• Nenhum resultado encontrado

Dieta e dispersão de sementes por Cerdocyon thous (Linnaeus) (Carnívora, Canidae), em um fragmento florestal no Paraná, Brasil.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Dieta e dispersão de sementes por Cerdocyon thous (Linnaeus) (Carnívora, Canidae), em um fragmento florestal no Paraná, Brasil."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Os mamíferos constituem um dos grupos de vertebrados que apresentam variações em seu regime alimentar (POUGH etal. 1993). A partir do estudo da dieta desses animais, outras infor-mações podem ser obtidas, como a interação planta-animal.

A evolução das interações permitiu que o mutualismo entre plantas e animais frugívoros atingisse seu clímax nas flo-restas tropicais, onde aves e mamíferos contribuem com a dis-persão de sementes de 50 a 90% das espécies arbóreas e

(Car

(Car

(Car

(Car

(Carnív

nív

nív

nívor

nív

or

or

or

ora,

a, Canidae),

a,

a,

a,

Canidae),

Canidae),

Canidae),

Canidae), em um fr

em um fr

em um fr

em um fr

em um fragmento f

agmento f

agmento f

agmento f

agmento flor

lor

lor

lor

lorestal no Par

estal no Par

estal no Par

estal no Paraná,

estal no Par

aná, Br

aná,

aná,

aná,

Br

Br

Br

Brasil

asil

asil

asil

asil

Vlamir J. Rocha

1

, Nelio R. dos Reis

2

& Margareth L. Sekiama

3

1 Klabin S.A., Lagoa, Fazenda Monte Alegre, 84279-000 Telêmaco Borba, Paranaá, Brasil. E-mail: vlamir@klabinpr.com.br

2 Departamento de Biologia Animal e Vegetal, Universidade Estadual de Londrina. 86051-970 Londrina, Paraná, Brasil.

3 Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná. Caixa Postal 19020, 81531-980 Curitiba, Paraná, Brasil.

ABSTRACT. DietDiet andDietDietDietandandand seedandseedseed disperseedseeddisperdisperdisperdispersalsalsalsal bsalbbybby yyyCerdocyCerdocyCerdocyCerdocyCerdocyonononononthousthousthousthousthous (Linnaeus)(Linnaeus)(Linnaeus)(Linnaeus)(Linnaeus) inin ainininaaaa ffffforororororestest frestestestfrfrfragmentfragmentagmentagmentagment ininin ParininParParParParanáanáanáanáaná (Car(Carniv(Car(Car(Carnivnivnivornivororororaaaaa, Canidae).

Canidae). Canidae). Canidae).

Canidae). Although the crab eating fox, Cerdocyonthous (Linnaeus, 1706), is a relatively common Canidae, there isn’t much information about its diet and its role as a seed disperser in the different habitats where it occurs. The aim of this work was to report the diet of the C.thous and its importance as a seed disperser and / or a seed predator and to test the rate of germination of the seeds after passing through the digestive tract of the animal. The work was carried out in a 680 ha fragment of the Semidecidual Seasonal Forest in the Parque Estadual Mata dos Godoy, located in the city of Londrina-Paraná, south of Brazil. The methodology consisted of the collection of excrement of C.thous which were analyzed in laboratory for identification of consumed items and seeds. In germination tests, the seeds were placed to germinate in Petri dishes with wet cotton. Ninety-three animal feces samples, with 219 animal and vegetable items were registered, being 36.52% remaining portions of small ro-dents, 24.19% of grasses, 13.24% of birds, 10.47% of insects, 6.39% of Syagrusromanzoffiana (Cham.) Glassm.,

4.6% of other items of animal origin and 4.54% of items vegetable origin. In addition, C.thous dispersed nine species of plants, with relevant importance to the germination of some seeds, which passed through the digestive tract, except for the most consumed of fruit, S.romanzoffiana, whith no seed germination at all in lab conditions. In conclusion, C.thous has a generalistc and opportunistc diet, surviving in degraded and anthropic areas and being able to act as a seed disperser.

KEY WORDS. Crab-eating fox, frugivory.

RESUMO. Embora o cachorro-do-mato, Cerdocyonthous (Linnaeus, 1706), seja um Canidae relativamente comum, não há muita informação sobre sua dieta e seu papel como dispersor de sementes nos diferentes habitats onde ocorre. O objetivo deste trabalho foi o de reportar a dieta de C.thous e sua importância como dispersor e/ou predador de sementes, e ainda testar a taxa de germinação de sementes após passar pelo trato digestório do animal. O estudo foi realizado em um fragmento (680 ha) de Floresta Estacional Semidecidual, o Parque Estadu-al Mata dos Godoy, locEstadu-alizado na cidade de Londrina, Paraná, sul do Brasil. A metodologia consistiu de coletas de fezes de C.thous, as quais foram analisadas em laboratório para identificar os itens consumidos. Nos testes de germinação, as sementes foram dispostas para germinar em placas de Petri com algodão umedecido em água. Noventa e três amostras fecais com 219 itens de origem vegetal e animal foram registradas, sendo 36,52% contendo restos de pequenos roedores, 24,19% de gramíneas, 13,24% de aves, 10,47% de insetos, 6,39% de

Syagrusromanzoffiana (Cham.) Glassm., 4,6% de outros itens de origem animal e 4,54% de outros itens de origem

(2)

arbu stivas, em con trap artid a, as p lan tas forn ecem fru tos, u m im p ortan te recu rso (HOW E & SMALLW OOD 1982, JANZEN 1983a, b, JANSON 1983, HERRERA 1985).

Cerdocyonthous (Lin n aeus, 1758) é um a espécie de Can i-dae, com ocorrên cia em quase todo o Brasil, exceto em partes da Am azôn ia (WILSON & REEDER 1993). É en con trado tan to em áreas de floresta com o de cam po (LANGGUTH 1975, BERTA 1982, NOWAK 1999). Tem h ábito preferen cialm en te n oturn o, desloca-se solitá-rio ou aos pares, por trilh as, bordas de m ata e estradas à procura de alim en tos (BRADY 1979, BERTA 1982, PERACCHIetal. 2002). Ape-sar de ser um a espécie com um n o Brasil, pouco se con h ece sobre sua dieta, prin cipalm en te en focan do as diferen tes regiões de sua ocorrên cia, e seu papel com o agen te dispersor de sem en tes.

Desse m od o, este trabalh o tem p or objetivo estu d ar a dieta de C.thous d u ran te as estações d o an o, verificar q u al seu p ap el com o agen te d isp ersor e/ ou p red ad or d e sem en tes, e tes-tar se as sem en tes q u e p assaram p elo tu bo d igestório d esse can íd eo se m an tém viáveis.

MATERIAL E MÉTO DO S Área de estudo

O Parq u e Estad u al Mata d os God oy tem u m a área d e 680 h a (Fig. 1) e situ a-se n as coord en ad as 23°27’S e 51°15’W. Ap re-sen ta altitu d e m éd ia d e 700 m e é cortad o p elo Tróp ico d e Cap ricórn io. O clim a d a região é d o tip o cfa: clim a su btrop ical, com tem p eratu ra m éd ia in ferior a 18°C n o m ês m ais frio (ju -n h o) e tem p eratu ra m éd ia acim a d e 22°C -n o m ês m ais q u e-n te (fevereiro). As ch u vas se con cen tram n os m eses d e verão, con -tu d o n ão h á estação seca d efin id a. O Parq u e com p reen d e u m a ilh a d e vegetação bem p reservad a, totalm en te circu n d ad a p or terras cu ltivad as e p or p eq u en os fragm en tos d e florestas com d iferen tes grau s d e alteração, algu n s d os q u ais in terligam -se com o Parque. Segun do MAACK (1981), a área caracteriza-se com o Floresta Estacion al Sem id ecid u al.

Metodologia

O p eríod o d o estu d o foi d e d ois an os, com in ício em abril d e 1996 e térm in o em m arço d e 1998. Foram con sid era-d os com o estações era-d o an o: verão, os m eses era-d e jan eiro a m arço; ou ton o, d e abril a ju n h o; in vern o, d e ju lh o a setem bro; p rim a-vera, d e ou tu bro a d ezem bro. Para a d eterm in ação d a d ieta e a ação sobre as sem en tes, foram coletados m en salm en te em cam -p o fezes de Cerdocyonthous q u e eram en con trad as em trilh as e bordas da floresta. As fezes foram arm azen adas in dividualm en te em sacos p lásticos e id en tificad as com a d ata d a coleta. Poste-riorm en te, em laboratório, as am ostras fecais foram triadas com au xílio d e m icroscóp io estereoscóp ico p ara a id en tificação d os iten s con su m id os. As sem en tes e os fragm en tos alim en tares en con trad os n o m aterial fecal foram sep arad os p ara p osterior id en tificação e testes laboratoriais. A freq ü ên cia d os iten s ali-m en tares n as fezes foi feita d a segu in te forali-m a, p ara cad a aali-m os-tra fecal, cad a item p resen te, in d ep en d en te d a q u an tid ad e, foi con sid erad o com o u m registro d e con su m o d o item exam in

a-d o. O esforço am ostral foi a-d e oito a 12 h oras p or sem an a em cam p o, n orm alm en te realizad o em três d ias essa variação d e h oras foi d evid o à ch u vas n o p eríod o d e estu d o.

Qu an to à ação exercid a sobre as sem en tes, o an im al foi con siderado dispersor quan do depositou fezes con ten do sem en -tes em sítios lon ge d a p lan ta m ãe e estas p assaram in tactas p elo tu bo d igestório; n eu tro, q u an d o as sem en tes n ão foram in gerid as e foram d escartad as in tactas sob a cop a d a p lan ta m ãe; p red ad o r q u an d o as sem en t es so freram in jú rias p o r m astigação ou ao p assarem p elo tu bo d igestório d o an im al.

Para a realização d e testes d e germ in ação, sem en tes en -con trad as n as fezes foram sem ead as em p lacas d e “p etri” com algod ão u m ed ecid o em águ a e acom p an h ad as p or u m p eríod o d e seis m eses (p roced im en to ad ap tad o d e RAMIREZ 1976 e REIS & GUILLAUMET 1983). Para os testes d e germ in ação foram u tiliza-das 12 sem en tes de Syagrusrom anzoffiana (Ch am .) Glassm ., 10

de Crotonfloribundus Sp ren g. e 16 de Hoveniadulcis Th u m b.

RESULTADO S

Foram coletad as 93 am ostras fecais d e C.thous, sen d o 28 n o ou ton o, 25 n o in vern o, 19 n a p rim avera e 21 n o verão, q u e con tin h am 219 iten s alim en tares, 142 d e origem an im al e 77 d e origem vegetal (Tabs I e II).

Figura 1. Localização do Parque Estadual M ata dos Godoy (680 ha) no m unicípio de Londrina (Paraná).

PE Mata dos Godoy

Rodovia PR 1 Trilhas

Cursos d’água

1 Km

Rio Tibagi

Trópico de Capricórnio

Ribeirão dos Apertados

Trópico de Capricórnio

(3)

Em relação ao total d os iten s registrad os p ara a d ieta d e

C.thous, vertebrad os foram os iten s m ais con su m id os, p rin ci-palm en te p equ en os roedores (Sigm odon tin ae) com 36,53% das ocorrên cias (n = 80), e tam bém aves com 13,24% (n = 29). Destaca-se tam bém o con su m o de du as serpen tes, u m a Colu bri-d ae n ão ibri-d en tificabri-d a e u m a Vip eribri-d ae Bothropsjararaca (W ied,

1820). Quan to aos in vertebrados, in setos ocorreram em 10,47% (n = 25) (Tab. I).

Em relação às fam ílias vegetais, Poaceae predom in ou com cin co esp écies. Já em relação aos iten s vegetais, d as 12 esp écies con su m idas, folh as de gram ín eas tiveram m aior con su m o, com 24,16% das ocorrên cias (n = 53), fru tos de Syagrusrom anzoffiana

Tabela I. Alim entos de origem anim al, parte encontrada nas fezes, núm ero de vezes que o item foi consum ido durante as estações e porcentagem total com que o item participou na dieta de C. thous, no Parque Estadual M ata dos Godoy, Londrina (Paraná), durante o período de abril de 1996 a m arço de 1998.

Categoria Taxonômica Parte Encontrada Out Inv Prim Ver n %

Araneae Quelíceras, m andíbulas 1 1 2 0,91

Coleoptera Carapaça, quitina 3 4 2 9 4,10

Odonata Cabeça 1 1 0,45

Orthoptera Patas posteriores 3 2 5 2,28

Hym enoptera Cabeça 1 1 0,45

Insecta Fragm entos 3 4 7 3,19

Bothrops jararaca (Wied, 1820) Escam as 1 1 0,45

Ophidia Escam as 1 1 0,45

M ammalia Pêlos e garras 1 2 1 4 1,80

M am m alia, Rodentia (Sigm odontinae) Pêlos, dentes, ossos, garras 26 22 14 18 80 36,53 M am m alia, Rodentia Sphiggurusvillosus (F. Cuvier, 1823) Pêlos, garras 1 1 0,45 M am m alia Xenartrha Dasypusnovemcinctus (Linnaeus, 1758) garras, pedaços de carapaça 1 1 0,45 Aves Penas, pés, bicos, garras e ossos 10 5 5 9 29 13,24

Total 43 31 30 38 142 64,75

Tabela II. Espécies vegetais, parte da planta consum ida, núm ero de vezes que o item foi consum ido durante as estações e porcentagem total com que o item participou na dieta de C. thous. (PC = Parte consum ida) e ação sobre as sem entes (D = dispersor, N = neutro, P = predador), no Parque Estadual M ata dos Godoy, Londrina (Paraná), durante o período de abril de 1996 a m arço de 1998.

Fam ília Espécie PC Out Inv Prim Ver n % Ação

Arecaceae Syagrusromanzoffiana (Cham .) Glassm . Frutos 3 3 8 14 6,39 D Euphorbiaceae Crotonfloribundus Spreng. Frutos 1 1 0,45 D Poaceae Brachiariaplantaginea (Link) Hitchc. Folhas, sem entes 3 4 3 8 18 8,22 D

Panicummaximum Jack * Folhas, sem entes 3 3 1,37 D

Gram ineae Folhas, sem entes 4 4 1,82 D

Gram ineae Folhas, sem entes 9 3 8 11 31 12,30 D

Zea mays Linnaeus * Sem entes 1 1 0,45 P

Lauraceae Persea americana M ill* Frutos 2 1 3 1,37 N

M eliaceae Guarea sp. Frutos 1 1 0,45 D

Solanaceae Solanum sp. Frutos 1 1 0,45 D

Rham naceae Hovenia dulcis Thum b.* Frutos 1 2 3 1,37 D

Indeterm inada Indeterm inada Frutos 1 1 0,45 N

Total 19 19 12 27 77 35,10

(4)

perfizeram 6,39% (n = 14), as dem ais espécies foram con sum idas em baixa freq ü ên cia (Tab. II).

Em u m a observação n otu rn a, foi registrado o com p orta-m en to de u orta-m p ar de C. thous se alim en tan do de Perseaam erica-na Mill (abacate). En q u an to u m in divídu o com ia p arte da p olpa do fruto, o outro ficava em alerta, e assim ocorreu revezam en -to até con su m irem -todo o fru -to, descartan do a casca e sem en te. Os iten s de origem an im al p redom in aram em relação aos vegetais em tod as as estações d o an o. No ou ton o, p eq u en os roed ores p articip aram com 41,23% d as ocorrên cias (n = 26), aves com 16,21% (n = 10) e a fam ília Poaceae com 19,34%. (n = 12). No in vern o, pequ en os roedores perfizeram 44% das ocor-rên cias (n = 22), aves 10% (n = 5) e Poaceae 22% (n = 11). Du ran te a p rim avera, p eq u en os roed ores foram con su m id os com u m a freq ü ên cia d e 33,33% (n = 14), in setos som ad os p er-fizeram 14,28% (n = 7) e Poaceae 26,18% (n = 11). No verão, p eq u en os roed ores p erfizeram 28,57% (n = 18), aves 14,28% (n = 9) e Poaceae 26,96% (n = 19) (Fig. 2).

Todas as 93 am ostras fecais de C.thous coletad as, en con -travam -se d ep ositad as em bord as d a floresta, áreas abertas e u m a p eq u en a estrad a d e 1km q u e cortava a p orção n orte d o Parq u e e, d o total d e 12 esp écies vegetais registrad as em su a d ieta, C.thous atu ou com o d isp ersor em n ove e foi n eu tro em d u as. A categoria p red ad or só foi registrad a d u ran te o in vern o, para Zeam ays Lin n aeus (m ilh o). En quan to a categoria dispersor p red om in ou em tod as as estações (Tab. II, Fig. 3).

Q u an t o ao s t est es d e germ in ação , as sem en t es d e S. rom anzoffiana n ão germ in aram ; em Crotonfloribundus germ i-n aram três sem ei-n tes corresp oi-n d ei-n d o u m a taxa d e germ ii-n ação d e 30%, sen d o q u e os d ias em q u e ocorreram germ in ação fo-ram n o 92º, 162º e 182º d ia ap ós o p lan tio. Qu an to a Hovenia dulcis, germ in aram n ove sem en tes, corresp on d en d o a 56,25%,

com o m aior p ico d e germ in ação ocorren d o n o 33º d ia.

DISCUSSÃO

Em relação à d ieta, C. thous é con sid erad a u m a esp écie op ortu n ista, sobreviven d o em áreas d egrad ad as e an tróp icas (LANGGUTH 1975, MOTTA-JÚNIORet al. 1994, FACURE & MONTEIRO -FILHO 1996). No p resen te estu d o, su a d ieta foi basead a em iten s d e origem an im al, p rin cip alm en te p eq u en os roed ores, aves, in setos, e ain d a iten s vegetais.

Ap esar d o registro d e 12 esp écies vegetais con su m id as p or C.thous, cin co foram gram ín eas (Poaceae), torn an d o esta fam ília a m elh or rep resen tad a, p orém d e p ou ca ou n en h u m a im p ortân cia q u an to ao retorn o en ergético. Provavelm en te seu con su m o esteja relacion ad o com o au xílio n a d igestão d o an i-m al, corroboran d o coi-m MOTTA-JÚNIORetal. (1994).

As d em ais esp écies tiveram seu s fru tos con su m id os, d es-tacan do-se Syagrus rom anz offiana, assim com o n o estu d o d e FACURE & MONTEIRO-FILHO (1996) em área d e vegetação secu n d á-ria rod ead a p or p astos e áreas agrícolas n a região d e Cam p in as (São Pau lo) e tam bém n o estu d o d e MOTTA-JÚNIORet al. (1994)

em áreas d e cerrad o e d e floresta d e galeria com gran d e ação an tróp ica n a região d e São Carlos (São Pau lo). Em ou tras áreas d os Estad os d o Paran á e d e São Pau lo, sem en tes d essa esp écie d e fru to tam bém são observad as com freq ü ên cia n as fezes d e

C.thous.

Na an álise sazon al d a d ieta d e C.thous, q u an to aos iten s

de origem an im al, foi con statado q u e p eq u en os roedores e aves foram os m ais freq ü en tem en te con su m id os em tod as as esta-ções. O alto con su m o d estes recu rsos está relacion ad o com a abu n d ân cia d esses gru p os n a área d e estu d o, p ois m u itas d as áreas vizin h as ao Parq u e são d e cu ltivo d e soja, trigo e m ilh o, os q u ais servem d e fon te alim en tar p ara p eq u en os roed ores e aves. Esses dados corroboram com os de MONDOLFI (apud WALKER 1975), q u e registrou p eq u en os roed ores com o os iten s m ais abu n d an tes em 19 con teú d os estom acais d e C. thous, o q u e coloca a esp écie com o u m im p ortan te agen te con trolad or d a p op u lação d e p eq u en os roed ores n a área d e estu d o, fato este t a m b é m cit a d o p o r BI SBAL & OJASTI (1 9 8 0 ). N o s lh a n o s ven ezu elan os, BRADY (1979) relata u m a alta p orcen tagem d e vertebrad os n a d ieta d e C. thous (con stitu íd a d e lagartos, cobras e roed ores), p rin cip alm en te n a estação seca. Porém , ou -tros au tores relatam u m m aior con su m o d e fru tos (BISBAL & OJASTI 1980, MOTTA-JÚNIORetal. 1994, FACURE & MONTEIRO-FILHO 1996, MACDONALD & CO URTENAY 1996). Provavelm en te d ietas d iferen ciad as ocorrem d e acord o com a d isp on ibilid ad e d e re-cu rsos em regiões d iferen tes.

Em relação ao con su m o de Bothropsjararaca, os can ídeos,

ao con trário d os felin os (q u e even tu alm en te con som em ser-p en tes) (obs. ser-p es.), n ão são tão ágeis n a caça d esses an im ais, o q u e p od eria oferecer certo risco. Presu m e-se q u e C. thous p ossa ter algu m a estratégia com p ortam en tal d iferen ciad a p ara a cap -tu ra d e ofíd ios p eçon h en tos ain d a n ão observad a ou p rovavelm en te ter en con trad o a serp en te rovavelm orta, e a in gerid o. O con su -m o d e an i-m ais -m ortos p or C. thous já foi registrad o p or ou tros au tores (MOTTA-JÚNIORetal. 1994, FACURE & MONTEIRO-FILHO 1996). Em relação à observação d o casal d e C. thous se alim en -tan d o altern ad am en te d e Persea am ericana, fica claro o com

-p ortam en to coo-p erativo q u e a es-p écie -p od e a-p resen tar em cer-tas ocasiões. NOWAK (1999) e EMMONS & FEER (1997) afirm am q u e, ap esar d esses an im ais viajarem ju n tos, cad a in d ivíd u o cap tu ra seu p róp rio alim en to. Todavia, BRADY (1979) tam bém observou a coop eração en tre casal d u ran te a caça.

Qu an to à d isp ersão d e sem en tes p or C.thous, d as n ove esp écies q u e foram con su m id as, q u atro eram gram ín eas com baixo p oten cial d e d isp ersão zoocórica, já q u e são esp écies an em ocóricas (VANDER PIJL 1982). As d em ais sem en tes eram d e esp écies arbóreas, sen d o im p ortan te p ara as m esm as o fato d e terem su as sem en tes d isp ersad as p ara lon ge d a p lan ta-m ãe. Den tre as esp écies arbóreas, sem en tes d e Syagrusrom anz offiana

(5)

sem en tes se en con travam em locais d esfavoráveis à germ in a-ção e ao estabelecim en to d e n ovas p lân tu las, com o bord as d e floresta, áreas abertas e estrad as, exp ostas a fatores am bien tais n e g a t iv o s c o m o a lt a r a d ia ç ã o so la r , b a ix a u m id a d e e com pactação do solo. BUSTAMANTEetal. (1992), trabalh an do com Pseudalopex culpaeus (Molin a,1782), tam bém relatam q u e esse

can íd eo, ap esar d e ser u m bom d isp ersor, d efeca em áreas aber-tas, d esfavoráveis à germ in ação. Mesm o q u e essas sem en tes germ in assem n essas áreas, as p lân tu las ficariam su jeitas a p re-d are-d ores e à re-d esire-d ratação. No p resen te estu re-d o, em n en h u m a ocasião foi observad o q u alq u er tip o d e sem en te germ in an d o n as fezes de C.thous, tod avia ALO NSO-PAZetal. (1995) em áreas

d e p lan ícies abertas n o Uru gu ai, en con traram em três fezes d i-feren tes sem en tes d a p alm eira bu tia (Butiacapitata) germ in an -d o n a n atu reza.

O fato d e p ou cas esp écies serem d isp ersas p or C. thous n a área d e estu d o, está d iretam en te relacion ad o com su a d ieta, q u e se baseou em iten s d e origem an im al, p rin cip alm en te p e-q u en os roed ores. Em ou tras localid ad es d os estad os d o Paran á e d e São Pau lo , C. th ous p arece ser u m im p o rt an t e agen t e d isp ersor, p ois su as fezes con têm gran d e q u an tid ad e d e sem en -tes in tactas d e esp écies arbu stivas e arbóreas (obs. p es.). No en t an t o , são n ecessário s m ais est u d o s p ara co n firm ar su a efetivid ad e com o agen te d isp ersor. MOTTA-JÚNIORetal. (1994), trabalh an d o em área d e cerrad o e em floresta d e galeria, relata-ram u m total d e q u atorze esp écies d isp ersad as p or esse an im al, e ALONSO-PAZet al. (1995) en con traram em áreas d e p lan ícies

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Rodentia (sigmodontinae) Gramineae Aves Insecta Syagrus romanzoffiana Persea americana Croton floribundus Hovenia dulcis Dasypus novemcinctus

Itens alimentares

Frequência (%)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Rodentia (Sigmodontinae) Gramineae Aves Syagrus romanzoffiana Insecta Araneae Ophidia Mammalia

Itens alimentares

Frequência (%)

0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5

R o d e n t i a ( S i g m o d o n t i n a e ) G r a m i n e a e A v e s S y a g r u s r o m a n z o f f i a n a O r t o p t e r a H o v e n i a d u l c i s P e r s e a a m e r i c a n a M a m m a l i a G u a r e a I n d e t e r m i n a d a

Itens alimentares

F r e q u ê n c ia ( % )

sp.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Rodentia (Sigmodontinae) Gramineae Insecta Aves Mammalia Araneae Bothrops jararaca Sphiggurus villosus Solanum

Itens alimentares

Frequência (%)

sp.

outono inverno

primavera verão

Figura 3. Ação de C.thous sobre as sem entes durante as estações do ano, no Parque Estadual M ata dos Godoy, Londrina (Paraná), durante o período de abril de 1996 a m arço de 1998.

Figura 2. Freqüência de ocorrência (%) com que diferentes itens foram consum idos durante as estações do ano por C.thous, no Parque Estadual M ata dos Godoy, Londrina (Paraná), durante o período de abril de 1996 a m arço de 1998.

0 1 2 3 4 5 6

outono inverno primavera verão

Estações

Espécies

(6)

abertas n o Uru gu ai gran d e q u an tid ad e d e sem en tes d e Butia capitata, d isp ersad as através d as fezes, o q u e d em on stra q u e C. thous p od e ser u m im p ortan te agen te d isp ersor d e sem en tes.

Nos testes de germ in ação, C.thous foi eficaz para algum as espécies, com o para Hovenia dulcis, n a qual m ais de 50% das sem en tes germ in aram . Para Crotonfloribundus ocorreu 30% de

germ in ação, que pode ser con siderada um a taxa bem expressi-va, um a vez que essa é um a espécie que possui frutos autocóricos, os qu ais n ão apresen tam m u itos atrativos para serem con su m i-dos por m am íferos. Todavia, am bas as espécies levaram m uito tem po para germ in ar n as con dições de laboratório. Qu an to a

Syagrusrom anzoffiana, que foi a espécie de fruto m ais con sum ida,

n os testes de laboratório n en h um a sem en te germ in ou, o que pode ter relação com as con dições duran te os experim en tos, as quais n ão ten h am sido ideais para que as sem en tes germ in as-sem . MOTTA-JÚNIORetal. (1994) testaram , em laboratório, a ger-m in ação de seger-m en tes de 14 espécies defecadas por C. thous, e

verificaram que sete espécies germ in aram (em taxas que varia-ram en tre 49,1 e 100%), e em sete n ão ocorreu germ in ação.

REFERÊNCIAS BIBLIO GRÁFICAS

ALO N SO-PAZ, E.; R. ROD RIGU EZ-MAZZIN I & M. CLARA. 1 9 9 5 . Disp ersión d e la “Palm a Bu tiá” (Butia capitata) p or el “zorro

de m on te” (Cerdocyon thous) en m on tes n ativos d e la Reser-va d e Biósfera Bañ ad os d el Este, Uru gu ay. Co m u n icacio n es Bo tán icasd elMu seodeHisto riaNatu raldeMo n tev id eo, Mon tevideo, 104: 1-4.

BISBAL, F.J. & J. OJASTI. 1980. Nich o trofico d el zorro Cerdocyon thous (Mam m alia, Carn ivora). ActaBio lo gicaVen ezu elica, Caracas, 1 0 (4): 469-496.

BERTA, A. 1982. Cerdocyonthous. Mam m alianSp ecies, Wash in g-ton , 1 8 6: 1-4.

BRADY, C.A. 1979. Observation s on th e beh avior an d ecology of th e crab-eatin g fox (Cerdocyonthous). p.161-167. In: J.F. EISENBERG (Ed.). Vertebrateeco lo gyinth eNo rth ernNeo tro pics. Wa-sh in gton , D.C., Sm ith son ian In stitution Press, 271p. BUSTAMANTE, R.O.; J.A. SIMO NETTI & J. E. MELLA. 1992. Are fox

legitim ate an d efficien t seed d isp ersers? A field test. Acta Oeco lo gica, Mon trou ge, 1 3 (2): 203-208.

EMMONS, L.H. & F. FEER. 1997. Neo tro picalrain fo restm am m als. Afieldgu id e. Ch icago, Un iversity of Ch icago Press, 2n d ed .,

XVI+307p .

FACURE, K.G. & E.L.A. MONTEIRO-FILHO. 1996. Feed in g h abits of th e Crab-eatin g fox, Cerdocyonthous (Carn ivora, Can id ae),

in a su bu rban area of sou th eastern Brazil. Mam m alia, Pa-ris, 6 0 (1): 147-149.

HERRERA, C.M. 1985. Determ in an ts of plan t-an im al coevolu tion : t h e case o f m u t u alist ic d isp ersal o f seed by vert ebrat es. Oiko s, Lu n d, 4 4: 132-141.

HOW E, H.F. & J.S. SMALLW OOD. 1982. Ecology of seed d isp ersal. An n u al Rev iew o f Eco lo gy an d Sy stem atics, Palo Alto, 1 3: 201-223.

JANSON, C.H. 1983. Ad ap tation of fru it m orp h ology to d isp ersal agen ts in a n eotrop ical forest. Scien ce, New York, 2 1 9: 187-189.

JANZEN, D.H. 1983a. Disp ersal of seed s by vertebrate gu ts, p . 232-262. In. D.J. FUTUYMA & M. SLATKIN (Ed s). Co ev o lu tio n . Su n d erlan d , Sin au er Associates In c., 9th ed ., X+555p .

. 1 9 8 3 b . Seed an d p o llen d isp ersal b y an im als: con vergen ce in th e ecology of con tam in ation an d slop p y h arvest . Bi o l o g i c a l Jo u rn a l o f t h e Li n n e a n So c i e t y, Lon d on , 2 0: 103-113.

LANGGUTH, A. 1975. Ecology an d evolu tion in th e Sou th Am eri-can eri-can ids, p. 192-206. In: M.W. FOX (Ed .). Th ew ildcan id s: th eirsystem atics, beh av io raleco lo gy, an devo lutio n . New York, van Nostran d Rein h old Co., XVI+508p .

MAACK, R. 1981. Geo grafiafísicadoEstad odoParan á. Rio d e Jan eiro, J. Olym p io, 2ªed. XLIII+450p .

MACDONALD, D.W. & O. COURTENAY. 1996. En durin g social relation -sh ips in a popu lation of crab-eatin g zorros, Cerdocyonthous,

in Am azo n ian Brazil (Carn ivo ra, Can id ae). Jo u rn a l o f Zo o lo gy, Lon don , 2 3 9: 329-355.

MOTTA-JÚNIOR, J.C.; J.A LOMBARDI & S.A. TALAMONI. 1994. Notes on crab-eatin g fox (Dusicyonthous) seed dispersal an d food h abits in sou th eastern Brazil. Mam m alia, Paris, 5 8: 156-159. NOWAK, R.M. 1999. Walker’sm am m also fth ew o rld. Baltim ore,

Th e Joh n s Hop kin s Un iversity Press, vol. 1, 6th ed., LI+836p.

PERACCHI, A.L.; V.J. ROCHA & N.R. DOS REIS. 2002. Mam íferos n ão voad ores d a bacia d o rio Tibagi. P.225-249. In: M.E. MEDRI; E. BIANCHINI; J.A. PIMENTA & O. SHIBATTA (Ed s). ABaciadoRio Tibagi. Lon d rin a, MC Gráfica, 593p .

VANDER PIJL, L. 1982. Prin cip leso fd isp ersalinh igh erp lan ts. Berlin , Sp rin ger-Verlag, 3rd ed ., X+214p .

POUGH, F.H.; J.B. HEISER & W.N. MCFARLAND. 1993. Av id a d o s v ertebrad o s. São-Pau lo, Ath en eu , 839p .

RAMIREZ, B.W. 1976. Germ in ation of seeds of New World Urostig-m a (Ficus) an d of Morussubra L. (Moraceae). Rev istade Bi-o lBi-o giaTro pical, San José, 2 4 (1): 1-6.

REIS, N.R. DOS & J.L. GUILLAUMET. 1983. Les ch au ves-sou ris fru gi-vores d e la région d e Man au s et leu r rôle d an s la d issém in a-tion d es esp éces végétales. Rev u ed ’Eco lo gie(laTerreetla Vie), Paris, 3 8: 147-169.

WALKER, E.P. 1975. Mam m als o f th e w o rld . Baltim ore, Th e Joh n s Hop kin s Un iversity Press, Marilan d , vol. 2, 3rd ed .,

1500p .

WILSON, D.E. & D.M. REEDER. 1993. Mam m al sp ecies o f th e w o rld .Atax o n o m ican dgeo grap h icreferen ce. W ash in g-t o n , D.C., Sm ig-t h so n ian In sg-t ig-t u g-t io n Press, Th e Am erican Society of Mam m alogists, 2n d ed., 1206p .

Imagem

Figura 1. Localização do Parque Estadual M ata dos Godoy (680 ha) no m unicípio de Londrina (Paraná).
Tabela II. Espécies vegetais, parte da planta consum ida, núm ero de vezes que o item  foi consum ido durante as estações e porcentagem total com  que o item  participou na dieta de C
Figura 3. Ação de  C. thous  sobre as sem entes durante as estações do ano, no Parque Estadual M ata dos Godoy, Londrina (Paraná), durante o período de abril de 1996 a m arço de 1998.

Referências

Documentos relacionados

Em função dos dados obtidos e dentro das limitações que nortearam o estudo, foi possível concluir que ao menos no tempo, freqüência e amplitude observados, o emprego da

Table 3 - Parameters (means ± standard desviation) of the adult stage of Podisus nigrispinus (Heteroptera: Pentatomidae) fed on Tenebrio molitor

For Louda and Potvin (1995), in addition to the direct consumption to developing flowers and seeds in Asteraceae, which can reduce the seed production and result in

plants. Seed treatments did not influence the growth of the aerial parts of the plants, but provided an increase in the root system, especially zinc. subtilis ) and

In conclusion, MC application improves seed cotton yield and cotton seed nutritional quality under both deficient and adequate B conditions, through an improved nutrient accumulation

diet or exercise], moderate [medication and diet or medication and exercise or diet and physical exercise], advanced [medication, diet and phys- ical activity], perception of

- Promoção e qualificação dos mecanismos de acolhimento e integração dos imigrantes; - Apoio à ligação dos migrantes ao seu país de origem e aos seus projetos de retorno;

autopreenchimento, a perceção dos encarregados de educação sobre a imagem corporal do seu educando.. RESULTADOS: Participaram 428 crianças, das quais 15,3% tinham