CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL
UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS
EMPRESAS DE FACTORING NO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
"
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL
TÍTULO
UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR:
PAULO HENRIQUE DA COSTA CORRÊA
BAYMA DE OLIVEIRA
DOUTORA EM EDUCAÇÃO
EBAPE - ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS
MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL
PAULO HENRIQUE DA COSTA CORRÊA
UM ESTUDO DE CASO
SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING
NO ESTADO DO EspíRITO SANTO
VITÓRIA
UM ESTUDO DE CASO
SOBRE AS EMPRESAS DE FACTORING
NO ESTADO DO EspíRITO SANTO
Dissertação apresentada à Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação
Getulio Vargas, como requisito parcial para
obtenção do Título de Mestre em Gestão
Empresarial.
Orientador: Prof. Dr. Istvan Karoly Kasznar.
VITÓRIA
ANFAC BACEN BNDES CF CLT CMN COFINS CPMF CSLL CTN CVM FCI
FEBRABAN
-FMI
FEBRAFAC
-INSS IGP IPC IR ISS LUG MP PIB PIS PROER SCTVM SDE SFN
SINFACES
-TJLP
VPIB
Associação Nacional de Factoring
Banco Central do Brasil
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Constituição Federal
Consolidação das Leis do Trabalho
Conselho Monetário Nacional
Contribuição para o Fundo de Investimento Social
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
Código Tributário Nacional
Comissão de Valores Mobiliários
Factors Chain International
Federação Brasileira de Bancos
Fundo Monetário Internacional
Federação Brasileira de Factoring
Instituto Nacional de Seguridade Social
índice Geral de Preços
índice de Preços ao Consumidor
Imposto de Renda
Imposto sobre Serviços
Lei Uniforme de Genebra
Medida Provisória
Produto Interno Bruto
Programa de Integração Social
Programa de Estímulo à Reestruturação! ao Fortalecimento
do Sistema Financeiro Nacional
Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários
Secretaria de Direitos Econômicos do Ministério da Justiça
Sistema Financeiro Nacional
Sindicato das Empresas de Factoring do Espírito Santo
Taxa de Juros de Longo Prazo
Quadro 1 - Estrutura do Sistema Financeiro Nacional... 35
Quadro 2 - Ajuste do Sistema Bancário após o Plano Real... 37
Quadro 3 - Funções Desempenhadas e Modalidades Brasileiras ... 55
Quadro 4 - Associações de Classe ... 98
Quadro 5 - Motivação Inicial... 99
Quadro 6 - Grau de risco no negócio de factoring... 100
Quadro 7 - Suficiência de Capital... 103
Tabela 1 - Fatores aplicados nos anos de 1993 a 2003 .. ... ... ... ... 60
Tabela 2 - Balancete com Financiamento de um Banco Comercial... 84
Tabela 3 - Situação de um Balancete com Financiamento por Factoring ... 85
INTRODUÇÃO... ... 10
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 13
1.1 DEFINiÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO FOMENTO MERCANTIL ... 13
1.1.1 Conceitos ... 13
1.1.2 Origens históricas ... 19
1.1.3 Evolução do factoring no mundo... 25
1.1.4 Fundamentação legal e evolução do factoring no Brasil... 28
1.2 O FACTORING E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ... 33
1.2.1 O SFN e as operações bancárias e não-bancárias ... 33
1.2.2 Atividades institucionais confundidas com o factoring... 42
1.2.2.1 Desconto bancário ... 43
1.2.2.2 Antecipação bancária ... 45
1.2.2.3 Mútuo civil... 46
1.2.3 Factoring versus instituições financeiras e agiotagem ... 47
1.3 AS MODALIDADES DE FACTORING... ... 53
1.3.1 Modalidades domésticas de factoring... 53
1.3.2 Modalidades estrangeiras de factoring... 56
1.3.3 Método de cálculo do fator... 59
1.4 OPERACIONALlZAÇÃO DO FACTORING NO BRASIL ... 63
1.4.1 As funções operacionais do Factor ... 63
1.4.2 A operação de factoring... 66
1.4.3 Os titulos negociáveis no factoring... 69
1.4.3.1 Duplicata... 69
1.4.3.2 Cheque ... 71
1.4.4 O contrato de factoring... 72
1.4.5 Principais instituições ligadas a atividade de factoring... 74
1.4.5.1 ANFAC ... 74
1.4.5.2 Factors Chain International - FCI ... 76
1.5 CENÁRIO ATUAL E EXPECTATIVAS DO FACTORING NO BRASIL 77 2 ESTUDO DE CASO... ... 87
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 87
2.1.1 Caracterização da Pesquisa... 87
2.1.2 Hipóteses e Premissas do Estudo... 90
2.1.3 Universo e Abrangência da Pesquisa... 92
2.1.4 Materiais e instrumentos... 93
2.2 OBSERVAÇÕES DIRETAS PRELIMINARES... 94
2.3 CONTEÚDO DOS INQUÉRITOS... 96
3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE CAsuísTiCA... 98
3.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 98
3.2 PROPOS~ÇÕES ... 105
3.3 SUGESTOES PARA ESTUDOS FUTUROS ... 107
CONCLUSÃO... 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 111
Analisa as atividades das empresas operadoras de Factoring e descreve
resumidamente o surgimento deste segmento paralelo, suas atividades e
suas principais características no âmbito operacional, econômico, legal e
fisco-tributário. Relata que o desenvolvimento dessas atividades ocorre num
contexto de mudanças na dinâmica e na estrutura do Sistema Financeiro, de
forma semelhante ao que se verifica em termos internacionais, ao promover
alterações na forma tradicional de atuação dos bancos no Brasil a partir do
período pós-Real. Busca justificar a assertiva de que o advento das empresas
operadoras de Factoring foi essencial para o desenvolvimento de pequenas
empresas e, finalmente, apura se o programa de reestruturação do sistema
financeiro repercutiu nas atividades de Factoring. Inclui um estudo de caso
envolvendo empresas locais de fomento mercantil (no estado do Espírito
Santo) com o objetivo principal de constatar se dentre estas existem
instituições "camufladas", quais sejam, aquelas que visam somente
operações pecuniárias, assim evidenciando a prática da "agiotagem
It aims at analyzing the activities of the Factoring working companies and
describes the raising of that parallel segment, as well as its activities and its
main operational, economical, legal, tax-contributory characteristics. It is
stated that those activities have been developed in a context of dynamical and
structural changes in the National Financiai System, and the same is verified
internationally when promoting alterations in the traditional procedures of the
banks in Brazil, from the "Post-Real "period. In addition, it justifies the
assumption that the raising of the Factoring working companies has been
essential for the development of small companies. Finally, it considers the
repercussion of the restructuring of the National Financiai System to the
Factoring activities. It includes a case study involving factoring local
companies (in the State of Espírito Santo) aiming at checking if among those
companies, there are "disguised " ones, which would be the ones that focus on
pecuniary operations, thus, making evident the practice of "enterprising
INTRODUÇÃO
Com o advento do Plano Real, em julho de 1994, o novo ambiente de
estabilização macroeconômico passou a não mais suportar a dimensão que o
sistema bancário havia alcançado, em função do longo período de inflação e
desequilíbrio econômico. Várias instituições financeiras já haviam surgido para
se beneficiarem das receitas inflacionárias (ou float) obtidas entre a captação e
a aplicação de recursos. Logo, diante do novo cenário de estabilidade
econômica, todo o Sistema Financeiro Nacional teve de ser redimensionado e
reorientado para as novas formas de financiamento de suas atividades.
Com a perda das receitas inflacionárias, os bancos tiveram que explorar novas
fontes de receitas, além de adequar as suas estruturas diante do novo modelo,
principalmente como agentes da intermediação financeira, considerando que
tinham deixado essas atividades em segundo plano por um longo período
dedicado aos fáceis ganhos inflacionários. Contudo, de uma ou de outra
forma, continuaram desamparadas as microempresas, assim como os
empreendimentos empresariais de pequeno e médio porte, uma vez que, com
essa perda (float) , os bancos encontraram dificuldades em retornar as
operações de desconto de títulos.
Atualmente, o governo federal tem falado muito no empenho em aumentar o
microcrédito como forma de impulsionar o empreendedorismo, mas pouco tem
falado sobre fomento mercantil (Factoring), atividade essa que é um dos pilares
que sustenta poderosas economias, principalmente as de países da
comunidade européia.
No Brasil, o desenvolvimento dos pequenos, médios e microempresários
sempre dependeu de um agente capaz de agregar valores, impulsionar a
produção e estruturar o sistema de vendas dessas empresas, os factors.
Conceitualmente, o fomento mercantil (ou Factoring) é uma atividade complexa
prestação de serviços de suporte gerencial e financeiro; e
compra de direitos creditórios gerados pelas vendas da empresa-cliente.
Essa atividade movimentou o equivalente a R$ 30 bilhões no ano de 2002, e
cada vez está mais bem organizada, visando a profissionalização das
empresas geradoras de um grande número de empregos. Daí a importância
desse tema que também nos leva a mostrar o caráter social do Factoring que,
além de gerar inúmeros postos de trabalho, atende principalmente ao nicho dos
microempresários e das pequenas e médias empresas, setores estes que,
apesar da grande dificuldade na obtenção de recursos no setor financeiro para
financiar suas atividades, vêm tendo um crescimento significativo na conjuntura
econômica global.
Vêm à tona inúmeras questões, dentre as quais destacamos as seguintes para
o presente estudo:
o factoring se tomou um método conveniente para satisfazer a
necessidade de capital de giro das pequenas e médias empresas?
o segmento de mercado onde a empresa de factoring se situa vem
apresentando um crescimento significativo?
a propósito, este segmento vem suprindo a ocupação de um mercado
praticamente abandonado pelos bancos brasileiros? e
enfim, é certa a pressuposição de que as empresas de factoring do
Espírito Santo somente prestam serviço de compra de recebíveis das
empresas-clientes?
Para que estas perguntas sejam respondidas a contento, este trabalho está
duplamente fundamentado, posto que a partir de uma primeira vertente, levanta
a essência teórica e conceitual referente ao histórico do sistema financeiro
nacional e das empresas de fomento mercantil, assim como seu surgimento,
evolução e estágio atual. A inferência deste referencial teórico há de propiciar
respostas para as três primeiras questões. Na segunda vertente,
uma pesquisa inquisitiva para busca das respostas para a quarta e última
questão, formulada como hipótese central.
Enfim, o desenvolvimento deste trabalho está contido em três capítulos
dispostos conforme as mencionadas linhas de pesquisa, a saber:
No capítulo inicial, é efetuada uma revisão teórica e conceitual
abrangendo o Sistema Financeiro Brasileiro, desde seus marcos
históricos até a caracterização das operações financeiras bancárias e
não-bancárias, que se estende aos conceitos gerais do fomento
mercantil, descrevendo especificamente a atuação das empresas de
Factoring e, nesse contexto, suas operações;
O segundo capítulo define os materiais e procedimentos metodológicos
empregados no estudo de caso, sob a hipótese de que certas empresas
de Factoring somente prestam serviços de compra de direitos creditórios
e não outros serviços que pressupõem a atividade de fomento mercantil,
servindo apenas como um agente para a obtenção de financiamento; e
Finalmente, o último capítulo descreve os resultados e discussões que
validam (ou não) a hipótese precedente, encerrando com uma conclusão
sobre as demais questões formuladas neste trabalho como um todo.
Num país onde as taxas de juros estão situadas em um patamar bem acima da
média mundial e, por conseguinte, o custo de produção e manutenção das
empresas está cada vez mais alto e difícil, podemos notar que existe uma
busca por fontes de financiamento alternativas, o que pode levar a uma
distorção do papel das empresas de Factoring no Brasil, as quais correm riscos
elevados em face das incertezas e mudanças conjunturais que sofre a nossa
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 DEFINiÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO FOMENTO MERCANTIL
1.1.1 Conceitos
O conceito de factoring pode ser expresso como sendo a compra parcial ou
total das contas a receber de uma empresa por outra, denominada factor, a
qual assume o risco de crédito mediante uma remuneração, além da
possibilidade de prestação de serviços no âmbito da gestão financeira.
Segundo Leite1, o factoring é uma atividade mista, pois envolve serviços e
compra de créditos (direitos creditórios) resultantes de vendas mercantis.
Factoring é fomento mercantil, uma vez que expande os ativos das empresas
clientes, aumentando suas vendas, eliminando seu endividamento e
transformando as suas vendas a prazo em vendas à vista. É a prestação
contínua e cumulativa de serviços de assessoria mercadológica, creditícia, de
acompanhamentos de contas a receber, etc. Outras definições são expressas
por diferentes autores, conforme se segue, iniciando pelo entendimento de
Phelps2 ao expressar o seu conceito de Factoring:
Modem factoring involves a continuing agreement under a financiai institution assumes the credit and collection function for its client, purchases his receivables as they arise without recourse to him for credit losses, and, beca use of these relationships, performs other auxiliary functions (usually financiai or advisory in nature) for its client. ( ... ) It is to be noted that the
receivables purchased in a factoring operation are accounts and sometimes
from trade acceptances and single payment notes not installment, sales contracts.3
1 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil, 6 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
2 PHELPS, Clyde W. The role
o,
Factoring in Modem Business Finance. 2 ed. Baltimore:Commercial Credit, 1962.
3 Tradução nossa: "Factoring modemo envolve um acordo contínuo, em que uma instituição
Rizzardo conceitua O Factoring como:
a relação jurídica entre duas empresas, em que uma delas entrega à outra um
título de crédito, recebendo, como contrapartida, o valor constante no título, do qual se desconta certa quantia, considerada a remuneração pela transação.4
Já Montezano5 define Factoring como a oferta de serviços diversos através da compra de créditos de curto prazo que as empresas, geralmente pequenas e
médias, tenham (ou venham a ter) em carteira e, por sua vez, Bulgarelli6, de
forma simples, traduz o Factoring como a venda de faturamento de uma
empresa para outra que se incumbe de cobrar, e que recebe em troca
comissão e juros, no caso de adiantamento.
Deve ser destacado que, para Luiz Lemos Leite, presidente da ANFAC e autor
de inúmeras obras sobre o tema em questão, as empresas de factoring não
cobram juros, pois não são empresas financeiras, e sim, comerciais,
prestadoras de serviços diversos. Para ele, a remuneração recebida pelas
factoring se dá em forma de ad valorem (comissão pelos serviços prestados) e
de deságio dos seus títulos negociados, chamado de fator de compra. Essa é
uma discussão polêmica que será abordada sob diversos prismas nos tópicos
subseqüentes deste trabalho.
o
eminente autor reflete uma definição, para o caso brasileiro, revelando que:o factoring é uma atividade eminentemente comercial que consiste em oferecer três tipos de serviços ao pequeno e médio empresário, tal como imagino deva ser operado no Brasil, a saber: assessoria administrativa(análise de riscos e gestão financeira); cobrança de títulos oriundos das vendas a prazo; e, aquisição definitiva de ativos ou direitos de créditos. 7
4 RIZZARDO, Arnaldo. Factoring. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000, p. 11.
5 MONTEZANO, Roberto. Factoring .. Rio de Janeiro: IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado
de Capitais), 1983.
6 BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis. 10 ed. São Paulo: Atlas, 1998.
E prossegue:
Como conseqüência da prestação de todos esses serviços, o factoring adquire
as contas a receber, mediante um preço à vista, transforma as vendas a prazo
(faturadas) em vendas à vista, ou seja, as contas a receber em
disponibilidades, sem criar exigibilidades, porque adquire à vista parte do ativo realizável representado pela rubrica contas a receber da pequena e média
empresa.8
As diferentes definições de factoring exibem as várias faces dessa atividade, a
qual se incorporam técnicas de gestão financeira e técnicas de gestão
comercial. A gestão financeira se dá no momento da mobilização dos créditos,
assumindo seus riscos. Essa técnica é enfatizada quando o agente de fomento
comercial ou mercantil antecipa créditos, antes dos seus vencimentos, à
empresa-cliente, utilizando uma taxa de desconto para atualizar os valores
negociados. Já em relação à gestão comercial, ocorre quando o factor assume
as atividades de crédito e cobrança, passando pela análise de risco, podendo
até mesmo executar serviços de faturamento e contabilidade, prestados como
consultoria.
o
pressuposto básico do factoring é a comprovação de prestação de serviços conforme a doutrina de Ottawa9. A segunda parte da operação consiste nacompra de recebíveis, na qual a empresa-cliente, ao produzir e vender sua
mercadoria (produto ou serviço), emite documentos(nota fiscal e duplicata)
necessários para caracterizar uma transação comercial. De posse desses
documentos, a empresa-cliente vende à vista seus direitos sobre as vendas
anteriormente realizadas, os quais são comprados pela empresa de fomento
mercantil. Por tratar-se de uma transação mercantil, à vista, é necessário que
sejam estipulados o preço e as condições para que essa transação seja
8 LEITE (1999, p. 18).
9 A definição do factoring moderno foi aprovada pela Convenção Diplomática de Ottawa
realizada, não sendo cabível, portanto, cogitar-se da cobrança de juros. Esse
deságio cobrado pela empresa faturizadora é conhecido por fator de compra e
contém todos os componentes do custeio das operações.
Consubstanciado na mencionada Convenção de Otawa, o factoring foi
conceituado legalmente10 como a atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção
de riscos, administração de contas a pagar e a receber, conjugada com a
compra de créditos de empresas - resultantes de suas vendas mercantis a
prazo, ou de prestação de serviço -, excluídas transações de consumo,
representadas pela compra de produtos destinados ao uso pessoal, familiar ou
doméstico.11
Por isso, conforme a Resolução n. 2.144/95 do BACEN, a prática de qualquer
ato financeiro alheio a esta definição legal, viola a Lei de Crimes contra o
Sistema Financeiro (Lei n. 7.492/86), conforme Barros12, e contraria a Lei de
Reforma Bancária 13.
Segundo Diniz14:
o contrato de faturização, de fomento mercantil ou factoring é aquele em que um industrial ou comerciante (faturizado) cede a outro (faturizador), no todo ou em parte, os créditos provenientes de suas vendas mercantis a terceiro, mediante o pagamento de uma remuneração, consistente no desconto sobre os respectivos valores, ou seja, conforme o montante de tais créditos. É um
10 A definição conceitual foi adaptada pela Lei n. 8.981/95, arts. 28, § 1°, c. 4 e 48, parágrafo
único, c. 4.
11 Referido conceito foi posteriormente confirmado, em seus exatos termos, pelo art. 58 da Lei
n.o 9.430/96.
12 BARROS, José Roberto Mendonça. Análise do Ajuste do Sistema Financeiro no Brasil.
SPE Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Artigo disponibilizado pela Internet no site <www.fazenda.gov.br>. Acessado em 15/10/2002.
13 BRASIL, Lei n.o 4595, de 31 dezembro de 1964. Dispõe sobre a política e as instituições
monetárias, bancárias e creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e da outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág 12081, 31 de dez. 1964 (retificada na edição de 03 de fev. 1965 à pág 1321).1964.
14 DINIZ. Maria Helena.Tratado Teórico e Prático dos Contratos. São Paulo: Saraiva, 1999,
contrato que se liga à emissão e transferência de faturas. ( ... ) É, portanto, o contrato principal celebrado entre a empresa de factoring e seu cliente, para aquisição de créditos faturados pelo último, que transfere àquela empresa seus direitos creditários decorrentes de venda mercantil ou prestação de serviços.
Martins descreve que:
o contrato de faturização, ou factoring, é aquele em que um comerciante cede
a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo, o montante desses créditos, mediante o
pagamento de uma remuneração. 15
o
Unidroit, através de técnicos, juristas e empresários, estudou o factoringdurante 14 anos, produzindo muitos relatórios, dos quais se extraíram
preciosos subsídios. Dentre as conclusões, convém ressaltar aquela que
estabelece que só o contrato que inclua a realização de, no mínimo, dois dos
seguintes serviços, em bases contínuas, será considerado como factoring:16
Acompanhamento comercial e das contas a receber e a pagar;
Exame da situação creditícia da empresa compradora dos produtos;
Seleção de riscos;
Cobrança; e
Suprimento de recursos.
Sendo um conjunto de serviços de apoio gerencial e de fornecimento de
recursos à empresa-cliente, mediante a venda de sua produção, o factoring só
pode ter como clientes pessoas jurídicas(empresas), visto que é um
mecanismo intrinsecamente vinculado ao setor produtivo(de bens ou serviços):
É a prestação de serviços, em base contínua, os mais variados e abrangentes, conjugada com a aquisição de créditos de empresas, resultantes de suas vendas mercantis ou de prestação de serviços, realizadas a prazo. Esta
15 MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações Comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.
469.
16 ANFAC - Associação Nacional das Empresas de Factoring. Cartilha: o que é Factoring,
definição, aprovada na Convenção Diplomática de Ottawa, em maio de 1988, da qual participou o Brasil com mais 52 Nações, consta do Art. 28 da Lei 8981/95. No Brasil, traduzimos a expressão FACTORING, de origem latina, para fomento mercantil. As empresas aqui são conhecidas como sociedades de fomento mercantil. São sociedades mercantis, registradas e arquivadas nas
Juntas Comerciais.17
De acordo com a Factors Chain Intemational (IFC), instituição internacional de
empresas independentes de fomento mercantil, podemos destacar a seguinte
definição:
(. . .) factoring is a complete financiai package that combines credit protection, accounts receivable bookkeeping, and col/ection services. It is an agreement befINeen the factor and a sel/er. Under the agreement, the factor purchases the sel/er's accounts receivable, norrnal/y without recourse, and assumes the responsibility for the debtor's financiai ability to pay. If the debtor goes bankrupt or is unable to pay it's debts for credit reasons, the factor wil/ pay the sel/er. When the sel/er and the buyer are in different countries the service is cal/ed intemational factoring. 18 19
Destacados os diferentes conceitos sobre o tema aqui desenvolvido, a
definição que melhor configura o factoring, nos dias atuais, é a de Leite(1999),
a qual abrange todas as atividades que podem ser desenvolvidas pela empresa
de fomento mercantil, como a compra de direitos de crédito e a prestação de
serviços para suas empresas-clientes, assim como a diferença entre empresas
de fomento mercantil e instituições financeiras, a qual será abordada
posteriormente nesse trabalho.
17'd ibid.
18 Tradução nossa: "( ... ) factoring é um pacote financeiro completo que combina proteção de
crédito, gerenciamento de contas a receber e serviços de cobranças. Esse é um acordo entre o facto r e o vendedor. Sob o qual, o factor adquire as contas a receber do vendedor, normalmente sem recurso, e assume a responsabilidade para o devedor de pagar. Se o devedor tomar-se insolvente ou não ter como pagar por razões de crédito, o factor pagará ao vendedor. Quando o vendedor e o comprador estão em países diferentes, o serviço é chamado de factoring internacional".
19 IFC - Factors Chain International Home page da instituição disponível na internet no site
1.1.2 Origens históricas
A palavra factoring é de origem inglesa, enraizada no latim - do verbo facere
(fazer), de onde provém o substantivo factor (declinação nominativa), factoris
(declinação genitiva), com o significado de aquele que faz alguma coisa, que
desenvolve ou fomenta uma atividade. O sufixo ing é proveniente do inglês,
que acoplado ao substantivo factor, expressa em fazendo, ou em agindo.
A origem do factoring, conforme respeitados pesquisadores, remonta-se na
mais longínqua Antigüidade. Sebastião de Nóbrega Pizarro e Margarida
Mendes Calixto, autores portugueses, citados por Donini20, afirmam que:
Como em quase todas as relações de caráter comercial, é difícil situar o aparecimento do factoring, ou melhor, da atividade dos factors. Houve quem encontrasse reminiscências deste tipo de atividade na cultura neobabilônica dos Caldeus, onde um sujeito, mediante o pagamento de uma comissão, garantia a cobrança de créditos.21
Nas antigas Grécia e Roma, comerciantes incumbiam a agentes (factors) ,
disseminados por lugares diversos, a guarda e venda de mercadorias de sua
propriedade. A expressão factors, em seu sentido original de "agente mercantil"
para os romanos, designava o comerciante que exercia suas atividades por
conta de outros comerciantes.
No mundo antigo, fenícios, gregos e romanos, que estabeleciam seus pontos
às margens do mar Mediterrâneo, eram considerados comerciantes
especializados que recebiam, armazenavam e vendiam as mercadorias e
faziam cobrança por conta de seus comitentes, mediante uma remuneração.22
Na Idade Média, os factors se tornaram itinerantes, pois percorriam longas
distâncias entre as várias regiões da Europa e do Oriente Médio, como agentes
20 DONINI, Antonio Carlos. Factoring: de acordo com o novo Código Civil. Rio de Janeiro:
Forense, 2002.
21
_ _ _ _ , 2002, p. 13.
de compra e venda de produtos, mercadorias e especiarias, desenvolvendo
intenso comércio.
Nos séculos XVI e XVII, a política de expansão colonial adotada pela Inglaterra,
Países Baixos, Portugal e Espanha, valorizou a missão dos factors que
notoriamente itinerantes, foram obrigados a instalar-se nas colônias de
além-mar, tornando-se os representantes e depositários locais das mercadorias
enviadas pelos comerciantes das metrópoles européias.
No período da colonização, a origem do factoring, da forma como praticado na
atualidade, remonta a partir do século XVI na Inglaterra, juntamente com os
descobrimentos marítimos e a colonização britânica no novo mundo, segundo o
professor Jacobo Leonis, citado por Donini23:
o
modemo factoring tem seu antecedente mais remoto no século XIV, naInglaterra, quando foi utilizado ali exclusivamente no mercado têxtil, no setor da lã. As peças de lã confeccionadas pelos fabricantes eram aceitas em regime de consignação por determinados comerciantes que as vendiam a outros e por alguma razão especial os consignatórios garantiam aos fabricantes a cobrança de seus créditos comerciais contra os adquirentes.
Durante os séculos XVII e XVIII, o factoring adquiriu grande importância na
América anglo-saxônica, onde os factors representavam e trabalhavam para
interesses britânicos, recebendo e distribuindo as mercadorias importadas,
efetuando a cobrança das mesmas e ainda efetuando antecipações ou
adiantamentos aos exportadores ingleses.
Mais tarde, com a emancipação dos Estados Unidos da América (EUA), e com
a promulgação das primeiras leis alfandegárias protetoras de sua indústria, os
factors dali se desligaram dos exportadores da antiga metrópole e começaram
a empregar seus conhecimentos e sua capacidade econômica em benefício
dos fabricantes do novo país. No século XVIII, com a implantação da indústria
têxtil na colônia americana, tornou-se preponderante a função do factor, que
era designado nos contratos com o nome de Agents e Factors. Finalmente, em
1808, na cidade de Nova York, surgiu a primeira operação, que, realizada por
um factor, passou a ser denominada universalmente como factoring.24
Nos Estados Unidos, até as primeiras três décadas do século XX, o factoring
estava direcionado às manufaturas de algodão, lã e indústria têxtil. Mas, devido
às crises bancárias de 1931 e 1933, o factoring, que ficava à margem das
rigorosas regulamentações bancárias dos Estados Federais da União,
começou a estender-se para outras indústrias como móveis, sapatos, plásticos,
produtos químicos, couro, desenhos e brinquedos, e, posteriormente, de
eletrodomésticos. Assim, por conhecer melhor a solvência dos compradores, a
função do factor era representar os vendedores da metrópole que, ao
tornarem-se os cobradores normais dos créditos decorrentes das vendas,
passaram a adiantar dinheiro em relação aos créditos e, finalmente, a garantir
o adimplemento dos adquirentes das mercadorias.
Essa familiaridade e um clima de confiança que se criava entre os agentes e
vendedores, fizeram com que os pagamentos fossem remetidos logo que
recebidos com uma dedução de uma comissão remuneratória. Posteriormente,
os agentes recebiam os valores junto aos adquirentes, quando efetivamente se
reembolsavam dos pagamentos adiantados. Dessa forma, o factor passou, de
um simples comissário, a assumir uma posição de financiador de comerciantes,
adquirindo os seus créditos mediante o pagamento dos mesmos em épocas
combinadas mas, em regra, antes do vencimento.
A respeito destes marcos históricos, LUZ25 (1996) comenta que:
( ... ) Essa simples corretagem comercial sofreria, nos Estados Unidos,
surpreendente evolução. A princípio desenvolveu-se ligada especialmente à
importação de produtos ingleses e, mais tarde após a declaração de
independência, voltada à produção interna. Alguns desses corretores
comissionados foram criando formas de participação mais ativa no negócio de seus representados. Passaram estão a garantir as vendas, mantendo cativo o
24 DONINI (2002, passim).
25 LUZ, Aramy Dornelles. Negócios Jurídicos Bancários. São Paulo: Revista dos Tribunais,
mercado, a garantir o pagamento das vendas, assumindo a prestação de serviços burocráticos, os mais variados, que vão desde a elaboração da contabilidade interna, à emissão de faturas, serviço de cobrança, seleção de clientes, elaboração de produto, marketing, intermediação na compra de matéria prima, controle de custos de produção, compra de créditos, enfim, verdadeira prestação de serviços de administração global. (Luz, 1996: 257)
A origem do factoring remonta de longínquos tempos, quando Hamurabi, o
mais famoso soberano da Babilônia, há mais de dois mil anos antes da nossa
era, fez gravar, como parte do chamado "Código de Hamurabi" 26, fórmulas de
gestão comercial e normas que regulamentavam os procedimentos do
comércio daquela época. É do "Código de Hamurabi" que partem as origens
históricas dos bancos e de outras atividades comerciais relacionadas com o
crédito, dentre elas, o factoring. 27
A figura do agente mercantil nasceu com a civilização para facilitar e
incrementar o comércio, que era, naqueles tempos, baseado nas trocas de
mercadorias - o escambo, uma vez que não existia moeda. A troca(venda) de
mercadorias ou ativos com a finalidade de obter os recursos necessários para
o comerciante tocar e girar os seus negócios é tão antiga quanto o comércio
em si, e utilizada para contornar dificuldades encontradas na comercialização
das mercadorias. Assim, verifica-se que comprar créditos comerciais para
levantar recursos é uma prática dos primórdios da civilização, como consta dos
registros históricos dos negócios, para fazer capital de trabalho.
Segundo Leite28, por volta de 1200 a.C., os fenícios dominaram o comércio do
Mar Mediterrâneo e chegaram à Península Ibérica, onde desenvolveram
substancialmente o seu comércio. Movidos pela necessidade de reduzir o
26 Pesquisadores como Hillyer (1941), citado por Vieira (1999, p. 8), buscaram a origem
histórica dos bancos e de outras atividades comerciais relacionadas com o crédito, dentre as quais, localiza-se, o Factoring. Encontrando informações de que, há mais de 2000 anos de nossa era, Hamurabi, Rei da babilônia, fez gravar um bloco de pedra, como parte do chamado "Código de Hamurabi", fórmulas de gestão comercial e normas que regulamentavam os procedimentos do comércio e do crédito naquela época.
27 LEITE, Luiz Lemos. Factoring no Brasil. Sed. São Paulo: Atlas. 1997. p.19.
"risco de crédito" mediante a presença física de seus agentes no mercado de
destino e para expandir as suas relações comerciais, os fenícios criaram suas
factorias - centros comerciais. O centro comercial mais desenvolvido do
Mediterrâneo foi Cartago, construído pelos fenícios e muito cobiçado pelos
romanos, que lutaram de 264 a 146 a.C. (Guerras Púnicas) para conquistá-lo.
Já os romanos, que construíram um dos maiores impérios da História,
organizaram sua economia explorando as possibilidades comerciais das várias
regiões subjugadas29. Para isso, estabeleceram em pontos estratégicos do seu
vasto território a figura do factor, na maioria das vezes, um comerciante
próspero e de boa índole, conhecido em determinada região e que se
encarregava de promover o comércio local, de prestar informações creditícias
sobre outros comerciantes, receber e armazenar mercadorias provenientes de
outras praças e fazer a cobrança, pela qual recebia em pagamento uma
remuneração. Era um verdadeiro consultor de negócios, um agente mercantil.
O uso milenar das funções de um factor, por comerciantes, tinha como objetivo
facilitar e garantir bons negócios. Os factors, por serem profundos
conhecedores do mercado e da tradição creditícia dos comerciantes locais,
agiam como intermediários nas trocas comerciais e no desenvolvimento da
economia romana. Desempenharam um papel de tanta importância, que
mesmo com a decadência do Império Romano, os factors continuaram a
exercer as suas funções.
Segundo Leite30, esta forma contratual se disseminou, a partir da Idade Média,
em outros povos, desenvolvendo-se com grande expansão na época dos
grandes descobrimentos, em que, principalmente, a Espanha, Holanda,
Inglaterra, Veneza e Portugal lideravam o comércio internacional, com a
conquista de seus territórios ultramarinos. Portugal, em particular, estabeleceu
29 LEITE, 1997, p. 20.
em suas colônias da Ásia e da África, as factorias, centros polarizadores entre
a Metrópole, as colônias e outros povos vizinhos.
Nos Estados Unidos, ainda colônia inglesa, esse sistema apresentava
características especiais, pois os factors não apenas administravam e vendiam
os estoques de produtos para os seus proprietários na Europa, como também
garantiam o pagamento como agentes deI credere.
Na época dos grandes descobrimentos, países como Portugal, por exemplo,
estabeleceram em suas colônias da Ásia e da África, as factorias - empórios,
armazém de mercadorias, um centro polarizador entre a Metrópole, as colônias
e outros povos vizinhos. Mas o factoring, como negócio moderno, foi
desenvolvido na Inglaterra que, em suas operações comerciais do século XVI,
indicava um agente comercial (factor) para vender mercadorias a terceiros em
nome próprio, contra o pagamento de uma comissão.
Silva31 descreve que, em face das grandes distâncias entre os centros
consumidores do Estados Unidos, os industriais locais também começaram a
utilizar-se dos serviços dos factors para expandir seus negócios.
Com o crescimento populacional, o comércio entre colônias e a Inglaterra também aumentou, e com isso também houve um aumento da participação da
atividade de factoring. Com a revolução industrial, a indústria têxtil foi
fortemente impulsionada pela mecanização e seus produtos eram levados para as colônias americanas. Pode-se dizer que a primeira grande indústria a utilizar os serviços de factoring foi a indústria têxtil e, ainda hoje, aproximadamente 200 anos após a revolução industrial, a indústria têxtil continua ocupando posição entre as que mais se utilizam desse serviço. ( ... ) Pode-se dizer que a atividade de factoring cresceu junto com a indústria têxtil, sendo que ocupou papel de grande importância; quando do início da revolução industrial, os
factors desempenharam importante papel atuando com vendedores dos produtos (têxteis em especial) britânicos e desempenhando as funções de garantia de crédito e cobrança, e adiantando fundos para os fabricantes britânicos. Acreditamos, então, que o factoring faz parte da cultura da indústria têxti I. 32
31 SILVA, Eduardo Menezes da. Análise da Evolução das Operações de Factoring. São
Paulo: EAESP/FGV, 1995 (Dissertação de Mestrado).
o
factor, que no seu sentido primitivo prestava serviços de comercialização, distribuição e administração, agregou a função de fornecedor de recursos e,por conseguinte, com a venda de créditos oriundos da venda dos bens pelos
fornecedores, adquiriu o direito de cobrá-los, como seu legítimo proprietário,
surgindo assim o sentido moderno do factoring. Assim, os factors prosperaram,
passaram a pagar à vista aos seus fornecedores o valor das vendas por estes
efetuadas, antes mesmo de os compradores o fazerem, o que será
comprovado adiante conforme os registros de Leite.
o
factor, a par dos serviços prestados, substitui o comprador final daquela mercadoria. Como as comunicações eram precárias, o produtor enviava, emconsignação, seus bens para que o agente mercantil vendesse e despachasse
para o comprador final, onde "( ... ) o factor se revelava uma espécie de agente
ou representante externo de algumas atividades comerciais".33
Desse modo, o factoring evoluiu de um simples contrato de comissão para
constituir um contrato em que o factor assume a posição de financiador dos
comerciantes, adquirindo os seus créditos, mediante o pagamento dos mesmos
em épocas aprazadas, porém antes do vencimento.
1.1.3 Evolução do factoring no mundo
A América do Norte era uma grande fonte de matéria-prima para os países da
Europa e, durante muito tempo, a colônia teve como principal fonte de renda a
exportação de produtos, como madeira e peles, para o continente Europeu.
Posteriormente, a América do Norte, tornou-se um excelente mercado para que
os produtos acabados, oriundos da Europa, fossem vendidos. Os
norte-americanos tinham seus agentes nas capitais européias, principalmente
Londres, para facilitar a distribuição de seus produtos. Com o desenvolvimento
da colônia, esses agentes passaram a atuar tanto na Europa como na América
do Norte, e eram responsáveis pela intermediação das vendas e
armazenamento das mercadorias, além de serem responsáveis pelas
cobranças dos créditos gerados por essas transações. Esses agentes eram
chamados de factors. Com o aumento dos negócios, os agentes de factoring
passaram a antecipar recursos para os proprietários das mercadorias, como se
vê no texto de Silva:
Com o crescimento do volume das transações e conseqüentemente da colônia,
o papel dos factors começa também a crescer. E ele passa então a também
adiantar fundos aos fabricantes antes da cobrança dos valores referentes às
vendas. Como garantia os factors mantinham uma parte do estoque em seu
poder, e cobravam juros referentes aos valores adiantados por proverem liquidez aos fabricantes. Aspectos como grandes distâncias (e a difícil
comunicação entre fabricante e consumidor final) faziam do factoring um bom
nicho de mercado. Assim, as principais funções do factoring eram as seguintes:
distribuição de bens, avaliação de risco de crédito, contabilidade das transações e empréstimo de fundos aos fabricantes. Após o final da Guerra
Civil americana, o papel do factoring começa a mudar, vindo de encontro com
uma nova dinâmica das relações entre Europa e América do Norte. ( ... ) Sua importante função de armazenador de produtos passa a ser desempenhada pelos próprios fabricantes americanos que estão próximos dos seus consumidores. A função de vendas ( ... ) passa a ser desempenhada também pelo fabricante. O papel então que o factoring intensifica a sua participação é na intermediação financeira das operações e suas principais funções passam a ser as seguintes: adiantavam fundos em relação a recebíveis, cobravam, mantinham a contabilidade e assumiam riscos. ( .. ) O fabricante passa a ser conhecido como cliente de factoring. 34
Nota-se, então, uma mudança estrutural nesse nicho de mercado, onde
pequenas empresas de factoring fundiram-se, dando início a grandes
corporações de factoring, e passando a atuar em nichos de mercado
específicos, como por exemplo, o da indústria têxtil. A principal característica
dos contratos de factoring nos Estados Unidos(EUA) é a de que as operações
são feitas sem o direito de regresso( a empresa-cliente não tem mais risco
sobre aquele crédito, a partir do momento que ela o vende para a empresa de
factoring) salvo algumas situações como, por exemplo, a mercadoria estar
defeituosa, neste caso a factoring volta-se contra o cedente( empresa-cliente)
do título para cobrar o crédito. 35
Na década de 60, na Europa, quando o factoring assumiu sua forma atual, o
First National Bank, já estabelecido nos EUA, implanta um projeto de factoring
como forma de auxiliar as transações de comércio internacional entre EUA e
países da Europa. A esse respeito, comenta Silva:
A idéia era desenvolver uma rede de empresas de factoring localizada na Europa visando principalmente o apoio ao comércio local, doméstico, de cada país. Para a operação internacional, efetuariam negócios com outras empresas da rede. Para a exportação iriam transferir as faturas de exportação, recebidas de seus clientes, para a empresa localizada no país do importador, onde reside o devedor. ( ... ) Para a importação, receberiam as faturas de devedores no seu país, transferidas pelos representantes ou filiais estrangeiras do grupo. A vantagem é que o serviço seria fornecido em base local pela empresa localizada no país onde o risco existe - o país importador - que conhece o mercado, a operação doméstica, fala a mesma língua do devedor e estaria em uma melhor posição para apreciar a situação financeira do devedor, a extensão do crédito, os procedimentos necessários e todos os trâmites legais. Se uma dívida aprovada pelo factoring no país da importação não é paga, o factoring de importação pagaria ao factoring de exportação no período aprazado acordado após a data aprazada inicial. ( ... ) Assim nasceu a rede internacional que originou a FCI, Factoring Chain International, que junto com a IFG,
Intemational Factoring Group, são hoje duas organizações que têm por principal objetivo a divulgação do factoring.36
Atualmente, ocorre na Europa uma grande participação do setor bancário nas
empresas de factoring, as quais, em sua maioria, são subsidiárias de bancos
comerciais. Os principais serviços oferecidos das empresas européias são:
cobertura de riscos, cobrança e fomento às empresas-clientes.
Como também sucede nos EUA, as empresas de factoring européias podem
fazer captação de recursos no mercado interbancário, por serem consideradas
35 Existe uma diferença básica entre a atividade de factoring desenvolvida nos Estados Unidos
e no Canadá, apesar de o factoring ter surgido também no período colonial. No Canadá as empresa de factoring passaram a ser grandes empresas mercantis. A maioria das empresas canadenses não adianta recursos para suas empresas-clientes, elas atuam nas áreas de garantia de crédito, serviços de cobranças e contabilidade (Silva, 1995).
instituições financeiras. Os principais clientes dessas empresas na Europa
estão dispostos de forma variada. Já nos países da Ásia e Oceania, o factoring
somente se desenvolveu na década de 80. Sua participação apresentou
crescimento com base no comércio internacional, devido, principalmente, ao
"boom" das economias emergentes dessas regiões.
Alguns países, como Japão e Taiwan, têm legislação que impede a operação
desse tipo de empresa, pois os devedores são obrigados a pagar suas dívidas
diretamente aos compradores. Vale ressaltar a tendência de as empresas de
factoring também estarem ligadas a grupos de bancos ou instituições
financeiras.
1.1.4 Fundamentação legal e evolução do factoring no Brasil
A atividade de fomento mercantil ou factoring no Brasil, segundo Leite37,
começa a tomar forma em fevereiro de 1982, quando foi fundada a ANFAC,
que tem por finalidade divulgar os verdadeiros conceitos do factoring, como
mecanismo sócio-econômico, de apoio gerencial e financeiro, sobretudo para
as empresas de médio e pequeno porte, bem como prestar toda assistência
necessária às afiliadas sociedades de fomento mercantil.
Isto quer dizer que a introdução do factoring no Brasil foi preconizada como um
meio de atender às pequenas e médias empresas, na obtenção de capital de
giro, sem as dificuldades observadas no desconto bancário, muitas vezes de
difícil acesso aos "pequenos comerciantes". Mas houve um tempo em que
simplesmente se vedava a prática do factoring por empresas não autorizadas
pelo Banco Central do Brasil (art. 18 da Lei nO 4.595/64).38
37 LEITE (1999).
Não era bastante o registro perante às Juntas Comerciais. Impunham-se os
complexos trâmites exigidos para a constituição de um estabelecimento
financeiro, a fim de viabilizar a atuação no ramo. Nesse contexto, surgiu a
circular proibindo a constituição de sociedades de fomento mercantil enquanto
não viesse a regulamentação própria emanada do CMN.
o
Banco Central defendeu a tese de que as operações de factoringapresentam, na maioria dos casos, características e particularidades daquelas
privativas das instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. No
entanto, decisões da Justiça fizeram com que o Banco Central reconsiderasse
sua posição. Não existia, na verdade, óbice às operações envolvendo o
factoring. Exigia-se, porém, a chancela do Banco Central, o que tornava
extremamente difícil a constituição de empresas no setor. Este primeiro evento
foi marcante da história do factoring do Brasil, considerando seus ditames
abaixo destacados:
Em fase das disposições da Lei nO 4.595 de 31.12.64, em especial as contidas em seus artigos 2°, 3°, inciso V. 48
, incisos VI e VIII, 10, inciso V. 11 inciso VII e
44. § 7°., o Banco Central do Brasil, ouvido o Conselho Monetário Nacional, em
sessão realizada nesta data, decidiu tomar públicos os seguintes esclarecimentos:
I - As operações conhecidas por factoring, 'compra de faturamento' ou denominações semelhantes, em que, em geral, ocorre a aquisição, administração e garantia de liquidez dos direitos creditórios de pessoas jurídicas decorrentes de faturamento da venda de seus bens e serviços -apresentam, na maioria dos casos, características e particularidades próprias daquelas privativas de instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. 11 - Assim, e até que a matéria seja regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional, as pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas que realizarem tais operações continuam passíveis, na forma prevista no 47° do artigo 41 da Lei nO 4.595 de 31.12.64, das penas de multa pecuniária e detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, ficando sujeitos a estas seus administradores, quando pessoas jurídicas. 39
Este ato, injusto, ambíguo e atípico, que proibia e perseguia o funcionamento
do fomento mercantil, fez com que as entidades ligadas ao factoring lutassem
o
ato foi revogado pela Circular 1359, de 30 de setembro de 1988, que reconhecia que o factoring era uma atividade séria com o objetivo econômicoclaro de ser um mecanismo de apoio às micro, pequenas e médias empresas,
sancionando o caráter mercantil das transações dos facforings. Atualmente,
atualmente vários atos administrativos e legislativos infraconstitucionais
corroboram os conceitos expostos e ratificam a disciplina jurídica do factoring
como instituto regido pelos princípios do direito mercantil, oferecendo-lhe o
suporte legal e operacional.
o
factoring é uma atividade comercial, onde não se atua na captação, coleta ou intermediação de recursos financeiros. Conseqüentemente, para a constituiçãode suas empresas ou firmas se procederá normalmente como em outros casos
dos mais diversos ramos de empresas e firmas comerciais. Ou seja, é
suficiente o arquivamento dos estatutos ou dos atos formais na Junta
Comercial.
Operacionaliza-se sob um contrato atípico, vez que não existe legislação
específica, no Brasil, regulamentando ou enquadrando a atividade no direito
positivo. No entanto, aproveita integralmente os princípios e dispositivos de
vários diplomas legais e vai, aos poucos, adquirindo foros ou contornos
próprios no campo do direito.
As mais de setecentas sociedades de fomento mercantil filiadas ao Sistema
FEBRAFAC/ANFAC são sociedades legalmente constituídas, com sua
atividade econômica definida no seu objeto social, e registradas nas Juntas
Comerciais. Ao associar-se, essas sociedades firmam um termo de
compromisso de: praticar o factoring como factoring, dentro da legalidade;
contabilizar todas operações realizadas com base no contrato de fomento
mercantil celebrado com suas empresas clientes (exclusivamente pessoas
jurídicas); pagar regularmente todos os impostos (IR, CSLL, COFINS, PIS,
INSS, CPMF e ISS); contribuir para o incremento das atividades produtivas;
39 Destaque recortado da Circular nO 703, de 16 de junho de 1982, da Diretoria do Banco
concorrer para melhorar a liquidez do sistema econômico e não utilizar
mecanismos de intermediação de recursos no mercado privativo das
instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central.
o
fomento mercantil deve ser encarado como mecanismo de suporte ao segmento da pequena e média empresa e não como alternativa para mascararnegócios legalmente privativos de instituição financeira, ou para justificar
sofisticados planejamentos tributários ou outros tipos de negócios pouco lícitos
acobertados com o nome de factoring. O factoring só pode operar com pessoas
jurídicas, enfatizando e priorizando o setor da produção industrial.
No Brasil, o factoring, revestido de suas características propnas, não está
sujeito às sanções da Lei n.o 4.595/64, conforme o pacto firmado pela ANFAC
com as autoridades.
A ANFAC dispõe, desde 1988, de um Código de Ética, Disciplina e
Auto-regulamentação, orientando suas filiais a operar o factoring como factoring, por
entender que operações feitas com características daquelas privativas de
instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central estão enquadradas nas
disposições dos arts. 17, 18 e 44 da lei n.O 4.595/64. Isto quer dizer que
pessoas físicas ou jurídicas que infringirem as disposições legais citadas
estarão sujeitas a processo de ordem administrativa, que poderá ser instaurado
pela autoridade monetária, e de ordem penal, por meio de denúncia de
iniciativa do Ministério Público, variando a pena de um a dois anos (art. 16 da
Lei nO 7.492/86).
Os negócios realizados com infringência dos dispositivos legais citados são
tratados como mercado marginal pelo Banco Central, sendo este competente
para punir pessoas físicas ou jurídicas que funcionarem como se instituições
autorizadas fossem, e até mesmo as empresas de factoring que fizerem
intermediação no mercado, captando recursos junto ao público e realizando
sua atividade, com todas as características de banco comercial.
Em 1989, foi criado o contrato de fomento mercantil, com fulcro nos artigos 191
e 220 do Código Comercial. Assim, o contrato de fomento mercantil é um ato
jurídico perfeito por atender a todos os requisitos estatuídos pelo artigo 82 do
atual Código Civil.
Em 1996, no antigo Tribunal Federal de Recursos, foi reconhecida a
incompetência do Banco Central, para impedir a constituição e funcionamento
de sociedades mercantis, corroborando ou ratificando todas às decisões de
todas as instâncias da justiça brasileira.
Em outubro de 1999, no V Congresso Brasileiro de Factoring, promovido pela
ANFAC, decidiu-se como medida primordial, a introdução da garantia de
solvência no devedor sacado nas operações de factoring. Outra iniciativa da
ANFAC foi celebrar o acordo de Cooperação Técnica com a Secretaria de
Direito Econômico do Ministério de Justiça que objetivou: preservar o fomento
mercantil como instrumento de apoio às atividades produtivas e proteger as
sociedades de fomento mercantil, filiadas, legalmente constituídas, e
estabelecidas, fornecendo-lhes o Certificado de Habilitação e Qualidade para
identificá-Ias com os objetivos do Acordo e estabelecer sistemática de
cooperação técnica, visando a adoção de medidas preventivas e repressivas
contra operações dissimuladas no fomento mercantil.
O setor de factoring exibe uma apreciável imagem institucional, sendo
responsável por uma clientela muito numerosa no país atendendo,
principalmente, às micro, pequenas e médias empresas, em sua maioria dos
setores industriais e comerciais, garantindo, assim, muitos empregos diretos e
indiretos, gerando riqueza, melhorando a liquidez do sistema financeiro, pois
toda a movimentação das sociedades de factoring passa pelo sistema
1.2 O FACTORING E O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
1.2.1 O SFN e as operações bancárias e não-bancárias
Em razão da estabilidade de atuação e aceitação da atividade bancária no
Brasil, em 1960 existiam aproximadamente 360 bancos atuando no país, o que
comprova o amadurecimento do mercado bancário no sistema financeiro.
Em sua acepção primitiva, a palavra mercado dizia respeito a um lugar
determinado, onde os agentes econômicos realizavam suas transações. Os
textos de história econômica citam os grandes mercados da antiguidade, como
o de Marselha, no Mediterrâneo; de Bizâncio e de Calcedônia, na Ásia; de
Náucratis, no Egito; de Veneza e de Gênova, na Itália medieval.
A esse respeito, Weber40 descreve como os senhores feudais da Alta Idade Média estabeleciam mercados em seus territórios, concedendo o privilégio de
sua exploração como forma de atender as necessidades de suprimentos em
seus domínios e de facilitar, pela centralização das transações, a cobrança de
tributos. De lá para cá muitas transformações ocorreram em razão das
evoluções tecnológicas e político-econômicas.
No Brasil, dentre as principais mudanças sucessivas no sistema financeiro,
destacaram-se:
A criação do Banco Nacional de Habitação (BNH)41, institucionalizando o
Sistema Financeiro da Habitação (SFH);
A criação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do
Brasil (BACEN)42;
40 WEBER, Max. Historia Geral da Economia. São Paulo: Mestre Jou, 1968.
41 BRASIL. Lei n.o 4.380, de 21 de agosto de 1964. Institui a correção monetária nos contratos
imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), e sociedades de crédito imobiliário, as letras imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 de agosto de 1964.
42 BRASIL. Lei n.o 4.595, de 31 dezembro de 1964. Dispõe sobre a política e as instituições
A disciplina do funcionamento do mercado de capitais no Brasil43.
Com tantas mudanças, ocorreu uma grande diversificação do Sistema
Financeiro, possibilitando o aparecimento de um maior número de
intermediários financeiros não bancários e a ampliação dos Ativos Financeiros
do país. Abrangendo a intermediação financeira através de instituições
bancárias e não-bancárias, o Sistema Financeiro Nacional é regido pelo
Conselho Monetário Nacional, ao qual se reportam quatro entidades
fiscalizadoras:
Banco Central do Brasil (BACEN),
Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); e
Secretaria de Previdência Complementar (SPC),
o
Banco Central do Brasil (BACEN) é o órgão executivo central do sistema financeiro do país. Faz cumprir as disposições do CMN que regulam ofuncionamento do subsistema de intermediação.
São de sua privativa competência: prover a emissão do papel-moeda e da
moeda metálica, nos limites autorizados pelo CMN, a execução do meio
circulante; a execução das operações primárias do mercado monetário; e a
fiscalização das instituições financeiras.
Por sua vez, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o mais recente órgão
normativo do Sistema Financeiro Nacional. Foi criada em 1976 e suas
atribuições limitam-se ao mercado de capitais, tendo como finalidade principal
o exercício de fiscalização e regulamentação do mercado de títulos e valores
mobiliários de renda variável.
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, pág. 12081, 31 de dez. 1964 (retificada na edição de 03 de fevereiro de 1965, pág. 1321).
43 BRASIL. Lei n.O 4.728, de 14 de julho de 1965. Disciplina o mercado de capitais e estabelece
A estrutura atual do Sistema Financeiro Nacional está disposta conforme a
configuração mostrada a seguir:
CMN Conselho Monetário Nacional
Quadro 1 - Estrutura do Sistema Financeiro Nacional
Banco Central do Brasil
Comissão de Valores Mobiliários
Instituições Financeiras Captadoras de Depósitos à Vista Bancos Múltiplos com Carteira Comercial
Bancos Comerciais Caixas Econômicas Cooperativas de Crédito
Demais Instituições Financeiras Bancos Múltiplos sem Carteira Comercial Bancos de Investimento
Bancos de Desenvolvimento
Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento Sociedades de Crédito Imobiliário
Companhias Hipotecárias
Associações de Poupança e Empréstimo
Outros intermediários ou Auxiliares Financeiros Bolsas de Mercadorias e de Futuros
Bolsas de Valores
Sociedades Corretoras de Titulos e Valores Mobiliários Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários Sociedades de Arrendamento Mercantil
Sociedades Corretoras de Cãmbio Agentes Autônomos de Investimento
Superintendência de Seguros Privados Entidades Ligadas aos Sistemas de Previdência e Seguros Entidades Fechadas de Previdência Privada
Entidades Abertas de Previdência Privada Sociedades Seguradoras
Secretaria de Previdência Complementar Sociedades de Capitalização
Sociedades Administradoras de Seguro-Saúde
Entidades Administradoras de Recursos de Terceiros Fundos Mútuos
Clubes de Investimentos
Carteiras de Investidores Estrangeiros Administradoras de Consórcio Sistemas de Liquidação e Custódia
Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELlC
Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos - CETIP
Fonte: BACEN (2003)44
As principais atribuições da Comissão de Valores Mobiliários são:
Assegurar o funcionamento eficiente das bolsas de valores e das
instituições auxiliares que atuam neste segmento de mercado;
Proteger os titulares de valores mobiliários, notadamente os minoritários;
Fiscalizar as emissões e as negociações dos títulos emitidos pelas
empresas de capital aberto; e