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A imagem da mulher de meia-idade nos meios de comunicação social

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Academic year: 2017

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(1)

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

MARIA FRANCISCA THERESA PINTO FERREIRA

A IMAGEM DA MULHER DE MEIA-IDADE NOS MEIOS DE

COMUNICAÇÃO SOCIAL

TIISOP F383i

(2)

FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS

liA IMAGEM DA. MULHER DE MEIA-IDADE NOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL"

'. :.i .;~/ISÚP

/cPGP

Prat~'(k,~t~foga":'190

, .salã

.lios

(3)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

"A IMAGEM DA MULHER DE MEIA-IDADE !'tOS MEIOS

DE COMUNICAÇÃO SOCIAL"

por

MARIA FRANCISCA TKERESA PINTO FERREIRA

Dissertação submetida como requisito parcial para ob tenção do grau de

MESTRE EM PSICOLOGIA

(4)

Ma.IL..i.a. Ca.lLol..i.rr.a.,

que ..i.rr...i.c..i.a. a.golLa. a. 4Ua. lu~a..

Adela...i.de,

(5)

A

Dra. Monique Augras, por sua orientação, pelo interesse de

-monstrado, por suas observações e intervenções sempre

perfeitamente l6gicas, incisivas & esclarecedoras;

ao Amigo e Professor

a

de Almeida, pelo apoio constante, pelo

desprendimento, pela confiança, pelos conhecimentostrans

mitidos;

i Teresa, pelos ensinamentos, incentivos e.carinho com que sem

pre acompanhou meu crescimento;

is minhas av6s, por suas histórias e seus exemplos;

i Débora, pela colaboração e atenção dedicada.

Finalmente,

a meus pais e irmãos, que sempre souberam fazer de nossa con

-vivência uma relação de amor, e,

nin memoriam" , ao Piragibe, por tudo o que me ensinou.

(6)

o

presente trabalho teve por finalidade investigar

a posição ocupada pela mulher dita de meia-idade nos meios de

comunicação social. Para tanto, foram selecionadas cerca de

quinze Revistas Femininas, editadas pela Bloch e Abril Cultu

-ral, tendo sido as fotos e ilustrações apresentadas em tais

veículos de comunicação, submetidas ã Análise de Conteúdo,

pa-ra a qual se contou com uma equipe formada por quatorze juízes,

selecionados aleatoriamente.

Os estímulos apresentados foram classificados em

três categorias, quais sejam, "mulher jovem", "mulher de

meia-idade" e "mulher idosa", e os resultados obtidos submetidos a

uma análise lógica e estatística.

Efetuou-se um estudo sobre a condição da mulher, s~

gundo as dimensões biológica, social e psicológica,

considera-dos aspectos relativos

ã

mítica feminina, além de um-breve hi~

tórico sobre a situação da mulher no contexto social do Pais.

Foram, também, observados dados referentes

ã

Psicologia do Con

sumidor.

A partir dos resultados obtidos constatou-se que a

incidência de estímulos classificados como sendo mulheres de

meia-idade não foi significativa, alcançando, a figura da

mu-lher jovem, a quase totalidade dos estímulos apresentados em

(7)

res de mais idade.

Observou-se, também, uma tendência acentuada a se

classificar na categoria "jovem" figuras femininas que se apr~

sentassem como sexualmente atraentes, fisicamente belas e, ain

da, a de artistas populares - esta, mesmo naqueles casos em

que, reconhecidamente, se sabia possuidoras de idade superior

aos 43 anos.

Desse modo, concluiuse que a figura feminina cor

-respondente à mulher considerada de meia-idade, inexiste como

forma de apelo social, o que contribuiu, sobremaneira, para

tornar ainda mais conflitivo um período já crítico em si mesmo,

como o

é

o climatério.

(8)

The objective os this work was to study the degree

of participation of the middle age woman in the media of

social communication in Brazil.

About 15 magazines, published by "Bloch" and

"Abril Cultural", have been selected for ""this study. The

readers basic characteristics and profiles have been obtained,

from the publishers, for each one of the above mentioned

magazines.

The photographs and illustrations in the magazines

were submitted to "Content Analysis", being classified in

three different groups - " the young woman", "the middle age

woman", and "the old woman" - by 14 randomly selected judges.

After the classification the results were submitted

to a logical and statistical analysis.

It was also investigated the condition of the

woman. considering the dimension of the biological, social

and psychological leveI, and some aspects related to the

mythicism of the feminine being. A short historical review

about the woman situation in the social environment of Brazil

is also presented, as some data about the Consumer's

Psychology.

(9)

. '

being almost alI stimuli in the class "young woman", even in

the media said to be directed to middle age women.

The study shows that, independent of published

matter and magazine, almost the totality of obtained stimuli

is concentrated in the class "The young woman".

1-I t is presented, in the conclusion", that "the

middle age woman" does not exist as a form of social appeal,

whit must contribute to maintain conflitive such a period as

the climacteric .

(10)

QUADRO I: Proporção de estímulos classificados nas cate

gorias A, B, C e D, por revista --- 92

QUAD~O 11: Proporção de estímulos classiiicados nas categ~

rias A, B, C e D, por revista --- 93

QUADRO JII: Média das proporçoes dos estímulo? classifi cados, respectivamente, por 14 e por 12 juí

-zes, em cada categoria, em todas as revistas ---- 94

QUADRO IV: Estímulos nao aproveitados, por revista --- 94

QUADRO V: Total de estímulos aproveitados, por revista ---- 9S

QUADRO VI: Média da proporçao de estímulos que incidem

em cada categoria, em todas as revistas --- 9S

(11)

.'

ANEXO I: "Perfil dos Leitores" --- 112

ANEXO 11: Proporção de Estímulos Classificados em cada Categoria, por Juiz, em cada

Revista --- 125

(12)

Agradecimentos --- iv

Resumo --- v

Summary --- vii

Relação de Quadros --- ix

Relação de Anexos --- x

INTRODUÇÃO CAPITULO I: O PROBLEMA --- 006

1. O CONTEXTO ---~--- 006

1.1. Mulher - A Situação --- 006

A - Espaço Biológico --- 007

B - Espaço Social --- 011

C - Espaço Psicológico --- 022

D - Raízes --- 037

E - A Mítica --- 046

1.2. Mulher de Meia-Idade - A Ruptura --- 057

(13)

1. HIPdTESE --- 079

2. DEFINIÇÃO DA AMOSTRA --- 079

3. APLICAÇÃO DA TEcNICA --- 083

4. TRATAMENTO ESTATrSTICO --- 097

CAPrTULO 111: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS --- 092

CAPrTULO IV: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSOES --- 096

CAPITULO V: RECOMENDAÇOES --- 103

CAPrTULO VI: COMENTÁRIOS FINAIS --- lOS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS --- 109

(14)

.'

Pode ser observada, nos dias atuais, uma atenção

crescente em torno da temática "Mulher", e o interesse em so,!!

dá-la em seus múltiplos aspectos vem suscitando a realização

de uma série de estudos os quais, longe de esgotarem q tema,

descobrem sempre novas facetas a serem exploradas.

O presente trabalho tem por finalidade abordar tal

temática em um dos seus aspectos que se revelam como mais cru

ciais, que é o referente ao climatério. Para tanto, decidiu

-se.investigar, a partir do enfoque fornecido pela Psicologia

-do Consumo, a imagem da mulher de "meia-idade", isto e,

aque-la que está vivenciando o período do climatério, tal como

se-ria apresentada em um veículo de comunicação social, de modo

a verificar sua expressividade no contexto da sociedade

con-temporânea.

No que se refere ã questão feminina, o que de fato

surpreende, é a acei tação da idéia da suj eição da mulher a uma

condição de vida que sempre a caracterizou como a segunda pe~

soa da parelha macho-fêmea humanos.

Entretanto, em momento algum, no decorrer da histi

ria da humanidade, deparou-se com uma argumentação logicame,!!

te construída, ou com fatos sólidamente irrefutáveis, que evi

denciassem uma relação de valor entre 0'5 seres feminino e mas

culino. Ao contrário, o que parece ocorrer, é que aposição de

(15)

de uma explicação convincente, aparece muito mais como uma

"solução" artificialmente encontrada, e socialmente elaborada,

visando a justificar e manter tal situação.

Dentro desse contexto, ressalta-se com especial vi

gor a situação da mulher no climatério. Período caracterizado

pela transitoriedade, corresponde ao inverso da puberdade, se~

do normalmente percebido, tanto por homens como por mulheres,

como uma "doença" impossível de ser evitada, e cujas

manifes-tações são esperadas como inevi táveis: um sofrimento pelo qual

a mulher deve passar, e o homem suportar, com a resignação e

c0Ill:placência que o caracterizam como o ser "mais equilibrado

e completo" que pretende ser.

o

que haveria de tão desprezível no climatério a

ponto de ser este, a todo custo, tratado como doença, é uma

questão que ainda não obteve uma resposta satisfatória. Isto,

sem dúvida, contribui para acentuar o caráter já naturalmente

conflitivo do período, além de conferir

à

"menopausa" a quali:. ficação de algo tão temível que não deve sequer ser ~enciona­

do.

o

presente estudo consta de uma parte inicial na

qual Sao levantadas algumas considerações sobre a condição

da mulher, em geral, e da mulher de meia-idade, em particular.

Em seguida, apresenta-se um relato de um trabalho efetuado a

partir da aplicação da Análise de Conteúdo a fotos e

(16)

Considerando o ser humano segundo suas três

compo-nentes básicas, quais sejam, as dimensões biológica , psicol~

gica e social, procurou-se analisar a situação feminina sob

este tríplice aspecto.

De modo a possibilitar uma melhor compreensao da

situação da mulher na sociedade, efetuou-se um breve

históri-co, no qual as influências exercidas pela Igreja Católica

A-postólica Romana, e as consequências de um sistema social cal

cado no patriarcalismo, foram consideradas como algumas das

determinantes na constituição da sociedade brasileira e, por

extensão, da formação do ser feminino.

Em seguida, foram abordados aspectos referentes

mítica que envolve a mulher, e levantados dados relativos , a

,

a

Psicologia do Consumo, onde se pode observar sobre a importâ~

cia da "imagem" no contexto da sociedade contemporânea.

Finalmente, foram apresentados Resultados e Concl~

soes, Recomendações e, ainda, tecidos alguns comentários, ao

término do trabalho, acerca dos dados levantados.

Cabe, mormente, ressaltar que, independentemente do

fato do climatério vir acompanhado de alterações fisiológicas,

parece constituir, antes, um fenômeno de cunho eminentemente

psicológico, e com algumas repercussões que se estendem ao nf

(17)

Quanto aos motivos que levam' a se colocar a fêmea

humana em segundo plano, no binômico homem-mulher,parecem ser

os mesmos que levam ao seu anulamento, quando vivenciado o

climatério. Mesmo que com algum esforço, tais motivos podem

ser identificados.

o

que permanece, ainda, difícil de se compreender,

{.:

é o fato da mulher, um ser constitucionalmente preparado para

daravida, paradoxalmente ter se omitido ~urante tanto tempo

(18)

"Ma..s

o 6a.to

ê

que. f, empne.

ê

outo no no outo no,

E o -<.nvVU1o vem de.po~ 6a.taime.nte.,

E há. f,Ô wn c.am-<.nho paJta. a. v-<'da., que.

é.

a. v-<.da. • •• "

(19)

1. O CONTEXTO

CAPrTULO I

O PROBLEMA

1.1. MULHER - A SITUAÇAO

g pelo contraste, antes que por qualquer outro

fa-tor, que se definem o masculino e o femihino, e a partir. da

condição mais primária: a biológica.

Ainda que a definição dos sexos repouse, num plano

mais rudimentar, sobre características que se excluam mutua

-mente, em momento algum ficou declarado pela natureza uma

re-lação de valor entre tais predicados. Entretanto, uma posição

de inferioridade da fêmea humana diante do macho, nao so cons

titui uma realidade indiscutível como já adquiriu, com raras

excessões, "status" de verdade, tendo sido até mesmo

institu-ciona1izada e legitimada pelo código social vigente.

Proceder a uma análise da situação da mulher signi

fica historiar uma relação de superioridade do macho sobre a

fêmea, sendo o fantasma da inferioridade o grande companheiro

da condição feminina - para não dizer seu determinante.

Em 1949, S. Beauvoir iniciava seu livro, "O

Segundo Sexo", com o verbo "hesitar" (5, p. 7). Com isto, demons

-trava o quanto tal temática, já naquela época desgastada por

(20)

Mais adiante, lança a seguinte questão: "Em

ve~da-de,

have~~ mulhe~?" (5, p. 7).

A) - O ESPAÇO BIOL6GICO

Conforme se ascende na escala animal, mais sofisti

cados e elaborados se fazem os organismos, e quanto maior seu

grau de complexidade, maior a liberdade conquistada.

O nível mais elevado já alcançado por um organismo

nessa escala evolutiva, o foi pelo macho e pela fêmea humanos.

-Curiosamente, porem, e exatamente este refinamento

na sua condição biológica, que se impõe ã mulher como o pri

-meiro obstáculo ao exercício de si mesma.

Antes de se constituir como um ser que atua e deli

bera, dotado de lógica e afetividade própria, a fêmea humana

é

uma enorme matriz, um aparelho gerador composto de útero e

ovários, sendo em número de seis os fatos que orientam sua vi

da:

• a menarca

• a menstruação

• a gestação

• o parto

• a amamentação

(21)

Todos estes fatos gravitam em torno de uma única

realidade: a reprodução. Portanto, antes de qualquer outra de

finição, a mulher é um ser reprodutor por excelência.

Contrastando com o macho que, por estar mais volta

do para a açao e orientado para a produção de bens e valores,

adotou a posição de "mantenedor da vida", a mulher voltou- se

para a adoção de um papel que se alonga no sentido diacrônico,

que é o de "mantenedor da espécie".

A mulher, muito mais que o homem, é prisioneira de

seu ciclo biológico e, por extensão, da espécie. Está

mais amarrada às necessidades de seu aparato gerador que

suas próprias exigências.

g

a portadora do óvulo:

útero ditam as condições de sua existência.

~ . ovarlO

muito

~

as

e

Enquanto a anatomia masculina constitui-se num

va-lor absoluto, sendo usada como meio de relação direta com o

mundo circundante, o corpo feminino se sobrecarrega com o

pe-50 que lhe confere a extrema sutileza de sua especif~cidade ,

55 adquirindo valor enquanto exercendo a função para a qual

foi destinado: a reprodução. E, ainda assim, com um agravante,

pois, se no macho a produção de espermatozóides não encontra

limites, na fêmea, desde a vida embrionária, a quantidade de

ooócitos já se acha determinada. Logo, remonta ao momento da

concepçao a aquisição, pela mulher, do estado de prisoneira da

espécie.

(22)

.'

e nao o contrário, aparece como a condicionante

quência dita natural de outros fatos:

de uma

se-• é

o espermatozóide que se movimenta é o macho que se rea liza na ação, é o homem o idealizador de projetos;

• é o óvulo que espera- é a fêmea que se conserva -.imóvel,

é

a mulher que, passivamente, recebe a ação;

· é

a fêmea que sofre o coito, que a aliena de si mesma pela

penetração do macho (6, p.42), e que sofre a fecundação, que

dá continuidade ao processo de alienação através da manuteg

ção, em seu organismo, de um elemento estranho, ao qual

permanecerá inevitavelmente ligada até que este tenha, final

-mente, e independentemente de sua vontade, se tornado

autô-nomo.

Logo, enquanto o macho se "realiza na ação", a

fêmea permanece desincumbindo seu ofício silencioso de

re-produtora, acompanhando, em harmonia, o curso da natureza.

Assim, as características fisiológicas da. fêmea

fazem com que esta seja, simbólicamente identificada

ã

nature

za, em oposição ao macho que, por interferir nesta última,

identificado

ã

cultura.

-e

Enquanto o homem exerce uma atividade externa,

1i-vre, criando objetos relativamente duradouros, a mulher

exer-ce uma atividade que tem a si mesma como pano de fundo, e em

função de um objetivo, alheio a ela, de produzir seres pereci.

(23)

.'

Or~ner (25, p. 102) apresenta três níveis de

discus-sao que, em última instância, pretendem explicar a associação

que se faz da fêmea ao plano da natureza:

- Inicialmente, coloca-se que a fisiologia feminina torna a m~

lher mais próxima da natureza, na medida em que dispende a

maior parte de seu tempo com "espécies de vida" - já a fisi~ logia masculina deixa o homem mais livre para assumir esque-mas culturais;

- Num segundo nível,considera-se que a fisiologia feminina con duz a mulher a desempenhar papéis ditos socialmente inferio-res àqueles exercidos pelos homens no processo cultural; e

- Finalmente, que os papéis sociais tradicionalmente femininos,

impostos por sua fisiologia, conferemà mulher uma estrutura

psíquica diferente que é, então, percebida como sendo mais próxima da natureza.

Esteja ou nao mais ligada

-

a natureza, quer por imp~

sição fisiológica ou social, quer como resultante de um proce~

so de treinamento (socialização) mais sutil, o fato é que a

situação da fêmea humana,no mundo ,está intimamente relacionada

ao maior envolvimento do corpo feminino com a função natural

de procriação.

A destinação da mulher a um contexto doméstico

so-cialmente desvalorizado e estruturalmente subordinado, o

exer-cicio de seu papel maternal e da complexa tarefa de socializar

crianças, faz com que pareça mais próxima do curso dos

fenôme-nos naturais.

Uma vez que as atividades que visam

-

a destruição

(24)

a habilidade feminina de procriar - a m'oTte, nesse aspecto

assumindo valor transcendente, na medida em que é capaz de in

terromper o fluxo natural da vida - os planos culturais, que

objetivam submeter, controlar e transcender a natureza, consl

deram, por analogia, natural a subordinação da f~mea ao

ma-cho.

Ainda que a ótica oferecida pela biologia seja

usa-da para justificar uma relação hierárquica entre macho e f~­

mea, as diferenças encontradas entre um e outro só adquirem

significado de valor (superior-inferior, melhor-pior) no

con-texto de um sistema de valores culturalmente definidos.

Se, biologicamente, o domínio da mulher sobre o mun

do. é menos extenso que o do homem e, se a mulher é mais

es-treitamente submetida aos ditames da espécie, o fato de conc~

ber, criar e alimentar novos seres ainda é uma habilidade úni

ca da f~mea.

Embora parecendo mais próxima da natureza que o

homem, a mulher tem consci~ncia, pensa, fala, comunica e mani

pula símbolos, conceitos e valores. Está tão envolvida e

com-prometida com o esquema cultural quanto o homem. E efetua- se

na práxis de modo contundente ao parir outros seres dotados

de consciência,que pensam, falam, comunicam e manipulam símbo

los, conceitos e valores.

(25)

('I

Marcada pelo estigma biológico da reprodução,ainda

é

o útero o principal determinante do papel a ser desempenhado

pela mulher na esfera social. As atividades que lhe cabe reali

zar, na verdade, não são mais que o prolongamento natural de

suas características biológicas específicas que estabelecem

para o ideal feminino, o possuir um lar, pertencer a um homem,

e gerar filhos.

Cabe à mulher desenvolver um genero de personalid~

de que lhe permita ajustar-se às funç6es que, ·como € de se

es-perar, venha a desempenhar, no lar, no duplo papel de esposa e

mae.

Sua orientação € basicamente a dom€stica; seu

com-portamento a aquiescência; sua atitude o silêncio.

Ainda como "mantenedora da esp€cie", sua dimensão

biológica tem continuidade na dimensão social, ao se incumbir

da socialização das crianças. A educação se imp6e como

exten-são do ato de procriar, e equivale a uma segunda gestação: a

transformação lenta e gradual de um ser primitivo em um ser so

cializado.

Aqui, a função exercida permanece tendo um caráter

alienamente, com a diferença de que, agora, o elemento estra

-nho que lhe suga o sangue está alojado fora do útero.

Com a função de agente socializador de crianças, a

(26)

dos grupos domésticos, de modo que, nesta ótica, o fato de po~

suir ou não um lar é elemento decisivo na obtenção de

reconhe-cimento social.

Dentro deste quadro, o casamento assume feições es

peciais, constituindo-se em fator imprescindível e condição de

felicidade pessoal da mulher, pela consolidação do "status" so

cial e garantia de estabilidade e prosperidade econômicas.

Sendo a fragilidade socialmente admitida - e

valo-rizada ~ como característica própria do sexo feminino,

despon-ta a figura masculina como o único elemento capaz de lhe

pres-tar a proteção de que necessita. Consequentemente, cabe

ã

mu-lher retribuir o benefício com o qual foi contemplada, através

de uma dedicação completa e exclusiva

ã

família, personificada

na pessoa de seu chefe. Sob o rótulo "boa esposa" jaz a mulher

silenciosa e submissa, caprichosa no cumprimento de seus

deve-res, zeladora da tranquilidade intrafamiliar, depositária das

tensões extradomésticas, econômica e socialmente subordinada ao

marido, pelo sagrado vínculo do matrimônio.

À exploração da mulher pelo homem convém a extrema

diferenciação entre os sexos, que vem a se refletir, num nível

mais acentuado, por um "padJLã.o duplo de mOJLal-i..dade" 19, p.254J:

ao homem, toda a liberdade de ação, todas as oportunidades de

iniciativa e contatos diversos;

ã

mulher, a limitação

ã

esfera

doméstica, seu gozo circunscrevendo-se ao do marido.

(27)

um "direito" dos homens, enquanto a castidade é imposta à mu-lher - ji por motivos religiosos, sociais ou econ5micos.

Com relação a esse aspecto, assinala Engels que a

monogamia é a resultante de um sistema social cujas bases

re-pousam sobre a propriedade privada. A família monogâmica,

fun-dada sob a dominação do homem, tem por fim gerar herdeiros d~

paternidade incontestivel de modo a ficar assegurada a posse

da fortuna paterna. Mais uma vez é reforçada a situação de sub

missão da mulher da qual se exige fidelidade conjugal, por ser

esta a garantia da autenticidade da prole como 'pertencendo' ~

quele pai. (19, p. 21).

A orientação doméstica que se imprime à mulher exi

ge um tipo de compromisso que, além de consumidor de tempo,su~

cita o estabelecimento de laços de dependência. A mulher,

nes-te aspecto, exisnes-te em função de dois elementos; o marido, que

é

quem na verdade a define, e da prole que, em última anilise,

é

uma continuação deste.

A orientação no sentido contririo, isto é, em dire

çao ao mundo extradoméstico, quando existe, é dirigida por

re-gras similares às que vigoram dentro do lar.

As mulheres, mais que os homens, nao sao prepara

-das para o exercício de uma profissão.

Quando nao envolvidas em atuações de cariter

(28)

o'

da como um emprego provisório a ser encerrado no momento do ca

sarnento.

Enquanto a esfera pública (o trabalho remunerado,a

política, o exercício do poder e da autoridade) é marcadamente

masculina e de importância primária, a realização feminina

es-tá confinada ao espaço em que se desenrola sua vida privada: a

casa, o lar, e quando muito a comunidade, socialmente

encara-dos como tendo importância secundária.

o

homem, ao se engajar diretamente na sociedade

a-través do trabalho remunerado, estabelece seu ajustamento

so-cial com base no fato de se constituir pessoa economicamente

ativa. Já a mulher, na maior parte dos casos, participa da cla~

se social por extensão, como reflexo de um "status" econômico

que é o do marido ou o do pai.

o

trabalho, como agente de realização pessoal e

profissional, ou como meio de ajustamento às condições

gerado-ras de instabilidade econômica não constitui, ainda, yalor

pa-ra gpa-rande parte das mulheres e papa-ra a sociedade em gepa-ral.

Mesmo que a Revolução Industrial tenha suscitado

mudanças radicais quanto ao emprego da mão-de-obra feminina,i,!!

tegrando a mulher no processo de trabalho produtor, o emprego,

para esta, só se justifica como meio socialmente aprovado de

remediar uma situação econômica difícil, de ampliar os rendi

-mentos da família ou de fazê-la ascender na escala social (26,

(29)

de vida doméstica e de educação da prole foi transferido para

um plano menos mediato (26, p. 319).

o

trabalho remunerado da mulher, à diferença daqu~

le do homem, não deve visar à sua realização pessoal, mas a do

padrão de vida doméstica. Mesmo quando determinado por um obj~

tivo de mobilidade social ascendente,

v-i.nc.u.ta.-.6e. e..6te., muito mai.6

ã

c.on.6c.ie.nt-i.za.ç.ã.o da..6 pO.6.6-i.b-i..tida.de..6 de. a..6 c.e.n.6ã.o do.6 me.mbJto.6 mM c.u.t-i.no.6 da. 6a.mZ.t-i.a. do que. da. pJtôpJt-i.a. mu.the.Jt. (26, p. 237).

A idéia enraizada na consciência social de que a

finalidade da mulher é o casamento e a procriação, direcionou

o preparo da força de trabalho feminina, em sua grande parte,

para ocupações subalternas, mal-remuneradas e sem perspectivas

de promoções. A concepção da mãodeobra feminina como subsi

-diária, tem favorecido a oferta e a aceitação de salários infe

riores aos recebidos pelos homens, bem como a outros gêneros 00

diferenças de tratamento que variam desde a oportunidade de

trabalho até ao tipo de ocupação oferecida.

Somente às mulheres que constituem uma parcela de

elite do agrupamento feminino é permitido desempenhar funções

tidas como tipicamente masculinas e fazer uso dos mesmos meios

de integração social utilizados pelos homens.

o

treinamento maciço sofrido pela mulher, no senti

do da conformidade, restringiu sensivelmente sua capacidade de

reivindicação. Assim, tende a comportar-se mais passivamente ,

acomodando-se, em lugar de procurar assumir posições que possi

(30)

Em verdade, à compensaçao financeira oferecida

pela atividade remunerada, seguese a necessária compatibiliza

-çao com as tarefas domésticas, as quais continuam sendo de

ex-clusiva responsabilidade da mulher. No tocante à classe média,

por exemplo, apenas recentemente medidas tais como a criação de

creches, a oferta de métodos contraceptivos mais seguros, o

largo emprego de aparelhos eletrodomésticos e outras

facilida-des no gênero, vêm sendo mais fartamente introduzidas. Porém,

nao só tais facilidades deixam ainda a de~ej ar, em termos de

nao cobrirem toda a extensa lista de necessidade existentes, c~

mo não são muitos aqueles que a elas têm acesso, quer pelo

po-der aquisitivo, quer pela desinformação, quer por ambos os

fatores. Enquanto para as classes mais baixas as opções se cir

-cunscrevem às condições mínimas de sobrevivência, nas classes

média e mais elevadas, ainda se encontram a opção, sem dfivida

extremamente cômoda e interessante, da empregada doméstica: a

escrava-da-escrava.

A possibilidade da mulher no mercado de trabalho

- e de explorar convenientemente esta via de integração na

so-ciedade - tem sido pensada em termos de se alterarem suas

con-dições de vida, enquanto ser sexuado e reprodutor e como

pessoa que tradicionalmente se incumbe da socialização de crian

-ças. Por outro lado, a exclusão da mulher do mercado de

traba-lho minimiza a tensão acarretada pelo excesso de mão-de-obra .

Deste modo, ao estereótipo se funde o problema real gerado

pe-lo fator competitivo, como elemento desestimulante do emprego

(31)

Os baixos salários e o. tratamento discriminativo

que caracterizam aquelas funções ditas tipicamente femininas,só

contribuem para acentuar ainda mais o problema.

Ora, na medida em que o sexo constitui um dos fatores

que regulamentam a competição no âmbito profissional, os

objeti-vos do processo de socialização e os mecanismos motivacionais de

que lança mão a sociedade, diferem segundo a categoria sexual a

que pertença o indivíduo.

O processo de socialização do menino visa ao ajuste

de pap~is ocupacionais e de chefe natural do grupo familial. Sua

esfera de atividades está voltada para um sistema de relações

interfamiliares --no campo da política, da religião, do ritual,

do pensamento cultural, da ação, etc. --e para uma posição de

relevância na estrutura ocupacional, valendo-se, para tanto, da

competição.

A socialização feminina orienta a mulher para uma co~

telação de valores que a definem como cooperadora, defensora da

organização familiar, dedicando-a à tarefa doméstica não

remu-nerada e,às vezes, ao estreitamento dos laços comunitários.

A própria anatomia, tendo por um lado a vagina (órgão

oco, macio, passivo e receptivo) e por outro o Pênis (orgão

ma-ciço, agressivo e ativo), parece determinar o processo de socia

lização infantil, gerando programas educativos que acentuam as

(32)

/

o

programa desenvolvido para a formação de uma cons

ciência feminina gravita em torno do "ideal feminino": ser mae

- e, por extensão, pertencer a um homem que garantirá a

conse-cução deste objetivo. Tal programa reforça os vínculos da meni

na para com a figura materna e o lar.

Como a mae é, efetivamente, a primeira figura com

que a menina vem a se identificar, tal relação não sofre

solu-ça0 de continuidade ao longo do processo de formação. Pelo con

trário, seu papel é imediatamente compreendido, sendo mediado

por uma "lLe.a.l de.pe.ndê.nc.ia. da..6 lLe.la.ç.õe..6 a.6e.tiva..6" (25, p. 73)

Assim, a figura materna é tomada como modelo, e se inicia uma

aprendizagem gradual de uma gama de comportamentos que

se modifica no decorrer da vida.

pouco

Com o menino observa-se que, paralelamente

ã

busca

de um modelo masculino idealizado com o qual se identificar, d~

ve-se processar a repressão e a desvalorização da feminilidade

(25 p. 73), procurando eliminar-se qualquer tipo de

relaciona-mento que envolva a dependência afetiva ou a necessidade do ou

tro.

De modo que, enquanto as meninas brincam com

bone-cas, sao treinadas para a vida doméstica, e pressionadas a man

terem vivos os laços com os outros, os meninos brincam com

ar-mas, ou ao ar livre, correndo e subindo em árvores, sendo trei

nados para desenvolver a autoconfiança, realizar conquistas e

pressionados a negar qualquer espécie de envolvimento afetivo

(33)

meninas sao incentivadas a participarem sempre do mundo das

mães e das avós, a obter conquistas à custa de simpatia, a

cativar pessoas por sua conduta dócil, amável e refinada;

a-lém do que persistem, desde cedo, num tipo de vida que as

confunde com o adulto, e a atuar dentro de casa.

meninos sao incentivados a agir de modo independente, a ser

.agressivos, impacientes, a exercer autoridade, e a atuar

fo-ra de casa;

Enquanto a infância para o menino traz o cunho da

liberdade, a dependência feminina e propagada de geraçao a

...

g~

ração e vivenciada pela mulher desde a mais tenra idade.

Tal quadro pouco difere durante a puberdade:enquan

to o menino é solicitado a exercer livremente sua sexualidade,

cabe à menina se recolher e sufocar suas sensações, além de,

forçosamente, "ter" que se empenhar na tarefa de transferir seu

centro erógeno do clitóris para a vagina.

Incentivada que foi a desenvolver laços de depen

-dência e a abafar sua individualidade, a mulher adulta tende a

se definir em termos de uma relação assumida em função de um

outro elemento que lhe é externo: um pai, um marido, filhos.Pa

ra a dona-de-casa média, o trabalho remunerado, uma profissão,

nao sao considerações importantes para sua autodefinição, uma

vez que seu objetivo primeiro foi alcançado. Dessa forma, sua

(34)

tra-ma de relações que estabelece com o outro. E desde cedo

apren-de a viver e a incorporar a fluiapren-dez apren-destes diferentes papéis.

As experi~ncias biossexuais femininas em nada

con-correm para promover o fortalecimento do Eu. No período da ovu

lação e da menstruação ou gravidez é que a mulher sente mais

penosamente seu corpo como um objeto alienante; a cada mês seu

organismo se prepara para abrigar outra pessoa, e

experimenta-rá'uma alienação mais profunda quando o óvulo é fecundado.

Du-' ..

rante a gestação, parto, e finalmente a amamen~ação, vive a m~

lher em função de um filho que foi concebido; durante a mens

-truação, vive em função de um filho que não concebera; durante

o período fértil do ciclo, vive em função de um filho que pod~

rá vir a conceber.

Não apenas a mulher assim 'socializada aspira a

uma vida essencialmente doméstica, como o próprio homem visa

a obter condições e recursos tais que lhe permitam possibili

tar a consecução e plena realização do chamado "ideal femini

-no", ou "ideal doméstico" da mulher.

São, portanto, altamente relevantes, os papéis

e-xercidos tanto pela educação formal e pelo processo de sociali

zaçao em geral, como pelos mecanismos de controle social e

pe-lo enraizamento de vape-lores tradicionais, na construção do ser

feminino - a dimensão "sexo" distanciando, na esfera social, o

macho da f~mea.

(35)

Rosaldo (25, p. 53) assinala que o "status" feminino

é

mais bai

xo naquelas sociedades onde há firme diferenciação entre as es

feras de atividade pfiblica e dom€stica, e onde as mulheres,

i-soladas umas das outras, estão subordinadas

ã

autoridade de um

único homem no lar. Sua posição vai se tornando mais elevada

conforme se amplia seu campo de ação, disputando e reivindica~

do autoridade, assumindo pap€is masculinos ou estabelecendo la

ços sociais diversificados.

Em verdade, na medida em que os sexos constituem

realidades absolutas, sendo, portanto, simplesmente di ferentes

um do outro, não cabe questionar-se quanto a uma possível rel~

ção hierárquica entre os dois. g fato, por€m, que a

desigualda-de sexual é "um pltoduto .6oeia..f." - e, como tal, "pa..6.6ive.l de. muda.nça." (25, p. 291. Entretanto, pouco se poderá avançar em direção a tal mudança enquanto a sociedade persistir no uso de

um sistema de códigos e figuras culturais que insistem em

ofe-recer uma imagem menos valorizada da mulher.

C) - O ESPAÇO PSICOLOGICO

Qualquer tentativa de compreensao da psique femini

na sempre esbarrou com uma realidade irrefutável: o falo.

A Psicanálise, certamente, veio a dar nova dimen

-sao ao campo do conhecimento humano; porém - e paradoxalmente-,

o que se observa é que a própria contribuição freudiana se fez

(36)

aquela ditada pela anatomia.

Freud admite que a sexualidade feminina é tão

evo-luída quanto a masculina porém, no que se refere a primeira

unio a e4tuda, po~ a44im dizen, em 4i me4ma" (5, p. 60) e,

pa-ra descrever o destino feminino, utiliza-se do mesmo modelo que

empregou para explicar o ser masculino.

re

acordo com Freud, a libido se desenvolve, ini

-cialmente, de forma id~ntica no nenino e na menina. havendo,na

infância, uma coincid~ncia de zonas erógenas e a figura

mater-na constituindo, sempre, o primeiro objeto de amor.

Apenas ao atingir a fase genital é que os proces

-50S de diferenciam, especificando-se diferentes zonas erogenas,

quer se trate do sexo masculino ou feminino.

Por esta ocasião, Freud vem enfatizar o fato até

então nao devidamente reconhecido de que, enquanto a zona

eró-gena masculina, por excelência, localiza-se no pênis, existem,

para a mulher, dois sistemas eróticos distintos: um,

clitoria-no, que se desenvolve no estágio infantil, e outro vaginal

que é ativado com a puberdade.

Se neste período o menino completa sua evolução

permanecendo o pênis como o foi na infância - o órgão erót!

co privilegiado, o que se verifica nesta fase, para a menina.

(37)

pa-/

ra a vagina - e somente apôs esta definitiva transferência se

dirá completada sua evolução.

Ao longo do desenvolvimento observa-se, no menino,

uma fixação inicial na mãe e um desejo de. se identificar com o

pai, figura esta, ao mesmo tempo temida, pois que, para puni

-lo, é capaz de mutilá-lo. Dessa forma, des~nvolve, para com o

pai, sentimentos de agressão, mas introjeta, simultaneamente,

a autoridade que emana da sua figura; com a formação do super~

go as tendências incestuosas são recalcadas, é resolvido o com

plexo de édipo e o filho liberta-se do pai, já

sob'a forma de regras morais.

.interiori zado

Para explicar o desenvolvimento da menina,

Freud o mesmo modelo, com a distinção de que esta, por

adota

volta

dos cinco anos, descobre a diferença anat6mica existente entre

os sexos e reage

ã

ausência do pênis por um complexo de castr!

ção. Com isto, deve ".lLenunci.a..IL

M

~ u~ p.ILeten~ õe.6 v-i..Jti.6,

-i..den-t-i..6-i..c.a.-~e c.om a. ma.e e p.ILOC.U.ILa. ~eduz.t.IL o pa.-i.." (5, p. 62).Ao me~

mo tempo, a menina experimenta pela geni tora sentimentos de hos

tilidade, responsabilizando-a pelo fato de não possuir um

nis. Lembra Beauvoir que, segundo Freud , o

~ent-i..mento de 6.ILU.6t.ILa.ção da men-i..na.

é

tanto ma.-t~

do-lo.ILo~~ quanto, amando o pa-i.., goata.IL-i..a de aaaemelha.IL ~e a ele ••• m~

é

pela te.ILnu.ILa. que -i..nap-i...lLa ao paI que ela pode c.ompen4a.IL ~ua -i..n6eJtio.IL-i..dade. (5,p. 621.

-

pe-o que a leva a acentuar, ainda mais, pe-o sentimentpe-o de

(38)

Desse modo, verificase que o desenvolvimento da se

-xualidade, para a menina, se faz de forma bem mais complexaque

para o menino. Embora sendo a figura materna o primeiro

depo-sitário de uma relação de amor para ambos, ocorre que para

o menino, ao término do processo de desenvolvimento, foram con

-servados a mesma zona erogena e o mesmo objeto de amor; já a

menina se depara com a necessidade de modificar a zona

eró-gena e o objeto de amor, que passa a ser encronado pelo pai. Eg

...

quanto para o menino, a puberdade constitui uma fase de

inten-sificação da libido, para a menina corresponde a uma fase de

compressão da energia libidinosa.

Também o complexo de castração assume diferentes

pesos, quer se trate do sexo masculino ou feminino. Para o pri

-meiro, guarda um sentido de positividade,na medida em que ad

vem do medo de que o privem de algo que já possui; para a meni

na, acentua-se o sentido de negatividade, pois é justamente so

bre uma "ausência" que tal complexo se instala, sentindo-se

então, inferiorizada, por não possuir um pênis.

Assinala Saffioti que

a 6atta do pên~4, po~ caU4a do comptexo

de

ca4t~a­

~ão e da ~nveja do memb~o v~~~t, a44um~ ~mpo~tâ~

-c~a 6undamentat na teo~~a 6~eud~ana e e ~e4pon4a

-vet po~ todo 4eu de4envotv~mento utte~~o~ no que

tange

ã

ca~acte~~zação da muthe~. (26, p. 292).

Para Freud, pela ausência do pênis, a menina desenvol

ve sentimentos de hostilidade para com a mae, elegendo o pai

(39)

testável, nada há que motive a mulher a tentar superar a

rela-çao edipiana. Assim, além de formar um superego menos vigoroso

que o formado pelo menino, a menina apresenta menor capacidade

de sublimação e não pode, portanto, "cup,{.JLa.JL

ã:

peJLóe,{.ç.â.o" (26,

p. 293), como o homem. Para Freud, "com a. de~cobeJLta. da. óa.lta.

do pêrU..~, a. mu.lheJL ó,{.ca. de~ va.lOJL,{.za.da. pa.ia. a. men,{.na., ta.nto q~

to pa.JLa. o men,{.no e ta.lvez pa.JLa o homem". (FJLeu.d, 1948, c,{.ta.do,

em Sa.óó,{.ot,{., 19781.

De modo a compensar seu defeito anatômico básico, de

acordo com a teoria freudiana, a mulher passa a desenvolver de

terminados comportamentos específicos que vão desde a

manuten-ção de sua atividade clitorideana,

à

necessidade de ser amada

mais que a de amar; desde sua menor capacidade de

intelectual, até a recusa de sua feminilidade.

realização

Para o pensamento freudiano a mulher é, antes de tu

do, um homem mutilado. Ao associar o ativo ao viril, e o passi

vo ao feminino, Freud legitimou, a um nível dito científico, o

caráter de inferioridade do sexo feminino, colocando a passivi

dade como propriedade intrínseca da personalidade da mulher.

Com Adler, a situação sofre algumas modificações, a

partir da suposição, formulada pelo autor, de que há, em todo

indivíduo, uma vontade de poder, a qual, gerando um conflito,

leva-o a fazer uso de uma série de artifícios que evitem um

confronto com o real, que receia não ter condições de vencer.

(40)

do pela mulher, "a44ume a 6o~ma de uma ~ec~a enve~gonhada da

6emlnllidade". (5, p. 64). Não € exatamente a realidade da

au-sência do pênis que origina o complexo, e sim todo o conjunto

da situação vivenciada pela mulher; "a menina nio inveja o

6a-lo a nao 4e~ como 4Zmbolo d04 p~ivilêgio4 concedido4 a04

meni-n04" (5, p. 64).

e

a valorização social do macho e de tudo que

a ele se liga diretamente que assenta, na mulher, a idéia dasu

perioridade masculina.

Se, durante a infância, a menina tende a se identifi

car ao pai, mais tarde vem a desenvolver um sentimento de inf~

rioridade em relação ao homem. Colocada diante da alternativa

de manter sua autonomia, e abafada pelo peso do complexo de i~

ferioridade, cabe à mulher encontrar, na submissão amorosa, sua

finalidade, a realização de seu ser feminino.

Como afirma Beauvoir,

Adle~ pe~eebeu muito bem que o complexo de ea4t~ação

6e pode~ia expliea~ num eontexto 4oeial; abo~dou

o p~oblema da valo~ização, ma4 não ~emontou

a

60nte

ontológiea d04 valo~e4 ~eeonheeido4 pela 40eiedade e

não eomp~eendeu que, na 4exualidade p~op~iamente

di-ta, 4e empenham vato~e4, o que o levou a meno4p~ez~­

lhe4 a impo~taneia.

15,

p. 66).

Na tentativa de elaborar uma psicologia feminina, H.

Deutsch. como continuadora que revelou ser das idéias

freudia-nas, cita como constituintes da mulher as seguintes caracterís

ticas psicológicas:

19) maio~ tendêneia

ã

ldenti6ieaçio

(41)

39)

~ubjet~v~dade

491 pe~cep~ao inte~na

59) intui~ã.o. (26, p. 374)

Como se pode perceber, tais traços deri varo-se diretame~

te da suposição de um caráter de passividade como sendo próprio

do feminino.

~ ~

Abre, porem, Deutsch, uma exceçao as moças ditas de

"talento", sendo estas os "único.6 .6 e~e.6 do .6 exo 6eminino capa-ze.6 de conjuga~ a vida intelectual com a vida a6etiva .6em p~e­ judica~ a e.6ta, i.6to

é,

.6em.6e to~na~em ma.6cuLtna.6", (26, p.314)

De acordo, pois, com tal teoria, todos os "fracassos" femini

-nos sao mera decorrência da "falta" de "talento" das mulheres,

enquanto que os êxitos obtidos dependem, unicamente, de uma

capacidade excepcional por elas demonstrada. Desse modo, usa

-se o êxito de algumas para comprovar e explicar o fracasso das

demais.

Numa outra perspectiva que acentua o papel da

cultu-ra na formação do ser feminino, K. Horney cita a "inveja da ma

te~nidade", de.6envolvida pela homem, coma o ca~~elato da "inve

ja da pêni.6". (26, p. 316). Esclarecese, porém, que o senti

-mento de inferioridade experimentado pelo ser masculino, deco!

rente de seu reduzido papel na procriação, não lhe acarreta os

mesmos efeitos que aqueles ocasionados pelo sentimento de infe

rioridade vivenciado pela mulher,em relação ã ausência do pe

(42)

Enquanto o homem tende a compensar sua desvantagem

atrav~s de suas realizaç6es objetivas, para Horney, conforme

mencionado por Saffioti,

I;

A

inveja do 6alo nao impeliu a mulhen a~ gnande~

nealizaçõe~ ou po~que

é

menon do que a inveja da ma:tennidade nu:tnida pelo homem ou po~que ~ e :t~an~

60nma no de~ejo de po~suin manido e 6ilho~. (Z6~

p. 316).

Na verdade, o falo continua sendo o grande

determi-

:-nante na tentativa de se compreenderem os seres masculino e fe

minino: no primeiro pela presença, no segundo pela ausência.

Segundo Beauvoir, o pênis

é:

.oingulanmen:te indieado a de~empenhan, pa~a o men~

no, o papel de 'duplo':

é

pana ele um obje:to e~ -:tnanho e ao me6mo :tempo, ele pnópnio ... o pini~

é

pO.o:tO pelo .6ujei:to eomo .oi me.6mo e ou:tno que nao

6 i m e6 mo. ( 5, P . 6 8 J. •

Como as funç6es urinária e de ereção-estão a meio caminho

en-tre os processos involuntários e voluntários, o pênis passa a

ser reconhecido como uma fonte quase alheia de um prazer subj~

tivamente vivenciado. Passa este a ser, então, a concretizaçio

carnal da transcendência:

ponque o nalo

é

.oepanado que o h.E.

mem pode in:tegnan, na $ua ~ndividualidade, a vida que o

ul:tna-pa.6~a". l5, p. 681.

Ora. na medida em que se vê desprovida de um pênis,

a menina nao se aliena em algo apreensível. logo, é conduzida

no sentido de fazer-se objeto por inteira, ou seja. "a au~en­

(43)

Ainda no contexto da Psicanálise, Rank apresenta um

enfoque, calcado sobre o traumatismo do nascimento, que apre

-senta a situação sob novo ângulo.

Para Rank, o traumatismo do nascimento corresponde

ao último substrato biológico da vida psíquica, que o homem ten

ta, continuamente, vencer.

As primeiras relações fisiológicas entre a criança

e o corpo da mãe estão representadas na fixação ã figura mate~

na, expressão do conforto e calor uterinos, e o traumatismo do

nascimento que se ref~ete, a nível fisiológico, pela separação

completa do corpo materno, constitui uma representação que

ja-mais sai do inconsciente, e que o indivíduo leva os anos na

tentativa de superar.

Constitui, o nascimento, o ponto de partida para a

vivência da sensação de angústia, e é pelo deslocamento desta

angústia para a figura do pai que a criança termina por se

re-signar e se separar definitivamente da mãe responden~o, desse

modo, às exigências e necessidades de novas formas de adapta

-ção

à

vida.

o

pai, imagem de uma figura temida, impede o regre~

so à mae, com isto desencadeando uma angústia cujo referencial,

em princípio, são os próprios órgãos genitais maternos - repoE

tandose ao nascimento e, mais tarde, todas as suas substi

(44)

Da mesma forma que a angústia do nascimento

é

a

ba-se de todas as variedades de angústia, todas as formas de

pra-zer do ser humano remontam ao prapra-zer primitivo relativo à vida

intra-uterina. As exigências de um processo de adaptaçâo

so-cial faz com que o ego recalque este objetivo - na verdade

ja-mais renunciado pelo inconsciente - de retorno ao prazer da vi

da anterior ao nascimento.

-Os órgâos sexuais femininos constituem o principal

objeto do sentimento de angústia, pois que estão intimamente

-

-

-ligados ao traumatismo do nascimento, isto e, a separaçao

mae-filho.

Rank aborda, ainda, o traumatismo do desmame e, por

fim, o traumatismo da castração que, "de.v-i..do

a

.6u.a. i..JUte.a.ti..da.

-de., c.onc.e.ntJta. a. ma.-i..oJt pa.Jtte. da. a.HgU..ót-i..a. na.ta.l ob a. 6oJtma. de. ~ e. nt-i..me. nt o de. c.u.lpa., l-i.. 9 a.d o ã d-i..

6

e.Jte. n ç.a. do.ó .6 e. x. 0.6". t 6, p. 56).

O inconsciente profundo, entretanto, é bissexuado, ignora tal

diferenciação e só conhece a angústia primitiva ligada ao

nas-cimento.

Tanto a menina como o menino, no decorrer da

infân-cia, apresentam um comportamento idêntico para com a mãe, obje

to primitivo da libido, e o conflito só se estabelece

são reconhecidas as diferenças sexuais.

quando

Assim, cabe ao menino reconhecer, nos órgãos femini

nos, aqueles nos quais deveri, mais tarde, penetrar e que,

(45)

à

menina reconhecer os órgãos masculinos, constatando,

obriga-toriamente, a impossibilida'de de penetrar no objeto de sua

li-bido, e acei tando a realidade do "deixar-se penetrar".

Logo, enquanto o homem pode manter os laços com o

objeto de sua ligação inicial - o pai surgindo como a

encarna-ção da angústia que se liga à mae -,

é

preciso que a mulher de~

loque para o pai grande parte da libido primitivamente voltada

para a mãe. Tal transferência de libido ocorre

ã medida que ~e aeentua o papel pa~~ivo da mulhe~,

pa4a euja imp04tâneia Ffteud ehamou atençao. Com

e-~eito, pafta a menina ou moça, t~ata-~e de ftenuneia~

a e~peftança de uma volta ativa ã mae, da penetfta -Çao na mãe ... e de fte~ignaft-~e ã peft~peetiva de nao podeft ~ati~6azeft ~eu de~ejo de toftna~ a eneon-t4a4 o bem-aventuftado e~tado p~imitivo, a nao ~eft

pela ftepftoduçao pa~~iva, i~to

é,

pela g~avidez e

pelo paftto, 60nte~ da mai~ ~ublime 6elieidade ma -teftna. (Ranl<., 1934, eitado em Chahon, 1980).

Rank aponta para a unilateralidade que caracteriza

este estado de coisas, afirmando que o mundo ainda se constrói

e

é

encarado segundo a ótica masculina. E assinala ser este o

ponto de vista que prevalece no âmbito da Psicanálise:

Eió uma atitude que oó pftÕp~O~ póicanaliótaó nao

conóeguiftam ftenunciaft eompletamente:

é

aóóim que

aó ma.ió daó vez e.6, q uando ~alamoó de eoió M ó e -xu.a.ió, ó õ pe nó amo.6 no homem. ... N ao efteio ... que

eóta atitude óeja e6eito de um menoft valoft ~oeial

a.t4ibu1.do ã mulhe4; pen.6o, ao eont~á.~io, que e.6ta atitude e eóta dep~eeiação óao ambaó mani6eótaçõ~

do fteealeamento p~imi.tivo mefteê do qual p~oeufta -moó diminuift a mulhe~, ~eeU6aft-lhe todo o valo~.6o

eial e inteleetual, pfteeió ame.nte p04 eaU,6 a de ó

uaó-4elaç~eó eom o t4aumatiómo do naóeimento. (Ranl<. ,

(46)

Porque os dois sexos sofrem a influência de recorda

çao recalcada, ambos experimentam o mesmo desprezo pelos or-

-gãos genitais femininos e procuram anular-lhes a exist€ncia.

Rank atribui, portanto, ao traumatismo do

nascimen-to, a verdadeira causa de se ter relegado a mulher a segundo

plano. Também, do ponto de vista social, seria importante que

apenas um dos sexos se identificasse com a figura de pai, cons

tituindo,este,o elemento separador entre criança e mãe. A an

-gústia sentida perante a mãe transforma-se em veneração ao pai,

e nas inibições de caráter abstrato ("formações substitutivas

mais .sublimadas") que este representa - tais como o Estado, o

Direito, a Nação --contra as tendências do Eu.

A dependência infantil que o filho, ao se tornar pai,

se recusa a suportar, provoca uma reação que termina por

acar-retar a desvalorização da mulher.

De acordo com Rank,

po~ ~eu pode~ ~exual, a mulhe~ to~na-~e pe~igo~á pa

~a a coletividade, cuja e~t~utu~a ~ocial ~e ba~eia­

na angú~tia que, in~pi~ada out~o~a pela mãe, tem do

~avante ~eu manancial no pai ... a mulhe~ exe~ce:

com e6eito, uma ação anti-~ocial, e ~ i~to qu~ ex --plica ~ua exclu~ão tanto nas cultu~as 'p~imitiva~ ,

como nas civilizaç~e~ avançadas, de toda pa~ticipa­

ção na vida 50cial e polZtica. O de~p~ezo que o

ho-mem a6eta pela mulhe~

i

um sentimento que tem 6ua

60nte na con~ ciê.ncia, ma~ no incon5 ciente o homem te me a mulhe~. (Rank., ] 9 34, cita em Chahon, ] 9 80 1.

Retomando a passagem bíblica da expulsão dos

(47)

ã

separaçao do fruto maduro --a criança --do tronco materno, e

"a ameaça do ca~tigo

de

mo~te, impo~ta.

a

t~an~g~e~~ao, demon!

t~a bem cla~amente que o c~ime da mulhe~ con~i~te em ~epa~a~

-~e do 6~uto" I Rank, 1934, citado em Chahon, 1980}, pelo parto. Ao mesmo tempo surge, aqui, a morte, como expressa0 da

tendên-cia ao retorno, isto

é,

do regresso ao lugar de origem, na ten

tativa de restabelecer o estado primitivo de feJicidade e paz

da vida intra-uterina.

A figura feminina aparece, então, vinculada

ã

morta

A um so tempo se mostra plena de amor e se revela como uma for

ça sombria e ameaçadora.

Recorrendo ã teoria plat6nica, Rank pretende

expli-car a natureza do instinto sexual pela imagem do ser primitivo,

originalmente único,dividido em duas metades, as quais estão

sempre aspirando a se reunirem novamente. Para Rank,tal fato

significa uma primeira "alu~ao cla~a e con~ciente ao de~ejo que impele o 6ilho a volta~ ao ~eio da mae, a ~ealiza~ uma nova 6u

~ao com ela" IRank, 1934, citado em Chahon, 19801. Dessa form~

a única possibilidade efetiva de reconquistar o paraíso

perdi-do se faz através da união sexual~ por meio deste retorno pa!

cia!, meramente físico, ao útero feminino, se concretiza

defi-nitivamente a união com a mae.

Assim, sob o prisma da evolução psíquica, observa

-se que a mulher

é

capaz, pela gestação e parto, de garantir p~

(48)

en-quanto que o homem é impulsionado por uma tendência, a nível

inconsciente, de criar um substitutivo para esta reprodução

"a.tltavé.6 da identi6ic.açã.o c.om a mã.e e c.om a.6 demai.6 pltoduçõe.6 da c.uitulta e da altte, que deltivam de.6ta ldenti61c.açã.o"{6 ,p.

671.

Para Rank, o nascimento constitui a primeira fonte

de angústia pela separação sofrida, fato este que vem a

confe-"

ri r, ~

aos orgaos sexuais femininos, papel extremamente ameaça

-dor, sendo, por isto, amaldiçoados; por outro lado, constituem

estes, na verdade, a única possibilidade de satisfação do des~

jo inconsciente de retomada à vida intra-uterina, o retorno ao

útero materno, através do ato sexual.

A mulher, portanto, constitui simultaneamente uma

figura de amor e um perigo que ameaça a coletividade. O medo

inconsciente do homem pela mulher exige, então, a busca de um

poder social masculino, que possibilite resolver a angústia pri:.

mitiva gerada pela figura materna.

Ainda que as contribuições de Rank, no tocante à con

dição feminina, tenham efetivamente levantado novas

perspecti-vas e ampliado os limites para uma visão mais realística de

tal situação, parece que o ato sexual, para o homem, e a

pro-criação, para a mulher, constituem ainda respostas pouco satis

fatórias.

Em verdade a Psicanálise, de um modo, situa os

ter-mos que compõem o binômio homem-mulher como realidades

(49)

vivenciado pela mulher ao confli to entre suas tendências "viris"

e "femininas", sem atentar para o fato de que a citada "inveja"

experimentada pela menina diante do pênis decorre, antes, de

uma valorização prévia do falo, nao constituindo, como

preten-de Freud, um fenômeno natural.

Definida pela ausência de um pênis e nao pela pre

-sença de uma vagina, a crença da mulher como a de ser um homem

imperfeito, porque mutilado, contribui para dificultar, ou me~

mo impedir definitivamente, o desenvolvimento de sua auto-estl

ma. Enquanto o pênis é valorizado e reconhecido socialmente, os

órgãos sexuais femininos permanecem ignorados - salvo quando

para proveito do macho.

Construindo-se dentro desse quadro, a mulher nao

cria um espaço próprio, pouco se diferenciando do restante do

mundo. E se pouco diferenciada, pouco autônoma, sua responsabl

lidade se diluindo pelos diferentes papéis que desempenha, sua

liberdade limitando-se ao bem-estar da família, ao sucesso do

marido,

i

felicidade dos filhos.

A menina, ao se identificar com uma figura

desvalo-rizada, desvaloriza-se a si mesma. Na verdade, o vínculo

ínti-mo que permanece entre mae e filha "nã.o

ê

bMea.do .6..tmp.e.e.6mente

no ~upe~envo.e.v..tmento mútuo ma..6, 6~equentemente, na. eomp~een.6ã.o

mútua. de .6ua. op~e.6.6ã.o". l25, p. 891.

(50)

realida-des complementares, a reciprocidade de r'elações entre os sexos

inexiste, uma vez que um deles sempre se pronunciou como o pr~

valente . .

A existência dessas duas forças opostas naturais, ho

mem-e-mulher, é inquestionável;

• que estas duas forças necessitem manterse balan

-ceadas, de modo a nao romper com a harmonia do sistema,

é

10

-gicamente reconhecivel;

• o curioso, e certamente difícil de compreender, de~

tro de tal quadro, é a aceitação aparentemente incondicional,

pela fêmea humana, de um modelo que já nasceu derrotado.

D) - AS RAIzES

A Sociedade Patriarcal e a Igreja Católica

Apostóli-ca Romana, habilmente integradas no modelo importado do

Conti-nente para a Colônia, corporificam os pilares sobre os

se assenta a idealização da mulher brasileira.

quais

As mulheres brancas da época escravocrata

apresentavam os requisitos básicos para o estabelecimento de uma rela

-ção ideal com o macho local. Prontas a submeter-se , sem qual

quer espécie de contestação, ao poder do patriarca e,em geral

extremamente ignorantes, já por volta dos quinze anos estavam

Referências

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