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Algumas considerações sôbre o problema da rubéola no município de São Paulo.

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Academic year: 2017

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROBLEMA DA RUBÉOLA

NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

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Luís G. COTILLO Z. (2)

José Antonio Alves dos SANTOS (3)

Fazem-se algumas considerações sobre o problema da rubéola no município de São Paulo. São apresentados os 287 casos de rubéola notificados de 1951 a 1966. A distribuição sazonal destes casos parece indicar que a maior ocorrên-cia dá-se nos meses de setembro e outubro, correspondentes à primavera, con-forme têm sido descrito para outros países. O aumento do número de casos no-tificados em 1955 e 1962 pareceria mostrar que os ciclos de maior incidência de casos nesta comunidade também guardam o intervalo de 7 anos, embora se apre-sente novo aumento em 1966. São feitas recomendações sobre a necessidade de se realizar inquéritos sôro-epidemiológicos para um melhor conhecimento da distribuição desta doença no município de São Paulo.

(1) Da Cadeira de Microbiologia Aplicada e da Cadeira de Administração Sanitária da Fa-culdade de Higiene e Saúde Pública da USP.

(2) Da Cadeira de Microbiologia da FHSP e da Cadeira de Microbiologia da Facultad de Farmacia y Bioquímica, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Perú. (3) Da Cadeira de Administração Sanitária da FHSP.

I N T R O D U Ç Ã O

A chegada da Segunda Grande Guerra, com a movimentação de enormes massas populacionais, alterou no mundo inteiro a epidemiologia de algumas doenças, fa-zendo aparecer mesmo grandes epidemias. Assim é que em 1941 um oftalmologista australiano, Gregg (WELLER & neva11, 1965) publicou as suas observações sôbre uma epidemia de rubéola, que atingindo as gestantes nos primeiros meses de gra-videz, condicionou o aparecimento de mui-tos casos de catarata e outras malforma-ções congênitas.

Este fato deu lugar a uma nova orien-tação clínica e de Saúde Pública sôbre esta doença exantemática. Mas, uma vez que não se contava com o auxílio de

téc-nicas adequadas para isolar o vírus assim como determinar a presença ou ausência de anticorpos nos indivíduos afetados, foi só recentemente, graças às técnicas descri-tas por PARKMAN, BUESCHER,

ARTENS-tein6 (1962) e p o r WELLER & N E V A 1 0

(1962), que simultaneamente descreveram dois métodos para o isolamento do vírus da rubéola, que se pôde, através do la-boratório, elucidar quadros clínicos duvi-dosos, verificar a incidência desta infec-ção nas comunidades e, sobretudo, deter-minar a participação do vírus da rubéola nas malformações congênitas.

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materna se dá no primeiro trimestre da gestação, o que acontece em cerca de 17 a 20% dos casos.

campbell2 (1961) indica que os ris-cos de abôrto e malformações congênitas estão por volta de 30 a 70% para as ges-tantes expostas durante as primeiras 4 se-manas de gravidez, declinando para 10 a 25% durante as 4 semanas seguintes. tartakow8 (1965) estima as porcenta-gens de crianças nascidas com defeitos após a infecção materna ocorrida no pri-meiro mês de gestação como sendo de 10 a 50%; para o segundo mês, de 14 a 25% e para o terceiro mês, de 6 a 17%.

Tudo isto torna necessária a realização de estudos epidemiológicos no intuito de determinar a incidência desta doença — e, principalmente, das suas conseqüências — em cada comunidade, a fim de se po-der estabelecer as bases para a sua pro-filaxia.

Uma vez que não se têm notícias de nenhum inquérito epidemiológico deste ti-po no Brasil e dada a imti-portância que vêm adquirindo, dia a dia, os estudos sobre a infecciosidade do vírus, resolvemos realizar o presente trabalho, baseados nos dados fornecidos pela Seção de

Epidemio-logia e Profilaxia Gerais (S.E.P.G.) da Secretaria da Saúde Pública do Estado

de São Paulo e referentes aos casos noti-ficados exclusivamente na Capital.

Casos registrados de rubéola no município de São Paulo por distritos e sub-distritos,

de 1951 a 1966

Apresentamos na Tabela 1 os dados ob-tidos na S.E.P.G., sobre os 287 casos no-tificados de rubéola nos diversos distritos e sub-distritos do município de São Pau-lo de 1951 a 1966. A observação dos da-dos apresentada-dos nesta tabela nos mostra que esta doença foi notificada na maioria dos distritos e sub-distritos neste período.

Distribuição sazonal dos casos notificados de rubéola de 1951 a 1966

Com a finalidade de verificar a distri-buição mensal dos casos de rubéola notifi-cados no município de São Paulo de 1951 a 1966, apresentamos a Tabela 2, na qual pode ser observado que o número de ca-sos notificados é sensivelmente maior nos meses de agosto, setembro, outubro e no-vembro, especialmente em outubro. Neste, foram conhecidos 59 casos, número muito maior que a média mensal, que foi de praticamente 28 casos. Esta distribuição se encontra gráficamente na Figura 1.

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Distribuição dos casos notificados de ru-béola de 1951 a 1966, segundo o grupo etário e sexo

A distribuição dos casos de rubéola nos anos estudados, segundo os diversos gru-pos etários, se encontra na Tabela 3 na qual pode ser observado que no grupo de 0 a 4 anos se notificaram 73 casos des-ta doença, no de 5 a 9 anos, 50 casos, no de 10 a 14, 30 casos e no grupo de 15 a 19 se encontram 42 casos. Os grupos etários mais altos apresentam menor nú-mero de casos.

Estes resultados não acompanham a dis-tribuição assinalada por INGALLS 5 (1960) que indica que os grupos etários mais atin-gidos são os compreendidos até os 15 anos de idade, especialmente naqueles que com-preendem os indivíduos em idade escolar, uma vez que na distribuição dos casos notificados no município São Paulo o grupo etário de 15 a 1 nos apresenta maior número de casos que o de 10 a 14. Todavia, o pequeno número de casos de ambos os grupos não permite concluir definitivamente sobre esta distribuição, fazendo-se necessário estudar esta popula-ção por um período mais longo.

No que se refere ao sexo a notificação dos casos no município de São Paulo,

apre-senta o seguinte comportamento: de 1951 a 1966 ocorreram 122 (42,5%) notifica-ções de casos de rubéola no sexo masculi-no e 165 (57,5%) masculi-no sexo feminimasculi-no. A distribuição por ano segundo o sexo pode ser observada na Tabela 4.

A Figura 2 apresenta a distribuição anual dos casos notificados de rubéola considerados separadamente por sexo ou em conjunto. Neste gráfico pode ser ve-rificado que há uma primeira elevação dos casos notificados em 1955 e outra mais acentuada em 1962, as quais guar-dam entre si o intervalo de 7 anos vado em outros países. Entretanto, obser-va-se novo aumento acentuado em 1966.

D I S C U S S Ã O

Sendo a rubéola urna doença benigna, para a qual, geralmente, não se recorre à assistência médica, e sabendo-se que, para doenças deste tipo, a notificação deixa mui-to a desejar, os dados aqui apresentados deverão ser tomados com a devida cau-tela, uma vez que acreditamos que eles representam apenas uma parcela da rea-lidade, mas parece não restar dúvida que, embora deficitários, acompanham as flu-tuações reais da incidência da rubéola neste município.

O pequeno número de casos notificados no município de São Paulo (para uma po-pulação atualmente calculada em quase 5 milhões de habitantes) nos leva a afir-mar que a notificação desta doença deve ser muito precária, pois a rubéola é, como se sabe, uma doença bastante comum e a incidência no município de São Paulo deve ser muito maior, COTILLO 3 (1967) encontrou que 79,4% das mulheres grá-vidas de 15 a 19 anos mostravam anticor-pos neutralizantes em níveis protetores e nos grupos de 20 a 29 e 30 a 39, 76,4% e 79,9%, respectivamente, de gestantes re-velaram anticorpos.

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Estatística do Estado de São Paulo e se para exemplificarmos tomarmos como ín-dice de contatos com o vírus da rubéola a porcentagem de 79,4% das gestantes com anticorpos desse estudo, poderiamos esperar que nestes 19 anos (de 1948 até 1967) teriam ocorrido, neste grupo, 389.926 infecções aparentes ou inaparen-tes de rubéola, supondo-se que a incidên-cia tivesse sido a mesma para ambos os sexos. Levando-se em conta que, segundo alguns, existem 9 casos aparentes por 1 inaparente em epidemias ou ainda 7 ina-parentes por 1 aparente em épocas inter-epidêmicas ( B R O D Y1, 1965) e tomando-se como verdadeira esta última hipótese,

te-ríamos, ainda assim,

casos de rubéola clínica.

Se êstes 48.740 casos se tivessem distri-buídos uniformemente, durante os 19 anos, de 1948 até 1967, encontrar-se-iam 2.565 casos por ano, unicamente para este gru-po etário, sem levar em consideração que os outros grupos populacionais, ao que tudo parece indicar, estão sujeitos a riscos semelhantes de contrair a doença, o que demonstra que, de fato, a notificação não acompanha a incidência desta doença na comunidade.

Por outro lado, tivemos comunicações pessoais de diretores de escolas, de inúme-ros casos de rubéola ocorridos no ano pas-sado e no corrente ano, principalmente nos meses de agosto, setembro e outubro. Neste ano, unicamente no Centro de Apren-dizado Urbano da Faculdade de Higiene e Saúde Pública, tivemos oportunidade de estudar 25 casos de rubéola, confirmados no laboratório. (COTILLO et alii4).

Podemos tomar ainda como exemplo o caso de algumas comunidades de vários países em que aparentemente a incidência pareceria ser muito mais elevada que em nosso meio. Só no estado de Massachu-setts (WELLER, ALFORD, NEVA 9, 1965)

dos Estados Unidos, após 4 anos de baixa prevalência da doença, quando o número-ro anual máximo alcançado foi de 6.443 casos, o referido número passou para 11.739 em 1963 e 37.105 em 1964, indi-cando que pelo menos 10% da população desse estado (aproximadamente 500.000 pessoas) tiveram contato primário com este agente, neste período de 1963 a 1964. SIGURJONSSON 7 apresenta para a Is-lândia, com cerca de 150.000 habitan-tes, os seguintes dados sobre notificação de casos de rubéola: em 1951, 75 casos; 1952, 41; 1953, 38; 1954, 2.453; 1955, 1.442; 1956, 353 e 1957, 73 casos, verifi-cando-se que mesmo para uma população relativamente pequena como esta a inci-dência de rubéola em determinados pe-ríodos é bastante grande.

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C O N C L U S Õ E S

Das considerações apresentadas no pre-sente trabalho pode-se concluir que:

1) A incidência da rubéola no municí-pio de São Paulo não é conhecida, uma vez que o número de notifica-ções deve estar muito abaixo do nú-mero real de casos.

2) A distribuição sazonal dos 287 ca-sos notificados desde 1951 até 1966 neste município parece acompanhar a distribuição assinalada em outros países para esta doença, isto é, inci-dência marcadamente maior na pri-mavera.

3) A distribuição por grupo etário pa-receria não concordar com as obser-vações apresentadas por outros pes-quisadores.

4) Somente inquéritos sôro-epidemioló-gicos em larga escala, que abranjam todos os grupos etários; desta comu-nidade, permitirão saber da verda-deira prevalência desta infecção.

S U M M A R Y

The present paper considers some pro-blems related to rubella in the city of São Paulo, S.P., Brazil. The cases reported over the period of 1951 to 1966 (287) are presented and analysed. Seasonal dis-tribution shows a higher incidence during September and October, that is, during Spring, agreeing with what has been ob-served in other countries. The increase in incidence in 1955 and 1962 seems to suggest that 7 year cycles present them-selves here too, although there was also an increase in 1966. Epidemiologic surveys based on serum examination are recomen-ded so that a better knowledge of the dis-tribution of rubella may be achieved in our city.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BRODY, J. A. et alii — Rubella epidemic on St. Paul Island in the Pribilofs, 1963. I. Epidemiologic, clinical and serologic íindings. J.A.M.A., 191(8): 619-623, Feb., 1965.

2. CAMPBELL, M. — Place of maternal ru-bella in the aetiology of congenital heart disease. Brit. med. J., 1(5227): 691-696, Mar. 1961.

3. COTILLO Z., L. G. — Nível de anticorpos neutralizantes contra rubéola num grupo populacional de gestantes de São Paulo. São Paulo, 1967. (Tese Doutoramento — Fac. Farm. Bioq. U.S.P.)

4. []et alii — Isolamento do vírus da rubéola em casos clinicamente diagnosticados em São Paulo, Brasil, (em vias de publicação).

5. INGALLS, T. H. et alii — Rubella: its epidemiology and teratology. Amer. J. med. Sci., 239(3):363-383, Mar. 1960.

6. PARKMAN, P. D.; BUESCHER, E. L.; AR-TENSTEIN, M. S. — Recovery of rubella virus from army recruits. Proc. Soc. exp. Biol. Med., 111(1): 225-232, Oct. 1962.

7. SIGURJONSSON apud INGALLS5.

8. TARTAKOW, I. J. — The teratogenicity of maternal rubella. J. Pediat., 66 380-391, 1965.

9. WELLER, T. H.; ALFORD Jr., C. A.; NEVA, F. A. — Changing epidemio-logic concepts of rubella, with parti-cular reference to unique characte-ristics of the congenital infection. Yale J. Biol. Med., 37(3): 455-472,

Jun. 1965.

10. [] & NEVA, F. A. — Pro-pagation in tissue culture of cytopa-thic agents from patients with re-bella-like illness. Proc. Soc. exp. Biol. Med., 111(1): 215-225, Oct., 1962. 11. [] & NEVA, F. A. —

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