A INTERACÃO MÃE X ·CRIA.NCA E O
I . ; I .DESENVOl.VIMENTO DO PR,E:llN,GU/$:MO
MOEcn TEREZIM NA 111 EM DDM CA ,CHAVES·
I
•
Praia do -Bot.fogo, :190
Sa~a
llQ,8
A INTERAÇÃO MÃE X CRIANÇA E O DESENVOLVIMENTO DO
PRELINGUIS-MO
NOECYR TEREZINHA MENDONÇA CHAVES
ORIENTADOR: PROFA. MARION MERLONE S. PENNA
Dissertação apresentada
à
Funda-ção Getúlio Vargas comorequi-sito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Psicologia.
LISTA DE QUADROS E TABELA 13
LISTA DE ANEXOS 14
RESUMO 15
ABSTRACT 18
INTRODUÇÃO 20
1- APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 20 l
2- FUNDAMENTAÇÃO TE6RICA 23
2.1- Estudos sobre a relação
prelin-guismo x linguagem 23
2.1.1- Descontinuismo 23
2.1.2- Continuismo 24
2.2- Estudos sobre os fatores que
to 33
2.2.3- O papel da interação com
a mae 35
2.2.4- Efeitos da privação
mater-na e da instituciomater-naliza-
institucionaliza--
42çao
3- ESPECIFICAÇÃO DO OBJETIVO,
PROBLEMA,HI-POTESE E TERMOS 47·
3.1- Objetivos 47
3.2- Problema 47
3.3- Hipótese 48
3.4- Definição operacional dos termos 49
3.4.1- Variável independente 49
3.4.2- Variáveis dependentes 50'
METODOLOGIA 58
1- SUJEITOS 58
1.1- Critérios estabelecidos para a
se-leção da amostra
1.2- caracterização da amostra quanto
à
constituição familiar e às2.1- Escalas de avaliação
2.2- Questionários
3- PROCEDIMENTO
RESULTADOS
1- AN~ISE DOS DADOS MENSURADOS PELA
ES-63
64
66
70
CALA DE AVALIAÇÃO 11 70
1.1- Teste de diferença de médias
71
1.2- Teste do Qui-Quadrado
73
1.3- O desempenho prelinguístico
e
suas correlações com as idades
cronológica e de iniciação
na
creche
75
2- DADOS QUALITATIVOS OBTIDOS ATRA~S DOS
QUESTION~RIOS
79
2.1- Caracterização da creche
79
2.2- Caracterização das famílias
81
DISCUSSÃO 83
tre estas, algumas grandes conhecedoras do tema~ outras
co-nhecedoras de áreas indispensáveis
à
sua elaboração e aindaaquelas que, apenas empenhadas em descobrir e estabelecer
trocas com o mundo circundante ofereceram sua matéria-prima.
~ a todas essas instituições e pessoas que apresento
parti-cularmente meus agradecimentos.
 UNIVERSIDADE CATOLICA DE GOI!S, por me
facul-tar licença e por subsidiar parcialmente minha realização do
curso de Mestrado.
 CAPES/CNPq pela concessao de bolsa de estudo
durante a realização do curso e da pesquisa.
A todos os professores do curso de Psicologia
Social e da Personalidade do Centro de Pós-Graduação em
Psi-cologia da FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS pela contribuição,
atra-vés dos ensinamentos e do exemplo corno pessoas e corno
quisadores.
pes-Â Professora MARION MERLONE DOS SANTOS PENNA, um
agradecimento especial pelas aulas de Psicologia do
Desenvol-vimento que foram decisivas para a escolha do tema desse
tra-balho, pelo seu direcionamento inicial, pela disponibilidade
com que orientou cada uma de suas etapas e pelo estímulo , a
sua conclusão.
 Professora MARIA LUCIA SEIDL DE MOURA, pelas
sugestões ao projeto de pesquisa.
 Professora GU~NIA BUNCHAFT, da Universidade
Federal Fluminense, pelos esclarecimentos estatísticos
vel da elaboração dos instrumentos para coleta de dados
condução do procedimento.
e da
 Professora SUELY VIEIRA LOPES, da Universidade
Católica de Goiás, pela considerável ajuda no tratamento
esta-tístico dos dados.
 Psicóloga MARIA DE FÂTIMA FERREIRA pela
tra-dução do RESUMO.
 Psicóloga LUCIANA AMORIM, pela participação
no Estudo-Piloto e na validação da Escala de Avaliação.
 AMARILIS ATAIDES FERREIRA, pelo auxílio na
À MÁRCIA IN~S MENDONÇA DE REZENDE, minha irma,
que contribuiu corno cronometrista na coleta de dados.
 VERA CLEIDE MENDONÇA DE REZENDE, também
mi-nha irmã pelo auxílio na revisão do texto.
Ao Dr. ILDEFONSO AVE LAR , que no ano de 1987
presidia a Fundação Estadual de Bem Estar do Menor - FEBEM/
GO - pela autorização do acesso
à
Casa da Criança, unidadeda instituição onde se realizou parte da pesquisa.
 Sra. ROSA, Diretora da Casa da Criança, na
época da pesquisa, pela concessão de informações sobre a
creche e pela facilitação do processo de coleta de dados.
A Sra. MARINA FERREIRA, Diretora do Berço da
Titia, pela permissão para ali realizar os estudos
explora-tórios.
As atendentes da Casa da Criança e às maes
por se disporem a interagir com as crianças durante as
ses-sões de observação. As mães e pais, agradeço em particular,
por terem permitido a valiação de seus filhos e por terem
confiado a mim aspectos pessoais de suas vidas.
As crianças observadas, cuja contribuição
Ao meu marido ANTONIO REINALDO e à minha filha
ANA ELISA, por terem adiado e sacrificado planos e por
fi-carem privados de minha atenção em momentos importantes de
suas vidas, em função do meu envolvimento com o estudo.
Aos meus familiares pelo estímulo
e até decisivo em alguns momentos.
constante
Enfim, a todas as pessoas cuja colaboração
TABELA
QUADRO 2
QUADRO 3
ANEXO 2 - Escala de Avaliação II
ANEXO 3 - Questionário I
ANEXO 4 - Questionário II
ANEXO 5 - Questionário III
ANEXO 6 - Questionário IV
ANEXO 7 - Média de comportamento
prelin-gulsticos
Teste de diferença de médias
utilizou-se uma amostra constituida por
doze
crianças provenientes de classe s5cio-econômica
desfavoreci-da, com idades variando entre nove e quinze meses e que
fo-ram distribuidas em três grupos, conforme as condições de re
lação com a figura materna:
- com mae ausente, vivendo na creche;
- com mae em tempo parcial, recebendo
mento diarista na creche;
- com mae em tempo integral, vivendo nos
prios lares.
atendi-
prõ-Acreditando que as crianças que contam com
a
presença das próprias mães em tempo integral tem um
desem-penho prelinguIstico superior ao daquelas que, em alguma
me-dida, são privadas dessa relação, registrou-se as
produções
prelinguísticas das crianças dos três grupos
utilizando uma
perfazendo vinte minutos por sessao e totalizando cinco
ses-são por cada criança.
Comparou-se a frequência de vocalizações e de
expressoes motoras, estabelecendo dois tipos de relação:
- entre os dois grupos das condições extremas;
- entre todos os três grupos.
Os resultados forneceram evidências de que a
presença da mãe está positivamente relacionada à frequência
de produções prelinguísticas, quando se comparou os dados
das crianças dos três grupos. No entanto, nao se observou
diferença significativa ao se comparar as produções
prelin-guísticas das crianças do grupo com privação absoluta de
mãe às daquelas que conviviam com suas mães em tempo
inte-gral, ou seja, pertencentes aos grupos considerados de maior
contraste.
Os resultados, entretanto, apontam para a
qualidade da relação estabelecida entre mãe e criança como fa
-tor que influencia, de forma significativa, o
desenvolvimen-to prelinguístico.
Sugere-se que outras pesquisas sejam
realiza-das, em que o critério de controle da relação mae e criança
seja realizado com instrumentos mais precisos e em que se
observe o caráter das outras relações estabelecidas pela
deterrninant factor for the acquirement and deve10pment of
pre1inguism.
The group studied twe1ve children coming from low
income farni1ies, from 9 to 15 months of age vere p1aced in
three different groups according to the conditions of
maternal re1ationship, as fol1ows:
Without the presence of the mother, 1iving at the
day-care-center;
- Wi th the partia1 care of the mo the r , and day time
at the center;
- With the fu11 time care of the mother, 1iving at
home.
With the assumption that chi1dren that stay fu11 time
with the mother have a superior pre1inguistic development in
comparison with chi1dren that for one reason or another are
deprived of the mother's presence, the prelinguistic
behaviors of a11 chi1dren from the three groups were
scale of evaluation with a one minute interval system.
The frequency of vocalizations and motor expressions
were compared, establishing two types of relations:
- between the two groups with the the
conditionsi
- among alI three groups.
extrema
The results provided evidence that the presence of
the mother is positively related with the frequency of the
preIinguistic behaviors.
However, a significant difference was not observed
when comparing the prelinguistic behaviors of the children
without the presence of the mother with those that received
full time care of the
motheri
in other words, childrencoming from groups of extreme leveIs of contrasto
The results point out to the quality of the
established mother-child relationship as a major factor that
influences significantly the prelinguistic development.
Further studies could be made in which the cri teria
of control of the mother-child reIationship was done with
more precise instruments, in which included alI the other
reIationships established by the chiId, such as the father
figure, sibIings if any, and with the day-care-attendant if
Para que se possa prever e controlar o
compor-tamento humano, faz-se necessário explicar as relações que
estabelece com seus prerrequisitos e, que define, em certa
medida, seus potenciais e limites.
No caso do desenvolvimento da linguagem
huma-na, observa-se um grande número de resultados de pesquisas
e observações realizadas a partir do surgimento da palavra,
ou seja, no período compreendido entre o primeiro e o
se-gundo ano de vida da criança. Em geral, esses trabalhos nao
fazem referência às formas de comunicação anteriores ou pr~
linguísticas, como são chamadas. As pesquisas existentes
sobre o assunto tendem a apresentar resultados não conclu
-sivos e distinguem-se quanto ao enfoque e
à
relevànciaatribuida a essas formas de comunicação para o desenvolvi
-mento da linguagem.
O termo prelinguismo se refere a fenômenos
vi-da, antes do aparecimento da linguagem propriamente dita
(Lafon - apud Aimard, 1986). Esses fenômenos dizem
res-peito ao repertório de vocalizações que inclui: sons
ve-getativos, choro, arrulhos, gorjeio e balbucio, entre
ou-tras. Pode-se falar ainda de formas motoras de
comunica-ção prelinguIstica, incluindo gestos, posturas e açoes
como: olhar, apontar com o dedo, mão ou braço estendido;
indicar inclinando o corpo em direção ao objeto ou
pes-soa pretendidos; balançar a cabeça afirmativa ou
negati-vamente; agitar os membros e outras (Piaget, 1926).0 que
indica a intenção comunicativa dessas formas expressivas
é
o aumento da frequência dessas manifestações na presen-ça de pessoas com as quais a crianpresen-ça interage (Kaplan &Kaplan, 1969).
Considera-se que a mãe, em condições
natu-rais,
é
a pessoa com quem a criança forma o primeiro vIn-culo afetivo, por ser quem oferece cuidados,atenção,afe-to e quem permanece por maior espaço de tempo sinatenção,afe-tonizada
à
criança, executando suas solicitações (Bowlby, 1984)ou, de uma perspectiva inatista, a maeé
quem provê o maior~
numero de oportunidades para que a criança exercite suas
capacidades inatas (Chomsky, 1959); ela
é,
possivelmente, a pessoa com quem a criança mais interage e que, portantoexerce maior influência sobre seu desenvolvimento
prelin-guIstico.
que trabalham fora, em tempo integral, ou seja, com jornada
de trabalho de oito horas diárias e que deixam os filhos em
creche de atendimento diarista ou em instituição em regime
de internato. Nesses casos, observa-se que a interação da
criança com a figura materna
é
pouca ou nenhuma.Os estudos sobre as consequências da privação
materna para o desenvolvimento de habilidades, corno o de
Bowlby (1973), demonstraram que crianças que, em idade
pre-coce foram submetidas aos cuidados de creches,sobretudo em
regime de internato, apresentam, ordinariamente, início tar
dio da linguagem, seguido, muitas vezes, por períodos de
silêncio. A linguagem dessas crianças se caracteriza pela
imaturidade e pobreza vocabular e o comportamento por
mani-festações do tipo: choro frequente, pegajosidade aos
aten-dentes ou outras pessoas que dela se aproximem ou, em
con-trapartida, por manifestações de um extremo desinteresse
pelas pessoas e estímulos ambientais que caracteriza urna
espécie de marasmo.
Adernais, ao se comparar crianças cujas necessi
dades linguísticas e emocionais são levadas em conta no
primeiro ano de vida, observa-se que essas tendem a falar
mais cedo e a se desenvolver regularmente, demonstrando
fluidez na expressão comunicativa, tanto a nível da açao,
através de ação conjunta, corno a nível da verbalização de
a linguagem posterior, em contraste com aqueles que negam
essa relação; levantou-se, ainda, estudos que procuram
de-terminar a influência dos aspectos cognitivos, afetivos e
sociais sobre o desenvolvimento da pre-linguagem. Destaco~
se a importância da mãe como figura de apego, fonte de
es-tímulos sensorimotores e verbais, assim como dos efeitos
prejudiciais de sua ausência.
2.1- Estudos sobre 'a 'Relação PrelinguIsmo X
Linguagem
Em relação
à
ligação existente entre operío-do prelingulstico e o da linguagem pode-se distinguir duas
tendências na condução de pesquisas dos linguistas e
psi-cólogos.
2.1.1- Descontinuismo
(1967) afirmou que o bebê quando vocaliza, no período do
balbucio, pode estar "brincando" com os sons ou exerci
tan-do suas cordas vocais, urna vez que a linguagem real
pres-supoe o desenvolvimento de certas partes do cérebro, o que
só ocorre no final do primeiro ano.
Dentro da mesma linha de pesquisa, Jakobson
(1968) argumentou que no período do balbucio, observa-se a
manifestação dos sons ouvidos em todas as lInguas e que
não tem ordem ou sequência até que sejam selecionados, numa
ordem sistemática e a partir da influência do contexto, os
contrastes fonêmicos usados na comunidade linguística.
2.1.2- Continuismo
Na visão de Kaplan & Kaplan (1969) nao existe
algo corno uma criança prelinguística, no sentido de se
tornar essa fase corno isolada das subsequentes do desenvolvi
-mento linguístico. Propuseram que o processo de aquisição
da linguagem, pelo menos com relação a alguns aspectos,
co-meça nas primeiras semanas de vida; a ausência de palavras
convencionais não indica, necessariamente, a ausência de
um sistema semântico subjacente.
Através dos resultados obtidos por Brown e
seus colaboradores (1973) tem se tornado cada vez mais
apa-rente o papel do alcance prelingu!stico da criança: de
muitos aspectos organizados de sintaxe, semântica,
pragmá-tica e mesmo de fonologia da comunicação subseqüente.
Menyuk (1977) sugeriu que, talvez exista
en-tre o perlodo pré-verbal e o verbal um vInculo mais
es-treito que o proposto por Jakobson, pois existem mudanças
na frequência com que sao produzidas consoantes dotadas
de certas características, embora a ordem do surgimento e
dos sons no balbucio varie.
Stark (1979) fez uma divisão das primeiras
realizações vocais dos primeiros dezoito meses de vida, em
cinco estágiOS, cujas manifestações são, respectivamente,
as seguintes: choros reflexos e sons vegetativos como:
ar-rotar e espirrar (zero e oito semanas); arrulhos e risos
(oito a vinte semanas), brincadeira vocal, incluindo
iso-lamento de tipos de segmentos primitivos (dezesseis a trin
ta semanas); balbucio reduplicado ou série de sílabas
con-soante-vogal repetidas (vinte e cinco a noventa semanas) ;
balbucio não-reduplicado com tonicidade e entonação;
jar-gão expressivo (nove a dezoito meses). Opondo-se
à
tese descontinuista de Jakobson, Stark, embora reconhecesse asdiferenças individuais nos estágios, propôs a
possibilida-de possibilida-de possibilida-delinear urna sequência orpossibilida-denada possibilida-de possibilida-desenvolvimento ,
que tem aspectos universais. Afirmou que os primórdios da
comunicação ocorrem no estágio do balbucio reduplicado.
observou que, ao se examinar os gritos, a sucçao e a tosse
do bebê, pode-se identificar virtualmente todas as caracte
rísticas articulatórias da fala em suas produções
primiti-vas; essas características são bem coordenadas para as
fi-nalidades da criança, modificando-se apenas sua combinação.
As regressões a estágios precedentes causam a impressão
de dedordem. Para stark há mudança na função das
vocaliza-ções de um estágio a outro e, apenas no estágio quatro
,
quando os gestos são incorporados à comunicação é que
pode falar de urna função comunicativa da pré-fala.
se
Na visão de Aimard (1986) a pré-linguagem com
preende duas fases distintas: a fase dos gritos e a do bal
bucio; esta, ainda se subdivide, quanto à forma de
produ-ção dos sons, em balbucio "selvagem" e "ordenado" ,que
cor-respondem a duas ordens de fatos: a que se organiza a
vel das percepções, da motricidade, da imitação e da
memó-ria, ou seja, as predisposições neurofisiológicas ou
psi-cológicas necessárias ao desenvolvimento da linguagem e a
que se refere às experiências de comunicação que se
elabo-ram durante o primeiro ano de vida e que servem de base
às formas linguísticas convencionais. Assim, pÔde-se dizer
que este período é prelingulstico apenas em suas produções
uma vez que a criança entende, desde os primeiros dias, a
conversa do outro, mesmo que no início, nada compreenda.
Para Bruner (1975), durante o primeiro e
-vos que promovem o sistema antecipatório meios-fins, a
sis-tematicidade de tarefas e atividades extraordinariamente so
ciais e comunicativas. Para tanto, a participação do
adul-to é imprescindível, seja como colaborador ou como
instru-mento no alcance de objetivos.
~ no treinamento destas espécies de realização
através do uso de meios comunicativos.prelinguísticos que
a criança atinge um domínio prioritário dos mesmos e
adqui-re a sensibilidade a um determinado sistema de sons, a uma
estrutura restrita, a requisitos referenciais e a objetivos
comunicativos. Assim, o domínio dessas realizações
funda-menta a aquisição da linguagem e a transição para o
discur-so adulto.
2.2- Estudos sobre os fatores que influenciam
o Desenvolvimento da Linguagem
2.2.1- O Papel dos Fatores Cognitivos
Muitos pesquisadores explicaram o processo de
aquisição da linguagem a partir de mecanismos autônomos,
in-dependentes da influência do meio.
Osgood (1953) utilizando a técnica de gravaçao
das atividades vocais, ao longo do primeiro ano de vida,
primei-ros dois meses, os bebês emitem todos os sons da linguagem
humana, havendo modificações nas frequências comparativas,
dos vários sons da linguagem,
à
medida em que se dá ode-senvolvimento. Osgood concluiu, das observações
realiza-das que "os mesmos padrões neurais eferentes que
produ-zem o relaxamento da musculatura do corpo parecem
provo-car o relaxamento dos músculos que participam da vocaliza
ção; de outro lado, a maior tensão na musculatura do corpo
é
acompanhada por uma crescente tensão nos músculos vo-cais" •Chomsky (1957; 1959; 1965; 1969) propôs como
constructo teórico, um dispositivo de aquisição da
lingua-gem: LAD inato, que
é
alimentado pelos dados linguísticos primários e, tem como produto final, uma gramática dalín-gua da qual os dados são extraidos; assim, a criança tem ,
desde o começo, em algum sentido, "um conhecimento" das re
gras universais da linguagem e, este, gera hipóteses
acer-ca da linguagem do contexto em que se acha inserido. O
pa-pel do meio
é,
então, prover informação acerca de línguasparticulares. Desse modo, sustentou que, a despeito das
amplas diferenças de antecedentes sociais, riqueza de esti
mulação ou origem cultural, todas as crianças dominam um
conjunto de estruturas linguísticas fundamentais, aproxim~
damente em torno da mesma idade.
Macnamara (1972) estabeleceu um contraste
da linguagem. De acordo com um dos modelos, a criança
abs-trairia as categorias semânticas da língua que
ouve,tenta-ria extrair o significado do mateouve,tenta-rial linguístico de
en-trada e criaria categorias conforme seu sucesso na tarefa.
O outro modelo, favorecido por Macnamara, no entanto,
é
a-quele em que a criança começaria tendo uma compreensão domundo e buscaria meios linguísticos para expressar essa
compreensão, Suas propostas de linguagem, segundo Nelson
-
-(1973: 1974), se fundamentaram nessa compreensao nao-
lin-guística do ambiente, em sua cognição. Nelson notou a
ba-se funcional de grande parte da linguagem primitiva da
criança. Seus conceitos estariam centrados em sua própria
experiência com os objetos e em suas ações sobre eles.
Para Lock (1978), o desenvolvimento da
lin-guagem que tem corno base a habilidade prelinguística
con-siste numa reinvenção guiada de um con-sistema conceitual
es-pecífico.
Dentro da mesma linha, alguns pesquisadores ,
apesar de terem atribuido a fatores cognitivos o processo
de aquisição da linguagem, reconheceram a contribuição
do meio.
Piaget (1926) acentuou a importância das
rea-lizações cognitivas e sociais para a aquisição da
lingua-gem, apesar de ser característico em sua teoria a
proporcionando uma visão da criança pré-verbal
(sensório-mo-tora) como alguém que, constroi sozinho, através da ação,uma
compreensão do mundo ao redor, e exibe, em sua linguagem,
as compreensões internas (insights) e sucessos do
entendi-mento que desenvolve.
Piaget evidenciou que a inteligência se faz
per-ceber antes que a criança comece a falar e que forma de re
presentação usada pela criança sensório-motora é primitiva,
estando vinculada a situações específicas da experiência
da criança,
à
qual ele chamou de imagem. Assim, os primeiros"esquemas verbais" da criança não são conceitos, mas,
siste-mas de classes, conjunto de objetos agrupados de acordo com
relações entre todos e partes ou, sistemas de relações
par-ticulares agrupadas de acordo com sua natureza simétrica ou
assimétrica. Quando a criança começa a usar palavras, no
fi-nal do período sensório-motor, aquelas mais que conceitos,no
sentido adulto, são esquemas com componentes verbais tem uma
função-símbolo uma vez que são empregadas com um significado
particular.
Por outro lado, comentando a capacidade da
crian-ça para chamar a atenção de outra pessoa para um objeto ou
atividade e para observar se o adulto está atento,Piaget se
referiu ao que chamou de descentração, que contrasta com a
idéia de um egocentrismo grosseiro que caracterizaria esse
Piaget não aceitava a idéia de urna capacidade
ina-ta de aprendizagem da linguagem; o que admitiu corno inato
e..
urna capacidade geral da criança, de recornbinação dos
suces-sivos níveis de urna organização cada vez mais aperfeiçoada •
Sua teoria captou os aspectos universais da cognição.
Sinclair (1970) afirmou que, gradualmente, através
dos processos de assimilação e acomodação, descritos por Pia
get, a criança sensório-motora separa as categorias de
agen-te, ação e objeto, preparando, dessa maneira, o terreno para
as categorias gramaticais do sujeito, sintagma verbal e
sin-tagrna nominal. Realçou, assim, que a proposta dos universais
linguisticos específicos ou mecanismos de aprendizagem
espe-cíficos talvez seja prematura.
Vygotsky (1962; 1978) deu urna interpretação
dife-rente
à fala egocêntrica, de que fala Piaget: concordou
em
que seja um fen;meno transitório, porém, discordou
quando
propôs que a fala é precursora do pensamento verbal,urna vez
que acentuou a existência de um intelecto pré-verbal (nos
m~cacos e bebês) e de urna fala pré-intelectual (nos
papagaios
e nos bebês balbuciantes). Vygotsky comentou sobre a
impor-tância da linguagem como meio de dirigir a ação e o modo
co-mo as crianças aprendem a usá-la para planej ar ações
futu-ras e preparar as etapas de solução de urna tarefa. Dentro
de~sa perspectiva, o desenvolvimento do pensamento
é
determina-do pela linguagem, ou seja, pelos instrumentos
1inguisticos
As abordagens de Skinner (1957) como as de Mowrer
(1958) e Witnitz (1968) se basearam nos princípios de
imi-tação e de reforçamento. Este, sozinho, não
é
suficiente p~ ra o desenvolvimento da linguagem por não acompanhar a rap!dez e complexidade dos processos de aquisição da
lingua-gemo A imitação, por outro lado, não
é
essencial para a a-quisição da linguagem, como mostrou Lenneberg (1962; 1964 ;1965 e 1967) ao comparar os resultados de registros grava
-dos de vocalizações de crianças filhas de pais sur-dos e de
pais ouvintes, não observando diferenças significativas.
Moura (1988) num estudo com bebês chegou a
resul-tados que forneceram evidências de que os processos imitati
vos desempenham um importante papel na aquisição da
lingua-gem, tanto em seu aspecto expressivo quanto no aspecto de
produção. Nesse processo, alguns padrões podem ser
observa-~
dos: apesar de imitar sons sem sentidos, a criança so
come-ça a imitar aproximações de uma determinada palavra depois
de tê-la compreendido, mesmo que de forma primitiva. Esse
processo diverge do que ocorre em relação
à
fala, na qual aprodução de uma palavra tende a ocorrer posteriormente
ã
experiência de jogo imitativo com o adulto. Enfim, a
obser-vação da compreensão de linguagem na ausência de qualquer
evidência de imitação diferida favorece a hipótese de
pre-sença de um processo de representação antes do suposto por
Piaget e quiçá a possibilidade de inversão do sentido da
2.2.2- O Papel do Discurso Adulto e da Interação
A-fetiva e Social
Packer (1983) estudando a natureza da interação
comunicativa entre criança e adulto concluiu que a atividade
é
uma cooperação e um trabalho conjunto da criança e adulto .As significações dos atos das crianças são essencialmente
am-b!guas, tem uma estrutura de força e disputa e são
negocia-das na prática. Nos primeiros seis meses de vida a criança e
-interpelada nas trocas que efetivamente compartilha: aspectos
básicos do dom!nio corporal em modos que refletem e são uma
consequência das formas de conduta que adultos reconhecem e
seguem. Estes ocorrem na ausência de representações
simbóli-cas ou de comunicações convencionalizadas de significações so
ciais pela criança, e atuam como um precursor direto para a
comunicação adulta.
Haugan & Mc Intire (1972) - apud Bee (1984) -
cons-tataram que os bebês balbuciarão mais se o adulto imitar seus
sons, sorrir para eles ou prestar atenção quando estão
voca-lizando. Bee (1984) concluiu a partir desses estudos que os
bebês cujos pais conversam mais com eles, além de balbuciar
mais cedo podem apresentar um desenvolvimento intelectual e
da linguagem posterior mais rápido.
Outros estudos Camaioni (1984) Sinclair (1985) apud
Moura (1988) - explicaram o desenvolvimento da linguagem da
a-dulto, embora considerassem a participação dos processos de
assimilação e acomodação, descritos por Piaget.
Penna (1976) fez um paralelo entre as dimensões his
tórica e individual do processo de aquisição da
linguagem.Es-pecificamente no que se refere
à
aquisição individual dalin-guagem, comentou a contribuição de linguísticas e psicólogos,
especialmente Merleau-Ponty ao atribuir um sentido emocional
ao contato com o mundo e, do qual, emerge o significado
con-ceptual. Para ele, o domínio da linguagem segue rigoroso
pa-ralelismo com as modificações da constelação familiar, como
são vivenciadas pela criança. A relação com a figura materna
é, essencialmente, significativa, uma vez que a aquisição da
linguagem
é
um fenômeno de identificação. Concordou com Pia-get quando afirmou que o que ocorre na aprendizagem dalin-guagem
é
um fenômeno de "descentração" vivida que se realizaatravés de uma operação vital e não intelectual. A criança
aprende a conceber a existência de relações recíprocas: ela
distingue a noção de desempenho de papéis, em escala
indivi-dual e aprende a relativizar as funções de caçula e de mais
velho.
Segundo Elliot (1982) muitos investigadores
chama-ram a atenção, para a qualidade dos relacionamentos
interpes-soais vivenciados pelas crianças até mesmo antes de começar
produzir elas próprias enunciados verbais reconhecíveis.
Nes-ses relacionamentos, a criança
é,
certamente, um parceirointerações das crianças com suas maes e irmãos sugerem meios
pelos quais as crianças viriam a compreender algumas das
fun-ções rudimentares da linguagem, em tenra idade.
Le Boulch (1986) ao estabelecer uma equivalência en
tre as produções linguisticas da criança e a manipulação e
relação com os objetos no plano próxino, propôs que durante
o período da pré-linguagem a criança emite uma variedade de
sons que tem formas distintas de acordo com a evolução:ruidos
de lábios, de língua, de garganta, grito e balbucio. Este, e
..
um processo de auto-estimulação ligado ao desenvolvimento de
controle auditivo da articulação de sons que é estimulado
pe-la expressão verbal dos pais, inicialmente na forma de ecope-la-
ecola-lia e, por último, na forma de imitação diferenciada.
2.2.3- O Papel da Interação com a Mãe
..
A presença da mae proporciona a criança certa
esta-bilidade permitindo-lhe assimil ar as referênci as de seu
am-biente, no inicio da vida. Na atualidade, é comum que a crian
ça receba cuidados de pessoas que substituem a mae, em casa
ou na creche, durante seu horário de trabalho. No entanto, a
partir dos sete ou oito meses, a imagem da mãe além de
reco-nhecida, passa a ser constituida como objeto libidinal,
tor-nando-se insubstituIvcl. ~ à pessoa da mi:ie que o bebê tem
in-tenção de manifestar um estado afetivo e as vivências
-que sao acompanhados por sons expressivos. Assim, a
separa-çao da mãe
ê
vivida como frustradora, segundo Le Boulch (1986). Referindo-se a esta vivência, Spitz (1983) falou da"angústia dos oito meses", que se caracteriza por uma
dimi-nuição da atividade de exploração e da linguagem.
De acordo com Shaffer (1977) nos anos recentes o
interesse no comportamento social origina-se da realização
de muitas funções que ocorrem dentro de um contexto intra
-pessoal, do qual deriva suas significações funcionais. Hoje
tem aumentado, significamente, o reconhecimento de que a
linguagem deriva sua significação, primariamente, da
fun-ção comunicativa, necessitando, assim, ser abordada na
re-lação diádica: mãe x criança, nos primeiros meses de vida.
Schaffer, por outro lado, falou de dois aspectos
distintos que se relacionam
à
prontidão para a interação s~cial: um estrutural, que se refere
à
disponibilidade deme-canismos estruturais de origem endógena, que servem para vin
cular a criança a quem cuida dela: o outro, funcional, que
é
mostrado no modo como as estruturas são usadas particulaEmente nos relacionamentos temporais entre respostas
infan-tis e do adulto. O comportamento infantil
é
organizado no tempo, e os rítimos passam a ser externamenteregulados,lo-go após o nascimento, pela pessoa que cuida da criança. A
sincronia resultante do relacionamento
ê
uma função da sen-sibilidade adulta para o "ligar-desligar" do fluxo comport~"pseudo-diálogos", por serem unilaterais: eles sao
sustenta-dos pela iniciativa da mãe em repetir as respostas da
crian-ça, como se elas tivessem significância comunicativa, o que
só acontece quando a noção de reciprocidade
é
desenvolvida.A participação da mae é muito importante por
tor-nar a criança num participante completo do diálogo,dando-lhe
a oportunidade repetida por dias e meses de fazer parte nas
trocas como diálogo. Para tanto, recorrem a uma variedade de
técnicas diãdicas, como: periodizantes, adaptativas,
facili-tativas, elaborativas, iniciativas e de controle.
Trevarthen t1974} examinou o ritmo das trocas
en-tre maes e bebês de apenas dois meses de idade, havendo cons
tatado que, mesmo nessa época existem ciclos internacionais
de atividade, visto que cada participante faz sua
contribui-çao e, em seguida, recua para permitir que a outra pessoa fa
ça a sua.
KaYe (1976) fala de uma "pedagogia implícita"
usa-da pelas maes, que se manifesta ao obter atenção usa-da criança
para algum objeto, indicar o objeto, indicar a ação exigida,
exagerar a estrutura de ações a serem desempenhadas.
Shotter (1978) - apud Moura, (1988) - enfatizou
que os bebês estão numa relação pessoal, em que suas maes
favorecem certos tipos de atividade que procuram
Wolf (1969) demonstrou que a criança pequena tem
um repertório de choros que possui função comunicativa
so-bre os estados da criança; as maes podem discriminar entre
os vários choros. Desde as duas primeiras semanas de vida, a
criança
é
capaz de discriminar os sons do discurso do naodiscurso. Algo mais tarde, emerge o que parece ser o
contro-le voluntário sobre a frequência e o tipo de
vocalização.Es-ta aumenvocalização.Es-ta na presença de outras pessoas e a criança parece
vocalizar interagindo com os outros no seu meio
ambiente,pa-recendo distinguir as faces e as vozes, o familiar e o nao
familiar. Nesse período surge o balbucio, como forma vocal
de expressão comunicativa.
Condon e Sander (1974) - apud Aimard (l986)-em um
experimento com bebês recém-nascidos, observaram que, dentre
vários ruídos, apenas a voz humana leva a movimentos corpo
-rais; as estruturas rítmicas da palavra induzem a movimentos
sincrônicos pelo jogo de misteriosas sincronias interacio
nais. Nun êxperimento em que se observava o nível de
discri-minação da voz materna em bebês de 4 a 6 semanas concluiu-se
que estes reagem precocemente
ã
voz materna entoada e emi-tindo palavras significativas; chamou-se a atenção, assim,para os fatores prosódicos (Mehler, 1976; idem, ibidem).
A essa predisposição ou capacidade para discrimi
nar e compreender a voz humana soma-se o fato de que os adul
tos quando se dirigem a uma criança fazem uso de mímica e
atraem a atenção da criança, tanto que a essa natureza de
co-municação se dá o nome de "maternalês". Este parece ter dois
componentes principais: tem características diferentes ou
de-viantes do modelo adulto, resultando de imitações e repetições
da linguagem da criança, além disso, exibe modificações
tí-picas do modelo de fala adulto, particularmente nos nlvelS
...
.
paralinguísticos, traços sintáticos e traços do discurso (El-liot, 1982); o grau dessa modificação decresce com o aumento
da idade da criança (Snow, 1972).
Brown (1977) propôs a decomposição do maternalês
em dois componentes: um comunicativo e o outro afetivo,que o
adulto expressa ao se dirigir ao bebê.
Garnica (1977) também considera dois componentes
do maternalês: uma função analítica e outra social.
Ao se analisar o maternalês, pode-se observar
algu-mas propriedades gramaticais: a conversa da mãe com a criança
tem lugar no aqui e agora; suas frases são mais curtas e
sim-pIes, embora estejam gramaticalmente corretas - as formas
ex-pressas são os substantivos, os verbos, os adjetivos, ou
se-ja, as partes abertas; as partes omitidas são as inflexões,os
verbos auxiliares, os artigos, as preposições e conjunções,ou
seja, são as partes funcionais, cujas funções gramaticais são
mais evidentes que seu conteúdo semântico. Em outras palavras
se mantem as palavras de alta informação e se suprime as de
comunicação tem um estilo telegráfico (Brown e Belugi,
1974-apud Lenneberg, 1974).
Grande parte da regularidade da interação mae x
criança depende da contribuição da própria criança, Os
adul-tos, se questionados sobre o motivo da modificação da fala
com a criança afirmam que o fazem por razões pedagógicas.
As mudanças no interesse da criança por um
sis-tema fonêmico de linguagem coincide com o interesse em nomear
objetos e prozus mudanças previsíveis no modo como a mae
fa-la com a criança a fim de promover o estabelecimento de um
padrão sequencial de diálogo, o que ocorre em torno de
de-zoito meses ou até menos, e que se constitui num
prerrequi-sito para o desenvolvimento da linguagem; para tanto, a cada
nova aquisição as mães se tornam cada vez mais exigentes quan
to à aceitabilidade das vocalizações que são produzidas pela
criança, modelando gradualmente a linguagem. Assim, o papel
da mãe em ensinar a linguagem e seu uso
é
crucial na fase de modelagem, pois, estabelece constantes distinções entre oda-do e novo, o familiar e o não familiar. O resultada-do
é
uma es-trutura pressuposicional acerca do que em pergunta e do queo outro responde (Bruner, 1975).
As propriedades sintáticas da fala materna as
-sociada às intenções semânticas da criança que são levadas em
conta na medida em que a mãe dá continuidade ao tema
pro-dades estruturais da língua (Elliot, 1982). Observa-se que as
crianças cujas necessidades linguísticas são levadas em
con-ta tendem a começar a falar mais cedo e a desenvolver-se
re-gularmente em comparação àquelas que não tiveram a
correspon-dência de suas mães, que em contrapartida, apresentaram um
início tardio seguido muitas vezes, por um período de
silên-cio (Nelson, 1973).
A qualidade da interação mae x criança pode ser marcada ainda pela influência de variáveis da mae como: a
a-preciação do trabalho realizado fora de casa, a classe social
e cultura a que pertence, como demonstraram os estudos
abai-xo.
Bee (1978), num estudo de vários autores que
pesquisaram "o efeito do emprego da mãe sobre o
desenvolvi-mento da criança", observou a dimensão de satisfação no
tra-balho da mae, como uma medida que se relaciona à qualidade do
relacionamento mãe x criança, em função da "multiplicidade de
mães" que acarreta, dificultando a formação de um vínculo
es-tável, porém, acentuou que a mãe que aprecia o trabalho que
realiza tem condição de estabelecer um relacionamento de
me-lhor qualidade com os filhos em comparação
à
mãe que nãogos-ta do próprio trabalho.
Kagan (1971) estudou a importância da
crianças de quatro meses de idade: as primeiras só falavam
com seus filhos quando lhes dava cuidados, oferecendo
simul-taneamente
à
vocalização, estimulações táteis ecinestési-cas, enquanto que as segundas geralmente falavam com seus
fi-lhos, olhando-os face-a-face. Observou-se um desenvolvimento
precoce da fala nas crianças do grupo da segunda situação, no
primeiro ano de vida. Concluiu-se a partir desses resultados
que, o importante é a distintividade e a variedade da
estimu-lação sensorial que a criança recebe, ou seja, sua qualidade
mais que a quantidade.
Em um estudo de Caudill e Weinstein (1966)
re-lacionou-se o efeito das práticas educativas de mães
japone-sas e americanas: aquelas, são solícitas ao atender seus
fi-lhos, a quem procuram aquietar e tranquilizar, enquanto que
as últimas demoram mais a atender
à
solicitação dos filhos,dequem procuram manter-se afastadas e a quem procuram estimular
e tentam fazê-los vocalizar. Os resultados indicam que a
cri-ança japonesa é menos ativa e vocaliza menos que a
america-na.
2.2.4- Efeitos da Privação Maternal e da
Insti-tucionalização.
No início da década de 1940, Spitz observou o
comportamento de crianças pequenas, que haviam passado seu
primeiro ano de vida em instituições, nas quais a atenção e
inicialmente, nessas crianças, era o de choro continuado,que
era seguido, em período posterior por atitude de
indiferen-ça aos adultos e ao mundo.
Bowlby (1951), numa revisão de estudos de
cri-anças institucionalizadas, concluiu que cricri-anças vivendo em
instituições de cuidados grupais sofrem de gave "carência
ma-terna", entendida como falta de estimulação e de uma única
mãe, e responsável por deficiências cognitivas e emocionais.
Mussen et alii (1956) observaram o
desenvolvi-mento de crianças que vivem em instituições, deficientemente
dirigidas e equipadas, onde a criança permanece confinada a
seu berço, durante a maior parte do tempo, sem atividades
interativas com adultos estimuladores e constataram que
es-sas crianças vocalizavam menos, e eram socialmente menos res
ponsivas, apresentavam ,retardo na aquisição da linguagem e
prestavam menor atenção às mudanças à sua volta se
compara-das a crianças criacompara-das no lar, pela própria família.
Observou-se deficiências intelectuais e de
linguagem em crianças que em idade precoce foram submetidas
a creches onde se oferecia apenas os cuidados básicos e onde
a proporção de crianças por atendente chegava a 1:24(Peaslee,
1976) - apud Clarke-Stewart (1983).1
Bochner (1983) realizou um experimento com
crian-ças intelectualmente desavantajadas e que passaram por longo
período de hospitalização, desde as primeiras semanas de vida;o
objetivo de seu trabalho foi observar o efeito da privação
de estImulos ambientais sobre o processo de aquisição da
lin-guagem. Os resultados indicam um atraso no desenvolvimento de
habilidades comunicativas, quando comparadas aos de crianças
que não sofreram essa experiência.
Provence e Lipton (1962) observaram crianças
criadas em ambiente institucional americano, onde os cuidados
alimentares e higiênicos eram adequados, enquanto o jogo
inte-rativo e as oportunidades para explorações e contato íntimo com
um adulto eram inadequados.
Comparando os resultados dessas crianças aos de
outras criadas por suas famIlias, não se notou diferenças
sig-nificativas até os três ou quatro meses de vida; daI em diante,
pôde-se observar que, em relação às crianças de lares normais ,
as crianças institucionalizadas vocalizavam pouco, não
gorjea-vam, não balbuciavam e choravam pouco; quando apanhadas ao
co-lo, em geral não se acomodavam aos braços da pessoa. A partir
do oitavo mês de vida observou-se nessas crianças, uma
dimi-nuição do interesse pelo meio circundante e a partir dos
seis meses, um aumento no comportamento auto-estimulatório de
se balançar, pouca ansiedade frente a estranhos, pouca
ex-pressividade nas expressoes faciais e atraso na aquisição da
Tizard & Tizard (1971) compararam o
desenvolvimen-to social e cognitivo de crianças de qois anos de
idade,pro-venientes, na primeira situação, de creches, desde os
tro meses de idade e na segunda, de famílias comuns.
qua-As crianças que viviam em casa tinham na mae sua
figura de apego,
à
qual, frequentemente acompanhavam pela c~sa. Comparativamente, as crianças que viviam em creches
mos-travam um comportamento difuso de apego, com relação e um nú
mero indeterminado de pessoas; mostravam-se mais ansiosas e
angustiadas com relação
à
figura preferida e apresentavammaior medo de pessoas estranhas; demos travam, ainda, maior
hesitação, tentativas de fugir e choro; nenhuma delas
sor-ria ou conversava com a pessoa estranha, como as
criadas em família.
crianças
Em um rigoroso estudo experimental realizado com
bebês institucionalizados, aos seis meses de idade,Rheingold
(1956) comparou os resultados de um grupo de bebês submeti
-dos
à
condição especial de poder contar a presença de umafigura subsidiária afetuosa e socialmente estimuladora, aos
de outros bebês que não dispunham dessa figura de apego e,
pôde observar que, as condutas aprendidas em função da
pri-meira situação podem se generalizar a outras pessoas, além
de afetar, sensivelmente, o comportamento social. A
investi-gadora acreditava que, o fator crítico, responsável pela
mu-dança na responividade social dos bebês experimentais, tenha
entre a criança e o adulto.
Em urna pesquisa sobre a estimulação verbal
ex-tra oferecida pelas pagens de um orfanato inaniano aos bebês
durante a fase prelinguística, observou-se que tiveram um
crescimento bastante rápido de vocabulário no desenvolvimento
posterior (Hunt, 1976; Pines, 1979 - apud Bee, 1984).
Realizando um estudo comparativo sobre as
con-dições de atendimento das creches e sua influência sobre o
desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças Penna et
alii (1985) chegaram a resultados indicativos de que as
con-dições inadequadas de atendimento não se mostram prejudiciais
ao desenvolvimento infantil. Isto pode evidenciar o aspecto
positivo e próprio da creche: o convívio socializado,da crian
ça de baixa idade. Sugeriram, no entanto, que esses resulta
-dos poderiam ser diferentes caso não se tratasse de regime de
internato, onde a criança tem oportunidade de conviver com a
figura de apego, a mãe.
Estudos que acompanhavam o desenvolvimento
cog-nitivo de crianças atendidas por creches de alto padrão
indi-caram que seu desempenho corresponde ao de crianças que
per-maneceram apenas em seu lares (Adamson, 1971; Dayle, 1975
Dayle & Somers, 1973; Baber & Egehand, 1982; Larson,
1973;Ru-benstein & Howes, 1979; Taylor, 1976) - apud Penna et alii
A revisão da literatura evidenciou a importância da
figura materna como primeiro elemento de interação afetiva e
social da criança, em consequência, observou-se um consenso
entre os te6ricos, relativo aos efeitos adversos da privaç50
materna precoce para o desenvolvimento psicológico posterior.
No caso específico do desenvolvimento da pre-linguagem,
rela-cionou-se os atrasos na aquisição e a limitação do repertório
entre outras às variáveis: qualidade da interação mãe e cria~
ça, estimulação ambiental, predisposição inata, costumes so-
..
cio-culturais, além da presença da mãe.
No presente estudo, no entanto, objetivou-se espec~
ficamente, aferir a influência quantitativa da interação
e criança para o desenvolvimento prelinguístico.
-mae
Este objetivo se reveste de importância, na medida
em que se atua do ponto de vista continuista, em que se
en-tende o desenvolvimento da linguagem como um processo que
in-clui também a pre-linguAgem.E este foi o ponto de vista
ado-tado no presente estudo.
Propôs-se, operacionalmente, comparar o desempenho
prelinguístico de grupos de crianças submetidas a três
con-dições distintas: com interação materna em tempo integral
em tempo parcial ou com nenhuma interação, para verificar se
o desempenho prelingu!stico seria influenciado, em
algu-ma medida, por essas variações. Para tanto, levantou-se as
seguintes questões:
- Observa-se diferença significativa no desempenho
prelingu!stico de crianças que são internas na creche e
cu-jas mães estão ausentes ou são ignoradas, quando comparado
ao daquelas que permanecem na creche apenas enquanto suas
mães trabalham fora em tempo integral?
- Observa-se diferença significativa no desempenho
prelinguístico de crianças que permanecem na creche enquanto
suas mães trabalham fora em tempo integral, quando se
compa-ra ao daquelas cujas mães não tcompa-rabalham focompa-ra?
- Observa-se diferença significativa no desempenho
prelingu!stico de crianças que permanecem na creche
enquan-to suas mães trabalham fora em tempo integral quando
compa-rado ao daquelas que são internas na creche e cujas mães
es-tão ausentes ou são ignoradas?
3.3- Hipótese
A
Uma vez especificado o problema propos-se a
- A quantidade de interação da mae com a criança
in-fluencia a frequência das produções prelinguísticas desta, no
período compreendido entre nove e quinze meses.
A hipótese nula correspondente ficou assim
formula-da:
- A quantidade de interação da mae com a criança nao
influencia a frequência de produções prelinguísticas desta, no
período compreendido entre nove e quinze meses.
3.4- Definição Operacional dos Termos
Procurou-se definir, operacionalmente, os termos
com acepção especial ou muito específica utilizados no texto
e nas escalas de avaliação, tanto do Estudo-Piloto como do
Ex-perimental.
De acordo com a referência classificou-se os termos
em três categorias: a da variável independente, a das
variá-veis dependentes que incluem expressões motoras e vocais e a
que se refere a vários significantes que se denominou outros
termos.
3.4.1- Variável Independente
Tempo de interação:
se encontra a criança.
3.4.2- Variáveis Dependentes
Ação conjunta:
Manifestações comportamentais de dar o tomar
ob-jetos, repetidamente.
Acariciar:
Deslizar as mães sobre o rosto ou corpo da mae
ou atendente, lenta e suavemente; encostar-se ou esfregar- se
nela; bei já-la.
Agi tar:
Realizar movimentos rápidos e repetitivos com
os braços e/ou pernas, segurando objetos ou nao.
Andar:
Locomover-se em posição ereta ou inclinada para
a frente com o apoio das mãos da mãe que acompanha ou
encami-nha a marcha.
Apertar:
Jogar objetos, impingindo-lhes alguma forma, em
Balançar a cabeça:
Realizar movimentos horizontais e/ou verticais
com a cabeça, de forma rãpida ou apenas meneando-a.
Bater:
Dar pancadas com as maos, pés ou com objetos.
Choramingar:
Emitir sons semelhantes ao do chôro, sem
lã-grimas.
Chorar:
Derramar lágrimas acompanhadas de soluços,
ge-midos ou suspiros.
Dar:
Estender o braço oferecendo objetos ou empur
-rã-los para a mãe ou atendente.
Deixar cair:
Soltar um objeto das maos para observar sua
queda.
Engatinhar:
Estalar a língua:
Emitir sons por pressão e deslocamento da
lín-gua na boca.
Estender os braços:
Direcionar os braços
ã
mae ou atendente.Fazer careta:
Contrair os músculos da face realizando
tre-jei tos.
Fazer bico:
Estender os lábios com os músculos contraidos.
Fazer birra:
Insistir na obtenção de algo ou recusar-se a
fazer ou entregar algo, com obstinação.
Gargalhar:
Rir de forma ruidora e convulsiva.
Gracejar:
Emitir risos olhando para a mae ou atendente
tocando-a ou jogando-lhe objetos.
Inclinar-se:
,
mãe ou atendente, ou objetos.
Indicar:
Apontar o dedo indicador em direção a algo
so-bre o qual procura chamar a atenção.
Morder:
Apertar com as gengivas, lábios ou dentes a
objetos colocados na boca.
Movimentar a boca:
Realizar movimentos com os lábios abrindo-os e
fechando-os ou tornando-os proeminentes; movimentar a IIngua
estendendo-a ou tocando as gengivas e os lábios,
silenciosa-mente.
Soprar:
Emitir o ar de forma ruidos através da boca ou
nariz.
Sorrir:
Emitir gracejos de forma espontânea, sem motivo
aparente ou de forma diferenciada, contingente a algum com
-portarnento da mãe ou ocorrência ambiental.
Tocar uma superfrcie com os dedos ou com um
ob-jeto.
Tomar:
Apossar-se de objetos que estão com a mae ou
atendente.
b}- Vocalizações:
Arrulhar:
Emitir sons breves e em tom baixo, semelhantes
aos do pombo.
Balbuciar:
Emitir pelo menos duas srlabas consoante-vogal
repetidas.
Gorjear:
Emitir sons melódicos, variando os tons.
Gritar:
Emitir sons em tons intensos e isolados.
Resmungar:
c)- Outros termos:
Atendente:
Pessoa que dá cuidados (alimenta, troca
fral-das, dá banho, acalenta) e que intrage (conversa, sorri
troca objetos) habitualmente com a criança; refere-se
à
en-carregada na creche.Creche assistencial:
Local que acolhe crianças entre I mês e 6
anos de idade, oferecendo-Ihes os cuidados necessários
dia-riamente ou em caráter permanente, sem ônus para os pais ,
uma vez que
é
mantida por recursos do Estado e/ou da comu -nidade.Creche familiar:
Instituição que tem como objetivo oferecer um
ambiente o mais parecido possível com o familiar, e
tanto tenta reproduzi-lo.
Creche pedagógica:
para
Instituição que tem intenção educativa e
pro-grama de ensino sistemático.
Educação autoritária:
Educação centrada no poder e autoridade do
Educação democrática:
Educação centrada nas necessidades da criança e
na interação adulto x criança, tendo limites e princípios fIe
xíveis.
Educação permissiva:
Educação não centrada no poder do adulto e nem
nas necessidades da criança, sem limites ou princípios nortea
dores.
Figura materna estável:
Pessoa que dá cuidados e interage com a criança
a maior parte do tempo e que se torna a pessoa preferida da
criança, o que se torna evidente pela frequência com que a
criança se dirige a ela.
Interação natural:
Relação desprogramada entre adulto e criança,em
que a iniciativa e condução do processo pode provir de
qual-quer um dos participantes.
Interno:
Criança que permanece na creche por tempo
inde-terminado, ali fazendo suas refeições, recebendo cuidados e
Mãe aus ente:
Mãe ignorada ou com endereço incerto, ou
ain-da, que por razões variadas deixa o próprio filho a cargo
da creche, por tempo indeterminado.
Mãe em tempo integral:
Mãe que não trabalha fora ou em casa em
ativi-dade regular remunerada, podendo dis?or de seu tempo para
interagir com o filho como lhe aprouver.
Mãe em tempo parcial:
Mãe que trabalha fora, numa jornada de pelo
menos oito horas diárias permanecendo com a criança após o
retorno do trabalho.
Objetos: .
Brinquedos, utensílios ou móveis distribuidos
no espaço onde se realiza a observação.
Observador:
....
Pessoa que organiza e executa as sessoes e
re-gistros de observação.
Trabalhar fora:
Exercer, regularmente, durante um período de
-A amostra compos-se de doze crianças, de ambos
os sexos, com idades compreendidas entre nove e quinze
me-ses, nascidas a termo, sem antecedentes de doenças graves
ou de comprometimento neurológico e provenientes da classe
sócio-econômica baixa.
Distribuiu-se
a
amostra em três grupos deacor-do com as condições de interação da mãe com a criança:
Grupo 1:
- Quatro crianças do sexo masculino, que
perma-neciam na creche em regime de internato, tendo mães ausentes
ou ignoradas.
Grupo 2:
- Quatro crianças, duas do sexo masculino e
duas do feminino que permaneciam na creche durante uma média
Grupo 3:
Quatro crianças, três do sexo masculino e urna
do feminino que permaneciam nos próprios lares, tendo maes
em tempo integral.
Duas outras crianças se submeteram a
observa-çao nos estudos exploratórios: uma, do sexo feminino,com dez
meses de idade e proveniente de uma creche particularioutra ,
do sexo masculino, com quinze meses de idadei ambas apresen
tavam características compatíveis com .a amostra.
1.1- Critérios Estabelecidos para a Seleção da
Amostra
a)- Número:
A delimitação quantitativa da amostra nao foi
fixada previamente, mas ateve-se
ã
disponibilidade decrian-ças da creche que correspondiam às características
previamen-te estipuladas, contudo, dada a evasão de crianças da creche,
esse número sofreu reduções no decorrer da pesquisa, de modo
que, o número resultante é que definiu o das crianças
prove-nientes da situação familiar.
A escolha foi aleatória em relação a essa variável,
dada a precocidade de idade com que as crianças foram observa
das e urna vez que nesta fase, as manifestações
masculinas ou femininas são irrelevantes.
tipicamente
c)- Idade:
A faixa etária delimitada entre nove e quinze
me-ses foi considerada adequada ao propósito do estudo, com base
na observação de que a maior frequência e variedade de
produ-ções prelinguísticas ocorrem nessa fase, que precede o
apare-cimento das primeiras palavras.
d}- Nascimento a termo:
Entendido como a ocorrência do parto a partir da
trigésima oitava semana de gestação. O controle dessa var1a-,"
vel teve como objetivo evitar a inclusão de crianças portad~
ras de disfunções cerebrais mínimas ou mais severas, decorren
tes de nascimento prematuro. que comprometessem o desenvolvi
-mento prelinguístico.
e)- Classe sócio-econômica:
Considerou-se que para atender a esse critério, as
crianças deveriam provir de lares cujas rendas mensais nao
ultrapassam dois salários mínimos regionais e que a creche ti