• Nenhum resultado encontrado

Crescimento da firma, diversificação e internacionalização: um estudo de casos das empresas brasileiras de construção de infraestrutura

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Crescimento da firma, diversificação e internacionalização: um estudo de casos das empresas brasileiras de construção de infraestrutura"

Copied!
56
0
0

Texto

(1)

Faculdade de Ciências e Letras

Departamento de Economia

MONOGRAFIA

Curso de Ciências Econômicas

CRESCIMENTO

DA

FIRMA,

DIVERSIFICAÇÃO

E

INTERNACIONALIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASOS DAS

EMPRESAS

BRASILEIRAS

DE

CONSTRUÇÃO

DE

INFRAESTRUTURA

Graduando:

Wellington Nascimento Gusmão

(2)

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP

Faculdade de Ciências e Letras de Araraqura - FCLAr

Curso de Ciências Econômicas

MONOGRAFIA

CRESCIMENTO

DA

FIRMA,

DIVERSIFICAÇÃO

E

INTERNACIONALIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASOS DAS

EMPRESAS

BRASILEIRAS

DE

CONSTRUÇÃO

DE

INFRAESTRUTURA

Graduando: Wellington Nascimento Gusmão

Orientador: Prof. Dr. Rogério Gomes

Departamentode Economia UNESP

Banca examinadora:

Profª. Drª. Tatiana Massaroli de Melo

Departamento de Economia UNESP

(3)

RESUMO

O papel que as empresas de infraestrutura Odebrecht, Camargo Correa e Andrade Gutierrez desempenham no interior da economia brasileira materializa-se na geração de empregos, na acumulação de capital e na diversificação de suas atividades, adquirindo, inclusive, empresas e ativos estatais. Fora do Brasil essas empresas também figuram entre as maiores do mundo em seu setor. Existe algum padrão no comportamento dessas empresas? Como elas cresceram? Por que se diversificaram? O que motiva a internacionalização dessas empresas e quais são as estratégias adotadas por elas nos mercados estrangeiros? A tentativa de elucidar essas questões resultou em um trabalho que observa padrões nos processos de crescimento e diversificação, porém não consegue encontrar um padrão bem definido nos processos de internacionalização.

(4)

ABSTRACT

Contractors Odebrecht, Camargo Correa and Andrade Gutierrez play an important role in Brazil’s economy stressed by the number of jobs they add, capital accumulation and diversification through the acquisition of state firms and assets. Abroad, they rank among the top companies in the industry. Is there a behavioral standard among these firms? How did they grow? Why did they diversify? What triggers them to internationalization and what are the strategies they adopt in the foreign markets? The attempt to shed light on these questions resulted in the observation of patterns inside Brazilian market as they grew and diversified, but such a pattern could not be detected in the internationalization process.

(5)

Sumário

1 Introdução ... 5

2 A Dualidade Serviço-Indústria ... 6

2.1 Crescimento, Diversificação e Intercionalização: proposta de um quadro teórico ... 8

2.2 Crescimento ... 9

2.3 Diversificação ... 14

2.4 Intercionalização ... 16

3 Setor, História, BNDES e Empresas ... 20

3.1 Canal de Suez ... 22

3.2 Características Gerais ... 22

3.3 Mercado Mundial ... 24

3.4 Histórico do setor de construção no Brasil ... 26

3.5 BNDES ... 29

3.6 Dossiê do Grupo Andrade Gutierrez ... 32

3.7 Dossiê do Grupo Camargo Corrêa ... 34

3.8 Dossie da Organização Odebrecht ... 36

4 Resultados e discussões ... 39

4.1 Análise de Crescimento ... 39

4.1.1 Casos de Itaipu ... 39

4.1.2 Belo Monte ... 41

4.2 Análise de Diversificação ... 43

4.2.1 Caso CAG ... 45

4.2.2 Caso CCC ... 46

4.2.3 Caso CNO ... 47

4.3 Análise de Intercionalização ... 49

4.3.1 Caso CAG ... 50

4.3.2 Caso CCC ... 50

4.3.3 Caso CNO ... 50

5 Considerações Finais ... 51

(6)

Índice de Figuras

Figura 1: Fases de Uma Obra de Infraestrutura ... 7

Figura 2: Quais Fatores Influenciam o Processo de Internacionalização ... 17

Figura 3: Segmentação Geral da Cadeia de Construção ... 23

Figura 4: Organograma Andrade Gutierrez ... 45

Figura 5: Organograma do Grupo Camargo Correa ... 47

Figura 6: Organograma da Norberto Odebrecht ... 48

Índice de Tabelas

Tabela 1: Os Tipos de Aprendizado da Firma e seu Lócus ... 14

Tabela 2: Tipos de Aprendizado e Mudanças Técnicas Incrementais ... 14

Tabela 3: O que as Firmas Buscam no Exterior ... 17

Tabela 4: Participação dos Componentes da FBCF sobre o Total (%) ... 21

Tabela 5: Maiores Construtoras – Total de Receitas em 2012 (US$ milhões) ... 24

Tabela 6: Maiores Construtoras – Receitas no Exterior em 2012 (US$ milhões) ... 25

Tabela 7: Segmentos de Atuação das Empresas de Infraestrutura ... 44

Tabela 8: Primeiras Experiências no Exterior ... 49

(7)

1 Introdução

O Brasil atravessou, no início do século, um ciclo de estabilidade macroeconômica que gerou muitos benefícios para as empresas de capital nacional. Internamente, o crédito foi ampliado, enquanto a renda média do brasileiro aumentava. Externamente, a dívida em moeda estrangeira foi controlada, novos mercados abriram-se aos produtos brasileiros e grandes parceiros comerciais estreitaram suas relações com nossa economia.

Agora figurando na sétima posição entre os países mais ricos do mundo, o Brasil recebe um novo olhar do mundo: somos um país (1) com grande potencial em diversos setores e (2) de onde emana um desejo intenso de maior crescimento econômico. Assim, um grande número de empresas estrangeiras passou a direcionar seus investimentos para nosso país através de fusões e aquisições – ainda são poucos os casos de investimentos greenfields (que constroem novas empresas).

Resumidamente, a concorrência estrangeira baseia sua competitividade em tecnologia, economias de escala e acesso facilitado a financiamentos externos – vantagens superiores àquelas do mercado brasileiro. Mesmo diante das adversidades, alguns grupos nacionais conseguiram manter suas posições no mercado nacional. Esses grupos representam o lado forte do capitalismo brasileiro. Eles detêm fatias significativas do mercado nacional geralmente nas atividades industriais de baixa e média baixa tecnologia.

A internacionalização de alguns desses grupos chamou a atenção da mídia e de pesquisadores nos últimos anos. Seria possível para uma empresa nacional dar prosseguimento a um processo de internacionalização? Quais seriam os limites de tal processo? Por que os grupos nacionais querem se internacionalizar?

Diante dessas dúvidas, muitos economistas resgataram, com o objetivo de conhecer casos de sucesso e de fracasso, os estudos sobre os resultados e os motivos que levaram ao fenômeno de internacionalização do setor de construção civil brasileiro, na década de 1980. Esta pesquisa é uma pequena contribuição para as discussões que surgiram desde então. Aqui serão exploradas as estratégias de internacionalização desde a busca por diferentes ativos até a manutenção das atividades no exterior, passando também pelas formas de penetração adotadas pelas três maiores empresas de Infraestrutura brasileiras: as construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Norberto Odebrecht.

(8)

pouco da história do BNDES são apresentados em seções divididas por temas em comum.

No segundo capítulo, o objetivo é apresentar uma revisão bibliográfica compatível com os temas de crescimento das firmas, diversificação produtiva e internacionalização. No entanto, um recorte que alinhasse melhor essa literatura ao contexto do setor de construção de Infraestrutura pareceu bastante oportuno e se apresenta na forma de frameworks (tentativas de criar um modelo

teórico de abordagem a partir da literatura já consagrada).

O último capítulo apresenta os resultados do confronto entre os frameworks teóricos e as

informações levantadas sobre cada uma das empresas. Dividido em seções que exploram cada um dos temas dos frameworks, o capítulo discute o crescimento da firma tanto a partir das informações

constantes no primeiro capítulo quanto a partir de dois exemplos importantes: a construção de Itaipu e a construção de Belo Monte. Sobre a diversificação, a apresentação das atividades e empresas envolvidas foi desenvolvida com o propósito de simplificar a argumentação. Por sua vez, a seção sobre o processo de internacionalização encerra o capítulo com a apresentação das atuações das empresas ao redor do mundo e quais são suas estratégias.

Finalmente, importa destacar que a internacionalização, a exemplo da diversificação, é uma fase do crescimento da firma. Portanto, a relação entre cada um dos processos estudados no terceiro capítulo é muito próxima e não poderia deixar de ser: eles são, na verdade, um mesmo processo dividido em três dimensões diferentes.

2 A Dualidade Serviço-Indústria

Existe uma grande confusão quanto ao uso da palavra indústria no contexto da construção civil: ela não significa que a construção seja considerada uma atividade industrial. Na verdade, o termo “indústria” é largamente utilizado como um sinônimo para “setor”.

No entanto, considere que o canteiro de obras seja o lócus de diversos processos industriais

e de aprendizado. Dado que exista transformação de matéria-prima dentro de um canteiro de obras, podemos supor que essa transformação envolva um determinado nível de maturidade tecnológica, experiência acumulada e espaço para inovações em processos. Essas três características inserem as empresas de construção dentro de um quadro teórico amplo voltado para entendermos a evolução dessa indústria não apenas no canteiro, mas também na dimensão estratégica do negócio. Assim, a literatura de economia industrial alicerça nosso ponto de partida para entender como são as interações entre conhecimento, capital e estratégias de sobrevivência no setor de construção civil.

(9)

1. Projeto-específico: os projetos de construção podem solucionar problemas comuns a regiões ou países; no entanto, cada projeto precisa solucionar tais problemas tendo em vista os diferentes contextos geográficos, políticos, econômicos, ambientais, sociais e tecnológicos. Desta maneira, cada projeto é necessariamente diferente um do outro; 2. Uma obra, um produto, muitas externalidades: desde a construção de uma barragem até a

construção de um complexo petroquímico, o cliente exige da construtora a entrega de um contrato com seus potencias aditivos. Nota-se, porém, que, uma vez concluído o projeto, o vínculo entre cliente e construtora tende a ser contratualmente desfeito – embora muitos contratos atualmente incluam cláusulas para responsabilizar a construtora em caso de problemas posteriores à entrega da obra. Com efeito, para a construtora, um projeto acabado constitui-se no seu produto final. Entretanto, para o cliente ou para a comunidade, aquele projeto gera externalidades e ganhos de produtividade contínuos, como se fosse o projeto um bem de capital via transformação de cimento, vigas, vergalhões, cabos elétricos etc. em fábricas modernas, complexos petroquímicos, grandes usinas de energia hidrelétrica ou usinas nucleares seguras.

Dito isto, cabe avançar para as etapas de uma obra. A figura a seguir objetiva facilitar o entendimento do leitor acerca das três principais etapas de uma obra.

A primeira é a etapa de projeto, na qual a construtora ou uma firma especializada cria soluções para atender à demanda de um determinado cliente. A empresa responsável por esta etapa deve usar seus conhecimentos e sua capacidade técnica para planejar qual a melhor alocação de recursos para o desenvolvimento do projeto, lidando com problemas de logística, mão-de-obra escassa ou sem qualificação adequada, diferentes condições climáticas, custo de materiais, custos ligados à tecnologia empregada na obra etc. A primeira etapa, portanto, concentra-se nos escritórios da firma e demanda um corpo técnico qualificado para o estudo de viabilidade de cada projeto criado antes do projeto final. É uma etapa claramente caracterizada como serviço.

(10)

prazos são exemplos dos principais problemas relacionados a esta etapa. No canteiro de obras, muitas equipes revezam seus turnos para produzir o máximo de concreto, a maior quantidade de paredes, o maior volume de terra removido etc. Desta maneira, cada atividade do canteiro gera seus próprios produtos na quantidade e na velocidade em que a construtora necessita. A complexidade de alguns processos, o intensivo uso de mão de obra e o grande volume de materiais estão muito próximos do setor industrial – e assim classificamos a segunda etapa.

A terceira etapa geralmente não fica a cargo das construtoras. No entanto, como veremos mais adiante, o intenso processo de privatização de ativos estatais levou as construtoras a criarem empresas específicas para a administração de grandes obras. O administrador tem, nesta etapa, a possibilidade de cobrar tarifas dos beneficiários da obra ou, no caso de projetos industriais, operar as fábricas.

2.1 Crescimento, Diversificação e Internacionalização: proposta de um quadro teórico

A trajetória de desenvolvimento das firmas envolve diferentes dimensões. Em geral, as firmas nascem pequenas e passam boa parte de sua existência procurando se manter no mercado. Dentre as firmas que nasceram, poucas serão capazes de consolidar uma posição de destaque em seus mercados porque isso depende de uma série de fatores ligados ao acaso ou que se acumularam ao longo do tempo para gerar uma coleção de vantagens competitivas sobre suas rivais. Portanto, dentro de um contexto competitivo (quando as firmas estão em busca da sobrevivência), a Economia não está muito longe da Biologia: existem firmas que assumem posição de destaque no mercado, como grandes players ou como grandes predadoras (para mantermos a abordagem

biológica da competição), enquanto há um grande número de firmas no processo de crescimento e seleção por parte do mercado que poderão ou continuar marginalizadas dentro do mercado (com margens de lucro menores); ou ser adquiridas; ou falir.

Percebe-se que o conceito de crescimento, no sentido mais restrito, acontece dentro das atividades nucleares da empresa. Assim sendo, a preocupação da empresa é ampliar mercado e aumentar a produção daqueles bens e serviços que estão no seu portfólio e para os quais a firma já

disponha de mercado, base tecnológica e produtos associados a sua marca. No entanto, o crescimento não raro assume outras formas, como se o próprio processo de crescimento evoluísse ao longo do tempo. Assumindo que a evolução do crescimento da firma acontece por causa de

aprendizado e tomada de riscos, então faz sentido chamarmos a diversificação e a

internacionalização das firmas de dimensões extras do processo mais amplo chamado de crescimento. Essas dimensões podem, inclusive, revolucionar as firmas.

(11)

determinada produção e que evoluem para liderar a produção de bens sem, a princípio, nenhuma ligação com a produção inicial. A coreana Hyundai, atualmente entre as maiores fabricantes de automóveis do mundo, iniciou as atividades como uma construtora. No caso da Nokia, dramaticamente deposta de sua posição como maior produtora de celulares do mundo, suas atividades iniciais concentravam-se na produção de celulose. Na verdade, a diversificação talvez seja um fenômeno ainda mais arriscado para a firma do que a internacionalização, pois, nos casos mais radicais, os negócios da empresa são deslocados para mercados e bases tecnológicas distantes, em que não havia experiência prévia, como nos exemplos anteriores. Isto não quer dizer, porém, que a internacionalização não seja também um processo que depende de experiência e que pressupõe grandes riscos a serem tomados.

No caso da internacionalização, as estratégias de inserção no mercado estrangeiro são movidas por diversos fatores. Cada passo no exterior requer atenção devido a regras e a culturas diferentes daquelas de seu mercado de origem. Não basta apenas operar no mercado, também é preciso aprender sobre ele, entendê-lo e decifrar suas diferenças.

A seguir, o leitor conhecerá parte da literatura sobre esses três temas: crescimento, diversificação e internacionalização.

2.2 Crescimento

A RBV (Resource-Based View) baseia-se nos recursos da firma para analisar vantagens

competitivas. No trabalho seminal de Penrose (1959), enxergamos uma firma como sendo uma coleção de recursos que se combinam para gerar diferentes serviços produtivos (conjunto dos diferentes processos que acontecem no interior da firma e que resultam em bens e serviços ofertados no mercado). Basicamente, uma firma pode combinar recursos para produzir apenas um produto ou pode combinar os mesmos recursos de formas diferentes para produzir uma variedade maior de produtos. Disto decorre que firmas empreendedoras têm contínuo incentivo para se expandir.

(12)

distribui os novos produtos entre sua base de clientes, usufruindo de sua capilaridade já desenvolvida.

Existem outros tipos de economias relacionadas à expansão produtiva:

(1) Tecnológicas: quando uma maior escala de produção permite à firma mudar seus recursos a fim de reduzir o custo médio do produto. Por exemplo, a aquisição de uma nova máquina injetora com maior capacidade e que consuma a mesma quantidade de energia pode, ao mesmo tempo, gerar uma quantidade maior de produtos. Cabe ressaltar que, apesar de o recurso financeiro poder se transformar em novas máquinas e equipamentos, isto geralmente só ocorre se, e somente se, os preços dos recursos empregados não comprometem o custo médio da empresa no sentido de reduzir a competitividade dela. Ou seja, não é todo investimento proposto para expandir as atividades que deverá ser aceito pela administração; (2) Administrativas: firmas multiplantas requerem outros tipos de economias, como as de (a)

comercialização, (b) finanças e (c) pesquisa. Cada subtipo de economia aqui presente é obtido a partir da divisão e mecanização de tarefas, diminuição dos custos administrativos totais (overheads), economias de compra e venda, uso das reservas financeiras, obtenção de

capital e apoio à pesquisa em larga escala (economias de escala em pesquisa);

(3) Funcionamento e Expansão: referem-se ao custo médio de produção e distribuição depois de a expansão ter sido completada, ou seja, depois que uma nova planta entra em operação para atender ao mesmo mercado que uma planta anterior da mesma empresa (economias de funcionamento) ou ao custo de efetuar uma expansão, como o custo de ampliar a capacidade produtiva de uma planta sem adquirir um novo terreno (economias de expansão);

(4) Crescimento: economias à disposição da firma que tornam lucrativa sua expansão em determinada direção e têm origem na coleção única de serviços de que a firma dispõe – vantagens competitivas.

É interessante observar que, ainda conforme a autora, há tipos de economias efêmeras nas quais (1) a firma apresenta vantagens apenas no ingresso em novas atividades (fase de crescimento) ou (2) porque os recursos utilizados na nova atividade se tornam especializados em seu novo uso, como, por exemplo, a mão-de-obra qualificada de uma empresa de motores que ganha maior experiência com a produção de outros componentes mecânicos (parte da capacidade dos trabalhadores na produção de motores diminui e não representa mais uma economia para a expansão da firma em razão de a competência se ter deslocado em direção a outros tipos de produtos).

(13)

no ambiente em que se desenvolve. Esta proposição foi feita por Nelson e Winter (1985) e não representa uma substituição da visão baseada em recursos da firma. Pelo contrário: podemos dizer que o trabalho desses dois autores representa um complemento ao trabalho de Penrose (1959).

Com efeito, a firma proposta no modelo de Nelson e Winter (1985) possui uma série de comportamentos regulares e previsíveis, os quais denominamos “rotinas” (contrapartida aos “genes” da Biologia). Em outras palavras, as decisões e seus resultados são afetados diretamente por elementos estocásticos (que preservam suas características ao longo do tempo) relativos ao comportamento da firma frente ao mercado. Assim, um comportamento evolucionário, no contexto da firma, é acompanhar as mudanças do mercado e adaptar-se a elas através da mudança de suas rotinas. O mercado seria, portanto, o ambiente em que as firmas competem e para o qual a firma orienta suas estratégias de sobreviência com vistas a aumentar o lucro. Contudo, diante da complexidade do processo concorrencial, elas não se detêm na maximização do lucro à moda dos economistas neoclássicos, como se este fosse um problema de puro cálculo matemático – torna-se muito mais uma questão estratégica e até mesmo de longo prazo.

Ainda sobre as rotinas, elas podem ser de três tipos: (1) características operacionais – são as que governam o comportamento de curto prazo da empresa; (2) regras de investimento – determinam o aumento ou diminuição do estoque de capital da firma, período a período; e (3) modificadoras de rotinas – são as “buscas” por novas rotinas mais alinhadas às mudanças do mercado e têm efeito sobre os elementos estocásticos dos processos decisórios.

Dentro desta teoria, a rotina com maior destaque é claramente aquela que busca modificar rotinas. Com o advento da internet, por exemplo, diversas tarefas cotidianas foram simplificadas e a

transmissão de seus resultados foi increvelmente acelerada. No entanto, caso alguma firma não desenvolva as ferramentas necessárias para perceber as mudanças significativas que a internet

(14)

Por sua vez, Teece, Pisano e Shuen (1997) contribuem para entendermos como que os recursos apontados por Penrose (1959) e as rotinas defendidas pela Teoria Evolucionária estão em sintonia fina. O trabalho daqueles autores procura discutir mecanismos isolados presentes na RBV e que permitem a existência dos ganhos com o empreendedorismo e das vantagens competitivas. Esses mecanismos podem ser interpretados como sendo propriedades internas da firma que não podem ser facilmente replicadas. Com efeito, a firma dispõe de uma coleção de recursos específicos e pode desenvolver capacitações dinâmicas que a ajudam a se adaptar a um ambiente em mutação. O sentido em que se utiliza o termo “capacitações dinâmicas” é de que as capacitações se ligam à questão do gerenciamento capaz de adaptar a firma às mudanças que ocorrem no ambiente, enquanto o dinamismo deste processo expressa a renovação pela qual as competências internas da firma passam. Ou seja, o gerenciamento estratégico dos recursos permite a sobrevivência da firma, pois se torna possível integrar, construir e reconfigurar competências internas e externas para conseguir se adaptar às novas exigências do mercado – conceitos muito próximos àqueles das rotinas modificadoras de rotinas presentes na TE.

Esses autores argumentam que as firmas posssuem (1) recursos (o termo aqui é empregado para definir os ativos específicos), (2) atividades individuais ou coletivas que utilizam esses recursos (rotinas organizacionais) e (3) competências nucleares, que definem o mercado fundamental de atuação dela. Destarte, processos organizacionais e gerenciais atuam no âmbito dos recursos como elementos de coordenação/integração (elementos estáticos), aprendizagem (elementos dinâmicos) – em que há espaço para prevenir a ocorrência de rotinas inadequadas e de desconhecimento das questões estratégicas –, e reconfiguração (conceito de transformação) – em que o mais importante é elevar o retorno (payoff) originado pela mudança a partir de alterações na

estrutura de ativos da firma, como a construção de uma nova unidade produtiva. Outro aspecto a ser ressaltado é que existe uma cultura organizacional na qual as rotinas da firma podem estar enraizadas e que influencia a adoção ou o desempenho dos novos processos positiva ou negativamente.

Neste momento, cabe destacar uma pergunta que tornará mais simples o entendimento de como se entrelaçam os conceitos trabalhados por Teece, Pisano e Shuen (1997): como transformar o gerenciamento dos processos organizacionais em um gerenciamento estratégico?

O posicionamento estratégico da firma é dado por quatro elementos: ativos específicos, coerência entre processos internos e externos, incentivos e aprendizagem. Uma importante qualificação é que os ativos podem ser de vários tipos: (1) tecnológicos (acesso ao know-how), (2)

(15)

ambiente em que há assimetria de informações entre eles e os indivíduos internos), (5) estrutura (organização formal ou informal e relacionamento externo) e (6) mercado (onde ela efetivamente compete). Assim, as capacidades da firma residem nos processos organizacionais, que são formados pelos ativos e pela trajetória evolutiva dela. Portanto, o gerenciamento estratégico busca processos organizacionais que se desenvolvem dentro da lógica dos quatro elementos do posicionamento estratégico da firma. Antes de prosseguir, ressalte-se que o conceito de trajetória do trabalho desses autores está associado ao conceito de Path-Dependence. Ou seja, as decisões

tomadas em determinado momento passado tendem a influenciar as decisões futuras.

Quando, por exemplo, uma firma opta por expandir a capacidade de produção de uma das suas plantas em lugar de construir uma nova planta, o comprometimento de recursos que se segue vai ao encontro de reforçar o desempenho da opção exercida. Deste modo, a firma passa a ter uma trajetória tal que a construção de uma nova planta pode nunca ocorrer devido aos custos incorridos na expansão da planta mais antiga. Neste exemplo, a trajetória da firma afetou tão-somente decisões de financiamento e expansão, mas existe a possibilidade de serem afetadas as decisões tecnológicas. Por exemplo, quando uma firma opta por seguir determinada oportunidade tecnológica em detrimento de uma oportunidade alternativa, os resultados que aparecerão no futuro provavelmente estarão condicionados a esta escolha. Assim, a decisão de pesquisar novos produtos, adquirir novas máquinas ou desenvolver novos processos influenciará as condições de sobrevivência da empresa no futuro. Isto quer dizer que a firma precisa criar as capacidades defendidas pelos autores com o objetivo de fugir dos cenários catastróficos do porvir. Então se pode resumir o conceito de Path-Dependence dentro do trabalho de Teece, Pisano e Shuen (1997), a exemplo do que eles mesmos

fizeram, como sendo os limites de desenvolvimento futuro da firma, dada a influência dos investimentos passados e do repertório de rotinas.

(16)

seguintes tipos de aprendizado:

Tipo Lócus

Learning by doing Interno à firma e relacionado à atividade produtiva

learning by using Interno à firma e relacionado ao uso de produtos, máquinas

e insumos

Avanços da Ciência e Tecnologia Externo à firma e relacionado à absorção de novos desenvolvimentos nessas áreas

Transbordamentos Intersetoriais Externo à firma e relacionado ao comportamento dos competidores e outras firmas

Por Interação

Externo à firma e relacionado tanto à interação com fontes a montante ou a jusante do conhecimento como também com fornecedores e usuários ou à cooperação com outras firmas do setor

Por Pesquisa Interno à firma e relacionado principalmente às atividades formais de P&D

TABELA 1: Os Tipos de Aprendizado da Firma e seu Lócus

Fonte: Elaboração própria

Em terceiro lugar, a mudança técnica incremental é responsável tanto por aumentar a eficiência de determinados processos quanto por tornar determinadas tecnologias utilizadas em uma atividade econômica obsoletas com o passar do tempo. Outro aspecto relacionado à mudança técnica é o fato de ela ser intencionalmente direcionada (embora os resultados possam extrapolar determinados limites) a fim de enfatizar alguma melhoria específica nos processos produtivos. No quadro a seguir, diferentes tipos de aprendizado estão relacionados a algumas direções das mudanças técnicas incrementais:

Tabela 2: Tipos de Aprendizado e Mudanças Técnicas Incrementais

Tipo Direção

Learning by doing/using Focalizado em melhorias de processos dados previamente Por Interação (fornecedores de

equipamentos) Focalizado em melhorias de processos dados previamente Por Interação (fornecedores de

insumos) Melhorias de insumos

Por Interação (usuários) Diferenciação horizontal do produto (para atingir novos mercados)

Por Pesquisa Diferenciação vertical do produto (melhorar a qualidade e o desempenho)

Avanços da Ciência e Tecnologia Gera externalidades que podem ser apropriadas em diversas direções

Fonte: Elaboração própria

(17)

2.3 Diversificação

Sobre a Economia de Diversificação:

Uma firma diversifica suas atividades produtivas toda vez que enceta a produção de novos produtos, incluindo os produtos intermediários suficientemente diferentes de outros produtos de sua lavra, para envolver alguma diferença em seu programa de produção e distribuição. (Penrose, E., 1959:172)

Isto equivale a dizer que existem muitos tipos de diversificação. No excerto anterior, a afirmação inclui o aumento da variedade de produtos finais gerados, o acréscimo na integração vertical e o aumento no número de áreas “básicas” de produção da firma. Uma empresa, por exemplo, que produza sapatos masculinos e resolva então produzir sapatos femininos está passando por um processo de diversificação produtiva porque se envolve na produção e distribuição de uma nova variedade de produtos. Por outro lado, uma empresa produtora de automóveis pode diversificar sua produção com a compra de uma empresa produtora de equipamentos domésticos, mesmo que essa aquisição esteja demasiadamente distante das competências nucleares da empresa produtora de automóveis.

Algumas definições importantes são apresentadas no corpo do trabalho de Penrose (1959). A posição que a firma ocupa no mercado com uma determinada produção é sua área de especialização. Para produzir, porém, a firma utiliza uma base tecnológica (um tipo de atividade produtiva que utiliza máquinas, processos, pessoal especializado etc.). Mesmo que entre duas ou mais bases haja elementos comuns, a autora as considera diferentes quando suas características tecnológicas são substancialmente distintas. Por exemplo, o elemento comum na linha de montagem de um automóvel é que o sistema é completamente interligado e padronizado para construir um mesmo modelo de produto, de modo que o motor e as suspensões conformam um mesmo projeto automobilístico, mas envolvem – isto é o mais importante – características tecnológicas muito distintas entre si. Por sua vez, a área de mercado da firma corresponde a cada grupo de clientes que a firma espera influenciar com um mesmo programa de vendas. Em se tratando da diversificação que se afasta das atuais áreas da firma, ela pode ser de 3 tipos:

(1) Novo mercado, novo produto e mesma tecnologia;

(2) Mesmo mercado, novo produto e tecnologia diferente; (3) Novo mercado, novo produto e tecnologia diferente.

(18)

estratégia, a firma se desvia da destruição criadora schumpeteriana, pois adquire as novidades que de outra maneira lhe teriam custado a própria sobrevivência.

A autora ainda afirma que os esforços de venda procuram moldar uma identidade para a firma, sendo que as oportunidades produtivas são alteradas pelo processo de criação de demanda. Por exemplo, a firma pode se ver impelida a expandir sua produção via aquisição de novos equipamentos e máquinas em resposta a uma campanha comercial que aumentou a demanda por seus produtos. Outro aspecto relevante levantado por Penrose (1959) é que a base tecnológica é um complemento da força de mercado da firma e que requer contínuo desenvolvimento de vantagens

vis-à-vis o enfraquecimento das posições da firma devido à diversificação. Pressupõe-se que a

diversificação pode tirar o foco que a firma tem em relação ao mercado original, dado que seus ativos agora se dividem em mais atividades.

No entanto, se a firma opta pela estratégia de aquisição para promover a diversificação, este processo vai ocorrer quando a firma adquirida for complementar ou suplementar à adquirente. Neste tipo de ingresso, a firma adquirente busca dispor tão logo quanto possível de pessoal qualificado, instalações, participação de mercado etc. Mas é importante salientar que há custos associados à capacidade de incorporar uma firma nova à administração.

Como o papel da concorrência impede que a firma fique eternamente estagnada, mesmo em condições de monopólio, a diversificação é uma solução bastante pronunciada a fim de que a firma sobreviva. Já em outra seara, ainda que a firma adentre novos campos de atuação, ela precisará dispor de novos fundos para aplicar em cada um dos campos em que atua, pois o desenvolvimento de perícias tecnológica e mercadológica é um elemento fundamental para mantê-la no mercado ou para incentivá-la a se retirar de determinado mercado. Disto decorre o fato de que o processo de diversificação envolve inúmeros riscos e nem sempre traz o retorno esperado pela firma.

2.4 Internacionalização

(19)

1

•Influência do aprendizado sobre internacionalização

2

Path Dependence

•Ocorrências imprevistas

3

•Atores externos à firma

•Subsidiárias

Recursos Mercado Eficiência

Ativos Estratégicos ...

Distância Psíquica Fatores que influenciam a decisão de entrada

Fatores que influenciam a atuação da firma no exterior

Atuação da Firma: Fracasso

ou Sucesso

Figura 2:Quais Fatores Influenciam o Processo de Internacionalização

Fonte: Elaboração própria

Para Dunning (1994), os quatro principais fatores que levam as empresas a buscar a internacionalização de suas atividades podem ser dispostos como na figura abaixo (e também no lado esquerdo da figura anterior):

Recursos Físicos/humanos

Mercado Doméstico e/ou adjacente

Eficiência Através ou ao longo da cadeia de valor

Ativos Estratégicos Tecnologias, capacitações organizacionais e mercado

Fonte: Elaboração própria com base no artigo "Transnational Corporations", Dunning (1994)

Tabela 3: O que as Firmas Buscam no Exterior?

(20)

absorver externalidades que não se difundem rapidamente para o resto do mundo. O Vale do Silício, nos EUA, por exemplo, é uma região que se destaca pela grande quantidade de empresas de alta tecnologia aglomeradas em torno de centros de pesquisa e universidades muito importantes em nível global – fazendo com que a região seja dotada de recursos únicos para essas empresas.

Vimos o que as firmas buscam no exterior. Já a penetração delas nos mercados estrangeiros geralmente está associada a um modelo teórico linear consagrado na literatura econômica. Destarte, a contribuição dada pela modelo de Uppsala (Johanson & Vahlne, 1977) para o entendimento dos processos de internacionalização gerou importantes desdobramentos, na forma de pesquisas e de novas abordagens que visavam a aperfeiçoá-lo.

Seus autores descrevem padrões de internacionalização que são caracterizados pelo auto reforço dos recursos empregados no mercado estrangeiro e pela dinâmica linear de comprometimento desses recursos. Um aspecto muito interessante é a discussão que os autores fazem a respeito da chamada “distância psíquica”, que pode ser enunciada como os fatores que impedem o livre fluxo de informações entre a matriz e suas subsidiárias, como a língua, educação etc. Esse tipo de distanciamento entre os mercados seria responsável por influenciar as decisões de entrada da firma. No contexto da figura 2 deste capítulo, temos que a distância psíquica soma-se aos fatores apontados por Dunning (1994) para alicerçar o processo de internacionalização da firma.

Contudo, depois que se define a entrada da firma em determinado mercado, algumas variáveis passam a atuar sobre as decisões de comprometimento de recursos próprios com o mercado estrangeiro:

1. Estáticas: (A1) comprometimento dos recursos e (A2) conhecimentos sobre mercado e operação;

2. Dinâmicas: (B1) desempenho das atividades atuais no mercado e (B2) decisões sobre comprometer novos recursos.

A linearidade presente neste modelo constitui sua principal fonte de críticas, pois o torna suscetível a discussões sobre aspectos inexistentes em seu escopo, as quais envolvem uma nova dinâmica nas relações existentes intra-firmas (matriz-subsidiárias). Por exemplo, inúmeras empresas acabam pulando etapas da penetração em novos mercados devido a uma série de fatores competitivos.

(21)

trajetória no tempo e no espaço, e (2) influência dos atores externos à firma.

A dependência da trajetória, ou Path Dependence, pode ser entendida como uma

combinação de dois elementos centrais que evidenciam os processos históricos por trás do desenvolvimento das atividades das firmas no exterior: (a) um evento econômico não possuir uma trajetória independente de seus estados passados e (b) a combinação de processos sistemáticos (rotinas da firma) com outros processos únicos e imprevisíveis (mudanças no ambiente institucional, por exemplo). Ou seja, quando a firma em um processo de internacionalização compromete seus recursos com a aquisição de uma empresa no exterior, o gerenciamento das atividades fica mais complexo. Continuando, imaginemos que o desempenho da firma adquirida no exterior fique aquém das expectativas da firma adquirente por conta de alguma turbulência macroeconômica que não foi prevista no ato da aquisição. Desta maneira, um processo imprevisto influenciou os resultados que uma firma procurava atingir via um plano de expansão no exterior, o qual também comprometeu seus recursos financeiros. Sem uma resposta rápida para esse tipo de problema, algumas firmas podem até mesmo ir à falência.

A segunda ideia apresentada pelos autores abarca os diversos tipos de ralações que surgem a partir das atividades no exterior. Os atores externos à firma podem assumir diversas identidades: governos, fornecedores, clientes etc. Não existe atividade no exterior sem haver relacionamentos com pelo menos um desses atores. O importante é ressaltar que existem diversas dimensões no contexto desses relacionamentos, como a confiança mútua, o cumprimento de contratos, os envolvimentos informais que podem gerar acúmulo de conhecimento, de capital ou outros ativos estratégicos etc. Portanto, quando uma firma interage com atores externos a ela, voltamos à questão do aprendizado por interação (Malerba, 1992) – que também está presente na variável estática (A2) do modelo de Uppsala – para entendermos que existem conhecimentos sobre internacionalização que podem ser acumulados a fim de reforçar as posições que a firma assumiu fora do país de origem.

No trabalho de Versani e Rezende (2006), há três dimensões na estratégia de internacionalização: (1) grau de internalização das atividades da firma, que se apresenta como a complexidade que a atividade das subsidiárias possui; (2) grau de inserção da firma no mercado explorado, que representa a densidade da locação da cadeia de valor por parte da matriz no mercado estrangeiro; e (3) grau de coordenação existente entre as subsidiárias.

(22)

transparentes e com boa reputação.

A segunda dimensão está associada à rede de atores externos que trabalham junto com a subsidiária no exterior. É interessante notar que algumas subsidiárias podem assumir tamanha autonomia em relação à matriz que os padrões de interação delas podem ser muito diferentes dos padrões de suas controladoras. Firmas adquiridas no exterior geralmente expressam melhor essa condição diferenciada porque nasceram e se desenvolveram naquele mercado (e tiveram que desenvolver essas relações a partir do zero). As subsidiárias que foram construídas pela controladora frequentemente também podem desenvolver laços muito fortes com o mercado estrangeiro, dado que o estreitamento destes laços é um fenômeno que acontece com o passar do tempo e sob a influência dos contratos, comprometimentos mútuos etc.

A terceira dimensão se relaciona com o fato de que algumas subsidiárias têm uma posição proeminente na hierarquia das EMNs. Isto se deve a diversos fatores, dentre os quais podemos citar as grandes receitas que essas subsidiárias conseguem para a controladora, ao nível técnico da mão-de-obra que trabalha nessas subsidiárias especiais, ao grande volume de exportações para mercados adjacentes a partir delas etc.

3 Setor, História, BNDES e Empresas

A Construção Civil, conforme estudo realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pode ser dividida em três subsetores:

(1) Materiais de construção: engloba diversos tipos de atividades industriais e extrativas que fornecem insumos para os demais subsetores;

(2) Edificações: engloba a construção de imóveis residenciais e comerciais;

(3) Construção de Infraestrutura/Pesada: engloba as empresas que constroem projetos de alta complexidade, como portos, instalações industriais, oleodutos etc.

(23)

Tabela 4: Participação dos Componentes da FBCF sobre o Total (%)

Fonte: elaborado com base nos dados da CBIC – 2012

O IBGE enumera cinco setores institucionais demandantes de FBCF:

1. Empresas não-financeiras: estocam FBCF através da aquisição de máquinas e

equipamentos, da aquisição de imóveis, da construção de estruturas industriais e da valorização de seus ativos imobilizados;

2. Empresas financeiras: estocam FBCF através da aquisição de imóveis e da valorização

de seus ativos imobilizados;

3. Administração Pública: estocam FBCF através de investimentos em construção civil, máquinas e equipamentos;

4. Famílias: a maior parte de seus estoques concentra-se na aquisição de imóveis e na valorização desses ativos;

5. Instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias: concentram seus estoques de FBCF na aquisição de imóveis e na valorização desses ativos.

Dentre os demandantes de FBCF, os mais importantes são as empresas não-financeiras e a administração pública1. De fato, a administração pública é responsável pela maior parte dos

investimentos realizados na construção de infraestrutura. Por outro lado, cabe à iniciativa privada, mais precisamente às indústrias, a responsabilidade pela maioria das aquisições de máquinas e equipamentos. Essa preponderância do governo sobre os investimentos na construção de infraestrutura está relacionada ao porte e ao risco dos projetos levados a cabo: portos, rodovias, ferrovias, hidrelétricas etc. Outro fator fundamental que inibe a atuação do capital privado no desenvolvimento de projetos de infraestrutura é o longo período de maturação dos investimentos.

Por exemplo, a construção de uma usina geradora de energia representa diversos desafios, especialmente quanto à administração financeira. A depender do tamanho do projeto e da tecnologia escolhida, uma usina pode levar mais de uma década para ser concluída. Durante todo esse tempo, as várias saídas registradas no fluxo de caixa vão sendo somadas sem a contrapartida das entradas. Portanto, os primeiros anos de operação da usina são, via de regra, muito delicados, pois envolvem

(24)

os riscos relacionados à sustentação econômica da empresa (dívidas, necessidade de fazer caixa etc.). Se levarmos em consideração os fatores naturais, como secas e terremotos, e também as falhas na construção (rachaduras, vazamentos etc.), temos que, para qualquer obra de Infraestrutura de grande porte, o retorno nunca está garantido. Na história, podemos citar um outro exemplo mais emblemático: a construção do Canal de Suez.

3.1 Canal de Suez

Em 1854, Ferdinand Marie de Lesseps, um diplomata, engenheiro e empresário francês, na época estabelecido no Egito, foi a força mais entusiasmada pela ideia de se construir um canal para ligar o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. A obra tinha como principal atrativo o encurtamento das viagens que se faziam de navio no eixo europa-ásia seja transportando passageiros, seja transportando diversos tipos de produtos. Então o diplomata conseguiu costurar um acordo entre os governos do Egito e da França, ficando estabelecidos a formação de uma empresa cujo capital era repartido pelos dois governos e que, ao final de 99 anos de concessão, o canal voltaria a ser propriedade do governo do Egito. Entretanto, a Inglaterra interessou-se pelo projeto e acabou comprando a participação do Egito na companhia.

Iniciada em 1859, a obra levou 10 anos para ser concluída a um enorme custo financeiro e também de vidas humanas. Durante o período de obras, a companhia enfrentou inúmeros problemas financeiros, o que levou o Egito a comprar 44% da empresa. Em 1875, foi a vez de o Egito colocar novamente à venda sua parte na companhia por causas de problemas com a dívida externa. A Inglaterra adquiriu a parte egípcia e fortaleceu a estratégia de usar os direitos adquiridos contratualmente para expandir sua base militar na região. Finalmente, em 1956, o então Presidente do Egito, Gamal Nasser, nacionalizou o canal e pôs fim às disputas em relação ao seu controle.

A sustentação de uma obra como essa num ambiente tão conturbado política e financeiramente deveu-se exclusivamente aos grandes interesses estratégicos em jogo. Como visto, a companhia teria falido logo no início da construção, caso o governo do Egito não tivesse intervindo.

Lesseps, inclusive, envolveu-se também na construção do Canal do Panamá. Sua companhia enfrentou problemas de engenharia e catástrofes naturais entre os anos de 1878 e 1889, vindo a falir também neste ano. O Canal do Panamá só foi concluído algumas décadas depois devido ao interesse estratégico despertado no governo dos Estados Unidos da América.

3.2 Características gerais

(25)

diversas civilizações, essa indústria amadureceu suas técnicas de produção e gerou diversas inovações que permitiram a construção de obras cada vez mais complexas para suprir as crescentes necessidades de moradia, geração de energia, transportes etc. Representando cerca de 9% do PIB mundial, em média, segundo Arbache (2002), não apenas o tamanho desse setor é relevante: o fato de ele produzir diversos aparatos que sustentam e estimulam a produção de outros setores (e que conectam produtores e consumidores finais) também merece destaque. A figura a seguir sumariza a discussão acima ao apresentar a segmentação e as possíveis interações entre os agentes característicos do setor de construção civil. As setas indicam a direção e o volume de interações entre os diversos agentes setoriais.

Fonte: Deconcic/Fiesp (2008), pg. 13

Figura 3:

Segmentação Geral da Cadeia de Construção

Deve-se notar ainda:

(26)

2. O principal elo entre as duas cadeias produtivas (Infraestrutura e Edificações) encontra-se na atuação dos produtores/fornecedores de materiais de construção e nos encontra-serviços de projeto e gerenciamento das obras;

3. O subsetor de edificações pode contratar obras de infraestrutura para empreendimentos que requeiram a urbanização de determinadas áreas, como condomínios residenciais. Centrando nossa análise apenas nas firmas de Infraestrutura, é importante compreendermos quais são os grandes players (empresas que influenciam diversas dimensões da oferta e demanda)

mundiais do setor para compararmos o tamanho e o desempenho destes relativamente às firmas brasileiras.

3.3 Mercado Mundial

As figuras a seguir mostram o panorama mundial da construção de Infraestrutura. A figura 3 apresenta o ranking das 10 maiores construtoras mundiais, segundo o total de suas receitas. Nota-se

o predomínio das firmas chinesas na tabela, influenciadas pelas altas taxas de investimento em infraestrutura que o governo chinês mantém.

À medida que avançam no processo de desenvolvimento, os países requerem construtoras capazes de projetar e construir grandes obras de infraestrutura. Por razões políticas (nacionalismo,

lobby etc.) e econômicas (estratégia governamental de crescimento a longo prazo, concentração

setorial, concentração de capital induzida pelo governo etc.), as construtoras nacionais são preferidas às construtoras estrangeiras. Isso não acontece, porém, quando as firmas nacionais não possuem conhecimento técnico suficiente para encabeçar sozinhas projetos mais complexos.

(27)

especializada em construção, a Engineering News Report (ENR), relativo às firmas do setor que

tinham a maior parte da receita no mercado internacional, em 2006, e concluiu que 23,11% das construtoras listadas eram de origem estadunidense. A liderança naquele ano ficou para a firma alemã Hochtief AG.

Na figura a seguir, apresento o ranking de empresas mais internacionalizadas (pelo critério

origem das receitas) em 2013:

A mudança mais significativa em relação ao estudo de Scherer (2007) é a presença de uma empresa chinesa entre as dez maiores. O problema de inserção das construtoras chinesas em um contexto global de competição reside nas muitas dificuldades técnicas para vencer licitações. No artigo de Lu et alii (2013), algumas deficiências na fase de design e gestão de contratos, que

inclusive são fases incomuns para o ambiente de negócios da China, são apontadas como causas primordiais para a baixa competitividade das firmas chinesas no exterior.

Por outro lado, em se tratando das empresas brasileiras, cabe destacar algumas evoluções. No excerto a seguir, temos as conclusões de Scherer (2007) para a análise do ranking de 2006:

Das empresas brasileiras, a Construtora Norberto Odebrecht ocupava a 21ª posição em 2006 (mesma posição do ano anterior), enquanto a Construtora Andrade Gutierrez a 91ª, contrastando com a 82ª posição de 2005. Também fez parte do ranking a Construtora Camargo Corrêa, que ocupou a 199ª posição em 2006, contra a 201ª em 2005. (Scherer, F., 2007:153)

Note-se como as empresas subiram diversas posições, em 2015, no mesmo ranking

(28)

Camargo Corrêa, doravante CCC, ocupou a 190ª posição (141ª em 2014). Por serem empresas internacionalizadas e também por terem sido as maiores construtoras brasileiras, por receita, em 2013, segundo a “Revista Exame: 1000 maiores empresas” – ano em que se concluíram os dossiês das empresas –, estas firmas são o objeto de estudo deste trabalho.

Antes de conhecermos a fundo cada uma dessas empresas, uma imersão na história do setor faz-se necessária. Para estruturar empresas tão competentes internacionalmente, a economia brasileira precisou estimular o crescimento de uma demanda até então muito pequena nos primeiros anos do século XX. Na seção a seguir, o papel do governo brasileiro como coordenador e contratante será apresentado resumidamente, bem como o papel do BNDES como agente responsável pelo financiamento dos projetos.

3.4 Histórico do Setor de Construção no Brasil

Cristaldo (2011) elabora um interessante discurso sobre a trajetória da indústria nacional da construção civil. Em resumo, o autor explica que, em sintonia com o processo obtuso de industrialização brasileira sem a coordenação do Estado na virada do século XIX para o XX, as primeiras empresas do setor foram criadas entre o fim do século XIX e o começo do século XX para suprir a demanda pela construção de pequenas vilas operárias em torno das fábricas financiadas pelo capital da elite cafeeira. Em função do crescimento dessa demanda, diversas escolas, como a Politécnica do Rio de Janeiro, em 1874, e a Politécnica de São Paulo, em 1894, foram criadas com o propósito de qualificar a mão de obra nacional para a elaboração e condução de pequenos projetos. Além disso, obras de infraestrutura, como ferrovias, portos e barragens, eram construídas por empresas estrangeiras (geralmente inglesas).

(29)

Ainda conforme Ferraz Filho (1981), o Estado, neste período embrionário da infraestrutura pesada, concentra-se em obras contra a seca nordestina, e o crescimento das empresas nacionais segue a lógica do preço mais competitivo, dado que firmas estrangeiras tendiam a operar com equipamentos e mão-de-obra mais caros do que seus concorrentes nacionais. Cristaldo (2011) argumenta que, com o tempo, o ritmo de crescimento da demanda por ferrovias, portos e barragens, estimulou a subcontratação de empresas nacionais para a realização de etapas simples dos projetos – logo as empresas nacionais adquiririam experiência e conhecimento com esse tipo de interação e passariam a cuidar de etapas e projetos mais complexos.

De acordo com a Fundação João Pinheiro (1984b), já no início da década de 50 a indústria de construção civil no Brasil estava organizada a partir de três provedores de serviços: (1) algumas poucas empresas estrangeiras de grande porte, que dominavam a aquisição dos maiores contratos; (2) um conjunto de empresas nacionais de pequeno porte e frágil estrutura, que atuava principalmente em obras de construção pesada ligadas à abertura e manutenção rodoviária e em urbanização; (3) o Estado, que atuava na articulação de obras de infraestrutura. (Cristaldo, R., 2011:89)

As empresas nacionais, na descrição de Ferraz Filho (1981), precisaram de um pouco mais do que interação para driblar a forte concorrência de caráter técnico que lhes impunham as firmas estrangeiras. Em alguns estados da federação, especialmente Minas Gerais e São Paulo, uma combinação de políticas e contratos especialmente vantajosos fez com que algumas empresas pudessem adquirir máquinas e equipamentos mais rapidamente, acelerando também a acumulação de capital destas empresas privilegiadas. Assim, enquanto a maioria das firmas de infraestrutura não competiam sequer com as autarquias nacionais criadas para fomentar a expansão das estradas no país, nem com algumas empresas prestadoras de serviços que, ao perceberem a demanda crescente por projetos, logo criaram departamentos de infraestrutura, como no caso da Light, firmas selecionadas naqueles dois estados já competiam em condições de igualdade tecnológica. A propósito, no pós-guerra, o marasmo nos segmentos anteriormente responsáveis pela expansão da infraestrutura só não foi pior para as firmas nacionais porque, novamente segundo Ferraz Filho (1981), a lei Joppert (decreto-lei 8464 de 27 de dezembro de 1945) instituiu o FRN (Fundo Rodoviário Nacional), responsável por fornecer suporte econômico para as autarquias que administravam as estradas brasileiras – seguindo-se a isso um período de expansão do segmento que teria ainda mais força durante o governo de Juscelino Kubitschek.

(30)

assim permanecem até hoje – a partir da ação empreendedora de engenheiros especificamente nesse período.

Segundo o Diagnóstico elaborado pela Fundação João Pinheiro (1984), até meados da década de 50 a Construção Civil no Brasil ainda constituía um conjunto de ofertantes pouco impressionante. De fato, tratava-se de uma indústria ainda mais fragmentada do que hoje em dia, detentora de um incipiente know-how técnico e tecnológico, operando a partir de uso intensivo de mão-de-obra, e cuja expressão política ainda não poderia ser considerada tão imponente. (Cristaldo, R., 2011:87)

Para efeito de comparação, a Hochtief AG, na Alemanha, foi criada em 1876 e se tornou sociedade anônima em 1896, enquanto a VINCI, na França, foi fundada em 1899 já como sociedade anônima.

Ainda segundo Cristaldo (2011), o marco para a superioridade das firmas nacionais em relação às estrangeiras, pelo menos em território brasileiro, é a construção de Furnas, quando uma firma inglesa não pôde continuar a obra, ficando a Construtora Mendes Júnior responsável pelas etapas finais.

Entretanto, embora dotadas de capacidade técnica, as construtoras só voltariam a encarar uma demanda aquecida por projetos de infraestruturas a partir do início do Milagre Econômico, em 1967. Campos (2008) argumenta, porém, que, entre a década de 1950 e meados da década de 1960, muitas obras foram realizadas no Nordeste brasileiro por causa das intervenções da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Isto ajuda a explicar o fato de três das maiores empresas do setor de Infraestrutura serem nordestinas de origem (as sedes acabaram mudando com o tempo para uma melhor adequação dos negócios das empresas a seus clientes e instituições que as financiam), inclusive a CNO.

Especificamente sobre o governo de Juscelino Kubitschek, Campos (2008) afirma ainda que o modelo rodoviário de transporte escolhido para impulsionar o desenvolvimento da indústria automobilística dentro do mercado nacional acabou gerando um superdimensionamento dos investimentos públicos em rodovias. Além disso, a geração de competências e o crescimento das construtoras nacionais estariam associados a outros tipos de projetos: (1) construção de barragens, (2) estabelecimento da energia gerada pelas hidrelétricas como matriz energética brasileira e (3) relacionamento da empresa de capital misto Petrobras com as construtoras – especialmente no caso da CNO.

(31)

de acumulação no interior de nossa economia: seria exatamente neste momento histórico que se situa o embrião da base financeira para a internacionalização, a partir dos anos de 1970, e para a diversificação, a partir dos anos de 1980.

O fim do Milagre não representou, entretanto, um impacto negativo relevante para as construtoras. Com efeito, Cristaldo (2011) cita um diagnóstico de Fundação João Pinheiro (1984b, p.63-64) para afirmar que o setor de Infraestrutura viveu um período de estabilidade até o ano de 1980, quando a capacidade pública de investimento sucumbiu à crise do crédito internacional.

Assim, finalmente, chegamos a uma primeira visão sobre o setor de Infraestrutura. Ele é uma atividade que apresenta elevado grau de concentração em poucos grupos regionalmente dominantes (oligopólios) dotados de acesso a processos, máquinas e equipamentos que lhes conferem diversos tipos de vantagens competitivas, especialmente economias de escala. Os contratos públicos são as principais fontes de receitas desses grupos. Em verdade, uma publicação da Fundação João Pinheiro (1984a) expõe o problema da seguinte maneira: poucas empresas têm capacidade técnica e escala suficientes para assumirem grandes projetos de infraestrutura. Campos (2008) afirma que apenas seis empresas no Brasil reuniam, no biênio 2007-2008, as capacidades necessárias para um processo de internacionalização: Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Mendes Júnior, Norberto Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão. No entanto, projetos muito pequenos anulam as vantagens com economias de escala acumuladas pelas dominantes, o que torna possível a subsistência de milhares de empresas de pequeno porte que disputam as franjas de mercado não ocupadas pelas maiores concorrentes.

Vimos até o momento que a participação do Estado foi fundamental, mas uma questão ainda precisa ser respondida: qual é a fonte de financiamento para as grandes obras?

3.5 BNDES

Em linhas gerais, podemos destacar a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como agente de financiamento para as grandes obras brasileiras desde sua criação.

A dissertação de Amaral (2013) retrata o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como financiador dos grandes projetos brasileiros de expansão da capacidade produtiva. Fundado em 1952, ainda sob o nome de BNDE, o banco tornou-se o agente canalizador de recursos estrangeiros para as primeiras políticas de desenvolvimento levadas a cabo pelo governo brasileiro.

(32)

(2013) resgata o inescapável fato de Lucas Lopes e Roberto Campos, presidente e superintendente do banco à época, respectivamente, terem sido responsáveis por dirigir a equipe que, dentre outras atribuições, criou o Plano de Metas. Entre 1956 e 1960, o BNDES direcionou suas linhas de financiamento para a indústria de base, a siderurgia, projetos de geração de energia e infraestrutura de transporte.

Entretanto, o protagonismo do BNDES não sobreviveu ao fim do governo JK. Devido a diversos conflitos de ordem política e a problemas econômicos cada vez mais complexos, o banco só voltaria a ter grande destaque durante a ditadura militar. Com efeito, no âmbito dos governos militares, a instituição sofreria com uma nova orientação: o financiamento industrial para o setor privado. Nesse sentido, o ano de 1968 é marcante por ter sido a primeira vez em que os financiamentos para o setor privado (54% do total) ultrapassaram aqueles destinados ao setor público.

Monteiro Filha (1995) resume os três momentos [de atuação do BNDES]: período de criação do banco (1952-1956), voltado para investimentos em infraestrutura, especialmente ferrovias e energia elétrica; período de consolidação (1957-1963), marcado pelo Plano de Metas; e período de diversificação (1964-1973), no qual o banco passou a atuar através de um maior número de programas de apoio financeiro, ampliou a gama de setores aos quais dava suporte e se voltou prioritariamente ao setor privado. Cabria (2012) ressalta, também, que a primeira década dos governos militares levou o BNDE a se dedicar quase que exclusivamente ao financiamento do setor privado nacional, perdendo relevância quanto organismo participante da elaboração e coordenação da política econômica. (Amaral, A., 2013:83)

Como aponta Cristaldo (2011), o período do Milagre Econômico consolidou o setor da construção civil brasileiro, que, intensivo em mão de obra, beneficiou-se enormemente dos esforços empreendidos pelos governos militares para manter os níveis salariais baixos. Desta maneira, entre 1968 e 1973, o setor cresceu a uma taxa média acima do crescimento do PIB brasileiro. O fim do Milagre, porém, não eliminou todas as oportunidades existentes no Brasil para as atividades de construção. Com efeito, na tentativa de instalar, no Brasil, os setores de bens de capital e de bens intermediários, além de reduzir a dependência crônica da importação de combustíveis que tínhamos à época, o governo do General Ernesto Geisel (1974-1979) elaborou e executou o II Plano Nacional de Desenvolvimento. Com efeito, a construção civil seria contemplada com a demanda por novas soluções energéticas, como a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, finalizada em 1982, no rio Paraná, na divisa do Brasil com o Paraguai, e, mais tarde, a construção da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, finalizada também em 1982, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro. Desde o começo do Milagre até o fim das obras em Itaipu, contabilizam-se 14 anos de demanda aquecida por grandes projetos de Infraestrutura.

(33)

A diferença deste protagonismo para aquele anterior à era militar está pautada novamente no direcionamento dos financiamentos – desta vez majoritariamente para o setor privado.

Condicionada à conjuntura macroeconômica, a atuação do banco sofreria uma nova reorientação a partir da década de 1980: com a crise do esgotamento do modelo de crescimento econômico via poupança externa, o BNDES deixou de financiar projetos de apoio à industrialização substitutiva de importações para então dedicar-se à conservação das indústrias existentes. Inclusive, a crise colocou o próprio banco numa situação de grandes dificuldades quanto à captação de recursos tanto interna quanto externamente.

Ainda conforme Amaral (2013), três metas nortearam as ações do BNDES durante a década de 1980: (1) economia de moedas estrangeiras, (2) conservar o parque industrial brasileiro e (3) agir sobre os problemas sociais mais urgentes. Alinhado à primeira meta, o fomento às exportações passou a ser um objetivo incessantemente perseguido. Para tanto, o banco criou o Programa de Apoio ao Incremento das Exportações (PROEX). A lógica de curto prazo sobrepujava nesse instante o planejamento de longo prazo; mais tarde, aquele programa daria ensejo a outros programas voltados a empresas brasileiras que competiam no exterior.

Um grande período de marasmo para o setor de Infraestrutura começaria a partir de meados da década de 1980. Grandes planos de investimentos coordenados pelo Estado voltariam a acontecer somente na década de 2000, com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva como presidente da República. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, é um instrumento criado em 2007, no governo de Lula, para traçar estratégias nacionais de desenvolvimento econômico. Em primeiro lugar, o PAC tinha como objetivos: (1) acelerar o crescimento, (2) aumentar o emprego e (3) melhorar as condições de vida da população brasileira. As medidas organizaram-se em 5 blocos: (a) investimentos em infraestrutura, (b) estímulo ao crédito e ao financiamento, (c) melhorar o ambiente para investimentos, (d) desonerar e aperfeiçoar o sistema tributário brasileiro e (e) medidas fiscais de longo prazo (Brasil, 2007a, 2007b). Em 2010, o PAC 2 é lançado como forma de extensão dos investimentos do PAC 1. Vale ressaltar que PAC 1 e PAC 2 totalizam mais de dois trilhões de reais em investimentos.

O BNDES é o principal agente de financiamento das obras do PAC. Ou seja, mais uma vez o BNDES cumpre o papel de estimular a construção de infraestrutura no Brasil. Sendo Energia a principal área atingida pelo programa, algumas das obras que o BNDES financiou no contexto do PAC são: as grandes hidrelétricas do Rio Madeira e a hidrelétrica de Belo Monte. Além dessas hidrelétricas e de muitos projetos menores, o BNDES também financiou refinarias, gasodutos e as ferrovias Norte-Sul e Transnordestina.

(34)

e 2. São eles:

(1) Exploração e refino de petróleo, sendo a estatal Petrobras a principal beneficiária econômica (aproximadamente R$ 130 bilhões);

(2) Os polêmicos projetos de construção de três hidrelétricas de grande porte na região norte, os quais geram diversos tipos de externalidades socioambientais negativas (aproximadamente R$ 50 bilhões);

(3) A usina termelétrica nuclear Angra 3, que se sustenta dentro do programa por causa da suposta geração de energia limpa e renovável (R$ 13 bilhões);

(4) Fora do eixo de energia, o autor destaca a construção do eixo sul da ferrovia Norte-Sul (R$ 6,98 bilhões).

3.6 Dossiê do Grupo Andrade Gutierrez

O Grupo Andrade Gutierrez é uma empresa familiar que reflete o desenvolvimento das atividades da Construtora Andrade Gutierrez. Fundada em 1948, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, essa construtora cresceu aos poucos. Sua trajetória no exterior teve início com obras simultâneas na República Democrática do Congo e na Bolívia, em 1984. Em 1988, o grupo adquire a Construtora Zagope, em Portugal. Seu comprometimento com o mercado português aponta para uma nova orientação estratégica de crescimento no exterior.

A expansão de suas competências começou na década de 1990 com aquisições em duas áreas: telecomunicações e concessões. Atualmente, o grupo acumula projetos realizados em mais de 30 países e participa como investidor em empresas como OI, Contax, CCR e Cemig. Nos últimos anos, novos negócios surgiram, como geração de energia, fundos de investimento e serviços de saúde.

O negócio de concessões possui dois marcos principais. O primeiro é a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), cujo valor de mercado ultrapassa R$20 bilhões e tem procurado diversificar seus negócios nos últimos anos para a operação de linhas metroviárias e serviços de inspeção veicular na cidade de São Paulo. O segundo é a compra da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) finalizada em 2010 – assim a empresa passou a ter voz ativa em uma empresa anteriormente pública com grandes vantagens e oportunidades no setor de distribuição de energia.

Referências

Documentos relacionados

A análise mostrou a oportunidade de (i) adoção de uma estratégia de planejamento que reflita um modelo sustentável de desenvolvimento que inclua decisões sobre o futuro da Amazônia

The analysis found that there is an opportunity to (i) enact a planning strategy that reflects a sustainable development model and includes decisions about the future of the Amazon

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

O gráfico nº11 relativo às agências e à escola representa qual a percentagem que as agências tiveram no envio de alunos para a escola Camino Barcelona e ainda, qual a percentagem de

Afinal de contas, tanto uma quanto a outra são ferramentas essenciais para a compreensão da realidade, além de ser o principal motivo da re- pulsa pela matemática, uma vez que é

Senhor Lourival de Jesus por conta de seu falecimento, solicitando uma Moção de Pesar inclusive, solicitou também a restauração das estradas da zona rural, em especial

Figura A53 - Produção e consumo de resinas termoplásticas 2000 - 2009 Fonte: Perfil da Indústria de Transformação de Material Plástico - Edição de 2009.. A Figura A54 exibe

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue