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A apresentação dos verbos num dicionário gramatical de usos

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A APRESENTAÇÃO DOS VERBOS NUM

DICIONÁRIO GRAMATICAL DE USOS

Sebastião Expedito IGNACIO1

• RESUMO: Discutimos neste artigo as condições e as formas como devem ser apresentados os verbos num dicionário gramatical de usos, com base na estrutura valencial e nos aspectos sintático-semân-tico s e pragmásintático-semân-ticos, segundo os quais se podem estabelecer as tipologias e as taxionomias da categoria proposta.

• PA LA VRA S-CHA VE: Uso; dinamicidade; estatividade; valência; ação ; processo; estado.

1 O que é um dicionário de usos

Em pr incípio, u m dicionár io de usos não t e m , evidentemente, como objetivo pr ecípuo prescrever o uso da lín gu a, mas sim descrever a maneir a como a lín gua está sendo usada. No entanto, o usuár io que se propõe consultar u m dicionár io nor malmente o faz par a se inteir ar da maneira correta, ou usual, no emprego dos elementos lin güísticos. E aí o dicionár io de usos passa a assumir t am bém uma fu n -ção n or m ativa. Assim , a responsabilidade do diclonar ista se avulta. Alé m do neces-sário embasamento teór ico e da coer ência dos critérios lexicogr áficos, segundo os quais se farão as classificações, as descr ições e os registros dos elementos lin gü ís-ticos, é fundamental o cuidado na seleção dos dados r ealmente r epr esentativos.

Alé m disso, fatalmente u m dicionár io de usos, que pr etenda ser fiel à r ealida-de da língua que se propõe r egistr ar , sofrerá r estr ições por par te dos aealida-deptos das normas r ígidas da tr adição gr am atical. Ain d a que o r egistr o se faça com base nos escritos mais representativos e abrangentes, tanto qualitativa quanto qu an t it at iva-m ente, tan to a escola quanto os concursos públicos ou quaisquer outros expedien-tes destinados a avaliar o desempenho da língua escr ita resistirão a aceitar as in o-va çõe s . Tendem sempre a considerar er r o, "vulgar ismo", ou, na melhor das h ip ót e-ses, "linguagem n ão-ad equ ad a" muitas formas e con str uções que já se tor nar am cor r entes, usuais. Essa r esistência deriva da con cep ção de que o ún ico modelo aceit ável como cor r eto é o da língua dos escritores considerados clássicos. Mesmo

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os fatos que se podem abonar com Ca m õe s, Camilo Castelo Branco, Eça de Quei-r ós, Machado de Assis são consideQuei-rados "cochilos" se não se enquadQuei-ram na Quei-regQuei-ra r ígida da gr am ática nor mativa tr adicion al.

Esse conflito, no entanto, não pode ser empecilho ao dicionar ista, por algu-mas r azões b ásicas: pr imeir o porque a sua função é registrar com fidelidade as ocor r ências. Assim , embora não tenha como objetivo a pr escr ição, ele atentar á para os fatos realmente representativos e sistem áticos, registrando como normais formas estr utur almente diversas porém equivalentes em sign ificação e fr eqüência, e cha-mando a aten ção para os fatos que se afigur am como ten d ên cias da lín gu a. Segun-do, por que, embora não se tenha ainda entre nós uma definição precisa e atual do que seja o padr ão lingüístico culto, h á uma tr adição gr amatical que se evidencia na pr odução escr ita, de modo geral, que h á de ser sempre diversa da língua or al.

Como mera ilustr ação, gostar íamos de citar aqui alguns fatos, ainda condena-dos pela gr am ática nor mativa, presentes na língua escrita desde as pr imeir as m a n i-festações do modernismo e que são abundantes nos textos contem por âneos.

Apr oveitando o levantamento feito por Sílvio Elia (1963) sobre "a contr ibuição lingüística do moder nismo", vejamos, pr imeir amente, o que o autor chama de "fa-tos fon ét icos", tidos como tr ansgr essões das regras da nor ma culta, como t en t at iva dos modernistas de apr oxim ação da língua escrita com a or al, e até mesmo pela "ânsia nacionalista", e que, na verdade, são formas encontr adiças nos clássicos.

De Jorge de Lim a, emzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Calunga, cita o autor:

(1) "o maquinista ficou de cócor as em frente da m áquina m aginando como

desen-rascar aqueles ferros do in glês."

De Carlos Dr ummond de Andr ade, em Poesia até agora, cit a:

(2) "A família mineir a está quentando sol

sentada no ch ã o ."

"Maginar " e "quentar" são formas registradas, segundo o autor , por Padre Augusto Magne, no Glossário da Demanda, e por Padre An chieta {"quentar-se ao

fogo do amor d ivin o").

Em textos contem por âneos, encontr amos:

(3) "Coriolano deu para m aginar se não seria melhor largar de besteir a." (Filho, 1965)

(4) "Magina só: eu agora estava com vontade de cigar r ar ." (Rosa, 1951)

(5) "Que fr io! E o diabo do sol não quenta coisa nenhuma." (Rosa, 1951)

(6) "De repente [o cão) manifestara-se ali a quentar fogo." (Amado, 1984)

(3)

Dentre os "fatos sin t át icos", citemos o tão combatido uso do verbo "ter " pelo "haver ":

De Carlos Dr um m ond de Andr ade, o conhecidíssim o "No meio do caminho t i -nha uma pedr a."

De Jorge de Lim a, emzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Calunga:

(7) "Nos olhos de Janaina Na cauda de Janaina

tem cem doninhas p ulan do."

Este emprego longe está de ser u m br asileir ismo, uma vez que, conforme r e-gistr a Ju cá Filho (1953), se encontr a, entre outr os, em Camilo, "Tem lá uma cousa

que chamam academias", e em Eça de Queir ós, "Tem ali u m pomar, que dá os

p êssegos mais deliciosos de Por tugal". É t am bém de uso corrente nos textos escr i-tos contem por âneos:

(8) "Não tem jeit o, Jo ã o Grilo m or r eu." (Suassuna, 1963)

(9) "Tem aí u m Doutor Germano, este então não para de falar ." (Jar dim, 1980)

(10) "Tem uma coisa no ar que in qu iet a." (Brandão, 1985)

Para citar mais uma constr ução "condenada", lembremos o emprego dos ver -bos de movimento com a pr eposição "em ":

De Mur ilo Mendes, em História do Brasil:

(11) "Chegaram na capital

Bem lim pinhos e bem lavados." Ou:

"Mas n in gu ém vai nessa escola:

Nã o t e m estrada pr a lá ."

Para "r egulam en tar " esse uso, bastar ia que a gr a m á t ica n or m at iva citasse Ca m õe s , em Os Lusíadas:

(12) "Nalgum porto seguro, de verdade, Conduzir-nos já agora deter m ina."

Na linguagem contem por ânea, temos:

(13) "Ele só ia em Andaraí quando fazia de u m conto de réis pra cima." (Salles, 1966)

(14) "Fui em outra festa com Mar cin ha." (Paiva, 1982)

(15) "Chegam os em Belém no fim da tar d e." (Sousa, 1983)

Outro exemplo de r egên cia ver bal ainda não aceita como correta é o uso de verbos como "aspirar" (almejar) e "assistir" (presenciar) como tr ansitivos dir etos, ou seja, sem o emprego da pr eposição "a", t am bém presente na lín gua escr ita con-tem por ânea:

(16) "As mulheres () t am bém aspiram um a situação de vida m ais definida." (Melo,

(4)

(17)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA "O que todos aspiram é far tur a e alegr ia." (Ribeiro, 1983)

(18) "isso é qualidade requerida daquele que aspira um cargo de oõcial de igreja."

(Lessa, 1976)

(19) "Ela assistia m issa e novena de u m banco da pr imeir a fila." (Queir ós, 1992)

(20) "A ad ap t ação teatr al do livr o, gue assisti no teatr o de arena, nada subtr aiu nem

acrescentou do or igin al." (Rey, 1989)

Em que pese, pois, a r esistência da gr am ática nor m ativa, u m dicionár io de usos dever á registrar formas como "engulir ", bem como constr uções do tip o "depa-rar-se com ", "namorar com " e t c, desde que sejam encontr adiças nos textos de es-cr itor es contem por âneos, pois, afinal, elas atestam t en d ên cias da lín gu a. Se a gr a-m át ica escolar não as aceita não ser á a-m otivo para que o dicionar ista não as r egis-t r e. Esse r egisegis-tr o poder á aegis-t é servir de fonegis-te a uma r evisão da nor m a-padr ão esegis-ta- esta-belecida.

Dos usos agora citados, colhemos os seguintes exemplos:

(21) "Enguli muitas vezes a saliva com gosto r u im de cuspe." (Borges, 1965)

(22) "A voz lhe falt ou . Enguliu u m solu ço, fez u m esfor ço para não chor ar ."

(Monte-negr o, 1960)

(23) "E agora é só dobrar assim e está pr onto para engulir." (Fernandes, 1963)

(24) "Este é o problema centr al com que se depara o administr ador fin an ceir o."

(Shubert, 1989)

(25) "Deparei-m e com cobras e on ça s ." (Mir anda, 1991)

(26) "Ela está nam orando com o gr ingo do cir co." (Mar inho, 1963)

(27) "Quem é que vai querer nam orar com u m sujeito assim?" (Marcos, 1979)

Em sín tese, diríamos que u m dicionár io de usos não h á que sonegar o r egistr o de formas ou consegistr uções em uso na lín gua, só pelo fato de estarem em discor -dân cia com os preceitos tr adicionais da gr am ática escolar, todavia h á que se ado-tar algum critério nas apr esen tações. Por exemplo, registrar nor malmente as formas que se equivalham em significação e fr eqüência, e chamar a at en ção, talvez em nota, para aquelas que se apresentam menos fr eqüentes, mas que se afigur am como ten d ên cias da lín gua.

2 Apre se ntação dos verbos num dicionário de usos

A apr esentação dos verbos obedecer á a uma analise e classificação, segundo critérios pr eviamente definidos. Teor icamente, os verbos podem se classificar de acordo com as r elações sem ân ticosin táticas que mantenham com o sujeito, ar gu -mento de pr imeir o gr au (A]), e com o objeto ou comple-mento dir eto, ar gu-mento de segundo gr au (A2) (Ignacio, 1984).

(5)

(i) AÇÃO, com sujeitozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA instigador, com os traços + controle, + voluntariedade, + cau-satMdade, portanto, Agentivo:

(28) Fernando viaja todos os dias;

(ii) PROCESSO, com sujeito afetado, constituindo-se, por tanto, no Paciente do

evento. Em pr incípio, neste caso o sujeito se caracteriza como Exper imentador , Receptivo ou Beneficiár io:

(29) Sarita em agreceu com o r egime;

(30) Raimundo adoeceu;

(31) César recebeu in dulto de Natal.

Ver bos pr im itivam ente indicadores de a çã o selecionam sujeito Objetivo nas constr uções processivas:

(32) As á gu a s estão subindo r apidamente.

(iii) ESTADO, com sujeito inativo, Objetivo, em princípio não afetado, exceto com

os determinados verbos volitivos, sensitivos, opinativos, cognitivos ("querer", "gostar", "julgar ", "saber" e t c) , em que o sujeito é Exper imentador :

(33) Queremos u m governo justo. (34) Jo ã o gosta de m at em át ica.

(35) Paulo julga que sabe tud o.

(36) Man uel sabe que não ser á eleito.

A r elação lógica que se estabelece nas frases com verbo de ação é sempre a de u m FAZER, por parte do sujeito, enquanto nas frases processivas h á sempre u m ACONTECER, em r elação ao sujeito (Chafe, 1979). Dir íamos que nas frases estativas h á u m SER/ ESTAR/ EXISTIR.

Açã o e processo se realizam simultaneamente quando h á u m FAZER por par te de Ai e u m ACONTECER em r elação a A2. Nesse caso, A2 ser á sempre afetado,

afe-tamento este que se caracteriza tan to por uma m ud an ça de estado físico, in cluin do m u d an ça de lugar , quanto por u m condicionamento p sicológico. Ocorre, ainda, o objeto efetuado, ou resultativo, aquele que "passa a existir ". Assim , Ai poder á ser

Agen t ivo, Causativo ou In st r u m en t al,2 e A

2 ser á Paciente, Exper imentador ,

Recep-t ivo, Beneficiár io ou ResulRecep-taRecep-tivo, não necessariamenRecep-te numa r elação de causa e efeito pr edeter minada entre os dois ar gumentos. Como exemplos de verbos que podem compor frases ativo-processivas, podemos citar "quebrar", "levar", "magoar", "fazer" e t c, em frases como:

(37) O cigano quebrou uma dúzia de pr atos.

2 As funçõ e s te m áticas Age ntivo , Caus ativo e Instrume ntal s e distingue m , fundame ntalme nte , pelos traço s zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(6)

(38) O ventozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA levou as nuvens para o Sul.

(39) Minhas palavras m agoaram os ouvintes.

(40) Mar gar ida fez u m bolo de cenoura.

Com base nessas r elações fundamentais, é possível estabelecer uma tipologia m atr icial para o r egistr o dos verbos n o dicionár io. Todavia, uma d escr ição gr am atical não pode contentar-se apenas com a in dicação dessa tipologia. Cabe ao dicionar ista descrever todas as estr utur as, sejam sem ân tico-sin táticas, sejam m or fossintáticas, que realmente ocor r am. Isso significa que se devem descrever, além das estr utur as mor fossintáticas e tr aços sem ân ticos per tinentes dos ar gumentos, próprios das es-truturas-padrão típicas de cada ver bo, tam bém os arranjos sintáticos ocorridos nas estruturas derivadas. Cite-se, como exemplo, o verbo "conversar", que, como verbo de a çã o, na sua acep ção b ásica, ter ia a seguinte estr utur a valencial: Sujeito Agen t e e complemento constituído por nome humano precedido da pr eposição "com ":

(41) O governo conversará com sindicalistas.

Como sujeito e complemento são constituintes sim étr icos, estes podem coor-denar-se ou condensar-se numa forma de plur al, fato que dever á ser levado em conta pelo dicionar ista:

(41a) Governo e sindicalistas conversarão.

(41b) As duas partes/ eles conver sar ão.

Por outro lado, ser á a par tir da função pr agm ática que o verbo adquir e no t ext o que se haver á de fazer a sua descr ição, pois é a par tir daí que ele adquirirá o estatuto sem ân tico de verbo de a çã o, de processo, de ação-p r ocesso ou de estado.

Assim , uma mesma forma lexical se classificar á difer entemente, tanto em r azão da estr utur a sin tático-sem ân tica ou valencial, como t am bém em r azão da dim en são p r agm ática, ou seja, do contexto.

No pr imeir o caso, cite-se o exemplo já bastante conhecido do verbo "abr ir ", que poder á compor frases pr oçessivas, ativo-prpcessivas (estas com sujeito Agen t e, Causativo, Instr umental) e até frases estativas:

(42) A por ta abriu. (Processiva.)

(43) Frederico abriu a por ta. (Ativo-pr ocessiva, com sujeito Agente.)

(44) O vento abriu a por ta. (Ativo-pr ocessiva, com sujeito Causativo.)

(45) A chave abriu a por ta. (Ativo-pr ocessiva, com sujeito Instr umental.)

(46) Desde cedo uma toalha branca se abria sobre a mesa. (Estativa, com sujeito

Objetivo.)

(7)

paráfrase "estava aber ta" em lugar de "se abr ia". Em outras sit u ações, entr etanto, só o contexto maior permitirá uma análise cor r eta. Por exemplo:

(47) Governo democr áticozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA im pede r ebelião.

O verbo desta frase, elaborada como título de u m t ext o, possui todas as car acter ísticas para ser classificado como de ação-p r ocesso, compondo, pois, uma frase d in âm ica. Todavia, em r azão do texto a que per tence, assume outr a fu n ção:

(47a) "A Histór ia t em demonstrado que todos os movimentos de revoltas populares se r ealizam nos países de regimes ditator iais. Isso nos leva a concluir que

governo dem ocrático im pede rebelião."

Neste texto o verbo "im pedir " estabelece uma r elação estativa com o sujeito, uma vez que descreve uma "possibilidade de SER", não a "realidade de u m FAZER".

Assim , não ser á a forma lexical que determinará a classe sin tático-sem ân tica do ver bo, mas a sua função t ext u al. Evidentemente, existem formas pr ototípicas que, em pr incípio, caracterizam determinadas classes de ver bos, todavia d ificil-mente ser ão exclusivas e permanentes em qualquer contexto. Seja, por exemplo, o verbo "cor r er ", protótipo de u m verbo de a çã o, mas que pode indicar processo e até estado:

(48) A cr iança corria no par que. (Ação.)

(49) A bola corre no gr amado. (Processo.)

(50) Uma fita amarela corre de u m extremo ao outr o do salão, dividin do-o em dois

hemisfér ios. (Estado.)

Note-se que a acep ção do verbo "correr" em (50) não é a mesma de (48) e (49). A r elação estabelecida com o sujeito ("Uma fita amarela") não leva à n oção de "m ovim en to", mas sim à de "estar fixada ao longo de".

O próprio verbo "ser", protótipo das r elações estativas, pode assumir caráter dinâm ico em constr uções como:

(51) O governo do Iraque está sendo im placável com os rebeldes.

Observe-se que, neste caso, o conjunto "está sendo im p lacável" é que im p r i-me à frase u m caráter d in âm ico. Logo, não se pode considerar o verbo isolado da estr utur a sin tagm ática de que faz par te.

As car acter ísticas formais indicativas de tempo e aspecto são t am b ém caracterizadoras dos aspectos dinâm ico versus estativo. No entanto, n ão podem ser o ponto de par tida para a classificação do ver bo, uma vez que elas são condicionadas e não condicionantes, isto é, a r elação de estado ou de processo é que con -diciona o tempo/ aspecto ver bais. Como exemplo, temos:

(8)

(53) De repente os cur r aiszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBApretejaram de ur ubus. (Aspecto per fectivo; frase processiva = "ficaram pretos de ur ubus".)

Em suma, n u m dicionário gr amatical de usos, os verbos devem ser classifica-dos segundo critérios sintático-sem ânticos previamente definiclassifica-dos, mas que só se concr etizam no t ext o, ou seja, em r azão das r ealizações concretas de fala. É numa r ealização textual que se configur am as car acter ísticas funcionais dos ver bos. Daí se observarem fatos como.

(i) uma mesma forma lexical seleciona sujeitos semanticamente distin tos, podendo compor or ações tipologicamente distintas. Veja-se o exemplo citado do verbo "abr ir " que tanto pode compor frases din âm icas (ativo-processivas - com sujeitos semanticamente diversos - e processivas), quanto frases estativas;

(ii) uma mesma forma lexical pode compor frases din âm icas ou estativas, de acordo com as r elações sem ân ticas que estabelece com o sujeito;

(iu) verbos pr im itivam ente dinâm icos podem estabelecer r elações estativas e vice-ver sa,

(iv) uma mesma forma lexical adquir e acep ções diversas, de acordo com as fun ções sem ân t icas dos constituintes oracionais e, con seqüen tem en te, de acordo com o tip o de frase que com põe

Alé m dessas pr incipais classes de verbos, o dicionár io deve registrar t am bém as subclasses, tais como as formas que auxiliam na con str ução do enunciado, i n -dicando aspecto e modalidade. Como exemplo, temos "com eçar " que, pr ecedendo a + in fin it ivo, indica aspecto mceptivo, e "dever" que, precedendo in fin it ivo, in d ica possibilidade, obr igator iedade, necessidade:

(54) Ma ga lh ã e s com eçou a falar sobre economia.

(55) O pr esidente deve chegar segunda-feira.

(56) O governo deve cumprir a Con st it uição.

(57) Para a melhor ia das con d ições de tr áfego, as rodovias devem ser pr ivatizadas.

Outras ocor r ências a serem registradas são as lexias verbais e as expressões.

As pr imeir as se constituem de u m verbo suporte associado a u m núcleo n om in al abstr ato, cujo conjunto equivale a u m verbo de raiz igu al à do nome. Exemplos:

dar m urros = "esmurrar"; tom ar banho = "banhar-se". Nem sempre a lexia

corres-ponde a uma forma ver bal existente na lín gu a, mas esta pode ser pr evista pelo sis-tema ou possui uma forma sinônim a: dar pontapé = "pontapezar"(?)/ "chutar"

As expr essões se constituem de u m conjunto gr amaticalizado que se constr ói em tor no de u m ver bo. Caracterizam-se por ter em u m significado atual diverso do significado de seus elementos constituintes. Exemplo: dar com os burros riágua =

"ser malsucedido", "fracassar".

(9)

sem ân ticas e mor fossintáticas. Do ponto de vista sem ân t ico, indicam-se as fun ções

tem áticas dos argumentos, bem como tr aços sem ân ticos per tinentes, comozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA concre-to/ abstrato, anim ado (hum ano/ não hum ano), contávei/ não contável e t c, além , e

vi-dentemente, da acep ção do ver bo. Do ponto de vista mor fossintático, indicam-se os tipos e as estruturas dos complementos. Como exemplo, cite-se o verbo "tr ans-por tar " numa constr ução como:

(58) Jo s é transporta óleo diesel de São Paulo para o Nordeste e emigrantes nordestinos

do Nordeste para São Paulo.

Este ver bo, que t em a acep ção de "levar de u m lugar para outr o", se descr e-ver á como in dicativo de ação-p r ocesso, com três complementos: complemento^ constituído por nome concr eto; complemento2, locativo de or igem ; com plem en to3,

locativo m eta.

Como poder á ocorrer o apagamento dos complementos 2 e 3, estes ser ão des-cr itos como facultativos (±):

(58a) Jo s é transporta óleo diesel e emigr antes.

Do exposto, con cluím os:

1 Um dicionár io gr amatical de usos, ainda que venha a ser uma or ientação aos usuár ios, não terá caráter nor m ativo. Há de ser o r egistr o fiel da língua em uso numa deter minada ép oca. Ser á tan to mais verdadeiro quanto mais abrangente e mais representativo for o seu corpus. Deve contemplar os diversos tipos de textos e,

n um país como o Brasil, deve abranger a produção escrita de todas as r egiões. Cite-se, como exemplo, o Projeto DUP (Dicionário de Usos do Português Contempor âneo do Brasil) em elaboração por uma equipe de pesquisadores da UNESP, Departamento de Lin güíst ica da Faculdade de Ciên cias e Letras de Ar ar aquar a, sob a coor den ação de Francisco da Silva Borba. A equipe tr abalha com u m corpus que já atinge

cer-ca de quinze milhões de ocor r ências, abrangendo os vários tipos de liter atur a (r o-manesca, dr am ática, oratória, jor nalística e técn ica) pr oduzida nos últimos 50 anos.

(10)

IGNACIO, S. E. The presentation of verbs in a usage dictionary.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Alfa (São Paulo), v.40,

p.119-128, 1996

• ABSTRACT In this paper, we discuss the conditions and form s of how the verbs should be presented

i n a usage gram m atical dictionary based on their Valencia! structure and on their syntactic-sem antic

and pragm atic aspects, according to which we m ay establish the typologies and taxionom ies of the

proposed category

• KEYWORDS Usage, dynam icity, staOvity, valence, action, process, state

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Referências

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