ww w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r
REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
Artigo
original
Prevalência
de
ansiedade,
depressão
e
cinesiofobia
em
pacientes
com
lombalgia
e
sua
associac¸ão
com
os
sintomas
da
lombalgia
Tathiana
O.
Trocoli
∗e
Ricardo
V.
Botelho
DepartamentodeNeurocirurgia,HospitaldoServidorPúblicoEstadualdeSãoPaulo(Iamspe),SãoPaulo,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem11demarçode2015 Aceitoem3desetembrode2015 On-lineem17defevereirode2016
Palavras-chave: Ansiedade Depressão Cinesiofobia Lombalgia
Transtornossomatoformes
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Avaliaraprevalênciadeansiedade,depressãoecinesiofobiaesuaassociac¸ãocom ossintomasdalombalgia.
Métodos:Foramdivididos65pacientesemtrêsgrupos:orgânicos,orgânicosamplificadose nãoorgânicos.ElesresponderamaoInventáriodeAnsiedadedeBeck,Inventáriode Depres-sãodeBeckeEscaladeCinesiofobiadeTampaeforamavaliadosdeacordocomseunível dedorpelaEscalaAnálogo-Numérica.
Resultados:Osescoresmédiosdecinesiofobiadospacientesdosgruposorgânicos, orgâni-cosamplificadosenãoorgânicosforamde36,26,36,21e23,06pontos,respectivamente.Os pacientesqueforamclassificadosnogrupoorgânicosexperimentarammaiorcinesiofobia dentreostrêsgrupos(p=0,007).Osescoresmédiosdeansiedadedospacientesdosgrupos orgânicos,orgânicosamplificadosenãoorgânicoseramde33,17,32,79e32,81pontos, res-pectivamente,nãohouvediferenc¸asignificativaentreosgrupos(p=0,99).Osescoresmédios dedepressãodospacientesdosgruposorgânicos,orgânicosamplificadosenãoorgânicos foramde32,54,28,79e37,69pontos,respectivamente,nãohouvediferenc¸asignificativa entreosgrupos(p=0,29).
Conclusão:Nãohouveassociac¸ãoentreosgruposeaansiedadeeadepressão.Noentanto, houveumacorrelac¸ãopositivaentreacinesiofobiaeogrupoorgânicos.Sãonecessários estudoscomoutrasamostrasdepacientesparaconfirmarareprodutibilidadeeavalidade dessesdadosemoutraspopulac¸ões.
©2016ElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobalicenc¸adeCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:tathitrocoli@gmail.com(T.O.Trocoli). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2015.09.009
Prevalence
of
anxiety,
depression
and
kinesiophobia
in
patients
with
low
back
pain
and
their
association
with
the
symptoms
of
low
back
spinal
pain
Keywords: Anxiety Depression Kinesiophobia Lowbackpain Somatoformdisorders
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective: Toevaluatetheprevalenceofanxiety,depressionandkinesiophobiaandtheir associationwiththesymptomsoflowbackpain.
Methods: A total of 65 patients were divided into three groups: Organic, Amplified OrganicandNon-Organic.They answeredtheBeckAnxietyInventory,BeckDepression InventoryandTampaScaleofKinesiophobiaandwereevaluatedaccordingtotheirpain levelusingtheVisualAnalogicScale.
Results: TheaveragekinesiophobiascoresofthepatientsintheOrganic,AmplifiedOrganic andNon-Organicgroupswere36.26,36.21and23.06points,respectively.Patientswhowere classifiedintotheOrganicgroupexperiencedthemostkinesiophobiaoutofall3groups (p=0.007).TheaverageanxietyscoresofthepatientsintheOrganic,AmplifiedOrganicand Non-Organicgroupswere33.17,32.79and32.81points,respectively,withnosignificant differenceamongthegroups(p=0.99).Theaveragedepressionscoresofthepatientsin theOrganic,AmplifiedOrganicandNon-Organicgroupswere32.54,28.79and37.69points, respectively,withnosignificantdifferenceamongthegroups(p=0.29).
Conclusion:Therewasnoassociationbetweenthegroupsandanxietyanddepression. Howe-ver,therewasapositivecorrelationbetweenkinesiophobiaandtheOrganicgroup.Studies ofotherpatientsamplesareneededtoconfirmthereproducibilityandvalidityofthesedata inotherpopulations.
©2016ElsevierEditoraLtda.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-ND license(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Alombalgiaéumacausafrequentede limitac¸õesfísicas, e aausência notrabalho estáassociada aváriostranstornos somatoformes.1–8Estudostêmdemonstradoquea incapaci-dadequeécreditadaaossintomas delombalgiaapresenta umafracacorrelac¸ãocomaintensidadedador.1–3,6,8,9 Mui-tos fatores estão associados à incapacidade, como fatores cognitivos, afetivos, ambientais e sociais; isso pode influ-enciar a atitude de um paciente ao considerar a dor que experimenta.2–4,6,8,10,11 Portanto,umaabordagem biopsicos-social poderiaoferecer uma compreensão opcional da dor crônica ede seu impacto sobrea capacidadefuncional do paciente.1–3,6,8,9
Operfilpsicológico dopaciente comlombalgiatemsido considerado o mais importante indicador de prognóstico para o tratamento de problemas da coluna vertebral.1 A consciência da relac¸ão entre a incapacidade e a intensi-dadedadoreperfilcognitivo-comportamentaldopaciente pode fornecer informac¸ões valiosas que podem ser usa-das para predizer o prognóstico e o tratamento e ajudar a selecionar a melhor abordagem terapêutica.2,8 Os sin-tomas que um paciente manifesta muitas vezes têm sido considerados uma ferramenta que prediz o per-fil psicológico do indivíduo.12,13 Há interesse no desen-volvimento de métodos opcionais para avaliar o sofri-mento psicológico sem o uso de ferramentas psicológicas específicas.
Noentanto,osachadosdaliteraturasãoconflitantesem relac¸ãoa seosmétodosindiretos sãocapazesdeavaliaro
desconfortopsicológiconamesmamedidaqueos instrumen-tospsicológicosclássicososão.14
NoestudodeJohanssonetal.,5 quecomparoupacientes com cirurgia agendada para problemas discais ou cirurgia artroscópicadojoelho,ospacientescomproblemasnacoluna queeramincapazesdetrabalharrelatarammaiorinsatisfac¸ão com sua atividade de trabalho atual do que aqueles que aguardavamumaartroscopiaquetambémeramincapazesde trabalhar.
Isso sugere que pacientes com problemas na coluna vertebral são mais intensamente afetados por transtornos somatoformesdoqueaquelescomoutraslesões.5
Ransford14demonstrouqueháumgrupodepacientescom altacorrelac¸ãoentreossintomaseosachados deimagem, querespeitaasviasradicularessensitivasemotoras,eoutro grupocomdordispersa,amplificada,migratóriaenão anatô-mica,semcorrelac¸ãocomosachadosdeimagem.Noentanto, aexperiênciaclínicamostraquegeralmenteháumterceiro grupoquerepresentaumatransic¸ãoentreessesgrupos,com sinais e sintomas explicados pelas imagens, mas associa-dosavias amplificadasouexageradas,fora dadistribuic¸ão anatômica.
Assim, classificaram-se os sintomas do paciente como representativos de uma doenc¸a orgânica (orgânicos – ORG), de uma doenc¸a orgânica com expansão cognitiva--comportamental (orgânicos amplificados – OA) ou como representativosdemanifestac¸õespsicossomáticas(não orgâ-nicos–NO);essesgruposforamcorrelacionadoscomosníveis deansiedade,depressãoecinesiofobia.
Grupo orgânicos Grupo orgânicos amplificados Grupo não orgânicos
Figura1–Representac¸ãodossintomasdospacientesdeacordocomosgrupos.
agrupadosemtrêsgruposdesintomasdacoluna:orgânicos, orgânicosamplificadosenãoorgânicos.
Material
e
métodos
Estudotransversal de todos os pacientes consecutivos que compareceramaoambulatóriodedoenc¸asdacoluna verte-braldemaio adezembro de2013. Ospacientes queforam convidadosa participar tinham entre 18 e80 anos. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos do estudoeaquelesqueconcordaramemparticiparassinaram oTermodeConsentimentoLivreeEsclarecido.Ospacientes quejáhaviam sidosubmetidos acirurgia da coluna verte-braleaquelescom dororiginadadeumtraumaoucâncer foram excluídos. Também foram avaliados a idade, o sexo eo nívelde escolaridade. Onível deescolaridade foi clas-sificado como fundamental, médio ou superior. A dor foi medidapelaEscalaAnálogo-Numéricaefoidocumentadapor representac¸ãográficadadoremsilhuetasdocorpohumano.A dorfoiclassificadacomograve(entre8e10pontos),moderada (entre4e7)ouleve(entre0e3).Operíododetempoduranteo qualossintomasforamexperimentadosfoimedidoemmeses apartirdoiníciodossintomas.
Classificac¸ãodossintomas
Ransfordetal.14demonstraramqueempacientescom lom-balgia, umaforma anormalde descrever osseus sintomas emumasilhuetadocorpohumanoestáassociadaa conta-genselevadasemoutrasescalaspsicossomáticas.14Combase naavaliac¸ãodarepresentac¸ãográficadadoremsilhuetasdo corpohumano,anamneseeexamefísico feitopelomédico dopaciente,ospacientesforamclassificadoscomoorgânicos, orgânicosamplificadosenãoorgânicos.
GrupoOrgânico(ORG):Pacientesquemostraramumaalta correlac¸ãoentreossintomaseosachadosdeimagem.Os sin-tomasdessegruposugeremumcomponenteradicularsem amplificac¸õesquerespeitaasviassensitivasemotoras.
Grupo Orgânico Amplificado (AO): Pacientes com sinais e sintomas explicados pelas imagens, mas associados
a vias amplificadas ou exageradas, fora da distribuic¸ão anatômica.
Grupo Não Orgânico (NO): Aqueles com dor dispersa, amplificada,migratóriaenãoanatômica,semcorrelac¸ãocom osachadosdeimagem.
Umexemploderepresentac¸ãográficadadoremsilhuetas docorpohumanodecadagrupoespecíficopodeser encon-tradonafigura1.
Avaliac¸ãodaansiedade,depressãoecinesiofobia
Paramedircomportamentosansiososedepressivos,foram usados oInventário deAnsiedade deBeck15 eo Inventário de Depressãode Beck.16 Além disso, usou-seaversão bra-sileirada EscaladeCinesiofobiade Tampa10 paraavaliara cinesiofobia.Essaescalaconsisteemumquestionário auto-administradocompostopor17questõesqueabordamadore aintensidadedossintomas.Osescoresvariamde1a4pontos earesposta“discordototalmente”éequivalentea1ponto, “discordoparcialmente”a2pontos,“concordoparcialmente” a3e“concordototalmente”a4.Paraobterapontuac¸ãofinal totalénecessárioinverterosescoresdasperguntas4,8,12e 16.Apontuac¸ãofinalpodeserdenomínimo17enomáximo 68 pontos;quanto maiora pontuac¸ão, maiscinesiofobia o pacienteapresenta.Acinesiofobiafoiclassificadacomoleve (17 a 34 pontos), moderada (35 a50) ou grave (51a 68). A ansiedadefoiclassificadacomoleve(0 a15 pontos), mode-rada(16a25)ougrave(26a63).Adepressãofoiclassificada como leve (0 a 18 pontos), moderada (19 a 29) ou grave (30a62).
EsteestudofoiaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisa dainstituic¸ão,soboprotocolonúmero283.083/2013.
Análiseestatística
Ascaracterísticasdemográficaseantropométricasforam des-critas pela estatística descritiva com a média e o desvio padrão.Anormalidadedadistribuic¸ãodasvariáveisfoi avali-adapelotestedeKolmogorov-Smirnov.
15 pacientes excluídos
80
pacientes 18 homens
Representação gráfica da dor em
silhuetas do corpo humano
47 mulheres
35 ORG
Cinesiofobia (média)
ORG
43,3 42,4 43,7 19,9 25,6 26,9 16,0 16,6 19,7 7,4 7,8 8,2
OA NO ORG OA NO ORG OA NO ORG OA NO Ansiedade
(média)
Depressão (média)
EVA (média)
14 OA
16 NO 65 pacientes
incluídos
Figura2–Fluxogramadepacientesincluídoseexcluídoscomadistribuic¸ãoemcadagrupoeaspontuac¸õesdeansiedade, depressão,cinesiofobiaeescalaanálogo-numérica.
Resultados
Foramconvidados80pacientese15nãoconcordaramem par-ticipardoestudo.
Afigura2mostraosresultadosdesteestudo.
Resultadosdessegrupodepacientes
Dezoitopacienteseramdosexomasculinoe47dosexo femi-nino.Afaixaetáriadosparticipantesfoide26a77anosea médiadeidadefoide55anos.Aintensidademédiadadorde todoogrupodepacientesfoide7,7pontosnaEscala Análogo--Numérica:76,9%apresentaramdorgrave(8a10pontos),20% dormoderada(4a7)e3,1%dordeintensidadeleve(0a3). Emrelac¸ãoaoníveldeescolaridade,12pacientestinham con-cluídooensinofundamental(18,4%),26oensinomédio(40%)e 27oensinosuperior(41,6%).Amédiadosescoresdedepressão detodo ogrupofoi de17pontos.Aotodo, 66,2%dos paci-entesapresentaram depressão leve,enquanto 20% e13,8% apresentaramdepressãomoderadaegrave,respectivamente. Amédiadosescoresdeansiedadeentretodosospacientesfoi de22,9pontos.Dospacientes,41,5%apresentaramansiedade leve,enquanto24,6%e33,9%apresentaramansiedade mode-radaegrave,respectivamente.Amédiadas pontuac¸õesde cinesiofobiaentretodosospacientesfoide43,3pontos,com 16,9%doscasosclassificadoscomo cinesiofobialeve,56,9% moderadae26,2%grave.
Classificac¸ãodospacientesportipodecomportamento dedor
Em relac¸ão aos sintomas, 35 pacientes foram alocados no grupoorgânicos,14 noorgânicos amplificadose16 nonão
orgânicos (fig. 3). Não houve diferenc¸a entre asmédias de idade dostrês grupos(ANOVAone-way:F=0,583;p=0,561). O nível médio de dor foi de 7,37 no grupo orgânicos, 7,85 noorgânicosamplificadose8,31nonãoorgânicos (Kruskal--Wallis;p=0,20).Adurac¸ãomédiadotempodesintomasdos pacientes foide40,6 meses(intervalo:4a144meses).Não houvediferenc¸aestatisticamentesignificativaentreos sub-grupos(Kruskal-Wallis,p=0,39).
Níveisdeescolaridadeeamanifestac¸ãodostrêstiposde sintomas
Daquelesquetinhamapenasoensinofundamental,cinco participantesforamclassificadosnogrupoorgânicos,doisno orgânicosamplificadosecincononãoorgânicos.Dos indiví-duosquetinhamoensinomédio,14foramclassificadosno grupoorgânicos,seisnoorgânicosamplificadoseseisnonão orgânicos.Dentreaquelesquecompletaramoensinosuperior, 16foramclassificadosnogrupoorgânicos,seisnoorgânicos amplificadosecincononãoorgânicos(p<0,01).
Orgânicos
Orgânicos amplificados
Não orgânicos 54%
21% 25%
25
0 5 10
Escores
Leve Moderada Grave
Cinesiof
obia
Ansiedade
Orgânicos Orgânicos amplificados Não orgânicos
Depressão
Cinesiof
obia
Ansiedade
Depressão
Cinesiof
obia
Ansiedade
Depressão
1520
Figura4–Escoresdecinesiofobia,ansiedadeedepressão nostrêsgruposdesintomas,classificadoscomoleve, moderadoegrave.
Tabela1–Distribuic¸ãodospacientesporgrupos eescoresmédiosdecinesiofobia,ansiedadeedepressão emcadagrupo
n Cinesiofobia Ansiedade Depressão
Orgânicos 35 43,3 19,9 16,0
Orgânicosamplificados 14 42,4 25,6 16,0
Nãoorgânicos 16 43,7 26,9 19,7
Pontuac¸õespsicossomáticasnossubgruposdesintomas
Cinesiofobia: Os escores médios dos pacientes nos grupos
orgânicos,orgânicosamplificadosenãoorgânicosforamde 43,6,42,4e43,68pontos,respectivamente.Ospacientesque
foramclassificadosnogrupoorgânicosexperimentaramuma
maiorcinesiofobiaquandocomparados comosdois outros
grupos(p=0,007).
Ansiedade:Osescoresmédiosdeansiedadedospacientes
nosgruposorgânicos,orgânicos amplificadosenão orgâni-cosforamde19,9,25,6e26,9pontos,respectivamente.Não houvediferenc¸aestatisticamentesignificativaentreosgrupos (p=0,99).
Depressão:Osescoresmédiosdedepressãodospacientes
nosgruposorgânicos,orgânicos amplificadosenão
orgâni-cos foram de 16,16,6 e 19,7 pontos,respectivamente. Não
houvediferenc¸aestatisticamentesignificativaentreosgrupos (p=0,29).
Aspontuac¸õesdecinesiofobia,ansiedadeedepressãosão mostradasnafigura4etabela1.
Discussão
A incapacidade que está associada a condic¸ões da região lombarpodeserdecorrentedeumacombinac¸ãodefatores psicossociais ealterac¸õesnasfunc¸õesorgânicas,deacordo com a ICF (Classificac¸ão Internacional de Funcionalidade, Incapacidade eSaúde).1 Aansiedadeea depressãomuitas vezescoexistemempacientescomdorcrônica17,18e dificul-tamasuacapacidadedetrabalho,bemcomoseusaspectos socialefísico.Tambémdificultamacapacidadedospacientes decontrolarasuadore,portanto,afetamaindaaqualidade devidadosindivíduoscomdoenc¸asdegenerativasdaregião lombar.19
OsInventáriosdeAnsiedade15eDepressão16deBecksão ferramentasamplamenteusadasnaclassificac¸ãode compor-tamentosansiososedepressivosdepacientesemambientes decuidadosclínicosambulatoriais.AEscaladeCinesiofobia deTampatemsidousadacomoumpoderososeletorde paci-entescomperfispsicológicosruinse,portanto,aquelescom ummauprognósticoparaotratamento.3,10
Existem teorias que têm tentado explicar a origem da lombalgiacrônica.Ummodelofrequentementeusadoparaa compreensãodalombalgiacrônicaébaseadona proporciona-lidadedadoremrelac¸ãoàextensãodalesãotecidual.1–4,8,20No entanto,háevidênciasdequeapersistênciadadornãopode serexplicadaapenasporachadosclínicosobjetivos,1–4,8,20e alguns autores encontraram uma fraca associac¸ão entre a intensidadedadoreaincapacidadedopaciente.10
Algumaspesquisassugeremqueoperfilpsicológicodeum paciente éomaisimportantepreditor deprognóstico após otratamentodacolunavertebral.1 OestudodeBairetal.19 mostrouqueumacombinac¸ãodedormusculoesquelética crô-nicaefatorespsicossomáticos(ansiedadeedepressão)está associadaadormaisintensaeaumamaiorinterferêncianas atividadesdiáriasemcomparac¸ãocomospacientesque expe-rimentamexclusivamentedor.
Alémdisso,aligac¸ãoentreadorcrônicaeseus componen-tesafetivosébemconhecida.Emumaamostrarepresentativa, McWilliamsetal.21descobriramqueaansiedadeesteve pre-senteem35%daspessoascomdorcrônica,emcomparac¸ão com 18% da populac¸ão geral.19 As taxas de depressão na populac¸ão geral também são de aproximadamente 18%, enquantoentreospacientescomdorcrônicaataxade depres-sãopodesertãoelevadaquanto58%.22
Para classificar os sintomas dos pacientes, o avaliador dopresenteestudoconsiderouospacientesque demonstra-ramumaaltacorrelac¸ãoentreossintomaseosachadosde imagemcomopartedogrupoorgânicos;nogrupoorgânicos amplificados,ossintomasestavamrelativamente amplifica-dosemrelac¸ãoàdoenc¸asubjacente;nogruponãoorgânicos havia pouca correlac¸ão entre os sintomas e os achados clínicos.14
tenderiamaapresentarsintomasqueoscolocariamnogrupo orgânicos.Assim,testou-seessaassociac¸ão.
Noentanto,nãoforamencontradasdiferenc¸as significati-vasnadistribuic¸ãodostranstornossomatoformes,excetoem relac¸ãoàcinesiofobia,paraaqualhaviaumadiferenc¸a sig-nificativanogrupoorgânicosemcomparac¸ãocomosoutros grupos.Acredita-sequeissoaconteceuporqueaansiedade eadepressãosãomuitoprevalentesnamaioriados pacien-tescomsintomas(sugeridosounão)nacolunavertebralea cinesiofobiarepresentaumcomportamentodedoenc¸amais associadoàdoenc¸aorgânicadacolunavertebral.Nesse sen-tido,acinesiofobiapodeserummecanismodeprotec¸ãodo aparelholocomotor.
OestudodeSiqueiraetal.10mostrouqueindivíduoscom escoreselevadosnaEscaladeCinesiofobiadeTampatinham umpiordesempenhoemtestesfísicos,oqueapoiaapremissa dequeos pacientescom umalesãoorgânica bemdefinida podemtermedodefazermovimentosquesãoconhecidospor causarmaisdor.
Omodelodecinesiofobiasugerequeospacientestemem osmovimentosporcausadador,paraevitaroagravamentodo seuestadoouparaevitarcausarumnovoproblema.Essemedo levaaduasrespostas:opacientepodeconfrontarouevitar aatividade.Duranteoconfronto,oindivíduofazum movi-mento,oquegradualmentereduzomedodessemovimento. Naevitac¸ão,oindivíduonãofazomovimentoesetornacada vezmenosativo,oqueresultaemumcicloviciosoquelevaà incapacidadefísica.23
Comoconfirmac¸ãodessemodelo,umestudoempacientes comlombalgiacrônicamostrouqueaquelescomomaisalto níveldecinesiofobiaapresentavam umrisco 41%maiorde desenvolverumaincapacidadefísica.24
Picovetetal.25descobriramqueacinesiofobiapredizadore aincapacidadeempacientescomlombalgiacrônica.Siqueira etal.10mostraramquealtaspontuac¸õesnaEscalade Cine-siofobiade Tampasãovaliosas, namedidaemque podem predizeroníveldeincapacidadedoindivíduoemcomparac¸ão comossinaisesintomasclínicos,aintensidadeeadurac¸ão dadoreaansiedade.
Esteestudofoiinicialmenteprojetadoparaavaliar30 paci-entesemcadagrupo,afimdeseajustaraumadistribuic¸ão normaldeprevalênciaentreosgrupos.Noentanto,depoisde cadaavaliac¸ãodedados,aextensãoemqueaamostra cres-ciaemanálisessubsequentes,relevou-seumatendênciamais robustaemidentificardiferenc¸asnogrupoorgânico.Os auto-resdecidiramavaliaressaquantidadedepacientesemrazão daestabilidadedosresultados.
Adurac¸ãomédiadetempoqueospacientesapresentaram sintomasdedornesteestudofoidepoucomaisde3anos, oquepodeserumfatoragravanteparatranstornos soma-toformes, comomostrado porvander Windt et al.26 Esses autoresdescobriramqueospacientescomlombalgiatêmuma maior tendência a desenvolver dor crônica nas costas e a catastrofizá-laemcomparac¸ãocomospacientescomlesões noombro (caracterizadapordoragudadecorrente de uma lesãoquemuitasvezesébemlocalizada).
Aidentificac¸ãode indivíduoscom umbomou ummau prognósticoéoobjetivodamaiorpartedaspesquisassobre otratamentodequalquerdoenc¸adacolunavertebral.A capa-cidadedepredizeroprognósticoduranteumaavaliac¸ãoinicial
podelevaraexpectativasmaisrealistasderecuperac¸ão,bem comoaousodetratamentosmaiseficientesparaprevenirou combateradorcrônica.3,10,25 Oestudode Helmhoutetal.3 exemplificou essa importância quando demonstrou que o fator prognósticodecisivoera aincapacidade,seguido pelo medooumovimento,conformeavaliadopelaEscalade Cine-siofobiadeTampa.
Emboraosresultadosdopresenteestudonãotenham mos-tradodiferenc¸assignificativasemtermosdeprevalênciade ansiedadeedepressãoemumgrupodesintomasespecífico, essascondic¸õesforamaltamenteprevalentesenãoestiveram associadasaqualquertipoúnicodecomportamentodador nostrêsgruposestudados;noentanto,ospacientescom esco-resdecinesiofobiamaisaltostinhamumamaiorpropensãoa apresentarsintomasorgânicos.Opresenteestudonãoavaliou deliberadamente apreexistênciadedistúrbiospsiquiátricos emnenhumdospacientesestudados.Umahipóteseintuitiva préviafoiquenossosquestionáriosidentificariamdiferenc¸as entreostrêsgruposespecíficos.Naverdade,aansiedadeea depressãoerammuitoprevalentesemtodososgrupos.
Esteestudoreforc¸aosdadosdequepacientescomsinais esintomas nacolunalombartêm umaalta prevalênciade ansiedadeedepressão equalquerprofissionalque ostrata deve levarissoemconsiderac¸ão.Naescolhados tratamen-tos,deve-seconsiderarqueacinesiofobiaprovavelmenteestá relacionadacompacientesmaisorgânicos.
Limitac¸õesdeste estudo:sãonecessários outrosestudos comumaamostramaioreestudosmulticêntricospara verifi-carseessespacientesmostramumadiferenc¸anoprognóstico deacordocomotipodetratamentoquereceberam.
Nossosresultadosforamobtidosapartirdeumaamostra de pacientesque sãoservidorespúblicosdoEstadode São Paulo (Brasil).Não podemosgarantiraextrapolac¸ão desses dados(validadeexterna)paradiferentespopulac¸ões.
Conclusão
Não houve associac¸ão entre os sintomas de ansiedade e depressão. Noentanto,ospacientesqueforamclassificados nogrupoorgânicostinhammaiorpropensãoaexperimentar cinesiofobia. São necessáriosestudoscomoutras amostras depacientesparaconfirmarareprodutibilidadeeavalidade destesdadosemoutraspopulac¸ões.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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