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Infecção hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal: há influência do local de nascimento?.

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Academic year: 2017

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Infecção hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal:

há inluência do local de nascimento?

Nosocomial infections at Neonatal Intensive Care Unit: does the place of birth matter?

Monica de Souza B. Pinheiro1, Christiane Nicoletti2, Icaro Boszczowsk3, Dilma Mineko T. Puccini4, Sonia Regina T. S. Ramos5

Instituição: Serviço Social da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo/Organização Social de Saúde (Seconci-SP OSS) do Hospital Geral de Itapecerica da Serra e Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo, SP, Brasil

1Médica chefe da Unidade Neonatal do Hospital Geral de Itapecerica da

Serra, Seconci-SP OSS, Itapecerica da Serra, SP, Brasil

2Médica chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do

Seconci-SP OSS, Itapecerica da Serra, Seconci-SP, Brasil

3Médico infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do

Seconci-SP OSS, Itapecerica da Serra, SP, Brasil

4Enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Seconci-SP

OSS, Itapecerica da Serra, SP, Brasil RESUMO

Objetivo: Analisar comparativamente a incidência e o peril etiológico da infecção hospitalar em recém-nascidos (RN) de origem interna e externa, admitidos em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

Métodos: Estudo de coorte em RN internados na UTIN em 2002 e 2003. A vigilância epidemiológica das infecções hospitalares foi realizada prospectivamente, seguindo-se os métodos do National Nosocomial Infections Surveillance System. Compararam-se as características clínicas, demográicas, a incidência de infecção hospitalar precoce e tardia e o peril dos microrganismos isolados dos RN com infecção tardia, segundo o local de nascimento.

Resultados: Incluíram-se no estudo 426 RN de origem interna (88%) e 60 de origem externa (12%). A incidência de infecção hospitalar precoce foi 10% e tardia, 21%, sem diferença estatística entre os RN internos e externos quanto à ocorrência de infecção hospitalar precoce (p=0,40) e tardia (p=0,41). Entre os micro-organismos isolados na infecção tardia, 52% foram Gram-positivos, com predomínio do

Staphylococcus coagulase negativo, tanto para as infecções em

RN externos (33%) quanto internos (41%). Dentre os Gram-negativos, Pseudomonas spp. e Enterobacter spp. foram isolados com maior frequência nos RN externos. A sepse (54%) e a pneumonia (20%) foram as infecções mais frequentes.

Conclusões: Entre os grupos de RN separados de acordo com o local de nascimento, não houve diferença na incidência

5Livre-docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina

da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência: Monica de Souza B. Pinheiro Rua Tamiko Fuzioka, 198 CEP 04728-190 – São Paulo/SP E-mail: msbp@uol.com.br

Recebido em: 9/5/08 Aprovado em: 18/8/08

de infecção hospitalar precoce e tardia e no agente etiológico predominante da infecção hospitalar tardia.

Palavras-chave: recém-nascido; infecção hospitalar; epidemiologia; Unidade de Terapia Intensiva.

ABSTRACT

Objective: To analyze the hospital infection incidence rate and their etiologic proile among inborn and outborn infants admitted to a Neonatal Intensive Care Unit (NICU).

Methods: This cohort study included newborns admitted to a NICU in 2002 and 2003. Hospital infection epidemio-logic surveillance was conducted prospectively following the National Nosocomial Infections Surveillance System methodology. Clinical and demographic aspects, early and late hospital infection incidence rates, and the organisms isolated from newborns with late hospital infection were compared according to birth place.

Results: In this study, 426 (88%) inborn and 60 (12%) outborn infants were included. Early and late onset hospital infection incidence rate were 10% and 21% respectively, with no statistical difference between inborn and outborn infants for early (p=0.40) and late hospital infections

(p=0.41). Among the microorganisms isolated in late

hospital infections, 52% were Gram-positive organisms:

coagulase-negative Staphylococcus was the predominant

(2)

Among Gram-negative organisms, Pseudomonas spp. and

Enterobacter spp. were more prevalent in outborn infants.

Sepsis (54%) was the most frequent infection, followed by pneumonia (20%).

Conclusions: No statistical difference was veriied be-tween inborn and outborn infants regarding early or late hospital infection incidence rates and the main etiologic agents isolated from infants with late hospital infection.

Key-words: infant, newborn; cross infection; epidemio-logy; Intensive Care Unit.

Introdução

A incidência de infecções hospitalares varia de acordo com as características de cada unidade de tratamento (infraestru-tura e recursos humanos), do próprio recém-nascido (RN) (idade gestacional e peso de nascimento) e dos métodos de prevenção e diagnósticos disponíveis(1-8).

As taxas gerais de infecção hospitalar em unidades

neo-natais de países desenvolvidos variam de 8,4 a 26%(7-11). No

Brasil, Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de nível terciário possuem taxas de infecção entre 18,9 a 57,7%(5,6,12,13), havendo referência de causas possíveis das

elevadas taxas de infecção: condições de trabalho, estrutura física da UTIN e número de proissionais de enfermagem

por leito(6). Nenhum desses estudos, entretanto, analisou o

local de nascimento dos RN assistidos.

O agente etiológico mais frequentemente encontrado

na infecção neonatal é o Staphylococcus coagulase negativo,

seguido por Gram-negativos tais como a Escherichia coli,

Klebsiella spp. e, em terceiro lugar, os fungos, com maior

frequência de Candida spp. tanto em unidades neonatais de

países desenvolvidos quanto no Brasil(5,7,14,15).

Há poucos estudos que descrevem a epidemiologia da infecção hospitalar em unidades que prestam assistência a RN de origem externa e interna. No Brasil, a maioria das maternidades não oferece assistência aos nascidos em outros serviços ou em domicílio. Esses bebês são encaminhados a berçários externos ou a Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica. Acredita-se que a admissão de RN de origem externa e internação em uma mesma UTIN, junto aos nas-cidos na maternidade, possa interferir nos indicadores de desempenho da unidade com aumento da taxa de infecção, mas esta hipótese ainda não foi adequadamente avaliada.

O presente estudo teve como objetivo analisar comparati-vamente a incidência e o peril etiológico da infecção

hospita-lar em neonatos admitidos em UTI Neonatal e classiicados de acordo com o local de nascimento.

Métodos

Trata-se de um estudo de coorte de RN admitidos na UTIN do Hospital Geral de Itapecerica da Serra Seconci-SP OSS, no período de 1º de janeiro de 2002 a 31 de de-zembro de 2003, acompanhados até a alta da unidade ou até o óbito. O hospital é público estadual, localizado na região metropolitana da Grande São Paulo, com 11 leitos de terapia intensiva neonatal do Sistema Único de Saúde para prestar atendimento de nível secundário, com taxa de ocupação de 68% em 2002 e de 73% em 2003. No período do estudo, a UTIN admitia pacientes nascidos no hospital (RN internos) e aqueles provenientes de outros serviços ou nascidos em domicílio (RN externos) no mesmo espaço físico, seguindo medidas de prevenção e controle de infecção

recomendadas pelo National Nosocomial Infections Surveillance

System (NNIS)(16), incluindo precauções de contato para RN

externos com tempo de permanência maior do que 48 horas no hospital de origem.

A equipe da UTIN contava com um médico chefe, um médico diarista nos períodos da manhã e tarde, todos com título de habilitação na área de Neonatologia, e dois médicos plantonistas por turno de 24 horas. A equipe de enfermagem era composta por um enfermeiro e quatro técnicos por turno de trabalho, supervisionados por um enfermeiro encarrega-do. O controle das infecções hospitalares era realizado pela equipe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) própria do hospital e o médico chefe da unidade participava ativamente do processo.

Foram incluídos no estudo todos os neonatos admitidos na UTIN, excluindo-se aqueles que permaneceram na unidade por menos de 24 horas. A vigilância prospectiva das infecções hospitalares foi realizada pela equipe do SCIH, com base nos

métodos propostos peloNNIS(16). O levantamento de dados

foi realizado pelo Sistema de Arquivo Médico e Estatística do hospital, com o auxílio das planilhas de acompanhamento prospectivo das infecções hospitalares do SCIH a im de se identiicarem as características dos pacientes, o escore de gravidade nas primeiras 24 horas após a admissão e o agente etiológico isolado.

(3)

As variáveis estudadas foram: idade materna, realização de pré-natal, número de consultas e intercorrências no pré-natal, tipo de parto, tempo de bolsa rota, boletim de

Apgar(17) no primeiro e quinto minuto de vida, reanimação,

intubação traqueal na sala de parto, sexo do recém-nascido,

idade gestacional(18), peso de nascimento, adequação do peso

de nascimento à idade gestacional(19), gemelaridade, idade no

momento da admissão, tempo de permanência na unidade, local de nascimento e escore de gravidade nas primeiras 24 horas após a internação. O escore empregado avalia indireta-mente a gravidade dos pacientes por meio das intervenções terapêuticas a que eles são submetidos,o Neonatal Therapeutic

Intervention Scoring System (NTISS)(20). A contagem dos pontos

seguiu as instruções de Gray et al(20). Os desfechos analisados

foram a incidência de infecção hospitalar precoce e tardia durante o período de internação na UTIN.

As infecções hospitalares foram diagnosticadas segundo os critérios do NNIS, que considera como precoce a infecção ocorrida durante as primeiras 48 horas após a admissão e tar-dia, aquela ocorrida após 48 horas de admissão na unidade(16).

A deinição dos tipos de infecção também seguiu os critérios do NNIS, considerando-se sepse diante do critério clínico e/ou laboratorial(16). Para o cálculo dos indicadores de

infec-ção, foram consideradas a incidência acumulada de infecção (número de infecção sobre o total de saídas – altas, óbitos e transferências – vezes 100) e a densidade de incidência de infecção (número de infecção sobre o total de pacientes/dia, vezes 1.000)(16).

As culturas utilizadas no diagnóstico das infecções tardias, coletadas do sangue, líquor, urina, secreção e cateteres, fo-ram realizadas pelo laboratório do hospital. A identiicação dos microrganismos e o antibiograma seguiram os métodos tradicionais do National Commitee for Clinical Laboratory

Standards,publicados em2000(21).

A análise estatística para veriicar a associação entre as variáveis categóricas foi feita por meio do qui-quadrado

ou do teste de Fisher bicaudal(22,23). Adotou-se o nível de

signiicância p<0,05. Utilizou-se o programa Epi-Info,

versão 6.02(24).

Resultados

Houve um total de 605 admissões na UTIN no período do estudo. Dessas admissões, 540 foram RN de origem interna (89%) e 65, de origem externa (11%). Após a aplicação dos critérios de exclusão, permaneceram no estudo 486 neo-natos: 426 de origem interna (88%) e 60 externos (12%).

Dentre os últimos, 11 (18%) vieram de seus domicílios e 49 (82%) de outro serviço de saúde. Dos RN externos, 39 (65%) foram admitidos na UTIN de estudo no mesmo dia do nascimento.

Quanto às características maternas, as mães dos

recém-nascidos externos eram mais jovens (p=0,002); um número

menor delas havia feito pré-natal (p<0,001) e, quando o izeram, compareceram a um menor número de consultas (p<0,001) e com menor relato de intercorrências (p<0,001), conforme Tabela 1.

Quanto às características perinatais, os de origem externa nasceram, com maior frequência, de parto vaginal (p<0,001),

a amniorrexe prolongada foi menos frequente (p=0,030) e

houve menor necessidade de reanimação do que quando se

tratava dos RN de origem interna (p<0,001). Não houve

diferença nas condições de vitalidade ao nascer entre os grupos (Tabela 2).

Quanto às características neonatais, houve maior número

de crianças com peso inferior a 1.500 g ao nascer(p=0,017)

e tamanho pequeno para a idade gestacional (p<0,001) nos externos, comparados aos internos. Não se observou diferença estatística quanto ao sexo, à idade gestacional e à gemelaridade entre os grupos (Tabela 1). Os RN de origem externa apresentaram idade média na admissão de 3,58±7,54 dias e mediana de zero dia (variação: 0 a 27 dias); os de origem interna, tiveram idade média de 0,22±1,76 e mediana de zero dias (variação: 0 a 35 dias), diferença esta

com signiicância estatística (p<0,001). O bebê de origem

interna admitido na UTIN com 35 dias de vida estava na unidade de cuidados intermediários e teve piora de sua condição clínica.

Dos 486 RN estudados, os de origem externa apresenta-ram média do escore de gravidade NTISS de 15,5±6,0 pontos e mediana 13,5 nas primeiras 24 horas após a admissão, sendo maiores do que as dos recém-nascidos de origem interna

(média 11,9±5,1 pontos e mediana de 10,0) (p<0,001). Os

pacientes com infecção hospitalar tardia tiveram média do NTISS de 16,6±5,7 (mediana 15,6), signiicantemente maior do que aqueles sem infecção hospitalar (média 11,2±4,6

e mediana 10,4) (p<0,001)). O tempo de permanência na

UTIN foi, em média, 14,7±21,3 dias (mediana 7,5 dias) para os externos e 11,2±17,0 dias (mediana 4,0 dias) para os internos (p=0,104).

(4)

Tabela 1 – Características gerais das mães e recém-nascidos admitidos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, de acordo com o local de nascimento

Interno Externo Total

p*

n % n % n %

Sexo

Feminino 186 43,7 25 41,7 211 43,4 0,770

Masculino 240 56,3 35 58,3 275 56,6

Idade gestacional (semanas)

<34 168 39,4 26 43,3 194 39,9 0,460

34-36,9 117 27,5 20 33,3 137 28,2

37-40 92 21,6 10 16,7 102 20,1

>40 49 11,5 4 6,7 53 10,9

Peso ao nascer (g)

<1.000 27 6,3 6 10,0 33 6,8 0,020

1.000-1.499 70 16,4 18 30,0 88 18,1

1.500-2.499 177 41,6 24 40,0 201 41,4

≥2.500 152 35,7 12 20,0 164 33,7

Peso/idade gestacional

Adequado 335 78,6 39 65,0 374 77,0 0,001

Pequeno 55 12,9 20 33,3 75 15,4

Grande 36 8,5 1 1,7 37 7,6

Gemelaridade

Sim 45 10,6 4 6,7 49 10,1 0,350

Não 381 89,4 56 93,3 437 89,9

Idade materna (anos)

<20 121 28,4 21 35,0 142 29,2 0,002

20-34 251 58,9 39 65,0 290 59,7

≥35 54 12,7 0 0,0 54 11,1

Pré-natal

Sim 398 93,4 39 65,0 437 89,9 <0,001

Não 28 6,6 16 26,7 44 9,1

Ignorado 0 0,0 5 8,3 5 1,0

Número de consultas no pré-natal

≤5 287 67,4 46 76,7 333 68,6 <0,001

6 ou mais 139 32,6 7 11,7 146 30,0

Ignorado 0 0,0 7 11,7 7 1,4

Intercorrências no pré-natal

Sim 208 48,8 16 26,7 224 46,1 <0,001

Não 218 51,2 39 65,0 257 52,9

Ignorado 0 0,0 5 8,3 5 1,0

Total 426 100,0 60 100,0 486 100,0

*teste do qui-quadrado.

(9,7 por 100 saídas) e as infecções tardias, em 102 (21,0 por 100 saídas), de acordo com a Tabela 3. Não houve associação estatística entre o local de nascimento e as taxas de infecção hospitalar precoce e tardia (Gráico 1).

Para o diagnóstico etiológico das infecções tardias, realizaram-se 218 culturas (71,1% no sangue) em 102 RN. Em 86 culturas (39,5%), foram isolados microrganismos: 71 culturas (taxa de positividade de 38,4%) nos pacientes

de origem interna e 15 (taxa de positividade de 45,5%) nos externos. Dessas 86 culturas, 56 foram positivas no sangue (65,1%).

Dos agentes microbianos isolados, 52,3% eram

Gram-positivos, sendo o Staphylococcus coagulase negativo o mais

encontrado, seguido dos Gram-negativos, com predomínio

da Klebsiellapneumoniae e, em terceiro lugar, os fungos.

(5)

Tabela 2 – Dados perinatais dos recém-nascidos admitidos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de acordo com o local de nascimento

Interno Externo Total

p*

n % n % n %

Tipo de parto

Normal Cesariana Fórceps 230 191 5 54,0 44,8 1,2 53 7 0 88,0 12,0 0,0 283 198 5 58,1 40,8 1,1 <0,001

Bolsa rota (horas)

≤18 >18 370 56 86,8 13,2 58 2 96,7 3,3 428 58 88,1 11,9 0,030

Apgar primeirominuto

0-3 4-10 Ignorado 56 369 1 13,2 86,6 0,2 4 30 26 6,7 50,0 43,3 60 399 27 12,3 82,1 5,6 0,530

Apgar quintominuto

0-3 4-10 Ignorado 4 421 1 0,9 98,8 0,2 0 35 25 0,0 58,3 41,7 4 456 26 0,8 93,8 5,4 0,730 Reanimação Sim Não 331 95 77,7 22,3 28 32 46,7 53,3 359 127 73,9 26,1 <0,001 Intubação traqueal Sim Não 87 339 20,4 79,6 12 48 20,0 80,0 99 387 20,4 79,6 0,920

Total 426 100,0 60 100,0 486 100,0

*teste do qui-quadrado.

foram mais frequentemente isolados nos pacientes de origem externa (Gráico 2).

Discussão

A ocorrência de infecção hospitalar é mais elevada em países em desenvolvimento(5,6,12,25) , comparada à dos países

desenvolvidos(7,8,14,15,26). Parte dessa situação é atribuída à

superlotação e à falta de pessoal, problemas crônicos e

per-sistentes nas UTIN dos países em desenvolvimento(6).

Quando se avalia a epidemiologia da infecção hospitalar em recém-nascidos, observa-se que esta também depende do peso ao nascimento, das características da unidade em que estão hospitalizados, da frequência de utilização de

Interno Externo Total

Número de admissões 426 60 486

Número de pacientes/dia 5064 872 5936

Número de pacientes com IH precoce 43 4 47

Incidência acumulada* de pacientes com IH precoce 10,1 6,7 9,7

Densidade de incidência# de pacientes com IH precoce 8,5 4,6 7,9

Número de pacientes com IH tardia 87 15 102

Incidência acumulada de pacientes com IH tardia 20,4 25,0 21,0

Densidade de incidência de pacientes com IH tardia 17,1 17,2 17,2

Tabela 3 – Incidência acumulada e densidade de incidência de pacientes com infecção hospitalar precoce e tardia, de acordo com o local de nascimento

(6)

Gráico 2 – Distribuição percentual dos agentes isolados em 218 culturas realizadas entre 102 pacientes com infecção hospitalar tardia, de acordo com o local de nascimento.

50

40

30

20

10

0

RN externos RN internos %

S coaguiase negativo S aureus

K pneumoniae E coll

Enterobacter spp. Citrobacter spp. Klebslela spp.

K. oxytoca P. aeruginosa

P mirabilis

Bacilos Gram negativoFungos e leveduras

Gráico 1 – Incidência de infecção hospitalar precoce e tardia de acordo com o local de nascimento.

p=0,41

25,0

426 RN internos

60 RN externos 20,4

10,0

p=0,40

6,7 100

90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Infecção precoce Infecção tardia

Incidência por 100 saídas (alta, óbitos, transferência)

procedimentos invasivos, da aquisição a partir de fonte materna ou não, do sítio da infecção e da evolução temporal de agentes etiológicos dentro de uma unidade, ressaltando-se a importância da vigilância epidemiológica em cada instituição(1,2,4,10,25,27-30).

Admite-se que a regionalização da assistência perinatal possa levar a melhores resultados quanto à morbimortalidade neonatal porque as gestantes de alto risco seriam transferi-das para serviços com maior experiência na assistência(31-33).

Entretanto, no Canadá, mesmo com o sistema regionalizado, 26% dos neonatos são transferidos a centros terciários por

circunstâncias emergenciais(31) e isso resulta em pacientes que

precisam ser admitidos em terapias intensivas.

No Hospital Geral de Itapecerica da Serra, a gestante de alto risco é encaminhada ao hospital para o pré-natal e/ou para o parto. O recém-nascido de alto risco que porventura nasça nos centros de abrangência da regionalização da assistência é recebido pela unidade neonatal do hospital, o que está de acordo com o preconizado na literatura, ou seja, o melhor atendimento para o RN externo é o oferecido pela equipe materno-infantil do hospital de referência e não por serviços com pouca experiência no atendimento perinatal, como os de UTI Pediátrica(32,33).

No período, a maior parte dos admitidos na UTIN do hospital de estudo foi de origem interna, sendo somente 12% de origem externa, mas em ambos os grupos a maioria era constituída por prematuros e recém-nascidos de baixo peso. Na Rede Neonatal Canadense, 65% de todos os RN admitidos nos centros de referência foram prematuros e 98% das mães izeram o pré-natal(31). Para os autores canadenses, o

(7)

realizado, mas somente 30% delas compareceram a seis ou mais consultas pré-natais.

A incidência de infecção hospitalar na UTIN do estu-do foi 30,6%. A taxa de infecção precoce foi 9,7% e a de infecção tardia, 21%. Relatos de outros autores brasileiros mostraram incidência de infecção hospitalar variável de 18,9 a 57,7%(5,6,12,13).Para autores americanos e europeus, a taxa de

infecção varia de 8,4 a 26%(7-11). Nenhum desses relatos foi

feito em condições similares àquelas encontradas na UTIN do estudo, ou seja, não admitiam recém-nascidos externos.

A principal infecção veriicada foi a sepse, seguida da pneu-monia, o que está de acordo com a literatura(5,7,9,14). Quanto ao

peril do agente etiológico, observou-se que o mais frequente entre os internos e os externos foi o Staphylococcus coagulase negativo, seguido dos bacilos Gram-negativos e pelos fungos, achado este que também está de acordo com o observado na literatura(5-9,14,15). Entretanto, analisando a proporção de

agentes isolados nos dois grupos, encontrou-se Pseudomonas

spp. e Enterobacter spp. mais frequentemente em pacientes

externos, germes habitualmente de origem hospitalar. No estudo de Ceccon(30), realizado em 1999, a análise de agentes

etiológicos na sepse neonatal em recém-nascidos externos

mostrou, igualmente, o Staphylococcus coagulase negativo

como o mais isolado (25,8%), havendo predominância de germes hospitalares provavelmente pela sobrevida de neona-tos de muito baixo peso com grande tempo de permanência em unidade de terapia intensiva neonatal.

O tempo de permanência na UTIN é um dos principais fatores de risco para colonização e infecção por germes hospitalares(7,8,13,30). O contato precoce com a mãe e o

aleita-mento materno promovem a colonização do recém-nascido por microrganismos da lora materna, protegendo-o, em parte, contra a colonização pelos germes hospitalares(26,28,29).

A diferença no tempo de permanência na UTIN do estudo entre RN internos e externos, em média 3,5 dias maior para os externos, diicilmente poderia contribuir para a

proporção maior de infecções hospitalares associadas à

Pseu-domonas e Enterobacter nos externos. É possível que alguns

desses bebês externos tenham sido colonizados e infectados por microrganismos dos locais de origem, em particular aqueles transferidos mais tardiamente. Outro aspecto seria o menor contato da mãe com os RN externos, diferente dos que nasceram no hospital, uma vez que o contato entre mãe e ilho é estimulado na unidade de estudo, mesmo para os internados na UTIN.

Portanto, os RN externos não apresentaram mais episódios de infecção do que os internos, mas os agentes

etiológicos das infecções tardias, com exceção do

Staphylo-coccus coagulase negativo, foram diferentes, indicando não

haver transmissão dos agentes entre os grupos de neonatos. Possivelmente, a política de controle de infecção hospitalar adotada pela unidade neonatal, ou seja, a manutenção das precauções de contato para os bebês externos internados com mais de 48 horas de vida, tenha sido importante para prevenir possíveis riscos de transmissão da infecção prove-niente dos RN externos.

A prática clínica dos proissionais de saúde e a infra-estrutura para assistência podem interferir nas taxas de infecção e mortalidade para o paciente internado, indepen-dentemente do local do nascimento(4,10-12,27,28,30-33). Assim, a

vigilância epidemiológica das infecções hospitalares é uma

ação fundamental para sua prevenção(11,29,34). Na Alemanha,

a participação de 24 hospitais com UTIN no programa de vigilância nacional de infecção hospitalar, que oferecia análise e divulgação dos dados e fóruns para se discutirem problemas de vigilância e medidas de prevenção, promoveu a redução da infecção da corrente sanguínea nos neonatos com peso menor que 1500g de 8,3 infecções por 1.000 cateteres/dia no primeiro ano para 6,4 no terceiro ano do programa(11) .

Shah et al(33), em 2005, demonstraram que RN externos,

com menos de 32 semanas de idade gestacional, admitidos em hospitais pediátricos tiveram risco maior de morte (OR 2,25; IC 95%=1,20-4,20) e de infecção (OR 2,48; IC 95%=1,64-3,73), comparados àqueles admitidos em UTIN, após ajustes dos riscos perinatais e gravidade à admissão.

Uma das principais limitações de nosso estudo é o viés de recordação, em especial das mães dos recém-nascidos ex-ternos, que não izeram pré-natal na instituição e, portanto, podem ter seus dados de intercorrências subestimados. Os dados neonatais, coletados nos prontuários, inclusive para o cálculo do índice da gravidade, foram feitos de modo retros-pectivo, mas uma das vantagens do NTISS é justamente a possibilidade de coleta retrospectiva de dados. Embora esse escore tenha uma acurácia diminuída em relação àqueles que utilizam dados isiológicos para prever óbitos, é um bom marcador de gravidade e está associado à ocorrência

de infecção hospitalar(20). O número bem menor de RN

(8)

estudo de coorte como o aqui apresentado, seriam neces-sários 750 recém-nascidos no grupo externo e 5.250 no grupo interno.

Se medidas eicientes de prevenção das infecções hospi-talares forem adotadas, pode-se recomendar que, quando a transferência da gestante para um centro perinatal não é possível, esforços devem ser feitos para que os neonatos sejam transferidos para centros perinatais, principalmente aqueles com menos de 28 semanas de idade gestacional, os mais vulneráveis e que sofrem mais com os cuidados inadequados(26,32,35), uma vez que o local mais adequado

para a assistência ao recém-nascido é a unidade neonatal(33).

Já para as infecções hospitalares, a melhor abordagem é a prevenção com consistência e persistência para reduzir a

sua incidência, isto é, adoção de um programa eicaz de vigilância e controle da infecção.

Neste estudo, não houve diferença estatística na incidência de infecção hospitalar precoce e tardia e quanto ao agente etiológico predominante da infecção hospitalar tardia nos recém-nascidos internos e externos. Deve-se ter cuidado ao transpor esses dados para outras unidades neonatais, uma vez que as características da unidade e do controle de infecção hospitalar podem ser diferentes.

Agradecimentos

Aos colaboradores do Hospital Geral de Itapecerica da Serra, Seconci-SP OSS.

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