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Degeneração mucóide da oligodendroglia em um caso de enfermidade do grupo Wilson.

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Academic year: 2017

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D E G E N E R A Ç Ã O M U C O I D E D A O L I G O D E N D R O G L I A E M U M C A S O D E E N F E R M I D A D E D O G R U P O W I L S O N

A. A U S T R E G É S I L O F I L H O *

E m 1899 e 1900 Robertson descreveu a oligodendroglia. P r o p ô s o nome d e mesoglia. E m 1921, R i o H o r t e g a , redescobriu-a e chamou-a oligodendroglia. Penfield chama-a oligoglia. A . J a k o b denominou-a glia de Robertson e m homenagem a o cientista inglês.

Embriologicamente, a oligodendroglia deriva do ectoderma. C o n s t i -tuido o epitélio medular pela transformação das células cúbicas em pris-máticas, algumas destas entram e m mitose (células g e r m i n a i s ) ; o u t r a s

(células epiteliais), formarão o espongioblasto primitivo. D a transfor-mação daquelas surgirá o neurônio. Admite-se terem as células germi-nais o poder d e produzir as chamadas oélulas indiferentes dos antigos embriologistas, ou meduloblastos dos atuais. Destes poderiam provir, segundo Cushing e Bailey, a oligodendroglia, a célula nervosa e a m a -croglia. Penfield admite que a oligodendroglia possa também provir

dos espongioblastos migradores. R i o H o r t e g a nega a existência do meduloblasto. Admite que o oligodendrócito provenha p o r transformação direta de células do epitélio medular. Considera, porém, possível que

glioblastos, principalmente tumorais, possam transformar-se em oligodendroblastos e vice-versa. O espongioblasto primitivo transformar-se-á e m astroglia. Pela emigração de alguns elementos constituir-se-ão as células de Schwann. O oligodendrócito, que não existe no primeiro

pe-ríodo da vida intra-uterina, surge n a ocasião d e mielinização do sistema nervoso (8.° e 9.° meses da vida intra-uterina) ; reproduz-se rapida-mente na época d o nascimento. Filogenèticarapida-mente, a oligodendroglia aparece nos répteis.

Morfologicamente caracterizase por corpo e núcleo pequenos, n ú -cleo redondo, ausência de prolongamento vascular. Possue centrosoma, aparelho de Golgi, grânulos fucsinófilos e gliosomas. N o s métodos comuns, apenas o núcleo se cora. A oligoglia tem citoplasma escasso, p r o

-longamentos pequenos, delicados. O seu aspecto é uniforme em todo o sistema nervoso central (exceto no tronco cerebral) e é encontrada, preferentemente, entre os tubos de mielina (substância branca) ou na

vizinhança de células nervosas.

T r a b a l h o do Serviço de A n a t o m i a P a t o l ó g i c a d o I n s t i t u t o de Neurobiologia (Chefe do Serviço — prof. P a u l o E l e j a l d e ) .

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E m torno destas últimas não ha somente oligoglia; a microglia, e m -bora em menor número, também existe ai (satélites p e r i n e u r o n a i s ) . H a oligodentrócitos satélites de vasos, mas, ao contrário do astrócito, não lhe enviam seus prolongamentos. N a substância branca, entre os t u -bos nervosos, encontram-se numerosas células de Robertson, maiores, que as da substância cinzenta e, às vezes, tendo mais do dobro do seu volume (oligodendrócitos schwannóides).

H I S T O P A T O L O G I A D A O L I G O D E N D R O G L I A

A glia de Robertson tem condições inferiores de reação, comparada com as da microglia e da astroglia. Podem ser só de fenômenos r e

-gressivos ou pro-gressivos. D e acordo com Virchow podemos dividir estes últimos em hiperplásticos e hipertróficos. N o s primeiros, multipli-ca-se a glia por mitose ou amitose. N a hipertrofia, há, apenas, a u m e n t o de volume, tanto do núcleo como do citoplasma. O s fenômenos re-gressivos podem ser precedidos de hipertrofia transitória ou n ã o . A regressão é verificada pela picnose, pela cariorrexe e pela cariólise.

E n t r e as alterações da oligodendroglia podemos citar a oligodendrocitose, a oligodendropenia, o entumescimento agudo e a degeneração mucoide d e Grynfeltt. A oligodendrocitose caracteriza-se pela proliferação da oligodendroglia, quer na substância cinzenta, quer na branca. Este

tipo de alteração pode ser encontrado nas encefalites da infância. Oligodendrocitopenia é a diminuição, em número, de oligodendrocitos, con-siderando-a Del R i o - H o r t e g a como de real significação histológica na

encefalite peri-axil de Schilder. É possivel que, nesta enfermidade, o processo primário seja na oligodendroglia, sendo secundários a

degeneração da mielina e do neurônio. O entumecimento agudo pode ser encontrado nos processos degenerativos agudos. Inicialmente, o p r o -toplasma aumenta de volume e o núcleo se cora mais intensamente. É

a fase reversível que, nos processos muito agudos, não existe. Segue-se a fase do entumescimento hidrópico progressivo; desaparecem os prolon-gamentos e os gliosomas se acumulam na periferia do citoplasma. A t é aqui o processo ainda é regressivo. Se desaparece o protoplasma e o núcleo está em cariólise, a morte da célula é fatal. Descreve-se o entu-mescimento amilolítico: discreta hipertrofia, entuentu-mescimento hidrópico, que pode ser — segundo H o r t e g a — turvo ou transparente. Aquele é

encontrado habitualmente na meningite tuberculosa. A degeneração mucoide foi descrita por Grynfeltt, em 1923, no cérebro de u m velho em que havia um coágulo homogêneo que se corou pelo mucicarmin d e

Mayer e, metacromàticamente, pela tionina. Grynfeltt admitiu a proveniência glial desta substâcia, o que foi confirmado por Pellisier que a relacionou à oligodendroglia. Já em 1920, Buscaino havia descrito

cachos de desintegração, com aspecto semelhante à degeneração mucóide, na demência precoce e em enfermidades extrapi rami dais. Mais tarde, Bailey e Schaltenbrand, examinando o encéfalo de um caso de

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Admite-se que a substância mucóide seja formada pela ação de uma amina circulante. A mielina, em certas condições, pôde dar reações

se-melhantes à mucina e dissolver-se e difundir-se nas oligoglias tumefeitas ( H o r t e g a ) . A oligodendroglia pode conter quantidade escassa de ferro (paralisia geral, margens de um foco de hemorragia) e, mais

ra-ramente, gotículas de gordura ( e n d ó g e n a ? provindas da m i e l i n a ? ) .

O B S E R V A Ç Ã O

O caso que serviu de m o t i v o à pequena recapitulação sobre a oligoden-d r o g l i a1

é dos mais interessantes. R e s u m i r e m o s os dados a seu respeito, por isso que fará p a r t e de u m t r a b a l h o s o b r e afecções do sistema extrapiramidal, que publicaremos o p o r t u n a m e n t e .

J., sexo feminino, mestiça, brasileira. Faleceu aos 22 anos. S u a doença teve início 4 anos antes, de maneira insidiosa, sem sinais infecciosos, por es-p a s m o s m u s c u l a r e s es-p r o g r e s s i v a m e n t e engravecentes, do ties-po da distonia de t o r ç ã o . N e n h u m caso semelhante, ou de o u t r a enfermidade n e r v o s a ou m e n -tal, foi verificado nos ascendentes ou colaterais. D o e x a m e objetivo

assina-lou-se distonia m u s c u l a r (coreo-atetose, e s p a s m o de torção, distúrbios cerebelares) com integridade de psiquismo e distúrbios funcionais discretos do fí-gado. T r a t a - s e , em síntese, de um caso do g r u p o extrapiramidal do tipo

W i l s o n . D o e x a m e a n a t ô m i c o , m a c r o s c o p i c a m e n t e registrou-se tuberculose

p u l m o n a r e cirrose hipertrófica do fígado, o que foi confirmado pela microscopia. M a c r o s c o p i c a m e n t e , o encéfalo e a m e d u l a n a d a a p r e s e n t a v a m de es-pecial M i c r o s c o p i c a m e n t e havia várias alterações, que s e r ã o estudadas em

ou-tro trabalho, conforme já dissemos mais acima. E n t r e t a n t o , existia u m tipo de alteração histológica da oligodendroglia que descreveremos a seguir.

J á pelo m é t o d o r á p i d o de Spielmeyer n o t a m o s , na substância b r a n c a do

cérebro e do cerebelo, a presença de formações arredondadas, ora acumuladas em forma de cacho, ora esparsas, sem regularidade. Eram espaços claros, muito maiores que a astroglia e muitos pareciam conter um núcleo

intensa-mente corado pela hematoxilina; o núcleo algumas vezes era central mas, na maioria, se achava na periferia. Pelos métodos argénticos apropriados, este aspecto permaneceu sempre o mesmo. Impregnados pelo mucicarmin de Meyer, coraram-se intensamente. Desde logo, pudemos identificar como sen-do a degeneração mucóide e, como foi possível verificar que se tratava de oli-godendroglia com entumescimento, do tipo de entumescimento agudo, tor-nou-se possível fazer o diagnóstico de degeneração mucóide de Grynfeltt, em muitos pontos com a fôrma dos chamados cachos de desintegração de Buscaino.

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Curioso, e n t r e t a n t o , o que e n c o n t r a m o s com o m é t o d o de Nissl. N a a l -t u r a do mesencéfalo exis-tiam as formações acima descri-tas com carac-teres particulares. O s g r u p o s de células n e r v o s a s p r ó x i m a s a o a q u e d u t o de Sylvius ( 3 . ° par craniano e núcleo intersticial de Cajal) e r a m sede das f o r m a -ções de degeneração mucóide. Sintéticamente, e n c o n t r a m o s : 1 ) células ner-vosas com o núcleo deslocado para a periferia e, no citoplasma, u m a f o r m a ç ã o do tipo da degeneração mucóide o r a sem núcleo, o r a com núcleo deformado, ou então f r a g m e n t a d o ( n ã o se t r a t a v a de d e g e n e r a ç ã o g o r d u r o s a ) ; 2 ) A s

m e s m a s formações degenerativas foram vistas j u n t o aos p r o l o n g a m e n t o s protoplásmicos das células nervosas, p r e c i s a m e n t e n o s lugares em q u e é h a b i -tual encontrar-se as glias satélites e, estas por sua vez, estavam quasi

totalm e n t e ausentes q u a n d o existia o aspecto acitotalma descrito; 3 ) E x c e p c i o n a l -m e n t e u -m a só célula n e r v o s a continha duas for-mações g l o b o s a s ; 4 ) D e regra, o núcleo das oligodendroglias estava em cariorrexe ou já quase t o t a l m e n t e t r a n s f o r m a d o em g r a n u l o s . O u t r o s a s p e c t o s intermediários foram vistos.

C O M E N T Á R I O S

D o que ficou dito podemse tirar as seguintes conclusões: 1) t r a tase de um caso de enfermidade do grupo Wilson — espasmo de t o r -ção — em que a degenera-ção mucóide de Grynfeltt existia no cérebro, no mesencéfalo, na protuberância, no bulbo e n o cerebelo ; 2 ) a

dege-neração mucóide era mais intensa no mesencéfalo e n o cerebelo; 3 ) n o mesencéfalo, a sede principal era em núcleos celulares, próximo ao aque-duto de Sylvius (núcleo intersticial de Cajal e I I I p a r c r a n e a n o ) ; 4 ) a

degeneração mucóide existia, também, dentro de. células nervosas, p o -rém, à custa de oligodendroglia; n ã o era, entretanto, freqüente. E s t a quarta conclusão permite algumas considerações particulares : a substância mucóide seria originária da célula n e r v o s a ? N ã o achamos r a zoável. A glia satélite teria penetrado a célula nervosa? Alguns a s -pectos encontrados e reproduzidos nas microfotografias permitem-nos aceitar esta hipótese. Assim, julgamos ser possível, em condições es-peciais e por motivos desconhecidos, à glia, j á em vias de degeneração, penetrar n a célula nervosa. Com este fato, não queremos afirmar a neuronofagia, tanto mais que acreditamos que a glia, nas preparações,

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S U M Á R I O

Recordam-se, no presente trabalho, as alterações da oligodendroglia em particular a degeneração mucóide. Relata-se sinteticamente um caso do grupo Wilson — espasmo de torção — em que havia degene-ração mucóide da oligodendroglia predominantemente na substância branca do encéfalo. N a substância cinzenta, a degeneração mucóide era m a i s i n t e n s a n o m e s e n c é f a l o , n o s g r u p o s c e l u l a r e s p e r i - a q u e d u t o de Sylvius (núcleo intersticial de Cajal e núcleo do I I I par c r a n e a n o ) . Neste ponto assinala-se a presença de substância mucóide dentro de cé-lulas nervosas, fato que o a u t o r admite ser devido à penetração da oli-godendroglia com entumescimento agudo e que posteriormente degene-rou. Diz que este fato não quer afirmar se trate de neuronofagia e sugere a possibilidade da oligoglia poder penetrar o corpo celular do neurônio.

S U M M A R Y

In this paper, alterations of the oligodendroglia and particular mu-coid d e g e n e r a t i o n a r e s t u d i e d . A brief case r e p o r t of t h e W i l s o n group — spasm of tortion — is made, in which a mucoid degeneration of the oligodendroglia was present and predominating in the white subs-tance of the brain. I n the gray matter, mucoid degeneration was pre-valent at the mesencephalon, at t h e cell group about the acquedut of Sylvius (interstitial nucleus of Cajal and nucleus of third cranial n e r v e ) . In this region, mucoid degeneration w a s detected within nervous cells. T h e A u t h o r attributes this fact to penetration of the oligodendroglia with acute edema and posterior degeneration. H e also states that this does not imply neuronophagia but suggests the possibility of the oligo-glia penetrating into the intracellular space os a neuron cell.

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