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A transferência de tecnologia em cooperativas : estudo de casos de incubadoras no Estado do Rio de Janeiro: COPPE-UFRJ e CEFET-Campos

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(1)

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA EM

COOPERATIVAS-ESTUDO DE CASOS DE INCUBADORAS NO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO: COPPE - UFRJ E CEFET- CAMPOS

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

POR

MARIA CUANDINA TCHILEPA DE CARVALHO MAJOR

E aprovada em _ / _ _ /2001 Pela Banca Examinadora:

Professora Deborah Moraes Zouain, Df1

Professora V lderez Ferreira Fraga, Df1

(2)

APRESENTAÇÃO

A pesquisa desenvolvida surgiu como resultado do interesse que passei a desenvolver em relação a eficiência e sobrevivência de cooperativas de Angola tendo em consideração a perspectiva de um mercado competitivo. Porém, logo de início confrontei-me com dificuldades relacionadas a obtenção de dados atualizados e confiáveis e impossibilidade de efetuar uma adequada pesquisa de campo.

Recorrendo a dados acessíveis para desenvolver a pesquisa, optei por analisar transferência de tecnologia para cooperativas em Incubadoras na realidade brasileira, como um dos mecanismos recentes, mas pouco explorado.

Ao longo do desenvolvimento da pesquisa dois acontecimentos impulsionaram levar adiante o trabalho iniciado. Houve a oportunidade de participar em um seminário sobre o desenvolvimento de incubadoras no Brasil e realizou-se o Congresso Rio Cooperativo. Os dois eventos proporcionaram da melhor forma possível o estado da arte.

(3)

AGRADECIMENTOS

Durante a pesqUIsa e elaboração deste trabalho, contei com a colaboração de um grande número de pessoas. No entanto destaquei algumas que me ajudaram de maneira especial.

Devo mencionar, o Professor José António Puppim, orientador dedicado com seus valiosos conselhos e orientações.

Quero manifestar o meu apreço à Professora Valderez Ferreira Fraga, pela paciência e valiosos conselhos, orientações e ter aceite integrar a Banca Examinadora.

Agradeço a Professora Déborah Moraes Zouain por aceitar integrar a Banca Examinadora e ter contribuído com valiosos conselhos e orientações.

Sou especialmente grata à Fundação Getúlio Vargas pela oportunidade e condições necessárias para a consecução deste trabalho.

Agradeço a todos funcionários da Fundação sempre prontos para a orientar e auxiliar da melhor forma possível. Agradeço especialmente a Vaninha, Joarez, Denize e demais funcionários da biblioteca, secretaria, laboratório e xerox.

Agradeço a orientação e apoio recebido de todos os professores da EBAP, dentre os quais, destacaria os professores Bianor Calvalcanti, Valéria Souza, Frederico Lustosa, Enrique Saravia, Anna Campos, Paulo Roberto Motta, Fernando Tenório, Luís César e Fátima Bayema.

Sou igualmente grata à CAPES, pela bolsa de Mestrado.

(4)

Igualmente sou grata a Finep, FETRABALHO, a Amaral Consultores por fornecerem as informações que eu necessitava.

Agradeço aos meus colegas de curso pela hospitalidade, camaradagem, estímulo e paciência e por todos os momentos vividos em comum.

À meus filhos, força da minha esperança, Azer e Bruno, os meus agradecimentos por contribuírem com carinho, paciência, e dedicação na luta do dia-a-dia.

À meus pais, Filipina e Kissoa pelas oportunidades que me proporcionaram para tomar o que sou hoje.

Aos meus irmãos, Julinha, Lito, Humberto, Fininho pelo carinho e estímulo proporcionados.

Aos meus especialmente amigos, Mônica, José Otávio, Filomena, João António, Beto Van-Duném, Plácido, Dombe, Santos, Prisca, Sandra, Cristina, Emanuela, pelo carinho e estímulo proporcionados.

(5)

RESUMO

o

presente trabalho é uma pesquisa sobre a transferência de tecnologia em cooperativas desenvolvendo o estudo de casos de Incubadoras no Estado do Rio de Janeiro: Coppe - UFRJ e CEFET - Campos.

o

objetivo da pesquisa é investigar, compreender a dinâmica das Incubadoras de cooperativas e busca identificar os fatores que viabilizam a eficácia organizacional de cooperativas incubadas, contribuindo para o seu desenvolvimento em termos de autonomia de negociação.

(6)

ABSTRACT

(7)

SUMÁRIO

CAPÍTULO I Introdução ... 11

1.1 Contexto ... 12

1.2 Problema ... 14

CAPÍTULO II O movimento cooperativista ... 16

2.1 Cooperativismo: origem e evolução ... ... ... 16

2.2 Estrutura do cooperativismo ... 17

2.2.1 Aliança Cooperativa Internacional (ACI) ... 17

2.2.2 Organização Das Cooperativas da América (OCA) ... ... 17

2.2.3 Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB) ... 17

2.2.4 Organização de Cooperativas Estaduais (OCE) ... 18

2.2.5 Confederação de Cooperativas ... 18

2.2.6 Central ou Federações de Cooperativas ... 18

2.3 O Cooperativismo no Brasil ... 18

2.3.1 Origem e desenvolvimento ... 18

2.4 Política pública e cooperativismo ... 25

2.5 Funcionamento de uma cooperativa ... ... 26

2.5.1 Conceituação de Cooperativa ... 26

2.5.2 Princípios cooperativistas ... .... 26

2.5.3 Constituição de uma Cooperativa ... 30

2.5.4 Procedimentos básicos ... ... ... 30

2.5.5 Gestão cooperativa ... .... 32

2.5.6 Principais obstáculos do cooperativismo no Brasil ... 33

2.5.7 Considerações gerais sobre cooperativas ... 35

CAPÍTULO III Ciência e Tecnologia no Brasil ... ... 36

3.1 Política Pública de Ciência e tecnologia ... ... 36

3.2 Programas de Ciência e Tecnologia ... ... . 37

3.3 Transferência de tecnologia ... 38

(8)

3.4.1 Interação educação / trabalho ... 41

3.4.2 Desenvolvimento da educação no Brasil ... 41

3.4.3 Alternativas de educação ... 51

3.4.4 Perigos dos processos de transferência de tecnologia .... 55

3.4.5 Considerações finais sobre a transferência de Tecnologia ... 58

CAPÍTULO IV Incubadoras ... ... ... 59

4.1 Conceito de Incubadora ... ... 59

4.2 Desenvolvimento de Incubadoras no Brasil ... 61

4.3 Incubadora de cooperativas no Brasil ... ... 63

- 1

4.4 Funcionamento das Incubadoras ... 69

4.4.1 Objetivo das Incubadoras ... 72

4.4.2 Interdependência organizacional ... 74

---I

CAPÍTULO V Estudo de Casos: Incubadoras de cooperativas ... 80 5.1 Introdução ... 80

5.2 Metodologia ... 80

5.3 Processos operacionais ... 83

5.4 Público-alvo ... 83

5.5 Caso I: Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares de Trabalho - COPPE - UFRJ ... 83

5.5.1 Infraestrutura administrativa e operacional ... 85

5.5.2 Serviços especializados ... 85

5.5.3 Interação Universidade - Incubadora ... 86

5.5.4 Fatores determinantes ... ... 88

5.5.5 Processo de incubação ... ... 88

5.5.6 Processo de seleção ... ... 89

5.5.7 Desenvolvimento da incubadora ... 91

5.5.8 Interdependência organizacional ... 93

5.6 Caso II: Incubadora Tecnológica de Cooperativas de Trabalho-INCOOP - CEFET - Campos .. ... 104

(9)

5.6.2 Estruturas compartilhadas ... 105

5.6.3 Origem das cooperativas ... 107

5.6.4 Gerência de parcerias ... 112

5.6.5 Transitoriedade do processo de incubação ... 115

5.6.6 Interdependência organizacional ... 117

5.7 Análise compactada dos Casos I e II ... 123

5.7.1 Caso I: Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - COPPE - UFRJ ... 126

5.7.2 Caso II: Incubadora Tecnológica de Cooperativas de Trabalho - CEFET - Campos ... ... 129

5.8 Síntese das proposições ... 133

5.8.1 Caso I: Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - COPPE - UFRJ ... 135

5.8.2 CASO II: Incubadora Tecnológica de Cooperativas de Trabalho CEFET - Campos ... 13 7 CAPÍTULO VI Conclusões... ... 141

6.1 Recomendações para melhoria das Incubadoras de cooperativas 141 6.2 Considerações finais ... ... 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... ... 146

LISTA DE TABELAS: TABELA 1 Cooperativas, cooperados e empregados por Estado ... .23

TABELA 2 Cooperativas , cooperados e empregados por ramo ... .24

TABELA 3 Diferenças entre sociedades cooperativas e mercantil ... .29

TABELA 4 Modelo de transferência de tecnologia ... 48

TABELA 5 Pedagogia e Andragogia ... 52

TABELA 6 Educação tradicional e empreendedora .... ... 54

TABELA 7 Áreas de atividade de empresas incubadas no Brasil ... 62

TABELA 8 Cooperativas e cooperados por universidade ... ... 65

TABELA 9 Cooperativas e cooperados no CEFET - Campos ... 68

TABELA 10 Incubadora tecnológica de cooperativas populares na Coppe - UFRJ ... 84

TABELA 11 Interação universidade e cooperativas incubadas ... 87

TABELA 12 Cooperativas incubadas no CEFET - Campos ... ... 109

(10)

TABELA 13 Especialidades por níveis nas cooperativas do CEFET

-Campos ... ... ... 111

TABELA 14 Análise compactada dos dados Casos I e II ... 124

LISTA DE FIGURAS: FIGURA 1 Principais processos das Incubadoras ... 71 e 134 FIGURA 2 Processo de Seleção ... ... 73

FIGURA 3 Estrutura organizacional ... 75

FIGURA 4 Sustentação Financeira ... 77

FIGURA 5 Processo de Seleção ... 90

FIGURA 6 Principais processos da Incubadora de cooperativas Populares ... 92

FIGURA 7 Sustentação financeira ... ... 95

FIGURA 8 Sustentação financeira ... 1 06 FIGURA 9 Principais processos da Incubadora do CEFET - Campos.114 FIGURA 10 Processo de seleção ... 116

(11)

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

o

presente trabalho surge como resultado da observação sobre os impactos proporcionados pelos processos de transformação tecnológica, política, econômica e social que se refletem na incessante busca de alternativas para atender às demandas de trabalho e renda. As cooperativas surgem como uma das alternativas válidas para a solução e, conseqüentemente, de desenvolvimento do contexto em que se encontram inseridas.

Não obstante a secular experiência no desenvolvimento de cooperativas no Brasil, elas confrontam-se com a escassez de infra-estruturas adequadas para proporcionar suporte tecnológico, a ponto de possibilitar qualidade, eficiência e maiores chances de sobrevivência no mercado.

Neste contexto, as Incubadoras de cooperativas surgem como uma das alternativas capazes de modernizar tecnologicamente, capacitar e proporcionar maior competitividade as cooperativas perm(tindo maior Ílldice de sobrevivência e de desenvolvimento de seus membros.

-

- - - / / Constatou-se porém, que as Incubadoras ao buscar aumentar a eficiência de seus processos internos voltados ao apoio de cooperativas residentes e graduadas, reproduzem as necessidades do sistema social de trabalho e renda.

No contexto em que estão inseridas as incubadoras, as condições políticas, no caso do Brasil, são identificadas como a consolidação do processo democrático, que se reflete na flexibilização administrativa, fazendo surgir novos atores em que se destacam governos estaduais, municipais, organizações não-governamentais, que demandam de uma participação mais ativa no planejamento, gestão e avaliação dos programas sociais.

(12)

Do ponto de vista econômico, o conjunto de cooperativas engajadas em atividades e padrões similares de utilização de recursos, são afetadas, na medida em que a política de transferência de tecnologia estabelece regras ou parâmetros de ação que permitem ou não a utilização de informações disponíveis para tomada de decisões, proporcionando assim maior ou menor flexibilidade.

No entanto, a política social construída a partir das Incubadoras, confronta-se com diferenças tanto sócio-econômicas como de cultura educacional dos integrantes das cooperativas. Isto pode se refletir como barreiras que passam a determinar a efetividade e eficiência da utilização da tecnologia transferida da Incubadora para as cooperativas.

1.1 CONTEXTO

Desde a década de 90, o processo de globalização é orientado na busca de expansão dos paradigmas universais de mercado, política, cultura, informação e do espaço. Ao mesmo tempo proporcionaram a necessidade de revisão de padrões que estimulam a adoção de novas alternativas de desenvolvimento tanto nacional como regional, com novas formas de organização do trabalho, tomando-os mais flexíveis e de impacto proporcional.

Neste contexto, a competitividade no Brasil, como na maioria dos países, passou a constituir prioridade, obtida com a introdução de processos tecnológicos. Estes processos estimulam o desenvolvimento de atividades de ciência e tecnologia especialmente direcionada à transformação de conhecimento em produtos, processos e serviços que possam ser colocados no mercado e assim propiciando alterações no desenvolvimento de níveis sócio-econômicos.

(13)

No período de 1990 à 1999 o Brasil registrou 3.666 novas cooperativas perfazendo o número de 5.652 (OCB, 1999), distribuídas em 12 ramos de atividade.

Porém, a estabilidade econômica no Brasil, nos últimos sete anos tem permitido o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras que indicam o esforço de articulação entre instituições do governo, de ensino e pesquisa e empresa.

As Incubadoras são resultado deste esforço, facultando o desenvolvimento de regras e parâmetros de ação que permitem ou não a utilização de informações disponíveis para tomada de decisões, resultando assim em maior ou menor flexibilidade. Segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançada (ANPROTEC), no Brasil existem 180 Incubadoras de Empresas, das quais 135 estão em funcionamento, abrigando 1.100 negócios, gerando 9.100 empregos. Em contrapartida no Brasil há 6 Incubadoras cooperativas populares e uma tecnológica de trabalho.

No Estado do Rio de Janeiro que conta com um total de 729 cooperativas, há somente duas Incubadoras de Cooperativas nomeadamente na COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro, na sede do Estado e no CEFET - Campos, na cidade de Campos de Goytacazes, Município do Rio de Janeiro, alojando ambas atualmente 16 residentes.

A compreensão sobre processos de transferência de tecnologia, passa pelo entendimento de que as Incubadoras são estruturadas de tal forma a proporcionar influência e inter-relacionamentos necessários aos beneficiários.

o

processo de capacitação das cooperativas nas incubadoras tem a influência do sistema de educação brasileiro. Como fenômeno cultural, a educação através da universidade e centros educacionais, reflete as possibilidades de uma cultura integrada que incorpora o indivíduo no estado presente e o desenvolve no sentido de proporcionar progresso. A educação ao influenciar o ambiente da Incubadora passa a determinar a efetividade e eficiência da utilização da tecnologia.

Contudo, as condições políticas no Brasil que favorecerem o desenvolvimento da participação, no contexto das universidades ou centros de educação se refletem no processo

(14)

de transferência de tecnologia, pela forma perceptiva ou não de se desenvolver a comunicação. Isto leva em consideração a existência de interlocutores, tidos como sujeitos com direitos e obrigações, cuja participação passa a constituir uma questão de cidadania.

1.2 O PROBLEMA

Este estudo procura identificar e compreender qual é a dinâmica das Incubadoras de cooperativas examinando dois estudos de caso: COPPE e CEFET. Baseado nestes dois casos, a pesquisa busca responder à seguinte questão: que fatores encontrados viabilizam a eficácia organizacional de cooperativas incubadas, contribuindo para o seu desenvolvimento em termos de autonomia de negociação, no período entre 1998 à 2001?

Minha hipótese é:

As cooperativas tendem a atingir menor grau de autonomia em relação à Incubadora, quanto mais dependentes forem desta Incubadora para inserir-se no mercado.

o

presente trabalho está estruturado em seis capítulos, incluindo a Introdução e o conteúdo de cada um resumido a seguir.

Capítulo 11 - O movimento cooperativista - analisa o conceito de cooperativa bem como o funcionamento de uma delas; aborda a origem e evolução do pensamento cooperativista mundial e em particular, no Brasil.

Capítulo 111 - Ciência e Tecnologia no Brasil - aborda a ciência e tecnologia como política pública e sua dimensão social no contexto brasileiro.

Capítulo IV - Incubadoras - analisa o conceito de Incubadoras de cooperativas partindo do referencial teórico de Incubadoras de empresa.

(15)

-INCOOP - apresentando as pesquisas de campo realizadas e seus resultados, enfatizando as dificuldades e soluções apontadas pelas cooperativas.

(16)

CAPÍTULO 11: O MOVIMENTO COOPERATIVISTA

2.1 COOPERATIVISMO: ORIGEM E EVOLUÇÃO

o

cooperativismo desenvolveu-se a partir do período de crise econômica e social da década de 40 do séc. XIX. A crise propiciou aos tecelões de Rochdale, como alternativa para as reivindicações por melhores salários e melhores condições de trabalho, a constituição de uma cooperativa.

A cooperativa constituída e oficialmente registrada em 1844, denominada "Friendly Society", passou a ser identificada como "pioneiros de Rochdale" e norteava-se por seis princípios: democracia, livre adesão, liberdade para sair da cooperativa, compras e vendas a vista, juro limitado ao capital, retorno das sobras. Em 1854, os princípios sofreram emendas que passaram a incluir operações com não-associados, o aperfeiçoamento intelectual dos associados e a devolução desinteressada do ativo líquido.

Por iniciativa de cooperativistas inglesas, franceses e alemães, foi fundado em 1895, um órgão representativo - gremial internacional, que passaria a denominar-se Aliança Cooperativa Internacional - ACI, com o objetivo de intensificar o intercâmbio entre cooperativas dos diversos países, no nível doutrinário, educativo e técnico.

A ACI, ao constituir-se, esteve voltada mais para afirmar os interesses e as características do cooperativismo de consumo do que afirmar os princípios de Rochdale. Somente a partir do décimo congresso, em 1921, a ACI passou a orientar-se pelos princípios de Rochdale exigindo às cooperativas filiadas a assunção dos mesmos, como critério para filiação a ACI.

No entanto, para que o processo de integração das cooperativas ocorra sem desvios, periodicamente é feita uma reavaliação dos princípios que norteiam o cooperativismo.

(17)

2.2 ESTRUTURA DO COOPERATIVISMO

A estrutura do cooperativismo no Brasil reflete a heterogeneidade de cada Estado com a influência sócio-econômica construída a partir da cultura de interesses que facilitam a ação e funcionamento das cooperativas.

Segundo o objeto e área de atividade, as cooperativas funcionam organizadas com base nos princípios cooperativistas, numa perspectiva de desenvolvimento unificado constituído por um grau de organização composto por entidades como a Aliança Cooperativa Internacional, Organização Cooperativa das Américas para o caso dos países da América, a Organização de Cooperativas Brasileiras, as Organizações de Cooperativas Estaduais, Confederações, Centrais ou Federações.

2.2.1 Aliança Cooperativa Internacional (ACI)

A Aliança Cooperativa Internacional - ACI, criada em Londres em 1895, com sede em Genebra é o órgão máximo de representação do cooperativismo. Possui estruturas regionais de representação, cujos ramos internacionais estão organizados por comitês especializados. Junto a ONU, desde 1946, possui o estatuto consultivo. Pela primeira vez desde sua fundação tem um presidente não-europeu, o brasileiro Roberto Rodrigues, eleito em 1997.

2.2.2 Organização das Cooperativas da América (OCA)

A organização das Cooperativas das Américas, fundada em 1963, em Montevidéu, constitui o órgão integrador, de representação e defesa do cooperativismo dos países da América. Dela fazem parte vinte países e seu atual presidente é o brasileiro Dejandir Dalpasquale, também presidente da Organização das Cooperativas do Brasil - OCB.

2.2.3 Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

A OCB foi criada em 1969 no VI Congresso Brasileiro de Cooperativismo realizado em Belo Horizonte. Em 1971 foi implantado juridicamente o sistema OCB, pela Lei 5764/71 como

(18)

parte da sociedade civil, com a qualidade de órgão técnico consultivo para representação do sistema cooperativista nacional.

A OCB é composta por 26 Organizações Estaduais de Cooperativas, incluindo a Organização do Distrito Federal e a representação de onze Ramos do Cooperativismo Brasileiro.

2.2.4 Organização das Cooperativas Estaduais (OCE)

As OCEs congregam e representam todos os ramos do cooperativismo nos respectivos Estados e Unidades Federais. Têm por missão defender os interesses do sistema cooperativista perante as autoridades constituídas e a sociedade, bem como prestar serviços adequados ao pleno desenvolvimento das cooperativas e seus integrantes. Até 1998, a filiação às OCEs era obrigatória uma vez que as cooperativas eram "sociedades autorizadas" pelo Estado.

2.2.5 Confederação de Cooperativas

A Confederação é constituída pela união de três ou mais Federações ou Cooperativas Centrais, e tem por objetivo orientar e coordenar as atividades de suas filiadas e representá-las junto aos poderes públicos e outras entidades classistas.

2.2.6 Central ou Federação de Cooperativas

A Central ou Federação consiste na união de três ou mais cooperativas que fortalecem o princípio de unicidade do sistema através de fusões e parcerias.

2.3 O COOPERATIVISMO NO BRASIL

2.3.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO

O cooperativismo no Brasil divide-se em cinco períodos básicos denominados: implantação, consolidação parcial, centralismo estatal, renovação das estruturas e liberalização (Rech, 2000).

(19)

1. Período de implantação surgiu com o Decreto nO 979 de 1903 e o Decreto 1.637, de 5 de Janeiro 1907, influenciados pela Lei francesa de 1867, que regulava sindicatos rurais mas não atribuía forma própria às cooperativas que se constituíam sob forma de sociedades comerciais em nome coletivo. Essas sociedades comerciais tinham ampla liberdade de constituição e para seu funcionamento bastava o depósito em duplicata na Junta Comercial. Seus atos constitutivos, incluíam operações financeiras que deram início às primeiras seções de crédito de cooperativas, sem subordinação estatal. Eram reguladas pela Lei 4.984 de 21.12.1925 e Decreto 17.339 de 2.6.1926 sobre Caixas Rurais Raiffeisen e os Bancos Luzzatti.

o

Decreto nO 22 239 de 1932 consolidou juridicamente as cooperativas como "sociedade de pessoas" baseada nos Princípios de Rochdale.

Em 1933 pelo Decreto 23 61111933 as cooperativas foram consideradas como solução da crise de 1929 e criou o Departamento de Assistência ao Cooperativismo - DAC que posteriormente veio a se transformar em Instituto de Associativismo e Cooperativismo - ICA.

2. Período de consolidação parcial do cooperativismo desenvolveu-se em conseqüência do congresso da Aliança Internacional Cooperativa - AlC de 1937, decorrido em Paris. O Decreto-Lei n. 581 de 1.8.1938, completado pelo Decreto n° 6980/1942 estabeleceu a fiscalização das cooperativas pelo Ministério da Agricultura, Fazenda, Trabalho, Indústria e Comércio e foram aprovados pela primeira vez os chamados princípios cooperativistas que incluíam o de retomo.

3. Período de centralismo estatal caracterizou a promulgação das Leis sobre Reformas Bancária e Tributária, nomeadamente Lei 4.595 de 1964, Decreto-lei 59 de 1966 e Lei 5.892 de 25.10.1966, que com base na Emenda Constitucional 18 de 1.12.1965 cancelou subitamente alguns incentivos tributários, proibiu operações com terceiros determinou a extinção das seções de crédito cooperativo, retirou as possibilidades de manutenção das cooperativas de modo anterior desestimulando deste modo o seu desenvolvimento.

Os Decretos Lei 59 e 60.597 de 21.11.1966 e 19.04.1967, respectivamente, apesar de consagrarem os princípios da ACI, aprovados no congresso de Viena de 1966, foram

(20)

considerados limitados por falta de sistematização e regulamentação em questões fundamentais como registro de personalidade jurídica; responsabilidades e direitos dos administradores e associados; formação do contrato das sociedades cooperativas e sua prova; modificação, fusão e incorporação; dissolução e liquidação; administração e controle; obrigações e penalidades; admissão, demissão, exclusão e eliminação dos associados; categorias e grau de cooperativas, fato que serviu de base para a intervenção do Estado alegando necessidade de modernizar para adaptar-se às novas realidades.

No Decreto Lei 59 identifica-se a necessidade de autorização prévia para funcionamento e a limitação da área de ação, restrita a um conceito municipal, com exceção das cooperativas regionais e centrais, considerada fatores restritivos no desenvolvimento de cooperativas.

Em contrapartida no Decreto 60.597 de 1967 surgiram os fatores facilitadores que passaram a esclarecer as características operacionais das cooperativas até então confundidas com outros tipos de empresa, nomeadamente:

• Ato cooperativo - que qualifica as relações econômicas entre a cooperativa e seus associados, que não poderão ser entendidas como operações de compra e venda, mas que simultaneamente, considerava as instalações da cooperativa como extensão do estabelecimento cooperado ou seja, limitava o alcance do decreto somente a cooperativas produtoras;

• Ficava definida a relação jurídica estabelecida entre a cooperativa e o cooperado em relação à entrega da produção, afastando assim uma interpretação confundida com operação financeira.

4. Período de renovação das estruturas estabeleceu-se com a Lei 5.764 de 16.12.1971, que realizou a reforma da legislação cooperativista incorporando aspectos como:

a) possibilidade das cooperativas operarem com terceiros e a constituição de fundos impartilháveis destinados a serviços assistenciais aos associados;

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(21)

b) conceituação do processo e abertura das despesas operaCIOnaIS das cooperativas, que por produzirem renda passam a não ser sujeitas ao imposto de renda;

c) liberdade de constituição e funcionamento das sociedades cooperativas, bastando autorização tácita exposta na falta de manifestação do órgão controlador num período de sessenta dias;

d) fixação da área de admissão de associados e de operações como critério do estatuto da cooperativa;

e) participação das cooperativas em empresas não cooperativas;

f) restabelecimento das atividades creditórias nas cooperativas mistas;

g) permissão para associados individuais serem aceitos e mantidos em cooperativas centrais;

5. O atual período designado de liberalização teve início com a Constituição Federal de 1988 com os artigos 5°; 21 o/XXV; 174°, parágrafos 2°,3° e 4°; 187°NI e 192°NIlI, que estabelecem fatores incentivadores que vão desde a necessidade de apoio, liberação dos controles estatais e outros aspectos do sistema cooperativista, como também o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo.

(22)

No Brasil, o cooperativismo congrega mais de 5,6 mil cooperativas, que reúnem cerca de 5,5 milhões de associados responsáveis por 5% do Produto Interno Bruto e pela geração de mais de 167 mil empregos diretos.

As 5.652 cooperativas registradas em 1999 conforme a Tabela 1, correspondem a um crescimento de 10,78% ao número de 1998 que contou com 5.102 unidades. O crescimento do número de cooperativas nos últimos anos tem constituído uma das contrapartidas diante das transformações econômicas que se refletiram no elevado índice de desemprego no país.

Nestes dados o Estado do Rio de Janeiro consta com 729 cooperativas que reúnem 179.321 cooperados proporcionando 4.549 empregados diretos.

(23)

TABELA 1

COOPERATIVAS, COOPERADOS E EMPREGADOS POR ESTADO

ESTADOS COOPERATIV AS COOPERADOS EMPREGADOS

ACRE 5 3 177 94

ALAGOAS 30 18833 1089

AMAPA 21 1954 132

AMAZONAS 25 11967 671

BAHIA 199 42679 1219

CEARA 247 82 160 1997

DISTRITO FEDERAL 48 52758 898

ESPIRITO SANTO 147 80094 3768

GOlAS 129 62414 4468

MARANHAO 154 18587 1073

MATO GROSSO 109 23652 1 805

MATO GROSSO DO SUL 75 21377 1 846

MINAS GERAIS 826 1054929 23627

PARA 56 23653 647

PARAIBA 107 27 493 747

PARANA 186 202 185 32205

PERNAMBUCO 368 96382 1 621

PlRAI 87 15019 460

RIO DE JANEIRO 729 179321 4549

RIO GRANDE DO NORTE 102 55752 1 393

RIO GRANDE DO SUL 621 672 897 29487

RONDONIA 50 3756 193

RORAIMA 15 581 6

SANTA CATARINA 250 347537 12445

SAOPAULO 1 056 1 912281 40322

SERGIPE 34 7834 242

TOCANTINS 36 3744 374

TOTAL 5652 5014016 167378

,

(24)

As cooperativas estão distribuídas por treze ramos de atividade, conforme a tabela 2.

TABELA 2

COOPERATIVAS, COOPERADOS E EMPREGADOS POR RAMO

RAMO COOPERATIVAS COOPERADOS EMPREGADOS

AGROPECUARIO 1437 866202 106753

CONSUMO 191 1 473038 7952

CREDITO 920 1407089 16908

EDUCACIONAL 210 48403 2505

ENERGIA E 184 561 799 5355

TELECOMUNICAÇÕES

ESPECIAL 4 25484 14

HABITACIONAL 216 53011 2063

MINERAÇAO 21 1899 28

OUTROS 2 40 O

PRODUÇAO 107 6011 38

SAUDE 698 297521 19340

SERVIÇO 1 20 O

TRABALHO 1 661 293499 6422

TOTAL 5.652 5014016 167378

,

(25)

2.4 POLÍTICA PÚBLICA E COOPERATIVISMO

No Brasil não existe uma coordenação de políticas públicas referentes ao cooperativismo ao nível Federal ou Estadual, no entanto, diferentes instituições separadamente promovem a execução de programas que contemplam o cooperativismo.

No Rio de Janeiro, em 26 de Janeiro de 1997, foi lançado o Programa Rio Cooperativa, como parceria entre o SEBRAE/RJ - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e o Ministério da Agricultura e Abastecimento - DENACOOP; as Secretarias de Estado de Trabalho, do Desenvolvimento Econômico e Turismo; de Agricultura, Abastecimento; Pesca e Desenvolvimento do Interior; Banco do Brasil; OCERJ - Organização das Cooperativas do Rio de Janeiro; FETRABALHO - Federação das Cooperativas de Trabalho do Estado do Rio de Janeiro. E no interior do Estado, com maior freqüência constata-se que as cooperativas têm constituído opção válida contra o desemprego e enxugamento da máquina governamental (SEBRAEIRJ,2000)1.

Em São Paulo registram-se os programas desenvolvidos pelo ICA - Instituto de Cooperativismo e Associativismo de São Paulo; as Secretarias do Emprego e Relações de Trabalho; Habitação; Bem Estar Social; Ciência e Tecnologia e Escolas Agrícolas.

No plano federal, programas são desenvolvidos através de fundos públicos como o DENACOOP - Departamento Nacional de Cooperativismo, ligado à SDR - Secretaria de Desenvolvimento Rural, Ministério da Agricultura; incluem o GCOOP- Gerência de Cooperativismo do Banco do Brasil, o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social com recursos do F AT - Fundo de Amparo ao Trabalhador; e a Comunidade Solidária que incorpora em seus programas a cooperativa e promove o Fórum de Cooperativas (Tesch, 2000)2.

1 SEBRAE. Novos caminhos - Programa Rio Cooperativa. Rio de Janeiro, 2000.

(26)

2.5 FUNCIONAMENTO DE UMA COOPERATIVA

2.5.1 Conceituação de Cooperativa

Partindo da perspectiva de que o cooperativismo, pelas convergências que orientam as atividades no interior do movimento se apresenta como um conjunto, do ponto de vista técnico, formal e prático, a Aliança Cooperativa Internacional adotou o conceito segundo o qual:

"Será considerada como sociedade cooperativa qualquer que seja a sua conceituação legal, toda a associação de pessoas que tenha por fim a melhoria econômica e social de seus membros, através da exploração de uma empresa sobre a base de ajuda mútua e que observe os princípios de Rochdale".

2.5.2 Princípios cooperativistas

As cooperativas regem-se por princípios que são normas por meios das quais as cooperativas colocam em prática seus valores.

No entanto, a doutrina cooperativa evoluiu diante de novas realidades de sistemas sócio-econômicos, diferentes regimes políticos, transformações de estruturas econômicas e sociais que permitiram a reformulação de alguns conceitos básicos orientados por princípios cooperativos aprovados no Congresso de Manchester, em 1995, pela Aliança Cooperativa Internacional, nomeadamente:

10 Princípio - adesão livre e voluntária

As cooperativas são organizações voluntárias abertas a todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero;

(27)

ZO Princípio - controle democrático pelos sócios

As cooperativas são democraticamente controladas por sócios que participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e na tomada de decisões. Os eleitos como representantes são responsáveis para com os sócios;

Princípio - participação econômica dos sócios

Os sócios contribuem de forma eqüitativa e controlam democraticamente o capital de suas cooperativas. Parte do capital é propriedade comum das cooperativas. Os sócios recebem juros limitados se houver sobre o capital como condição de sociedade. Os sócios destinam as sobras aos seguintes propósitos: desenvolvimento das cooperativas, possibilitando formação de reservas, parte dessas podendo ser indivisíveis; retomo aos sócios na proporção de suas transações com as cooperativas e apoio a outras atividades que forem aprovadas pelos sócios.

4° princípio - autonomia e independência

As cooperativas são organizações autônomas para ajuda mútua, controladas por seus membros. Em acordo operacional com outras entidades, inclusive governamentais ou recebendo capital de origem externa, elas devem fazê-lo em termos que preservem o seu controle democrático pelos sócios e mantenham sua autonomia;

Princípio - educação, treinamento e informação

As cooperativas proporCIOnam educação e treinamento para os sócios, dirigentes eleitos, administradores e funcionários, de modo a contribuir efetivamente para seu desenvolvimento, informando ao público sobre os beneficios da cooperação.

(28)

As cooperativas atendem seus sócios maiS efetivamente e fortalecem o movimento cooperativo, trabalhando juntas através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais.

Princípio - preocupação com a comunidade

As cooperativas trabalham pelo desenvolvimento sustentável de suas comunidades, através de políticas aprovadas por seus membros.

As sociedades cooperativas diferem das mercantis conforme tabela 3. No entanto, a diversidade tanto legal, como em termos de participação, produtividade, motivação, qualidade de trabalho entre as sociedades cooperativas e sociedades mercantis, variam em cada setor de atividade e depende do tempo de constituição, nível sócio-cultural dos integrantes e qualidade da liderança.

(29)

TABELA 3

DIFERENÇAS ENTRE SOCIEDADES COOPERATIVA E MERCANTIL

Sociedade Cooperativa Sociedade Mercantil

• E uma sociedade de pessoas; • E uma sociedade de capital; • Objetivo principal é a prestação de • Objetivo principal é o lucro;

serviços;

• Número ilimitado de cooperados; • Número limitado de acionistas; • Controle democrático - um homem - um • Cada ação - um voto;

voto;

• Assembléias: "quorum" - é baseado no número de cooperados;

• Não é permitida a transferência das cotas - partes a terceiros, estranhos à sociedade;

• Assembléias: "quorum" - é baseado no capital;

• Transferência das ações a terceiros;

• Retorno proporcional ao valor das • Dividendo proporcional ao valor das

operações. ações;

Fonte: OCESC, 2001.

(30)

2.5.3 CONSTITUIÇÃO DE UMA COOPERATIVA

Segundo a orientação da OCB para a constituição de uma cooperativa, os candidatos deverão responder o questionamento:

• Em que medida seria a cooperativa a solução mais adequada?

• Existiria alguma cooperativa na redondeza que poderia satisfazer aos interessados? • Em que medida os interessados estariam dispostos a entrar com o capital para

viabilizar a cooperativa?

• Que volume de negócios seria suficiente para que os cooperados tenham beneficios?

• Em que medida estariam os interessados dispostos a operar integralmente com a cooperativa?

2.5.4 PROCEDIMENTOS BÁSICOS

Apesar de cada caso possuir suas peculiaridades, no Brasil existe uma sistematização que didaticamente permite visualizar o processo de organizar uma cooperativa. No entanto, é importante ter em consideração que nem sempre uma exitosa implantação e coerência grupal significa êxito no desenvolvimento do processo de produção do seu objeto e no mercado.

o

processo de organização pode se dividir em etapas, que levam em consideração os seguintes aspetos:

A primeira etapa é iniciada com o processo de consolidação do grupo, conforme dispõe a Lei 5.7.6.4/71, que estabelece o mínimo de 20 (vinte) pessoas, as quais definem o objeto e mercado de interesse, elaboram o estatuto e preparam a Assembléia Constitutiva. Após constituição e consolidação, há a etapa de formalização da cooperativa, quando é recomendável a interação com assessoria que seja dotada de certo grau de profissionalização multidisciplinar em termos de direito, contabilidade e administração.

(31)

Assembléia Geral constitui em si o órgão máximo na hierarquia institucional, que pode ser Ordinária e Extraordinária, na qual o associado participa manifestando suas aspirações ou julgando as questões que lhe são apresentadas pela administração da cooperativa, segundo o

art.38 da referida lei:

"A assembléia Geral dos associados é o órgão supremo da sociedade, dentro dos

limites legais e estatutários, tendo poderes para decidir os negócios relativos ao

objeto da sociedade e tomar as resoluções vinculando a todos, ainda que ausentes

e discordantes" .

Nela o associados tem direito a 1 (um) só voto, qualquer que seja o número de suas cotas-partes.

A Administração é o órgão que dá continuidade às decisões da Assembléia Geral, informando sobre as propostas e as limitações existentes e zelando pela equilíbrio da cooperativa.

A cooperativa será administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração, eleitos pela Assembléia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo,1/3 do Conselho de Administração.

A diretoria se caracteriza pelo fato dos diretores serem eleitos para funções especificas, podendo ser reeleitos, sendo comum existir um diretor para cada área de atividade da cooperativa, todos eles subordinados a um Presidente.

O Conselho de Administração apresenta uma única diferença em relação à Diretoria ou seja, o Presidente e todos os Diretores, constituem um grupo no qual as decisões são tomadas em conjunto. Seus integrantes têm funções deliberativas e executivas. A renovação de 1/3 é feita sobre o total dos membros do Conselho de Administração. O estatuto poderá, no entanto, criar outros órgãos necessários à administração.

(32)

o

Conselho Fiscal tem a função de avaliar, controlar e regular as atividades de cooperativa, de modo a subsidiar a Assembléia Geral e o Conselho de Administração e é constituído por três membros efetivos e três suplentes, todos associados, eleitos anualmente pela Assembléia Geral, sendo permitida apenas a reeleição de 1/3 de seus componentes.

Em seguida são feitos registros e formalização jurídica na Junta Comercial, sendo obtida a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, que possibilita a abertura de contas em Bancos. A cooperativa deve registrar-se de igual modo na Prefeitura e Secretaria da Fazenda de acordo com a atividade.

No Processo de organização administrativa é importante que a cooperativa elabore um Plano de Trabalho ajustando constantemente sua concretização à prática. Atualmente existem "softwares" especializados em cooperativas de trabalho, que facilitam a sistematização dos procedimentos básicos de gestão.

No entanto, é necessário dar uma atenção permanente em relação à educação cooperativista, de modo a contribuir efetivamente para o desenvolvimento da cooperativa. Esta deve manter atualizado o cadastro dos associados, especificando as possíveis atividades que cada um desenvolve e/ou pretende desenvolver.

2.5.5 GESTÃO COOPERATIVA

Dentre os princípios cooperativistas, um é de importância fundamental: trata-se do princípio de Gestão Democrática, segundo o qual a direção da cooperativa é de responsabilidade de seus associados.

Cooperativa é a associação autônoma de pessoas, unidas voluntariamente, para atender suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns, por intermédio de uma empresa coletiva e democraticamente controlada (OIT, 1966; ACI, 1995).

(33)

em outras palavras são realizados os interesses econômicos comuns dos próprios associados como donos, usuários dos serviços ou resultados das atividades empresariais.

o

segundo elemento evidencia-se na gestão democrática por ser gerida pelos associados em regime de autogestão.

E por último, caracteriza-se pela realização da distribuição eqüitativa entre riscos e beneficios, retomo e investimento dentre seus associados ou seja, os associados contribuem com bens e servlços para uma sociedade que se caracteriza pela prestação de serviços ao próprio associado.

Assim sendo, a estrutura na cooperativa precisa ser organizada de modo a:

- permitir que a vontade social seja perfeita a claramente identificada, assegurando a participação pessoal de todos os associados;

garantir que esta vontade social seja acatada e satisfeita pelas atividades da cooperativa mantendo-se para este fim, uma delegação de associados que, na condição de representação política de associação conduzirá as atividades da empresa;

- assegurar que os recursos alocados na empresa sejam empregados nas relações de negócios com o mercado, com o máximo de eficiência.

2.5.6 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

Não obstante a Constituição Federal determinar ao Estado o estímulo ao desenvolvimento do cooperativismo no Brasil, regido pela Lei 5.764/71, este encontra obstáculos que necessitam ser removidos de modo a ajustarem-se à nova realidade econômica, política, social e cultural, com critérios que permitam coibir desvios.

(34)

1. Obstáculos legais e burocráticos quanto à promoção e treinamento com metodologia adequada para novas organizações sociais que assumam os princípios de cooperação como resposta a situações críticas.

2. A promoção limitada de suporte operacional a nível administrativo, jurídico, contábil, comercial, que exclua o assistencialismo, de modo a preparar quadros técnicos com formação suficiente para permitir a participação dos envolvidos.

3. As dificuldades em ultrapassar o desafio do capital inicial e do capital de giro, com a criação de fundos rotativos, de crédito solidário e a centrais de serviços.

4. O reduzido estímulo ao cooperativismo de trabalho visando gerar novos postos de trabalho e renda.

5. A falta de acesso das cooperativas de trabalho às licitações, concessões de servIços públicos, compras públicas como extensão dos beneficios outorgados a outros segmentos como zonas francas, exportadores e banqueiros, entre outros.

6. A legislação trabalhista que regula o assalariado, não se ajusta ao cooperativismo de trabalhadores e não coíbe desvios diante da nova realidade econômica, política, social e cultural.

7. Possui processo burocratizado na etapa de registro e funcionamento dentro de padrões mínimos de exigências, que incluem o número de membros.

No entanto, o cooperativismo no Brasil, tende a desenvolver linhas de ação coordenadas, no sentido de poder proporcionar aferição do balanço social com base no custo beneficio, que permitem fundamentar a função social do cooperativismo.

(35)

administração de fundos sociais que apontem uma economia cooperativa com prevalência do trabalho.

E de igual modo tende a ampliar a ação parlamentar em nível legislativo pelas FRENCOOPs Federal, Estadual e Municipal buscando ajustes que levem ao desenvolvimento de políticas públicas indutoras ao cooperativismo.

2.5.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE COOPERATIVAS

As cooperativas são organizações que ao buscar melhorar a prestação de seus servIços procuram a eficiência e simultaneamente promovem a elevação dos valores morais e sociais.

E para que tal aconteça, as cooperativas apresentam formas de gestão que valorizam o fator humano no desenvolvimento do trabalho, estimulam a participação e a responsabilidade. O desafio, no entanto, reside na necessidade de se considerar a possibilidade do desenvolvimento desequilibrado entre fatores sociais e econômicos.

Mas é necessário ponderar que não obstante as cooperativas criarem espaços de participação e controle democrático, na realidade toma-se um processo, muitas vezes, ineficiente e ineficaz. Porque se constata um despreparo do associado para com a cooperação, que dificilmente assume a cooperativa como sua e esta, como seu próprio reflexo, nada faz para mudar tal situação.

A Assembléia Geral geralmente é instalada na 3a convocação, quando a exigência de presença

é somente de mais de 10 (dez) associados, o que, em muitos casos, reflete uma participação inexpressiva do quadro social no processo decisório.

(36)

CAPÍTULO IH: CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO BRASIL

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Por Política Pública de Ciência e Tecnologia - C&T, se entende um conjunto de diretrizes governamentais direcionadas ao desenvolvimento ou apoio de atividades de pesquisa e inovações, que abordadas de modo holístico integram atores, infra-estrutura de sistema de inovação, propriedades, regulamentos, programas governamentais, incentivos, subsídios correlacionados em função das mudanças temporais, contextuais ou mesmo conjunturais (Maculan, 19953; Terra, 19994).

No Brasil, em 1985 foi criado o Ministério de Ciência e Tecnologia que passou a contar com sistemas estaduais de apoio, descentralizando a política federal de C&T, dispondo de recursos para desenvolver infra-estruturas regionais de pesquisa mais orientadas para as necessidades locais, favorecendo a difusão tecnológica a partir de alianças entre empresas e a cooperação com as universidades e centros de pesquisa (Maculan apud Terra, 1999).

A alocação de recursos para inovação tecnológica, mobilização para educação em ciência, difusão de informação e estruturas de avaliação, constituem em si questões críticas das políticas públicas de ciência e tecnologia que por vezes carecem de ações e decisões concretas (A verch5 apud Terra, 1999).

Na indução da transferência de tecnologia para empresas que constituem a malOna de organizações, em detrimento das cooperativas, predomina uma visão de relações bilaterais no modelo de "Sábato", com um foco de interações universidade-empresa, empresa - governo ou universidade - governo. Poucas referências ocorrem dentro do modelo "Hélice Tríplice" de empresa-universidade-governo, onde as partes assumem diferentes papéis a cada momento, em função da dinâmica das relações (Etzkowitz e Leidesdorff, 1996).

3 MACULAN, A.M.D. A política brasileira de Ciência e Tecnologia de 1970 a 1990. Novos Estudos. Publicação do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, Novembro, nO 43, pp. 175-194, 1995 .

4 TERRA, B.R.C. Escritórios de transferência de tecnologia em universidades. Tese de doutorado em Ciências de Engenharia de Produção, UFRJ, 1999.

(37)

Não obstante as mudanças de governo a cada quatro anos, em que se verificam modificações com relação aos critérios de fomento de C&T, as agências de fomento de pesquisa como CAPES, CNPq e FINEP criadas nos anos 60 e 70 continuam a desenvolver programas visando a capacitação tecnológica das empresas através de diferentes interações.

3.2 PROGRAMAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Através do CNPq, o Governo brasileiro criou em 1982, o Programa de Inovação Tecnológica na busca de preencher a lacuna das relações Universidade /Empresa, incentivando assim, a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica nas principais instituições de pesquisa.

Em 1984, foi dado início ao Programa de Implantação de Parques de Tecnologia, com diretrizes explícitas para privilegiar a demanda tecnológica e otimizar investimentos induzindo o desenvolvimento de vocações regionais.

Em 1990, foi instituído pelo Governo Federal, a PICE - Política Industrial e de Comércio Exterior, que proporcionou a abertura comercial à importação, propondo a execução do PBQP - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade e o P ACTI. - Programa de Apoio a Capacitação Tecnológica da Industria.

A partir de 1991 o CNPq foi estimulado a criar o Programa de Competitividade e Difusão Tecnológica (PCDT) que teve por objetivo investir, organizar, difundir e estimular atividades que levassem ao aumento do estoque de conhecimentos científicos e tecnológicos das universidades, institutos de pesquisa e empresas nacionais.

(38)

A partir de 1996, o PCDT passou a evoluir para a sistematização de financiamentos por editais estabelecendo normas de seleção para obtenção de recursos junto ao subsistema de Apoio a Incubadoras de Empresas.

Para a implantação do subprograma de incubadoras, o PCDT conta com a parcena do Ministério de Ciência e Tecnologia MCT, Ministério da Industria, Comércio e Turismo -MICT, CNPq, FINEP, SEBRAE, ANPROTEC, ANPEI e Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa Tecnológica Industrial- ABIPTI.

o

SEBRAE através da gerência de desenvolvimento tecnológico apóia entidades gestoras de incubadoras de empresas, desde 1991, com recursos para treinamento gerencial, participação em feiras, rodas de negócios, programa de qualidade, missões técnicas entre outros. Em 1997 foi lançado no Rio de Janeiro, o Programa Rio Cooperativa (SEBRAEIRJ, 20006).

No contexto de Ciência e Tecnologia, registra-se a mobilização dos governos estaduais e municipais que têm promovido ações orientadas pela função estratégica num cenário de economia moderna, baseada na competitividade e no desenvolvimento sustentável, que pressupõe a inclusão social e a adoção de tecnologias para preservação dos recursos naturais (Terra, 1998, 1999\

Assim, os Convênios Estaduais 08/91 e 12/95, permitem a isenção do ICMS para importação de equipamentos para pesquisa no Estado do Rio de Janeiro, bem como a Lei Municipal 2590/97 de 1997, dá a redução de 5% para 0,5% do ISS para escritórios de transferência de tecnologia.

3.3 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Define-se por transferência de tecnologia a passagem de conhecimentos para a produção de novos processos ou produtos, independentemente dos agentes envolvidos, podendo ser vertical ou horizontal.

6 SEBRAE. Novos caminhos - Programa Rio Cooperativa. Rio de janeiro, 2000.

(39)

A transferência vertical de tecnologia é o conjunto de conhecimentos, assimilados pela cooperativa, empresa ou indivíduo de forma que os beneficiários sejam capazes de os desenvolver mesmo em caráter adaptativo.

Já a transferência horizontal é a difusão de inovações tecnológicas ou parte delas, produzidas ou apropriadas por um agente e que quando passam a ser utilizadas por outros agentes, tais como cooperativas, empresas ou países que tem o comércio como principal meio onde o proprietário, é protegido por um monopólio legal, através de sistemas de patentes (Barbieri, 1990: 131).

No entanto, a interação de fatores como motivação, recursos financeiros suficientes que assegurem a viabilidade do projeto, recursos humanos adequados que garantam habilidades técnicas, gerenciais e de produção, passam a ser necessários para que a transferência de tecnologia aconteça.

No Brasil, a transferência de tecnologia é considerada de interesse, quando pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país. Efetua-se a capacitação tecnológica de uma empresa nacional através de contratação e para que determinados efeitos econômicos sejam proporcionados, o processo é avaliado e averbado pelo INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial. 8

3.4 DIMENSÃO SOCIAL DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A dimensão de política social da transferência de tecnologia destaca-se por envolver fatores de socialização e dinâmica de relações sociais desenvolvidas em nível individual, cooperativa, empresa ou país baseados em valores humanos, que se desenvolvem de forma interdependente.

8 LEI n° 5.648, de 11112/1970 cria o Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI. O Ato Normativo do

INPI nO 5, de 11108/ 1975 , estabelece conceitos básicos e expede normas para fms de averbação de contratos de

(40)

A dimensão social é refletida no conjunto de medidas ou intervenções que têm por objetivo melhorar a qualidade de vida da população e conquistar crescentes níveis de integração, tanto econômica como social (Moscovici, 19779; Affonso, 1998; Villalobos, 2000)10.

No Brasil, a transferência de tecnologia leva em consideração as transformações que se operam em um contexto cuja tendência se desenvolve no sentido de:

a) flexibilização administrativa, fazendo surgIr novos atores dentre os quais se destacam governos regionais, municipais os quais demandam uma participação mais ativa no planejamento, gestão e avaliação dos programas sociais;

b) envolvimento da sociedade civil, a qual é chamada a participar da gestão de programas, através de diferentes mecanismos e colaboração dos setores público e privado.

De igual modo, as noções beneficiário / usuário / cliente passam por uma nova concepção do sujeito, tido como cidadão, com direitos e obrigações, cuja participação além de instrumento de gestão, passa a ter um caráter de orientação ético-valorativa da transferência de tecnologia.

As novas demandas e desafios se refletem nas instituições ao se flexibilizarem, proporcionando mais complementaridade do que competitividade, na capacidade dos recursos humanos, desconcentrando serviços e descentralizando funções, exercendo funções de coordenação e articulação com congêneres.

A transferência de tecnologia que tem em consideração a heterogeneidade das situações, diferenças no capital social e leva um tratamento diferenciado a grupos beneficiados, que passam a ser percebidos como positivo, negativo ou nulo pelo conjunto de estratégias de intervenção compensatórias, normalizadoras, habilitadoras ou integrativas, que se supõe haverem reduzido o mal coletivo (Orenstein, 1998:104; Villalobo, 2000).

9 MOSCOVICI, Felá. Desenvolvimento interpessoal: leituras e exercícios de treinamento em grupo. Livros

Técnicos e Científicos Editora S. A. Rio de Janeiro, 1977.

10 VILLALOBOS, Verônica Silva. O estados de Bem Estar social na América Latina: necessidade de

redefmição. In : Cadernos Adenauer 1 : Pobreza e política social - São Paulo: Fundação Komad Adenauer, 2000.

(41)

Consiste também em responder emocionalmente a situações individuais ou organizacionais desenvolvendo atitudes facilitadoras ou inibidoras caracterizadas por dependência, fuga, luta ou união.

3.4.1 INTERAÇÃO EDUCAÇÃO / TRABALHO

A educação no sentido amplo é uma função social que está intimamente ligada a cultura e que visa transformação e crescimento material tanto individual como coletivo.

A escola surge como reprodutora da cultura dominante de uma sociedade com seus diferentes níveis, na medida em que para determinadas situações, estabelece um equilíbrio entre valores individuais e capacidade de identificar e lidar com um outro indivíduo, com diferenças que possibilitem a busca de objetivos comuns (Bourdieu e Passeron 11 apud Cattani, 2000).

Valores e crenças compartilhados passam a interferir no processo de aprendizagem que abrange diferentes níveis cognitivos como informações, conhecimentos, compreensão intelectual; abrange níveis emocionais como sentimentos, gostos, preferências; nas atitudes percepções, emoções e predisposição para ações integradas; e, comportamentais como a atuação e a competência (Moscovici 1995:512).

3.4.2 DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Desde a Colônia, o ensino formal no Brasil, além de extensão limitada, desenvolve-se de forma fragmentada ao separar a formação do caráter e a capacitação profissional ou seja, o "saber ser humano" e o "saber fazer profissional". Na escola é feito o aprendizado cuja prática é adiada para algum dia desenvolver em alguma empresa. Por isso há falta da interação entre organizações no meio em que atuam, quando se deveria considerar que o funcionamento de uma é complementada pelas funções de outra.

11 BOURDIEU,P. e PASSERON, J.c. La reproduction. Ed. De Minuit, Paris, 1970. In: CAITANI, AntónÍo

David. Trabalho e Autonomia. Ed. Vozes, 2a Edição, Petrópolis, 2000.

12 MOSCOVICI, Feia. Desenvolvimento interpessoal. Treinamento em grupo.Rio de Janeiro. Ed. José Olympio,

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A falta de inter relação entre "saber ser" e "saber fazer" resulta da visão fragmentada do mundo, do relacionamento entre a mente matéria, o observado observador, a natureza -homem, o sujeito - objeto, visões estas que se reproduzem na sociedade e na cultura com seus diferentes níveis.

A educação integrada identificada em países como Alemanha, Estados Unidos e no Brasil em escolas politécnicas, onde há o desenvolvimento da teoria e da prática em simultâneo, proporciona a criação de competências no processo de educação que têm suas implicações ao proporCIOnar aos alunos visibilidade, exigência de habilidade, tenacidade e proporCIOnar responsabilidade para com terceiros (Drucker, 199513; Pinto, 199614; Ramos,199715;

Cartwright, 1967) 16.

Competências têm implicações que são construídas somente no confronto com reaIS obstáculos, proporcionados pelos projetos ou na resolução de problemas concretos que exigem uma dedicação na tarefa que vai além da presença fisica e mental. Implicam imaginação, engenhosidade e perseverança que impedem o fácil regresso a cautelosa passividade. O aluno se toma menos protegido e é julgado pela sua contribuição para a progressão concreta do trabalho coletivo.

Os sistemas desenvolvidos por escolas politécnicas mobilizam grupos, dos quais se solicitam várias habilidades no âmbito da divisão do trabalho. No entanto, a necessidade de coordenação de tarefas de uns e outros pode proporcionar uma ruptura com o modo de o aluno viver a escola, dando-lhe a possibilidade de, por um lado, se impedir de correr riscos protegendo-se nos demais colegas ou evitar o inter-relacionamento com os colegas ou por outro lado tomar-se independente e enfraquecer a credibilidade do apelo à cooperação.

A visão desintegrada do mundo proporciona ineficiência organizacional, quer aumentando os seus custos, quer reduzindo os seus lucros ou ambos. Isso ocorre porque as pessoas não se

13 DRUKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. Ed Pioneira Administração e Negócios, São Paulo, 1995 . 14 PINTO, Sandra Regina da Rocha. Percepção e prática dos princípios da organização de aprendizagem em um

centro de ensino de administração de empresas. ENANPAD, Angra dos Reis, 1996.

15 RAMOS, Carlos Alberto. Notas sobre políticas de emprego. Textos para discussão n° 471 , IPEA, Abril,

Brasília, 1997.

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consideraram parte de um corpo organizacional e, por isso, não criam um comportamento interpessoal produtivo.

Na perspectiva humana, a visão integrada se coloca na incessante necessidade do desenvolvimento simultâneo da totalidade e unidade, do indivíduo e da pessoa e de um agente consciente e participante.

o

desenvolvimento humano deve considerar que, ao mesmo tempo em que um indivíduo tem o direito a um espaço próprio, deve ter consciência da totalidade a que está vinculado; que sendo igual a todos os outros indivíduos, a sua existência é complementar aos demais; que ao ter escolhas, elas são vistas como direitos fundamentais; que além de existirem emoções e consciência particulares, existe consciência social; que as amizades escolhidas são a base dos relacionamentos; que pode contribuir na elaboração das regras do mundo em que vive; e finalmente, que não deve existir segmentação no sentido de mediação entre si, indivíduo, e a sociedade civil de que faz parte.

No entanto, no Brasil o ensino universitário surgiu como instrumento utilitário para preparar quadros, técnicas, produtos e materiais necessários para o crescimento econômico, mas não · como um meio de educação ampliada e generalizada.

o

modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo Brasil a partir dos anos 30, definido como "capitalismo protegido", além das poucas escolas politécnicas já existentes, criou os SENAC, SENAI, SESC e SESI, com repercussões inibidas por interesses de órgãos patronais no sentido de proteção aos setores produtivos, porém desarticulados das transformações técnicas e sociais do resto do mundo (Cattani, 1990; 2000).

o

"Capitalismo protegido" passou a ser questionado diante de um novo paradigma industrial. Caracterizado pela generalização das tecnologias de informação, pela desestabilização produtiva em termos de descentralização, flexibilização do trabalho, redefinição das tarefas e de qualificações lança novos desafios que atingem diretamente a relação educação-trabalho.

(44)

de precariedade de contratos e das tarefas, onde o trabalho desqualificado e especializações descartáveis continuam sendo realizadas. Por outro, apresenta formas de gestão que valorizam o "capital humano" que qualificam o trabalho, enriquecem as tarefas e estimulam a participação e a responsabilidade, proporcionando acesso a novas tecnologias e humanização do trabalho. O novo desafio reside na transformação dos aspetos negativos presentes e proporcionar novas qualificações.

Para o atual contexto de desenvolvimento econômico, a tendência é que seja acentuada a necessidade de flexibilização das formas de geração e transferência de tecnologia para atender às demandas de diferenciados grupos de consumidores.

Apesar da fronteira entre a pesqUIsa básica e aplicada ser difusa, as transformações decorrentes da globalização impulsionam uma maior competitividade, levando as empresas a recorrerem cada vez mais aos conhecimentos gerados nas universidades. Para que tal aconteça, é necessário que as políticas desenvolvidas pelas universidades não sejam impeditivas e representem modelos flexíveis que permitam formas diferenciadas dentro de um mesmo espaço, onde coexistem diferentes paradigmas de ciência que devem ser preservados.

Dentre os modelos identificados constam estratégias de intervenção com políticas normalizadoras, compensatórias, habilitadoras e integrativas.

Consideradas de linha assistencial, as políticas normalizadoras são realizadas em função dos déficits e carências que afetam o público-alvo, opta pela definição a priori de espaços de atendimento exclusivos como o são as comunidades carentes, visando atender necessidades insatisfeitas.

A política normalizadora abre possibilidades de diversificação da oferta para atendimento simultâneo de vários âmbitos, como a concessão de espaços organizacionais. Tem a particularidade de ter as ações assistencialistas complementadas com outras igualmente paliativas ou componentes de investimento social, onde se enquadram transferência de dinheiro ou espécies em forma não-retornável, oportunidades como bancos de empregos para as pessoas melhorarem por si só, suas condições de vida.

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Na mesma perspectiva, situa-se a política compensatória em que paliativamente encontra soluções para necessidades básicas insatisfeitas e concentra em área determinada ações assistencialistas. As populações beneficiárias de políticas compensatórias são definidas a partir do ponto de vista da carência que através de intervenção busca uniformizar condições mínimas de subsistência dessas pessoas.

Nas circunstâncias em que se transferem capacidades aos beneficiários para eles resolverem por si mesmos seus problemas ou necessidades, e repassam dinheiro e/ou bens em forma não retomável, ações que se concretizam nos programas, serviços e benefícios são denominadas de políticas habilitadoras.

Na mesma perspectiva são os programas que transferem capacidades, oferecem oportunidades aos beneficiários para que melhorem suas condições por si mesmos, transferindo-lhes como complemento dinheiro e/ou bens, em forma não-retomável.

No entanto, na política habilitadora, os indivíduos envolvidos nos objetivos do programa, não são considerados deficitários, mas sim, por menor que seja, são sujeitos possuidores de algo a oferecer. Em outras palavras, releva o capital social disponível identificando como ponto forte a não-intervenção, como coloca Villalobos (2000), mas sim, de interação das capacidades e potencialidades dos beneficiários, oferecendo-lhes oportunidades para resolver e melhorar por si mesmos seus problemas ou necessidades e suas condições de vida. O sentido de intervenção anula a existência de interlocutores, os sujeitos possuidores de algo a oferecer.

A discriminação positiva a exemplo de cooperativas e pequenas e médias empresas, permite identificar os critérios de seleção que se evidenciam no resultado final do investimento definido como habilitação efetiva do grupo e a sua autonomia com respeito ao processo de transferência de conhecimentos.

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FIGURA 2  Processo de  seleção  Entrega do plano  de negócios  apresentação prévia ao  consórcio
TABELA 14  ANALISE COMPACTADA DOS CASOS I E 11

Referências

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