MAG CARVALHO PALETTA
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCAS:
OBSTÁCULO OU SOLUÇÃO?
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCAS:
OBSTÁCULO OU SOLUÇÃO?
Dissertação apresentada à Fundação Getúlio Vargas para obtenção
do grau de mestre. Área de concentração: Práticas jurisdicionais de
fim.
E aprovado em __/__/__
Pela comissão organizadora
...
Roberto da Silva Fragale Filho
Fundação Getúlio Vargas
...
Leandro Molhado Ribeiro
Fundação Getúlio Vargas
DEDICATÓRIA
Não poderia iniciar meus agradecimentos senão por meus pais, os quais amo
incondicionalmente. Sou grata pela dedicação que tiveram tanto em minha criação como na de
meu querido irmão Mauricio.
Agradeço também a meu mestre e amigo Roberto da Silva Fragale Filho pela paciência e
dedicação com que me orientou ao longo desta dissertação.
A meus colegas de mestrado que transformaram nossas aulas em momentos agradáveis,
com intensas, instrutivas e construtivas discussões sobre o Poder Judiciário.
A meus amigos, pela compreensão com que entenderam minha ausência ao longo desta
trajetória de intensos estudos que me afastaram de tão aprazível convivência.
Um agradecimento especial a Andréa Matias, Cristiano Leal, Diana Mandelert, Heloisa
Johansson e Márcia Cordeiro, que tanto me auxiliaram nesta pesquisa.
A Prática conciliatória nos Juizados Especiais, que se supunha ser uma medida rápida e eficaz
para dirimir os conflitos de interesse, reduzindo de forma rápida o estoque de processos e ainda
os gastos da máquina estatal, revela-se, na prática, no mais das vezes, uma grande decepção.
Como em 80% dos casos julgados nos Juizados Especiais Cíveis Cariocas a conciliação não é
alcançada nesta audiência, esta etapa obrigatória acaba por se transformar apenas em um
obstáculo a ser ultrapassado para a resolução dos processos. Desta forma esta pesquisa se
propõe a fazer uma reflexão acerca da possibilidade de unificação das audiências de conciliação
(AC) e das audiências de instrução e Julgamento (AIJ) em um só ato: uma audiência única de
conciliação, instrução e julgamento (ACIJ), com a finalidade de diminuir o tempo do processo,
com vistas a alcançar o princípio constitucional da duração razoável do processo.
Conciliatory practices at Small Claims Courts, which were supposed to be an effective measure
to solve conflicts of interest, quickly reducing caseload as well as State expenses, have become
in most cases a big disappointment. As in 80% of cases tried in the Carioca Small Claims Courts
conciliation is not achieved in the corresponding hearing, this required procedure becomes
nothing than an obstacle to be overcome for the resolution of cases. Thus this study proposes to
exam the possibility of merging conciliation hearings (
audiência de conciliação
) and the
subsequent trial (
audiência de instrução e julgamento
) in one sole act: a single trial which
includes a preliminary conciliatory effort as a way to reduce procedure time and enforce the
constitutional principle of reasonable duration of proceedings.
MAG CARVALHO PALETTA
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCAS:
OBSTÁCULO OU SOLUÇÃO?
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCAS:
OBSTÁCULO OU SOLUÇÃO?
Dissertação para cumprimento de requisito à obtenção de título no
Mestrado Profissional em Poder Judiciário da FGV Direito Rio de
Janeiro.
Área de Concentração: Práticas jurisdicionais de fim.
Orientador: Professor Doutor Roberto da Silva Fragale Filho
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCAS:
OBSTÁCULO OU SOLUÇÃO?
Dissertação apresentada à Fundação Getúlio Vargas para obtenção
do grau de mestre. Área de concentração: Práticas jurisdicionais de
fim.
E aprovado em __/__/__
Pela comissão organizadora
...
Roberto da Silva Fragale Filho
Fundação Getúlio Vargas
...
Leandro Molhado Ribeiro
Fundação Getúlio Vargas
DEDICATÓRIA
Não poderia iniciar meus agradecimentos senão por meus pais, os quais amo
incondicionalmente. Sou grata pela dedicação que tiveram tanto em minha criação como na de
meu querido irmão Mauricio.
Agradeço também a meu mestre e amigo Roberto da Silva Fragale Filho pela paciência e
dedicação com que me orientou ao longo desta dissertação.
A meus colegas de mestrado que transformaram nossas aulas em momentos agradáveis,
com intensas, instrutivas e construtivas discussões sobre o Poder Judiciário.
A meus amigos, pela compreensão com que entenderam minha ausência ao longo desta
trajetória de intensos estudos que me afastaram de tão aprazível convivência.
Um agradecimento especial a Andréa Matias, Cristiano Leal, Diana Mandelert, Heloisa
Johansson e Márcia Cordeiro, que tanto me auxiliaram nesta pesquisa.
A Prática conciliatória nos Juizados Especiais, que se supunha ser uma medida rápida e eficaz
para dirimir os conflitos de interesse, reduzindo de forma rápida o estoque de processos e ainda
os gastos da máquina estatal, revela-se, na prática, no mais das vezes, uma grande decepção.
Como em 80% dos casos julgados nos Juizados Especiais Cíveis Cariocas a conciliação não é
alcançada nesta audiência, esta etapa obrigatória acaba por se transformar apenas em um
obstáculo a ser ultrapassado para a resolução dos processos. Desta forma esta pesquisa se
propõe a fazer uma reflexão acerca da possibilidade de unificação das audiências de conciliação
(AC) e das audiências de instrução e Julgamento (AIJ) em um só ato: uma audiência única de
conciliação, instrução e julgamento (ACIJ), com a finalidade de diminuir o tempo do processo,
com vistas a alcançar o princípio constitucional da duração razoável do processo.
Conciliatory practices at Small Claims Courts, which were supposed to be an effective measure
to solve conflicts of interest, quickly reducing caseload as well as State expenses, have become
in most cases a big disappointment. As in 80% of cases tried in the Carioca Small Claims Courts
conciliation is not achieved in the corresponding hearing, this required procedure becomes
nothing than an obstacle to be overcome for the resolution of cases. Thus this study proposes to
exam the possibility of merging conciliation hearings (
audiência de conciliação
) and the
subsequent trial (
audiência de instrução e julgamento
) in one sole act: a single trial which
includes a preliminary conciliatory effort as a way to reduce procedure time and enforce the
constitutional principle of reasonable duration of proceedings.
1 INTRODUÇÃO...10-11
2 Hipótese
do
Trabalho...12
2.1 Enunciação...12
2.2
Delimitação do campo de pesquisa...12-13
2.3 Método
de
investigação...13-14
2.4 Observadora
participante...14-15
3
Juizados Especiais Cíveis – tal como idealizado pelo Legislador...16-27
4
Real panorama dos Juizados Especiais Cíveis cariocas...28-30
4.1 Audiências
Bipartidas
realizadas em dias distintos...30-32
4.2
Duas audiências bipartidas realizadas em um só dia ...32-33
4.3 Audiências
Unas
...33-35
4.4
O ponto de vista dos Juízes Togados...36-37
4.5
A perspectiva dos Juízes Leigos...37-42
4.6 Os
conciliadores...43-47
4.7
Advogados e Prepostos...48-52
4.8 Jurisdicionados...52
5
Audiência de conciliação – obstáculo ou solução?...53-62
6
CONCLUSÃO e sugestões para o aprimoramento da prestação jurisdicional
...63-68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS...69-72
GRÁFICOS... 55-62
Gráfico nº Tombamentos... 55
Gráfico nº audiências de conciliação ...55
Gráfico do tempo médio em dias entre a distribuição e a 1ª Audiência ou Audiência
Una... 60
Gráfico do tempo médio em dias entre a distribuição e a 2ª Audiência ou Audiência
Una...60
Gráfico do tempo médio em dias entre a 2ª Audiência ou Audiência Una e a sentença ..61
Gráfico do tempo médio em dias do processo ...62
ANEXOS...73-99
Anexo I
Dados solicitados ao Setor de Estatística do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
de Janeiro em 28.05.2010...74-76
Anexo II
Dados recebidos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com
inserção da coluna denominada “percentual de conciliações realizadas em AC”...77-87
Anexo III
Distribuição dos Juízes Leigos entre os diversos Juizados do Estado do Rio de
Janeiro e número de turnos cumpridos pelos Juízes Leigos...88-89
Anexo IV
Questionário enviado para os Juízes Leigos...90-93
Anexo V
Respostas compiladas ao questionário enviado aos Juízes Leigos...94-99
PLANILHAS...100-153
Planilha I
Relação de todos os processos que tiveram audiências designadas no período de
10.03.11 a 17.03.11, nos 7 Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio de Janeiro,
localizados no interior do Fórum Central da Comarca da Capital do Estado do Rio
de Janeiro ...101-124
Planilha II
Relação de processos em que foram realizadas audiências unas de conciliação,
instrução e julgamento - ACIJ no período de 10.03.11 a 17.03.11, nos 7 Juizados
Especiais Cíveis do Estado do Rio de Janeiro, localizados no interior do Fórum
Central da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro...125-130
Rio de Janeiro, localizados no interior do Fórum Central da Comarca da Capital
do Estado do Rio de Janeiro...143-146
1 -
INTRODUÇÃO
Ao proscrever a autotutela, o Estado chamou para si a responsabilidade de conceder
aos cidadãos a tutela jurisdicional. Para o cumprimento de tal ônus, deve o Estado não apenas
promover o acesso do jurisdicionado ao Poder Judiciário, mas, sobretudo, entregar-lhe, em
um prazo razoável, uma solução efetiva, sobretudo nos Juizados Especiais Cíveis
1
, os quais
atendem a maior e mais vulnerável parcela da população, que não pode esperar infinitamente
o desfecho de uma demanda.
O direito à tutela jurisdicional efetiva não se esgota no exame do acesso do
jurisdicionado à estrutura do Poder Judiciário; pelo contrário, sendo o acesso à Justiça apenas
a “porta de entrada” do jurisdicionado, o passo inicial deste em busca da resolução de um
conflito de interesse, têm-se pungente a necessidade de criar mecanismos breves e efetivos de
escoamento das demandas, novas metodologias e dinâmicas para que o Estado cumpra,
através do processo, sua função social pacificadora.
Uma vez que a demora no julgamento cria instabilidade incompatível com a noção de
segurança jurídica, é preciso identificar soluções e estudar alternativas para promover a
resolução dos conflitos, senão em curto espaço de tempo, ao menos em prazo razoável, como
inclusive preconiza a Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 5º, inciso LXXVIII.
2
A demora na finalização de uma lide, muitas vezes afasta o jurisdicionado do Poder
Judiciário, levando a eternização de conflitos ou, o que é mais grave, transferindo para outras
esferas paralelas, muitas vezes ilegais, a resolução de lides, o que, em última análise, subverte
a estrutura fundante do Estado Democrático de Direito.
Têm-se, por conseqüência, que a Justiça deve, com a devida cautela, acompanhar a
vida social, corolário de sua própria existência e para qual é chamada a servir,
transformando-se ao transformando-seu contato e adaptando-transformando-se ao meio social.
1
Os Juizados Especiais Cíveis foram criados pela Lei 9.099/95.
2Para concretização deste fim é preciso investigar os procedimentos judiciais,
identificando e eliminando os gargalos atualmente existentes, com vistas a aprimorar os
procedimentos judiciais de modo a chegar dentro de um prazo compatível com as atuais
exigências da vida moderna a “porta de saída” da Jurisdição.
Afinal, em pleno século XXI, onde a velocidade de informação parece não encontrar
barreiras, irrazoável que a tramitação de um processo nos Juizados Especiais Cíveis ultrapasse
mais de um ano, como é praxe atual.
Na primeira, das três partes deste trabalho resgataremos a trajetória histórica da
criação dos Juizados Especiais Cíveis, buscando mostrar que esse fôro foi idealizado
justamente com a missão de aumentar o acesso à Justiça proporcionando ao cidadão,
sobretudo aqueles de baixa renda, uma alternativa de encontrar uma “saída” rápida, barata e
efetiva para seus problemas jurídicos, de modo a consolidar, no Brasil, o Estado Democrático
de Direito.
A seguir, traçaremos um panorama atual dos Juizados Especiais Cíveis mostrando que,
passado uma década e meia de sua criação, o que se vê na prática é uma tramitação lenta, na
qual, não raro o jurisdicionado aguarda mais de um ano até que se concretize o julgamento de
sua demanda.
Ainda nesta parte do trabalho, será apresentada uma amostragem do que pensam todos
os personagens envolvidos em uma demanda – partes, conciliadores, juízes leigos, juízes
togados, advogados e prepostos - acerca da tramitação dos processos junto aos Juizados e dos
possíveis reflexos da reunião em uma só assentada das audiências de conciliação e de
instrução e julgamento.
Por fim, como
“Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e
manifesta”
3
, a partir da observação e análise de todo o material pesquisado, serão
apresentadas sugestões visando a contribuir para a celeridade de tramitação dos processos nos
Juizados Especiais Cíveis
3
2-
HIPÓTESE DE TRABALHO
2.1 Enunciação
A hipótese que se pretende verificar, através de pesquisa empírica, é a de saber se as
audiências de conciliação nos Juizados Especiais Cíveis Cariocas se traduzem em mais uma
etapa que contribui para ampliar a demora da entrega ao cidadão da prestação jurisdicional
perseguida ou, ao reverso, se tais audiências de conciliação se revelam como uma solução
para reduzir o número de julgamentos de mérito acelerando, consequentemente, o desfecho
das ações judiciais.
Nesse sentido o presente trabalho se propõe a pesquisar diversos aspectos que
envolvem a realização da audiência de conciliação em separado da audiência de instrução e
julgamento.
A avaliação do custo-benefício da junção de atos processuais em uma única assentada
restaria prejudicada se apenas o tempo do processo fosse considerado. O custo financeiro e
emocional de se realizar uma ou duas audiências, merecem também uma abordagem.
Nestes campos não teremos a pretensão de aferir números precisos dos gastos
econômicos envolvidos na realização de uma audiência, tampouco adentrar na psicologia das
partes, entretanto ainda de que de forma superficial tais elementos serão considerados quando
da conclusão do trabalho.
2.2
Delimitação do Campo de Pesquisa
Em 24.04.2008, era o seguinte o quadro dos nossos Juizados:
Juizados Especiais
Instalados
Cíveis da Capital
27
Criminais da Capital
14
Cíveis do Interior
38
do Interior
Juizados Especiais Adjuntos nas Comarcas de 1ª e 2ª entrância
Total
Adjuntos Cíveis
55
Adjuntos Criminais
69
Sem desprezar os dados obtidos junto a dezenas de Juizados Especiais distribuídos por
diversos Municípios Fluminenses, os 07 (sete) Juizados Especiais Cíveis localizados dentro
do Fórum Central da Comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro, foram o principal foco
de investigação desta pesquisa.
A opção em concentrar a observação nos Juizados Especiais da Capital se justifica por
razões meramente geográficas, haja vista que alguns Juizados Especiais do interior estão
localizados a muitos quilômetros de distância
4
, dificultando com isso o acesso e,
consequentemente, a verificação de dados.
2.3 Método
de
Investigação
A metodologia principal foi a pesquisa de campo. O setor de estatística do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro
foi consultado
5
ao longo deste trabalho, para a elaboração
de um levantamento quantitativo, no intuito de apresentar dados objetivos quanto à
temporalidade dos processos atuais e, projetar possíveis impactos da unificação das
audiências no que tange a duração do processo.
Concomitantemente a busca de informação junto ao setor de estatística do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, dados de inúmeros casos julgados no Fórum Central da
Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro foram catalogados
6
visando a apurar o tempo
despendido entre a designação da audiência de conciliação e a audiência de instrução e
julgamento de modo a traçar um perfil analítico do tempo do processo nos Juizados.
4
O Juizado Especial Adjunto Cível de Itaperuna, por exemplo, está a aproximadamente 300 km de distância do
Centro do Rio de Janeiro de acordo com informações obtidas no google maps.
5
Anexo I - Dados solicitados ao Setor de Estatística do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em
28.05.2010, Anexo II –Dados recebidos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nos quais foram
inseridos ao final uma “coluna” denominada “percentual de conciliações realizadas em AC”.
6
Como critério da pesquisa, aleatoriamente, estabeleceu-se o prazo de uma semana
(11/03/2011 a 17/03/2011) e ao longo deste período, todas as audiências que tiveram curso
nos 07 (sete) Juizados Especiais Cíveis localizados no interior do Fórum Central da Comarca
da capital do Estado do Rio de Janeiro foram inventariadas
7
.
A partir desta listagem, acessamos através do
site
do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro
8
, cada um dos processos, anotando a data da distribuição, data da audiência de
conciliação, data da audiência de instrução e julgamento ou data da audiência una de
conciliação instrução e julgamento.
Desta forma, foi possível aferir o tempo despendido em cada fase do processo, bem
como a duração do feito até a data da prolação da sentença. A partir da criação desta fonte, as
metodologias empregadas nas audiências bipartidas ou unas
9
foram comparadas, a fim de
apurar qual destas práticas melhor atende ao princípio da razoável duração do processo.
Ademais, a fim de colher dados, impressões e sugestões de aperfeiçoamento dos
Juizados Especiais Cíveis, entrevistamos Juízes Leigos, Conciliadores, Advogados que atuam
nos Juizados Especiais Cíveis e alguns jurisdicionados que já se utilizaram dos Juizados
Especiais para julgamento de alguma demanda.
2.4 Observadora
participante
Antes mesmo de concluir a graduação em Direito, em 1988, pela Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, já freqüentava, como estagiária, o foro estadual e federal da
Comarca do Rio de Janeiro.
Desde aquela época me afligia a “irrespondível” pergunta recorrente dos clientes sobre
a duração de um processo. Como tantos, acreditei que a criação dos Juizados Especiais Cíveis,
desafogaria as prateleiras dos cartórios e traria o efeito de amenizar a angústia dos
jurisdicionados decorrente da demora na solução de seus problemas.
7
Planilha 1 – Relação de todos os processos catalogados no período de 11.03.11 a 17.03.11
8www.tjrj.jus.br
9Hoje, decorridos pouco mais de 15 anos desde a criação dos Juizados Especiais pela
Lei n. 9.099/95, o panorama não é nada animador. Como a competência da distribuição de
ações nos Juizados Especiais Cíveis e nas Varas Cíveis é concorrente em ações de menor
complexidade definidas em virtude do valor da causa (até 40 salários mínimos) ou da
matéria
10
, muitos colegas de profissão, sempre que podem, evitam os Juizados
11
.
Fugir do problema é uma opção válida, outra alternativa é utilizar a experiência
pessoal, adquirida ao longo de anos de atuação prática nos Juizados Especiais Cíveis cariocas
e transformar esta vivência em objeto de pesquisa.
O que motivou a elaboração desta dissertação foi justamente o ideal de, a partir da
construção deste texto
12
, de alguma maneira contribuir para a geração de idéias e sugestões
que acarretem a modificação do estado das coisas e em última análise resultem em uma
maior, celeridade, efetividade e eficácia da prestação jurisdicional.
10
Ações relacionadas no artigo 275 do CPC e ações de despejo.
11“Como os Juizados estão com excesso de processos, precisamos de mais vivacidade dos juízes. Muitos
advogados estão fugindo dos Juizados Especiais. Eu mesmo já prefiro não trabalhar aqui. Toda vez que uma
ação minha pode correr nas varas cíveis, faço esta opção.” Carlos Augusto Rodrigues, advogado, 53 anos –
Tribuna Livre, série de entrevistas publicada na Tribuna do Advogado, número 493, julho de 2010.
12
3-
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS – TAL COMO IDEALIZADO PELO
LEGISLADOR
O período da ditadura militar brasileira (1964-1985) é lembrado como uma época de
repressão, tortura e, especialmente supressão de direitos constitucionais.
Porém, curiosamente, foi justamente nesta época de desmandos e autoritarismo, onde
o Poder Executivo se sobrepunha aos demais Poderes do Estado, que surgiu a idéia
revolucionária de democratizar o acesso à justiça a partir da criação de uma Justiça rápida,
barata e capaz de atender à parcela mais pobre da população.
No ano de 1979, logo após assumir o Governo, o Presidente e General João Batista
Figueiredo criou o Ministério da Desburocratização, nomeando para o cargo de ministro, o
economista e administrador Hélio Beltrão
13
, que lançou o Programa Nacional da
Desburocratização
14
, partindo da premissa de que:
“O brasileiro é simples e confiante. A administração pública é que
herdou do passado e entronizou em seus regulamentos a centralização,
a desconfiança e a complicação”. (www.desburocratizar.org.br)
e tendo como norte a certeza de que:
“Sem uma justiça acessível ao homem comum, aplicada com razoável
rapidez, não se pode falar em liberdade ou democracia. O pior
julgamento é aquele que não acontece”. (www.desburocratizar.org.br)
Destinado a dinamizar e simplificar o funcionamento da Administração Pública
Federal, o programa criou um canal de comunicação com a sociedade civil, passando a dela
receber, diretamente, críticas e sugestões de melhorias.
Ao constatar que uma gama enorme das reclamações era dirigida diretamente ao Poder
Judiciário e referentes em sua maioria, a causas de pouco valor e complexidade jurídica
(Ferraz, 2010, p. 36), o Secretário Executivo e Coordenador do Programa Nacional de
13
Helio Beltrão foi ministro do Planejamento no Governo Costa e Silva (1967-1969) e da Junta Militar de 1969
14Desburocratização, Piquet Carneiro, buscando inspiração em experiências estrangeiras
realizou, em setembro de 1980, uma visita às
Small Claims Courts
de Nova York.
As hoje conhecidas
Small Claims Court
derivam de um longo desenvolvimento
histórico acerca da maneira de lidar com demandas de baixa complexidade, que teve início em
1913, em Cleveland, nos Estados Unidos da América, onde surgiu o primeiro órgão
jurisdicional com atribuição especial para cuidar das “pequenas” causas, a
poor man´s court
(corte dos homens pobres), que era uma espécie de filial da Corte Municipal. (Friedman:1984,
58-59).
A
primeira
poor man´s court
instalada na cidade de Nova Iorque, em 1934, julgava
apenas causas com valor inferior a cinqüenta dólares e foi criada logo após a quebra da Bolsa
de Valores em 1929, como resposta a urgência da população de baixa renda em resolver suas
demandas em um curto espaço de tempo.
As características gerais dessas cortes americanas eram o de ser populares, atendendo
as camadas baixa e média da população, e de ter baixo custo para seus usuários, tendendo
ainda a ser bastante informais, dispensando os advogados e as formalidades processuais que
costumam transformar o processo em um ritual moroso e altamente misterioso aos olhos dos
leigos.
Inspirada naquele arquétipo norte-americano adveio a Lei Federal n° 7.244, de 07 de
novembro de 1984, que instituiu no Brasil os Juizados de Pequenas Causas, com as seguintes
características gerais: competência restrita à esfera cível, destinado ao julgamento de
demandas de menor complexidade, com o valor da causa limitado em até 20 (vinte) salários
mínimos, isenção de custas em primeira instância e contratação facultativa de advogado.
Muitos foram os críticos deste novo modelo, dentre eles Rogério Lauria Tucci
(1985:6-7) para quem, ao invés de criar as Pequenas Causas, bastaria revitalizar o
procedimento sumaríssimo.
atender as causas de menor valor que, até então, passavam ao largo da apreciação estatal
devido ao alto valor envolvido nas demandas judiciais, decorrentes do pagamento das
despesas judiciais e dos honorários advocatícios.
A Constituição Federal promulgada em 1988 conferiu
status
constitucional aos
Juizados de Pequena Causa, ao tratar da matéria em seus artigos 24 inciso X
15
e 98, inciso I
16
.
As inovações introduzidas pela Carta Fundante em relação à Lei n° 7.244/84 foram: (i)
a instituição do juiz leigo, ao lado do juiz togado; (ii) a inserção da execução das causas
cíveis, que constava no projeto original, mas fora excluída; (iii) a criação, ao lado dos
Juizados Especiais Cíveis, dos Juizados Especiais Criminais; (iv) a alteração do objeto, de
causas de reduzidos valor econômico, para causas cíveis de menor complexidade; e, (v)
autorização da transação. (Ferraz, 2010, p. 45)
Apesar do comando Constitucional imperativo determinando a criação dos Juizados
Especiais, somente em setembro de 1995, o então Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso, sancionou a Lei n° 9.099, instituindo aqueles Juizados.
A partir dali, introduziu-se no mundo jurídico um microssistema de natureza
instrumental destinado à rápida e efetiva atuação do direito
17
. Como os Juizados foram
estruturados para solucionar uma categoria específica de interesses cotidianos, este novo
modelo de prestar jurisdição teve sua competência limitada a causas de menor complexidade
assim elencadas no art. 3° da Lei 9.099/95:
I – as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
15
Artigo 24 da CF – Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre (...) X –
criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas.
16
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos
por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas
cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de
juízes de primeiro grau;
17
II – as enumeradas no artigo 275, inciso II do Código de Processo Civil
18
;
III – a ação de despejo para uso próprio;
IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no
inciso I deste artigo;
Estabeleceu-se ainda (art. 3º, § 1º) que os Juizados Especiais Cíveis seriam
competentes para promover a execução:
I – dos seus Julgados;
II – dos títulos executivos extrajudiciais no valor de até 40 salários mínimos.
No entanto, por uma questão estratégica, para que o sistema fosse de fato simplificado
e voltado para uma categoria bastante específica de interesses cotidianos, excluíram-se de sua
competência as causas: 1) de natureza alimentar, falimentar e fiscal; 2) de interesse da
Fazenda Pública; e, 3) referentes a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e à capacidade
das pessoas.
A capacidade postulatória foi outro dos filtros de acesso aos Juizados Especiais
introduzidos pelo Legislador. De início, somente as pessoas físicas capazes eram admitidas a
propor ação perante o Juizado Especial
19
. O incapaz, o preso e as pessoas jurídicas de direito
público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil foram impedidos
de se utilizar desta arena diferenciada. (art. 8º)
À primeira vista, a inserção de tantas restrições de acesso a esta corte, seja de ordem
econômica (causas até 40 salários), seja em razão da matéria, seja concernentes à capacidade
postulatória das partes, poderia anunciar um verdadeiro contrasenso ao ideal de facilitação do
acesso do cidadão à Justiça, mas com um olhar mais criterioso percebe-se que o
“desenho
institucional dos Juizados Especiais Cíveis foi concebido com base na solução de uma
categoria determinada e específica de litígios, ‘pequenas causas’, individuais, atomizadas e
de impacto restrito aos litigantes”
(Ferraz, 2010, p. 133). Admitir demandas estranhas aos
18
O artigo 275 do CPC trata do procedimento sumário. O inciso I do artigo 275 do CPF, foi excluído da
competência dos Juizados Especiais Cíveis, pois autoriza o procedimento sumário para causas cujo valor não
exceda a 60 vezes o valor do salário mínimo.
19
seus fins poderia inclusive,
“comprometer a própria razão de ser desses Juizados”
.
(Watanabe et. al., 2004: 799-800)
Por outro lado, seguindo o modelo dos Juizados de Pequenas Causas, visando
neutralizar os óbices de ordem financeira estabeleceu-se a gratuidade de custas na primeira
instância e a obrigatoriedade da assistência por advogados foi imposta apenas para as causas
de valor superior a 20 (vinte) salários mínimos, sendo facultativa para as causas de valor
inferior a este patamar.
Com o propósito de eliminar a burocracia a lei fixou como nortes que deveriam
orientar todos os processos julgados nos Juizados Especiais o critério da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual, celeridade e a busca, sempre que possível,
da conciliação das partes. (art. 2°)
Com vistas a entregar ao cidadão a tutela jurisdicional dentro de um prazo razoável,
optou o legislador por um procedimento oral, autorizando expressamente em diversos artigos
da lei a forma verbal.
Assim é que, nos Juizados Especiais Cíveis é possível a outorga de mandado verbal ao
advogado (art. 9°, § 3°), qualquer meio idôneo de comunicação (p.ex: telefone) pode ser
utilizado nos Juizados Especiais (art. 13, § 2°), apenas os atos essenciais demandam registro
escrito (art. 13, § 3°), a apresentação do pedido inicial (art. 14), tanto quanto a contestação a
este pedido (art. 30) podem ser feitas de forma oral, a prova testemunhal não precisa ser
reduzida a termo, sendo referenciada apenas no essencial em sentença (art. 36), os embargos
de declaração podem ser opostos verbalmente (artigos 49 e 53 § 1°) e até mesmo a solicitação
para o cumprimento do julgado pode ser formulada de forma oral (art. 52, IV).
Para Tourinho Neto e Figueira Júnior
20
, com a aplicação do princípio da oralidade, há
“uma desburocratização documental do processo”
, a qual, por certo, imprime uma maior
velocidade na entrega da prestação jurisdicional.
20
Uma vez que nas causas de valor até vinte salários mínimos a assistência das partes
por advogados é facultativa (art. 9°), buscou-se prestigiar a simplicidade e a informalidade
dos atos processuais de modo a tornar factível que o cidadão comum, não familiarizado com o
linguajar jurídico pudesse, sozinho, compreender todas as fases do processo.
Acerca do princípio da simplicidade João Mendes Júnior
21
, dizia que:
“Simplificar o processo é reduzir os atos a tantos quantos sejam
necessários para chegar ao julgamento e a execução e os termos do
processo a tantos quantos sejam suficientes para a fluência da
instância”.
Os atos solenes e o tecnicismo exagerado - que tanto tornam longas as batalhas
judiciais - foram afastados de modo não apenas a colocar o jurisdicionado o mais próximo
possível da igualdade de armas com os operadores do direito, como também aproximá-lo e
estimulá-lo a procurar o Judiciário em busca de uma resolução breve de seus conflitos de
interesse.
Cappelletti e Garth enfatizam que:
“Se a lei é mais compreensível, ela se torna mais
acessível às pessoas comuns”
22
e, Hélio Tornaghi
23
estudando o juiz e o formalismo, ensina
que:
“Na aplicação da lei depara-se o juiz ainda com outro problema. No
Direito, como em tudo mais, a técnica introduz um elemento artificial:
a fórmula. O formalismo é um bem ou um mal? Na medida em que se
divorcia da realidade é um mal”.
Desta forma, estabeleceu-se que o pedido deve ser formulado de forma simples e em
linguagem acessível (art. 14) e ainda que se o ato processual atingir sua finalidade será
sempre considerado válido (art. 13).
Da informalidade e simplicidade decorrem que as intimações (art. 19), tanto quanto os
atos processuais a serem realizados em outras comarcas, podem ser solicitados por qualquer
meio idôneo (art. 13, § 2°); as citações podem ser realizadas independentemente de mandado
21
MENDES JÚNIOR, João.
Apud
Rosa, Inocêncio Borges da. Comentários ao Código de Processo Penal, 2. Ed.,
Porto Alegre, Oficina Gráfica da Livraria do Globo, 1961, vol. 1, p. 44
22
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryan. “Acesso à Justiça”. Tradução de Ellen Gracie
Northfleet. Porto Alegre, Fabris, 1988, p. 156.
23
ou carta precatória (art. 18, II); todas as provas, ainda que não requeridas previamente, podem
ser produzidas em audiência (art. 33) e as testemunhas ouvidas independentemente de anterior
arrolamento.
Autorizou-se ainda que o juiz profira sentença sem a necessidade do relatório (art. 38),
mencionado apenas os elementos de convicção que o levaram a proclamar aquele veredicto.
Dinamarco prega que as sentenças proferidas nos Juizados Especiais devem ser
objetivas e
“despojadas de mostras de erudição”
24
, para que as partes, compreendam e até
mesmo se convençam da Justiça da decisão, ou se inconformadas com o
decisum
tenham
elementos para interpor, adequadamente, seus recursos e impugnações.
Em segunda instância, se a sentença for confirmada, a súmula do julgamento servirá
de acórdão (art. 46); na fase de execução permitiu-se que o devedor, o credor ou terceira
pessoa idônea tratem diretamente da alienação forçada dos bens (art. 52, VII) e dispensou-se a
publicação de editais em jornais, quando se tratar de alienação de pequeno valor (art. 52, IX).
Mas o ideal desburocratizante que deu origem a própria criação dos Juizados Especiais
Cíveis, não se esgotaria plenamente apenas com aplicação prática dos princípios da oralidade,
simplicidade e informalidade.
Economia e celeridade processual são dois outros pilares fundantes que edificaram o
sonho daqueles que “inventaram” essa nova forma de fazer Justiça, capaz de entregar ao
jurisdicionado uma resposta rápida aos seus reclames.
O objetivo principal do legislador ao inserir o critério da economia processual como
um dos princípios básicos a serem observados nos Juizados Especiais Cíveis foi o de alcançar
o maior resultado no menor espaço de tempo possível. Com muita propriedade, Maria Marta
Neves Cabral assim define o princípio da economia processual:
“Para assegurar a efetividade do processo, o Princípio da Economia
Processual se refere a uma economia de custo, uma economia de
tempo, uma economia processual, onde se busca a obtenção de maior
24
resultado com o menor uso de atividade jurisdicional, ou seja, o menor
número de atos, bem como o aproveitamento dos atos que não forem
prejudicados pelo vício, desde que não traga prejuízo para as partes, a
aplicação da fungibilidade e, finalmente seu papel mais importante
que é o social, cuja finalidade visada é de uma eficiente prestação
jurisdicional, proporcionando uma justiça rápida e de baixo custo,
tanto para as partes como para o Estado, atendendo aos valores
constitucionais em uma perspectiva concreta e não apenas formal,
oferecendo soluções justas, efetivas e tempestivas”.
25Em outras palavras, sintetizar ao extremo os atos processuais e deles extrair o máximo
possível de efeitos, poupando com isso tempo e dinheiro, não apenas do Poder Público, mas
também dos cidadãos que não tem de retornar infinitas vezes ao cartório a fim de se informar
acerca do andamento de seu processo, é a finalidade precípua do princípio da economia
processual.
A otimização de procedimentos acaba por produzir reflexos benéficos no ritmo do
processo, conferindo-lhe maior celeridade e com isso contribuindo para o acesso à Justiça, em
especial do cidadão hipossuficiente que não dispõe de tempo nem de dinheiro para suportar o
ônus decorrente da demora da finalização do processo.
Muito antes da inserção no texto constitucional
26
da norma programática
27
que incluiu
no extenso rol que trata dos direitos e garantias fundamentais assegurados ao cidadão (art. 5°
da CF) a garantia de que todos os processos, judiciais ou administrativos, devam se
desenvolver em tempo razoável e observando a celeridade na tramitação, a lei 9.099/95 já
preconizava como princípio norteador a celeridade na tramitação dos processos.
Não é demais lembrar que, como visto anteriormente, o ponto nodal, o espírito e o
ideal da própria criação dos Juizados Especiais Cíveis foi o de, justamente, abreviar ao
máximo o tempo do processo de modo a entregar ao jurisdicionado uma pronta resposta aos
seus anseios.
25
CABRAL, Maria Marta Neves – Ponderações sobre o princípio da economia processual na ação monitória,
artigo elaborado em 12/2002 e disponibilizado na Revista Jus Navigandi
HTTP://jus.uol.com.br/revista/texto/5297
26
Emenda Constitucional nº 45/2004 de 08 de dezembro daquele ano.
27Diante dos fartos exemplos de processos de conhecimento longevos, que resultaram
inúteis e ineficazes quando chegavam a fase de cumprimento do julgado, por diversas razões
de ordem fática ocorridas ao longo do processo, dentre elas, morte das partes, falência das
empresas, inexistência de bens dos devedores, etc, o legislador buscou, quando da elaboração
da lei dos Juizados Especiais, diversas formas de imprimir velocidade aos provimentos
jurisdicionais.
A partir da aplicação dos critérios da economia processual e celeridade, a lei autorizou
a cumulação de pedidos conexos em um único processo (art. 15), a inserção de pedidos
contrapostos na contestação e julgamento conjunto em uma única sentença do pedido
principal e contraposto (artigos 17, § 1° e 31).
Com vistas a imprimir rapidez ao processo, simplesmente eliminou-se a possibilidade
de a citação se dar através de edital (art. 18, § 2°), forma tradicionalmente complexa e
demorada de cientificar o réu.
Previu a lei que se o demandado não comparecer a audiência de conciliação deve o
juiz proferir sentença (art. 23) e, se comparecer e restar frustrada a conciliação, procede-se,
imediatamente, à audiência de instrução e julgamento (art. 27).
Por seu turno, a audiência de instrução e julgamento concentra os atos de oitiva das
partes, colheita de provas e, se possível, prolação da sentença (art. 28), sendo certo que dos
atos praticados em audiência já saem as partes cientificadas (art. 19), inclusive, se possível, da
data em que será efetuada a leitura de sentença (art. 52, III).
Algumas decisões estratégicas foram adotadas com vistas a agilizar a solução das
causas, a saber:
a) fortalecimento do poder do Juiz;
O poder do Juiz foi ampliado na medida em que a ele concedeu-se a possibilidade de
dirigir o processo e apreciar as provas com “liberdade”, dando “especial valor às regras de
experiência comum ou técnica”, sem a necessidade de valer-se de exames periciais (art. 5°).
Assim, o magistrado pode solucionar os litígios com base nos elementos culturais
pertinentes ao cotidiano da sociedade em que vive (Chimenti, 2000:73), além de poder
“adotar em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais
da lei e às exigências do bem comum” (art. 6°).
Pode ainda o julgador limitar ou excluir as provas que considere excessivas,
impertinentes ou protelatórias (art. 33) e determinar a imediata condução, com concurso de
força pública, de testemunha que devidamente intimada não compareça a audiência designada
(art. 34, § 2°).
Das partes, além de ter sido suprimido o direito de recorrer das decisões
interlocutórias, foi acrescido o ônus de promover o preparo do recurso inominado (art. 42, §
1°), o que as desestimula ao uso protelatório do recurso, de modo que, não raro e a
experiência assim comprova que o trânsito em julgado se dá logo após a prolação da sentença.
Em busca de uma resolução tempestiva, o novo procedimento foi construído com base
na lógica da composição e não a do litígio. A idéia central era transmudar a mentalidade
clássica adversarial dos operadores do direito e das partes, estabelecendo um novo paradigma
para a solução dos conflitos, calcado na cultura da pacificação e do acordo.
Para tanto foi criada a figura do conciliador, o qual, de acordo com o disposto no art.
7°, deveria ser recrutado, preferencialmente entre os bacharéis de direito e cuja função
precípua seria facilitar o diálogo entre as partes, aproximando-as e estimulando-as a participar
ao processo de solução das controvérsias através de um acordo.
Não alcançada a conciliação uma outra alternativa de composição foi forjada pelo
legislador com vistas a fugir da lógica do conflito. Assim é que o art. 24 assevera que, não
obtida a conciliação, as partes poderão optar de comum acordo pelo juízo arbitral e só então,
frustrada a conciliação e não instituído o juízo arbitral, designa-se audiência de instrução e
julgamento.
A filosofia conciliatória dos Juizados Especiais é de tal maneira relevante que as
partes são obrigadas a comparecer pessoalmente à sessão de conciliação. Evidentemente não
são elas obrigadas a chegar a um consenso acerca do objeto do litígio, mas a presença das
partes é imposição legal que visa a facilitar a pacificação social, na medida em que se acredita
que a partir do contato entre autor e réu é possível estabelecer ou restabelecer um diálogo e a
partir daí construir a melhor solução:
“...a composição amigável é a melhor forma de solucionar conflitos
jurídicos e sociológicos, na medida em que a sentença de mérito de
procedência/improcedência do pedido põe termo apenas à lide no
plano do direito, não extinguindo necessariamente, o litígio dos
contenedores na órbita social, onde reside a efetiva pacificação.”
28Com este intuito, fixou-se que a ausência do demandado acarreta a decretação da
revelia, reputando-se verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário
resultar da convicção do juiz (art. 20) e, em contrapartida, o não comparecimento do autor a
qualquer das audiências resulta na extinção do processo, sem julgamento do mérito (art. 51).
Não se deve esquecer que a opção do legislador por esta estratégia conciliatória teve
motivação na própria crise do processo civil ordinário. Da incapacidade de a Justiça Comum
dar respostas ao jurisdicionado em prazos razoáveis, introduziu-se nos Juizados Especiais
Cíveis esta fase obrigatória de conciliação, a qual se imaginava seria uma valiosa válvula de
escape capaz de reduzir o avassalador volume de processos sob o comando de um Juiz.
Na visão daqueles que arquitetaram esta nova arena de julgamentos, a conciliação
seria, portanto, a pedra de toque
29
, uma fórmula simples, econômica e eficaz de alcançar a
Justiça.
28
TOURINHO NETO. Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Estaduais Cíveis e
Criminais: comentários à Lei 9.099/1995. São Paulo: Revista dos Tribunais – 4ª ed. reform., atual. e ampl., 2005, p.21.
29
O grau de importância da conciliação é tamanho que diversos projetos foram criados
nos últimos anos com foco neste mecanismo de resolução célere e desburocratizada dos
conflitos, dentre eles merece destaque a campanha criada pelo Conselho Nacional de Justiça –
CONCILIAR É LEGAL
30
. À época, presidindo o CNJ e o STF, a Ministra Ellen Gracie
Northfleet, acerca deste projeto asseverava que:
“...os usuários tomarão contato com a conciliação e poderão começar a
desenvolver uma cultura favorável a acordos, que, no Brasil, ainda são
incipientes: o índice atual, nos processos judiciais, oscila entre 30% a
35%, enquanto nos países que já adotaram a conciliação, como forma
alternativa de solução dos conflitos, passa dos 70%. E os juízes, ao
desafogar o Judiciário daquelas causas mais simples, resolvidas por
consenso, terão rara e concreta oportunidade de dedicar mais tempo
aos questionamentos complexos e de interesse nacional ou regional,
por exemplo...”
31Em outros termos, trata-se em última análise, de um mecanismo hábil na ampliação do
acesso à ordem jurídica justa
32
, que possibilita “uma prestação jurisdicional efetiva, adequada
e tempestiva.”
33
Para Tourinho Neto e Figueira Júnior
34
, esta nova forma de prestar jurisdição
significou um avanço legislativo que veio dar guarida aos anseios de todos os cidadãos,
especialmente aos da população menos abastada, de uma justiça apta a proporcionar uma
prestação de tutela simples, rápida, econômica e segura, capaz de levar à liberação da
indesejável litigiosidade contida.
30
Movimento em prol da conciliação lançado pelo CNJ em 2006, com o objetivo de estimular o judiciário a oferecer os
serviços de conciliação e incentivar a população a fazer uso deste mecanismo, em
http://www.cnj.jus.br/portal/images/programas/movimento-pela-conciliacao/artigo_01.pdf, em 08.03.2011
31
Disponível em
http://wwwh.cnj.jus.br/novoportal/noticias/3098-jornais-publicam-artigo-da-ministra-ellen-gracie, em 08.03.2011
32
Assim também Pedro Abreu e Paulo Brandão, quando afirmam, ancorados em Kazuo Watanabe e Antonio de
Campos que o escopo dos Juizados não está em resolver a crise do Judiciário, mas sim, “...a canalização de todos
os conflitos de interesses, mesmo os de pequena expressão para o Judiciário, que é o local próprio para a solução
(Juizados Especiais Cíveis e Criminais, p. 27)
33
WATANABE, Kazuo. Finalidade maior dos juizados especiais cíveis. Revista Cidadania e Justiça.
Rio de Janeiro, Ano 3, nº 7 - 2º semestre/1.999 – Revista da Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, p.
36.
34
4-
REAL PANORAMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS CARIOCA
Decorridos pouco mais de 15 anos desde sua criação, o que se vê atualmente é algo
muito diferente do idealizado pelo legislador.
As estatísticas do CNJ
35
demonstram que os Juizados Especiais Cíveis Fluminenses
têm atualmente uma procura muito significativa. No ano de 2008, responderam por cerca da
metade do número de ajuizamentos no Tribunal do Rio de Janeiro. Naquele ano, 622.426
novas ações foram distribuídas nos Juizados Especiais Cíveis enquanto 653.170 processos
seguiram para julgamento em 1ª Instância.
Com este acervo físico gigantesco, a taxa de congestionamento
36
nos Juizados
Especiais Cíveis se avoluma ano após ano e, em 2008, ainda de acordo com dados do CNJ,
atingiu o assombroso percentual de 43%.
Assim, em menos de duas décadas este novo foro, que deveria ser uma opção mais
célere e menos burocrática de acesso à Justiça, lamentavelmente, se transformou em mais uma
arena de embates judiciais morosos, que apenas espelham o dia-a-dia da Justiça Comum.
Contaminados pela cultura da Justiça comum, os Juizados abandonaram, na prática,
seus princípios norteadores. A forma escrita sobrepôs-se ao critério da oralidade, a
formalidade e a complexidade dos atos continuaram a ser observadas, de maneira que a tão
sonhada celeridade processual não passa, atualmente, de uma longínqua quimera.
A pesquisadora Luciana Gross, realizou pesquisa nos Juizados Especiais Cíveis de São
Paulo e constatou que a rotina de trabalho nas secretarias não se distingue
“em nada de
cartórios da Justiça Comum. A burocracia do sistema também pode ser notada pelos
documentos e ‘peças processuais’, que compõe cada um dos processos nos JEC`s, que por
sua vez em nada se diferenciam de um processo do juízo comum.”
37
35
Disponível em http://www.cnj.jus.br/images/conteudo2008/pesquisas_judiciarias/tjrj.pdf. Acesso em fev.
2011.
36
A taxa é calculada da seguinte forma: taxa de congestionamento = 1 – sentenças extintivas/casos novos +
casos pendentes de julgamento.
37
De igual modo, observou aquela pesquisadora que também os juízes se espelham em
sua experiência anterior na Justiça comum e no mais das vezes simplesmente
“reproduzem a
sua atuação e papel exercido no juízo comum, o que afeta de modo definitivo o desempenho
dos juizados quanto a informalidade e simplicidade, que o sistema, de acordo com a
legislação, prometia imprimir na solução dos conflitos.”
38
A verdade é que a falta de gerenciamento adequado das causas em curso nos Juizados
penaliza advogados, magistrados e, especialmente, o jurisdicionado. O estado calamitoso de
abarrotamento dos juizados especiais, na prática, impede o acesso de milhares de cidadãos
menos favorecidos à Justiça, pois o mau funcionamento faz com que as pessoas não mais
procurem esse órgão por absoluta descrença em sua eficácia.
Em Julho de 2010, o estado de flagelo dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio
de Janeiro chegou a tal ponto que a Ordem dos Advogados do Brasil decidiu promover uma
campanha intitulada Dignidade nos Juizados, cujo objetivo principal é lutar por condições
mais dignas de trabalho para os advogados que militam nessas unidades.
Em entrevista para a Tribuna do Advogado publicada em julho de 2010, o
procurador-geral da Seccional Rio da OAB, Ronaldo Cramer, asseverava que:
“As atividades da campanha serão norteadas por três idéias principais.
A primeira delas é promover cursos de atualização para auxiliar os
advogados a entenderem na teoria e na prática, o funcionamento dos
juizados. Além dos cursos, a atuação pela defesa das prerrogativas
também será intensificada, já que são freqüentes as reclamações de
advogados sobre desrespeito nos juizados. Uma equipe de delegados
da Comissão de Defesa, Assistência e Prerrogativas (Cdap) vai
fiscalizar a violação dos direitos dos colegas durante a campanha.
Sabemos que a situação é bastante preocupante, pois trata-se de uma
justiça sem estrutura e de muita demanda, e os advogados pagam o
preço dessas deficiências. Outra proposta é o desenvolvimento de
iniciativas para dar eficiência ao atendimento nos Juizados...para o
aprimoramento do serviço prestado nos juizados, pois eles afetam
diretamente os advogados e os cidadãos.”
38
Na mesma edição de Julho de 2010 da Tribuna dos Advogados, Sérgio Fischer,
vice-presidente da Seccional da OAB/RJ e um dos coordenadores da campanha resumia assim o
escopo da campanha e a realidade dos Juizados:
“A iniciativa será uma oportunidade para que a Ordem conheça mais
profundamente as dificuldades vivenciadas pelos colegas que atuam
na área, podendo assim buscar novas estratégias, para tornar o serviço
prestado pelos juizados mais eficientes. A OAB/RJ é solidária ao
sofrimento dos advogados que atuam nos juizados. Vamos agir com
firmeza para garantir condições decentes de trabalho para esses
colegas”.
A insatisfação, decepção e a descrença são a tônica de todos os personagens que atuam
nos Juizados ou dele um dia já fizeram uso. Juízes togados, leigos, conciliadores, advogados,
prepostos e os Jurisdicionados reclamam, incessantemente, da precariedade da estrutura física,
da ausência de gerenciamento de rotinas e da lentidão no julgamento das causas.
Diante deste panorama caótico cada um dos Juizados Especiais Cíveis passou a adotar
um mecanismo próprio para gerir suas atividades. Assim é que, atualmente, se encontram três
formas de administração das pautas de audiência.
4.1 AUDIÊNCIAS
BIPARTIDAS
REALIZADAS EM DIAS DISTINTOS
Há cartórios que seguindo a fórmula traçada pela legislação realizam, inicialmente,
uma audiência de conciliação. Não alcançado o acordo, nova data é designada para ter lugar à
audiência de instrução e julgamento.
Como a presença das partes é obrigatória em ambas as audiências, usualmente os
autores da demanda se revoltam por não compreenderem a razão de terem se deslocado ao
juízo, aguardando habitualmente horas pela audiência de conciliação a qual, não raro, demora
apenas o tempo de o réu dizer que não têm proposta de acordo, o conciliador conferir os
documentos de representação das partes e, mecanicamente, preencher a ata da sessão com
uma nova data para comparecimento das partes à audiência de instrução e julgamento.
nova data de audiência de instrução e julgamento, a qual, a teor do disposto nos artigos 24 e
27 deveria ocorrer “imediatamente”, mas que, no mais das vezes é designada para dia
extremamente longínquo, agravando ainda mais a indignação do autor contra o réu.
A credibilidade da Justiça fica abalada nestas ocasiões, pois o Jurisdicionado tem a
sensação de que gastou tempo e dinheiro, se deslocando até o fórum e deixando de exercer
outras atividades remuneratórias, sem que lhe fosse dada uma resposta efetiva, mas tão
somente outra data em que terá de comparecer para uma nova audiência, que agora, em seu
imaginário, não passa de um encontro com seu algoz no qual nada será resolvido.
Não é apenas o autor que acumula perdas com este tipo de procedimento; também o
réu tem de se deslocar por duas vezes ao Juízo, o que muitas vezes revela-se um enorme
prejuízo, basta lembrar que o não comparecimento do demandado a esta audiência de
conciliação acarreta a decretação da revelia.
Como no microssistema dos Juizados Especiais, tem o autor por força do disposto no
art. 4°, a prerrogativa de escolher o foro de seu domicílio para ajuizar a ação, não é difícil
imaginar situações em que o réu tem que se deslocar muitos quilômetros para se defender,
perdendo com isso tempo e dinheiro.
De igual modo, dois dias das agendas de advogados e prepostos são preenchidos para
atender a uma única causa de pouca complexidade e valor reduzido. É bem verdade que,
como veremos em capítulo adiante há advogados e prepostos que ganham por audiência
realizada, mas muitos desses profissionais recebem por processo, de modo que a bipartição de
audiências em dias distintos revela-se um enorme prejuízo.
Perde ainda o Estado, não apenas em credibilidade, como já acima mencionado, mas
também nos gastos envolvidos com a realização de duas audiências.
serventes, um imenso consumo de energia com luz, ar-condicionado, computadores,
impressoras, papel para estampar pautas e atas.
Aqueles que adotam esta forma de procedimento afirmam ser esta a única maneira de
respeitar os horários designados para as audiências, pois o tempo de uma audiência cujo único
escopo é o de tentar resolver o processo através da conciliação não varia tanto quanto em uma
audiência em que se condensa a fase de instrução e julgamento.
Na fase de instrução, é possível que se faça necessário ouvir o depoimento pessoal,
promover a oitiva de testemunhas, o que torna o tempo da audiência indefinido, de modo que
a adoção da prática das audiências unas impossibilita a gestão do horário das pautas.
Se a audiência é una, a testemunha tem de estar a postos aguardando o desfecho da
audiência de conciliação, pois, não alcançado o consenso, o juiz poderá chamá-la para
testemunhar de imediato.
Nesta sistemática as testemunhas da causa só serão chamadas e só terão de se deslocar
até o fórum caso o acordo não seja alcançado no curso da audiência de conciliação, o que
segundo os adeptos desta metodologia de trabalho, revela outro grande benefício da bipartição
da audiência, que é o de evitar que inúmeros atos judiciais e cartorários sejam levados a
efeito, desnecessariamente, tais como:
juntada de petições com rol de testemunhas e solicitação de intimação prévia destas
para comparecer em juízo na data designada para a audiência;
despacho judicial na precitada petição;
publicação deste despacho no Diário Oficial; e,
expedição de mandados de intimação das testemunhas.
4.2
DUAS AUDIÊNCIAS REALIZADAS EM UM SÓ DIA
Os cartórios que optam por esta prática fazem constar dos mandados de citação a
advertência de que o réu:
“....deverá comparecer à audiência de conciliação que se realizará em
(dia e hora), podendo ser convertida em instrução e julgamento
presidida por Juiz Togado que colherá as provas em audiência una,
proferindo sentença”.
e também a de que:
Art 34 - “Fica o réu ciente de que poderá trazer à audiência, em sua
defesa, todas as provas disponíveis para demonstração de suas
alegações, tais como documental, fotográfica, testemunhal (no
máximo de três testemunhas, indicadas até 05 dias antes da audiência,
se necessária a intimação, art. 34 parágrafo 1º e 2º da Lei 9.099/95)”.
Desta forma, para que a produção das provas não fique prejudicada, caso não
alcançado um acordo na audiência preliminar de conciliação, as partes têm de levar suas
testemunhas, até o máximo de três, ou requerer-lhes a intimação, pelo menos cinco dias antes
da data marcada para a assentada inicial, o que acaba neutralizando os benefícios de bipartir
as audiências, pois, sem saber ao certo se instrução será ou não conduzida na mesma data, por
precaução as partes são obrigadas a apresentar previamente seu rol de testemunhas, mandados
são expedidos, testemunhas se deslocam para o foro etc.
Por outro lado, a adoção deste procedimento evita que as partes envolvidas, autor,
réus, prepostos e advogados tenham que se dirigir ao fórum em dias diversos, eliminado assim
alguns dos reveses acima elencados.
Porém, não raro, a distância de horário entre uma audiência e a outra é enorme,
fazendo com que todos percam o dia inteiro em uma estafante espera, que igualmente causa
prejuízos diversos.
4.3. AUDIÊNCIAS
UNAS
Importante destacar que este modelo era a fórmula original revelada na exposição de
motivos da Lei nº 7.244/84 que criou os Juizados de Pequenas Causas e como visto alhures,
inspirou a instituição dos Juizados Especiais Cíveis :
“...a celeridade do processo motivou o estabelecimento de ato único
onde se devem desenvolver todas ou quase todas as etapas pertinente à
exposição, instrução e julgamento da causa, isto é, a sessão de
conciliação e julgamento. Nessa sessão única as partes são ouvidas e é
tentada sua conciliação; são colhidas todas as provas e enfim é
proferida a sentença. Praticamente só se realizam fora desta sessão os
atos concernentes a apresentação da petição inicial, e a citação do réu
e intimação das testemunhas...”
39Em 2006, um dos candidatos finalistas do III Prêmio Innovare, cujo tema era a
“Justiça no Século XXI”, foi o projeto denominado “Juizado Especial Cível em ação:
audiência una sai do papel e vira realidade”, de autoria da Juíza Ijosiana Cavalcante Serpa, da
cidade de Quixadá, no Ceará.
Desenvolvido a partir da experiência prática daquela juíza que constatou que a
existência de duas audiências acaba “transformando o rito que deveria ser sumaríssimo em
ordinaríssimo”, o projeto que teve por inspiração o rito sumário, consiste, basicamente, em
realizar audiência una, sempre que possível.
De acordo com a juíza responsável pelo projeto, a medida possibilitou, de um só turno,
a redução do tempo de finalização dos processos (em média, de 60 dias), o efeito positivo nos
jurisdicionados e, ainda, indiretamente, aumentou o percentual de acordos firmados, já que a
parte não pode mais se beneficiar da demora na conclusão do processo. (Serpa, s.d.:33-37)
Embora a técnica sugerida não tenha sido premiada naquela edição do Prêmio
Innovare, a prática foi deferida pela entidade, que lista em seu site
40
os seguintes benefícios
específicos da utilização da prática:
“A prática beneficia de tal forma o alcance dos princípios basilares do
Sistema dos Juizados Especiais Cíveis, em especial, o da celeridade e
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Exposição de Motivos nº 007, de 17 de maio de 1983, do anteprojeto de lei que dispõe sobre a criação do Juizado
Especial de Pequenas Causas, apresentado pelo então Ministro de Estado Hélio Beltrão, Coordenador e Orientador do
Programa Nacional de Desburocratização Hélio Beltrão. In: BONFIM, B. Calheiros. Juizados de Pequenas Causas, – 4ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Destaque, 1995
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