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O enfraquecimento da presença Americana no Oceano Índico

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Academic year: 2017

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GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

O Enfraquecimento da Presença Americana no Oceano Índico

JOSÉ ANTÔNIO PÉREZ ROJAS MARIANO DE AZEVEDO

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

Matias Spektor

O ENFRAQUECIMENTO DA PRESENÇA AMERICANA NO

OCEANO ÍNDICO

APRESENTADO POR

José Antônio Perez Rojas Mariano de Azevedo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais, com ênfase em Política e Sociedade.

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

José Antônio Pérez Rojas Mariano de Azevedo

O ENFRAQUECIMENTO DA PRESENÇA AMERICANA NO

OCEANO ÍNDICO

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

Matias Spektor

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

O ENFRAQUECIMENTO DA PRESENÇA AMERICANA NO

OCEANO ÍNDICO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO POR

JOSÉ ANTÔNIO PÉREZ ROJAS MARIANO DE AZEVEDO

E APROVADO EM:

PELA BANCA EXAMINADORA:

Professor Doutor Matias Spektor

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Resumo

Este trabalho visa analisar com maior profundidade a geopolítica atual presente no Oceano Índico, calcada na diminuição de influência estadunidense, ao mesmo tempo em que China e Índia emergem como potências regionais e mundiais. Dessa forma, analisando diversos fatores que alteram a dinâmica local, pretende-se realizar, ao final, a elaboração de um cenário futuro para a região. Assim, servir de base para futuros estudos da mesma temática.

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Sumário

Resumo ... 7

Agradecimentos ... 9

Introdução ... 11

Justificativa ... 13

Metodologia ... 14

Capítulo 1 – A Geopolítica Regional: Dinâmicas contemporâneas ... 16

1.1 Poderio Militar na Região ... 16

1.2 Alianças ... 19

1.3 Índia X Paquistão: Equilíbrio de poder ... 21

1.4 Ameaças: Velhas e novas ... 22

1.4.1 Piratas da Somália ... 23

1.4.2 Irã ... 24

1.5 EUA e Índia = Equilíbrio de poder contra a China? ... 26

Capítulo 2 Diagnóstico da Presença Americana ... 28

2.1 Declínio ... 28

2.2 Competição ... 29

2.3 Impactos ... 30

2.3.1 Na Ásia ... 30

2.3.2 No Mundo ... 31

Capítulo 3 A Rota do Petróleo ... 33

3.1 O “Cordão de Pérolas” ... 34

Conclusão ... 36

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Agradecimentos

É impossível ser feliz sozinho, já dizia o gênio e mestre Tom Jobim, assim como também é impossível fazer tudo sozinho. Por isso, devo os meus agradecimentos a uma série de pessoas, sem as quais este trabalho não seria possível.

De início, o paixão pela leitura, pelo saber e pela área da qual me dedico. Sem eles, com certeza não seria o que sou hoje, não teria os valores e a dignidade que baseiam os rumos da minha vida. Obrigado, pai e mãe, pelas broncas, conselhos, paciência e dedicação.

Em segundo lugar, meus professores que, de uma forma ou de outra, nortearam minha vida acadêmica nesta etapa e que me ajudaram de diversas maneiras, não só na elaboração deste trabalho, como também em diversos outros momentos. Professores que, além de tudo, foram mestres na arte de ensinar com paixão pelo que fazem. Obrigado, Chris, Matias e Prof. Carlos Ivan, pelas infindáveis horas de conversa e aconselhamento.

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10 “Aquele que controla o Oceano Índico domina a Ásia.

Este Oceano é a chave para os sete mares.

No século XXI, o destino do mundo será decidido em

suas águas.”

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Introdução

O Oceano Índico conta com uma área de 74.000.000km² - aproximadamente 20% do total de águas oceânicas – entre o leste da África, o sul da Ásia, o oeste da Oceania e o norte da Antártica –, sendo uma das áreas mais ricas em hidrocarbonetos (petróleo e gás) e minerais do mundo. É a porção de água que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico e por isso conta com 80% do seu comércio extra regional1. Foi de uma suma importância entre os séculos XV, XVI e XVII, quando o comércio de especiarias entre a Europa e a Índia aumentou consideravelmente pelo mar – o que acabou tornando-o conhecido como Mar das Índias. Circunavegando o continente africano, chega-se ao Oceano Índico, que era atravessado até alcançar o que hoje corresponde ao território indiano.

Responsável por um terço da população e 25% do território mundial, além de 40% da produção de petróleo e gás e 70% dos desastres naturais2 que acontecem no mundo anualmente, os países que serão analisados são: Estados Unidos, China, Arábia Saudita, Índia, Irã, Paquistão e Somália. Excluindo os dois primeiros, todos os demais são banhados pelo Índico. Contudo, todos eles, em maior ou menor grau, possuem uma significativa parcela de poder na tomada de decisões.

Atualmente o Índico é a chave da dominação de grandes nações, como Índia e China. É uma região de extrema importância no contexto geopolítico mundial, por ser o escoadouro de grande parte da produção energética – a chamada “Rota do Petróleo” –

das maiores potências globais: Estados Unidos e China. Além disso, depende deste oceano mais de um terço da população mundial (as populações chinesa e indiana somam bem mais de dois bilhões de pessoas, sem contar os demais países costeiros).

Durante o governo Barack Obama em 2009 e a partir do declínio das guerras do Afeganistão e do Iraque – com o início da retirada das tropas estadunidenses do território afegão em 2011, dando espaço para a força militar da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) –, os Estados Unidos desviou seu foco da região do Oceano Índico e debruçou-se sobre o Oceano Pacífico, com especial atenção na China e sua

ascensão militar e econômica. A China, com seu “cordão de pérolas” – uma série de portos e bases militares, que acompanham a rota do petróleo em direção ao oriente –

imprime força e com sua presença militar na região, preocupa a Índia.

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1. A região do Oceano Índico.

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preocupação constante, não só para os Estados Unidos, como também para toda a região estudada e para o mundo.

A partir de então, como evoluiu a presença militar, econômica e diplomática estadunidense naquela região? Como os países caminharam sem uma tutela tão presente dos Estados Unidos? Pelo contrário, com uma China cada vez mais forte e com a Índia emergindo no cenário global, quais são os cenários atual e futuro para a região? Haverá cooperação ou conflito entre essas três potências? Até que ponto, a influência indiana cresce, atrás do acelerado desempenho chinês? Como o Paquistão se prepara para uma vizinha cada vez mais poderosa, capaz de destruí-lo?

O principal objetivo deste trabalho é entender como se dá a relação atual entre os principais países da região do Oceano Índico, com uma presença estadunidense cada vez mais declinante. Além disso, pretende-se também servir de subsídio para novos estudos sobre o tema.

Justificativa

No Brasil a situação do Oceano Índico é muito pouco pesquisada. Partindo deste princípio, se faz necessário um estudo mais detalhado sobre os desdobramentos militares e diplomáticos que rondam a região. Visando este objetivo, orientado pelo Professor Carlos Ivan Simonsen Leal, redigi um ensaio sobre o enfraquecimento da pax

americana na região.

Grande parte da bibliografia consultada nesse caso também será utilizada neste novo trabalho. Contudo, dada a complexidade do tema e as recentes notícias de uma crescente militarização na região do Oceano Índico, a busca por referências bibliográficas será aprofundada. Dessa forma, abarcarei diversos temas que concernem

sob o mesmo espectro trabalhado aqui. Dentre eles podem ser citados o “cordão de pérolas” chinês, os piratas da Somália (problema que começou no início da década de

1990 e vem se agravando nos últimos dez anos) e o caso da Caxemira3; três fatores que não tem relação entre si, mas que influenciam a estabilidade da paz na região.

Para que seja possível dar uma ideia da importância da presença americana na região, basta enfatizar que os Estados Unidos contam, além da 5ª Frota, com cerca de 15

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bases militares, sendo a de Diego Garcia a mais importante da região – e talvez do mundo, dada a sua localização geográfica, exatamente no meio do Oceano Índico. Nesta base estão alocados bombardeiros estratégicos B-524, poderosas armas de guerra.

Além do mais, a massiva presença de armamento nuclear também é outro fator preponderante no estudo desta problemática. Países como Paquistão, Índia e China são alguns dos que costumam mostrar sua capacidade de dissuasão com relativa frequência, por meio de testes com bombas nucleares e seus vetores.

Por ser a região por onde transitam 70% do comércio mundial de derivados do petróleo e metade dos containers do mundo5, o Oceano Índico possui uma localização estratégica que merece destaque nos estudos acadêmicos. Ao levarmos em consideração as novas posições galgadas pelo Brasil no cenário global, o país irá precisar de acadêmicos e especialistas no tema, dadas as questões que teremos de discutir em âmbito mundial.

Metodologia

Em geral os autores lidos para a composição deste projeto e do trabalho realizado anteriormente – tais como Kumar, Kaplan, Castro e Ashraf mostram-se reticentes sobre o que irá ocorrer futuramente no Oceano Índico. As três principais forças militares (Índia, China e Estados Unidos), em algum aspecto, são incapazes de estabelecer uma hegemonia incontestável.

Tendo isso em vista, Deepak Kumar, Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha de Guerra da Índia, verifica uma busca do consenso entre os três países, o que parece ser o melhor caminho, ao invés de um conflito armado, que acarretaria sérias consequências para todas as economias envolvidas, dado o alto de nível de entrelaçamento econômico, causado pela globalização. A hipótese de uma guerra é revigorada por conta da presença

do “cordão de pérolas” chinês, fator gerador de desconfiança por parte da Índia, que se sente “estrangulada” e ameaçada com tantas bases navais tão próximas de seu território.

Paralelamente, nota-se uma preocupação, por parte da comunidade internacional, que pode ser observada pelo acompanhamento das notícias veiculadas na imprensa,

4 Bombardeiro de maior número da Força Aérea Americana (USAF), estratégico de longo alcance de

cerca de 2500 km e capaz de carregar até 20 bombas nucleares.

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sobre os rumos que podem tomar a pirataria, o terrorismo e o diálogo com o Irã. No primeiro, há uma força multinacional, disposta a combater os piratas somalianos que estão cada vez mais bem equipados e preparados para lidar com os militares. No segundo, a costa do Oceano Índico é dividida em inúmeros países mulçumanos, que em maior ou menor grau, possuem reticências com o mundo ocidental – em especial com os Estados Unidos. Logo, há uma preocupação, por conta dos estadunidenses, em ser esta uma região celeiro de novos terroristas. Por último, apesar de contar com o apoio de China e Rússia no Conselho de Segurança da ONU, o Irã causa apreensão por seu desenvolvimento bélico, onde se supõe a existência – em estágio avançado – da produção de artefatos nucleares e seus vetores.

O material bibliográfico a ser utilizado poderá ser encontrado tanto na internet –

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Capítulo 1

A Geopolítica Regional: Dinâmicas contemporâneas

Com o objetivo de aprofundar a análise geopolítica nos capítulos seguintes, será apresentado um levantamento da situação na região do Oceano Índico e dos países que ali têm um interesse especial, abordando os aspectos históricos, políticos, militares e econômicos dos atores envolvidos neste trabalho.

1.1 Poderio Militar na Região

Zona de uma grande instabilidade no que se refere à segurança, a região do Oceano Índico possui uma crescente presença militar de diversos países. Os Estados Unidos tem ali uma de suas bases militares mais importantes: Diego Garcia, na ilha homônima. Incrustada estrategicamente no meio do oceano apta para lançar ataques rápidos, se necessário, em qualquer lugar da região. Funciona como base para os bombardeiros estratégicos B-52 e B-2. O primeiro, em atividade desde os anos 1950, é uma fortaleza voadora, podendo carregar mais de 30 toneladas de armamento e com um enorme raio de operação. Já o B-2 é um bombardeiro de última geração, sendo praticamente invisível aos radares. Assim como o B-52, possui enorme capacidade de armazenamento de armas e um grande raio de ação.

Ali estão presentes, também, a V e a VII Frota. A primeira, sediada no Bahrein (próximo do Irã) é responsável pelo Golfo Pérsico, Mar Vermelho, Mar da Arábia e da costa leste africana. A segunda dispõe do maior contingente bélico de todas as frotas estadunidenses em atividade – sediada em Yokosuka no Japão –, que responde pelo

Oceano Índico e pelo Oceano Pacífico Ocidental, “vigiando” assim a China e o Japão.

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2. Mapa indicando a localização das bases dos Estados Unidos (azul), Índia (verde) e China (vermelho) na Região do Oceano Índico

Índia e Paquistão são dois países que disputam há anos uma intensa corrida armamentista. Desde os fins do século passado, ambos possuem armamento nuclear, o que serve tanto para equilibrar os ânimos como para aumentar a preocupação com o desencadeamento de um conflito armado entre ambos. Contudo, segundo o Comodoro do Ar6 Tariq Mahmud Ashraf, um renomado oficial da Força Aérea do Paquistão, o uso da bomba nuclear apenas será feito em caso de “(I) a Índia atacar o Paquistão e

conquistar grande parte de seu território, (II) a Índia destruir grande parte da força aérea ou terrestre do Paquistão, (III) a Índia levar a cabo o estrangulamento econômico do Paquistão ou se (IV) a Índia forçar o Paquistão à desestabilização política ou criar subversão interna de grande escala”7. Mesmo sendo inferior militarmente ao seu vizinho, o próprio Paquistão evitará, como já foi dito, fazer uso deste artefato. Além disso, os indianos possuem a base naval de Port Blair, nas ilhas de Andaman na Baía de Bengala, ao leste da Índia, que serve para ampliar o perímetro de proteção e de vigia acerca de seu território.

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Por último temos a China e Irã. O primeiro com um investimento crescente em suas forças armadas torna-se uma ameaça à hegemonia estadunidense. Contando com o maior exército, cerca de 2,3 milhões de militares8, do mundo, a China está aumentando consideravelmente sua zona de influência na região, rivalizando diretamente com a Índia e militarmente com os Estados Unidos, que por conta da crise financeira e os elevados gastos com as guerras do Iraque e do Afeganistão, está diminuindo seu poderio militar na região, mantendo apenas bases estratégicas. Cabe lembrar que em novembro de 2011, o Presidente Barack Obama viajou para países da Ásia e da Oceania. Nesta viagem, reafirmou os laços de colaboração militar com a Austrália. Ao mesmo tempo, mantêm-se seguro dos mísseis chineses, capazes de alcançar as bases estadunidenses no Japão.

O Irã, hoje, é um dos maiores problemas do ponto de vista estadunidense. Desenvolvendo seu programa nuclear há quase 10 anos, os Estados Unidos o acusa de querer criar um artefato nuclear, enquanto os iranianos dizem que suas pesquisas são para finalidades civis9, como afirma o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Diversas sanções econômicas já foram impostas ao país dos aiatolás10, mas nem sempre alcançam o sucesso pretendido. Ultimamente o poderio militar iraniano tem crescido constantemente com novos modelos de aviões e foguetes sendo testados e lançados. O Irã também detém a capacidade de fechar o Estreito de Hormuz, importante para a

“Rota do Petróleo” e para a subsistência estadunidense no Iraque, que apesar de terem

terminado a guerra, continuam mantendo seu apoio logístico ao governo iraquiano.

1.2 Alianças

Com vistas à manutenção do seu poderio econômico, político, mas principalmente militar, os Estados Unidos contam com diversos países aliados ao redor do globo. Parte desta estratégia está calcada em possuir bases militares nos territórios amigos. Essa política, que vem desde meados do século XX, quando os estadunidenses começaram a sua expansão, principalmente após a II Guerra Mundial, alocando seus soldados no Japão e espalhando-os pela Europa (países como Alemanha, Itália e Reino

8

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,aos-60-anos-exercito-chines-exibe-sua-forca,443358,0.htm Acessado em 01/07/2012.

9

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1052997-programa-nuclear-do-ira-avancou-nitidamente-diz-relatorio.shtml Acessado em 01/07/2012.

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Unido são notáveis em receberem militares estadunidenses neste sentido). Em ambos os casos com a justificativa de deter o avanço do comunismo como parte da estratégia para a Guerra Fria.

Atualmente a visão político-militar dos Estados Unidos mudou. Com o fim da União Soviética e a derrubada do Muro de Berlim, a Guerra Fria acabou. Após um período de relativa hegemonia mundial, os estadunidenses passaram a realocar seu contingente militar em outras regiões que passaram a ser consideradas por seu maior valor estratégico – tendo em vista a orientação geopolítica atual – que não mais privilegia a Europa. Fruto disso é a nova estratégia para o Pacífico, onde o acordo com a Austrália, além de expandir a presença americana, prevê que serão alocados até 2500 fuzileiros navais na base estadunidense11.

Além da Austrália, outros países são considerados chaves na relação dos Estados Unidos com a região do Oceano Índico. A Arábia Saudita, por exemplo, abriga diversas bases militares americanas em seu território, e é o maior fornecedor de petróleo da América. Dessa forma, os estadunidenses possuem o controle e a vigilância da produção do combustível indispensável ao seu desenvolvimento.

Após a declaração de Barack Obama afirmando seu apoio à entrada da Índia no Conselho de Segurança da ONU12, a aliança com este país também foi reforçada. Atualmente, é um dos parceiros mais estratégicos na região para os estadunidenses. Kuwait, por sua posição estratégica (ao final do Golfo Pérsico e ao lado do Irã) é outro parceiro de extrema relevância, onde os Estados Unidos mantêm um grande contingente militar – até por conta da guerra com o Iraque, país fronteiriço. O Afeganistão e Iraque são dois países onde a presença americana ainda é significativa. Seus soldados estão mantendo um severo controle de ambos, mesmo após o anúncio da retirada dos militares.

Observando-se o espectro chinês, verifica-se que as alianças não são tão numerosas quanto as americanas. A China rivaliza diretamente, tanto econômica como militarmente com os Estados Unidos, a Índia e o Japão. Além disso, existem diversas disputas territoriais ao longo do Mar da China, o que causa desconfiança e estranhamento por parte da grande maioria dos países da região. Como ótimo caso para

11

http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5473073-EI17616,00-Fortalecimento+militar+dos+EUA+na+Australia+irrita+China.html Acessado em 01/07/2012

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exemplificar esta situação, está na disputa a soberania do arquipélago de Spratly. Reclamado por China, Vietnã, Filipinas, Malásia, Brunei e Taiwan, especula-se de que ali estão as maiores reservas de petróleo e gás daquela região, além de ser uma importante rota para o comércio internacional.

Dessa forma, ao analisar a importância das alianças bilaterais entre os países, verifica-se a relevância de cada país na região do Oceano Índico. Torna-se evidente que os Estados Unidos, por maior concorrência que sofra da China, ainda estão a frente dos chineses neste ponto.

1.3 Índia X Paquistão: Equilíbrio de poder

A questão envolvendo Índia e Paquistão já foi mencionada anteriormente, contudo, o ponto nevrálgico não foi explicado: a Cachemira. Neste tópico será este fato abordado mais especificamente.

A Cachemira é um território que se situa entre Índia, Paquistão, Afeganistão e China, disputado pelos dois primeiros desde 1947. Inicialmente a Cachemira era desejada também pela China, entretanto, após a anexação de um pedação do território em 1963, o Paquistão acabou cedendo outra parte de suas terras na região aos chineses que se retiraram do imbróglio.

Desde a independência de ambos os países da coroa britânica, em 1947, a Cachemira tem sido alvo de disputas e já passou por duas guerras importantes (em 1947 até 1949 e em 1965), além de recorrentes embates. Após a primeira guerra, a Organização das Nações Unidas (ONU), impôs um cessar-fogo e condicionou a solução a um plebiscito popular para decidir com quem ficaria a região. Tal consulta nunca foi realizada. O Paquistão hoje detém um terço da área, que são os Territórios do Norte, enquanto a Índia mantêm seu controle sobre os outros dois terços que são Jammu e Cachemira. A Índia controla a parte do território onde a maioria é muçulmana, cerca de 67% da população frente a 30% de hindus. Os outros 3% são siques e budistas.

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Lahore – Índia e Paquistão respectivamente. É neste local onde os guardas da fronteira marcham diariamente lado a lado, sem trocar olhares, em um claro exemplo de rivalidade que persiste ainda hoje. Também há um movimento mulçumano separatista crescente, que quer uma Cachemira livre e independente. Há cerca de 10 anos atos terroristas vem sendo praticados tanto na Índia como no Paquistão em busca deste objetivo.

4. Mapa ilustrativo da região da Cachemira

1.4 Ameaças: Velhas e novas

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melhor os fatos que interferem na região do Oceano Índico e também que “assustam” a

comunidade internacional. Principalmente os Estados Unidos.

1.4.1 Piratas da Somália

Em atividade desde o início da década de 1990, foi no início deste século que suas ações cresceram exponencialmente, devido à fragilidade política da Somália. Diversas tribos já se declararam fora do controle estatal, aumentando assim a guerra civil que assola o país. Com este vácuo no poder, os piratas aproveitam para sequestrar navios estrangeiros que passam por suas águas territoriais. No início, isto se dava com a desculpa de proteger sua nação dos interesses estrangeiros que queriam se aproveitar do seu povo, da sua terra e do seu mar. Hoje em dia, os piratas – em sua maioria pescadores – cometem estes atos para poder sobreviver. Exigindo resgates de valores elevados, eles podem equipar-se com modernos artefatos tecnológicos como celulares por satélite, GPS, lanchas mais rápidas e armas de última geração. Todavia, suas investidas têm ocasionado uma forte reação por parte das diversas nações afetadas por isso.

Para deter o avanço da pirataria, países como Estados Unidos, Índia, França, Itália, Espanha, Japão, China, Rússia, dentre outros, alocaram navios de guerra para patrulhar a área onde os ataques vem ocorrendo com mais frequência. Por conta disso,

os piratas têm ampliado cada vez mais seus limites. Contam com “navios-mãe” que

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5. Principais incidências de ataques piratas somalis, no ano de 2009.

1.4.2 Irã

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A partir de então, o programa nuclear iraniano que havia sido iniciado em meados da década de 1950, com o apoio americano, foi interrompido. Após alguns anos foi retomado, contudo, sem o apoio ocidental. Desde então existe uma série de incógnitas sobre este programa. Devido ao posicionamento do governo Mahmoud Ahmadinejad13 sobre os Estados Unidos – e o mundo ocidental em geral –, a comunidade internacional acredita que estão sendo produzidas armas nucleares. Todavia, Ahmadinejad já reiterou em diversas ocasiões que o urânio produzido por seu país é exclusivamente para fins pacíficos, como a geração de energia elétrica e a medicina nuclear. Há suspeitas de que o governo bolivariano da Venezuela vem fornecendo urânio aos iranianos14.

Como ainda há desenvolvimento de tecnologias nucleares, a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, já impôs uma série de sanções e embargos econômicos e comerciais. Em contrapartida, o Irã suspendeu no início de 2012, a venda de petróleo para França e Reino Unido15. Empresas americanas e europeias, por exemplo, estão proibidas de manter negócios com o Irã, com o risco de sofrerem sanções de seus países.

Como a política do país não permite que inspetores internacionais da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) verifiquem as instalações nucleares iranianas, as suspeitas acabam por aumentar. Dessa forma, enquanto os estadunidenses pressionam para tentar acabar com o programa nuclear – ou ao menos descobrir o que está ocorrendo –, os iranianos investem em tecnologia militar para desenvolver novos tipos de armas, como caças, tanques, fuzis, mísseis e lançadores. Este tipo de demonstração procura intimidar a forte presença dos Estados Unidos no Golfo Pérsico, onde o Irã possui sua costa.

Embora não esteja na área física do Oceano Índico, Israel deve ser considerado, devido ao importante papel que exerce em relação ao Irã, por ser o principal ameaçado e por parecer disposto a, em um momento que julgue propício, realizar uma ação preventiva de ataque às instalações nucleares iranianas que, segundo se imagina, estão

13 Presidente do Irã.

14http://adhocadvisors.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=2348 Acessado em

30/11/2012

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situadas muito abaixo da superfície. Caso isto aconteça existe a possibilidade do conflito expandir-se pelo Oriente Médio, angariando aliados em ambos os lados.

6. Mapa indicando as instalações nucleares iranianas

1.5 EUA e Índia = Equilíbrio de poder contra a China?

Atualmente, há uma incerteza sobre como equilibrar poder com a China. Uma possível resposta para isso seja a aliança dos Estados Unidos com a Índia. Ambos possuem interesses em comum que almejam os chineses. Os indianos competindo por sua influência no continente asiático e em seguida, os estadunidenses com receio do exponencial crescimento militar e os planos de expansão da influência para outros lados do planeta ameaçando a hegemonia ocidental.

Apesar da China possuir o maior exército do mundo (mais de 2 milhões de homens), sua força naval não é tão forte, a ponto de perder influência para os indianos. Estes sim possuem a maior e mais completa esquadra do continente asiática. Até meados de 2012, além da Índia, apenas a Tailândia16 possuía Navios-Aeródromos (NAe), ou porta-aviões como são popularmente conhecidos. Desde então, a China passou a fazer parte deste seleto grupo com o NAe Liaoning17. Apesar de, oficialmente,

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servir apenas para treinamento, este equipamento bélico possui capacidade suficiente para proteção e ataque.

Os indianos, por outro lado, possuem dois NAe: o INS Viraat e o INS Vikramaditya. Este último foi comprado da Rússia e está sendo totalmente reformado e tem previsão de operação para fins de 2012. Já um terceiro – de classe Vikrant –, em construção, ainda não possui nome definido e está planejado para entrar em operação em 2017. Além deste, a Índia possui um quarto NAe planejado para entrar em operação em 2022, mas ainda não está em construção.

Assim, com uma marinha forte, detentora de armas nucleares e em excelente posição estratégica para alcançar seus objetivos, a Índia faz frente ao avanço da projeção de poder chinesa. Para ajuda-los neste objetivo, os Estados Unidos investem suas fichas nessa aliança, mas sempre com o receio de não irritar demais o dragão chinês da qual depende sua economia.

Ademais, não é apenas militarmente que deve-se analisar esta questão, mas também economicamente. Segundo o Fundo Monetário Internacional, no ano de 2011, Estados Unidos possuía o maior PIB18 do planeta, com a China logo atrás19. Também em 2011, os gastos com orçamento militar, na Ásia, cresceram significativamente, ao ponto de superar todo o orçamento europeu nesta área. Segundo o Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz (SIPRI, em inglês)20, os países asiáticos, liderados pela China, somaram 336 bilhões de dólares, ante 326 bilhões de dólares pelos europeus. Ainda assim, Estados Unidos possuem o maior orçamento (que supera a soma dos asiáticos e dos europeus) com 771 bilhões de dólares. Todavia, os estadunidenses reajustaram seus gastos e diminuíram em 1,2% seus gastos. Tanto esta redução, como a diminuição europeia e o crescente investimento asiático, pode ser resumida na crise financeira que assola o ocidente. No caso dos Estados Unidos, ainda há o agravante da retirada de tropas do Iraque do Afeganistão21. Isto mostra mais um dos motivos da crescente preocupação da comunidade internacional dos gastos militares que a China vem tendo nos últimos anos.

18 Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas.

19 Estados Unidos com cerca de 15 trilhões de dólares e China com cerca de 7 trilhões de dólares. Em 11º

lugar, a Índia aparece com cerca de 1,5 trilhões de dólares.

20 Os dados estão disponíveis no site para download.

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Capítulo 2

Diagnóstico da Presença Americana

Neste capítulo, meu objetivo é realizar um diagnóstico mais aprofundado das consequências da presença estadunidense na região do Oceano Índico. Com isso, observarei os motivos de seu declínio, a competição gerada por conta disso entre China e Índia e, por fim, o impacto causado por esse enfraquecimento no continente asiático e no mundo.

2.1 Declínio

Desde o início do governo democrata de Barack Obama, os Estados Unidos reestruturaram sua Estratégia Nacional de Defesa (END), focando no eixo Ásia-Pacífico, saindo então, das guerras do Afeganistão e do Iraque, iniciadas em 2001 e 2003 – respectivamente – pelo governo do republicano George W. Bush. Esta nova END, como já dito, transfere o foco de atuação da defesa estadunidense do Oriente Médio, para o Pacífico ocidental, com foco na China e seu enorme crescimento. Mas também visa cortar gastos do orçamento militar deslocando tropas e as realocando contingente militar em diversas partes do globo22. Por isso, desde o declínio das guerras do Afeganistão e do Iraque, países como China e Índia tem aumentado sua presença na região do Oceano Índico.

Ao longo dos últimos anos, os chineses vêm construindo seu “cordão de pérolas”

(a ser tratado mais adiante), aumentando sua projeção militar nesta região. Enquanto isso, os indianos procuram superar essa nova força naval, aumentando e atualizando seus equipamentos bélicos. Outra prova, são as bases navais que a Índia constrói em contraposição ao cordão de pérolas. O melhor exemplo é a base de Port Blair, citada no capítulo anterior.

Com todo esse desenvolvimento naval e o novo foco estadunidense no Oceano Pacífico ocidental, há um declínio militar cada vez mais acentuado na região. Ao mesmo tempo, também há um foco basicamente em uma questão: a rota do petróleo – também a ser explicada mais adiante. Para os estadunidenses, a disputa de poder entre

22 Vale ressaltar a política do governo Obama em que, não necessariamente, é necessário um grande

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as potências asiáticas é benéfica, pois afinal, eles não precisam preocupar-se em equilibrar o poder na região, podendo dar maior foco no novo eixo Ásia-Pacífico.

Assim, ao invés de terem “duas frentes”, os estadunidenses conseguem focar em seu

principal objetivo: o crescimento dos chineses.

2.2 Competição

Como é possível analisar no mapa abaixo, existem diversas bases militares estadunidenses na região do Oceano Índico. Contudo, também é possível perceber um elevado número – embora menor, se comparado ao dos Estados Unidos – de bases indianas e chinesas.

7. Mapa indicando as bases americanas, indianas e chinesas, na região do Oceano Índico

Os Estados Unidos investem na aliança com a Índia, causando assim, uma possível rixa com a China no futuro. Para os estadunidenses, a Índia é o pêndulo da segurança internacional na região do Oceano Índico, para contrabalancear a ascensão chinesa e a instabilidade político-militar paquistanesa.

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2.3 Impactos

Neste momento, irei analisar os impactos causados pela mudança do eixo estadunidense, com seu consequente enfraquecimento no Oceano Índico. Para uma visão mais robusta, dividirei em duas partes: a primeira tratando sobre o continente asiático, em específico a região mais afetada pelo tema em questão (o sudeste asiático) e em seguida, o resto do mundo.

2.3.1 Na Ásia

O impacto sentido no continente asiático, mais especificamente na Índia e na

China, deste declínio, é de uma maior “liberdade” para aumentarem suas projeções de

poder. Contudo, há uma crescente disputa entre estes países para ver quem irá tornar-se a potência no continente.

Tanto um, como o outro, tem intensificado investimentos na área militar. Ambos possuem artefatos nucleares e os vetores necessários para veicula-los o artefato. Assim como têm porta-aviões, submarinos e equipamentos bélicos de última geração. Ou seja, por mais que a disputa entre as duas nações seja velada, é mais do que nítida a paz armada na região. Tanto é assim que o cordão de pérolas serve, exatamente, para observar a movimentação indiana e estar próximo de suas instalações.

Com o apoio dos Estados Unidos, a Índia expande seu poderio militar, aumentando, também, o seu poder de intimidação sobre seu principal – e histórico –

rival: Paquistão. Sendo ambos detentores de bombas atômicas, o Paquistão se nega a fazer uso por precaução, mesmo tendo mísseis de curto alcance23 capazes de transportar as ogivas nucleares. Enquanto isso, a Índia passa a preocupar-se cada vez menos com seus vizinhos do oeste, para olhar com atenção o gigante do norte.

O apoio estadunidense é de fundamental importância frente ao “trator” chinês.

Apesar de possuir uma marinha relativamente fraca, os investimentos nesta área serão capazes de dotar a China de uma das mais poderosas forças navais do mundo em

23 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/06/paquistai-testa-missil-com-capacidade-nuclear.html e

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questão de alguns poucos anos. Por outro lado, a Índia já detêm uma poderosa marinha

para defender seus interesses e patrulhar “seu” oceano24.

Ao largo de toda esta competição, o Japão, detentor do ódio chinês por conta dos crimes cometidos na II Guerra Mundial, é sede da VII Frota estadunidense25, responsável pela região do Pacífico Ocidental. Além disso, atualmente está em constantes embates com os chineses por conta de disputas territoriais.

2.3.2 No Mundo

A nova estratégia de segurança estadunidense visando a região Ásia-Pacífico, muda o conceito que havia desde 2002, quando após os ataques às Torres Gêmeas, o então presidente George W. Bush mira no Oriente Médio para focar seus esforços em defesa. Atualmente, a estratégia adotada pelo presidente Barack Obama não só muda a região que está em foco, como também visa cortar gastos, principalmente por conta da crise econômico-financeira que assola os Estados Unidos.

Não somente Índia, China, Paquistão e Estados Unidos são afetados esta mudança de cenário, mas também os países os quais ocorreram guerras: Iraque e Afeganistão. Assim como Irã e Austrália, dando exemplos mais claros e diretos. Focando no Pacífico, alianças devem ser reforçadas, em detrimento da antiga ordem geopolítica, como com Cingapura e Filipinas.

A Austrália passa a receber um maior contingente militar estadunidense devido a ampliação da base localizada em Darwin, no extremo norte australiano. Com isso, vê ampliar exponencialmente a sua importância estratégica no cenário do Pacífico. Por fim, o Irã, apesar de estar no Oriente Médio – ou seja, no antigo foco de segurança – também passa a receber uma atenção a mais, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância do eixo Ásia-Pacífico.

Ao largo, a Europa também se vê afetada por esta mudança. Antes, as bases estadunidenses sediadas no continente europeu, serviam de trânsito para as tropas e suprimentos que iam e vinham do Oriente Médio. A partir do momento em que esse trânsito não se faz mais necessário, o investimento nestas bases militares começa a

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decair. Além do âmbito econômico, os países europeus também perdem importância geoestratégica, por estarem totalmente fora da rota de interesse dos Estados Unidos.

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Capítulo 3

A Rota do Petróleo

O objetivo deste terceiro capítulo é explicar a Rota do Petróleo, explorando seus desafios para os países que a utilizam, por conta das projeções de poder dos seus rivais e da insegurança nas águas próximas da Somália, assim como as alternativas a ela utilizadas pelas grandes potências globais.

A chamada Rota do Petróleo – assim denominada por ser o caminho escoadouro do óleo para o suprimento energético do resto do planeta – parte, principalmente, da Arábia Saudita (maior produtor mundial de petróleo) e de toda a região do Oriente Médio, pelo Golfo Pérsico, passando pelo Estreito de Ormuz. A partir daí segue para diversos pontos do globo, sendo os principais a China, o Japão, os Estados Unidos e a Europa. Este é mais um dos principais motivos do forte poderio militar dos EUA na região.

Com o risco do fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã, a Arábia Saudita teria de escoar sua produção petrolífera pelo Mar Vermelho e pelo Golfo de Aden, ou seja, pelo mar territorial da Somália, o que remete ao risco dos piratas. Ainda há a possibilidade de passagem pelo Canal do Suez, porém, este é administrado pelo Egito, e também pode ser fechado a qualquer momento.

A rota é muito visada e protegida por diversos países, que mantêm ali uma presença constante de modo a manter latente a projeção de seu poder. Exemplo disso é a

China, com seu “Cordão de Pérolas”, a ser explicado mais a frente.

Outro exemplo é a série de bases estadunidenses que projetam seu poderio bélico ao longo da rota que remete ao Ocidente. Diego Garcia e seus inúmeros bombardeiros B-52 e a V Frota estadunidense sediada no Bahrein26, são importantes fatores essenciais de estabilidade e continuidade na rota ocidental.

Como parte de projeção de seu poder, durante dez dias, no início de 2012, o Irã realizou exercícios navais no Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de um terço dos navios petrolíferos do mundo. Imediatamente, países como Estados Unidos e Inglaterra rechaçaram os exercícios, colocando em xeque a segurança internacional.

26 É importante ressaltar que há um projeto de expansão na base onde está sediada a frota, anunciado em

meados de 2010, para “dar um apoio maior aos navios estadunidenses e aliados mobilizados (no Bahrein) e que operam na região”. Fonte:

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/24248_QUINTA+FROTA+AMERICANA+INICIA+PROJET

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34 3.1 O “Cordão de Pérolas”

Com portos e bases militares, a China tem construído este “cordão” para dar

garantia ao escoamento do petróleo até seu país. Assim, corre menos riscos na

interrupção do fornecimento, deixando “a deriva” seu sustento energético. Desta forma,

há como agir rapidamente caso algum problema aconteça ameaçando o seu fornecimento de petróleo.

As duas principais bases estão localizadas no Paquistão (Base Naval de Gwadar) e no Sri Lanka (Base Naval de Hambantota), sendo este último um ponto estratégico por ser um dos pontos mais próximos da Índia. As demais bases são a Base Naval de Chittagong (em Bangladesh), a Base Naval de Sittwe (em Myanmar), a Base Naval de Sanya (já no território chinês) e, por último, a base de observação que está localizada nas Ilhas Coco.

O motivo oficial, apresentado pelo governo chinês, é que são bases de apoio logístico à sua rota energética. Todavia, os indianos observam esta atitude com preocupação e receio, pois acreditam que são pontos para espionar seu território e a sua movimentação militar. De fato, constata-se que algumas das bases, como Chittagong, Sittwe e das Ilhas Coco, estão distantes da rota e próximas do território e de bases indianas.

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De modo a diminuir a distância percorrida por seus navios, além de aumentar sua segurança, a China possui o projeto de construção de um canal que conecta o Mar de Andaman com o Golfo da Tailândia, passando pelo território tailandês. Dessa forma, a rota não estaria sujeita a passar pelo Estreito de Malaca e pelo Estreito de Cingapura, onde há uma forte presença militar dos Estados Unidos, com a base naval Commander.

Há também um projeto, muito mais ambicioso, o de construir um oleoduto que passe por países como Cazaquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão, bem distante da influência estadunidense, presente no Afeganistão e da sua aliada Índia. O impeditivo, neste caso, seriam as montanhas, presentes na fronteira chinesa com alguns destes países. Uma das principais fontes de petróleo poderia ser o Mar Cáspio onde, há pouco tempo, foram descobertas grandes reservas deste óleo em suas profundezas.

Verifica-se assim que os chineses buscam de diversas maneiras, alternativas para sua principal rota energética. Paralelamente nota-se que a desconfiança indiana sobre as bases chinesas poderá vir a gerar novos abalos no relacionamento diplomático dos dois países. Os Estados Unidos investem na aliança com a Índia, provocando assim, uma possível rixa com a China no futuro. Para os estadunidenses, a Índia é o pêndulo da segurança internacional na região do Oceano Índico, para contrabalancear a ascensão chinesa e a instabilidade paquistanesa.

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Conclusão

O escopo final do trabalho é de uma incerteza sobre o que irá ocorrer na região do Oceano Índico. A tendência é um alinhamento entre Índia e Estados Unidos, em oposição à China. Há uma desconfiança mútua acerca dos objetivos chineses para o futuro, o que implica este cenário. Entretanto, dado o dinamismo da política –

principalmente internacional – uma mudança de cenário é bem plausível, principalmente se tratando de países cujos interesses não são tão transparentes como espera a comunidade internacional. Casos clássicos da China e do Irã.

A pesquisa proposta se insere no nicho da geopolítica, pretendendo avançar com os estudos baseados em métodos de análise das relações internacionais e com o objetivo de desvendar e criar cenários ainda pouco estudados no Brasil. Este trabalho proporcionará dados para montagem de um grande e detalhado cenário de análise da região e das suas diversas projeções futuras em diferentes teatros, possibilitando a visão prospectiva de uma gama maior de ações dos países em questão.

Desde o fim da Guerra Fria, com a extinção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o poder dos Estados Unidos, em todos os sentidos, tem diminuído consideravelmente. Com seu apoio, a Europa e o Japão cresceram no pós guerra com os planos Marshall e McArthur, respectivamente. Hoje, todas estas economias estão entre as maiores do mundo, rivalizando diretamente com os Estados Unidos – apesar da enorme diferença de PIB.

Mas não só de poder econômico vive a hegemonia estadunidense. Seu poderio militar é a maior fonte de dissuasão que eles possuem. Contudo, este também é um poder que está começando a ser questionado. A China, o Irã e a Rússia são países que vem investindo grandes parcelas de seu Produto Interno Bruto (PIB) em suas indústrias e pesquisas militares. Além disso, nações emergentes que possuem grande relevância regional, como o Brasil, a Índia e a África do Sul têm ampliado suas áreas de atuação. Estas possuem um grande poder de barganha perante as nações mais desenvolvidas, já que detêm amplo mercado consumidor, mão de obra barata e abundante matéria-prima.

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China e Índia) e por fim os países emergentes com seus blocos econômicos (G20 e BRICs).

O antigo poderio que fazia frente e era capaz de alcançar todos os seus objetivos, hoje enfrenta obstáculos, apesar de continuar forte e imponente. É uma questão de poucos anos, até que outra potência mundial desponte (mais provável a China) assim como um dia Espanha, Portugal, França e Inglaterra também foram potências. O crescente endividamento público estadunidense e a insatisfação popular com os resultados de suas políticas internas de segurança, saúde e trabalho – e isto pode ser verificado na concorrida eleição presidencial de 2012, entre Barack Obama e Mitt Romney – levam a um contínuo, porém vagaroso, afastamento dos Estados Unidos do plano mundial. Claramente jamais deixarão de impor sua influência e tentar que seus interesses sejam os vencedores. Entretanto, no que concerne a resolução de conflitos internacionais, por exemplo, o papel está começando a ser delegado aos demais países. Exemplo é a questão do Irã, onde Brasil e Turquia negociaram – apesar das resistências dos Estados Unidos – um acordo com os iranianos sobre seu programa nuclear.

É nítido um receio cada vez maior dos estadunidenses quanto ao crescimento exponencial chinês. Prova disso é a ampliação da base na Austrália – longe o suficiente dos mísseis chineses, mas próxima o bastante para continuar vigilante. Neste espectro, há também a acirrada disputa pela liderança regional entre Índia e China, onde ambas almejam o controle do Oceano Índico. Os estrategistas indianos não perdoam o cordão de pérolas construído pela China, assim como também não veem com bons olhos o apoio dado por este país aos paquistaneses, seus inimigos declarados.

Dessa forma, por mais que a imponência de Diego Garcia perdure, os Estados Unidos vem sendo obrigado a diluir sua parcela de poder, querendo ou não, com estas

novas ascensões. A Índia não medirá esforços em dominar “seu” oceano, enquanto a

China vem investindo de forma massiva em sua força naval, caracterizada por seu novo Navio-Aeródromo (NAe) o Liaoning. Até então, a China era o único país do Conselho de Segurança da ONU sem possuir um NAe. Além disso, corria atrás dos indianos, que iguais aos tailandeses, eram os únicos a possuir tal equipamento no continente asiático. Uma afronta aos desejos chineses de expansão de poder.

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do “ouro negro”. Não é por menos que a manutenção de Diego Garcia e os constantes investimentos no combate aos piratas são protagonizados.

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Referências

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