ARTIGO ORIGINAL
/ ORIGINAL
ARTICLE
INTRODUÇÃO
Acirroseéumadoençahepáticacrônica,caracterizadapor processodifusoqueenvolvefibrose,alteraçãonaarquitetura
lobulareregeneraçãonodular(36).Aprincipalcausadecirroseno
mundoocidentaléainfecçãocrônicapelovírusdahepatiteC
(VHC),associadaounãoaoconsumoexcessivodeálcool(38).
Adesnutriçãoéfreqüentementeencontradanospacientes
comhepatopatiacrônicadeorigemalcoólicaounão-alcoólica(4,
21, 22, 23, 24, 25, 27), podendo advir de baixa ingestão alimentar,
alteração na síntese, metabolismo e armazenamento de nutrientes, má-digestão e absorção de nutrientes ou ainda,
sersecundáriaàhipermetabolismo(18,35).
A avaliação do estado nutricional deve ser realizada
sistematicamenteemtodopacientecomdoençahepática(2).Os
métodosdisponíveissãoanamnesealimentar,antropometria,
métodosbioquímicoseimunológicosetestescompostos(14,15,
16).Comfreqüência,sãodedifícilvalorizaçãonestapopulação
porpeculiaridadesdadoençahepática.Aavaliaçãofuncional danutriçãoatravésdadinamometriaésimples,barataeeficaz, sendoummétodoquepoderiaminimizarasdificuldadesna avaliaçãonutricionalemhepatopatas.
Ogastoenergéticobasal(GEB)éaquantidadedeoxigênio consumidaduranteorepouso,emjejum.AprediçãodoGEB através de equação padrão de Harris-Benedict (HB), pode
trazer resultados seguros em determinadas populações(12),
mas não está validada para pacientes com cirrose, já que existegrandevariaçãodamensuraçãodoGEBemindivíduos
cirróticos,quandocomparadosaindivíduosnormais(19).Uma
alternativaésuamensuraçãoatravésdacalorimetriaindireta
(CI)(17),métodoquepermitedeterminarcommaiorprecisãoo
estadometabólico(41).Nãohá,deacordocomoconhecimento
dosautoresdestetrabalho,estudoemnossomeioquetenha aferidooGEBemindivíduoscirróticospeloVHC,utilizando acalorimetriaindireta,tampoucocomparando-aàavaliação nutricionalatravésdadinamometria.
MATERIALEMÉTODOS
Realizou-seestudotransversalempacientescommaisde 18anos,comcirrosesecundáriaaoVHC,emacompanhamento ambulatorialnoServiçodeGastroenterologiadoHospitalde ClínicasdePortoAlegre(HCPA),RS.Odiagnósticodecirrose foibaseadoemtestesclínicos,laboratoriais,radiológicose,em
AVALIAÇÃONUTRICIONALDE
PACIENTESCOMCIRROSEPELO
VÍRUSDAHEPATITEC:
aaplicaçãodacalorimetriaindireta
CatarinaBertasoAndreatta
GOTTSCHALL
,MárioReis
ÁLVARES-da-SILVA
,
AnaCristinaRiehs
CAMARGO
,RenataMedeiros
BURTETT
eThemisReverbelda
SILVEIRA
RESUMO-Racional-Adesnutriçãoéfreqüenteemcirróticos,massuaavaliaçãoédifícil.Aprediçãodogastoenergéticobasalpelaequaçãode Harris-Benedictnãoestávalidadanestegrupo.Aalternativaseriamensurá-laatravésdacalorimetriaindireta.Objetivos–Realizaravaliação nutricionalemcirróticos,aferirogastoenergéticobasalpelacalorimetriaindiretaecompará-loaoestimadopelaequaçãodeHarris-Benedict.
MaterialeMétodos-Estudaram-se34adultoscomcirrosepelovírusdahepatiteC,emacompanhamentoambulatorial,classificadosde acordocomChild-Pugheescore“modelofend-stageliverdisease”.OgastoenergéticobasalfoiestimadopelaequaçãodeHarris-Benedicte medidopelacalorimetriaindireta.Avaliaçãonutricionalfoirealizadaporantropometria,avaliaçãonutricionalsubjetivaglobal,dinamometria einquéritorecordatório.Resultados–EmrelaçãoàclassificaçãodeChild-Pugh,15(44,2%)eramA,12(35,3%)Be7(20,6%)Ce33 (97,1%)apresentaramvaloresinferioresa20noescore“modelofend-stageliverdisease”.Ogastoenergéticobasalestimadofoimaiordo queomedido(Harris-Benedict1404,5±150,3kcal;calorimetriaindireta1059,9±309,6kcal).Aprevalênciadedesnutriçãovariouentre osmétodos(índicedemassacorpórea,circunferênciamusculardobraço,avaliaçãonutricionalsubjetivaglobal,pregacutâneadotríceps edinamometria:0%;5,9%;17,6%;35,3%e79,4%,respectivamente).Aingestãocalóricaeprotéicafoide80%e85%dorecomendado, cominadequaçãonaingestãodecálcio,magnésio,ferroezinco.Conclusões-Adesnutriçãofoifreqüente.Adinamometriaparecesero melhormétodoparaodiagnóstico.Aingestãofoiinadequada.Considerandoqueogastoenergéticobasalestimadofoisuperioraomedido eanecessidadedemaioraportecalórico,autilizaçãodaequaçãodeprediçãotalvezpossasubstituiracalorimetriaindireta.
DESCRITORES-Cirrosehepática.Hepacivírus.Desnutrição.Avaliaçãonutricional.Metabolismoenergético.Calorimetriaindireta.Forçadamão.
ProgramadePósGraduação:CiênciasemGastroenterologia,FaculdadedeMedicina,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,PortoAlegre,RS.
algunscasos,histológicos.Excluíram-sepacientescomhepatocarcinoma eaquelescomhistóricodeconsumoexcessivodeálcool,bemcomoos indivíduossemcondiçõesdeusarodinamômetroeaquelescomretardo mentaloualteraçõesneuromuscularesnosmembrossuperiores.
AgravidadedadoençahepáticafoiavaliadapelaclassificaçãodeChild-Pugh(32)epeloescoreMELD(“modelofend-stageliverdisease”)(7,36).
Acoletadedadosfoirealizadadejaneiroaabrilde2002,sendoestudadas amensuraçãodoGEBatravésdacalorimetriaindireta(CI)aestimação doGEBpelaequaçãodeHBeavaliaçãonutricional.Osindivíduosforam recrutadosnaprimeiraconsultadoambulatóriodanutricionistaresponsável peloprojetoecompareceramnadataelocalagendadosentre7e9horas damanhã,emjejumde12horas,pararealizarosprocedimentos.
Todososindivíduosconcordaramemparticipardoestudoeassinaram otermodeconsentimentoinformado,aprovadopeloComitêdeÉtica emPesquisadoHCPA.
Mensuraçãodataxametabólicabasal(TMB)
A medição daTMB foi realizada pela manhã, em sala com temperaturaambientecontrolada,baixaluminosidadeesemruídos, comoindivíduoemdecúbitodorsal,apósrepousode20minutos. Era fixada em seu rosto uma máscara conectada ao calorímetro portátil(Teen100-AerosportInc.,AnnArbor,Michigan,EUA).O equipamentofoicalibradoanteseapóscadamedida.Oconsumode
oxigênio(VO2)eaproduçãodegáscarbônico(VCO2)erammedidos
durante25minutoscomoindivíduopermanecendodeitadoesemse movimentar.AmedidadaTMB/minutoemquilocaloria(kcal/min) eraobtidaatravésdaequação:
kcal/min={[3,9(VO2)]+[1,1(VCO2)]}
descritaporWEIR(43),comosúltimos20minutos,observandotempo
deequilíbrioinicialde5minutos,cujamédiafoimultiplicadapor1440 paraseobteraTMBde24horas.
Equaçãodepredição
AequaçãodeprediçãodeHBfoiutilizadaparaestimarogasto energéticobasaldeindivíduosenfermos.Estaequaçãodesenvolvida, uma para cada sexo, inclui como variáveis independentes a massa corporal,aestaturaeaidade(12).
AvaliaçãodoEstadoNutricional
Aavaliaçãonutricionalincluiuavaliaçãonutricionalsubjetiva
global (ANSG)(8, 10), aferição da força do aperto de mão
não-dominante por dinamometria (FAM)(2, 42), cujos resultados foram
comparados a valores de referência na população deste estudo(3,
5),inquéritoalimentarde3dias(34)eantropometria(pesoealtura,
índicedemassacorporal–IMC,pregacutâneadotríceps–PCTe
circunferênciamusculardobraço–CMB)(13).
Cálculodaamostra
O cálculo da amostra foi realizado através do programa estatístico “Computer Programs for Epidemiologists” (PEPI), versão3.0,compoderde80%,intervalodeconfiançade95%e níveldesignificânciade0,05.
O tamanho da amostra foi determinado em 33 indivíduos, considerando uma diferença de 250 calorias no GEB medido e estimado,edesviopadrãode320e360calorias.
Análisedosdados
A apresentação da amostra foi descritiva, na forma de tabelas, comomédia,desviopadrãoefreqüência.AscomparaçõesentreGEB medidopelacalorimetriaeoGEBestimadopelaequaçãodepredição,
seguiramométodopropostoporBLANDeALTMAN(6)comestimativa
dadiferençamédiaeseulimitedeconcordânciade95%(LC95%).O
níveldesignificânciaadotadofoide5%(α=0,05).Aanálisedosdados
foirealizadapeloprogramaestatístico“StatisticalPackagefortheSocial Sciences”,versão10.0(SPSSInc,Chicago,IL,EUA).Acomparaçãodas médiasentreoestadonutricionalavaliadopelaFAMeANSGeoGEB foirealizadopelotestetdeStudentparaamostrasindependentes.
RESULTADOS
Aamostrafoicompostapor34indivíduoscomcirrosepelovírus C,sendo18(52,9%)homense16(47,1%)mulheres,commédiade idadede53,7anos(41a70anos).
Quanto ao grau de doença hepática, 15 pacientes (44,2%) foram classificadoscomoChild-PughA,12(35,3%)comoBe7(20,6%)comoC. Apenasquatro(11,8%)indivíduosapresentaramascite.Emrelaçãoaoescore MELD,33(97,1%)apresentaramvaloresinferioresa20.Ascaracterísticas clínicasdapopulaçãoestudadaestãodescritasnaTabela1.
Vinteedoisindivíduos(64,7%)responderameentregaramoinquérito recordatórioeem19(55,9%)foipossívelutilizarosdadosdacalorimetria
indireta.Nos15pacientesrestantes,osníveisdeVO2eVCO2
encontravam-seabaixodorecomendado,oquepossibilitariaaalteraçãodaqualidade dosdadosdacalorimetria,motivopeloqualforamexcluídos.
Amédiadaingestãocalóricaem22indivíduosfoide1613± 374,7kcal/dia,comconsumomédiode60,9±20,6gproteínas/dia. NaTabela2estãodiscriminadososvaloresmédiosdeingestãodiária demacroemicronutrientes,bemcomoopercentualdoidealparacada
indivíduodeacordocomsexo,idadeegravidadedadoença(12,25,30).
TABELA1–Característicasdos34pacientesanalisados
Características Valores
Gênero,n(%)
Masculino 18(52,9)
Feminino 16(47,1)
Idade,anos 53,67±7,68
ClassificaçãodeChild-Pugh,n(%)
A 15(44,1)
B 12(35,3)
C 7(20,6)
MELD,n(%)
<10 12(35,3)
10-19 21(61,8)
20-29 1(2,9)
TABELA2–Ingestãodiáriademacroemicronutrientes:médiaerelação comopercentualideal(n=22)
Variável Média±DP %doideal
Quilocaloria,kcal 1613±374,7 80,6 Proteína,g 61±20,6 85,9 Lipídios,g 52,7±15,6 Adequado Carboidratos,g 235,4±67,3 Adequado Cálcio,mg 647,4±281,4 <75 Fósforos,mg 902,5±378,8 Adequado Magnésio,mg 178,5±85,5 <60 Ferro,mg 10,1±4,6 <85 Sódio,mg 1441,2±492,2 >200 Potássio,mg 2296,1±1031,4 Adequado Zinco,mg 4,5±2,2 <35
OsparâmetrosnutricionaisestãodescritosnaTabela3.Amédiade pesodosindivíduosfoide70,5kgeaestaturamédiade163cm,oque
correspondeuaoíndicedemassacorporalmédiode26,6kg/m2,onde13
(38,2%)encontravam-seeutróficose21(61,8%)comsobrepeso.Quando avaliadospelaANSG,22(64,7%)pacientesestavambemnutridose12 (35,3%)comdesnutriçãoleve.NaavaliaçãodaPCT,seis(17,6%)pacientes tinhamalgumgraudedesnutriçãoenaCMBdois(5,9%)encontravam-se desnutridos.AmensuraçãodaFAMpeladinamometriademostrouque 27pacientes(79,4%)encontravam-seemrisconutricionaleapenas7 pacientesbemnutridos.Emrelaçãoàdesnutriçãoegravidadedadoença hepática,aFAMdetectoudesnutriçãoem10pacientesChildA(66,7%)e em17ChildBeC(84,5%),enquantoqueaANSGdetectoudesnutrição em3pacientesChildA(20%)eem9pacientesChildBeC(47,4%).
Ovalormédio(±DP)daTMBmedidafoide1059,9±309,6kcal em19pacientes,enquantoqueamédiadovalorestimadopelaequação foide1404,5±150,3kcal.
OsLCde95%entreaTMBmedidaeestimadaestãodemonstrados nográficodeBLANDeALTMAN(Figura1).AvariaçãodoLC95% foide123a812kcal,comdiferençamédiade344kcalamaisnaTMB estimadaporHB.
NaTabela4,sãocomparadososachadosdaTMBestimadaemedida emrelaçãoàavaliaçãonutricionalporFAMeANSG.
DISCUSSÃO
A desnutrição é freqüentemente encontrada em pacientes com doença hepática crônica e pode influenciar na sobrevida a curto e
longoprazo(2).Amaiorpartedosestudosavaliapacientescirróticos
independentedaetiologia,estudandoetiologiaviral(vírusB,vírusC), colestática,alcoólicaeoutras(1,2,11),oqueéinadequado.Existempoucos
estudosondeaprevalênciadedesnutriçãoédescritaemcirróticosde
origemnão-alcoólica(30,40)epoucoésabidodaavaliaçãonutricional
e do gasto energético basal em pacientes com cirrose secundária à infecção crônica peloVHC, o que foi avaliado no presente estudo. Osindivíduosestudadoserampacientescirróticosambulatoriais,em suamaioriaChildAeBesemriscodevidaapreciávelem3meses, conformeatestadopeloescoreMELD.
Aavaliaçãonutricionalédifícilempacientescirróticos,osestudos sugeremnãohaverumpadrão-ouroparadiagnosticarsuadesnutrição.
NenhumpacientefoiconsideradodesnutridopeloIMC.Aocontrário, a prevalência de sobrepeso foi alta (62%), talvez influenciada pela retençãohídrica.NospacientesclassificadoscomsobrepesopeloIMC, encontrou-sediagnósticodedesnutriçãopelaANSGem38%epela FAM85,7%,portanto,oIMCnãopareceadequadoparaavaliareste
grupo,oqueestádeacordocomestudosrecentes(33,44,45).
NaANSG,encontrou-seprevalênciadedesnutriçãode35,3%.Alguns componentesdaANSGsãoqualitativos,comoníveldemassamuscular eperdadegordurasubcutânea,oquefavoreceestaavaliação,masem contrapartida,aestimativadeperdadepesoquefazpartedaavaliaçãoé difícildeserdeterminadanapresençadeasciteeretençãohídrica(1).Vários
estudosutilizamaANSGnaavaliaçãonutricionalemcirróticos,apresentando
adesnutriçãoporelaavaliadaeaevoluçãoclínicadepacientes(31).
Nospacientesestudados,aprevalênciadedesnutriçãopelosmétodos
dePCTeCMBfoibaixa5,9e17,6%,respectivamente,indoao
encontrocomoutrosestudos(1,2),mascontraoutros(33,36).
Autilidadedasproteínasséricasélimitadapeladiminuiçãodasíntese hepática,oquedificultasuaaplicaçãonaavaliaçãonutricional.Aocontrário deoutrosestudosemqueforamutilizadasproteínasséricas(33,38,44),como
albuminaepré-albumina,esteparâmetronãofoiavaliadonestetrabalho. BoaalternativaparaavaliaradesnutriçãoprotéicaéaFAM.Nopresente estudoeladetectou79,4%dedesnutrição,oquevaideencontrocomoutros
estudosemcirróticos(3,4).Ademais,estudorealizadononossomeioem
50pacientescomcirrose,igualmentedemonstrousuperioridadedaFAM
nodiagnósticodedesnutrição,quandocomparadoaoutrosmétodos(4).O
TABELA3-Característicasnutricionaisdaamostraestudada
Variável Média±DP Desnutrição
Estatura(cm) 163±85 – Peso(kg) 70,5±12,56 – IMC(kg/m2) 26,63±4,47 0(0,0)
CMB 25,43±3,93 2(5,9)
PCT(cm) 17,68±6,55 6(17,6)
ANSG – 12(35,3)
FAM(kg/f) 23,45±10,84 27(79,4) Osdadossãoapresentadoscomomédia±desvio-padrãoefreqüência(%)
IMC:índicedemassacorporal CMB:circunferênciamusculardobraço PCT:pregacutâneatriciptal
ANSG:avaliaçãonutricionalsubjetivaglobal FAM:forçadoapertodamãonão-dominante
TABELA4–Comparaçãoentreestadonutricionalegastoenergéticobasal
GEBHB(kcal) GEBCI(kcal)
Avaliaçãonutricional n valor n valor
FAM
Desnutrido 27 1385,0±142,1 14 1015,2±261,0 Bemnutrido 7 1416,9±155,5 5 1185,2±428,1
Diferença -31,8 -170
IC95% -156,9a93,2 -509,2a169,2
P 0,608 0,792
ANSG
Desnutrido 12 1423,7±118,3 6 1088,6±280,5 Bemnutrido 22 1374,1±154,8 13 1046,7±332,3
Diferença 49,6 42,0
IC95% -55,1a154,3 -289,1a373,0
P 0,342 0,792
GEBHB:gastoenergéticobasalestimadopelaequaçãodeHarris-Benedict GEBCI:gastoenergéticobasalmedidopelacalorimetriaindireta FAM:forçadoapertodamão-não-dominante
ANSG:avaliaçãonutricionalsubjetivaglobal
MédiaentreHBeCL(Kcal)
DiferençaHB-Cl(Kcal)
800
600
400
200
0
-200
-400
800 1000 1200 1400 1600 1800
GottschallCBA,Álvares-da-SilvaMR,CamargoACR,BurtettRM,SilveiraTR.Nutritionalassessmentinpatientswithcirrhosis:theuseofindirectcalorimetry. ArqGastroenterol2004;41(4):220-4.
ABSTRACT-Background-Malnutritionisfrequentincirrhoticpatients,anditsassessmentisdifficult.Functionalassessmentthroughadynamometerisa simplemethodandcouldminimizethesedrawbacks.Harris-Benedictpredictionformulaeestimatestherestingenergyexpenditurebuthasnotbeenvalidated forthispopulation.Onealternativeistheuseofindirectcalorimetry.Aim–Toassessnutritionalstatusincirrhoticpatientsandestimatestherestingenergy expenditurethroughindirectcalorimetryandcomparesittoHarris-Benedict.PatientsandMethods-ThirtyfouradulthepatitisCcirrhoticoutpatientswere studied,classifiedbyChild-Pughandmodelofend-stageliverdiseasescore.TherestingenergyexpenditurewaspredictedthroughHarris-Benedictand measuredbyindirectcalorimetry.Nutritionalassessmentwasdonethroughanthropometry,subjectiveglobalassessment,hand-gripstrengthanda3-day recall.Results-Fifteen(44.2%)wereChild-PugA,12(35.3%)Band7(20.6%)C,and33(97.1%)hadmodelofend-stageliverdiseasescoreslessthan20. Therestingenergyexpenditurepredictedwashigherthanthemeasured(Harris-Benedict1404.5±150.3kcal;indirectcalorimetry1059.9±309.6kcal).The prevalenceofmalnutritionvariedbetweenmethods(bodymassindex,musclearmcircumference,subjectiveglobalassessment,tricepsskinfoldthickness andhand-gripstrength:0;5.9;17.6;35.3and79.4%,accordingly).Caloriesandproteinsintakewere80%and85%ofrecommendedamountsandtherewas inadequateintakeofcalcium,magnesium,ironandzinc.Conclusions-Malnutritionwasfrequentandhand-gripstrengthseemedtobethemostsensitive methodforitsdiagnosis.Caloriesandproteinintakeswereinadequate.Consideringthatthepredictedrestingenergyexpenditurewashigherthanthemeasured oneandtheneedtoofferhighercaloricintake,theuseofthepredictingequationmayreplaceindirectcalorimetry.
HEADINGS–Livercirrhosis.Hepacivirus.Malnutrition.Nutritionassessment.Energymetabolism.Calorimetry,indirect.Handstrength.
usodaFAMaumentouconsideravelmenteodiagnósticodedesnutrição quandocomparadoàANSG(79,4e35,3%,respectivamente),refletindo provavelmente,acapacidadedediagnosticaradesnutriçãoemindivíduos semquaisquerevidênciasclínicas.
Emcirróticos,umasimplesnoitedejejumpodeterefeitonegativo na homeostase e metabolismo energético e induzir a quebra das
reservasendógenasdegorduraeproteínas(26).Nospacientesestudados,
a ingestão dietética foi inapropriada tanto em macro, quanto em algunsmicronutrientes(Tabela2).Aingestãocalóricadosindivíduos ficouem80%dorecomendado,oquecertamentecontribuiparaum estadonutricionaldeletério.Achadossemelhantesforamdescritospor
DAVIDSONetal.(9),estudando52pacientescirróticosecomparados
acontroles.Outroestudorecenteemnossomeio(46)avaliouaingestão
de32pacientescirróticosinternados,comresultadossemelhantes.Em relaçãoaosmicronutrientes,encontrou-seinadequaçãoemrelaçãoà ingestãodecálcio,demagnésio,deferroe,especialmente,dezinco.
Abaixaingestãoalimentaréfreqüentementeobservadaempacientes cirróticos,independentedoestágiodadoença.Aimpressãoquesetem équehábitosculturaiseafaltadeorientaçãoespecializadainduzema restriçõesdesnecessáriasdeproteínasedegorduras.Arestriçãodesale aconseqüentereduçãodapalatabilidadedosalimentosémaisumfator queinterferenaingestão.Outrofatorquecontribuiparaainapetênciae anorexiadestespacienteséabaixaingestãodezinco,quetemsidoassociada
amenoracuidadedopaladar(20).Napresentesérieobservou-sequetodos
ospacientestinhamingestãomédiadezincoabaixode35%daRDA. OGEBfoimedidopelacalorimetriaindiretanos34indivíduosestudados. Foipossívelutilizarseuresultadoem19pacientes.Nos15restantes,o equipamentodemediçãonãoconseguiucaptaradequadamenteastrocas gasosas,reduzindoseusvaloresealterandoaqualidadedosdados.
NopresenteestudooGEBmedidopelacalorimetriaindireta,foi maisbaixoqueoestimadopelaequaçãodeHB,oqueestádeacordo
comalgunsestudosprévios(28,37).Opiniõesdiferentesforamdescritaspor
outrosautoresqueencontraramaumentodoGEBmedidoemrelaçãoao
estimado(19,40).Essasobservaçõescontroversaspodemserexplicadaspela
heterogeneidadedapopulaçãodepacientes,porproblemasmetodológicos
associadosàmediçãodoGEBedaavaliaçãonutricional(40).
Alguns estudos descrevem a presença de hipermetabolismo em cirróticos desnutridos. No estudo em questão não houve diferença significativaentreoGEBmedidoeestimadoempacientescirróticos bemnutridosedesnutridos.
NaanálisepelométododeBLANDeALTMAN(6)osdadosobtidos
entreoGEBestimadoemedidonãoconcordamentresi(Figura1).Estes resultadosnecessitamdeconfirmaçãocomamostrasmaiores.
CONCLUSÕES
Adesnutriçãofoifreqüentenospacientescirróticosestudadose aFAMpareceserométodomaissensívelparaoseudiagnóstico.A ingestãocalórico-protéicafoiinadequadanessespacientes.Considerando que o GEB estimado foi superior ao medido e a necessidade de oferecerummaioraportecalóricoaestespacientes,autilizaçãoda equação de predição talvez possa substituir o uso da calorimetria indiretanestespacientes.
AGRADECIMENTO
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
1. AbbottWJ,ThomsonA,SteadmanC,GattonML,BothwellC,KerlinP,WallDR, LynchSV.Child-Pughclass,nutritionalindicatorsandearlylivertransplantoutcomes. Hepatogastroenterology2001;48:823-7.
2. AlberinoF,GattaA,AmodioP,MerkelC,DiPascoliL,BoffoG,CaregaroL.Nutrition andsurvivalinpatientswithlivercirrhosis.Nutrition2001;17:445-50.
3. Álvares-da-Silva MR. Comparação entre a avaliação nutricional subjetiva global,índicenutricionalprognósticoeforçadoapertodamãonão-dominante naavaliaçãonutricionaldopacientecirróticoambulatorial:acontribuiçãoda dinamometria[dissertação].PortoAlegre:UniversidadeFederaldoRioGrande doSul;1995.
4. Álvares-da-SilvaMR,GottschallCA,PruineliRD,PintoRD,WaechterFL,CardosoF, SampaioJA,SmithMM,FrancisconiCFM,Pereira-LimaLM.Nutritionalevaluation inlivertransplantation[abstract].Hepatology1998;28(4):746(A).
5. Álvares–da-Silva MR, SilveiraTR. O estudo da força do aperto de mão não-dominanteemindivíduossadios.Determinaçãodosvaloresdereferênciaparaouso dadinamometria.GEDGastroenterolEndoscDig1998;17:203-6.
6. BlandJN,AltmanDG.Comparingmethodsofmeasurement:whyplootingdifference againststandardmethodismisleading.Lancet1995;346:1085-7.
7. BrownRS,KumarKS,RussoMW,KinkhabwalaM,RudowDL,HarrenP,LobrittoS, EmondJC.Modelofend-stageliverdiseaseandChild-Turcotte-Pughscoreaspredictors ofpretransplantationdiseaseseverity,posttransplantationoutcome,andresourceutilization inUnitedNetworkforOrganSharingstatus2Apatients.LiverTranspl2002;8:278-84. 8. CorreaMITD.Avaliaçãonutricionalsubjetiva.RevBrasNutrClín1998;13:68-73. 9. DavidsonHIM,RichardsonR,SutherlandD,GardenOJ.Macronutrientpreference,
dietaryintake,andsubstrateoxidationamongstablecirrhoticpatients.Hepatology 1999;29:1380-6.
10. DetskyAS, Baker JP, Mendelson RA,Wolman SL,Wesson DE, Jeejeebhoy KN. Evaluatingtheaccuracyofnutritionalassessmenttechniquesappliedtohospitalized patients:methodologyandcomparison.JPENJParenterEnteralNutr1984;8:153-9. 11. Figueiredo FA, Dickson ER, PashaTM, Kasparova P,TherneauT, Malinchoc M,
DiCeccoS,Francisco-ZillerN,CharltonM.Impactofnutritionalstatusonoutcome afterlivertransplantation.Transplantation2000;70:1347-52.
12. HarrisJA,BenedictFG.Abiometricstudyofbasalmetabolisminman.Boston: CarnegieInstituteofWashington;1919.266p.
13. HeywardVH, Sstolarczyk IM.Avaliação da composição corporal. São Paulo: Manole;2000.
14. HuntD,RowlandsBJ,JohnstonD.Handgripstrength-asimpleprognosticindicator insurgicalpatients.JPENJParenterEnteralNutr1985;9:701-4.
15. Jeejeebhoy KM, Hill GL, Owen OD. Nutritional and metabolism in patient care. Philadelphia:W.B.Saunders/HarcourtBraceJovanovich;1988.p.739-51. 16. JeejeebhoyKM,DetskyAS,BakerJP.Assessmentofnutritionalstatus.JPENJParenter
EnteralNutr1990;14(suppl):193s-6s.
17. KondrupJ,MullerMJ.Energyandproteinrequirementsofpatientswithchronicliver disease.JHepatol1997;27:239-47.
18. LowellJA.Nutritionalassessmentandtherapyinpatientsrequiringlivertransplantation. LiverTransplSurg1996;2(5suppl1):79-88.
19. MaddenAM,MorganMY.Restingenergyexpenditureshoudbemeasuredinpatients withcirrosis,notpredict.Hepatology1999;30:655-64.
20. MahanKL,Escott-StumpS.KrauseAlimentos,nutriçãoedietoterapia.10ªedição. SãoPaulo:Roca;2002.
21. McCulloughAJ,BugianesiE.Protein-caloriemalnutritionandtheetiologyofcirrhosis. AmJGastroenterol1997;92:734.
22. McCulloughAJ. Malnutrition and liver disease. LiverTranspl 2000;6(4 Suppl 1): S85-96.
23. McCulloughAJ.Nutritionalstateandabnormalmetabolismofnutrients.TheAmerican AssociationforthestudyoftheLiverDiseases.Postgraduatecourse:neweraspects onalcohol,nutritionandhepaticencephalopathy,1992;204-44.
24. MendenhallCL,AndersonS,WeesnerRE,GoldbergSJ,CrolicKA.Protein-calorie malnutritionassociatedwithalcoholichepatitis.VeteransAdministrationCooperative StudyGrouponAlcoholicHepatitis.AmJMed1984;76:211-22.
25. MerliM,RiggioO,DallyL.Doesmalnutritionaffectsurvivalincirrhosis?PINC (PolicentricaItalianaNutrizioneCirrosi).Hepatology1996;23:1041-6.
26. MiwaY,ShirakiM,KatoM,TajikaM,MohriH,MurakamiN,KatoT,OhnishiH, MoriokuT, MutoY, Moriwaki H. Improvement of fuel metabolism by nocturnal energysupplementationinpatientswithlivercirrhosis.HepatolRes2000;18:184-9. 27. MorganMY.Nutritionandtheliver.In:Millward-SadlerGH,WrightR,ArthurMJP, editors.Wright´sliverandbiliarydisease.3rdedition.London:WBSaunders;1992. p.107-73.
28. MullerMJ,BokerKHW,SelbergO.Arepatientswithlivercirrhosishypermetabolic? ClinNutr1999;13:131.
29. National Research Council (U.S.). Subcommittee onTenth Edition of the RDAs. Recommendeddietaryallowances.10thedition.Washington,DC:NationalAcademy Press;1989.
30. ParolinMB,ZainaFE,LopesRW.Terapianutricionalnotransplantehepático.Arq Gastroenterol2002;39:114-22.
31. Pikul J, Sharpe M, Lowndes R, Ghent C. Degree of preoperative malnutrition is predictiveofpostoperativemorbidityandmortalityinlivertransplantationrecipients. Transplantation1994;57:469-72.
32. Pugh R, Murray-Lyon I, Dawson J, Pietroni M,Williams R.Transection of the oesophagusforbleedingoesophagusvarices.BrJSurg1973;60:646-9.
33. RoongpisuthipongC,SobhonslidsukA,NantirujK,SongchitsomboomS.Nutritional assessmentinvariousstagesoflivercirrhosis.Nutrition2001;17:761-5. 34. SchröderH,CovasMI,MarrugatJ,VilaJ,PenaA,AlcántaraM,MasiáR.Useofa
three-dayestimatedfoodrecord,a72-hourrecallandafood-frequencyquestionnairefor dietaryassessmentinMediterraneanSpanishpopulation.ClinNutr2001;20:429-37. 35. SelbergO,BottcherJ,TuschG,PichlmayrR,HenkelE,MullerMJ.Identificationof
high-andlow-riskpatientsbeforelivertransplantation:aprospectivecohortstudyof nutritionalandmetabolicparametersin150patients.Hepatology1997;25:652-7. 36. SherlockS,DooleyJ.Diseasesoftheliverandbiliarysystems.11thedition.Malden,
MA:BlackwellScience;2002.
37. ShneeweissB,PammerJ,RatheiserK.Energymetabolisminacutehepaticfailure. Gastroenterology1993;105:1515-21.
38. ShubhadaNA,FloodK,ParanjothisS.Washingtonmanualdeterapêuticaclínica. 30aedição.RiodeJaneiro:Guanabara-Koogan;2002.
39. Strauss E, Massuda HK. Avaliação nutricional em cirróticos.Arq Gastroenterol 1986;23:211-6.
40. TajikaM,KatoM,MohriH,MiwaY,KatoT,OhnishiH,MoriwakiH.Prognosticvalue ofenergymetabolisminpatientswithvirallivercirrhosis.Nutrition2002;18:229-34. 41. WahrlichV,AnjosLA.Aspectoshistóricosemetodológicosdamediçãoeestimativada
taxametabólicabasal:umarevisãodeliteratura.CadSaúdePública2001;17:801-17. 42. WaitzbergDL.Nutriçãooral,enteraleparenteralnapráticaclínica.3ªediçãoSão
Paulo:Atheneu,2000.
43. WeirJB.Newmethodsforcalculatingmetabolicratewithspecialreferencetoprotein metabolism.JPhysiol1949;109:1-9.
44. Zaina FE, Parolin MB, Lopes RW, Coelho JCU. Prevalência de desnutrição em candidatosatransplantehepático[resumo].JBTJBrasTranspl2003;6(1):50(A). 45. Zaina FE, Ribas MD. Comparação do estado nutricional nos três momentos do
transplantehepático[resumo].JBTJBrasTranspl2003;6(1):50(A).
46. ZainaFE,TiemannLF,MelloACM,LopesRW.Influênciadaingestãodietéticasobre oestadonutricionaldeadultosinternadosemumcentrotransplantador[resumo].JBT JBrasTranspl2003;6(1):50(A).