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Primeiras aproximações de uma análise do financiamento da política nacional de esporte e lazer no Governo Lula.

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www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

Primeiras

aproximac

¸ões

de

uma

análise

do

financiamento

da

política

nacional

de

esporte

e

lazer

no

Governo

Lula

Pedro

Athayde

a,∗

,

Fernando

Mascarenhas

b

e

Evilásio

Salvador

c

aGrupodePesquisaeFormac¸ãoSociocríticaemEducac¸ãoFísica,EsporteeLazer,FaculdadedeEducac¸ãoFísica,Universidadede

Brasília,Brasília,DF,Brasil

bProgramadePós-Graduac¸ãoemEducac¸ãoFísica,FaculdadedeEducac¸ãoFísica,UniversidadedeBrasília,Brasília,DF,Brasil cProgramadePós-graduac¸ãoemPolíticaSocialeDepartamentodeServic¸oSocial,UniversidadedeBrasília,Brasília,DF,Brasil

Recebidoem7deagostode2012;aceitoem6desetembrode2013 DisponívelnaInternetem20defevereirode2015

PALAVRAS-CHAVE

Financiamento público; Fundopúblico; PolíticaNacional deEsporteeLazer; GovernoLula

Resumo Esteartigorealizaumaanáliseintrodutóriasobreogastopúblicoreferenteàs

polí-ticasdeesporteelazernoGovernoLula.Osdadoscoletadosapresentaramumadistribuic¸ão

instávelentreosprogramas,oqueimpedeoestabelecimentodeumpadrãodefinanciamento

paraoesporteelazerduranteoperíodoanalisado(2003-2010),bemcomodeafirmara

exis-tência deprogramase/ou frac¸õesdeclasses hegemônicasnoquetangeaosgastospúblicos

dosetor. Todavia,algumas particularidades indicamarazoabilidadedo pressupostosobrea

priorizac¸ãodoesportedealtorendimentodentrodaalocac¸ãodosrecursospúblicosdestinados

aofinanciamentodaPolíticaNacionaldeEsporteeLazer(PNEL)doGovernoLula.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos

direitosreservados.

KEYWORDS

Publicfinancing; Publicfund; Nationalsportand recreationpolicy; Lula’sadministration

Beginning considerations regarding the financing of the national sport and leisure policyduringLula’sadministration

Abstract Thisarticleprovidesanintroductoryanalysisonpublicspendingonpolicies

rela-tingtosportandleisureduringLula’sadministration.Thedatacollectedshowedanunstable

distributionamong the various programs,which prevents notonlythe establishing ofaset

patternoffundingforsportandrecreationduringthetimeperiodanalyzed(2003-2010)but

Autorparacorrespondência.

E-mail:pedroavalone@gmail.com(P.Athayde).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.09.002

(2)

alsoaffirmingtheexistenceofprogramsand/orfractionsofhegemonicclasseswhenitcomesto

thespendingsofpublicsector.However,somepeculiaritieswouldindicatethereasonableness

oftheidearegardingtheprioritizationofhighperformancesportsintheallocationofpublic

resources forthefinancing oftheNationalSportandRecreationPolicy(NSRP) oftheLula’s

administration.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights

reserved.

PALABRASCLAVE

Lafinanciación pública;

Fondospúblicos; Eldeportenacional yRecreación; ElgobiernodeLula

Enfoques de primeros de un financiamiento del deporte nacional y de ocio en el GobiernoLula

Resumen Esteartículoofreceunanálisisintroductoriosobrepolíticasdegastopúblico

rela-cionadasconeldeporteyelocioenelgobiernodeLula.Losdatosobtenidosmostraronuna

distribucióninestableentrelosprogramas,loqueimpideelestablecimientodeunmodelode

financiaciónparaeldeporteylarecreaciónduranteelperíodoanalizado(2003-2010),asícomo

afirmarlaexistenciadeprogramasy/ofraccionesdelasclaseshegemónicacuandosetratade

gastodelsectorpúblico. Sinembargo,algunas peculiaridadesindican larazonabilidaddela

hipótesis acercade lapriorización de losdeportesdealto rendimiento enla asignaciónde

recursos públicospara lafinanciación delaNacionaldeDeportesy Recreacióndelgobierno

deLula.

©2015ColégioBrasileirodeCiênciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos

derechosreservados.

Introduc

¸ão

Emboraasanálisesorc¸amentáriasacercadofinanciamento públicosejam amplae reconhecidamenteutilizadascomo suporte para estudosacadêmicos,bem como paragrande parte dasac¸õesgovernamentais,suautilizac¸ãoaplicadaà análisedaspolíticasesportivaséincipiente.Osestudosde

Veronez(2005),Almeida(2010)eCastelan(2010) localizam--se dentre as poucas iniciativas de investigac¸ão sobre o tema.Nessesentido,esteartigovisacontribuircomo desen-volvimento de estudos relacionados ao financiamento e orc¸amentopúbliconocampoacadêmicodaEducac¸ãoFísica eCiênciasdoEsporte.

Oprocessodeconstituic¸ãodoorc¸amentopúblicoéuma clara expressão do contexto histórico, político e econô-mico presente no conjunto da sociedade brasileira. Por conseguinte,pode-seafirmarquetipificaasdeterminac¸ões presentesnarelac¸ãoentreEstadoesociedade.Otemado orc¸amentoseapresentacomoumachaveinterpretativada vidapolíticadeumasociedade,umavezquedenotasobre queclasseoufrac¸ãodeclasseincideomaioroumenorônus dacargatributária,bemcomoquaisserãoosbeneficiados comosgastoseinvestimentosprevistos(Oliveira,2009).

Emverdade,observa-sequeatomadadedecisãosobre os objetivos inerentes aos gastos estatais e a definic¸ão desuasfontesderecursoobedecemacritériosnãosomente econômicos,maspreponderantementepolíticos,refletindo adirec¸ãotomadanasuadefinic¸ãoeacorrelac¸ãodeforc¸as existente.Destarte,aanálisedofinanciamentoeorc¸amento públicopodeauxiliarnarealizac¸ãodeumexamemais com-pleto das particularidades da política social brasileira e, maisespecificamente,asesportivas.

Quaissão,portanto,osinteressesqueperpassamo finan-ciamento das políticas de esporte e lazer? O que revela

a configurac¸ão dos recursos públicos destinados ao setor? Historicamente, o esporte e o lazer têm sido entendidos etratados, tantopelo Estadocomo pelasociedade,como direitode segundaordem. A criac¸ãotardia de umapasta ministerialespecíficaparaosetorconfirmatalsuposto.Mas oque muda a partir de2003 com acriac¸ão doMinistério doEsporte(ME)?1 Aotentarresponder taisperguntas,por meiodeumaanáliselongitudinaldofinanciamentopúblico abarcando as duas gestões do Governo Lula, buscaremos desvelar e caracterizar as contradic¸ões, permanências e transformac¸ões que envolvem as políticas mais recentes organizadasparaoesporteelazer,destacandosuasac¸õese programasprioritários,bemcomoseusprincipais beneficiá-rios.

Delineamento

do

estudo

Esteestudopodesercaracterizadocomo umapesquisade caráter quantitativo-qualitativo que se apoiou em levan-tamentodocumental. Osdadosforam coletadospor meio dedocumentosdefontesprimáriasesecundárias,asaber: (i)basededadosdoSIGABrasil,doSenadoFederal,e docu-mentosoficiaispublicadospelopróprioME;(ii)relatóriose pesquisasrealizadasporórgãosgovernamentais,relatórios produzidospeloTribunaldeContasdaUnião(TCU),balanc¸os

1O ME, com o objetivo de ‘‘formular e implementar

(3)

deprogramaseac¸õespublicadospeloMEepesquisas desen-volvidaspeloInstitutoBrasileirodeGeografiae Estatística (IBGE)e Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Considerandoo objetodainvestigac¸ão, registramos queo levantamentofoirealizadonosmarcosdeumrecorte cro-nológicocorrespondenteaoGovernoLula,istoé,operíodo entre2003e20102.

Para a análise e discussão deste material, utilizamos o método de análise de políticas proposto por Boschetti (2009).Suaadoc¸ãopermite:analisarapolíticaemsua totali-dade,considerandoosprincipaisaspectosqueaconstituem; revelarascontradic¸õesexistentes entreasdeterminac¸ões legaiseaoperacionalizac¸ãodasac¸õese programas gover-namentais; e, articular os determinantes estruturais e a correlac¸ãode forc¸asque conformamapolítica, agindona suaformulac¸ãoeexecuc¸ão.Dentreostrêsaspectosde aná-lise apresentados pela autora3, priorizamos o aspecto da ‘‘configurac¸ãodofinanciamentoegasto’’,dedicando espe-cialatenc¸ãoaosindicadoresde‘‘magnitudeedirec¸ãodos gastos’’. Ao abordar a questão do atendimento dos pro-gramas do ME, avaliamos o indicador de ‘‘abrangência’’, vinculadoaoaspectodos‘‘direitosebenefícios’’.

Registra-sequeaanálisefoibalizadaporumquadro teó-ricoconstruídopormeioderevisãodeliteraturarelativaaos temas Políticas Públicas e PolíticasEsportivas, num movi-mentodeconstantesidasevindasdateoriaaosdados.Deste modo, passamos à discussão e aos resultados do estudo, cujosrecortesdeanáliseaseremapresentadosenvolvemos antecedenteshistóricosdaspolíticasdeesporteelazerno Brasilesuaconfigurac¸ãomaisrecente,tomandocomochave interpretativaofinanciamentoeoorc¸amentopúblico.

Esporte

e

lazer

no

Brasil

A história do esporte no Brasil como objeto de políticas públicas caracteriza-se pela pouca atenc¸ão por parte do Estadono que dizrespeito a ac¸ões voltadas parao aten-dimentodasdemandasenecessidadessociais.Essedescaso podeserentendidoapartirdeumamplolequederazões.

[...]algunssetoresacabam sendopriorizados em detri-mentodeoutros,tanto emfunc¸ãodeumordenamento deprioridadessociais (umapolítica de saúdepodeser consideradamaisurgentequeumapolíticadeesportes), quanto em func¸ão do potencial mobilizatório de cada setor(émaisprovávelqueossetoresorganizadosdeuma populac¸ãosemobilizememtornodeumapolítica sala-rialdoqueparareivindicarespac¸oseestruturasdelazer) (Linhales,1996,p.35).

2Parafinsdaanáliseorc¸amentária,serãoexcluídososdadosdo

anode2003,tendoemvistaqueestesexpressamoPlanoPlurianual (PPA)aLeideDiretrizesOrc¸amentárias(LDO)eaLeiaOrc¸amentária Anual(LOA) construídos no governo Fernando Henrique Cardoso (1999-2002).

3Os aspectos de análise de políticas propostos por Boschetti (2009)são:(i) osdireitosebenefíciosestabelecidose assegura-dos;(ii)ofinanciamento(fontes,montanteegastos);(iii)gestão (formadeorganizac¸ão)econtrolesocial(participac¸ãodasociedade civil).

Noentanto,adespeitodeoesportenãofigurarentreas prioridadesgovernamentais,pois,conformeassinalaBracht (2005,p.82):‘‘hámuitotempo,mesmoemfunc¸ãodesua significac¸ão sociopolítica, o esporte é alvo de atenc¸ão e intervenc¸ão doEstado’’.Deacordocom o autor,os moti-vosdessaaproximac¸ãosãodiversosesealteramconforme ocontextohistóricoeotipodeorganizac¸ãoestatal.

A comec¸ar do Estado Novo --- isto é, desde a primeira lei orgânica para o esporte em 1941 ---, o esporte esteve subordinadoà ac¸ãotutelardoEstado,desenvolvendo-se a partirdeestruturascorporativas, herméticase centraliza-das,sejavinculadoadiscursosdisciplinadoresdecontrole daordem pública,adiscursosnacionalistasdepropaganda estatal e a discursos morais e cívicos para coesão e paz social (Manhães, 2002). O epílogo do regime autocrático militareoadventodoprocessoderedemocratizac¸ãodopaís nosanos1980engendraram modificac¸õesna relac¸ãoentre Estadoe Sociedade e, consequentemente,entreEstadoe organizac¸ãoesportiva.

Em momento singular da história política brasileira de intensa mobilizac¸ão social, verifica-se um aumento da expectativa em torno do avanc¸o e atendimento às reivindicac¸ões sociais e, por conseguinte, da garantia de umconjunto de direitosà populac¸ão. Nessesentido, será promulgadoumnovotextoconstitucionalexpressando,em certamedida,umaperspectivauniversalizantenotocante aosdireitossociais.

AConstituic¸ãoFederalde1988garantiriaaindaoacesso universalao sistemapúblicodesaúde(oSistemaÚnico deSaúde---SUS)eàassistênciasocial.E,paraalémda protec¸ãosocial,masaindanoâmbitodagarantiade direi-tos,introduziriaauniversalidade doacessoàeducac¸ão básica.Apartirdestasinovac¸ões,osistemadepolíticas sociais ganharia vieses universalistas, ainda que man-tivesse algunsinstrumentosmeritocráticos(IPEA, 2010, p.62).

Todavia, as transformac¸ões em vista e a expectativa engendradaforamofuscadaspelaavalancheneoliberalpara a qualoBrasil foiarrastado. Grandepartedas conquistas consignadasnaConstituic¸ãode1988eaperspectiva univer-salistadegarantiadosdireitossociaisforamfreadaspelos governosqueassucederam.

À excec¸ão do aparecimento de uma produc¸ão crítica no campo acadêmico da Educac¸ão Física e de algumas manifestac¸õesisoladasnosetoresportivo4,pode-seafirmar queoperíododeredemocratizac¸ãoteveumimpacto redu-zidosobrearelac¸ãoentreEstadoeesporte. Osprincipais interlocutoresdogovernocontinuaramsendoossetores con-servadoresvinculadosaosistemaesportivo,vínculoquefoi estreitadopelavisãoliberalizanteepeloarcabouc¸ojurídico construídoparaosetor.

4Dentre os acontecimentos esportivos isolados, destaca-se a

(4)

Aincipientemodificac¸ão,seassimépossível denominá--la,dizrespeito aosobjetivos norteadoresdaac¸ãoestatal nocampoesportivo,quepassouaorientar-sepelabuscade umaacentuada projec¸ão política internacionalatrelada à explorac¸ãodopotencialeconômicodofenômenoesportivo. Porconseguinte,constata-seumanovaconfigurac¸ãonaqual oEstadoincorpora asfunc¸õesdereguladore provedordo sistemaesportivo,assumindo estruturasdenominadas,por

Bracht (2005), deneocorporatistas. Em síntese, a sucinta exposic¸ão acerca das relac¸ões históricas entre Estado e esporte no Brasil demonstra que as amarrac¸ões existen-tesjamaisultrapassaramumplanoeconômico-corporativo, sendoexpressõesdeinteressesparticulareseafastando-se deumaperspectivauniversaldegarantiadedireitos.

Contrastacomocenárioapresentadoofatodeoesporte e o lazer seremformalmente reconhecidos como direitos individuaisesociaisnotextoconstitucional,oqueavigora aobrigatoriedadedequeambosdevamseralvodepolíticas sociais.

Art. 6◦ São direitos sociais a educac¸ão, a saúde, a alimentac¸ão,otrabalho,amoradia,olazer,aseguranc¸a, aprevidênciasocial,aprotec¸ãoàmaternidadeeà infân-cia, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituic¸ão.(Redac¸ãodadapelaEmendaConstitucional n◦64,de2010)[...].Art.217.ÉdeverdoEstadofomentar práticasdesportivasformaisenãoformais,comodireito decadaum,observados[...](grifosnossos).

Atransic¸ãopolíticade2003criouaexpectativanos seto-res progressistas da Educac¸ão Física de que os rumos da política esportiva e de lazer fossem modificados. A che-gada de um partido vinculado à classe trabalhadora e a criac¸ão,naestruturaorganizativagovernamentalbrasileira, deumórgãoresponsávelpelaelaborac¸ãoegestãodas polí-ticas sociais públicas esportivas, o Ministério do Esporte (ME),anunciavam umcenáriofavorável ao tratamento do esportee lazercomodireito.Essaperspectivaestava pre-sentenoprimeiro PlanoPlurianual(2004-2007),produzido pelogovernoeleitoem2002.

Éamplaa agendadepolíticassociaisqueestará sendo implementadaem diferentesâmbitoscomplementares: [...] Ac¸ões necessárias para fortalecer os direitos aos servic¸os sociais, na direc¸ão do acesso universal e de qualidade a esses servic¸os: previdência, assistência, educac¸ão,capacitac¸ão, transportecoletivo, habitac¸ão, saneamento,seguranc¸apública,cultura,esporteelazer (Brasil,2004:19,grifonosso).

Para conferirmaterialidade a umapolítica social dedi-cadaao esportee lazer,oMEelaborouprogramassociais: Esporte e Lazer da Cidade (PELC) e Segundo Tempo (PST), sendoeste último o principal foco de atenc¸ão das ac¸õesministeriaisduranteaprimeiragestão(2003-2006)5. A implementac¸ão de programas e projetos sociais, den-treoutros determinantes, exigea presenc¸ade umaporte financeiro adequado e a priorizac¸ão destes na alocac¸ão derecurso. Nessesentido, sobrevenhamosao examemais

5ParaobtermaisdadossobreoprotagonismodoPSTnaprimeira

gestãodoME,verAthayde(2009).

acuradodopadrãodefinanciamentodaPolíticaNacionalde EsporteeLazer(PNEL)de2004a2010.

Financiamento

do

esporte

e

lazer

Agênese dos orc¸amentos públicos deriva das resistências políticasimpostasaopoderindiscriminadoearbitráriodos governantes, caracterizando-se como um instrumento de controlesobreoEstado.Comopassardosanos,oorc¸amento públicopassoudeumamerapec¸adeescriturac¸ãocontábil para um elemento indispensável ao processo de planeja-mentogovernamental(Oliveira,2009).

De acordo com Silva (2002, apud Oliveira, 2009), dependendo dosistema de governo seguido pelo país,os orc¸amentospodemser classificadosem: legislativo, misto e executivo. O Brasil tem adotado o tipo misto, onde o orc¸amento é configurado a partir da interac¸ão entre os poderesExecutivoe Legislativo.Aelaborac¸ãoficaacargo do Poder Executivo, que o define em func¸ão dos pla-nos e programas de governo. Tal definic¸ão é permeada pela influência de representantes das classes e de suas frac¸ões fixadas ao aparelho estatal. Uma vez concluído, o orc¸amento é submetido à aprovac¸ão do Poder Legisla-tivo,quepossuiaprerrogativaparaaprová-lo,rejeitá-loou modificá-lo6.

Realizada essa sucinta exposic¸ão acerca do pro-cesso orc¸amentário no Brasil, iniciaremos as primeiras aproximac¸õescomointuitodeanalisaro padrãode finan-ciamento público destinado ao atendimento do esporte e lazer. Com essa proposic¸ão, almeja-se desvelar alguns pressupostos introdutórios acerca do comportamento do financiamentoestataldestinadoaosetor.

A tabela 1 apresenta as despesas autorizadas e liqui-dadas pelo ME, excluindo-se a rolagem da dívida, em valoresdeflacionadospeloIGP-DI7.Deacordocomos valo-resexpostos,é possível observar,excetuando-seoanode 2009, um crescimento constante dos valores autorizados ao ME. Entretanto, a regularidade do aumento não está presentenacolunadosvaloresliquidados.Ademais,as por-centagens de participac¸ão possibilitam a constatac¸ão da acanhada participac¸ão do principal órgão de gestão das políticasdeesporte elazernoOrc¸amento GeraldaUnião (OGU).

Mesmonoanode2007, quandoo financiamentoparao esportee lazerassumiuumpadrãoatípico,impulsionados pelosaltosgastos derealizac¸ãodos JogosPan-Americanos nacidadedoRiodeJaneiro,oesporteeolazernão goza-ram de uma participac¸ão relevante dentro do OGU. Essa

6Éimportantedestacarque,apósaCFde1988,oprocessoeo

cicloorc¸amentáriobrasileiro,natentativaderecuperaropapelde planejadordoEstadocom ainterac¸ãoentreplano eorc¸amento, passaramasercompostosportrêspec¸as:a)PlanoPlurianual(PPA); b)LeideDiretrizesOrc¸amentárias(LDO);c)LeiOrc¸amentáriaAnual (LOA)(Salvador,2010).

7OÍndiceGeraldePrec¸os-DisponibilidadeInterna(IGP-DI)foi

(5)

Tabela1 ValoresemR$autorizadoseliquidadospeloME,deflacionadospeloIGP-DI,bemcomoaparticipac¸ãonoOGUliquidado

peloPoderExecutivo

Ano Autorizado(milhões) Liquidado(milhões) Participac¸ão(%)

2004 568,96 402,56 0,09

2005 928,23 573,37 0,12

2006 1.302,63 943,22 0,19

2007 1.979,68 1.777,64 0,32

2008 1.682,96 1.154,49 0,19

2009 1.576,60 1.058,24 0,17

2010 2.195,29 1.095,98 0,16

Fonte:SIGABrasil--- SenadoFederal.(Elaborac¸ãoprópria).

Tabela2 Comparac¸ãoentreadotac¸ãoinicial,oempenhadoepago,dentrodafunc¸ão‘‘DesportoeLazer’’noperíodode2004

a2010,valoresemR$deflacionadospeloIGP-DI

Ano Dotac¸ãoInicial(milhões) Empenhado(milhões) Pago(milhões) Execuc¸ão(%)

2004 530,14 402,05 218,66 41,25

2005 854,84 572,84 148,73 17,40

2006 1.132,10 942,69 340,02 30,03

2007 1.159,53 1.777,13 947,44 81,71

2008 1.361,42 1.152,14 243,04 17,85

2009 1.502,10 1.055,60 156,71 10,43

2010 1.601,69 1.094,10 270,56 16,89

Total 8.141,82 6.996,55 2.325,16 28,56

Fonte:SIGABrasil---SenadoFederal.(Elaborac¸ãoPrópria).

comprovac¸ãoreforc¸ao pressupostode queesses fenôme-nosnãopossuemumlugardedestaqueentreasprioridades deac¸ãoestatal.

Atabela2eafigura1,compostascomdadosdosistema SIGABrasil,alémdereforc¸aremaausênciadeumpapelde destaqueaoesporteelazer,contraditamaassertivasobre o aumentoconstante dos gastos com a func¸ão‘‘Desporto e Lazer’’ ao longo do período de 2004 a 2010. Pode-se observaruma oscilac¸ão dos valores empenhados e pagos, inclusiveapresentando-sequantitativosdiminutosnos últi-mosanos(2008,2009e2010)emcomparac¸ãocomosanos de2006e2007. Outrodadorelevanteéa baixaexecuc¸ão orc¸amentária8.Excetuando-seoanode2007,ospercentuais jamaisalcanc¸aramvaloresacimade50%.

Alguns fatores que podem explicar essa reduzida execuc¸ãoestão presentes noRelatório de Auditoria Anual de Contas n◦ 209305/2007, da Controladoria-Geral da União, quais sejam: a) demora na liberac¸ão dos limites orc¸amentáriosefinanceiros,prejudicando oplanejamento eaqualidade,bemcomodificultandoaanálisemais criteri-osaeestratégicadaexecuc¸ãodosprogramas;b)mudanc¸as administrativas na direc¸ão de algumas das Secretarias do ME;c)expressivovolumedecontratosderepassefirmados

8Conforme alerta Salvador (2010), os índices de execuc¸ão

orc¸amentáriapoderiam ser mais baixos, tendoem vista que os resultadosdaexecuc¸ãoorc¸amentáriade2006e2007estão influen-ciadosporumamudanc¸anacontabilizac¸ãodasdespesasliquidadas realizadapelogovernoLula,aoincluirnavariável‘‘liquidado’’do orc¸amentopúblicoosrestosapagarnãoprocessados.

2.000 1.800 1.600 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 0

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Empenhado Dotação inicial

Pago

Fonte: SIGA Brasil – Senado Federal. (Elaboração Própria).

Figura 1 Representac¸ão gráfica da Comparac¸ão entre a dotac¸ão inicial, empenhado e pago (em milhões), dentro da func¸ão ‘‘Desporto e Lazer’’ no período de 2004 a 2010 (tabela2).

somente nofinal doexercíciofinanceiroe/ouo não aten-dimentoàcláusulasuspensiva,utilizadanascontratac¸ões, queviabilizaaceleridadenesseprocesso,contudoimpacta noprocessodeexecuc¸ão,umavezquecondicionaa trans-ferência orc¸amentária ao atendimento pelos tomadores dosrecursosdas condic¸õesestabelecidasnoscontratosde repasse.

(6)

O documento intitulado Política Nacional de Esporte, publicadopeloMEem 2005, previaa necessidadedeuma políticadefinanciamentoarticuladacomumSistema Nacio-naldeEsporteeLazer.Contudo,ambasasiniciativasjamais seconsumaram.Nessesentido,serárealizadaumaanálise dofinanciamento público esportivoe de lazer apartir da estruturaorganizacionaldoMEedosprogramasaosquaisos recursossãodestinados.

Criadoem2003,pelaMedidaProvisória(MP)n◦ 103,de 1◦dejaneirode2003,aqualdispõesobreaorganizac¸ãoda PresidênciadaRepúblicaedosMinistérios,oMEse estrutu-rouemtrêssecretarias,quaissejam:a)SecretariaNacional deEsportedeAltoRendimento(SNEAR);b)Secretaria Naci-onaldoEsporteEducacional(SNEE);ec)SecretariaNacional deDesenvolvimentodeEsporteeLazer(SNDEL)9.

Cadaunidadegestorapossuiumasériedecompetênciase obrigac¸ões.Entretanto,seráconsideradaexclusivamentea deseremosgestoresdosprincipaisprogramasfinalísticosdo ME.Deacordocomaantigaestruturac¸ãodoME, observava--sea seguinte distribuic¸ão:a SNEAR eraresponsável pelo programa‘‘BrasilnoEsportedeAltoRendimento’’e corres-ponsávelpeloprograma‘‘RumoaoPan2007’’;aSNEEerao órgãoresponsávelpeloPST;eaSNDELgerenciavaoPELC.

É necessário destacarque a CF/88, que serve debase paraaestruturac¸ãodoME,estabeleceucomocritériopara a destinac¸ão de recursos públicos para atendimento ao desportoapriorizac¸ãodeinvestimentono‘‘desporto edu-cacional’’.

Art.217.[...]

II-adestinac¸ãoderecursospúblicosparaapromoc¸ão prioritáriadodesportoeducacionale,emcasos específi-cos,paraadodesportodealtorendimento;

Destarte,umanãopriorizac¸ãonaalocac¸ãodosrecursos parao esporteeducacional eparao atendimentodaárea socialvinculadaaoesporteelazer,alémdeumacontradic¸ão internacomasproposic¸õesiniciaisdoME,conforma-secomo umdesrespeitoaospreceitosconstitucionais.Nessesentido, vejamos nastabelas 3 e 4 aseguir como se comportou a distribuic¸ãodofundopúblicodentrodosprogramasdoME noperíodode2004a201010.

Os valores apresentados na tabela 3 possibilitam a comprovac¸ão inicialreferente à ausência desimetria nos gastosdoME.Amédiade2004-2007databela3demonstra que nesteperíodohouve umapriorizac¸ãodos investimen-tos na promoc¸ão dos Jogos Pan-Americanos, vinculadoao esportedealtorendimentoouespetáculo,umavezque a médiaderecursos destinadosao programa‘‘Rumo aoPan 2007’’superaasomatóriadamédiadosdemaisprogramas. Alémdisso,amédiaderecursopagopeloreferidoprograma ésuperioràmédiaderecursosprevistosnaLeiOrc¸amentária Anual(LOA)de2004a 2007,que correspondeaovalor de 166.836,87(emmilhõesdeR$).

9Recentemente,essaestruturafoimodificada.Atualmente,oME

estádividido em:a)SecretariaExecutiva;b)SecretariaNacional deEsportedeAltoRendimento;c)SecretariaNacionaldeEsporte, Educac¸ão,LazereInclusãoSocial;ed)SecretariaNacionalde Fute-boleDefesadosDireitosdoTorcedor.

10 Para umacompreensãodoconceito de‘‘fundo público’’, ver

Salvador(2010). T

abela

3

Valores

em

R$

pagos

por

programa

no

período

de

2004

a

2010

(em

mil),

deflacionados

pelo

IGP-DI

Programas

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Média 2004-2007 Média 2008-2010

Brasil

no

esporte

de

alto

rendimento

9.468,8

7.855

10.301,1

7.909,6

58.846,1

17.956,8

74.544,4

9.208,3

50.449,1

R

umo

ao

Pa

n

2007

55.012,7

7.748,7

158.158,1

820.518,5

0,00

0,00

0,00

344.563,1

0,00

Esporte

e

lazer

na

cidade

56.484,4

13.783,3

34.989,9

22.693,7

22.838

4.756,4

20.993,6

38.056

21.915,8

Segundo

tempo

42.687,7

68.652,3

69.298,7

35.681,6

94.926,8

60.118,3

75.562,2

49.222,7

76.869,1

Fonte:

SIGA

Brasil

---Senado

Federal.

(Elaborac

¸ã

o

(7)

Já noperíodo de2008-2010, asmédias apontampapel destacado ao PST, acompanhado pelos gastos com o pro-grama‘‘BrasilnoEsportedeAltoRendimento’’.Emboraas médiasderecursospagossejamsignificativamente inferio-resàsmédiasderecursosprevistosnaLOAde2008a2010, a saber: PST --- 245.883,41 (em milhões de R$);Brasil no Esportede AltoRendimento ---277.710,41 (em milhõesde R$).

Asinformac¸ões databela4reforc¸amairregularidadee areduzidaexecuc¸ãoorc¸amentáriadosprincipaisprogramas ministeriais,tantoparaaáreasocialquantoparao desen-volvimentodoesporte dealtorendimento.Excetuando-se aaltamédiadeexecuc¸ão orc¸amentáriado‘‘Rumo aoPan 2007’’ referente aos gastos inflacionados com esse pro-grama no período de 2004 a 2007, apenas o programa ‘‘BrasilnoEsportedeAltoRendimento’’conseguiualcanc¸ar umamédia percentual acima de 50% noperíodo de 2008 a 2010. Destaca-se,ainda, a inexpressiva execuc¸ão apre-sentada pelo PELC, média de 8,01% (2004-2007) e 1,53% (2008-2010).

É imprescindível destacar que o PELC, em termos de abrangência e democratizac¸ão do acesso ao esporte e lazer, cumpre um papel relevante, diferenciando-se do programa ‘‘Brasil no Esporte de Alto Rendimento’’, que tem como público-alvo apenas atletas ligados ao esporte de representac¸ão nacional (Castelan, 2010). Por conse-guinte, a comprovac¸ão de um papel secundário do PELC no financiamento público compromete a perspectiva de consubstanciac¸ãodoesporte elazercomo direitosocial e depriorizac¸ãodasdimensõessociaisinerentesaesses fenô-menos,umavezque oPELCéumprogramacujoobjetivo centraléampliar,democratizar euniversalizaro acessoà práticaeaoconhecimentodoesporterecreativoedelazer. Emrelac¸ãoàabrangênciadosprogramas,odocumento ‘‘Balanc¸odeProgramaseAc¸ões(Gestão2003-2010)’’, edi-tadopelo ME,relataque oPSTbeneficiou 3,8 milhõesde pessoas desde 2003 em 21.277 núcleos implantados em 2.387 municípios. Atualmente, o PST possui aproximada-mente 1,3 milhão de beneficiados. O PELC, citado no parágrafoanterior,estendeu seubenefício a10,6 milhões de indivíduos, atendidos em 3.165 núcleos, distribuídos por 1.277 municípios do país. Em 2010, o PELC registrou 2.256.400beneficiados.Atítulodecomparac¸ão,oprograma Bolsa-Atleta, que proporciona umarenda fixa aos atletas sem patrocínio oficial, contemplou 2.954 esportistas em 2010.

Retornandoàreduzidaexecuc¸ãoorc¸amentáriadoPELC, competefrisarqueoprogramaapresentacomo caracterís-tica uma presenc¸a acentuada de verbas provenientes de emendas parlamentares, o que engendra a falsa impres-sãodequeasac¸õesdoprogramareceberammaisrecursos do que aquele realmente destinado ao investimento no PELC(Castelan,2010).Além disso, é importante destacar queamaioriadosrecursosvinculadosaessasemendassão atrelados(carimbados)aoinvestimentoeminfraestrutura, buscandoatendera objetivospolítico-partidários.Atítulo deexemplo,Castelan(2010)demonstraque,entre2005a 2007,dototaldeR$491.128.327,34investidosnoPELC, ape-nasR$35.330.542,32foramalocadosparaofuncionamento egestãodoprograma,aopassoqueosgastoscom infraes-trutura,ac¸ãoem queincidemasemendasparlamentares, ficoucomR$455.797.785,02.

Umaatrofiadaexecuc¸ãoorc¸amentáriadeveriaser cuida-dosamenteobservada,porpartedosgestoresministeriais, tendoemvistaqueossetoresqueapresentamumbaixonível deexecuc¸ãoorc¸amentáriatendemacontinuarcomo alvos prioritáriosdocontingenciamentoderecursosempreendido peloGovernoFederal(GF),cujoapanágioéopagamentoe amortizac¸ãodosjurosdadívidapública.

Evidentementeque o próprio contingenciamento reali-zadopeloGFconstitui-secomoumdoselementos responsá-veispelosacanhadosníveisdeexecuc¸ãoorc¸amentária.Em relac¸ãoaessaconstatac¸ão,umaanáliseacercadoPrograma Bolsa Família (PBF), realizada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos(INESC),publicadanodocumento,é bas-tante elucidativa: ‘‘Orc¸amento, direitos e desigualdades: umolharsobreapropostaorc¸amentária/2009’’.

[...] o PBF não tem grandes problemas com relac¸ão à execuc¸ão orc¸amentária, fugindo assim à regra que norteia a maioria das políticas sociais que não têm previsão legal ou constitucional para sua execuc¸ão e, portanto,sofremcomcontingenciamentosderecursose, porconsequência,apresentamumabaixaaplicac¸ãodos recursos.Por sera meninados olhosdoatualgoverno, tem merecido todoo cuidado e atenc¸ão por parte dos gestores(INESC,2008:30).

Umaanáliselongitudinaldosvalorespagos,presentesna

tabela3,revelaque nosanosde2005,2008e2009temos umapriorizac¸ão significativadoPST, principalresponsável pelofomentoedifusãodoesporteeducacional.Contudo,é necessáriodestacaroexpressivoaumentodosvalorespagos aoprograma‘‘BrasilnoEsportedeRendimento’’noanode 2008,saltandodeR$7.909(milhões)noanode2007para R$58.846(milhões)noanoseguinte.

Nosanosde2006e2007,verifica-sehegemonianos valo-respagospeloprogramadenominado‘‘RumoaoPan2007’’, destinado à organizac¸ãoe implementac¸ão dos Jogos Pan-Americanos. Porfim,osanos de2004e 2010 são caracte-rizadospor umadivisão daparticipac¸ão majoritáriaentre doisprogramas,noprimeirocasoentreoPELCe‘‘Rumoao Pan 2007’’enoúltimoanoentreosprogramas‘‘Brasilno EsportedeAltoRendimento’’eoPST.

(8)

Tabela4 Execuc¸ãoorc¸amentária(em%)porprograma,noperíodode2004a2010

Programas 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Média2004-2007 Média2008-2010

Brasilnoesporte

dealto

rendimento

26,37 12,76 35,82 25,59 88,33 22,66 52,95 25,14 54,65

RumoaoPan2007 123,79 9,97 40 241,49 0,00 0,00 0,00 103,81 0,00

Esporteelazerna

cidade

17,53 2,78 7,61 4,13 2,24 0,47 1,89 8,01 1,53

Segundotempo 65,29 43,98 38,92 21,91 45,40 17,82 30,32 42,53 31,18

Fonte:SIGABrasil---SenadoFederal.(Elaborac¸ãoPrópria). Nota:valoresemmilhões.

em programas destinados ao esporte de alto rendimento tende a atender um quantitativo menor de esportistas, alémde vincular-seaos setores conservadoresdoesporte eàgrandeindústriaesportivaedoentretenimento, expres-sãohegemônicadolazercontemporâneo.

Em contrapartida, crê-se que a destinac¸ãode volumes expressivosaosprogramasrelativosàáreasocial,alémde atenderaumaparcelamaiordasociedadecarentedoacesso àspráticasesportivase delazer,vincula-sediretamenteà possibilidadedegarantiadosdireitossociaisdentrodeuma perspectivauniversal.

Finalmente,éimportanteressaltaralgumas particulari-dadesobservadasnotocanteaofinanciamentodestinadoà políticadeesporteelazerequedevemseralvodeestudos futuros.Aprimeiradizrespeitoaocomportamentoatípico do ano de 2007, impulsionado pelos elevados gastos de realizac¸ãodosJogosPan-Americanos.Oreferidoeventofoi alvodeauditoria doTCU,queapontou umasérie de irre-gularidadese superfaturamentodos processos licitatórios, levandoinclusiveoTCUamoverrepresentac¸ãocontraoME (posteriormentearquivada).DeacordocomoRelatório de acompanhamentodasac¸õeseobrasrelacionadasaosjogos PaneParapan-americanosde2007:

Embora obedecendo orientac¸ão expressa do Ministro--Relator,constantedovotocondutordoAcórdão-TCUn◦

282/2007---Plenário,dedesenvolveraauditoriademodo anãointerferirirremediavelmentenoandamentofísico das obras, a equipe de fiscalizac¸ão promoveu análise preliminar dos convênios e contratos, acusando diver-sasfalhas,impropriedadeseindíciosdeirregularidades neles contidos. [...] Vencida essa etapa, a equipe de fiscalizac¸ãoachouporbemoferecerrepresentac¸ão, cons-tante do TC-025.802/2007-6, em face de indícios de irregularidadesverificadosnoâmbitodecontratose con-vêniosadministrativosreferentesàsobrasdasinstalac¸ões esportivasedaVilaPan-americana(TCU,2008:132).

Ao mesmo tempo, compete destacar que o Pan 2007, assim como outros grandes eventos esportivos, está diretamenteapensadoaoesportedealtorendimento, apre-sentando poucos benefícios para a dimensão social do esporte,sobretudoquandoosanunciadoslegadossociaissão inexistentes.

Outrofatorquereforc¸aopressupostodequeosrecursos destinadosaoatendimentodoesportedealtorendimento sejam majoritários é o fato de que outras fontes de

– 100.000,00 200.000,00 300.000,00 400.000,00 500.000,00 600.000,00 700.000,00 800.000,00 900.000,00

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

PST e PELC

Rumo ao Pan e Brasil no esporte de alto rendimento

Fonte: SIGA Brasil – Senado Federal. (Elaboração própria). Nota: valores em milhões

Figura2 Comparac¸ãoentreasomatóriadosvaloresdestinadosaosprogramasPELCePSTeasomatóriadosvaloresdestinados

(9)

financiamento nãoestão detalhadasnesteartigo devidoà dificuldadede acessá-las.Tais fontesdizem respeito basi-camenteaorepasse,pormeiodepatrocínio,dasEmpresas Públicas(Correios,CEF,Petrobras,BancodoBrasil, Eletro-bras,etc.)àsconfederac¸õesefederac¸õesesportivas,além dosrecursos daLei n◦ 10.264/2001 ---conhecida comoLei

Agnelo/Piva --- a qual estabelece que 2% da arrecadac¸ão brutadetodasasloteriasfederaisdopaíssejamrepassados aoComitêOlímpicoBrasileiro(COB)eaoComitê Paraolím-picoBrasileiro(CPB).

Porfim,destacamosofatodequeoGFcrioudoisPortais daTransparência específicosparaosmegaeventos esporti-vos---CopadoMundo2014eJogosOlímpicosdoRio2016. Essesmecanismosdeconsultapréviaapresentamprojec¸ões de gastos que superam acentuadamente os recursos des-tinadosaos programassociais doME. Caso essesrepasses seconcretizemousejaminflacionadoscomonoPan2007, tem-seassimumatranslúcidademonstrac¸ãodequaissãoos objetivosdapolítica esportivaedelazerestruturadapelo GovernoLula.

Considerac

¸ões

finais

Conforme destacado anteriormente, esse artigo não tem apretensãodeesgotar o imprescindívelestudoacerca do financiamentodapolíticabrasileiradeesporteelazereseus respectivos programase ac¸ões. O exercício ora realizado busca estabeleceruma problematizac¸ão inicialacerca do comportamentodosgastospúblicoscomoesporteeolazer duranteoGovernoLula.Diantedesseescopo,reconhecemos oslimites das conclusõesapontadase, ao mesmo tempo, ressaltamosa necessidadederealizac¸ão denovas pesqui-sassobreatemáticadofinanciamentopúblicodestinadoàs políticaspúblicasesportivasedelazer.

Osdadoscoletadosjunto ao sistemaSIGABrasil, isola-damente,nãopermitemumaconclusãoderradeirasobreos objetivosvinculadosàPNELdoGovernoLula.Alémdisso,o comportamentoirregulardosgastos,apresentadonaanálise longitudinalde2004a2010,inviabilizamoestabelecimento depadrãounívoco.

Háumaevidenteprimaziadoesportedealtorendimento nosanosde2006e2007,períodoqueprecedeuarealizac¸ão dos Jogos Pan-Americanos. Nos demais anos pesquisados, observamos, em determinados momentos (2004 e 2010), umadivisão dos gastos entre as diferentes dimensões do esporte e, em outros (2005, 2008 e 2009), uma pequena prioridadedegastos comosprogramaseprojetos sociais, principalmenteoprogramaSegundoTempo.

Cabereforc¸ar apresenc¸a deelementos que nãoforam incorporados a essa pesquisa e que sinalizam paraa pos-sibilidadedecomprovac¸ãodaexistênciadeumpadrãode financiamentodoesporte edolazerdurante osdois man-datos do Governo Lula, bem como de identificarmos os objetivos(explícitoseimplícitos)pelaPNELdesseperíodo. Taiselementosreferem-seaoutrasfontesdefinanciamento doesporte de altorendimento de acesso e transparência reduzida;projec¸ãodegastosaseconfirmar;edetalhamento maiordealgunsprogramas/ac¸õesapresentadoseque pos-suemumaexecuc¸ãoorc¸amentáriaexpressiva.

Finalmente,éimportantedestacarqueadefinic¸ãosobre o orc¸amento caracteriza a disputa pelo fundo público.

Nesse sentido, sua análise possibilita verificar quais são as prioridades dos gastos governamentais e quem são as classes ou frac¸õesde classe hegemônicas nesse processo. Por conseguinte, é possível afirmar que o fundo público representa alutade classes nacontemporaneidade brasi-leira,ondeacorrelac¸ãodeforc¸adasociedadeedoEstado ganhavivacidade. Sepor umlado, o fundo público possi-bilita a repartic¸ão da mais-valia pelas diferentesfacc¸ões da burguesia, por outro lado, retorna parte do trabalho necessárionaformadesaláriosindiretos(políticassociais) ouna formade benspúblicos aostrabalhadores(Behring, 2010).

Reconhecendoqueo presenteartigo trata deuma pri-meira aproximac¸ão sobre o financiamento esportivo no país, anuncia-se a possibilidade de que estudos futuros, acompanhandoosposicionamentosdeOliveira(2009), bus-quem identificar quais são os interesses e as frac¸ões de classehegemônicaspresentesnadeterminac¸ãodos direcio-namentosdaalocac¸ãoderecursospúblicosparaessesetor esportivoedelazer.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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