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A relação Estado e trabalhadores urbanos no Brasil

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CADERNOS EBAP

N9 33 MAIO 1985

A RELAÇÃO ESTADO E TRABALHADORES URBANOS NO BRASIL*

Carlos E. Rodríguez López**

Carmem--tucia

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Veloso de Castro*** Maria Elide Bortoletto****

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*Trabalho realizado para a disciplina Estado e Sociedade. do Cur so de Mestrado "~m Administração Pública da Escola Brasileira Qe Administração Pública (EBAP) da Fundação Getúlio Vargas,ministra da pela Profa. Sonia Maria Fleury Teixeira.

-**Pesquisador da Universidade de Desenvolvimento Tecnológico do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Tecnológicas da Costa Rica. (Endereço do autor: Caixa Postal 10.318 San José -Costa Rica).

***Professora da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Ja-neiro. (Endereço da autora: R. Santa Arnélia. 88 B1. B apt9 505 Tijuca - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.600).

****Responsável p~la l~idade de Planejamento e Orçamento da Esco la Nacional de Saud~ l'ubJ.ic~/FIOC~._UZ. __ O~ndereço da .autora: R7 Coelho Cintra. 156/202 -..: -Botárogo - Rio-· de Janéiro - RJ CEP

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FUNDAC;:.O GETULIO VARGAS

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01 - I~JTRaDUCÃO •••••••••••••••••••••••••••••••••• 01 02 PERraDO PP1! - 30 •••••••••••••••••••••••••••••• 01 03 - PERIaDO DE 19.30/1945

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04 - PERrODO DE 1945/1964

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21 05 - PERÍODO PCS-1964 . . . • . . . . 36

(4)

• A RELAÇÃO ESTADO E TRABALHADORES URBN,ms ]\TO BR.AS I L

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1. INTRODUCÃO

Este trabalho visa descrever as relações entre Estado e trabalha-dores urbanos, bem como apresentar a ani1ise de diversos autores quanto às diferentes manifestações que essas relações foram assu-mindo, segundo as transformações no cariter do Estado.

Para efeito de organização, o texto esti subdividido em quatro grandes períodos históricos, de acordo com as características mais marcantes de cada um, o que nao significa que os limites en

tre eles seja~ nitidamente definidos.

Trabalhe mais descritivo do que analítico, nele focalizamos com maior ênfase o papal dos sindicatos nessa relação, por ser este tipo de organização a m~lS representativa nos movimentos dos tra-balhadores urbanos em suas relações com o Estado.

• 2. PERfo~o PRP.-30

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As relações estabelecidas e desenvolvidas entre o Estado e os trabalhadores urbanos remontam ao período do Império. Adotamos aqui uma classificação feita por ROdrigues1, segundo a qual o período que terminou em 1930 pode, por sua vez, dividir-se em três sub-períodos: ~) mutua1ista (ató 1888); b) de resistência

(1888-1919); e c) de ajustamento (1919-1934).

2.1. Subperíado mutua1ista

Caracterizou-se pela coexistência do trabalho escravo e do traba lho livre. Ainda não correspondendo a um período rigorosamente

(1) Rodrigues, José Albertina. Sindicato e Desenvolvimento no Bra

(5)

2

sindical, continha seus elementos embrionários e preparou sua ge~

tação. O trabalho livre estava representado por algumas categori-as urbancategori-as que, diante do desamparo numa sociedade de bcategori-ases ru-rais, se organizavam para lutar pelos interesses Jilútuos. Foram os operários da construção de navios e os da impressão de livros e jornais os pioneiros no campo.

O Estado oligárquico baseava-se numa modalidade política orienta-da pelo autoritarismo inerente à dominação paternalista. O gover-no reproduzia a imagem dos fazendeiros, numa época caracterizada pelas relaç~es de produção que exigiam um alto nível de explora-ção da mão-de-obra.

Na segunda metade do século XIX é possível constatar a existência de diversas a5sociaç~es mutualistas no Pio de Janeiro. A abolição da escr~vatura, em 1888, assinalou a finalização deste período.

2.2. Subperíod0 de resistência

o

termo r8sistência foi utilizado para caracterizar este período devido a um grande nfimero de organizaç~es tê-lo empregado em suas denominações: União de Resistência, Associação de Resistência, Li ga de Resistência e Sindicato de Resistência. Foi característica deste período grande efervescência e agitação social - tentativa de resistência ao capitalismo emergente no Brasil. O período, in f1uenciad0 pelos imi~rantes espanhóis, italianos e portugueses, foi "caracteristicamente sindical·,2 e de emerp:ência de correntes

"

políticas novas.

Em fins do sécu10 XIX e princlplos do XX, a força de trabalho no Rio de Janeiro, são Paulo e S:mtos era, na sua maioria, composta pelos imigrantes. Dos 3-.390.000 estrangeil'os que entraram no Bra sil entre 1871 e 1920, "os italianos constituíam mais de

1.373.000, os portugueses 901.000 e os espanhóis 500.000".3 No

(2) Ibidem.

(3) Maram, Sheldon Leslie. Anarquistas, Imigrantes e o Movimento

~erário Brasileiro, 1980 -

1920.

Rl0 de Janelro, Paz e Terra.

79, p. 13.

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Rio de Janeiro e são Paulo, o inigr~nte substituiu sobretudo o trabalhador brasileiro nativo em qu~se todas as ocupaçoes.

Com o Decreto n9 165, de 17 de janeiro de 1890, f'li implantada a

política que visava realizar o projeto industrializante, a par-tir do protecionismo estatal. Esse projeto modernizante do Esta-do pressupllnhn. ~ constituição de um monopólio financeiro, cujas bases seriam estabelecidas pelo próprio Estado através de dispo-sições legais em duas vertentes: recursos da emissão com base em títulos da dívida pública e da concessão de favores excepcio-nais. "N'3. ausência do empresário schumpeteriano, o Estado, numa primeira inst5ncia, forçava a existência de um capital financei-ro não especulativ~, que por origem e natureza se deveria vincu-lar numa posiçno de liderança ao capital industrial".4

A partjr de 1891 iniciou-se a fase liberal. O liberalismo da no va C:lrta consistiu num mr:de10 adequ!ldo, da forTTIé\. m~is compatível,

i ordem oliR~rquica. O liberalismo olig~rquico, segundo sua car-ta de princrpi~s, ao fechar os caminhos que conduziam ~ regula-mentação do ~8rcado de trabalho, abriu o campo para a sociedade civil or~aniznr e cobrar uwa nova legalidade.

Em uma época de grande violência policial, as manifestações dos trabalhadores foram canalizadas de duas formas: a formação dos sindicatos e a constituição de novos partidos políticos.

o

destaque no período coube aos anarquistas, grupo mais ativo que conduziu o movimento operário com obstinação e bravura. Visa vam até soluç~es de longo alcance que implicariam em uma verdadei ra revoluç~o sncial.

Ao abolir a escravatura, em 1888, o Brasil nao apresentava uma tradição forte de organização do trabalho. Algumas formas herdadas das antigas corporações de ofício foram dissolvidas com a consti tUlçao im?erial e "não se seguiu nenhum outro tipo de organiza-ção do tT:lbalho que fosse de grande vUlto".5

(4) Vianna, Luis Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio Rio de Janeiro, Paz e Terra,

1978,

p.

43.

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4

l~a nova fase da organização do trabalho iniciou-se com a Repúbl! ca. Essa organização tinha objetivos não somente profissionais, mas também pOlíticos. As novas instituições de trabalho sentiam a necessidade de adentrar também no campo da política, com fins de conquistas relevantes e até de sobrevivência.

As primeiras organizações de tipo sindical, embora sem a designa-ção de sindicatos, surgiram num período de mudança social relati-vamente acelerada. As motivações foram basicamente as condições de trabalho: instalações fabris ruins, o trabalho dos menores e das mulheres. Lma das características do movimento operário das primeiras fases é a descontinuidade, que tem duas explicações: a) a irregularidade do processo de crescimento industrial, assinala-do pelas constantes crises; b) a repressão policial, influenciada pelas notícias que chegavam da Europa, temerosa da organização do proletariado.

A predominância que sobre os sindicatos exerciam os imigrantes e~

trangeiros motivou, eM grande parte, a resistência oposta pelas classes dominantes, que não podiam aceitar o caráter dinamizador imprimido ã sociedade do Brasil republicano.

A c0ncepçao do sindicato perante a sociedade global era a de um organismo ameaçador. Não obstante, o significado que o sindicato assumia p~ra a classe operária era bem diferente: era a única for ma de participação significativa na vida social.

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fato que nao pode ser desconsiderado é que o proletariado bra-sileiro, nos primórdios do século, não alcançava cifras demográf! cas altas. Em 1907, 3258 estabe1eci~entos industriais no Brasil tinhan 150.841 operários.6 Em 1920, os estabelecimentos industriais haviam aumentado para 13.336 e empregavam 313.200 pessoas 7. Ap~

sar disso, tanto o Rio de Janeiro como são Paulo, cidades que a brigavam a maioria do operariado industrial, não haviam alcançado ainda o status de cidades industriais.

~)- Ibidem (7)- Ibidem

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funcionamento dos sindicatos, nessas condições, estava caracte-rizado pelas relações informais predominantes entre seus membros. No entanto, o movimento sindical se apresentava de maneira mais forte em relação a algumas categorias profissionais: os marítimos, os ferroviários e os trabalhadores das empresas de transportes u! banos, que sempre foram os mais ativos e batalhadores pelos seus direitos. Dentre as categorias operárias vropriamente ditas, des-tacam-se os gráficos, que exerceram sempre posição de liderança,~

pesar de nio constituírem uma categoria muito numerosa .

No segundo e terceiro períodos já mencionados, o movimento sindi cal mostrava mais uma característica: assentava-se no princípio da arregimentação por ofício e nao por setor industrial. ~ sem dúvida, o reflexo do caráter artesanal da indústria, com grande número de oficinas e pequeno número de fábricas do tipo moderno • A greve foi um recurso muito usado pelos sindicatos durante a Pr! meira República. Era uma das formas mais expressivas de responder

à repressão policial. Confrontada com a representatividade do mo-vimento, a freqtlência das p'reves pode ser considerada grande.

o

primeiro movimento coletivo de vulto e de maior repercussão na época foi a greve dos ferroviários da Companhia Pémlista, em 1906 . Também em são Paulo a greve geral de 1907 foi um exemplo de movi- ( mento organizado que, no entanto, terminou com muita perseguição patronal, violência policial e com promessas de atender às reivin dicações .

o

movimento grevista de 1917 paralisou quase totalmente as ativi-dades urbanas em são Paulo. Segundo Rodrigues, finalizada a greve a repressão sindical por parte da polícia teve características de muita violência e "nenhuma das promessas se concretizou".8

o

ciclo das greves culmina com as greves gerais de são Paulo e Rio de Janeiro (1917 e 1918), originadas precipuamente por

ques-(8) Ibidem. p. 44 .

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6

t5es salariais, logo combinadas com o direito ftmdamental de tra balho (jornada de trabalho, seguro contra acidentes, aposentado-ria, regulamentação de trabalho do menor, da mulher, férias, ho ras extras, etc.). A luta econômica, existente desde o princípio do século consolidou o movimento operário. Forjada a organiza-ção, vieram as demandas sociais e políticas, numa fase posterio~

~essa fase a pressao operária não deixou de crescer. Mas, no in

terior da sua praxis ji se insinuava 2 reivindicaç~o de um Esta

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-do intervencionista sobre o merca-do de trabalho. Veja-se a se-guinte coloc3.ç~o: "De maneirõt tent8.tiva e inconsciente, a partir de 190ó, a novimentaç~o operária, conservando o jargão, a inspi-ração e a estrat€gia anarquista, perceberá no Estado um interlo-cutor vulner~vel ~ sua aç~o, reivindicando dele leis protetoras

9

e regulament::Joras do trab1.1ho".

Na historia brasileira drrs mobilizações coletivas há dois episó-dios que mostram, nas semelhanças e nas diversidades, as orient! çoes no campo sindical, no quadro da conjuntura 1917-1920. Trata se das greves de julho de 1917 em são Paulo e do m0vimento de no vembro de 1918, no Rio de Janeiro.

2.2.1. A greve de S~o Paulo

Ganhou a cate~oria de um ato simbólico. Lonqe de ser um episódio iS01ado, assinalou uma fase de ascensão do movimento operário.

As reivindicaç~es d0S trabalhadores do ra~o têxtil, em são Paulo,

surgiram nos primeiros meses de 1917. ~h empresa C0tonifício Cre~

pi, uma res~luçi0 aumentando o serviço noturno não foi bem recebi da. Os operários responderam C0m demandas econômicas. Uma seçao da fábrica, abrangendo 400 operários, entrou em greve. As reivin-dicações aumentaram. A greve foi também declarada em outra empre-sa têxtil, a Estamparia Ipiranga, onde todas as reivindicações fo ram aceitas depois de dez dias.

(9) Vianna, Luis Werneck. Op. cit, p. 53.

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Em julho de 1917, quase um nês depois de iniciada a greve da Cres pi, a fábrica de bebidas Ant:lrtica somou-se

à

greve. Os choques entre a Força Pública e a massa popular começaram a se produzir, com feridos de ambos os lados e a m0rte de um anarquista - Anto-nio Martinez.

Sua morte marca a passagem de uma grande greve para uma paraliza-ção total da cidade. Em 15 de julho, o número de previstas chega a aproximadamente 45.000 pessoas, ponto mais alto do movimento. Os entendimentos para por fim à greve n~o apareciam, embora a12u-mas grandes e~presas se declarassem dispostas a conceder 20% de aumento. No in teri::H, formou-se o Comi tê de Defesa Proletária, in

te~rado por líderes sindic3is e de associaç~es populares.

A greve terMinou em fins de julho, com uma amnla vitória dos ope-rários, e foi muito inf1ue~ciqd~ por fatores como; privação mate-rial intericrizada como insuportável, situação do movimento oper~

rio, corporificaç~o dos alvos da revolta e, possivelmente, a es-trutura s5cio-demcg~~fica da classe. O caráter espontineo da gre-ve de 1917, a aus€ncia de um plano, de coordenaçio central e de objetivos pré-definidos, é p1.tente. Mas tampoucn pode-se acredi-tar que a greve fosse um:1 "cxplos:lo repentina".

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indícios de tensão acumulada nos meses que a antecederam, acompanhados de

es-f orços organiza criaS, . t - · :1pes~r d e to as os seus d 1 · · Imites. 10

Passada a greve, o Roverno investiou com força contra os sindica-tos e as lideranças operárias. O jornal A plebe foi invadido e seu diretor preso, acusado de ser ~ ment~r intelectual da ocupa-çao do Hoinho Santista.

Os empresnrios estavam igualmente desorganizados. O Centro de Co-mércio e Indústria, órgão que representava os interesses de ambos os grupos, esteve ausente das negociações estabelecidas no curso

da greve. Os industriais negociaram em nome própri0 e cada um

(11)

8

les firmou ou resistiu a firn~r o acord0 com os srevistas.

o

governo do Estado tamb6rn foi surpreendido ,ela força e agressi-viciade do movimento. Certo de que as massas populares nio eram c~ pazes de chegar espontanea~ente a tal grau de mobilizaçio, chegou

a atribuir a violência

ã

vinda de agitadores anarquistas do estran p;eiro.

2.2.2. O TP.ovimento "insurrecional" de novembro de 1918

A greve de nnvenbro de 1918, no Rio de Janeiro, que se destacou pelo reduzido grau de espontaneidade, foi preparada pelos anar-quist'ls, que assumiram a direção do sindicato têxtil. A greve

serviri~ de base a uma insuTreiç~0 revolucioniria, ~n~binada com

a revol~~ dos escalões infeYi~res das Forças ftrmadas.

Tal insurreiç~o naa che~0u a ocorrer, ji que os principais cons

piradores foraT'l. presos. Não obstante, os têxtéis iniciaram a gre-ve, com escassa nobilizaç5o de aperirios, na mesma tarde de 18

de novembro. A ~reve tinha basicamente um cariter econ6mico defen sivo. Lu~avam pelo pagamento de 50% dos sal~rios aos operãrios que foram forçadas a faltar ao serviço por causa da gripe, pelo

per-d~o de UM rnfs de aluguel das casas que riuitas empresas forneciam

aos oper~rios, e tamb~m pelo aumento das horas de trabalho que

haviam sidG diminuídas bruscamente, com o início da recessio. Nio atendidas as reivindicaç~es, a greve atingiu mais de 20.000 trabalhodnres.

O governe) resnondeu CO'11 '1 dissoluçno da União Geral dos

Trabalha-dores, com centenas de presões e com o fechamento das sedes da Uni

ão dos Metalúr9;icos e da Construçio Civil.

Em 29 de novembro o sindicato conseguiu a finalizaç~o da greve, sem exiçência alguma, "diante das violências, da fome, da imp()ss~

bOlod - d ° 11

1 1 ade e reunIr-se".

(11) Ihidem. p. 216.

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2.3. Subperiodo de ajustamento

Esta fase, que se iniciou em 1919, na verdade foi de transição. A assinatura, pelo Governo Brasileiro, do Tratado de Versalhes, com diretrizes que visavam atenuar os atritos políticos-sociais, refletiu intensamente nas relações entre o Estado e os trabalha dores urbanos.

segundo Vianna, depois de 1920, em curto período, produziu-se deslocamento do ultraliberalismo ao corporativismo. A redefin! çao do liberalismo da Carta de 91 provocou "uma dissidência en tre o Estado, facções oligárquicas e burguesia industrial, no que concerne

ã

urdidura do plano d3. ordem".12

Vianna acredita que a facção burguesa industrial aspirou

ã

domi nação atTav~s de uma visão p3.rticular do mundo. Mantida longe do aparato estatal pelas oligarquias agrárias, sua estratégia repousa em fincar seu poder, com o propósito de estendê-lo de pois à sociedade civil. Apenas demandava do Estado oligárquico a proteção alfandegária e a manutenção da ortodoxia liberal de 91, isto é, liberdade de mercado para o fator trabalho.

A neutralidade dos empres~os face à política strictu senso é

difícil de ser entendida.

~5sa

neutralidade é interpretada tra-dicionalmente como submissão

ã

oligarquia agrária, que deu ori-gem

ã

facção industrial.

Na verdade, nada obrigava a um confronto direto com o Estado oli gárquico. Permanecendo liberal o Estado e Livre o mercado, a for ça da atividade fabril e a disseminação da concepção do mundo n~

la inscrita eram cQndiç~es suficientes para o trinsito político

ã

dominação da burguesia industrial.

Com a emergência da burguesia industrial, a concepçao da ordem do Estado não se modificou. Isto não significa que não houvesse contradição entre os setores industrial e agrário. Contudo, tal contradição não se manifestava de forma antagônica. A facção

in-dustrial evitou o rompimento com a poderosa classe operária,con~

(13)

10

ciente dos riscos que isso acarretava", ... a ordem oligirquica pré-30 se apresenta no fundamental como uma ordem burguesa, sob a égide de um Estado liberal".l3

Quase todo o período tem sinais da disputa entre anarquistas e comunistas pelo domínio sindical. "A preocupação marcante dos diversos agrupamentos político-sindicais no decorrer desse

pe-.. d d " "d" 1 .. 1 " " 14 M .-r10 o o mov1mento S1n 1ca em carater exc US1VO. .as sera uma luta em vão já que nenhum dos agrupamentos tinha força sufi ciente para submeter os outros.

o

fato mais notável no período foi cunho acentuadamente poli tico que adquiriu o movimento sindical. buscando inclusive a-tuar no parlamento. Contrasta essa política com o período an-terior, em que o novimento operirio era. se não apolítico, pelo menos ~ntipolítico. Nesta f2se, então, o sindicalismo perdeu o caráter revolucionário mostrado anteriormente. tornando-se mais reformista, característica esta que deu o caráter de ajustamento que serviu para denominar o subperíodo. Os líderes operários permaneceram i margem das correntes revolucionárias. A posição

concili~t6ria do movimento sindical foi aceita de bom grado p~

las fraç~es dominantes do poder pfiblico, ainda assustadas pela

virulência da fase anterior.

Em 1930, com o movimentade outubro, as antigas classes rurais e as emergentes classes urbanas alcançaram um entendimento polítl co, que excluía as classes populares. O proletariado que cres-ceu fortemente no período, não conseguiu transformar-se em for-ça política.

Vianna afirma que, nesse período, pred0minou uma combinação de liberalismo com autoritarismo, combinação não aceita por ou-tros autores. Uma conotação autoritária, que vem a invalidar o ethos liberal do empresário, estaria na sua resistência à impla~

tação de leis trabalhistas. ,Essa resistência é clara na oposi-ção à lei de férias, onde se expressam critérios como este: "os

(13) Fausto, Boris, Op. cit., p. 73.

(14) Rodrigues, José Albertino. Op. cit., p. 15.

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lazeres, os ócios, representam um perigo iminente para o homem habituado ao trabalho, e nos lazeres ele encontra seduções ex tremamente perigosas, se não tiver suficiente elevação moral pa ra dominar os instintos subalternos que dormem em todo ser huma

" 15 no •

A mesma atitude de oposição estava presente nas questões trabalho do menor e das caixas de seguros contra doenças.

2.4. A legislação trabalhista

do

A moderna legislação de trabalho foi objeto de preocupaçao do movimento operário brasileiro nas primeiras fases do seu desen-volvimento. Em torno dos pontos fundamentais dessa legislação fazia-se a mobilização operária, e constituíram-se em motivos de lutas que custaram a vida de muitos militantes.

o

Brasil, como assinante do Tratado de Versalhes, assumiu o com promisso de adotar novos rumos no tratamento dos problemas tra-balhistas. O direito do trabalho, até então, tinha sido obstacu lizado por algumas razões, entre elas: a) ausência de clareza na Declaração de Direitos da Constituição de 1891. A associação

tornava-se lícita, mas ficava ressaltada a possibilidade de in tervenção policial; b) o "privatismo" da cultura jurídica bras! leira, explicada como a tendência dos legistas "para enxergar os fenômenos do direito apenas pelo ângulo do direito privado individualista,,;16 c) o conceito de "liberdade de trabalho",que persistia na época e incluía a inviolabilidade do contrato indi vidual de trabalho •

As primeiras leis sindicais, simultâneas com os esforços ini-ciais de legislação trabalhista, datam do início do século. ~

interessante observar que, de forma diferente às práticas outros países, começou-se a legislar pelo trabalho rural.

(15) Vianna, Luis Werneck. Op. cit., p. 79.

(16) Rodrigues, José Albertina. Op. cit., p. 47.

de

(15)

12

Decreto Legislativo de 1903 não teve qualquer repercussão prát! ca, mas nele estava a semente do sindicato misto corporativista, que prevaleceria posteriormente.

Só em 1907 uma nova lei facultou a criação dos sindicatos, li vremente e sem precisar de autorização do governo. A lei, base~

da em grgnde parte nos princípios sindicalistas vigentes na Fr"ança e na Bélgica, inspirava-se em princípios democráticos. Não se descobre nela as restrições que as leis modernas impuse-ram ao sindicato brasileiro.

Durante aproximadamente uma década, que correspondeu a um perí~

do de poucos conflitos trabalhistas (1907-1917), não foram tra-mitadas no Congresso Brasileiro novas iniciativas no campo da

legislaç~o de trabalho.

Em 1917 foram apresentadcs, por Maurício de Lacerda, dois proj~

tos de grand8 impcrtância: a) a elaboração de um Código do Tra-balhe ; b) a criação do Departamento Nacional do Trabalho. O primeiro deles encontrou t0da classe de obstáculos e finalmente foi arquivado. O outro resultou num Decreto Legislativo, crian-do o Dep~rtamento, mas a autorização do Congresso jamais se co~

cretizou. A força àas reivindicações operárias era escondida p~

la força de inércia do arcaica gparelho estatal, tornando inop~"

rantes as medidas legislativas de alcance social.

Na década de 20 algumas iniciativas foram tomadas pelo Poder Executivo. Assim, foi criado o Conselho Nacional do Trabalho,em

1923, com representação dos operários. No mesmo ano foi criada a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Empregados das Empresas de Estradas de Ferro existentes no país. Finalmente, em 1925,fQ

ram concedidos 15 dias de férias anuais aos empregados e operá-rios dos estabelecimentos comerciais, industriais e bancáoperá-rios. Graças ã existência de órgãos públicos mais ou menos adequados, esses institutos legais tiveram alguma aplicabilidade.

A atividade legislativa no campo do Direito do Trabalho adqui-riu um significado relevante com a Revolução de 1930. A partir desse ano, com leis, decretos-lei, decretos e portarias, foram atingidas praticamente todas as questões do trabalha e do

segu-•

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ro social. Os reflexos dessa legislaçãa nao foram imediatos no movimento sindical, em razao das próprias incertezas quanto à o rientação a adotar e das influências extralegais decorrentes dos acontecimentos político-sociais da década de trinta •

2.5. Algumas considerações

O fato de que o movimento operário nao alcançara uma maior re1e vância, num período de intranqUi1idade política e descontenta-mento popular, poderia ficar explicado pela observação de Anto nio Piccarolo 17 segundo o qual os sindicatos foram de natureza e caráter anacrônicos, inspirados nos moldes dos países economi camente mais adiantados •

Qual foi a razao pela qual os trabalhadores brasileiros tiveram uma participação tão inexpressiva no movimento operário deste período? A tendência a explicar o fato, apontando como causas a origem agrária dos operários e a sua falta de consciência de classe, é bastante simplista. Também os imigrantes eram campon~

ses em seus países de origem, e considerados até resistentes ao sindicalismo.

Outras razoes podem ser consideradas, das quais as mais represen tativas foram: a) o operário brasileiro foi marginalizado às profissões suôalternas e não qualificadas. No entanto, os imi-grantes ocupavam os cargos qualificados e semiqualificados, car gos de muito mais peso para a continuidade do sindicalismo; b) o operário brasileiro não possuía uma tradição de classe na qual basear-se. Por outro lado, nas comunidades de emigrantes e xistiam homens que haviam participado de lutas operárias nos seus países antes de emigrar. Esses homens foram os organizado-res do movimento sindical na última década do século passado e começo do atual.

A relativa delibilidade do movimento operário, por sua vez, tem muitas causas possíveis: a) os conflitos entre

(17)

14

leir0s e imigrantes e entre os diferentes grupos étnicos, so-bretudo italianos e portugueses; b) as metas dos imigrantes e sua atitude com relação ao Brasil. A estabilidade da força de trab~

lho, requisito para o fortalecimento do sindicalismo, não podia ser conseguido, tendo em vista que os imi~rantes viam o Brasil como um lar temporário, onde tentariam melhorar sua situação e conômica, para retornar à terra natal; c) indiferença do imigra~

te pelo movimento operário. Ele estava preocupado só consigo mesmo. sua participação em qualquer movimento poderia

causar-lhe a perda de emprego e a sua prisão, conseqUências que se ch~

cavam com as suas aspirações econômicas; d) a repressão imposta pelo governo mantinha os imigrantes afastados, diante do perigo da deportação para o país de origem; e) o poder dos empregado-res, que disT'tmham de abundante mão -de-obra, sobretudo nos empr~

gos menos qUQlificados. Isso lhes permitia substituir, quando quisess28, empregados suspeitos de militãncia sindical; f) tama nho reduzido da classe trabalhadora industrial.

3. PERrODO DE 1930/1945

A partir da Revolução de 1930, que, segundo Celso Furtado, cita d o por erneCK W ,18 , d eveu-se a açao as cama as me 1as ur anas, .. - d d -d' b -dos tenentes e -dos grupos industriais contra os grupos cafeeiros e as finanças internacionais, instarou-se um sistema político cujo grupo detentor do poder era de composição heterogênea. A nova configuração não propiciava a qualquer dos subgrupos exer-cer a predominância no cenário político. A estabilidade do regi me p~ssou a depender, por isso, de uma autonomização política do

Estado diante dos muitos interesses, todos dotados de legitimi-dade para postular junto ao Estado.

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Essa autonomização se deu no plano político através da ideolo-gia do corporativismo, que dotava o Estado do papel de gerente dos conflitos de classe, principalmente visando a controlar a mobilização das classes subalternas.

(18) Vianna, Luis Werneck. Op. cito

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A nova ordem ensejou a ação de diversos fatores econômicos, po 1íticos e sociais que implicaram também na mudança de composição das camadas populares da sociedade brasileira, bem como de suas relações com o Estado e com os demais componentes da sociedade civil .

No plano econômico, o modelo de desenvolvimento adotado intensi-ficou o processo de industrialização, que acelerou o crescimen to da população urbana e ocasionou o aparecimento de novas for-ças sociais na vida nacional. A classe empresarial assumiu gran-de importância, mas ao lado gran-dela surgiu uma ampla camada urbana composta do proletariado industrial, bem como de outros grupos com características heterogêneas que abrangiam trabalhadores braçais não participantes do setor industrial, empregados sulba-ternos dos serviços p6blicos e outros q~e passaram ~ constituir a grande legião dos trabalhadores urbanos.

No plano político, o Estado corporativo realizou a organização, a legitimação e o controle dos mnvimentos oriundos dos trabalha dores urbanos. Para garantir o êxito do modelo econômico era ne cessário contar com o apoio popular, manter o mercado interno , já constituído, e fazer com que as pressoes patronais sobre os salários fossem amenizadas.

3.1. O Estado e os trabalhadores urbanos

As relações entre Estado e trabalhadores urbanos, no período de

1930 a 1945, caracterizaram-se, da parte dos trabalhadores, por comportamentos de não contestação da ordem industrial capitali~

ta, pois passaram a desfrutar de melhores condições de vida e de trabalho do que aquelas que tinham no campo.

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D1z Leonc10 Mart1ns o r1gues que a tava um re aC1onamento mais profundo com a condição operária e que essa condição era

(19)

16

encarada como uma situação passageira, para o alcance de determ! nados fins e não como situação de vida. Seria, segundo ele, essa rejeição que dificultava a integração do operariado como "classe", com objetivos políticos e sócio-profissionais definidos.

As reivindicações salariais seriam as motivações principais dos setores operários que se formaram a partir de 1930 e também o único ponto de conflito capaz de mobilizar os trabalhadores.

o

Estado, até então somente repressor, passou a relacionar-se com os trabalhadores urbanos de modo paternal: autorit5rio e pr~ tetor. Ao mesmo tempo que controlava as suas ações, concedia-lhes benefícios de ordem assistencial.

A interferência do Estado nos movimentos dos trabalhadores urba-nos alcerou não s6 a organiz3ção desses movimentos como tamb~m

a própria composição de seus participantes, uma vez que levou

à

redução do número de operários estrangeiros nas indústrias bra-sileiras. No período de 1931/1935 a percentagem de operários br~

sileir'Js superou a de estrangeiros, e a partir daí passaram a r~

present~r sempre mais de 2/3 do total de trabalhadores industri-árias. Assim, os trabalhadores europeus mais qualificados e pos-suidores de experiência nas lutas de classe tornaram-se minoria em relação i massa operária n~cional, que era de baixa qua1ific! ção profissional. Essa mudança na composição do proletariado foi mais um fator que contribuiu para a fraqueza já referida, que passou a caracterizar a classe trabalhadora a partir de então.

o

sindicalismo que antecedeu ~ década de 30, como foi visto, fo-ra conduzido por elementos ~i1itantes, substituídos com faci1ida de, a partir dessa data, pela estrutura erigida por um Estado que combinou a repressão dos conflitos patrão/empregado com a concessão de benefícios assistenciais às grandes massas.

3.2. Os canais legais de controle dos trabalhadores urbanos pelo Estado corporativo

A dispersão, a heterogeneidade, a semimargina1idade dos trabalha dores urbanos, em relação ao sistema industrial e a falta de

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17

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de classe nao poderiam favorecer a

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de mo- \ vimentos políticos organizados por parte desses trabalhadores.Po rém, era exercida por essas massas uma pressão latente e difusa que se manifestava através de explosões súbitas corno, por exem-plo, depredações esporádicas de bens públicos, o que demonstrava que suas aspirações não convergiam para objetivos políticos bem definidos .

... Mesmo assim, a presença das massas criava um clima de ameaça a nova ordem social, pois o seu não engajamento político represen-tava, segundo Leôncio Martins Rodrigues,20 a "presença do impon-derável" •

Foi a necessidade de controlar as reivindicações dessas massas que levou i intervenção do Estado nos movimentos subseqUentes,v! sando seu controle dentro dos limites do não comprometimento do sistema vigente.

A preparaçao de canais legais para o controle do Estado sobre as classes trabalhadoras começa a se dar com a criação do Ministé-rio do Trabalho, Indústria e Comércio, um m~s após a posse de Vargas. Um mesmo organismo trataria de assuntos patronais e dos empregados, simbolizando a política de "paz social" tão apregoa-da. Uma vez que tratava também de interesses patronais, estava justificado o fato de a pasta desse Ministério muitas vezes ter sido entregue a representantes dos empregadores.

H 1 · e Olsa artlns, M . 21 Cl . tan o 'argas, ilustra de modo muito d \' claro

a intenção, por parte do Estado, de atuar como "conciliador" de -. interesses até então considerados inconciliáveis: "A organização ... do trabalho, no sentido que se lhe deve dar num momento conturba ., do e de profundas transformações sociais e econômicas corno o a-• tual, não pode realizar-se, com proveito para as classes patro-" nais e benefícios para os operários, senão mediante inteligente,

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(20) Ibidem.

(21)

18

ponderada e sistemática coordenação para conciliar e garantir a seus mútuos interesses".

Com relação aos sindicatos, o Estado, que até então atuara somen te de forma repressiva, passa a integrá-los à administração pú-blica como órgãos de colaboração, e através de diversos decretos regulamenta toda a atividade sindical.

"Entramos na fase construtora do movimento sindicalista", dizia Vargas. Afirmava, ainda:

"No Brasil, onde as classes trabalhadoras nao possuem a poderosa estrutura associativa nem a combatividade do proletariado dos países indu~~~riais e onde as desinteligências entre o capital e

o trab31~o n:o apresentam, ~elizmente, aspccto de beligerência,a

falta, a~~ bem pouco, de org~~izaç6es c m~todos sindicalistas,d! terminou a falsa impressão de serem os sindicatos órgãos de lut~

quando realmente, o são de defesa e colaboração dos fatores de

. 1 b Ih d -bl' lO 22

caplta e tra a .0 com a po er pu lCO '.

Entre 19~O e 1935 v~rios decretos regulamentaram as atividades dos sindicatos, estabelecendo inclusive a obrigatoriedade de re gistro no t-.-tinistério do Trabalho, abolindo suas funç6es políti-cas para reduzir sua atuação ao plano assistencial e administra-tivo.

Durante algum tempo, muitos sindicatos ignoraram esses decretos e insistiram em atuar politicamente, não se registrando no Minis tério do Trabalho.

o

fracasso da Intentona Comunista de 1935 marcou o início do en quadramento definitivo dos sindicatos que passaram a registrar-se, cam receio de serem fechados.

Além das disposiç0cs referentes ao controle dos sindicatos, es ses decretos continham medidas de grande alcance social para os trabalhadores, o que na época causou repercussões positivas na classe.

(22) Ibidem p. 48.

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Algumas dessas medidas já eram oriundas do período anterior 1930, contudo, não eram cumpridas:

- reforma da lei de aposentadorias e pensoes;

a

- limitação do número de operários estrangeiros nas industrias; - concessao de férias;

- regulamentação do trabalho da mulher e do menor; - regulamentação da jornada de trabalho;

- aprovação dos estatutos sindicais pelo Ministério do Trabalho; - apresentação de relatório anual dos acontecimentos, estado

fi-nanceiro e modificações ocorridas nos sindicatos, ao Ministé-rio do Trabalho;

- controle dos sindicatos por delegados do Ministério do Traba-lho, ~as assembléias, e exame trimestral da situação financei-ra (guaisquer irregularidades deveriam ser comunicadas ao Mi-nisterio do Trabalho).Z3

3.3. O Estado Novo

~ com a instauração do Estado Novo, em 1937, que os sindicatos brasileiros adquiriram suas principais características de depen-dência do Estado. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), co~

cebida nesse período, foi fortemente influenciada pela Carta deI Lavara italiana que, em seus parágrafos VI e VII, definia o Esta do Corporativo e as corporaçoes do seguinte modo:

'~s corporações constituem a organização unitária da força de produção e representam integralmente os interesses da mesma". O Estado Corporativo considera a iniciativa privada no campo da produção "como instrumento mais eficaz e mais útil para os

inte-- d . . d - ,,24

resses da naçao. Este Esta o 1ntegra em Sl to as as corporaçoes .

Justificando o golpe e o estado ditatorial instaurado em 37, a firmando procurar garantir a paz social ameaçada pelos comunis-tas, Vargas, dirigindo-se aos trabalhadores pauliscomunis-tas, expressou (23) Ibidem.

(24) Vieira, Evaldo. Autoritarismo e Corporativismo no Brasil.São Paulo, Cortez Ed1tora,

1981.

p.

20.

(23)

20

de modo muito claro a intenção estatal de se sobrepor aos conf1i tos sociais, controlando, de modo ainda mais decisivo, as reivin dicações que comprometessem os interesses do Estado.

Durante o Estado Novo os sindicatos passaram a exercer {unções essencialmente assistenciais e administrativas. Sua principal ar ma pOlítica, o direito

ã

greve, foi lhe retirada.

A ação política não desapareceu, mas passou a restringir-se as ações trabalhistas contra o patronato, não mais através do con fronto direto entre patrão e empregado, mas tendo como interme-diária a Justiça do Trabalho que, no âmbito do Estado, era a instituição criada para evitar esse confronto.

Entre outras medidas destacaram-se as disposições referentes: - ao salário mínimo;

- ao direito ã indenização;

- ã rep,ulamentação da Contribuição Sindical, referente ao desco~

to anual de um dia de trabalho e controle rígido da utilização desse dinheiro, que só poderia ser aplicado em serviços de ca-ráter assistencial.

Com essas medidas foram negadas aos sindicatos quaisquer caracte rísticas de órgão de luta de classes.

Segundo Heloisa Helena Martins,25 a análise dos principais de eretos que organizaram o trabalho no Brasil evidencia a progres-siva perda de liberdade e autonomia do sindicato. A própria burQ cratização e a racionalização que se estendeu ao sistema e o a tingiu são indícios de que esses elemento da ideologia capitali~

ta e desenvolvimentista se incorporou ã própria atuação sindical e a seus programas de trabalho.

Com o Decreto-lei 1402, de 1939, os sindicatos passaram a confi-gurar-se em mera extensão burocrática do Ministério do Trabalho. A vida das associações profissionais surgirá, crescerá e se

ex-(25) Martins,He1oisa Helena Teixeira de Souza. op. cito

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21

tinguirá através do Ministério do Trabalho.

4. PERrODO DE 1945/1964

No período de 1945-1964 a participação - política e social da classe trabalhadora urbana deu-se atravês das mobilizações de massas ligadas ao populismo e pela "politização" de um sindica-lismo também de massas, porém burocratizado. Assim, "as classes populares urbanas e rurais, particularmente os trabalhadores i~

dustriais, eram chamados a dar legitimidade, com sua participa-ção restrita, a um sistema político que lutava com as seqUelas da profunda crise de hegemonia vivida pelas classes dominantes. Entretanto, os canais de participação mantinham-se estritamente controlados pelo Estado".26

Este período foi marcado por episódios de instabilidade políti-ca: a oposição da direita

ã

posse de Vargas em 1950, a crise de 1954 que culminou com seu suicídio, as dificuldades

à

posse de Juscelino Kubitschek em 1955, a renúncia de Jânio Ouadros em 1961, a oposição civil-militar

ã

posse de Goulart corno sucessor

d e JanIo Qua ros. - . d 27

4.1. O processo de redemocratização

No ano de 1942, quando o Brasil entrou na guerra, deveria tam-bém terminar o prazo provisório para a legitimação da Constitu! ção de 1937, através de um plebiscito. O Parlamento, as Assem-bléias Estaduais e as Câmaras Municipais, dissolvidas pelo Esta do Novo, só deveriam ser reabertas com as eleições prometidas para depois do plebiscito, que nunca se realizou.

Segundo Weffort, datam também dessa época as primeiras tentati-vas do Partido Comunista em aliar-se a Vargas. 28

(26)

(27)

(28)

Moisés, José Álvaro. Li ães de Liberdade e Os Trabalhadores e a uta pe a DemocracIa.

ressao -e Jan-eiro, Paz e Terra,

1982,

p.

84.

Weffort, FranciscoCorrea. leira. Rio de Janeiro, Paz Weffort, Francisco Correa. ta no Brasil (A C0njuntura CEBRAP, Editora Brasileira junho, 1973.

O Populismo na política Brasi-e TBrasi-erra,

1980.

(25)

22

Em 1943 passou a vigorar a Consolidação das Leis do Trabalho e foi também, nesse mesmo ano, que foram sentidos os primeiros si-nais de vitória dos aliados, o que marcou o início do processo de redemocratização do país.

Nessa época a oposição liberal (mais tarde UDN) já se articulara contra Vargas, tentando reagir às tendências à institucionaliza-ção do regime e empenhando-se em garantir o processo eleitoral, acenando até mesmo com a possibilidade de um golpe de Estado,c~

so Vargas viesse a interferir no processo.

A resposta ã questão se encontraria na recomposição das em torno da democracia com Vargas.

forças

Apesar d€ o p-.roces5t) de ret}~"l~ocratização ter-se concretizado, a

relação E!;tado/trabalhador~<: iTrbanos não sofreu qualquer altera-ção. A explicação para a pArrun~ência dessa relação, em moldes corporativistas, pone ser encontrada no fato de que a Consolida-ção das Leis do Trabalho, concebida com base na ideologia fasci!

ta, permo~eceu inelterada. As prerrogativas autoritirias e repre!

sivas dess:l Legi31:J';:lo continuaram em vigor e sendo aplicadas pe los governos democr5ticos posteriores.

4.1.1. O cenário político-partidário

A composição parti~5ria que se deu no início do processo de re-democratização caracterizou-se pela existência de partidos dé-beis. Não obstante tp.rem ~urgido como representantes de algumas correntes de opinião, na verdade foram criados sob a égide do Estado forte, com a principal finalidade de garanti-lo.

o

Partido Social Democrático (PSD) compunha-se de elementos que apoiaram o Estado Novo e que durante esse período ocuparam a maior parte dos cargos públicos.

A União Democrática Nacional (UDN) que surgiu em Minas a partir do Manifesto dos Mineiros contra Vargas, agrupava a oposição li beral ao Estado Novo.

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