• Nenhum resultado encontrado

Empresa e Comunidade: Responsabilidade Social, Sobrevivência, Produtividade e Imagem Institucional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Empresa e Comunidade: Responsabilidade Social, Sobrevivência, Produtividade e Imagem Institucional"

Copied!
292
0
0

Texto

(1)

, I.' ' . ; . 1 t

.

'

.

. '

.

..

';

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

EMPRESA E COMUNIDADE:

responsabilidade social, sobrevivência,

produtividade e imagem institucional

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À I;:SCOLA

BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇAO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

GINA CLAUDIA NADAL NUNES DE SOUZA

Rio de Janeiro, 2000

(2)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

E

EMPRESA E COMUNIDADE:

responsabilidade social, sobrevivência,

produtividade e imagem institucional

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR

GINA CLAUDIA NADAL NUNES DE SOUZA

APROVADA EM 26/ 04/2000

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

DE OLIVEIRA -

Doutora em Educação

MARA TELLES SALLES -

Doutora em Engenharia de Produção

li/i

PAULO ROBERTO OTTA -

Doutor em Administração Pública

ii

(3)

"0 caminho para você dar a dimensão correta a esse País é

necessariamente passando pela educação e pela saúde. Eu acho que,

como empresa, quando eu faço alguma coisa nessa área, eu estou

tentando dar ao mercado a dimensão e a qualidade que eu preciso para

poder crescer. "

Luiz César Sampaio,

Ex-superintendente da REDUC,

em depoimento dado na pesquisa de campo.

(4)

Aos meus queridos

Márcio, Bianca e Marcelo

(5)

Agradecimentos

Aos colegas

Moacir Nunes de Castro

Sylvio de Oliveira Ferreira

Marcos Cadorso Quaresma

A minha irmã Malu

(6)

Agradecimentos especiais

Aos gerentes e equipes da REDUC que prontamente se colocaram

à

disposição para as entrevistas da pesquisa de campo.

Aos professores Diogo Lordello de Mello, Enrique Jeronimo Sara via,

Fátima Bayma de Oliveira, Hermano Roberto

Thir-Cherques, Jorge Vianna Monteiro, Luis César Gonçalves de

Araujo, Luiz Estevam Lopes Gonçalves, Paulo Reis Vieira

e Paulo Roberto Motta pela rica contribuição

na construção de uma rede de idéias.

À professora Mara Telles Salles da Universidade Federal Fluminense

pela gentil atenção, comentários e criticas.

À

Petrobras e

à

Fundação Getulio Vargas pela

(7)

Sinopse

Inicialmente, faz-se um convite para um passeio na história, observando-se as relações sócio-político-econômicas na sociedade ocidental, a partir do Império Romano até os primórdios do capitalismo, com a finalidade de identificar sob a responsabilidade de quem estava o bem-estar das comunidades, o que permite registrar que essa responsabilidade foi conduzida pelas mãos da Igreja, reis, confrarias e pelo Estado, e esteve sempre associada às entidades que detinham o poder.

Uma vez feito isso, passa-se ao contexto atual, para entender a maneira com que o poder econômico, mais especificamente as companhias produtoras de bens e serviços, participa da responsabilidade social pelo desenvolvimento das comunidades nas quais estão situadas as unidades de produção e as consequências dessa participação para a imagem e sobrevivência das empresas.

(8)

Abstract

Initially, one is presented with a historical overview of the social-political and economic relationships in western society, from the Roman Empire through early capitalism, in order to identify the parties that have been in charge of the welfare of communities. This first section allows one to observe that this task has been handled by the Catholic Church, kings, confraternities, and State-Nations, and that it has been primarily associated with entities that have been in power.

Following, current issues are brought to one's attention, as the focus shifts to the way the economic powers, more specifically, the industries offering products and services, perform nowadays as organizations socially responsible for the development of the communities where they have placed their production plants, and to the impact the new marketing and social strategies have on the public image and survival of those industries.

(9)

Sumário

Parte I -

Introdução ... ... ...

1

Desenvolvimento da pesquisa ... ... ... ...

7

Partell -

Evolução da Responsabilidade Social na Sociedade

Ocidental... ... ... ... ... ... ... ...

11

Período que Antecedeu o Feudalismo: Antiguidade Tardia ...

11

Europa Ocidental na Idade Média: Regime Feudal ... 22

A Organização e a Vida Feudal. ... ... ... ... ...

22

A Tradição Judeu-Cristã e o Statu Quo Feudal ... 29

A Recuperação do Comércio e da Vida Urbana ...

32

Europa Ocidental na Idade Moderna ...

41

A Transição para o Capitalismo ...

41

Forças Constitutivas para o Estabelecimento

do Capitalismo... 46

O

Estado Soberano e o Bem-Estar Comum ... ... 50

Europa Ocidental na Idade Contemporânea ... ...

54

Os Primórdios do Capitalismo... ... ... ... ...

54

O

Industrialismo e seus Custos Sociais.. ... ... ... ... 60

Parte III -

A

Responsabilidade Social e as Empresas ... ...

76

O Contexto Atual... ... ... ... ... ... ... ... 76

Imagem Institucional ... 116

Imagem e Projetos Sociais ... 127

Produtividade, Sobrevivência e Interesse Público ...

143

A Conjuntura da Refinaria Duque de Caxias ... 150

Parte

IV -

A Contribuição dos Programas Sociais da REDUC ...

174

A Pesquisa de Campo ... 180

Dados Empíricos e Percepções ...

184

Parte V -

Conclusões ...

238

Bibliografia ...

248

Anexos ...

261

Anexo I - Plano de Investigação ... 262

(10)

Sumário de Quadros e Figuras

Quadros

Quadro 1.1 - Número de mortes violentas em conflito pós-/I Guerra Mundial...

4

Quadro 1/1.1 - Dados de Custo de Paradas Operacionais ...

148

Quadro IV.

1 -

Segmentação da Amostra da Pesquisa de Campo ...

183

Quadro IV.2 - Tempo de Companhia - empregados da REDUC ...

185

Quadro IV.3 - Tempo de Inserção no Contexto - Populares ...

187

Quadro IV.4 - Tempo de Inserção no Contexto - Formadores de opinião ...

187

Quadro IV.5 - Tempo de Inserção no Contexto - Entrevistados ...

188

Quadro IV.6 - Motivações para a Empresa Empreender-se Socialmente ... 212

Quadro IV.

7 -

Elementos Formadores da Imagem da REDUC ... 230

Figuras

Figura 1/1.1 - Relações estabelecidas via o Interesse Público ...

146

(11)

A sociedade brasileira passou, nas duas últimas décadas, por uma série de transformações, a começar pelo processo de retomada da democracia que propiciou espaço para a expansão de um conjunto de tendências que estava contido pelos 20 anos do período ditatorial até a abertura política, provocando mudanças significativas no contexto sócio-político-econômico do País.

As transformações não aconteceram desconectadas do cenário internacional, do qual participaram: o fortalecimento das idéias neoliberais comandado pela Inglaterra na figura da Dama de Ferro Margareth Tachter, resultando no movimento de redução das atividades estatais de produção, em direção ao Estado Mínimo; a ruptura, com a queda do muro de Berlim no final da década de 80, do mundo comunista, tendo como consequência a derrocada da União Soviética e seus satélites; e a globalização de mercado, acompanhada da desestatização das economias nacionais e internacionalização das grandes companhias.

(12)

e derivados, permitindo a operação de outras empresas no país, além da representante estatal.

Esses fatos imprimiram à sociedade brasileira desenvolvimento de postura crítica em relação à atuação das empresas, deixando-as mais expostas, chegando mesmo a um questionamento quanto à pertinência social das organizações, como foi vivenciado na campanha sustentada pela mídia de quebra de monopólios da União e privatização de estatais, e nas denúncias de impactos ambientais como a do derramamento de 2 toneladas de óleo na Baía da Guanabara, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo em 18 de agosto de 1997.

Essa exposição na mídia é de importância capital para a continuidade de uma empresa, devendo esta permanecer atenta às manifestações da sociedade, pois a imagem se modifica a partir do referencial do observador e tanto este quanto a posição do observador evoluem, estando em constante modificação. Assim sendo, é mandatório identificar o que os diversos grupos que constituem a sociedade estão demandando a cada instante, além de tentar captar as suas percepções da realidade, pois elas são denunciativas de interesses e tendências, e portanto, da possível forma de inserção futura da empresa na sociedade.

Por outro lado, com todo o avanço da sociedade, o Brasil apresentou, segundo o relatório das Nações Unidas de 1999 sobre a qualidade de vida no mundo, queda de posição, caindo do 62º para o 79º lugar no ranking mundial, fato este relacionado com a baixa expectativa de vida dos brasileiros, quando comparado aos demais países, e com a crítica distribuição de renda da população, assinalando a alarmante desigualdade social, apesar de o país ter uma renda per capita acima da média - US$

(13)

Segundo Tania Celidonio (1992, p.22), em se tratando de distribuição de renda, a realidade brasileira está mais para a da Etiópia, país pobre da África, do que para a realidade do Canadá com elevada qualidade de vida dos habitantes.

De acordo com o relatório das Nações Unidas, em termos do índice de Desenvolvimento Humano - IDH, entre os 174 países, o Brasil no 79º lugar está atrás do Chile - 34º, Argentina - 39º, Uruguai - 40º, México - 50º, Cuba - 58º e Equador que se colocou em 72º. Pelo relatório, 26 milhões de brasileiros não têm acesso às condições mínimas de saúde, educação e serviços básicos - 24% não dispõem de água potável e 30% carecem de esgoto -, 17% da população vivem na miséria e 11,5% morrem antes dos 40 anos de idade. Em relação à esperança de vida, a média brasileira de 1997 é de 66,8 anos, inferior à expectativa de vida da Argentina de 72,9 anos e à do Uruguai que é de 73,9 anos.

Outro aspecto denunciativo da baixa qualidade de vida brasileira são os dados sobre a violência urbana. Segundo Ib Teixeira (1999, p.94), cerca de 350 mil homicídios ocorreram nos últimos 10 anos, representando uma média de 35 mil mortes por ano. Estes dados colocam o Brasil numa posição pouco honrosa de superar os países que passaram pelas mais sangrentas guerras que afligem a humanidade após a 11 Guerra Mundial, excluindo as guerras da Coréia e do Vietnã.

A seguir, o Quadro 1.1, que contém dados extraídos da tabela intitulada O mundo

se curva ante o Brasil (Teixeira,1999, p.95), com informações a respeito de mortes

(14)

Quadro 1.1 - Número de mortes violentas em conflitos pós-li Guerra Mundial

Localidade Duração Número de Baixas Média Anual (anos) (mil mortes) (mil mortes/ano)

Brasil * 10 350 35

Chechênia 3 40 13,333

São Paulo * 10 100 10

Argélia 7 65 9,285

Timor Leste 24 200 8,333

Rio de Janeiro * 10 80 8

Azerbaijão 5 35 7

Congo 2 10 5

Sri Lanka 16 56 3,5

Turquia 15 37 2,466

Ruanda 5 10 2

Bósnia-Herzegovina

6 5 0,833

Kosovo

3 2 0,666

* Número de homicídios em guerra não declarada.

Segundo Ib Teixeira (1999, p.95),

Os números não deixam dúvidas sobre a extrema gravidade da crise de segurança

que ameaça a qualidade de vida humana no país. Nossa média de homicídios é seis

vezes maior que a registrada em todo o mundo, chegando a quadruplicar a verificada

nos Estados Unidos. Atualmente, as grandes cidades brasileiras vivem em pânico ante

a ameaça da delinquência, organizada ou não, que .... controla comunidades inteiras e

já cooptou, pelo menos, um terço das crianças e adolescentes das comunidades

(15)

Os gastos do país com a violência aproximam-se a 10% do PIS, o que significa estar gastando uns US$ 75 bilhões na tentativa de neutralizar a violência, podendo-se assegurar que são poucos, ou quase nenhum, os resultados desse investimento, além de colocar em cheque as instituições brasileiras, dando a pecha de incapacidade à Justiça face à violência (Teixeira, 1999).

De acordo com Tania Celidonio (1992, p.22),

Aproximar o desenvolvimento social do crescimento econômico tem sido o grande

dilema de governos, economistas e de cientistas sociais e políticos. Num País em que

o Estado sempre se colocou no centro do desenvolvimento, é chocante ler os números

acima citados e constatar que pouco ou quase nada foi feito, pelo poder público, para

reverter esse quadro.

Assim sendo, uma forma de minorar a crise social é a participação do poder econômico, em parceria com a sociedade civil e o poder público, na busca de solução para as questões que impactam o desenvolvimento sócio-econômico da comunidade, com resultados positivos para as próprias empresas, em termos de: aceitação para operar na comunidade; produtividade a partir de uma mão-de-obra mais bem preparada; colaboração quanto à segurança industrial consequência de um maior esclarecimento sobre as atividades da empresa; e preferência quando da escolha de consumo, fruto de uma imagem positiva perante à sociedade.

Concorda com isso Tânia Celidonio (1992, p.22) quando diz que

Na falta de um projeto governamental de longo prazo, ou mesmo porque nos últimos

anos a iniciativa privada que atua no Brasil amadureceu um conceito - comum aos

países desenvolvidos - segundo o qual o bem estar de seus vizinhos faz parte do seu

elenco de prioridades, a verdade é que muitas empresas passaram a assumir, cada

(16)

Assim sendo, esse estudo visa dar uma contribuição no sentido de destacar a importância de um comportamento empresarial que envolva a responsabilidade social dentro de seus objetivos estratégicos, e mais que isso, assimile-a como uma estratégia

de marketing da companhia, em consonância com os resultados do negócio da

empresa.

Então, enfocando um estudo de caso, a Refinaria Duque de Caxias e os programas por ela conduzidos na área social junto à comunidade vizinha de Campos Elíseos, tenciona-se ressaltar a urgência, em decorrência do caos social explicitado pelos indicadores numéricos apresentados nesse texto, com que a responsabilidade social deve ser absorvida pelas empresas, uma vez que a atuação proveniente dos órgãos governamentais competentes para atender a demanda social da população não tem sido eficiente, podendo comprometer o desenvolvimento de toda a sociedade e, portanto o das empresas.

Essa dissertação, apoiada em teorias administrativas englobando a visão de gestão estratégica das empresas, a abordagem contingencial das organizações, e a disciplina de marketing, pretende, através de um olhar sociológico, valorar junto ao meio acadêmico e empresas públicas e privadas, um comportamento empresarial cônscio da ética social, onde atitudes preventivas de impactos indesejáveis à natureza física e à sociedade, e atitudes participativas quanto ao desenvolvimento social da comunidade, devam ser incorporadas à gestão das empresas.

(17)

a fim de assegurar o desenvolvimento de todos e a pertinência da empresa ao contexto social.

A relevância do estudo se faz presente quando, numa análise de futuro, a questão da continuidade e produtividade da empresa aparece como condição sine qua non de sobrevivência, sendo esta de total dependência da aceitação da sociedade, em outras palavras, da conquista da legitimação junto à comunidade.

No momento em que ainda se questiona a interferência do Estado na economia, se critica a má distribuição das riquezas e as relações do mundo desenvolvido com o mundo em desenvolvimento em um cenário de mercado globalizado, se torna bastante propício refletir sobre a relação da empresa com a população local, para não acentuar as desigualdades existentes entre o poder econômico e as demais partes da comunidade e, assim promover o desenvolvimento econômico-social e consolidar uma relação de parceria com a população, condições favoráveis para a competitividade no mercado de livre concorrência.

Desenvolvimento da pesquisa

o

objetivo principal desse estudo é verificar qual é a contribuição dos programas

empreendidos pela Refinaria Duque de Caxias, dentro da prática da responsabilidade social, para a continuidade operacional e imagem da companhia, a partir do enfoque de serem estes programas uma estratégia da empresa em busca de aceitação para a sua presença e da constituição de parceria com a comunidade local.

(18)

sociedade ocidental, a partir do Império Romano até os primórdios do capitalismo, com a finalidade de identificar sob a responsabilidade de quem estava o bem-estar das comunidades, permitindo, assim, registrar que essa responsabilidade transitou pelas mãos da Igreja, reis, confrarias e pelo Estado, estando sempre associada às entidades que detinham o poder.

Na terceira parte desse estudo, passa-se ao contexto atual, para entender a maneira com que o poder econômico, mais especificamente as companhias produtoras de bens e serviços, participa da responsabilidade social pelo desenvolvimento das comunidades nas quais estão situadas as unidades de produção, procurando relacionar os empreendimentos sociais à imagem institucional e registrar a interferência destes no posicionamento da população em relação à presença e operação de uma empresa no seio da comunidade.

A partir de considerações a respeito do conceito de interesse público, tenta-se retratar a relação da comunidade com a Refinaria de Duque de Caxias, através do inter-relacionamento dos aspectos: produtividade, sobrevivência e responsabilidade social, via o interesse público da população de Campos Elíseos.

Ainda na terceira parte, se faz uma análise da conjuntura da REDUC, com a finalidade de identificar os ingredientes, os atores e os interesses em jogo ao se empreenderem os projetos sociais em parceria com os demais atores da comunidade.

(19)

A principal finalidade da quarta parte desse estudo é apresentar os resultados obtidos através da pesquisa documental e de campo - tendo sido esta realizada entre janeiro e março de 1996 -a partir do referencial teórico tomado como base, sem deixar de levar em consideração o contexto no qual ocorrem os empreendimentos sociais, objeto dessa pesquisa, envolvendo empresas de produtos e serviços, e em especial a

REDUC.

Pretende-se conhecer como se posicionam as empresas quando está em questão a responsabilidade social em relação ao bem-estar e desenvolvimento das comunidades nas quais estão localizadas as unidades de produção, e para tal objetiva-se:

• verificar quais são as motivações da refinaria e, de uma maneira geral, das empresas para empreender-se socialmente;

• conhecer, a partir do enfoque dos conceitos de marketing institucional e social, a contribuição dos programas conduzidos pela refinaria para a continuidade operacional e imagem da companhia;

• obter a opinião da comunidade sobre a imagem da Petrobras e a respeito das atividades industriais e presença física da REDUC;

• entender como a gerência da refinaria enfoca a responsabilidade social da empresa e quais são os valores e racionalidades que predominam no processo decisório da refinaria ao empreender os projetos sociais; e

(20)
(21)

Parte

11 -

Evolução da Responsabilidade Social

na Sociedade Ocidental

Para discorrer sobre a responsabilidade social na sociedade ocidental, faz-se um convite para acompanhar a evolução do modo de produção 1, 'definido pelas

forças produtivas e pelas relações sociais de produção' (Hunt, 1989, p.25), indo do feudalismo na Idade Média ao capitalismo industrial do século XIX, em busca das relações de responsabilidades estabelecidas entre os grupos sociais de cada época. Mas para a introdução no feudalismo, buscar-se-á saber como estavam as relações políticas, sociais e econômicas na Antiguidade tardia, focando o período a partir do Império Romano e seu declínio, situação que contribuiu para o surgimento

da organização senhorial que marcou o Período Feudal, na Idade Média.

A motivação desse convite à história está associada a necessidade de acompanhar a evolução da atividade econômica e os caminhos que guiaram, no mundo ocidental, a humanidade até a sociedade atual, com problemas de ordem social exacerbados, e com o predomínio de valores individualistas e a ação através da competição.

Período que antecedeu o Feudalismo: Antiguidade Tardia

o

corte na história será dado por ocasião do estabelecimento do Império Romano com a ascensão de Augusto, no ano de 27 a. C .. Esse reinado, que durou

1 A partir da definição de Hunt (1989, p.26): 'um modo de produção é, então, o conjunto social da

(22)

até o ano 14 d. C., era de paz e caracterizado por uma estruturação de funcionalismo eficiente, governo forte nas províncias e por uma expansão além-mar.

O Império Romano

... soube transportar para o real idéias elaboradas ... ( pela civilização grega) e

construir instituições de uma eficiência incontestável. Seu prosaísmo é, antes de

mais nada, um sentimento constante do fato consumado e de sua inscrição nas

estruturas coletivas. ... Os enunciados jurídicos e as legitimações filosóficas

intervêm como quadro, como marca e como perpetuação da ação fundadora da

comunidade cívica. Assim, o direito, a respublica e o imperium atuam enquanto

instituem a ordem militar e administrativa estabelecida de fato pelo Povo e pelo

Senado (Châtelet, 1985, p.22-23).

Por outro lado, o 'Pragmatismo e (o) fatalismo combinam-se estranhamente, sem prejuízo notável para a potência romana, enquanto as forças unificadoras predominaram sobre os fatores de dispersão .... .' Citação de Tácito por Châtelet (1985, p. 26).

Nessa época, a população de Roma era composta por cerca de 80% de escravos que labutavam na agricultura e 'executavam todo trabalho manual, grande parte do trabalho clerical, burocrático e artístico dessas sociedades' (Hunt, 1997, p.11). Por essas atividades, recebiam de seus senhores, somente, vestuário e alimentação para a sobrevivência.

(23)

Dessa forma, não se estabelecia responsabilidade para com os escravos, pois estes eram considerados inferiores e, pelo direito romano, considerados como um

bem, uma propriedade que deve ter de seus proprietários a manutenção devida para

conservação do bem: alimentação e vestuário.

Aqueles que nasciam inferiores (Veyne, 1990), ou seja, filhos de escravos, escravos permaneciam, a menos que ganhassem a liberdade de seu senhor e nem por isso, conquistavam outro status. Passavam à condição de seres livres, mas não eram considerados cidadãos.

A situação era de ambiguidade, ao mesmo tempo, naturalmente inferior e familiar, 'que se "ama" e pune paternalmente e pelo qual cada um se faz obedecer e "amar" , (Veyne, 1990, p. 61). A escravidão antiga se caracterizava por uma relação de desigualdade, mas inter-humana.

O escravo tinha o dever moral de ser um bom escravo, obediente e dedicado. Porém, moral não se espera nem de animal e nem de máquina, tidas como propriedades. E sendo o escravo um bem que se possui, a inferioridade é, então, um estado natural.

'A escravidão antiga foi uma estranha relação jurídica, induzindo banais sentimentos de dependência e de autoridade pessoal, relações afetivas e pouco anônimas' (Veyne, 1990, p.62). Foi, também, uma relação de produção, tendo os escravos diversos papéis na economia, na sociedade, na política e na cultura.

Alguns escravos conseguiram acumular riqueza, tornando-se mais ricos que muitos homens livres, mas sempre escravos, de condição moral inferior e não aceitos pela sociedade.

(24)

A escravidão é extra-econômica e tampouco constitui uma simples categoria jurídica, mas - coisa incompreensível e revoltante aos olhos dos modernos -é uma distinção social que não se fundamenta na "racionalidade" do dinheiro, e por isso a comparamos ao racismo; ... pode existir uma hierarquia, visível pelos sinais de estima, que nada tem a ver com riqueza e poder. Assim a escravidão, o racismo, a nobreza (1990, p. 68).

Essa situação de apartado social da escravidão antiga, pouco difere das condições de muitos nos dias de hoje, mesmo pertencendo a uma sociedade formada por classes sociais2, categoria esta, sustentada pelo direito à liberdade de

ir e vir assegurado por lei, numa matriz social onde se considera a existência de mobilidade3, a igualdade de condições garantida pela Constituição e, ainda, a

igualdade de oportunidades, base do sistema de mercado competitivo.

Mas na realidade que se faz presente, existem classes sociais com baixa qualidade de vida4 e outras em condições de miserabilidade, exclusos do processo de produção e sem desfrutar, portanto, dos benefícios mínimos proporcionados pelos avanços tecnológicos dos últimos tempos e, paradoxalmente, formada por homens livres, sem distinção moral, pelo menos a priori.

A existência da escravidão na Roma antiga, levou à noção de que o trabalho, de qualquer natureza, não era digno. 'Essa noção desestimulou a atividade inventiva

2 Segundo Theotonio dos Santos (1991, p.30), classe social 'se define primeiramente pelas relações

ou modos de relações que condicionam as possibilidades de ação recíproca entre os homens, dado um determinado modo de produção'. 'A divisão da sociedade em classes deve ser definida, no espírito do marxismo, pelo lugar que elas ocupam no processo de produção', por Gyorgy Lukács in

Bertelli (1966, p.15).

3 A mobilidade social, segundo Rodolfo Stavenhagen in Bertelli (1966, p.126), é 'um movimento

significativo na posição econômica, social e política de um indivíduo ... (baseado) no fato de que os

sistemas de estratificação do mundo moderno não são rígidos e permitem a passagem de um indivíduo de um status ou de uma classe a outro.'

(25)

e, no período romano, limitou o progresso tecnológico, contribuindo, assim, para a estagnação da economia' (Hunt, 1997), fato que colaborou para, mais tarde, o regime feudal se estabelecer, numa economia eminentemente agrária.

A ascensão de Augusto como Imperador de Roma e governante das terras controladas por ela, dá inicio a um período de aumento crescente do poder do chefe de Estado, em detrimento dos órgãos governamentais tradicionais: assembléia popular, os magistrados civis e o Senado.

Segundo Châtelet (1985, p.25), o imperador é

... senhor na ordem político-religiosa, já que detém a potestas administrativa e a auctoritas, qualidade moral que lhe permite julgar o que é conveniente ao bem

público; enquanto imperador, é o chefe supremo das legiões; (e) finalmente, como princeps, tem uma espécie de encargo "patronal", que lhe dá a missão de

empreender, nos domínios relativos à vida econômica ou artística, tudo o que possa contribuir para a felicidade e a honra da cidade.

Assim,

A política em Roma compreendia dois domínios: um visava à segurança ou ao poder do aparelho de Estado, ... ; e outro domínio era a cura: o imperador tratava como "curador" ou tutor toda a sociedade romana ou uma parte dela; (Veyne, 1990, p. 135).

Percebe-se, nessas colocações a respeito das funções do imperador, que recaía sobre ele a responsabilidade pela defesa, pela honra e pelo bem estar, incluindo o entretenimento, dos cidadãos de Roma - filhos de famílias romanas nascidos em Roma e, mais tarde, pessoas que por recompensa recebiam a cidadania e seus privilégios. Em contrapartida, eram considerados não cidadãos os escravos e os imigrantes (Veyne, 1990).

(26)

(plebeians). O imperador tinha sob sua competência suprir as necessidades para que eles fossem felizes, estabelecendo uma relação de responsabilidade do Estado' para com os cidadãos romanos, dentro de uma visão de provedor, estendendo-se aos inferiores (Veyne, 1990), os cidadãos mais pobres, como por exemplo, através da distribuição gratuita de pão pelo Estado.

Os cidadãos notáveis, os bem nascidos, também devem 'alimentar' (Veyne, 1990) sua cidade. 'Espera-se deles que gastem largas somas para manter o sentimento de contínua alegria e prestígio dos cidadãos' (Veyne, 1990, p. 251). O fato de aliviar alguma aflição dos cidadãos pobres, era visto como acidental, pois o importante consistia em, de alguma forma, beneficiar o corpo cívico no conjunto.

Pode-se dizer, num enfoque atual descritivo, que se trata da responsabilidade social resultante de uma estrutura de papéis institucionais (Brummer, 1991), onde era esperada a atitude de curador do imperador, sem descartar o viés assistencialista, do provedor, contido na missão do chefe de Estado e dos notáveis.

O mesmo poderia se dar com um chefe de família, o pater familia que assumia responsabilidades como um patrono, dando dinheiro e proteção legal às pessoas de famílias não influentes, conhecidas como protegidos.

Esta proteção, tinha a contrapartida de votos numa eleição para o Senado, estabelecendo, assim, uma relação de troca, onde eram satisfeitos os interesses das partes envolvidas, sem passar pela ideologiaS cristã da caridade, costume que surgirá mais tarde quando a igreja católica se firma como instituição, oficializando a

doação como uma forma de penitência pelos pecados cometidos e garantia de

direito à salvação eterna.

(27)

Entende-se que essa relação de troca não deixa de ser a mesma que, nos dias de hoje, é estabelecida entre uma comunidade que deseja melhor qualidade de vida e uma empresa que precisa continuar suas operações e manter suas atividades econômicas, numa região.

Por outro lado, faz lembrar o voto de cabresto, muito utilizado nos processos eleitorais do País, principalmente na Região Nordeste, onde se compra voto em troca de quase nada, um par de sapatos quem sabe.

De qualquer maneira, efetua-se uma troca para que haja acordo entre interesses diferentes e/ou divergentes, buscando-se, assim, a sobrevivência e continuidade de ambas as partes. E como em Roma do passado, a consecução de alguns dos interesses dos atores sociais6.

No Império Romano, a educação era dirigida para os bem nascidos, os superiores, fato que demarcava uma distância social intransponível entre a aristocracia e os plebeus, segundo Peter Brown (Veyne, 1990).

A maioria dos romanos era analfabeta, pois havia a necessidade de trabalhar para ajudar aos pais em seus ofícios e, assim, sobreviver, contribuindo para a boa vida dos aristocratas e cavaleiros.

Para os bem nascidos, uma carreira na política, na advocacia ou no exército estava reservada. Para os demais, que representavam quatro quintos da população, aguardavam trabalhos como artesão, comerciante e agricultor, ficando para os escravos, os trabalhos pesados, os serviços domésticos e a agricultura, ao lado do meeiro e do assalariado.

6 'Um determinado indivíduo é um ator social quando ele representa algo para a sociedade (para o

(28)

Então, nessa estrutura social, o campesinato representava o burro de carga da sociedade. Eram os escravos rurais que levavam a mais dura condição de vida.

Os cidadãos romanos tinham em suas instituições o suporte de suas integridades, a ponto de serem mantidas, mesmo no período em que as legiões faziam e desfaziam os imperadores, porque elas representavam: a autoridade firme e benevolente dos cônsules, o respeito pelos interesses e direitos do povo e a prudência e sabedoria do senado (Châtelet, 1985). A liberdade era considerada o bem comum de todas as ordens de homens livres e o direito romano tinha uma norma: na dúvida a decisão é pela liberdade dos escravos, como garantia desta para os próprios libertos.

O caráter sobrenatural, sagrado e absoluto da estrutura de comando centralizado do poder imperial, é acompanhado do apoio e interesse da Igreja que começa a ganhar poder, se tornando, por volta do final do século 111, a mais importante corporação da cidade de Roma, conduzida com firmeza por seus dirigentes que vieram a se tornar 'uma elite de igual prestígio às elites tradicionais dos notáveis citadinos' ( Veyne, 1990, p. 260).

Roma tornase o centro da Igreja, instituição que sendo de natureza espiritual -nem por isso deixa de desenvolver uma administração hierarquizada e de possuir um poder que não pode deixar de se interessar pelas questões temporais (Châtelet, 1985, p. 28).

(29)

Ao mesmo tempo que cresciam desmensuravelmente os aparelhos administrativos

e militares, o império tornou-se o local de uma circulação de capitais, de

mercadorias e de populações (Châtelet, 1985, p.26).

Apesar do desenvolvimento do comércio e da indústria, a economia era predominantemente agrícola, excetuando-se as cidades, onde se localizava o governo central.

Nesse período houve uma expansão significativa das cidades e os habitantes urbanos eram principalmente os grandes proprietários de terras, os comerciantes e os banqueiros e usurários7, que compunham a parcela aristocrática da sociedade, a

qual cabia a administração urbana, seguida pela classe média formada de pequenos comerciantes, artesãos prósperos, proprietários de estabelecimentos industriais, funcionários imperiais e municipais de categoria menor, professores, médicos e outros profissionais liberais.

Dando suporte a estas duas classes, vinha o proletariado formado por assalariados livres e escravos, para os quais é baixo o padrão de vida, sem acesso aos encantos da vida urbana, nada diferente da realidade da correspondente classe na época da Revolução Industrial e nos dias de hoje, representados pelo contingente da força produtiva excedente da sociedade pós-capitalista.

A estabilização territorial se por um lado encerra o aporte de escravos, por outro, favorece as atividades econômicas, pela redução dos tributos, eliminação dos saques por bandidos militares e segurança no transporte de mercadorias.

A agricultura passa por uma modificação de sua natureza devido a contração do mercado de exportação e a menor abundância de escravos, suplantada por

7 Os usurários eram, normalmente, integrantes da aristocracia que colocavam parte de seu capital

(30)

trabalhadores livres que cultivavam pequenos lotes arrendados dos grandes proprietários de terras.

Com isso, a organização da produção se altera, com a diminuição da escala das unidades de produção, mas permanece o crescimento e importância das grandes propriedades que passam a receber, no final do Império, consideráveis privilégios fiscais.

Esses privilégios encorajavam os colonos a se colocarem sob o patrocínio e proteção dos grandes proprietários e, até mesmo, camponeses independentes e pequenos proprietários que vendiam suas terras para aqueles, voluntariamente ou sob pressão, passando a ser seus arrendatários.

Nessa relação, identifica-se a responsabilidade estabelecida a partir do arrendamento de terra, consequência, por um lado, da dificuldade de manter-se produzindo pequenos volumes sem os privilégios fiscais e pelo outro, a necessidade dos grandes proprietários de mão de obra para trabalhar suas terras.

O caminho para o regime feudal começa a ser construído, através do arrendamento em troca de um aluguel anual, de uma fração da colheita e do início, não generalizado, da prestação de serviços gratuitos. Além disso, ocorre a vinculação hereditária do colono ao solo, o poderio crescente dos proprietários de terra, e a redução da diferença entre escravo e colono, pela degradação deste e elevação daquele (Browne, 1974).

(31)

Começaram as guerras civis, numa longa fase de lutas internas incessantes, acompanhada pela intensificação das invasões de bárbaros, consequência da própria instabilidade interna. Nessa fase, a intervenção do exército na política se tornou prática comum, expressa pela condução e destituição de imperadores pelas legiões e pelo fato de militares passarem a ocupar posições no quadro dos funcionários imperiais (Browne, 1974).

Em consequência dos conflitos internos e externos, esse período foi de muitas perdas materiais e humanas, inclusive com destruição de cidades, interrupção do comércio de mercadorias e agravamento da situação financeira, onde muito das dificuldades eram devidas ao aumento contínuo dos gastos militares, agravados pela concessão crescente de benefícios dados pelos imperadores ao exército, em busca de proteção.

Os fatores de dispersão tornam-se cada vez mais fortes. O edito de Caracala, que

em 212 concede a cidadania a todos os habitantes do Império, não bastará para

conjurar os efeitos desintegradores (Châtelet, 1985).

No ano de 476 d. C, cai o Império Romano do Ocidente. É o fim da Antiguidade para muitos historiadores e o começo da Idade Média que se estende até 1453, data da tomada de Constantinopla pelos turcos.

A título de síntese, nesse período da história, identifica-se a relação de responsabilidade do imperador para com os cidadãos romanos, num viés patronal, de quem garante a segurança, assegura a honra e provém o bem estar e a felicidade, sendo esta, também de responsabilidade dos cidadãos superiores.

(32)

responsabilidade para com os escravos domésticos, seres sem autonomia, equiparados às crianças.

Observou-se o costume dos chefes de famílias abastadas que como patronos, davam dinheiro e proteção legal à famílias não influentes. E, por fim, a responsabilidade do grande proprietário no contrato de arrendamento, onde tinha como encargo a proteção e extensão dos privilégios fiscais aos camponeses e pequenos proprietários.

Europa Ocidental na Idade Média: Regime Feudal

A Organização e a Vida Feudal

Entre os séculos II e V,

... o mundo mediterrâneo passa por uma série de mudanças profundas que

afetam os ritmos de vida, as sensibilidades morais e, simultaneamente, o

sentimento do eu dos habitantes de suas cidades e dos campos circundantes ... a

principal mudança durante esse período da Antiguidade tardia é a lenta evolução

de uma forma de comunidade pública a outra, da cidade antiga à Igreja cristã'

(Veyne, 1990, p. 226).

É o período onde se processa uma extensa transformação do homem cívico e político para o homem que se agrega em torno da idéia de família, de casa, voltado para o interior, além de ser o bom cristão, membro da Igreja católica, praticante da solidariedade entre iguais.

(33)

se fragmenta e no extremo, fica disseminado de casa em casa, 'tornando-se cada grande casa como um pequeno Estado soberano' (Duby, 1990, p.25).

Na sociedade, a questão deixa de estar na moral arraigada do sentimento de distância social, como no império romano. Situa-se, então, no mundo de uma nação aflita, onde a sobrevida da totalidade de um grupo é que diferencia a elite de seus inferiores tradicionais (Veyne, 1990).

Mas todos são iguais diante da lei divina, aristocracia e plebe, e dependentes da interpretação das escrituras, feita somente pelo clero que detém o poder sobre a finalidade solitária da vida dos indivíduos: a conquista ou perda da salvação eterna.

A moral cristã passa a reger os movimentos da sociedade, igualando a comunidade no objetivo final da busca da cidade de Deus, e estabelecendo três

temas que passam a habitar o horizonte dos cristãos no mundo real: o pecado, a pobreza e a morte.

Acompanhando as mudanças, entre os séculos V e X, há um sensível declínio das cidades e das atividades econômicas, principalmente, as ligadas à indústria e ao comércio. A economia medieval torna-se predominantemente agrária, onde a hierarquia social baseava-se nos laços do indivíduo com a terra (Hunt, 1989).

(34)

Assim sendo, não existia, praticamente, movimentação de capital, uma vez que não havia quase nada para ser comprado, tornando o comércio restrito e incipiente e dessa forma, a economia um sistema fechado, voltado para o consumo interno.

No tocante à autoridade do Estado, o processo é de dispersão, havendo uma transferência para os proprietários de terra, os senhores feudais, que passaram a ampliar sua autoridade e riqueza, através da aquisição de extensões de terra.

Formavam a sociedade, da época, três classes: guerreiros, sacerdotes e trabalhadores, sendo que estes produziam para as três classes, cultivando o grão e guardando o rebanho para ter alimento e vestuário para todos (Huberman, 1980). O único fator de riqueza era a terra e quem detinha a posse da terra, clero e nobreza, asseguravam para si o poder de governar, vivendo como parasitas da classe dos trabalhadores (Guimarães, 1984).

Os guerreiros se vinculavam aos seus superiores diretos, através de contratos vassálicos, que consistiam no juramento de fidelidade e prestação de serviços militares, em troca de conselho, proteção e sustento, muitas vezes traduzidos por benefícios ou meios de viver por conta própria nos próprios feudos8 (Browne, 1974).

Na relação de vassalagem, identifica-se a responsabilidade do senhor feudal de acolher, orientar e alimentar o guerreiro, que passava a fazer parte da família9 do dono do castelo, estabelecendo uma relação de autoridade muito familiar e, em contrapartida, o cavaleiro tinha como obrigação, manter o restante do povo do feudo apaziguado, sob o jugo do homem a cavalo, agente do poder de coerção, em nome do senhor feudal (Duby, 1990, p.35).

8 Feudo é o direito hereditário do uso da terra (Hunt, 1997).

(35)

A prática de doação de feudos aos guerreiros se tornou um verdadeiro sorvedor de terras e, ao mesmo tempo, proporcionou o estabelecimento de uma extensa rede de poder.

A Igreja já se caracteriza, nesse momento, como a grande proprietária de terras, sendo o clero reconhecido como o senhorio de muitos vassalos e servos. No ato de dar assistência aos menos afortunados, estava a conquista da salvação eterna para os cristãos, e para igreja, a arrecadação do dízimo e o recebimento de doações ofertadas pela nobreza e pelos reis.

Surge, assim, a responsabilidade pelo veio assistencialista e paternalista que traz, em seu seio, a dependência e a baixa autonomia, paralisando as pessoas diante da dinâmica da vida e contribuindo para uma postura passiva, onde a responsabilidade das circunstâncias é de Deus. Cada qual deveria se resignar na condição social em que se encontrava, pois era vontade Divina.

A herança do ato de resignar-se se estende até hoje, não de forma generalizada, e algumas vezes transferindo a responsabilidade de Deus para o outro, para o governo, para os políticos, para o patrão, enfim, para a sociedade como força impessoal, dando às pessoas a dimensão de impotência, diante dos fatos do cotidiano (Berger, 1972).

Mas no início do feudalismo, a Igreja desempenhou um importante papel social, dinâmico e progressista, ao promover a fundação de escolas, a criação de orfanatos para crianças desamparadas, a construção e condução de hospitais para doentes e ainda a preocupação com a preservação da cultura.

(36)

tratado tão mal a seus servos, não teria extorquido tanto do campesinato, e haveria menos necessidade de caridade' (Huberman, 1980, p.24).

A influência significativa do ensino religioso na Europa Ocidental, a lealdade à

Igreja de Roma, o poder econômico e o forte sistema hierárquico, fizeram da Igreja a instituição mais próxima de um governo, em todo período feudal.

Na ausência das leis e garantias que o Império Romano havia proporcionado, a hierarquia feudal se fortaleceu em complexas relações de vassalagem, com o servo . o camponês . na base e com inúmeros elos intermediários, incluindo condes, duques, bispos e abades até chegar no rei, figura máxima da hierarquia.

Os fortes protegiam os fracos, mas a um preço elevado: alimento, trabalho e lealdade militar, pelo direito hereditário do uso da terra. A nobreza dava proteção militar e a Igreja, ajuda espiritual (Hunt, 1989, p. 30). Essas eram as responsabilidades dos dois grupos de poder: nobreza e clero.

'Nos costumes e tradições reside a palavra chave para compreendermos as relações medievais. Em lugar das leis, como as conhecemos hoje, vigorava o

costume do feudo' (Hunt, 1997, p. 12). Tudo era conduzido segundo a força dos costumes e da tradição. Não havia um governo forte na Idade Média que fosse capaz de impor um sistema de leis, dando margem a que se organizassem a partir de um sistema de deveres e obrigações, que permeava toda a hierarquia.

(37)

Uma dissensão entre servo e senhor tendia a ter um julgamento favorável a este, já que o tribunal poderia ser o do senhor imediato, observando sempre o costume do feudo (Huberman, 1980).

Mesmo assim, extrai-se como responsabilidade dos senhores para com os servos, o exercício da justiça e a garantia da terra, além da proteção no caso de invasão. Nessa relação, não há registro de preocupação com o bem estar dos mesmos, responsabilidade esta, creditada à Igreja e vinculada ao reino de Deus.

o

mundo medieval era percebido em termos de outro mundo, a vida após a morte. Todos os fenômenos, desde o risco de um temporal até o sucesso da colheita ou a morte do ser amado, eram definidos como vontade de Deus ou malícia do diabo. O fogo do inferno pairava como uma ameaça presente e iminente.

Em assim sendo, a Igreja figurava dominante, ditando o certo e o errado, em todas as esferas da vida, extrapolando, portanto, as atividades religiosas. Os princípios bíblicos definiam do interesse comum 10 aos rumos dos negócios.

Emprestar dinheiro a juros era reprovável, pois o tempo pertence a Deus, não sendo permitido, então, cobrar por ele. Os empréstimos visavam suprir necessidades básicas imediatas e não atividades econômicas para enriquecimento. Beneficiar-se da desgraça alheia, ganhando em cima de uma ajuda, era considerado usura e usura era pecado (Guimarães, 1984).

Não havendo força de trabalho escravo para o cultivo das terras não arrendadas (um terço do total de terras), os senhores feudais impõem a seus colonos a prestação de serviços gratuitos - corvéia - como obrigação que, com o tempo, se tornou cada vez mais onerosa para os camponeses, representando dois a

10

o

que é proveitoso para mais de uma pessoa passa a constituir um interesse comum para os que

(38)

três dias de trabalho por semana, afora os trabalhos extras e gratuitos que nas grandes colheitas eram chamados de dias de dádiva (Huberman, 1980).

Assim sendo, o camponês era 'submetido em graus variáveis a obrigações por vezes extremamente pesadas, das quais raramente se livrava. Estava longe, portanto, de ser "livre'" ( Hunt, 1997, p. 13) e por mais miserável que a vida fosse, tinha assegurado um pedaço de terra para cultivar e garantir a sobrevivência (Guimarães, 1984). Podia, sim, ter um novo senhor quando da transferência da posse do feudo, mas nunca ser separado de suas terras e de sua família, fato que 'concedia ao servo uma espécie de segurança que o escravo nunca teve' (Huberman, 1980, p.15).

Porém, 'jamais se pensou em termos de igualdade entre senhor e servo' (Huberman, 1980, p.17) e os senhores acreditavam que estes existiam para lhes servirem, fazendo pouca diferença entre eles e seu gado. Em caso de perda, ambos fariam falta ao trabalho.

Segundo J. W. Thompson citado por Huberman (1980, p.17), o 'arrendamento era chamado ''título de posse" mas, pela lei, o título de posse mantinha o servo, não o servo ao título' e todos os acontecimentos de sua vida, morte, casamento, transferência para herdeiros, passavam pelo crivo do senhor feudal e eram acompanhados de taxas e impostos.

Será que eram livres? Alguns escravos no Império Romano, os gregos por exemplo, muitas vezes gozavam de uma vida melhor, assim entende-se, e até eram libertos pelos seus senhores, chegando, inclusive, a acumular riquezas, sem porém, eliminar a discriminação em relação a sua condição de escravo liberto.

(39)

Pode-se dizer que existia responsabilidade do senhorio para com os servos? Não, não havia razão para se preocupar ou contribuir para o bem estar do servo. A vida era assim: uns nasciam nobres e outros servos, segundo a vontade Divina.

Nesse sistema socio-econômico de concentração de poder político e econômico nas mãos do senhor feudal - muitas vezes a Igreja -, o vínculo se fazia pela mão de obra, em troca de proteção, justiça e garantia de terra para a sobrevivência.

Os servos eram equiparados ao gado disponível para trabalho, gado humano,

cujas necessidades eram restritas a uma parca alimentação, vestimentas rústicas, muitas obrigações e direitos estritos ao trabalho. E como a justiça passava pela corte do senhor, a quem reivindicar melhores condições de vida?

Huberman (1980, p.24), citando o historiador P. Boissonnadel1, assim resume:

O sistema feudal, ... , repousava sobre uma organização que, em troca de

proteção, frequentemente ilusória, deixava as classes trabalhadoras à mercê das

classes parasitárias, e concedia a terra não a quem a cultivava, mas aos capazes

de dela se apoderarem.

A Tradição Judeu-cristã e o Status Quo Feudal

A ideologia que manteve a Europa feudal coesa teve como base a tradição . judeu-cristã, que originou o código moral denominado por alguns historiadores de ética de corporação cristã, pelo aspecto da sociedade ser compreendida como uma única entidade ou corporação.

(40)

Essa ideologia refletia e legitimava o status quo feudal, dando sustentação as

formas de responsabilidades estabelecidas: proteção para os servos, e proteção e sustento aos cavaleiros, pela nobreza; assistência espiritual para todos por parte da igreja; e a responsabilidade da Igreja de assistir às populações carentes.

Hunt (1997, p.15) intitulou essa ideologia de 'ética paternalista cristã', com a intenção de ressaltar a característica família que demarcava a sociedade medieval.

Os nobres detentores de poder e riqueza tinham obrigações paternalistas como um pai ou um protetor da família.

A partir desse pensamento, esperava-se do homem comum que aceitasse seu lugar na sociedade e se submetesse, de bom grado, à liderança dos ricos e poderosos, da mesma maneira que um filho aceita a autoridade do pai. ... (Hunt, 1997, p.15).

Apesar de todos os preceitos do Antigo e Novo Testamento que recomendavam socorrer os necessitados, haviam extremos em matéria de riqueza e pobreza, o que não apaga a importância do código de moral judeu-cristã, que influenciou profundamente a história subsequente.

Os religiosos da época deram sustentação e possibilitaram o desenvolvimento da ética paternalista cristã e das obrigações impostas aos abastados. A obra de

Clemente de Alexandria, A Salvação do Homem Rico, enfatizava os perigos

(41)

Uma contribuição conservadora reafirmada por Sto. Tomás de Aquino e por outros padres da Igreja medieval, era o pensamento de que as relações econômicas e sociais do sistema senhorial refletiam uma ordenação natural, onde os senhores, seculares e eclesiásticos, precisavam dispor de riquezas para cumprirem a missão a eles destinada pela providência divina, enquanto que os servos deviam se contentar com o pouco necessário para executar as funções que lhes eram próprias, aceitando a posição social na qual haviam nascido, sem questionar os direitos e privilégios das classes mais altas na hierarquia social.

Vê-se, portanto, que a ética paternalista cristã poderia ser usada, e o foi

efetivamente, para justificar, como naturais e justas, as profundas desigualdades e

a intensa exploração decorrentes da concentração das riquezas e do poder em

mãos da nobreza e da Igreja (Hunt, 1997, p.19).

Por outro lado, guiada pelos costumes e tradições, essa mesma ideologia condenava as atividades comerciais e qualquer movimento a favor delas, respondendo com sanções morais, tais como a do preço justo, além da condenação por usura, cobiça, acumulação de riquezas e ambição material e social. ' ... A acumulação de riquezas materiais implica a acumulação de poder e facilita a mobilidade social ascendente que teria, por fim, efeitos profundamente destrutivos para o sistema medieval (feudal) ... ' (Hunt, 1997, p.20).

(42)

A história mostra que os costumes e tradições foram se transformando, até surgir a ética comercial capitalista, contribuindo, mais tarde, para o estabelecimento, na Europa Ocidental, do modo de produção capitalista.

O caminho estava sendo calçado para possibilitar o reaparecimento das atividades comerciais, mas por séculos, a ética paternalista cristã legitimou a moral da economia feudal e das relações econômicas e sociais.

A recuperação do comércio e da vida urbana

Chegou o dia em que o comércio cresceu, e cresceu tanto que afetou

profundamente toda a vida da idade média. O século XI viu o comércio andar a

passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transformar-se em consequência

disso (Huberman, 1980, p.27).

Foram vários motivos que contribuíram para o reaparecimento do comércio, entre eles, o avanço experimentado pela agricultura que provocou um ganho significativo de produtividade, resultando num incremento populacional de pelo menos 50% para a mesma quantidade de terra arável (Hunt, 1989). O excedente da produção e a melhoria no transporte, possibilitou aos campos alimentar centros urbanos mais populosos.

(43)

Por volta de 1300, já haviam cidades grandes e prósperas, e esse crescimento retroalimentou a especialização rural e urbana, estando, assim, criadas as condições favoráveis à reativação do comércio.

Um outro fator, que incrementou o comércio, foram as Cruzadas, expedições militares e populacionais rumo à sepultura de Cristo, realizadas entre os séculos XI e XIII. Verdadeiras guerras santas que tiveram papel fundamental no

desenvolvimento do comércio a partir da necessidade de provisões durante as jornadas, fornecidas por mercadores que acompanhavam as caravanas.

A ida às terras exóticas propiciou o aparecimento de uma demanda por produtos dos muçulmanos e de outras regiões da Europa Oriental, outra força propulsora da restauração das rotas comerciais.

Apesar da conotação religiosa e honesta para alguns, as Cruzadas foram verdadeiras guerras de pilhagem e conquista de terras, envolvendo perspectivas de ampliação de poder e de vantagens comerciais (Guimarães, 1984).

Era uma oportunidade para adquirir terras e fortunas para os nobres; de levar o cristianismo aos pagãos, aumentando o poderio da Igreja Romana; conter o avanço muçulmano, ameaça à Igreja Bizantina do Império do Oriente; e atender aos apelos das cidades comerciais italianas, Veneza, Gênova e Pisa, que viram nas Cruzadas oportunidades de negócio.

Como saldo dessas investidas pode-se assegurar que, em termos religiosos, pouco se tem a declarar. Em compensação, no que tange às atividades comerciais, são muitos os resultados favoráveis, a começar pelo fato de

... despertar a Europa de seu sono feudal, espalhando sacerdotes, guerreiros,

trabalhadores e uma crescente classe de comerciantes por todo o continente;

(44)

Mediterrâneo das mãos dos muçulmanos, e a converteram, outra vez, na maior rota comercial entre o Oriente e o Ocidente, tal como antes (Huberman, 1980, p.30). Com o gradual fortalecimento e capacitação econômica das cidades, foi possível o enfrentamento aos senhores feudais, obtendo-se privilégios, em particular, a liberdade para os habitantes das cidades, condições favoráveis de posse de terra e uma autonomia parcial, tanto jurídica como administrativa.

Essas conquistas foram facilitadas pela dispersão da autoridade feudal nos séculos XI e XII e, também, pelo interesse econômico dos senhores feudais, em função da oportunidade de se estabelecer nova fonte de renda e tributos, e ainda, de efetivar o consumo (Browne, 1974).

As cidades foram se transformando em centros manufatureiros, cujos produtos eram trocados nos feudos, inicialmente, e com o passar do tempo, vendidos no comércio distante.

Com o incremento do comércio, foi introduzido o dinheiro como meio de intercâmbio. Surgiram negociantes dedicados unicamente às transações financeiras, o ressurgimento dos usurários, trazendo novidades como a letra de câmbio e crédito, e transformando a economia auto-suficiente do feudo, em economia de dinheiro.

(45)

Ao emigrarem para as cidades, os trabalhadores, agora urbanos, romperam os laços com a terra, renunciando ao cultivo para se dedicarem, exclusivamente, ao ofício, que passou a ser sua fonte de recursos.

Essa nova relação do homem com o trabalho, que surgiu na cisão deste entre as atividades do campo e as da cidade, propiciou a ruptura da relação de responsabilidade do senhor feudal para com o servo.

Durante muitos séculos, o camponês se viu preso, numa permanência estática, à propriedade da sociedade feudal, sustentada de um lado pelo excedente de horas de seu trabalho e pelo outro a partir da proteção oferecida pelo senhor feudal.

o

trabalho como artesão permitiu ao camponês iniciar um processo de mudança e ganho de independência, passando a ser responsável pela sua própria proteção, além do sustento que já lhe era imputado no sistema feudal.

o

artesão passou a ter autonomia, a princípio, garantida pelas chamadas

corporações de ofício, que davam apoio a esses profissionais, centralizando todas as operações de compra e venda de produtos e, assim, estabelecendo um vínculo de responsabilidades mútuas entre a corporação e seus membros, desde a defesa dos interesses destes, até a normatização das relações de trabalho.

Nesse novo vínculo de responsabilidade, entre a corporação e os artesãos, constava o bem-estar dos membros. As corporações davam assistência àqueles em dificuldades por intermédio das confrarias 12; ensinavam os ofícios, garantindo uma

identidade profissional ao seus membros; e promoviam a realização de negócios. Em contrapartida, exigia obediência rígida aos estatutos e regulamentos.

12 As confrarias eram, pode se dizer, sociedades beneficentes de classe, cada uma com seu santo

(46)

As corporações eram as principais instituições econômicas e sociais das cidades, reunindo os operários e os patrões, numa rigorosa hierarquia paternalista -aprendizes, companheiros, mestres e jurados -, e tendo como base a igualdade, a solidariedade, a fraternidade e o spirit de corps.

Dessa maneira, todos, os produtores e os compradores de bens e serviços, tinham que pertencer a uma corporação de ofício, que apresentava como características principais: a produção independente dos artesãos; distância não muito grande entre mestres, jornaleiros e aprendizes; e pouca dificuldade para ascender na hierarquia da organização.

Ainda sob a ética paternalista cristã, estabeleciam o preço justo, de acordo com o custo real do produto acabado, pois o comércio tinha como fim o bem comum e não o lucro. Eram verdadeiras associações de auxílios mútuos, amparando os seus membros e protegendo os consumidores pela garantia da qualidade dos produtos.

Com o desenvolvimento, as corporações dos mercadores, também chamadas de guildas ou hansas, tomaram tal vulto que os não membros não conseguiam mais realizar bons negócios e os mercadores estrangeiros eram mantidos afastados.

As guildas adquiriram tanto poder que passaram a exercer o controle do mercado, ou seja, o monopólio do comércio, com apoio das autoridades municipais, que em última instância, ou eram nomeados por eles, ou eram os próprios com poderes ilimitados.

(47)

Alguns mestres se tornaram mais prósperos e em decorrência, aconteceu uma divisão entre as corporações, agora superiores e inferiores, além do fato de que a ascensão ao posto de mestre passou a ser privilégio de poucos (Guimarães, 1984). Muitas corporações abandonaram a produção, tornando-se organizações fechadas e concentradas na atividade comercial.

Começa, então, um conflito de interesses entre mestres e jornaleiros, levando estes a se organizarem em associações, na tentativa de garantir direitos. Havia um diferencial de poder considerável, o que exigia muita energia empreendida em lutas para realizar alguma conquista, em nada diferindo dos movimentos sindicais dos séculos recentes, em busca de melhorias nas relações de trabalho.

As corporações passaram a reger questões extra-econômicas, de natureza social e religiosa, de tal forma, que estabeleciam regras de conduta, regulando e exercendo poderosa influência sobre a vida do indivíduo, em relação às suas atividades pessoais, sociais e econômicas. Tudo seguindo os costumes e ensinamentos da Igreja, e servindo como sustentáculo do status quo nas cidades da Idade Média tardia (Hunt, 1997).

O comércio era a nova fonte de riqueza e a posição dos mercadores nas cidades, refletia a importância da riqueza em dinheiro como fonte de poder e não mais a terra.

(48)

A luta das associações dos mercadores não era contra os senhores feudais e, sim, contra suas práticas que impediam à expansão do comércio, o que provocou

mudanças no modus operandis. Os costumes e tradições passaram a ser substituídos por relações de mercado e pela busca de lucros, princípios organizadores dos novos modos de produção.

O preço justo foi substituído pelo preço de mercado como se pode verificar numa citação da obra de Jehan Buridan, século XIV, por Huberman (1980, p. 71): 'O

valor de uma coisa não deve ser medido por sua validade intrínseca ... é

necessário levar em conta as necessidades do homem, e se avaliar as coisas em

suas relações para com essa necessidade'.

A estrutura das corporações foi, paulatinamente, sofrendo modificações, dificultando o acesso de novas adesões, tornando-se associações de privilegiados,

fechadas para artesãos pobres e, por fim, estabelecendo a prática do trabalho assalariado.

No campo houve a substituição da corvéia, obrigações do servo, pelo

pagamento em dinheiro ao senhor, dinheiro este proveniente da venda do excedente

de produção do trabalhador, nos mercados de grãos. Essa comutação possibilitou que muitos camponeses ganhassem uma condição econômica próxima de produtores independentes.

'Estabeleceu-se uma especialização rural-urbana que se fez acompanhar de uma vasto intercâmbio de mercadorias entre os feudos e as cidades' (Hunt, 1997,

p.30): alimentos e matérias primas da zona rural, e bens manufaturados das regiões urbanas.

Imagem

Figura 111.1:  Relações estabelecidas via o Interesse Público
Figura n° 2:  Inter-relações e trocas efetuadas pela  REDUC e demais atores sociais na consecução do  Interesse Público

Referências

Documentos relacionados

4 - A presente comissão tem como missão verificar a conformação legal e corres- pondentes implicações orçamentais das políticas de gestão dos recursos humanos do Setor

Assim, a partir do trabalho realizado, boa eficiência de remoção (de aproximadamente 70%) para massas utilizadas de 60g e 90g de areia de construção civil, porém, com

¾ Segundo nível • Terceiro nível – Quarto nível A FAMÍLIA PROFIBUS A FAMÍLIA PROFIBUS PROFIBUS-FMS PROFIBUS-FMS é a solução de propósito geral para comunicação de

de calendário (Gonçalves, 2003: 46-47); estas datas, obtidas a partir de ossos humanos na Anta 3 de Santa Margarida, não deixam de ser um tanto desconcertantes, uma vez

72 Figura 4.32: Comparação entre a saída real e a saída calculada pela rede para todos os ensaios no treinamento, para o Modelo Neural 4b.. 75 Figura 4.35: Comparação entre

Sobretudo recentemente, nessas publicações, as sugestões de ativi- dade e a indicação de meios para a condução da aprendizagem dão ênfase às práticas de sala de aula. Os

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

Relatório de Gestão e Demonstrações Financeiras 2007 |