de
iniciativa e contatos diversos;
ã
mulher, a limitaçãoã
esferadoméstica, seu gozo circunscrevendo-se ao do marido.
um "direito" dos homens, enquanto a castidade é imposta à mu-lher - ji por motivos religiosos, sociais ou econ5micos.
Com relação a esse aspecto, assinala Engels que a
monogamia é a resultante de um sistema social cujas bases
re-pousam sobre a propriedade privada. A família monogâmica,
fun-dada sob a dominação do homem, tem por fim gerar herdeiros d~
paternidade incontestivel de modo a ficar assegurada a posse
da fortuna paterna. Mais uma vez é reforçada a situação de sub
missão da mulher da qual se exige fidelidade conjugal, por ser
esta a garantia da autenticidade da prole como 'pertencendo' ~
quele pai. (19, p. 21).
A orientação doméstica que se imprime à mulher exi
ge um tipo de compromisso que, além de consumidor de tempo,su~
cita o estabelecimento de laços de dependência. A mulher,
nes-te aspecto, exisnes-te em função de dois elementos; o marido, que
é
quem na verdade a define, e da prole que, em última anilise,é
uma continuação deste.A orientação no sentido contririo, isto é, em dire
çao ao mundo extradoméstico, quando existe, é dirigida por
re-gras similares às que vigoram dentro do lar.
As mulheres, mais que os homens, nao sao prepara
-das para o exercício de uma profissão.
Quando nao envolvidas em atuações de cariter
o'
da como um emprego provisório a ser encerrado no momento do ca
sarnento.
Enquanto a esfera pública (o trabalho remunerado,a
política, o exercício do poder e da autoridade) é marcadamente
masculina e de importância primária, a realização feminina
es-tá confinada ao espaço em que se desenrola sua vida privada: a
casa, o lar, e quando muito a comunidade, socialmente
encara-dos como tendo importância secundária.
o
homem, ao se engajar diretamente na sociedadea-través do trabalho remunerado, estabelece seu ajustamento
so-cial com base no fato de se constituir pessoa economicamente
ativa. Já a mulher, na maior parte dos casos, participa da cla~
se social por extensão, como reflexo de um "status" econômico
que é o do marido ou o do pai.
o
trabalho, como agente de realização pessoal eprofissional, ou como meio de ajustamento às condições
gerado-ras de instabilidade econômica não constitui, ainda, yalor
pa-ra gpa-rande parte das mulheres e papa-ra a sociedade em gepa-ral.
Mesmo que a Revolução Industrial tenha suscitado
mudanças radicais quanto ao emprego da mão-de-obra feminina,i,!!
tegrando a mulher no processo de trabalho produtor, o emprego,
para esta, só se justifica como meio socialmente aprovado de
remediar uma situação econômica difícil, de ampliar os rendi
-mentos da família ou de fazê-la ascender na escala social (26,
de vida doméstica e de educação da prole foi transferido para
um plano menos mediato (26, p. 319).
o
trabalho remunerado da mulher, à diferença daqu~le do homem, não deve visar à sua realização pessoal, mas a do
padrão de vida doméstica. Mesmo quando determinado por um obj~
tivo de mobilidade social ascendente,
v-i.nc.u.ta.-.6e. e..6te., muito mai.6
ã
c.on.6c.ie.nt-i.za.ç.ã.o da..6 pO.6.6-i.b-i..tida.de..6 de. a..6 c.e.n.6ã.o do.6 me.mbJto.6 mM c.u.t-i.no.6 da. 6a.mZ.t-i.a. do que. da. pJtôpJt-i.a. mu.the.Jt. (26, p. 237).A idéia enraizada na consciência social de que a
finalidade da mulher é o casamento e a procriação, direcionou
o preparo da força de trabalho feminina, em sua grande parte,
para ocupações subalternas, mal-remuneradas e sem perspectivas
de promoções. A concepção da mãodeobra feminina como subsi
-diária, tem favorecido a oferta e a aceitação de salários infe
riores aos recebidos pelos homens, bem como a outros gêneros 00
diferenças de tratamento que variam desde a oportunidade de
trabalho até ao tipo de ocupação oferecida.
Somente às mulheres que constituem uma parcela de
elite do agrupamento feminino é permitido desempenhar funções
tidas como tipicamente masculinas e fazer uso dos mesmos meios
de integração social utilizados pelos homens.
o
treinamento maciço sofrido pela mulher, no sentido da conformidade, restringiu sensivelmente sua capacidade de
reivindicação. Assim, tende a comportar-se mais passivamente ,
acomodando-se, em lugar de procurar assumir posições que possi
Em verdade, à compensaçao financeira oferecida
pela atividade remunerada, seguese a necessária compatibiliza
-çao com as tarefas domésticas, as quais continuam sendo de
ex-clusiva responsabilidade da mulher. No tocante à classe média,
por exemplo, apenas recentemente medidas tais como a criação de
creches, a oferta de métodos contraceptivos mais seguros, o
largo emprego de aparelhos eletrodomésticos e outras
facilida-des no gênero, vêm sendo mais fartamente introduzidas. Porém,
nao só tais facilidades deixam ainda a de~ej ar, em termos de
nao cobrirem toda a extensa lista de necessidade existentes, c~
mo não são muitos aqueles que a elas têm acesso, quer pelo
po-der aquisitivo, quer pela desinformação, quer por ambos os
fatores. Enquanto para as classes mais baixas as opções se cir
-cunscrevem às condições mínimas de sobrevivência, nas classes
média e mais elevadas, ainda se encontram a opção, sem dfivida
extremamente cômoda e interessante, da empregada doméstica: a
escrava-da-escrava.
A possibilidade da mulher no mercado de trabalho
- e de explorar convenientemente esta via de integração na
so-ciedade - tem sido pensada em termos de se alterarem suas
con-dições de vida, enquanto ser sexuado e reprodutor e como
pessoa que tradicionalmente se incumbe da socialização de crian
-ças. Por outro lado, a exclusão da mulher do mercado de
traba-lho minimiza a tensão acarretada pelo excesso de mão-de-obra .
Deste modo, ao estereótipo se funde o problema real gerado
pe-lo fator competitivo, como elemento desestimulante do emprego
Os baixos salários e o. tratamento discriminativo
que caracterizam aquelas funções ditas tipicamente femininas,só
contribuem para acentuar ainda mais o problema.
Ora, na medida em que o sexo constitui um dos fatores
que regulamentam a competição no âmbito profissional, os
objeti-vos do processo de socialização e os mecanismos motivacionais de
que lança mão a sociedade, diferem segundo a categoria sexual a
que pertença o indivíduo.
O processo de socialização do menino visa ao ajuste
de pap~is ocupacionais e de chefe natural do grupo familial. Sua
esfera de atividades está voltada para um sistema de relações
interfamiliares --no campo da política, da religião, do ritual,
do pensamento cultural, da ação, etc. --e para uma posição de
relevância na estrutura ocupacional, valendo-se, para tanto, da
competição.
A socialização feminina orienta a mulher para uma co~
telação de valores que a definem como cooperadora, defensora da
organização familiar, dedicando-a à tarefa doméstica não
remu-nerada e,às vezes, ao estreitamento dos laços comunitários.
A própria anatomia, tendo por um lado a vagina (órgão
oco, macio, passivo e receptivo) e por outro o Pênis (orgão
ma-ciço, agressivo e ativo), parece determinar o processo de socia
lização infantil, gerando programas educativos que acentuam as
/
o
programa desenvolvido para a formação de uma consciência feminina gravita em torno do "ideal feminino": ser mae
- e, por extensão, pertencer a um homem que garantirá a
conse-cução deste objetivo. Tal programa reforça os vínculos da meni
na para com a figura materna e o lar.
Como a mae é, efetivamente, a primeira figura com
que a menina vem a se identificar, tal relação não sofre
solu-ça0 de continuidade ao longo do processo de formação. Pelo con
trário, seu papel é imediatamente compreendido, sendo mediado
por uma "lLe.a.l de.pe.ndê.nc.ia. da..6 lLe.la.ç.õe..6 a.6e.tiva..6" (25, p. 73)
Assim, a figura materna é tomada como modelo, e se inicia uma
aprendizagem gradual de uma gama de comportamentos que
se modifica no decorrer da vida.
pouco
Com o menino observa-se que, paralelamente
ã
buscade um modelo masculino idealizado com o qual se identificar, d~
ve-se processar a repressão e a desvalorização da feminilidade
(25 p. 73), procurando eliminar-se qualquer tipo de
relaciona-mento que envolva a dependência afetiva ou a necessidade do ou
tro.
De modo que, enquanto as meninas brincam com
bone-cas, sao treinadas para a vida doméstica, e pressionadas a man
terem vivos os laços com os outros, os meninos brincam com
ar-mas, ou ao ar livre, correndo e subindo em árvores, sendo trei
nados para desenvolver a autoconfiança, realizar conquistas e
pressionados a negar qualquer espécie de envolvimento afetivo
meninas sao incentivadas a participarem sempre do mundo das
mães e das avós, a obter conquistas à custa de simpatia, a
cativar pessoas por sua conduta dócil, amável e refinada;
a-lém do que persistem, desde cedo, num tipo de vida que as
confunde com o adulto, e a atuar dentro de casa.
meninos sao incentivados a agir de modo independente, a ser
.agressivos, impacientes, a exercer autoridade, e a atuar
fo-ra de casa;
Enquanto a infância para o menino traz o cunho da
liberdade, a dependência feminina e propagada de geraçao a
...
g~ração e vivenciada pela mulher desde a mais tenra idade.
Tal quadro pouco difere durante a puberdade:enquan
to o menino é solicitado a exercer livremente sua sexualidade,
cabe à menina se recolher e sufocar suas sensações, além de,
forçosamente, "ter" que se empenhar na tarefa de transferir seu
centro erógeno do clitóris para a vagina.
Incentivada que foi a desenvolver laços de depen
-dência e a abafar sua individualidade, a mulher adulta tende a
se definir em termos de uma relação assumida em função de um
outro elemento que lhe é externo: um pai, um marido, filhos.Pa
ra a dona-de-casa média, o trabalho remunerado, uma profissão,
nao sao considerações importantes para sua autodefinição, uma
vez que seu objetivo primeiro foi alcançado. Dessa forma, sua
tra-ma de relações que estabelece com o outro. E desde cedo
apren-de a viver e a incorporar a fluiapren-dez apren-destes diferentes papéis.
As experi~ncias biossexuais femininas em nada
con-correm para promover o fortalecimento do Eu. No período da ovu
lação e da menstruação ou gravidez é que a mulher sente mais
penosamente seu corpo como um objeto alienante; a cada mês seu
organismo se prepara para abrigar outra pessoa, e
experimenta-rá'uma alienação mais profunda quando o óvulo é fecundado.
Du-' ..
rante a gestação, parto, e finalmente a amamen~ação, vive a m~
lher em função de um filho que foi concebido; durante a mens
-truação, vive em função de um filho que não concebera; durante
o período fértil do ciclo, vive em função de um filho que pod~
rá vir a conceber.
Não apenas a mulher assim 'socializada aspira a
uma vida essencialmente doméstica, como o próprio homem visa
a obter condições e recursos tais que lhe permitam possibili
tar a consecução e plena realização do chamado "ideal femini
-no", ou "ideal doméstico" da mulher.
São, portanto, altamente relevantes, os papéis
e-xercidos tanto pela educação formal e pelo processo de sociali
zaçao em geral, como pelos mecanismos de controle social e
pe-lo enraizamento de vape-lores tradicionais, na construção do ser
feminino - a dimensão "sexo" distanciando, na esfera social, o
macho da f~mea.
Rosaldo (25, p. 53) assinala que o "status" feminino
é
mais baixo naquelas sociedades onde há firme diferenciação entre as es
feras de atividade pfiblica e dom€stica, e onde as mulheres,
i-soladas umas das outras, estão subordinadas
ã
autoridade de umúnico homem no lar. Sua posição vai se tornando mais elevada
conforme se amplia seu campo de ação, disputando e reivindica~
do autoridade, assumindo pap€is masculinos ou estabelecendo la
ços sociais diversificados.
Em verdade, na medida em que os sexos constituem
realidades absolutas, sendo, portanto, simplesmente di ferentes
um do outro, não cabe questionar-se quanto a uma possível rel~
ção hierárquica entre os dois. g fato, por€m, que a
desigualda-de sexual é "um pltoduto .6oeia..f." - e, como tal, "pa..6.6ive.l de. muda.nça." (25, p. 291. Entretanto, pouco se poderá avançar em direção a tal mudança enquanto a sociedade persistir no uso de
um sistema de códigos e figuras culturais que insistem em
ofe-recer uma imagem menos valorizada da mulher.
C) - O ESPAÇO PSICOLOGICO
Qualquer tentativa de compreensao da psique femini
na sempre esbarrou com uma realidade irrefutável: o falo.
A Psicanálise, certamente, veio a dar nova dimen
-sao ao campo do conhecimento humano; porém - e paradoxalmente-,
o que se observa é que a própria contribuição freudiana se fez
aquela ditada pela anatomia.
Freud admite que a sexualidade feminina é tão
evo-luída quanto a masculina porém, no que se refere a primeira
unio a e4tuda, po~ a44im dizen, em 4i me4ma" (5, p. 60) e,
pa-ra descrever o destino feminino, utiliza-se do mesmo modelo que
empregou para explicar o ser masculino.
re
acordo com Freud, a libido se desenvolve, ini-cialmente, de forma id~ntica no nenino e na menina. havendo,na
infância, uma coincid~ncia de zonas erógenas e a figura
mater-na constituindo, sempre, o primeiro objeto de amor.
Apenas ao atingir a fase genital é que os proces
-50S de diferenciam, especificando-se diferentes zonas erogenas,
quer se trate do sexo masculino ou feminino.
Por esta ocasião, Freud vem enfatizar o fato até
então nao devidamente reconhecido de que, enquanto a zona
eró-gena masculina, por excelência, localiza-se no pênis, existem,
para a mulher, dois sistemas eróticos distintos: um,
clitoria-no, que se desenvolve no estágio infantil, e outro vaginal
que é ativado com a puberdade.
Se neste período o menino completa sua evolução
permanecendo o pênis como o foi na infância - o órgão erót!
co privilegiado, o que se verifica nesta fase, para a menina.
pa-/
ra a vagina - e somente apôs esta definitiva transferência se
dirá completada sua evolução.
Ao longo do desenvolvimento observa-se, no menino,
uma fixação inicial na mãe e um desejo de. se identificar com o
pai, figura esta, ao mesmo tempo temida, pois que, para puni
-lo, é capaz de mutilá-lo. Dessa forma, des~nvolve, para com o
pai, sentimentos de agressão, mas introjeta, simultaneamente,
a autoridade que emana da sua figura; com a formação do super~
go as tendências incestuosas são recalcadas, é resolvido o com
plexo de édipo e o filho liberta-se do pai, já
sob'a forma de regras morais.
.interiori zado
Para explicar o desenvolvimento da menina,
Freud o mesmo modelo, com a distinção de que esta, por
adota
volta
dos cinco anos, descobre a diferença anat6mica existente entre
os sexos e reage
ã
ausência do pênis por um complexo de castr!ção. Com isto, deve ".lLenunci.a..IL
M
~ u~ p.ILeten~ õe.6 v-i..Jti.6,-i..den-t-i..6-i..c.a.-~e c.om a. ma.e e p.ILOC.U.ILa. ~eduz.t.IL o pa.-i.." (5, p. 62).Ao me~
mo tempo, a menina experimenta pela geni tora sentimentos de hos
tilidade, responsabilizando-a pelo fato de não possuir um
nis. Lembra Beauvoir que, segundo Freud , o
~ent-i..mento de 6.ILU.6t.ILa.ção da men-i..na.
é
tanto ma.-t~do-lo.ILo~~ quanto, amando o pa-i.., goata.IL-i..a de aaaemelha.IL ~e a ele ••• m~
é
pela te.ILnu.ILa. que -i..nap-i...lLa ao paI que ela pode c.ompen4a.IL ~ua -i..n6eJtio.IL-i..dade. (5,p. 621.-
pe-o que a leva a acentuar, ainda mais, pe-o sentimentpe-o de
Desse modo, verificase que o desenvolvimento da se
-xualidade, para a menina, se faz de forma bem mais complexaque
para o menino. Embora sendo a figura materna o primeiro
depo-sitário de uma relação de amor para ambos, ocorre que para
o menino, ao término do processo de desenvolvimento, foram con
-servados a mesma zona erogena e o mesmo objeto de amor; já a
menina se depara com a necessidade de modificar a zona
eró-gena e o objeto de amor, que passa a ser encronado pelo pai. Eg
...
quanto para o menino, a puberdade constitui uma fase de
inten-sificação da libido, para a menina corresponde a uma fase de
compressão da energia libidinosa.
Também o complexo de castração assume diferentes
pesos, quer se trate do sexo masculino ou feminino. Para o pri
-meiro, guarda um sentido de positividade,na medida em que ad
vem do medo de que o privem de algo que já possui; para a meni
na, acentua-se o sentido de negatividade, pois é justamente so
bre uma "ausência" que tal complexo se instala, sentindo-se
então, inferiorizada, por não possuir um pênis.
Assinala Saffioti que
a 6atta do pên~4, po~ caU4a do comptexo
de
ca4t~a~ão e da ~nveja do memb~o v~~~t, a44um~ ~mpo~tâ~
-c~a 6undamentat na teo~~a 6~eud~ana e e ~e4pon4a
-vet po~ todo 4eu de4envotv~mento utte~~o~ no que
tange
ã
ca~acte~~zação da muthe~. (26, p. 292).Para Freud, pela ausência do pênis, a menina desenvol
ve sentimentos de hostilidade para com a mae, elegendo o pai
testável, nada há que motive a mulher a tentar superar a
rela-çao edipiana. Assim, além de formar um superego menos vigoroso
que o formado pelo menino, a menina apresenta menor capacidade
de sublimação e não pode, portanto, "cup,{.JLa.JL
ã:
peJLóe,{.ç.â.o" (26,p. 293), como o homem. Para Freud, "com a. de~cobeJLta. da. óa.lta.
do pêrU..~, a. mu.lheJL ó,{.ca. de~ va.lOJL,{.za.da. pa.ia. a. men,{.na., ta.nto q~
to pa.JLa. o men,{.no e ta.lvez pa.JLa o homem". (FJLeu.d, 1948, c,{.ta.do,
em Sa.óó,{.ot,{., 19781.
De modo a compensar seu defeito anatômico básico, de
acordo com a teoria freudiana, a mulher passa a desenvolver de
terminados comportamentos específicos que vão desde a
manuten-ção de sua atividade clitorideana,
à
necessidade de ser amadamais que a de amar; desde sua menor capacidade de
intelectual, até a recusa de sua feminilidade.
realização
Para o pensamento freudiano a mulher é, antes de tu
do, um homem mutilado. Ao associar o ativo ao viril, e o passi
vo ao feminino, Freud legitimou, a um nível dito científico, o
caráter de inferioridade do sexo feminino, colocando a passivi
dade como propriedade intrínseca da personalidade da mulher.
Com Adler, a situação sofre algumas modificações, a
partir da suposição, formulada pelo autor, de que há, em todo
indivíduo, uma vontade de poder, a qual, gerando um conflito,
leva-o a fazer uso de uma série de artifícios que evitem um
confronto com o real, que receia não ter condições de vencer.
do pela mulher, "a44ume a 6o~ma de uma ~ec~a enve~gonhada da
6emlnllidade". (5, p. 64). Não € exatamente a realidade da
au-sência do pênis que origina o complexo, e sim todo o conjunto
da situação vivenciada pela mulher; "a menina nio inveja o
6a-lo a nao 4e~ como 4Zmbolo d04 p~ivilêgio4 concedido4 a04
meni-n04" (5, p. 64).
e
a valorização social do macho e de tudo quea ele se liga diretamente que assenta, na mulher, a idéia dasu
perioridade masculina.
Se, durante a infância, a menina tende a se identifi
car ao pai, mais tarde vem a desenvolver um sentimento de inf~
rioridade em relação ao homem. Colocada diante da alternativa
de manter sua autonomia, e abafada pelo peso do complexo de i~
ferioridade, cabe à mulher encontrar, na submissão amorosa, sua
finalidade, a realização de seu ser feminino.
Como afirma Beauvoir,
Adle~ pe~eebeu muito bem que o complexo de ea4t~ação
6Ó 6e pode~ia expliea~ num eontexto 4oeial; abo~dou
o p~oblema da valo~ização, ma4 não ~emontou
a
60nteontológiea d04 valo~e4 ~eeonheeido4 pela 40eiedade e
não eomp~eendeu que, na 4exualidade p~op~iamente
di-ta, 4e empenham vato~e4, o que o levou a meno4p~ez~
lhe4 a impo~taneia.
15,
p. 66).Na tentativa de elaborar uma psicologia feminina, H.
Deutsch. como continuadora que revelou ser das idéias
freudia-nas, cita como constituintes da mulher as seguintes caracterís
ticas psicológicas:
19) maio~ tendêneia
ã
ldenti6ieaçio39)
~ubjet~v~dade491 pe~cep~ao inte~na
59) intui~ã.o. (26, p. 374)
Como se pode perceber, tais traços deri varo-se diretame~
te da suposição de um caráter de passividade como sendo próprio
do feminino.
~ ~
Abre, porem, Deutsch, uma exceçao as moças ditas de
"talento", sendo estas os "único.6 .6 e~e.6 do .6 exo 6eminino capa-ze.6 de conjuga~ a vida intelectual com a vida a6etiva .6em p~e judica~ a e.6ta, i.6to
é,
.6em.6e to~na~em ma.6cuLtna.6", (26, p.314)De acordo, pois, com tal teoria, todos os "fracassos" femini
-nos sao mera decorrência da "falta" de "talento" das mulheres,
enquanto que os êxitos obtidos dependem, unicamente, de uma
capacidade excepcional por elas demonstrada. Desse modo, usa
-se o êxito de algumas para comprovar e explicar o fracasso das
demais.
Numa outra perspectiva que acentua o papel da
cultu-ra na formação do ser feminino, K. Horney cita a "inveja da ma
te~nidade", de.6envolvida pela homem, coma o ca~~elato da "inve
ja da pêni.6". (26, p. 316). Esclarecese, porém, que o senti
-mento de inferioridade experimentado pelo ser masculino, deco!
rente de seu reduzido papel na procriação, não lhe acarreta os
mesmos efeitos que aqueles ocasionados pelo sentimento de infe
rioridade vivenciado pela mulher,em relação ã ausência do pe
Enquanto o homem tende a compensar sua desvantagem
atrav~s de suas realizaç6es objetivas, para Horney, conforme
mencionado por Saffioti,
I;
A
inveja do 6alo nao impeliu a mulhen a~ gnande~nealizaçõe~ ou po~que
é
menon do que a inveja da ma:tennidade nu:tnida pelo homem ou po~que ~ e :t~an~60nma no de~ejo de po~suin manido e 6ilho~. (Z6~
p. 316).
Na verdade, o falo continua sendo o grande
determi-
:-nante na tentativa de se compreenderem os seres masculino e fe
minino: no primeiro pela presença, no segundo pela ausência.
Segundo Beauvoir, o pênis
é:
.oingulanmen:te indieado a de~empenhan, pa~a o men~
no, o papel de 'duplo':
é
pana ele um obje:to e~ -:tnanho e ao me6mo :tempo, ele pnópnio ... o pini~é
pO.o:tO pelo .6ujei:to eomo .oi me.6mo e ou:tno que nao6 i m e6 mo. ( 5, P . 6 8 J. •
Como as funç6es urinária e de ereção-estão a meio caminho
en-tre os processos involuntários e voluntários, o pênis passa a
ser reconhecido como uma fonte quase alheia de um prazer subj~
tivamente vivenciado. Passa este a ser, então, a concretizaçio
carnal da transcendência:
"é
ponque o naloé
.oepanado que o h.E.mem pode in:tegnan, na $ua ~ndividualidade, a vida que o
ul:tna-pa.6~a". l5, p. 681.
Ora. na medida em que se vê desprovida de um pênis,
a menina nao se aliena em algo apreensível. logo, é conduzida
no sentido de fazer-se objeto por inteira, ou seja. "a au~en
Ainda no contexto da Psicanálise, Rank apresenta um
enfoque, calcado sobre o traumatismo do nascimento, que apre
-senta a situação sob novo ângulo.
Para Rank, o traumatismo do nascimento corresponde
ao último substrato biológico da vida psíquica, que o homem ten
ta, continuamente, vencer.
As primeiras relações fisiológicas entre a criança
e o corpo da mãe estão representadas na fixação ã figura mate~
na, expressão do conforto e calor uterinos, e o traumatismo do
nascimento que se ref~ete, a nível fisiológico, pela separação
completa do corpo materno, constitui uma representação que
ja-mais sai do inconsciente, e que o indivíduo leva os anos na
tentativa de superar.
Constitui, o nascimento, o ponto de partida para a
vivência da sensação de angústia, e é pelo deslocamento desta
angústia para a figura do pai que a criança termina por se
re-signar e se separar definitivamente da mãe responden~o, desse
modo, às exigências e necessidades de novas formas de adapta
-ção
à
vida.o
pai, imagem de uma figura temida, impede o regre~so à mae, com isto desencadeando uma angústia cujo referencial,
em princípio, são os próprios órgãos genitais maternos - repoE
tandose ao nascimento e, mais tarde, todas as suas substi
Da mesma forma que a angústia do nascimento
é
aba-se de todas as variedades de angústia, todas as formas de
pra-zer do ser humano remontam ao prapra-zer primitivo relativo à vida
intra-uterina. As exigências de um processo de adaptaçâo
so-cial faz com que o ego recalque este objetivo - na verdade
ja-mais renunciado pelo inconsciente - de retorno ao prazer da vi
da anterior ao nascimento.
-Os órgâos sexuais femininos constituem o principal
objeto do sentimento de angústia, pois que estão intimamente
-
-
-ligados ao traumatismo do nascimento, isto e, a separaçao
mae-filho.
Rank aborda, ainda, o traumatismo do desmame e, por
fim, o traumatismo da castração que, "de.v-i..do
a
.6u.a. i..JUte.a.ti..da.-de., c.onc.e.ntJta. a. ma.-i..oJt pa.Jtte. da. a.HgU..ót-i..a. na.ta.l .ó ob a. 6oJtma. de. ~ e. nt-i..me. nt o de. c.u.lpa., l-i.. 9 a.d o ã d-i..
6
e.Jte. n ç.a. do.ó .6 e. x. 0.6". t 6, p. 56).O inconsciente profundo, entretanto, é bissexuado, ignora tal
diferenciação e só conhece a angústia primitiva ligada ao
nas-cimento.
Tanto a menina como o menino, no decorrer da
infân-cia, apresentam um comportamento idêntico para com a mãe, obje
to primitivo da libido, e o conflito só se estabelece
são reconhecidas as diferenças sexuais.
quando
Assim, cabe ao menino reconhecer, nos órgãos femini
nos, aqueles nos quais deveri, mais tarde, penetrar e que,
à
menina reconhecer os órgãos masculinos, constatando,obriga-toriamente, a impossibilida'de de penetrar no objeto de sua
li-bido, e acei tando a realidade do "deixar-se penetrar".
Logo, enquanto o homem pode manter os laços com o
objeto de sua ligação inicial - o pai surgindo como a
encarna-ção da angústia que se liga à mae -,
é
preciso que a mulher de~loque para o pai grande parte da libido primitivamente voltada
para a mãe. Tal transferência de libido ocorre
ã medida que ~e aeentua o papel pa~~ivo da mulhe~,
pa4a euja imp04tâneia Ffteud ehamou atençao. Com
e-~eito, pafta a menina ou moça, t~ata-~e de ftenuneia~
a e~peftança de uma volta ativa ã mae, da penetfta -Çao na mãe ... e de fte~ignaft-~e ã peft~peetiva de nao podeft ~ati~6azeft ~eu de~ejo de toftna~ a eneon-t4a4 o bem-aventuftado e~tado p~imitivo, a nao ~eft
pela ftepftoduçao pa~~iva, i~to
é,
pela g~avidez epelo paftto, 60nte~ da mai~ ~ublime 6elieidade ma -teftna. (Ranl<., 1934, eitado em Chahon, 1980).
Rank aponta para a unilateralidade que caracteriza
este estado de coisas, afirmando que o mundo ainda se constrói
e
é
encarado segundo a ótica masculina. E assinala ser este oponto de vista que prevalece no âmbito da Psicanálise:
Eió uma atitude que oó pftÕp~O~ póicanaliótaó nao
conóeguiftam ftenunciaft eompletamente:
é
aóóim queaó ma.ió daó vez e.6, q uando ~alamoó de eoió M ó e -xu.a.ió, ó õ pe nó amo.6 no homem. ... N ao efteio ... que
eóta atitude óeja e6eito de um menoft valoft ~oeial
a.t4ibu1.do ã mulhe4; pen.6o, ao eont~á.~io, que e.6ta atitude e eóta dep~eeiação óao ambaó mani6eótaçõ~
do fteealeamento p~imi.tivo mefteê do qual p~oeufta -moó diminuift a mulhe~, ~eeU6aft-lhe todo o valo~.6o
eial e inteleetual, pfteeió ame.nte p04 eaU,6 a de ó
uaó-4elaç~eó eom o t4aumatiómo do naóeimento. (Ranl<. ,
Porque os dois sexos sofrem a influência de recorda
çao recalcada, ambos experimentam o mesmo desprezo pelos or-
-gãos genitais femininos e procuram anular-lhes a exist€ncia.
Rank atribui, portanto, ao traumatismo do
nascimen-to, a verdadeira causa de se ter relegado a mulher a segundo
plano. Também, do ponto de vista social, seria importante que
apenas um dos sexos se identificasse com a figura de pai, cons
tituindo,este,o elemento separador entre criança e mãe. A an
-gústia sentida perante a mãe transforma-se em veneração ao pai,
e nas inibições de caráter abstrato ("formações substitutivas
mais .sublimadas") que este representa - tais como o Estado, o
Direito, a Nação --contra as tendências do Eu.
A dependência infantil que o filho, ao se tornar pai,
se recusa a suportar, provoca uma reação que termina por
acar-retar a desvalorização da mulher.
De acordo com Rank,
po~ ~eu pode~ ~exual, a mulhe~ to~na-~e pe~igo~á pa
~a a coletividade, cuja e~t~utu~a ~ocial ~e ba~eia
na angú~tia que, in~pi~ada out~o~a pela mãe, tem do
~avante ~eu manancial no pai ... a mulhe~ exe~ce:
com e6eito, uma ação anti-~ocial, e ~ i~to qu~ ex --plica ~ua exclu~ão tanto nas cultu~as 'p~imitiva~ ,
como nas civilizaç~e~ avançadas, de toda pa~ticipa
ção na vida 50cial e polZtica. O de~p~ezo que o
ho-mem a6eta pela mulhe~
i
um sentimento que tem 6ua60nte na con~ ciê.ncia, ma~ no incon5 ciente o homem te me a mulhe~. (Rank., ] 9 34, cita em Chahon, ] 9 80 1.
Retomando a passagem bíblica da expulsão dos
ã
separaçao do fruto maduro --a criança --do tronco materno, e"a ameaça do ca~tigo
de
mo~te, impo~ta.a
t~an~g~e~~ao, demon!t~a bem cla~amente que o c~ime da mulhe~ con~i~te em ~epa~a~
-~e do 6~uto" I Rank, 1934, citado em Chahon, 1980}, pelo parto. Ao mesmo tempo surge, aqui, a morte, como expressa0 da
tendên-cia ao retorno, isto
é,
do regresso ao lugar de origem, na tentativa de restabelecer o estado primitivo de feJicidade e paz
da vida intra-uterina.
A figura feminina aparece, então, vinculada
ã
mortaA um so tempo se mostra plena de amor e se revela como uma for
ça sombria e ameaçadora.
Recorrendo ã teoria plat6nica, Rank pretende
expli-car a natureza do instinto sexual pela imagem do ser primitivo,
originalmente único,dividido em duas metades, as quais estão
sempre aspirando a se reunirem novamente. Para Rank,tal fato
significa uma primeira "alu~ao cla~a e con~ciente ao de~ejo que impele o 6ilho a volta~ ao ~eio da mae, a ~ealiza~ uma nova 6u
~ao com ela" IRank, 1934, citado em Chahon, 19801. Dessa form~
a única possibilidade efetiva de reconquistar o paraíso
perdi-do se faz através da união sexual~ por meio deste retorno pa!
cia!, meramente físico, ao útero feminino, se concretiza
defi-nitivamente a união com a mae.
Assim, sob o prisma da evolução psíquica, observa
-se que a mulher
é
capaz, pela gestação e parto, de garantir p~en-quanto que o homem é impulsionado por uma tendência, a nível
inconsciente, de criar um substitutivo para esta reprodução
"a.tltavé.6 da identi6ic.açã.o c.om a mã.e e c.om a.6 demai.6 pltoduçõe.6 da c.uitulta e da altte, que deltivam de.6ta ldenti61c.açã.o"{6 ,p.
671.
Para Rank, o nascimento constitui a primeira fonte
de angústia pela separação sofrida, fato este que vem a
confe-"
ri r, ~
aos orgaos sexuais femininos, papel extremamente ameaça
-dor, sendo, por isto, amaldiçoados; por outro lado, constituem
estes, na verdade, a única possibilidade de satisfação do des~
jo inconsciente de retomada à vida intra-uterina, o retorno ao
útero materno, através do ato sexual.
A mulher, portanto, constitui simultaneamente uma
figura de amor e um perigo que ameaça a coletividade. O medo
inconsciente do homem pela mulher exige, então, a busca de um
poder social masculino, que possibilite resolver a angústia pri:.
mitiva gerada pela figura materna.
Ainda que as contribuições de Rank, no tocante à con
dição feminina, tenham efetivamente levantado novas
perspecti-vas e ampliado os limites para uma visão mais realística de
tal situação, parece que o ato sexual, para o homem, e a
pro-criação, para a mulher, constituem ainda respostas pouco satis
fatórias.
Em verdade a Psicanálise, de um modo, situa os
ter-mos que compõem o binômio homem-mulher como realidades
vivenciado pela mulher ao confli to entre suas tendências "viris"
e "femininas", sem atentar para o fato de que a citada "inveja"
experimentada pela menina diante do pênis decorre, antes, de
uma valorização prévia do falo, nao constituindo, como
preten-de Freud, um fenômeno natural.
Definida pela ausência de um pênis e nao pela pre
-sença de uma vagina, a crença da mulher como a de ser um homem
imperfeito, porque mutilado, contribui para dificultar, ou me~
mo impedir definitivamente, o desenvolvimento de sua auto-estl
ma. Enquanto o pênis é valorizado e reconhecido socialmente, os
órgãos sexuais femininos permanecem ignorados - salvo quando
para proveito do macho.
Construindo-se dentro desse quadro, a mulher nao
cria um espaço próprio, pouco se diferenciando do restante do
mundo. E se pouco diferenciada, pouco autônoma, sua responsabl
lidade se diluindo pelos diferentes papéis que desempenha, sua
liberdade limitando-se ao bem-estar da família, ao sucesso do
marido,
i
felicidade dos filhos.A menina, ao se identificar com uma figura
desvalo-rizada, desvaloriza-se a si mesma. Na verdade, o vínculo
ínti-mo que permanece entre mae e filha "nã.o
ê
bMea.do .6..tmp.e.e.6menteno ~upe~envo.e.v..tmento mútuo ma..6, 6~equentemente, na. eomp~een.6ã.o
mútua. de .6ua. op~e.6.6ã.o". l25, p. 891.
realida-des complementares, a reciprocidade de r'elações entre os sexos
inexiste, uma vez que um deles sempre se pronunciou como o pr~
valente . .
A existência dessas duas forças opostas naturais, ho
mem-e-mulher, é inquestionável;
• que estas duas forças necessitem manterse balan
-ceadas, de modo a nao romper com a harmonia do sistema,
é
10
-gicamente reconhecivel;
• o curioso, e certamente difícil de compreender, de~
tro de tal quadro, é a aceitação aparentemente incondicional,
pela fêmea humana, de um modelo que já nasceu derrotado.
D) - AS RAIzES
A Sociedade Patriarcal e a Igreja Católica
Apostóli-ca Romana, habilmente integradas no modelo importado do
Conti-nente para a Colônia, corporificam os pilares sobre os
se assenta a idealização da mulher brasileira.
quais
As mulheres brancas da época escravocrata
apresentavam os requisitos básicos para o estabelecimento de uma rela
-ção ideal com o macho local. Prontas a submeter-se , sem qual
quer espécie de contestação, ao poder do patriarca e,em geral
extremamente ignorantes, já por volta dos quinze anos estavam