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Código de conduta: uma potencialidade para o desenvolvimento sustentável da floricultura do Agropolo Cariri/CE

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS

EXATAS

GIRLAINE SOUZA DA SILVA ALENCAR

CÓDIGO DE CONDUTA: UMA POTENCIALIDADE

PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA

FLORICULTURA DO AGROPOLO CARIRI/CE

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GIRLAINE SOUZA DA SILVA ALENCAR

CÓDIGO DE CONDUTA: UMA POTENCIALIDADE

PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA

FLORICULTURA DO AGROPOLO CARIRI/CE

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Geografia.

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Elisa Contri Pitton

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GIRLAINE SOUZA DA SILVA ALENCAR

CÓDIGO DE CONDUTA: UMA POTENCIALIDADE

PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA

FLORICULTURA DO AGROPOLO CARIRI/CE

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Geografia.

Comissão examinadora

__________________________________________

Profa. Dra. Sandra Elisa Contri Pitton (Orientadora)

__________________________________________ Profa. Dra. Roseana Corrêa Grilo

__________________________________________ Prof. Dr. João Medeiros Tavares Júnior

__________________________________________ Prof. Dr. Antônio Carlos Tavares

__________________________________________ Profa. Dra. Iara Regina Nocentini André

Rio Claro- SP, 16 de Abril de 2013.

(5)

A Deus, Senhor de todas as coisas, dedico mais esta conquista. A Hugo, meu marido, pelas contribuições, apoio e carinho dado em dobro os nossos filhos nas minhas ausências.

(6)

AGRADECIMENTO

A minha orientadora, Profa. Dra. Sandra Elisa Contri Pitton, pela dedicação e pelas inestimáveis contribuições para o aprimoramento deste trabalho.

Aos professores Dra. Iára Regina Nocentini André e Dr. Antônio Carlos Tavares pelas ricas contribuições na Qualificação desta tese.

Aos professores da Pós-Graduação do IGCE, pela atenção prestada durante e após as aulas, especialmente ao Prof. Dr. João Afonso Zavattini pelo fornecimento de material sobre Climatologia.

Ao Reitor do IFCE, o Prof. Cláudio Ricardo Gomes de Lima, pelo empenho para a consolidação do convênio IFCE/UNESP Rio Claro, sem o qual não seria possível a realização desta capacitação.

A Sandra Sartori, Rosemeide Franchin e Vera Lúcia de Almeida, secretárias dedicadas, meu abraço e meus sinceros agradecimentos.

Aos trabalhadores do setor da floricultura do Agropolo Cariri/CE, pela oportunidade de realizarmos este trabalho juntos.

A Rita de Cássia Feitosa e Raimunda Felipe, por me ajudarem a contar a história da floricultura do Cariri.

Aos meus colegas do doutorado, em especial Benedita Lopes Rocha e Severina Gadelha, pelo companheirismo e amizade.

Aos bolsistas Paulina Moreno, bolsista e Cícero Antônio Amorim dos Santos, que muito contribuíram na elaboração dos mapas desta tese.

A Damiana Benjamin pelas contribuições na formatação de fotos e mapas.

A coordenação e aos bolsistas do setor de informática do IFCE Campus Juazeiro do Norte pelos constantes ajustes nos computadores do Laboratório.

Aos motoristas do IFCE Campus Juazeiro do Norte pelas viagens em busca das propriedades de flores do Agropolo Cariri/CE.

(7)

“Cabe ao Homem compreender que o solo fértil,

onde tudo o que se planta dá, pode secar.

Que o chão que dá frutos e flores,

pode dá ervas daninhas.

Que a caça se dispersa

e a “Terra da fartura” pode se transformar

na “Terra da penúria e da destruição”.

O Homem precisa entender

que da sua boa convivência com a Natureza

depende a sua subsistência

e que a destruição da Natureza

é a sua própria destruição.

Pois a sua essência é a Natureza,

a sua origem

e o seu fim.”

(8)

RESUMO

O estado do Ceará tem se destacado no âmbito nacional como um importante produtor e exportador de flores e plantas ornamentais. O Agropolo Cariri/CE, devido às condições edafoclimáticas adequadas a esta atividade e aos incentivos do governo também tem expandido a sua produção. Entre os anos de 2000 e 2010 a área plantada evoluiu 1.837,29%. Entretanto, o setor da floricultura, assim como as demais atividades produtivas, gera impactos ambientais que devem ser bem gerenciados, especialmente nesta região devido à suscetibilidade de contaminação do lençol freático por insumos químicos, pelo fato da sua formação geológica ser essencialmente sedimentar. Estudos realizados nesta região apontam a necessidade de um gerenciamento ambiental no setor, especialmente no controle do uso de agrotóxicos e fertilizantes e saúde e segurança dos trabalhadores. Esta pesquisa foi realizada nas quatro cidades do Agropolo Cariri/CE que têm base produtiva organizada no setor da floricultura: Barbalha, Crato. Jardim e Juazeiro do Norte. E teve como objetivo sistematizar de um Código de Conduta para o setor no sentido de amenizar os impactos socioambientais gerados pela atividade. Para isto, foram utilizadas como parâmetros as exigências dos programas de rotulagem socioambiental Milieu Programma Sierteelt – MPS e EUREPGAP Flowers and Ornamentals Version 1.1-Jan04 e da Legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola. O levantamento das propriedades foi feito junto aos órgãos de assistência técnica (EMATERCE, Instituto Agropolos e SEBRAE/CE) e associações de produtores. Em seguida foram feitas expedições para localização das propriedades e aplicação dos formulários para levantamento de dados sobre a realidade do setor. Posteriormente realizou-se uma comparação entre a realidade da floricultura da região em estudo e a produção sustentável. Os instrumentos utilizados foram: conversas informais e entrevistas com produtores, levantamento bibliográfico, filmagens e registro fotográfico. Constatou-se que a situação do setor da floricultura do Agropolo Cariri/CE é de extrema vulnerabilidade, principalmente referente à saúde e segurança dos trabalhadores, uso e manuseio de agrotóxicos e fertilizantes. Foi sistematizado um Código de Conduta que tem o objetivo de minimizar os impactos socioambientais do setor. Entretanto, é indispensável à participação de todos os agentes envolvidos na sua gestão e principalmente dos consumidores exigindo produtos gerados dentro de critérios sustentáveis.

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ABSTRACT

The state of Ceará has grown nationally as a leading producer and exporter of flowers and ornamental plants. The Agropolo Cariri/CE has also expanded its production, due to suitable soil and climatic conditions for this activity and also government incentives. Between the years of 2000 and 2010 the area planted grew 1.837,29%. However, the floriculture sector, as well as other productive activities, makes environmental impacts that must be well managed, especially in this region, for its geological formation is essentially sedimentary, which makes it susceptible to groundwater contamination by chemicals. Research conducted in this region showed the necessity for an environmental management in this sector, especially in controlling the use of pesticides and fertilizers as well as the health and the safety of workers. This research was undertaken in the four cities which compose the “Agropolo Cariri/CE” and which have organized production based on the floriculture sector Barbalha, Crato. Jardim and Juazeiro do Norte. This study aimed at systematize a Code of Conduct for the sector in order to mitigate the environmental impacts generated by the activity. In order to achieve this objective, the requirements environmental labeling programs Milieu Programma Sierteelt - MPS and EUREPGAP Flowers and Ornamentals Version 1.1-Jan04 have been used as parameters. So have been the requirements of Brazilian legislation, which are related to the agricultural sector. The survey to find out the number of properties was conducted in the organs of technical assistance (EMATERCE, Institute Agropolos and SEBRAE/CE) and in the producer associations. Then expeditions were made to locate the properties and to apply forms in order to collect data on the reality of the sector. Later it was made a comparison between the reality of floriculture in the region under study and the sustainable production. The following data collection instruments were used: informal conversations and interviews with producers, review of literature, film and photographic record. It was found that the situation of the floriculture sector Agropolo Cariri/CE is of extreme vulnerability, especially regarding the health and safety of workers and the use and handling of pesticides and fertilizers. Was systematized a Code of Conduct which aims at minimizing the environmental impacts of the sector. However, it is vital the participation of every party involved in the sector management and especially consumers demanding products generated within sustainable criteria.

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fluxograma de desenvolvimento da tese... 20 Figura 2: Localização das propriedades de flores e plantas ornamentais

do Agropolo Cariri/CE...

22

Figura 3: Localização das propriedades envolvidas na pesquisa... 23 Figura 4: Uso indiscriminado de agrotóxicos na floricultura do Ceará.... 35 Figura 5: Localização dos principais países importadores da floricultura

no mundo...

37

Figura 6: Localização dos principais países exportadores da floricultura no mundo...

39

Figura 7: Distribuição percentual da área cultivada com flores e plantas ornamentais no Brasil, por técnica de produção...

40

Figura 8: Principais destinos dos produtos da floricultura cearense em 2011...

42

Figura 9: Evolução da área cultivada com produtos da floricultura no Ceará...

42

Figura 10: Aumento do consumo de flores no estado do Ceará... 43 Figura 11: Tempo gasto no transporte dos produtos da floricultura

cearense até os principais mercados importadores...

44

Figura 12: Localização do Agropolo Cariri/CE e delimitação do pólo produtor da floricultura investigado...

62

Figura 13: Localização dos Agropolos produtores de flores no estado do Ceará...

66

Figura 14: Evolução da área plantada com produtos da floricultura no Ceará, por pólo produtor...

67

Figura 15: Médias mensais das precipitações do Agropolo Cariri/CE (1974-2009)...

69

Figura 16: Médias anuais das precipitações do Agropolo Cariri/CE (1974-2009)...

70

Figura 17: Precipitação anual dos municípios produtores de flores e plantas ornamentais (1974-2009)...

71

(11)

plantas ornamentais (1974-2009)... Figura 19: Temperaturas média, máxima e mínima mensais dos

municípios produtores de flores e plantas ornamentais (1974-2009) ...

73

Figura 20: Perfil da Chapada do Araripe... 74

Figura 21: Formação geológica do Agropolo Cariri/CE... 75

Figura 22: Ordens de solo do Agropolo Cariri/CE... 76

Figura 23: Cronologia da floricultura do Agropolo Cariri/CE... 80

Figura 24: Prepraração do solo e da estufa demonstrativa de Gérbera (Gerbera sp) da Associação Condomínio Rural Santo Antônio de Crato – Crato/CE... 83 Figura 25: Detalhes da construção de estufas da Associação Condomínio Rural Santo Antônio de Crato – Crato/CE... 83 Figura 26: Evolução da área plantada com flores e plantas ornamentais (2000-2010)... 85 Figura 27: Produtos da floricultura: mudas de Minilacre (A1) e Samambaia (A2) – Barbalha/CE; estufa com mudas de Gérbera (B1) e Helicônias (B2) – Crato/CE; mudas de Palmeira (C1) e Coqueiro (C2) – Juazeiro do Norte/CE; mudas de Cróton (D1) e Orquídea (D2) – Jardim/CE... 87 Figura 28: Pessoas envolvidas no setor da floricultura, por sexo ... 88

Figura 29: Nível de escolaridade dos produtores e trabalhadores... 88

Figura 30: Distribuição do pessoal envolvido no setor da floricultura segundo as relações de trabalho... 89 Figura 31: Técnicas de cultivo: telado, estufa, sombreamento natural e campo aberto... 89 Figura 32: Distribuição percentual por técnicas de cultivo... 90

Figura 33: Fontes de água para irrigação... 91

Figura 34: Tecnologias utilizadas para irrigação... 91

Figura 35 Localização dos fornecedores de material vegetativo... 92

Figura 36: Principais espécies cultivadas... 93

Figura 37: Localização dos principais mercados consumidores ... 93

(12)
(13)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Países produtores de flores e plantas ornamentais na Europa, área e custo de produção...

38

Quadro 2: Procedimentos Padrões de operação do EUREPGAP recomendado pela Europa e USA...

55

Quadro 3: Síntese das exigências do MPS, do EUREPGAP e da legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola...

56

Quadro 4: Agropolos, municípios produtores de flores e plantas ornamentais e seus produtos...

67

Quadro 5: Características edafoclimáticas dos Agropolos produtores de flores e plantas ornamentais no Ceará...

68

Quadro 6: Caracterização das fontes dos pólos produtores de flores do Agropolo Cariri/CE...

75

Quadro 7: Descrição dos principais tipos de solos que ocorrem no pólo produtor de flores e plantas ornamentais do Agropolo Cariri/CE...

76

Quadro 8: Relação de agrotóxicos utilizados na floricultura do Agropolo Cariri/CE...

96

Quadro 9: Realidade do setor da floricultura do Agropolo Cariri/CE em relação às exigências do MPS, EUREPGAP Flowers and Ornamentals e da legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola...

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 14

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 18

2.1 Definição e elaboração dos instrumentos de coleta de dados ... 21

2.2 Levantamento das propriedades de flores e plantas ornamentais do Agropolo Cariri/CE, georreferenciamento e elaboração de mapas ... 22 2.3 Aplicação e resultado do pré-teste... 23

2.4 Aplicação do Formulário II... 23

2.5 Elaboração de gráficos e quadros... 24

2.6 Análise e interpretação dos dados coletados... 24

3 A PERSPECTIVA AMBIENTAL SOB DIFERENTES TEMPOS E ABORDAGENS ... 25 3.1 Ambientalismo no mundo e sua evolução ... 27

3.2 A produção agrícola sob a perspectiva da sustentabilidade ambiental.... 31

4 A FLORICULTURA NO MERCADO MUNDIAL E REGIONAL. 37 4.1 O mercado mundial de flores... 37

4.2 A floricultura no Ceará... 41

5 DA ADMINISTRAÇÃO ECOLÓGICA À ROTULAGEM AMBIENTAL NO CONTEXTO DA FLORICULTURA... 45 5.1 O Milieu Programma Sierteelt - MPS ... 50

5.2 O EUREPGAP Flowers and Ornamentals ... 52

5.3 A legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola... 56

6 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO... 61

6.1 Os Agropolos ... 65

6.2 O Agropolo Cariri ... 69

7 A FLORICULTURA NO AGROPOLO CARIRI/CE E SITUAÇÕES ENCONTRADAS ... 78 7.1 O início da floricultura ... 78

7.2 Situações encontradas... 85

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 101

REFERÊNCIAS.... 108

(15)

do Agropolo Cariri/CE...

APÊNDICE B: Formulário II - Levantamento de informações sobre a produção de flores e plantas ornamentais do Agropolo Cariri/CE...

119

APÊNDICE C: Produtos da floricultura do Agropolo Cariri/CE... 125

APÊNDICE D: Minuta do Código de conduta para o setor da floricultura do Agropolo Cariri/CE... 129 APÊNDICE E: Checklist para auditoria do Código de Conduta da floricultura do Agropolo Cariri/CE... 133 APÊNDICE F: Formulário de controle do consumo de agrotóxicos... 136

APÊNDICE G: Formulário de controle do consumo de fertilizantes... 137

APÊNDICE H: Formulário de controle do consumo de água... 138

APÊNDICE I: Formulário para relatório mensal do consumo de agrotóxicos, fertilizantes, água e energia... 139 ANEXO A: Decreto 4.074 de 04/01/2002... 140

ANEXO B: Decreto 23.705 de 08/06/1995... 141

ANEXO C: ABNT NBR 9.843: 2004... 142

ANEXO D: Lei 9.456 de 25/04/1997... 147

ANEXO E: Resolução nº 357 do CONAMA... 148

ANEXO F: NR 31 ... 155

(16)

1 INTRODUÇÃO

A partir da segunda metade do século XX, o setor agrícola teve um intenso desenvolvimento tecnológico, com o objetivo de aumentar a produção. Entretanto, esta “revolução tecnológica” incluiu o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes, causando muitos impactos ambientais como a contaminação do solo, da água e dos trabalhadores.

Com a intensificação do movimento ambientalista a partir da década de 1980, começou-se a discutir os padrões de consumo e, na década de 1990, aumentou a demanda por produtos gerados dentro de critérios sustentáveis, surgindo um novo nicho de mercado: o de produtos verdes, e com eles a rotulagem ambiental.

A rotulagem ambiental diferencia os produtos e os preços, melhora a competitividade, aumenta o compromisso dos produtores com as questões ambientais e trabalhistas e assegura o mínimo de impacto ambiental na sua geração. Esses rótulos abrangem todos os tipos de produtos, dentre eles: papéis, móveis, lâmpadas, produtos agrícolas, baterias, equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos.

Em relação ao setor da floricultura, o primeiro rótulo ambiental surgiu em 1993, na Holanda, devido a denúncias sobre problemas gerados pela atividade, principalmente relacionados ao uso excessivo de água e a utilização de agrotóxicos. Este foi um marco na rotulagem ambiental do setor, pois a partir desse rótulo, surgiram outras iniciativas por parte dos países produtores de flores e plantas ornamentais.

A partir do ano 2000 houve uma diminuição da área plantada com flores na Europa devido aos elevados custos de produção e a adequação dos aeroportos de países como Colômbia, Equador, Brasil e países da África, com câmaras frigoríficas para o escoamento da produção.

Nesses países, as condições ambientais são mais adequadas ao cultivo (água, solo e clima), a mão de obra é abundante e os custos de produção não sofrem variações significativas durante o ano. Assim, a floricultura pôde se expandir nessas regiões sem a perda da qualidade dos produtos.

(17)

plantas ornamentais em várias regiões do estado como o Maciço de Baturité (Sertão Central), Agropolo Metropolitano (Extremo Norte), Agropolo Ibiapapa (Oeste) e o Agropolo Cariri (Extremo Sul), como se observa na figura 9.

Contudo, a floricultura como qualquer atividade agrícola gera externalidades negativas, por isto faz-se necessário um estudo dos impactos socioambientais gerados por este incremento da produção.

Neste pensamento, é que se defende a tese de que, um Código de Conduta para a floricultura do Agropolo Cariri/CE além da geração de emprego e renda, trará melhoria da qualidade de vida para o pequeno produtor rural.

A justificativa para a escolha deste tema foram estudos realizados por Alencar (2006) no Agropolo Cariri/CE e os conhecimentos adquiridos durante a execução dos projetos de pesquisa intitulados: “Diagnóstico da floricultura do Agropolo Cariri/CE” e “Análise da floricultura do Agropolo Cariri/CE”.

A partir desses estudos, da experiência como coordenadora de projeto de pesquisas na região, que permitiu visitas frequentes às áreas pesquisadas, da observação in loco das etapas do processo produtivo e entrevistas com produtores e trabalhadores do setor, surgiram alguns questionamentos:

• Como a adoção de um Código de Conduta pelos floricultores do Agropolo Cariri/CE poderá melhorar da qualidade de vida dos trabalhadores?

• A adoção de critérios de gerenciamento sustentável pelos floricultores do Agropolo Cariri/CE trará benefícios para os consumidores e para o meio ambiente?

Com base nestas indagações e sob a ótica da produção sustentável, esta tese teve como objetivo geral sistematizar um Código de Conduta que possibilite a rotulagem socioambiental dos produtos da floricultura do Agropolo Cariri /CE, tendo como parâmetros programas de rotulagem ambiental e a legislação que dispõe sobre o setor agrícola.

Estabeleceram-se como objetivos específicos para esta investigação:

(18)

• Identificar os problemas ligados à saúde e segurança dos trabalhadores do setor da floricultura no Agropolo Cariri/CE com base nos programas de rotulagem ambiental e na legislação que dispõe sobre o setor agrícola.

• Identificar processos sustentáveis de produção de flores no Agropolo Cariri, correlacionando-os aos programas de rotulagem ambiental existentes.

• Gerar informações que possam subsidiar a elaboração de um Código de Conduta visando à rotulagem socioambiental dos produtos da floricultura do Agropolo Cariri, como forma de reduzir os impactos gerados por essa atividade.

Neste estudo, adotou-se o estudo de caso com abordagem qualitativa contando com o auxílio de dados quantitativos, aos quais vieram auxiliar a compreensão da realidade investigada.

Para o alcance dos objetivos realizou-se:

• Levantamento bibliográfico de modo a fundamentar a análise dos fatos e dados; • Análise de leis e documentos referentes aos processos de rotulagem ambiental e às exigências da Legislação para o setor agrícola brasileiro;

• Levantamento de dados oficiais do setor da floricultura;

• Uso da geotecnologia como ferramenta importante para a apresentação das informações relativas ao lugar;

• Uso da geomorfologia da região em estudo, por meio de mapas e dados climáticos; • Filmagem e registros fotográficos dos processos produtivos.

Este trabalho está organizado em sete capítulos. Após a Introdução, no segundo capítulo, são abordados os procedimentos metodológicos realizados nesta pesquisa.

O terceiro fala da perspectiva ambiental sob diferentes tempos e abordagens, com ênfase no ambientalismo no mundo e sua evolução, do surgimento do mercado verde e da importância da globalização para adequação das empresas frente às novas exigências. E também sobre a produção agrícola na perspectiva da sustentabilidade ambiental, na visão de teóricos e estudiosos como Veiga, Guterres e Márquez, dentre outros. A rotulagem ambiental no contexto da floricultura é o tema do quarto capítulo o qual descreve os impactos socioambientais causados pela atividade, o surgimento da rotulagem ambiental e os principais certificados do setor.

(19)

(IBRAFLOR), da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM) e da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE), dentre outros. Além de informações coletadas pelos produtores sobre o início da floricultura na região.

No sexto capítulo caracterizou-se a região estudada: localização geográfica, regime pluviométrico, temperatura, aspectos edáficos e formação geológica, hidrografia e principais limitações como forma de delimitar o espaço geográfico onde acontecem as relações sociais, política e econômica do Agropolo nele instalado. O sétimo capítulo tratou dos resultados encontrados, essência desta investigação, que geraram informações às quais subsidiaram a elaboração do Código de Conduta para o setor da floricultura do Agropolo Cariri, objeto de estudo deste trabalho de pesquisa. As Considerações e as referências utilizadas finalizam este trabalho, assim como os apêndices e anexos completam o presente documento.

(20)

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo foram discutidas as bases metodológicas, os materiais e procedimentos utilizados na elaboração da pesquisa e os caminhos adotados nesta investigação.

A metodologia permite a compreensão dos caminhos a serem seguidos e os instrumentos a serem utilizados para que a pesquisa seja eficiente, conforme afirma Castro (2006): “[...] o objetivo da metodologia é o de compreender, nos seus termos mais amplos, não os produtos da pesquisa, mas o próprio processo” (p. 31). Através dela, podem-se definir os métodos mais adequados para se chegar ao objetivo da pesquisa. Segundo Ruiz (1991) a palavra método “[...] significa o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos ou na procura da verdade” (p. 131).

Em relação à natureza desta pesquisa, optou-se por um estudo de caso com abordagem qualitativa, pois para atingir os objetivos propostos nesta tese, foi necessária a compreensão de todo o processo produtivo. Silva e Menezes (2001) afirmam que o estudo de caso é um procedimento técnico que permite o estudo profundo e exaustivo de objetos de maneira que haja o amplo e detalhado conhecimento dos mesmos.

Em relação à abordagem qualitativa Godoy (1995, p.2) assegura que:

[...] um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando ‘captar’ o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno.

Desta forma, os dados levantados permitiram o conhecimento das etapas do processo produtivo do setor da floricultura da região em estudo, tornando possível atingir os objetivos propostos.

(21)

relacionadas às exigências dos programas de rotulagem ambiental Milieu Programma Sierteelt – MPS e EUREPGAP Flowers and Ornamentals Version 1.1-Jan04 e da Legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola.

Para seleção das propriedades utilizadas nesta pesquisa, foram estabelecidos dois critérios, são eles: propriedades com área de produção igual ou superior a dois mil metros quadrados, pois em áreas menores não se observa a estrutura física necessária às exigências dos certificados utilizados nesta pesquisa, como banheiros e depósito de insumos.

Considerou-se como área de produção toda a estrutura da propriedade necessária ao cultivo de flores: packing house (casa de embalagem), escritório, banheiros, depósito de insumos, estufas, canteiros, áreas de circulação e reservatórios de água.

O outro critério foi que na propriedade tivesse pelo menos um trabalhador, em virtude dos certificados considerarem além dos aspectos ambientais, aspectos ligados à saúde e segurança. Dessa forma, foi possível o levantamento de dados a respeito das condições de trabalho às quais eles são submetidos.

Estes certificados foram escolhidos devido à credibilidade dos mesmos no mercado internacional e por atenderem às exigências dos dois principais mercados consumidores da floricultura cearense: o europeu e o norte americano.

(22)

Figura 1 – Fluxograma de desenvolvimento da tese. Elaborado por Alencar, 2013.

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2.1 Definição e elaboração dos instrumentos de coleta de dados

Em relação à técnica de coleta de dados, optou-se pelo formulário devido a sua utilização ser possível em grupos heterogêneos, possibilitar a inclusão de observações e por contar com a presença do pesquisador, garantindo o melhor entendimento possível na coleta dos dados, como asseveram Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 53):

O formulário é uma lista informal, catálogo ou inventário, destinado a coleta de dados resultantes quer de observações quer de interrogações, e seu preenchimento é feito pelo próprio investigador.

Entre as vantagens que o formulário apresenta, podemos destacar a assistência direta do investigador, a possibilidade de comportar perguntas mais complexas e a garantia da uniformidade dos dados e dos critérios pelos quais são fornecidos. [...] pode ser aplicada a grupos heterogêneos, inclusive analfabetos, o que não ocorre com o questionário.

Foram elaborados dois formulários: o Formulário I (APÊNDICE A) para o levantamento de dados preliminares sobre o setor da floricultura da região pesquisada e seleção das propriedades a serem estudadas. E o Formulário II (APÊNDICE B), que possibilitou o levantamento de informações sobre o setor. Esse instrumento foi baseado em um cheklist, elaborado por Alencar (2006) que fez estudos nesta região sobre rotulagem ambiental, nas exigências dos certificados que nortearam este estudo e na Legislação brasileira que dispõe sobre o setor agrícola.

Para localização das vias de acesso, utilizaram-se mapas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) e da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH).

Foi realizado o georreferenciamento das propriedades para a criação das representações cartográficas dos mapas utilizadas nesta tese, utilizando-se o GPS Garmin modelo eTrex Vista H, mapas da base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e COGERH, dentre outras e os sotwares PhilCarto módulo Basic e ArcGIS Versão 9.3, para a elaboração dos mapas.

(24)

2.2 Levantamento dos produtores de flores e plantas ornamentais do Agropolo Cariri/CE, georreferenciamento e elaboração de mapas

O levantamento das propriedades foi realizado em três etapas:

A primeira consistiu no levantamento dos produtores junto à Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (EMATERCE), ao Instituto Agropolos, ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/CE) e à Associação de Produtores de Flores e Planta Ornamentais CaririFlora.

Na segunda etapa foram realizadas várias expedições entre os meses de março e junho de 2010 para aplicação do Formulário I. Nessa oportunidade foi feita localização das propriedades e levantamento de suas coordenadas para a criação dos mapas utilizados nesta tese.

Após a análise dos dados coletados, as propriedades foram localizadas nos municípios de Barbalha, Crato, Jardim e Juazeiro do Norte (Figura 2).

Figura 2 - Localização das propriedades de flores e plantas ornamentais do pólo produtor do Agropolo Cariri/CE.

Fonte: IBGE – 2011. Elaborado por Alencar, 2013.

Foram selecionadas para este estudo apenas oito propriedades por atenderem aos critérios estabelecidos (Figura 3).

(25)

Figura 3 - Localização das propriedades envolvidas na pesquisa. Fonte: IBGE – 2011.

Elaborado por Alencar, 2013.

Na terceira etapa, foi aplicado o Formulário II nos meses de setembro e outubro de 2010 em função de anteceder uma das maiores demandas anuais de flores do Agropolo Cariri/CE que é o feriado de 2 de novembro, dia de finados.

Nessa oportunidade foram feitos registros fotográficos e filmagens. Os dados e informações obtidos subsidiaram a elaboração dos textos e das figuras deste trabalho.

2.3 Aplicação e resultado do pré-teste

O Formulário II foi aplicado aos responsáveis pelas sete propriedades que não atenderam aos critérios estabelecidos nesta pesquisa, a fim de se comprovar a sua fidedignidade, validade e operatividade, premissas indispensáveis a um instrumento de pesquisa. O resultado do pré-teste foi satisfatório e não houve necessidade de ajustes.

2.4 Aplicação do Formulário II

O Formulário II foi aplicado aos responsáveis das oito propriedades selecionadas para esta pesquisa e, nesta oportunidade, também foram realizadas conversas informais com os trabalhadores.

(26)

2.5 Elaboração de gráficos e quadros

No decorrer da pesquisa foram elaborados gráficos e quadros que contribuíram para a caracterização dos aspectos edáficos e climáticos da região, localização das propriedades e dados gerais do setor da floricultura da área de estudo.

2.6 Análise e interpretação dos dados coletados

(27)

3 A PERSPECTIVA AMBIENTAL SOB DIFERENTES TEMPOS E ABORDAGENS

O estudo da história e da filosofia retrata que a partir do momento em que o Homem passou a estabelecer um valor para as mercadorias, começou a extrair da natureza o máximo possível não levando em consideração os impactos causados por essa atitude.

Até o século V a.C. filósofos gregos do período pré-socrático aglutinavam homem e natureza em um só contexto: eram indissociáveis. Posteriormente, os pensadores gregos passaram a valorizar o Homem e suas idéias em contraposição à natureza, tornando-a elemento secundário no processo de desenvolvimento da sociedade (GIANSANTI, 1998).

O estabelecimento da visão antropocêntrica de mundo instalou-se a partir do pensamento judaico-cristão, dando ao homem o posto de senhor da natureza, permitindo que ele a dominasse e a explorasse. Esse pensamento deixa claro que a natureza é um recurso, um bem a ser apropriado pelos homens. Visão esta disseminada, também, por Descartes.

Na visão cartesiana, além do antropocentrismo outro ponto é fundamental na relação homem-natureza: o caráter utilitário, onde admite que a natureza foi concebida para servir ao homem, reafirmando a oposição entre a natureza e o homem. O homem seria superior a todos os elementos naturais ou inanimados.

Nessa perspectiva, quando os europeus conquistavam novas terras e se deparavam com nativos que adoravam elementos da natureza eles os comparavam a animais ou quando encontravam povos de religiões diferentes que respeitavam a vida dos animais e até dos insetos, os tratavam com desdém. Thomas (1996) afirma que esta era a visão dominante em toda a sociedade européia nos séculos XVI a XVIII.

Com o advento da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, a produção passou a ser a geradora de riqueza e o desenvolvimento estreitamente ligado ao domínio da natureza (SILVA, 2006), “gerando a necessidade de incrementar a eficiência produtiva e o âmbito natural” (LEFF, 2007, p. 23).

Silva (2006, p. 23) corrobora com esta afirmação enfatizando que houve uma sucessão de fatos nessa transição, criando uma nova realidade econômica que refletiu na relação homem/natureza.

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grande mudança na concepção de natureza, passando de um todo orgânico para uma simples idéia mecanicista e materialista, que produziu efeitos que ainda hoje perduram, notadamente sobre a atitude das pessoas em relação ao meio ambiente natural.

A partir deste período, os recursos naturais passaram a ser vistos como matérias-primas para geração de novos produtos, dissociando a relação da sociedade com a natureza, havendo uma intensificação da degradação ambiental.

Neste contexto, a civilização estava dependendo do domínio da natureza. Assim, o homem moderno passou a antropomorfizar a natureza, para dela extrair, transformar e reprocessar materiais, instituindo-se como “senhor da terra” (grifo do autor) (CAPISTRANO, 2010).

Dessa forma, estabeleceu-se uma perspectiva materialista à produção científica e a natureza passou a ser um meio de produção e geradora de riqueza (MONTIBLLER- FILHO, 1993). As externalidades ambientais tiveram que ser internalizadas, gerando a problemática ambiental vivenciada desde as últimas décadas do século XX.

Como forma de conciliar o desenvolvimento tecnológico e a sobrevivência do Planeta, é criado um novo modelo de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável. Assim, a consciência ambiental passou a se manifestar como uma necessidade (grifo nosso) de reintegrar o homem à natureza (LEFF, 1999).

Almeida (2002, p.65) ressalta que

O processo de mudança do antigo paradigma para o novo – o da sustentabilidade – está em andamento e envolve literalmente todas as áreas do pensamento e da ação humana. [...]. Os desequilíbrios socioambientais são resultado do velho paradigma cartesiano e mecanicista, com sua visão fragmentada do mundo – o universo visto como um conjunto de partes isoladas, funcionando como um mecanismo de relógio, exato e previsível. [...]. No mundo sustentável, uma atividade [...] não pode ser pensada em separado, porque tudo está inter-relacionado, em permanente diálogo.

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3.1 O ambientalismo no mundo e sua evolução

Segundo Curi (2011), até 1960, a prioridade era a produção. As medidas para evitar acidentes como explosões e vazamentos tóxicos eram obrigações de proteção ambiental suficientes. Quando os níveis de poluição atingiam escalas insuportáveis, as indústrias eram transferidas de lugar.

A autora descreve sobre o pensamento existente nesse período:

A própria sociedade ainda não tinha uma visão holística de meio ambiente, tolerando sua depredação desde que seus efeitos fossem mantidos fora da comunidade. Aliás, ninguém se queixava muito: tinham certeza de que a “mãe natureza” estaria sempre de mãos abertas, doando seus recursos ilimitadamente. Sinônimo de progresso, a poluição era até vista com certo orgulho (grifo da autora) (p. 100).

Somente a partir da década de 1960 é que surgiram os primeiros movimentos ambientalistas, como o Clube de Roma, grupo constituído por cientistas, industriais e políticos, que tinham uma visão ecocêntrica e seu objetivo era discutir e analisar os limites do crescimento econômico, levando em conta o uso crescente dos recursos naturais.

Em 1962, Rachel Carson publica o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) no qual aborda os problemas ambientais gerados pelas atividades humanas, especificamente sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos. Essa publicação deu início ao surgimento de várias discussões a respeito do problema ambiental no mundo.

É interessante frisar que, até a década de 1970, as empresas tinham uma perspectiva passiva em relação aos aspectos ambientais, limitavam-se, apenas, a evitar acidentes locais e a cumprir normas estabelecidas pelos órgãos reguladores de poluição (MAIMON, 1996), ou seja: “poluíam para depois despoluir”. Essa prática onerava os produtos, pois necessitava de investimento em equipamentos para a despoluição. Por este motivo, os empresários consideravam as práticas de proteção ambiental incompatíveis com o crescimento econômico. Assim, os problemas ambientais eram considerados “um mal necessário” para o desenvolvimento (MOREIRA, 2001).

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crescimento da população global e do capital industrial, voltando à discussão a teoria malthusiana sobre os problemas resultantes do aumento populacional.

Esse livro foi especialmente importante para as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada no mesmo ano em Estocolmo, organizada pela Organização das Nações Unidas – ONU (VALLE, 1995). A partir desta conferência começou-se a vincular o debate do desenvolvimento à sustentabilidade.

Em 1973, Maurice Strong propôs o conceito de ecodesenvolvimento, visando um desenvolvimento alternativo das áreas rurais dos países subdesenvolvidos, cujas comunidades não se enquadravam no modelo ocidental. Esta proposta é baseada na utilização criteriosa dos recursos naturais e nas especificidades locais.

Sachs (1986) reformula o conceito de ecodesenvolvimento e o estende às zonas urbanas dos países da América Latina, dando-lhe um enfoque estratégico e multidisciplinar. Para este autor ecodesenvolvimento significa o

[...] desenvolvimento endógeno e dependente de suas próprias forças, tendo por objetivo responder à problemática da harmonização dos objetivos sociais e econômicos do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente prudente dos recursos e do meio (SACHS, apud MONTIBLLER-FILHO, 1993, p. 132).

Nos anos de 1980 aconteceram vários avanços na área ambiental, um deles foi o lançamento do documento “Estratégia mundial para conservação”, cujo objetivo foi elaborar políticas de desenvolvimento sustentável.

O relatório “Nosso futuro comum” ou “Relatório de Brundtland”, publicado em 1987, define o desenvolvimento sustentável como “aquele que atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras de atenderem às suas” (p. 9). Porém, não ficam claras quais são as necessidades básicas e comuns às sociedades. Vale salientar que caso houvesse um aumento do consumo no terceiro mundo, seria necessário sua diminuição nos países desenvolvidos para que o equilíbrio ecológico fosse mantido.

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[...] desenvolvimento remete ao desenvolvimento econômico. [...] o desenvolvimento econômico leva em conta os fatores de crescimento econômico acompanhados pela melhoria dos padrões de vida de uma população. Nesta perspectiva, consideram-se também as repercussões sociais desse processo. Entretanto, esse bem-estar social é caracterizado, de

forma geral, pela posse de bens materiais e pelo aumento da capacidade de consumo (grifo do autor).

[...]

O termo sustentável remete-nos à idéia daquilo que se pode sustentar.

Advindo das ciências naturais, diz respeito à estabilidade, ao equilíbrio dinâmico, a funcionarem na base da interdependência e da complementaridade, reciclando matérias e energias, [...](grifo do autor).

Dessa forma, Mueller (1996) acredita que a viabilidade técnica deste conceito não seja efetiva, pois o grande desafio é aliar a sustentabilidade do patrimônio natural ao desenvolvimento econômico e social.

Na perspectiva do desenvolvimento sustentável proposto pelo “Relatório de Brundtland”, para que todos tenham acesso ao consumo sem a necessidade de diminuí-lo e sem comprometer a sustentabilidade ambiental, foi sugerido um incremento nas inovações tecnológicas porque se atribuiu à pobreza o agravamento da crise ambiental e não ao consumo exagerado.

Por este motivo, Layrargues (1997) afirma que este desenvolvimento sustentável proposto, nada mais é do que uma roupagem nova ao desenvolvimento atual.

Sachs (2002, p.55) também critica este conceito asseverando que “o desenvolvimento sustentável é, evidentemente, incompatível com o jogo sem restrições das forças de mercado”. Para ele, o ecodesenvolvimento é o caminho mais apropriado para harmonização dos objetivos sociais e ecológicos se forem considerados os aspectos culturais, sociais, econômicos, políticos e ambientais, e que só será possível com a participação da comunidade local, que deve ser inclusive, recompensada pelo aproveitamento dos seus saberes.

Donaire (1995, p. 45) chama a atenção para as especificidades locais, dizendo:

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Em síntese, Almeida (2008) afirma que não há consenso em relação ao conceito de desenvolvimento sustentável devido aos interesses envolvidos.

Apesar das discussões conceituais, o desenvolvimento sustentável é um termo atual e presente nas áreas política, científica e econômica.

A despeito dos avanços na área ambiental, no que se refere à preocupação com a sustentabilidade, as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por grandes acidentes ligados ao mundo industrial em várias partes do mundo como: o vazamento químico em Seveso (Itália, 1976); os acidentes nucleares de Three Mile Island (EUA, 1979) e Chernobyl (URSS,1986); o vazamento de gazes tóxicos em Bhopal (Índia, 1984) e o vazamento do petroleiro Exxon Valdez (Alasca, 1989).

Essas catástrofes causaram o envenenamento das águas, do solo, e do ar, além de elevadas perdas humanas e materiais. Muitos deles aconteceram devido à falta de políticas de desenvolvimento nacional e internacional que preservassem a saúde dos trabalhadores e da população (MARTINE, 1993). Um fato, porém, foi importante para que os processos produtivos fossem repensados: a crise energética e do petróleo (1973 e 1979) e seus consequentes aumentos de preço (MAIMON, 1996).

Diante deste novo contexto, no final da década de 1980, surge uma nova postura nas empresas que descarta a velha perspectiva e práticas relativas ao meio ambiente, e a responsabilidade ambiental passa a ser uma necessidade de sobrevivência, constituindo um novo e promissor mercado, principalmente para aquelas empresas que almejavam o mercado internacional, especialmente, o europeu e norte americano. A partir de então essas organizações passaram a ver as práticas de conservação ambiental como uma nova oportunidade de negócio sob o ponto de vista tecnológico, organizacional e de consumo, consolidando assim, o mercado de consumidores verdes. Dessa forma,

A preservação do meio ambiente converteu-se em um dos fatores de maior influência da década de 1990, com grande rapidez de penetração de mercado. Assim, as empresas começaram a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO, 2000, p.7).

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daí, a organização responsável, cujo discurso corresponde à ação efetiva, e é capaz de transformar uma restrição ambiental em oportunidade de negócio (MAIMON, 1996).

O marco principal da década de 1990 foi a Conferência de Cúpula das Nações Unidas sobre Meio ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, no Rio de Janeiro em 1992, que consolidou o desenvolvimento sustentável e aprovou a Agenda 21. Compromisso assumido pelos chefes de Estado reunidos durante o evento, com uma série de ações relevantes para o meio ambiente, a serem desenvolvidas ao longo do século 21, tendo como ponto básico, o desenvolvimento sustentável.

A partir daí, várias ações começaram a ser desenvolvidas em diferentes partes do mundo, visando à melhoria do meio ambiente, como a implantação de sistemas de gestão ambiental e a rotulagem de produtos, a qual passou a funcionar como fator diferencial e valorizado pelo mercado globalizado (MOREIRA, 2001).

Como estabeleceu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança no Clima na RIO-92, em 1997 em Quioto, no Japão, os países em desenvolvimento tomaram a liderança no combate ao aquecimento global e foi decidido por consenso o Protocolo de Quioto. Neste acordo, os países desenvolvidos aceitaram compromissos diferenciados de redução ou limitação de emissões antrópicas do efeito estufa, entre os anos de 2008 e 2012. A redução é de pelo menos 5% no total de países desenvolvidos, em relação às emissões combinadas de gases de efeito estufa do ano de 1990.

Em 2002, foi realizada em Johanesburgo, a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável que declara o compromisso dos chefes de Estado e Governos reunidos, com a construção de uma sociedade mundial humanitária e generosa, objetivando a dignidade humana de todos os povos. Para isto, reafirmaram o compromisso para alcançar o desenvolvimento sustentável, baseado nos três pilares inseparáveis: “a proteção ao meio ambiente, o desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico a nível local, nacional, regional e mundial” estabelecidos na Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1991.

3.2 A produção agrícola sob a perspectiva da sustentabilidade ambiental

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Esses avanços no setor agrícola geraram inevitáveis alterações nos sistemas naturais devido ao emprego de técnicas “modernas” (grifo do autor) de manejo, como a motorização e mecanização pesada, e de uso intensivo de pesticidas e fertilizantes (VEIGA, 2008; SARANDON, 2002; BALSAN, 2001). Essas práticas trouxeram consequências sociais e ambientais altamente negativas, dentre elas, a poluição da água e do solo, a contaminação dos trabalhadores e a perda da biodiversidade devido ao uso indiscriminado de produtos químicos (SOARES; PORTO, 2007; PONCIANO; SOUZA; MATA, 2008) e assoreamento de rios, várzeas e represas, pela erosão (VEIGA, 2008).

Choudhury e Melo (2005) acrescentam que o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes, aliados aos sistemas de monocultura, pode ocasionar vários impactos ambientais como a

[...] alteração da decomposição da matéria orgânica e as ciclagens de nitrogênio, fósforo, potássio, entre outros, ocasionando uma dependência de fertilizantes; redução da biodiversidade, interferindo na fauna e na flora nativa da região; desertificação, fator ocasionado pelo uso indiscriminado dos recursos naturais devido ao uso abusivo do solo para pasto e plantações e o mau uso da irrigação [...].

Ainda em relação aos problemas ambientais, Márquez (1997) já alertava que este setor exigia um manejo especial dos recursos naturais, especialmente do solo, onde aplicações sucessivas de fertilizantes químicos tendem a aumentar a sua salinidade, além de acumular nitratos, sódio e outros elementos, podendo chegar até o lençol freático e contaminá-lo. A autora também chama a atenção para o uso racional da água:

A água é um recurso imprescindível à produção agrícola. A falta ou excesso afetam drasticamente o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Portanto, o uso racional e a otimização das práticas de sua gestão, são essenciais para manter a sustentabilidade dos recursos e da produção (MÁRQUEZ,1997, p. 32).

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Diante do cenário de insustentabilidade da produção agrícola e da nova perspectiva que começou a ser moldada, a partir da década de 1980, com a conscientização da finitude dos recursos naturais e do novo modelo de desenvolvimento proposto - o desenvolvimento sustentável (MACHADO; CAMPOS, 2008), as empresas agrícolas precisaram buscar outras alternativas tecnológicas menos agressivas ao meio ambiente e mais ajustada à produção sustentável.

Para Rosa (1998) este paradigma foi especialmente impactante nos sistemas produtivos agrícolas dos países em desenvolvimento como o Brasil, onde a reestruturação no processo produtivo foi inevitável para se manter competitivo no mercado internacional, cujos aspectos ecológicos passaram a ser usados como barreiras não-tarifárias. Assim, visando atender à demanda crescente de uma parcela do mercado que passou a exigir uma agricultura sustentável, os produtores tiveram que identificar práticas e gerar tecnologias que atendessem a estas condições e fossem econômica e socialmente viáveis (QUIRINO, 1998).

Pode-se dizer, então, que no âmbito nacional, a variável ambiental só foi incorporada ao setor empresarial devido a pressões locais e internacionais, que passaram e exigir produtos gerados dentro de critérios sustentáveis (VIRTUOSO, 2004).

Entretanto, discutir a sustentabilidade socioambiental no atual modelo agrícola é um tema complexo devido à necessidade crescente do uso de insumos químicos nas monoculturas, dos desequilíbrios ambientais e dos malefícios á saúde dos trabalhadores. Sobre o assunto Guterres (2006, p.18) comenta:

Não podemos esquecer que a terra está contaminada e dependente dos insumos químicos. Ao redor continuam as práticas da monocultura e do uso intensivo de venenos. O pequeno agricultor não é uma ilha. As práticas dos vizinhos afetam as suas. E muitos conhecimentos básicos de uma agricultura diversificada, ecológica e sem venenos foram esquecidos. [...].

[...].

As monoculturas atraem cada vez mais doenças nas plantas. Isso é fruto do desequilíbrio do meio ambiente, da falta de biodiversidade, do empobrecimento do solo.

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produtos, mas, também, por meio do contato com ambiente ou objetos contaminados e da contaminação da biota de áreas próximas às plantações agrícolas. Entretanto, ressaltam que os processos através dos quais as populações humanas estão expostas aos produtos, constituem-se verdadeiros mistérios, dada a multiplicidade de fatores que estão envolvidos.

No caso da floricultura, Gómez-Arroyo et al. (2000), ao realizarem estudo com trabalhadores no México, detectaram alterações celulares na mucosa bucal e atribuíram este problema à exposição aos agrotóxicos.

Breilh (2007) também encontrou um cenário semelhante no setor da floricultura do Equador. O seu estudo evidenciou várias consequências ambientais causadas pela atividade, dentre as quais cita: contaminação da água e do solo, devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes e consumo excessivo de água. E enumerou vários problemas de saúde nos trabalhadores como: pressão arterial alta, anemia tóxica, leucopenia, inflamação hepática, instabilidade genética e sofrimento mental. Um outro estudo realizado por Idrovo e Sanín (2007) sugere um maior surgimento de abortos espontâneos e má formação congênita em bebês de mulheres colombianas que trabalham na floricultura.

Fonseca et al. (2007), após realizarem estudo em Barbacena/MG no setor da floricultura, afirmaram que a exposição dos trabalhadores aos agrotóxicos ocorre de várias formas: durante o transplante, pulverização, corte e embalagens das flores.

Apesar de reconhecer a importância socioeconômica da floricultura para a Etiópia, 6º maior produtor de flores do mundo, Getu (2009) demonstra preocupação em relação aos impactos socioambientais causados pela atividade nas populações que moram próximo às propriedades que cultivam flores, como o aumento da incidência de câncer em bebês, encefalite, aumento da acidez e salinização do solo e eutrofização dos corpos d’água, dentre outros.

Apesar de no âmbito nacional não haver dados específicos sobre o setor da floricultura, Araújo (2010) afirma que de 150 a 200 mil trabalhadores rurais brasileiros sofrem intoxicação por agrotóxicos, anualmente. Entretanto, enfatiza que os dados relativos a esta temática não refletem a realidade do país devido à insuficiência de informações.

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consumo de agrotóxicos e a insuficiência dos dados sobre intoxicações por estes produtos (ARAÚJO, 2010, p. 10).

No Ceara, no município de Paraipaba, a justiça proibiu o uso de agrotóxicos pela Companhia de Bulbos do Ceará (CBC), empresa que atua no segmento de flores e plantas ornamentais, após a constatação em 2011, da morte de animais de grande porte por intoxicação e problemas respiratórios e dermatológicos em moradores residentes nas proximidades da mesma (Figura 4).

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4 A FLORICULTURA NO MERCADO MUNDIAL E REGIONAL

4.1 O mercado mundial de flores

O comércio internacional de flores gira em torno de três grandes mercados: União Européia, Estados Unidos e Ásia (Figura 5). A Holanda é o centro da floricultura mundial, principal produtor, exportador e importador. Produz em torno de 60% das flores comercializadas e é responsável por 85% do mercado europeu (MOTOS; PACHECO, 2004).

Figura 5 – Localização dos principais países importadores de produtos da floricultura no mundo. Fonte: Kyiuna et al., (2004).

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Quadro 1 - Países produtores de flores e plantas ornamentais na Europa, área e custo de produção.

País Área

(ha) Custo de produção(€/ha)

Suécia 63 3158,73

Dinamarca 444 797,29

Finlândia 141 539,00

Holanda 8479 242,59

França 6628 226,76

Alemanha 7056 160,85

Bélgica 1721 138,29

Itália 8463 101,5

Espanha 7617 45,29

Reino Unido 7297 19,73 Fonte: Kling (2004).

De acordo com o United States Department of Agriculture - USDA (2011) esta tendência também foi verificada nos EUA desde os anos de 2002, pois 72% da área plantada com produtos da floricultura localiza-se nos estados do Sul Ocidental dos EUA, e 75% desta área de produção necessita de proteção (estufas), onerando os produtos. Isto levou os EUA a comprarem produtos de países da América Central e do México. Em 2009, por exemplo, o país comprou rosas colombianas por 25 centavos de dólar canadense a unidade.

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Figura 6 – Localização dos principais países exportadores de produtos da floricultura no mundo (2000).

Fonte: Kyiuna et al. (2004).

Sabe-se que a floricultura é um dos ramos da horticultura e de acordo com Marques e Caixeta Filho (2002) abrange o cultivo de flores e plantas ornamentais com variados fins, desde cultivos de flores de corte até a produção de mudas arbóreas. Uma das suas principais características é a necessidade de pequenas áreas para o cultivo, sendo uma atividade típica de pequenos produtores (ADISSI, 2002). Utilizam-se além do cultivo em campo aberto, cultivos em estufas e telado.

Em países de clima tropical como o Brasil, o custo da flor pode ser até 50% menor do que a produzida em outros países, visto que a técnica mais utilizada é a de campo aberto. A produtividade por m2 é mais elevada devido às condições edafoclimáticas serem favoráveis, além de apresentar produtos com maior durabilidade. Enquanto uma flor tradicional dura em média 5 dias, uma flor tropical pode durar até 20 dias.

Apesar de possuir grande potencial para a produção e comercialização de flores destinadas ao mercado externo, visto que o custo da produção é relativamente baixo em relação a outros países, de acordo com a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas - ABCSEM (2010), 95% da produção nacional de produtos da floricultura brasileira destina-se ao mercado interno.

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obra é de origem familiar (MITSUEDA; COSTA; D’OLIVEIRA, 2011; IBRAFLOR, 2011). O rendimento fica entre R$ 50.000,00 e R$ 100.000,00 por ha/ano, apresentando grande potencial de emprego e renda para pequenos produtores. A produção é distribuída em três técnicas: telado (3%), estufa (26%) e a maior parte da produção (71%) é realizada em campo aberto (Figura 7), o que diminui significativamente os custos, como citado anteriormente.

Figura 7 – Distribuição percentual da área cultivada com flores e plantas ornamentais no Brasil, por técnica de produção.

Fonte: IBRAFLOR (2011).

O consumo per capita dos produtos da floricultura no Brasil é de R$ 20,00/habitante/ano (IBRAFLOR, 2011), considerado baixo se comparado ao consumo per capita da Europa (US$ 70,00 habitante/ano) (ABCSEM, 2011) e dos EUA (US$ 29,00 habitante/ano) (AGRICULTURE AND AGRI-FOOD CANADA, 2011).

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Junqueira e Peetz (2011, p. 1) atribuem a diminuição das exportações de produtos da floricultura à recessão econômica dos principais mercados consumidores e à valorização da moeda brasileira:

O desempenho decrescente do comércio internacional da floricultura brasileira reflete a conjuntura econômica depressiva nos principais mercados importadores mundiais (zona do Euro, EUA e Japão), além da sustentada valorização da política cambial do real, que induz à perda de competitividade das flores e plantas brasileiras no mercado mundial.

Porém, com o aumento da demanda por produtos da floricultura no mercado interno, este setor continua em expansão.

4.2 A floricultura no Ceará

O início da floricultura no Ceará se deu entre os anos de 1919 e 1921, na cidade de Fortaleza com a Chácara das Rosas e o Jardim Japonês. Nas décadas de 1970 e 1980, houve a expansão dos plantios para a Serra de Baturité, sendo que a produção destinava-se ao atendimento local (ALENCAR, 2006).

A partir de 1994 e 1996, iniciaram-se os primeiros cultivos em estufas de flores de corte e em vaso e os primeiros projetos voltados para a exportação. Em 1998, a Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (SEAGRI) criou o Projeto Flores responsável pela expansão da floricultura no estado e, a partir de 1999, formou um grupo de profissionais para coordenar ações no setor no âmbito estadual, com a implantação de grandes projetos de produção de flores (SEAGRI, 2003). Já em 2002 aconteceu a primeira exportação de rosas cearenses (e do Brasil) para a Holanda, no valor de US$ 76.608,00.

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Figura 8 - Principais destinos dos produtos da floricultura cearense em 2011. Fonte: ADECE - 2012.

Elaborado por ALENCAR, 2013.

Devido às exportações dos produtos da floricultura, houve um aumento significativo na área plantada no Ceará. Entre os anos de 1999 e 2009, esse aumento foi de 1.887,360%, passando de 19 para 358,6 ha (Figura 9).

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Segundo dados da ADECE (2012), nos anos de 2009 e 2010, as exportações dos produtos da floricultura cearense tiveram uma significativa redução, em virtude da situação econômica recessiva dos principais importadores. Mas, em 2011 as exportações cresceram 52% e o estado continua sendo um dos maiores exportadores nacionais de produtos da floricultura e é o 3° exportador brasileiro de rosas.

Seguindo a tendência nacional, o Ceará praticamente dobrou o consumo de produtos da floricultura no primeiro semestre de 2012, em relação ao mesmo período de 2011, conforme reportagem editada pelo jornal Diário do Nordeste (Figura 10). A média de consumo de produtos da floricultura no estado que era de R$ 14,00, aumentou para R$ 26,00 per capita, superando a média nacional.

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O sucesso da produção de flores e plantas ornamentais no estado do Ceará é devido às condições edafoclimáticas favoráveis, resultando numa elevada produtividade e coloca o estado em grande vantagem competitiva no mercado exportador. Sua produção de rosas, por exemplo, chega a 180 botões/m2/ano, podendo chegar a 220 botões/m2/ano, enquanto que a Colômbia e Equador, os maiores exportadores de rosas da América Latina, chegam a 80 e 90 botões/m2/ano, respectivamente.

Outra vantagem competitiva é sua localização próxima dos principais mercados importadores (EUA e Europa) gastando apenas 7 horas para chegar ao destino por via aérea (Figura 11).

Figura 11 -Tempo gasto no transporte dos produtos da floricultura cearense até os principais mercados importadores.

Fonte: Flora Brasilis Ceará (2004); IBGE (2012). Modificado por Alencar, 2013.

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5 DA ADMINISTRAÇÃO ECOLÓGICA À ROTULAGEM AMBIENTAL NO CONTEXTO DA FLORICULTURA

Desde a Segunda Grande Guerra, em especial, na Europa, os objetivos sociais foram somados aos econômicos. No início da década de 1990, em virtude do crescimento da consciência ambiental, grandes mercadólogos viram nos produtos ecológicos uma possibilidade de aumentar as vendas. E a partir deste período, difundiu-se em muitos países europeus a idéia de que se houvesse políticas de práticas de negócios ecologicamente corretas, as agressões ao meio ambiente poderiam ser substancialmente reduzidas e os investimentos nesta área passariam a ser vistos como vantagem competitiva.

Durante a década de 1980, o conceito de administração na Alemanha foi gradualmente ampliado até incluir a dimensão ecológica. Inicialmente, os programas eram feitos de forma esporádica e independente pelos administradores, como reciclagem, medidas para poupar energia e outras inovações ecológicas. Um destes programas foi o “Modelo de Winter”, cujos princípios da administração com consciência ecológica baseiam-se em seis razões: sobrevivência humana; consenso público; oportunidade de mercado; redução de riscos; redução de custos e integridade pessoal (CALLENBACH, et al. 1993). O objetivo era associar o sucesso nos negócios com a preocupação ambiental.

Os programas de rotulagem ambiental são assim organizados: programas de primeira parte, gerenciados pelas organizações envolvidas na produção, transporte ou comercialização dos produtos, ou seja, o fabricante ou produtor é o responsável pelas informações contidas no rótulo, por isso geram polêmica no mercado, pois deixam dúvida quanto à credibilidade das informações fornecidas (BIAZIN, 2002); programas de segunda parte, onde o órgão emissor do rótulo está indiretamente ligado à cadeia produtiva, e geralmente é uma associação comercial interessada em divulgar a gestão ambiental no setor e programas de terceira parte, nos quais as entidades responsáveis pela emissão do rótulo são independentes. Podem ser organizações governamentais ou civis que não tenham vínculos de interesse com o projeto avaliado, por isso são os rótulos de maior credibilidade perante os consumidores. Baseiam-se em verificação independente e utilizam critérios prefixados (CASTRO et al., 2004; GODOY; BIAZIN, 2000).

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em prática projetos de “eco-tecnologias” formulados por ambientalistas, como programas para o desenvolvimento da energia solar, programas de reciclagem, dentre outros. Essas práticas foram bem aceitas por consumidores e empresários (CALLENBACH et al. 1993).

Apesar da preocupação com os impactos ambientais gerados pelas atividades agrícolas não serem recentes, pois Castro et al. (2006) e Coelho (2005) afirmam que os rótulos para produtos orgânicos surgiram na década de 1970, foi a década de 1980 que marcou o início de novas oportunidades no setor, no que diz respeito ao meio ambiente, levando a uma crescente demanda de bens e serviços gerados dentro de processos sustentáveis, os chamados “mercados verdes” (ARIAS; GÓMEZ, 2004). Ressalta-se que em 1978, a Alemanha já havia criado o seu primeiro rótulo ecológico, o Blauen Engel (Anjo Azul), destinado a rotular produtos considerados ambientalmente corretos (VALLE, 1995) e até hoje “é o país europeu líder em normas regulamentadoras de impacto ambiental” (MÁRQUEZ, 1997, p. 276).

No âmbito da floricultura, no início da década de 1990, ocorreram algumas denúncias de maus tratos aos trabalhadores e ao uso excessivo de água e agrotóxicos nos cultivos de flores.

A Colômbia, por exemplo, o maior produtor de flores da América Latina, até 1995 usava nas suas plantações o Captan, agrotóxico proibido na Finlândia, Suécia e Noruega por possuir substâncias cancerígenas (MENEZES, 1987), em uma proporção duas vezes maior do que o utilizado pela Holanda. E consumia 150.000 litros de água por semana para produzir um hectare de Crisântemo.

No Equador, metade das mulheres que trabalhavam no cultivo de flores, apresentava sintomas de envenenamento (GROTE, 1999) e muitas apresentavam problemas quando engravidavam devido ao trabalho com agrotóxicos (LUCAS, 2004).

A denúncia destes problemas pelo Centro de Estudos e Assessoria em Saúde (CEAS) do Equador e por ONG´s resultou numa queda significativa no consumo dos produtos da floricultura, principalmente na Europa (GROTE, 1999), levando muitos mercados a exigirem uma garantia de que os produtos tinham sido processados sob critérios sustentáveis. Este fato desencadeou uma série de mudanças no setor, uma delas foi a rotulagem ambiental.

Entende-se que a rotulagem ambiental é:

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ambiental em relação a outros produtos "comparáveis" disponíveis no mercado (ABNT, 2012) (grifo do autor).

Para Arias e Gómez (2004, p. 52) a rotulagem ambiental além de agregar valor ao produto ajuda na melhoria dos aspectos socioambientais. E conotam:

[...] é uma estratégia de Diferenciação de Produtos com alto conteúdo de responsabilidade social, que contribui para melhoria da qualidade de vida do Homem, conservação dos ecossistemas e preservação dos recursos naturais, ou seja, que opera no contexto do Desenvolvimento Sustentável, cujos valores intrínsecos são tão apreciados e solicitados neste novo século XXI pelos consumidores (tradução nossa).

Os princípios básicos para os rótulos ambientais foram estabelecidos, em 2000, pela International Organization for Standardization (ISO) com a criação da família de normas da série 14020 (CURI, 2011), que prevê três tipos de rotulagem:

Tipo I – São rótulos concedidos por organismos independentes (entidades de terceira parte). Por serem voluntários e multicriteriosos, geralmente tornam-se instrumentos de marketing das empresas.

Tipo II – São rotulagens feitas pelos fabricantes e produtores, também chamadas autodeclarações ambientais. São os rótulos que mais geram polêmica no mercado, pois deixam dúvida quanto à credibilidade das informações fornecidas (BIAZIN, 2002).

Tipo III – São rótulos de informações sobre dados ambientais do produto, como a avaliação do ciclo de vida. A empresa não precisa cumprir metas e obtém este rótulo independentemente do seu desempenho ambiental (CURI, 2011 p. 139).

A rotulagem ambiental de produtos assume várias denominações: rótulo ou eco-selo (CALLENBACH, et al. 1993), eco-selo ambiental (DONAIRE, 1995), eco-selo verde (CORRÊA apud GODOY; BIAZIN, 2001), ecoselo (ARIAS; GÓMEZ, 2004), selo ecológico ou ecolabelling (OROZIMBO, 2009). Porém, todos se referem a qualquer programa de rotulagem que evidencia um aspecto ambiental e asseguram que o produto causou menos impacto na sua geração do que os similares disponíveis no mercado.

Referências

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