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Construindo o espaço público contemporâneo : o caso da Praça Victor Civita

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Programa de Pós-graduação

Mestrado em Arquitetura e Urbanismo

Roberta Laredo

Construindo o espaço público

contemporâneo:

o caso da Praça Victor Civita

São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Programa de Pós-graduação

Mestrado em Arquitetura e Urbanismo

Dissertação de Mestrado

Roberta Laredo

Construindo o espaço público

contemporâneo:

o caso da Praça Victor Civita

Dissertação apresentada ao Programa Gra-duação em Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Orientadora: Profª. Drª. Nadia Somekh

São Paulo 2013

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Praça Victor Civita. / Roberta Laredo – 2014. 167 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Bibliograia: f. 91-97.

1. Parceria público-privada. 2. Espaço público. 3. Praça. 4. Praça Victor Civita. 5. Termo de Cooperação. 6. São Paulo. I. Título.

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Roberta Laredo

Construindo o espaço público

contemporâneo:

o caso da Praça Victor Civita

Dissertação apresentada ao Programa Gra-duação em Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Aprovada em 21/1/2014

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Nadia Somekh – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Valter Caldana

Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Vladimir Bartalini Universidade de São Paulo

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À cidade de São Paulo,

que despertou em mim o afeto a novos lugares,

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4

Agradecimentos

E

ste estudo foi realizado graças às oportunidades imensuráveis que surgiram ao longo desses dois anos. Agradeço primeiramente à professora Nadia Somekh por ter me acolhido no grupo de pesquisa, e pela clareza e assertividade com a qual orientou meus estudos.

Ao Mackpesquisa pelo apoio.

Aos professores Valter Caldana e Vladimir Bartalini pela participação na banca e orientações necessárias.

Ao Hamilton dos Santos, Cleide Rovai Castellan e Marcelo Bressanin pela generosi-dade em abrir os arquivos e me contar as histórias.

À arquiteta Adriana Levisky por transmitir que São Paulo é uma cidade possível. Aos arquitetos Marcos Cartum e Jaime Cupertino pelas conversas e rica indicação

bibliográica.

Aos funcionários da subprefeitura de Pinheiros, em especial ao subprefeito Angelo Filardo e à arquiteta Ana Cristina Archangeletti por me concederem material e entrevistas valiosas para a elaboração deste estudo.

Ao professor Marcos Alves da Silva, pelas leituras, revisões e indicação de livros. Ao meu amigo Mauro Calliari, que não só me abriu algumas portas, como também dividiu comigo os momentos de trabalho, carregados de entusiasmo e angústia. Tudo vale pela experiência.

Ao Gustavo Laredo pela revisão e à Maria Thereza Scarazzato Laredo pelo apoio. Ao Paulo Futagawa pela compreensão nos momentos mais conturbados, pelo com-panheirismo nos momentos mais solitários e pelo amor em todos os momentos.

(8)

A cooperação azeita a máquina de concretização

das coisas, e a partilha é capaz de compensar

aquilo que acaso nos falte individualmente.

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6

Resumo

E

sta pesquisa aborda a implantação da Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pi-nheiros, na cidade de São Paulo. Em uma área marcada pela degradação ambiental,

surge a possibilidade de reabilitação por meio da modalidade de inanciamento e gestão denominada “parceria público-privada”. Ao levantar conceitos que deinem o que é público e o que é privado, tentamos veriicar se o espaço público, criado por meio da

parceria entre o poder público e o setor privado, é de fato público e feito para o público,

e o seu real signiicado. Utilizamos alguns exemplos de experiências internacionais para

traçar um paralelo com a situação observada na cidade de São Paulo com o objetivo de reconhecer as diferenças que tornam as parcerias mais efetivas, considerando não só a iniciativa privada, mas também a sociedade, como parceiras na construção do espaço público. Este trabalho oferece um panorama de como foi o processo da parceria, concep-ção, projeto e implantação da Praça Victor Civita.

Palavras-Chave: Parceria público-privada; espaço público; praça; Praça Victor Civi-ta; Termo de Cooperação; São Paulo.

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Abstract

T

his research approaches the implementation of Praça Victor Civita (Victor Civita Square), situated in Pinheiros district, in São Paulo. The area, once environmentally degraded, was rehabilitated through a funding and management modality called

“public-private partnership”. By researching concepts that deine what is public and what

is private, we try to determine if the public space created through the partnership betwe-en the governmbetwe-ent and the private sector is actually public and made for the public, and its meaning. We use examples of international experiences to compare the situation

ob-served in São Paulo, aiming at recognizing the diferences that make partnerships more efective, when we consider not only the private business, but also society as a partner in shaping the public space. This work ofers an overview of the partnership, including its

conception, processes, project and deployment of Praça Victor Civita.

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Lista de ilustrações

Figura 1.1 - Pátio do Colégio em ilustração de 1824: A paróquia como centro do espaço

público ...34

Figura 1.2 - Praça da República – 1915: embelezamento da cidade ...35

Figura 1.3 - Parque do Ibirapuera – 1954: lazer e práticas esportivas representam o novo espaço público ...35

Figura 1.4 - Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro (Praça Pôr do Sol) – 1968: lazer cultural e a contemplação ...36

Figura 1.5 - Parque ecológico do Tietê – 1982: viés ambiental na concepção de novos parques ...36

Figura 1.6 - Largo da Concórdia – 1990: o entorno deine o espaço...37

Figura 1.7 - Praça Victor Civita – 2008: espaço público caracterizado pelo uso múltiplo...37

Figura 2.1 – POP IBM Atrium, localizado em Nova Iorque: espaço público criado pela iniciativa privada ...44

Figura 2.2: Superfícies e usos projetados no High Line permitem a interação dos usuários ...47

Figura 2.3: Superfícies e usos projetados no High Line permitem a interação dos usuários ...48

Figura 2.4 e 2.5: High Line: bancos projetados para leitura, descanso e contemplação ...48

Figura 2.6 – Mapa representa a distribuição espacial das áreas verdes sob responsabilidade de subprefeitura de Pinheiros ...53

Figura 3.1 – Área do antigo incinerador municipal no bairro de Pinheiros na cidade de São Paulo, local onde atualmente se localiza a Praça Victor Civita ...57

Figura 3.2 – Implantação da Praça Victor Civita em relação à quadra ...58

Figura 3.3 – Localização da Praça Victor Civita em relação a outros pontos da cidade de São Paulo ...58

Figura 4.1: Uma das inspirações para o projeto foi o Terminal Internacional do Porto de Yokohama ...65

Figura 4.2: Maritime Youth House do Plot Architects, usado como inspiração para o projeto da praça ...65

Figura 4.3 – Praça Victor Civita: sistema de alagado construído para reter a água da chuva e tratá-la, a im de irrigar as árvores do bosque ...66

Figura 4.4 – Praça Victor Civita: espelho d´água com água de reuso proveniente do esgoto sanitário tratado ...67

Figuras 4.5 a 4.7 – Praça Victor Civita: estrutura elevada de madeira (deck) que protege os frequentadores do contato com o solo ...68

Figura 4.8– Praça Victor Civita: área com painel explicativo sobre o biodiesel ...69

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Figura 4.9 – Praça Victor Civita: Prática de Ioga gratuita no sábado de manhã ...71 Figura 4.10 – Entorno da Praça Victor Civita: terminal de ônibus urbano. Ao fundo, o prédio

da Editora Abril ...72

Figuras 4.11 – Placa informativa com regulamento na entrada da praça ...72

Figuras 4.12 e 4.13 – Acessos abertos ao público da Praça Victor Civita ...73

Figura 4.14 – Entorno da Praça Victor Civita: atividades esportivas no inal de semana

atraem usuários pela manhã ...73

Figura 4.15 – Entorno da Praça Victor Civita: horário do almoço durante a semana garante a frequencia de trabalhadores da região ...74

Figura 4.16 – Entorno da Praça Victor Civita: calçamento novo com rampas de acesso ...74

Figuras 4.17 a 4.20 – Bancos instalados na Praça Victor Civita: não favorecem a

contemplação e a leitura ...75

Figuras 4.21 a 4.24 – Peris metálicos e tábuas de madeira: os elementos mais usados na

obra da Praça em processo de deterioração ...76

Figura 5.1 – Entrada da Praça durante evento com a presença de seguranças particulares.. ...84 Figuras 5.2 a 5.4 – Evento realizado anualmente na Praça Victor Civita com recursos

captados por leis de incentivo ...85 Figura 5.5 – Público no horário do almoço no meio da semana acompanhando ensaio de

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10

Sumário

Introdução ... 11

1. As transformações do espaço público ... 18

1.1 Conceitos e Deinições: o que é o espaço público contemporâneo? ...18

1.2 Tipologias que caracterizam o espaço público ...28

2. A parceria público-privada na construção do espaço público ...40

2.1 Experiências internacionais ...41

2.2 Experiências em São Paulo ...49

3. A praça Victor Civita ...56

3.1 História, criação e estrutura ... 56

3.2 A parceria entre poder público e setor privado ...59

4. Em busca de um bom projeto...62

4.1 Limitações e conceitos: as soluções encontradas na Praça Victor Civita ... 62

4.2 A construção do modelo: processo e proposta de gestão da Praça Victor Civita ... 76

5. Perspectivas: o espaço transformado e a comunidade ... 81

5.1 Programação e manutenção ...81

5.2 Resultados alcançados ...83

6. Algumas conclusões ...87

Referências bibliográicas ... 91

Anexos Anexo A: Tipos de espaços livres...98

Anexo B: Minuta do termo de cooperação ... 102

Anexo C: Ficha técnica ... 106

Anexo D: Termo de referência ...108

Anexo E: Portaria 139//SPPI//GAB//2008 ...119

Anexo F: Termo de Cooperação ... 126

Anexo G: Estatuto AAPVC ... 144

Anexo H: Entrevista ... 163

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Introdução

O

s espaços públicos sempre foram uma questão que nos vem sendo apresen-tada sobre o modo como usamos a cidade. Após a formação em engenharia civil, o trabalho com limpeza urbana trouxe um primeiro contato com o lado executivo da cidade. Embora não se tratasse do projeto em si, mas sim da manutenção e limpeza, essas áreas sempre suscitaram o desejo de entender como a população se rela-ciona com o espaço público e como o projeto, a manutenção e a localização interferem na sua apropriação pela população.

Mas qual é o papel do poder público na criação desses espaços? Quanto as pre

-feituras se preocupam em executar bons projetos? Qual a importância que os espaços públicos têm no orçamento municipal? Dentro de um contexto em que os orçamentos

públicos têm sido cada vez mais limitados pelos entraves constitucionais, surge a pos-sibilidade da parceria entre o poder público e o setor privado construírem espaços que possam dar à cidade áreas com qualidade para o uso da população.

Este trabalho aborda a criação e a gestão da Praça Victor Civita, localizada no bair-ro de Pinheibair-ros em São Paulo, tendo como principal discussão a modalidade de gestão/

inanciamento denominada parceria público-privada (PPP), analisando, desse modo, um

modelo de gestão pouco empregado em praças do município. Pretende, ainda, levantar a questão da construção do espaço público com recursos do setor privado, considerando essa tendência administrativa não isenta de consequências ao tecido urbano, tais como valorização da área e a regulamentação de uso.

A pesquisa caracteriza o panorama atual de utilização da parceria público-privada

no município de São Paulo por meio da observação da Praça Victor Civita, veriicando a

viabilidade de seu projeto e sistema de gestão, de forma a analisar a aplicação dessa

fer-ramenta na criação de novos espaços públicos - especiicamente as praças -, buscando

evidências que possam responder se o espaço público criado pela parceria público-pri-vada é, efetivamente, um ganho à cidade.

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12

por exemplo, as estações de metrô e as obras de infraestrutura, fez-se pela importância da representatividade e carência que este tipo de espaço público tem na cidade de São Paulo. A representatividade se dá pela qualidade das atividades oferecidas pelo espaço e não em termos de número, já que o município conta com duzentos parques contabi-lizados no ano de 2012 dentro do programa 100 parques da Prefeitura do Município de São Paulo1.

Para Bartalini (2007, p. 5), a cidade demanda espaços públicos de qualidade:

Para dar sentido a uma investigação sobre a praça na nossa contempo-raneidade é preciso, antes de mais nada, reconhecer a necessidade de um lugar onde possam se expressar, publicamente, determinadas rela-ções entre pessoas, sendo esta interpessoalidade característica distintiva, embora não exclusiva, da praça. Para isso pode-se contar com os estu-dos e pesquisas que trazem à tona a vitalidade presente nos espaços de encontro e inter-relacionamento, mesmo que improvisados e precários.

O espaço público igura como um dos objetos de maior relevância no desenvolvi -mento urbano das metrópoles. De um lado, a valorização da terra permite que o

mer-cado imobiliário avance na ediicação do espaço; de outro, o crescimento populacional

exige que a cidade ofereça melhores condições de vida à população, tornando inadiável a criação de novas áreas verdes que sirvam ao lazer e ao convívio (ROBBA; MACEDO, 2010) e promovam o bom uso do espaço público.

Percebemos, assim, que a praça, dentro de uma gama de elementos urbanos que chamamos de espaço público, encontra-se como ambiente de troca, conforto e vitalida-de na cidavitalida-de, principalmente nas megalópoles do suvitalida-deste2 onde podem ser vistas como

refúgios que compõem a paisagem seca da maior parte dos bairros.

A praça é um índice (signo) do lugar, de civilidade e qualidade de vida urbana. A praça é, ainda hoje, um local próprio para manifestações políti-cas, comemorações e protestos. Sub-espaço carregado de simbologias e

memórias; tanto é capaz de contribuir para a airmação inercial do poder

1 Guia dos parques municipais de São Paulo. 3ª Edição atualizada e revisada. Disponível em: <http:// www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/meio_ambiente/arquivos/publicacoes/guia_dos_ parques_3.pdf>. Acesso em 26 mai. 2013.

2 QUEIROGA, Eugenio Fernandes. A megalópole e a praça: o espaço entre a razão de dominação e a

ação comunicativa. Tese de doutorado. São Paulo: s.n., 2001, p. 332.

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institucional, como ser local próprio para crítica e o protesto público,

para a ação comunicativa política (QUEIROGA, 2001, p. 332-333).

No entanto, mesmo indispensável para a manutenção da qualidade de vida da população, não podemos esquecer que a criação e manutenção das praças paulistanas estão diretamente ligadas ao investimento público no setor de desenvolvimento de áreas

verdes do município que, na maioria das vezes, não possui recursos suicientes para su

-prir de forma eiciente a carência e qualidade desses espaços. Nesse sentido, a parceria

público-privada é hoje uma das formas de viabilizar projetos que antes eram competên-cia exclusiva da administração pública.

Um exemplo é o que acontece nos Estados Unidos cuja administração pública se

utiliza de parcerias com a iniciativa privada para inanciar espaços públicos e melhorar a

qualidade de vida da população. A partir daí surgiu a possibilidade da parceria público -privada, como forma de garantir a criação desses espaços e como uma alternativa capaz de implementar projetos urbanos, que de outra maneira não sairiam do papel (LE GOIX; LOUDIER-MALGOUYERES, 2005).

Apesar de ser diferente em alguns aspectos, a experiência americana e europeia na

utilização da modalidade de gestão/inanciamento denominada parceria público-priva -da, como uma ferramenta dada ao poder público para fomentar a criação e manutenção de praças com recursos privados, tem se mostrado uma alternativa à falta de investimen-tos nesse setor da administração municipal.

Cabe aqui questionar se essa aliança entre o poder público e a iniciativa privada na gestão de espaços públicos é uma alternativa que gera benefícios à população ou tem a

inalidade de capitalizar espaços públicos, engessando seus projetos e restringindo seu

uso. Nossa pesquisa busca avançar nesta questão.

Por outro lado, a questão da parceria público-privada poderia ser entendida como

uma “privatização” do espaço público? Nesse sentido, o que seria publicizado como uma gestão eiciente para revitalização e manutenção do espaço público, na verdade é apenas

um instrumento de marketing utilizado em benefício das empresas para melhorar sua imagem perante a sociedade (LE GOIX; LOUDIER-MALGOUYERES, 2005).

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14

das políticas atuais chega a atingir as políticas públicas de formação do tecido urbano, como é o caso de parcerias público-privadas utilizadas na criação do espaço público.

A ação do poder público, capital e sociedade na construção do espaço público tem sido constantemente estudada e revista, e este trabalho pretende considerar essa discussão para a análise das interferências que cada um desses atores tem na formação das praças.

Esta pesquisa, entretanto, não pretende encerrar o espaço em conceitos que o

deinam como fruto apenas das ações econômicas e políticas que os constroem, mas

considera que os lugares estão sujeitos às variações do tempo e aos processos e discur-sos de modernização que a sociedade vive. A pesquisa investiga, ainda, as características do instrumento de gestão da parceria público-privada e analisa as formas pelas quais a tendência se manifesta na construção do espaço público urbano, considerando a par-ticipação de todos os atores envolvidos no processo de planejamento, quais sejam: a

administração pública, o setor privado e a sociedade civil, com o objetivo de conirmar

se a ferramenta de gestão PPP pode produzir bons espaços públicos e, em caso positivo, investigar quais os entraves que fazem com que esse modelo não seja aplicado na cria-ção de outros espaços.

Tendo como premissa que a parceria público-privada é um instrumento legal de con-tratação pública, o trabalho foi desenvolvido a partir do levantamento e análise da legislação referente ao tema aplicada à cidade de São Paulo, traçando um paralelo ao que foi desenvol-vido em relação à parceria público-privada na criação de espaços públicos em cidades como Nova Iorque, de onde foi tirada a experiência internacional no debate da pesquisa.

A revisão bibliográica foi realizada com base em estudos que permitiram identiicar

características similares ao modelo de gestão estudado. Partindo de teses e referências

bibliográicas relacionadas ao estudo, foram pesquisados três grandes temas: parceria

público-privada, espaço público e praças, e ainda consultada literatura relacionada à pro-dução do espaço público, à gestão de áreas verdes, à vida urbana em espaços públicos,

à legislação e às formas de inanciamento de projetos baseados nessa forma de gestão.

Este levantamento inicial permitiu reconhecer o material sobre a aplicação da PPP para as operações urbanas do município de São Paulo com a criação de espaços públicos atrelados a expansão imobiliária. Isso nos levou a formatar um paralelo que se encaixasse ao caso estudado.

(18)

Como levantamento de dados primários, foram feitas visitas ao local estudado e entrevistas com alguns dos atores que participam ou participaram da implantação e gestão do empreendimento. Desta forma, a pesquisa buscou ainda avaliar o efeito da parceria público-privada no processo de planejamento do espaço público, em especial, praças, já inseridas no tecido urbano construído.

Como já mencionado, o objeto deste estudo foi a Praça Victor Civita no Município

de São Paulo. A praça está localizada na Rua Sumidouro, nº 580, no Bairro de Pinheiros

e foi construída a partir da parceria público-privada entre a Editora Abril e a Prefeitura do Município de São Paulo, e suas características estarão descritas em capítulo

especí-ico deste trabalho.

Além da Praça Victor Civita, este estudo pretende dedicar um capítulo à experiência internacional, relatando algumas parcerias público-privadas realizadas para revitalização, implantação ou manutenção de praças, com destaque para a cidade de Nova Iorque, que utiliza essa modalidade de contratação em alguns de seus projetos urbanos.

A pesquisa abordará o processo de realização da parceria público-privada entre a Editora Abril e a Prefeitura de São Paulo desde a assinatura do Protocolo de Intenções em 2001, que pretendia viabilizar a recuperação do terreno para transformá-lo em pra-ça pública, passando pela criação da legislação que institui normas para a contratação de parceria público-privada e termos de cooperação, até os dias de hoje com a análise dos resultados alcançados.

Embora muitos autores importantes tenham discutido as revitalizações do espaço

urbano como um fenômeno de gentriicação3, o conceito criado por Neil Smith talvez

tenha de ser encaixado em uma nova realidade brasileira que faz parte do que Ascher (2010) chama de neourbanismo, onde “os serviços públicos urbanos devem, hoje em dia,

3 A gentriicação é, por deinição, um processo de “iltragem social” da cidade. Vem desencadear um

processo de recomposição social importante em bairros antigos das cidades, indiciando um processo que opera no mercado de habitação, de forma mais vincada e concreta nas habitações em estado de degradação dos bairros tradicionalmente populares. Correspondendo à recomposição (e substituição) social desses espaços – tradicionalmente da classe operária/popular – e à sua transformação em bair-ros de classes média, média-alta – não se pode deixar de referir, por conhecimento deste processo de “substituição social”, o reforço da segregação sócio-espacial, que na sua sequência parece aprofundar a

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16

considerar o processo de individualização que marca a evolução da nossa sociedade”, e, portanto, serem considerados caso a caso.

Neste trabalho, usamos o pressuposto de que certas intervenções urbanas podem ter grande valor para a comunidade desde que envolva a participação de setores repre-sentativos da sociedade, gerando a criação de soluções inclusivas. Assim, estruturamos esta dissertação em cinco capítulos:

O primeiro capítulo apresentará um panorama das transformações pelas quais os

espaços públicos passaram, considerando especialmente as deinições que os caracteri -zam e as relações sociais neles representadas. Não temos a pretensão de querer esgotar a discussão sobre os conceitos que buscam explicar como as relações sociais particulari-zam os lugares e os tornam expressões de épocas e condições vividas pela humanidade. Passamos, então, às características físicas que absorveram essas transformações e ten-tamos reduzir as tipologias dos espaços livres públicos urbanos, até conceituar a praça objeto deste estudo.

Como este trabalho tem como eixo a parceria público-privada na criação e gestão do espaço público, o segundo capítulo tratará do tema observando como esse tipo de PPP é trabalhado primeiro trazendo as experiências internacionais que aqui tiveram foco na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, escolhida por tratar a criação e gestão do espaço público de maneira distinta, porém com grande importância para a qualidade de vida urbana. Em seguida, no mesmo capítulo apresentaremos um painel com algu-mas outras iniciativas de PPP em espaços públicos de São Paulo, pois observamos que a parceria com o poder público tem se materializado não só por meio de grandes projetos como a Praça Victor Civita, mas também de pequenas ações que partem da sociedade, representada pela comunidade local em busca de um espaço público aproveitável.

Tendo, desse modo, deinido conceitos e exposto outras experiências, o terceiro ca -pítulo focaliza o objeto de estudo e compartilha os levantamentos, análises e depoimen-tos que traduzem o processo de criação, projeto e implementação da Praça Victor Civita, relacionando a pré-existência da área com seu uso atual, relatando como foi o papel dos diversos atores que compuseram e compõem a história desse espaço.

O quarto capítulo traz elementos de análises do projeto executado, cotejando o resultado com os fundamentos que observam o que é um bom espaço público e

consi-derando os desaios técnicos trazidos pela coniguração da área.

(20)

Tendo em vista que o planejamento e projeto foram pontos fundamentais para a recuperação da área, o quinto capítulo pretende analisar a gestão e os resultados alcan-çados por meio da implantação da praça.

Por último, as considerações inais fazem um balanço do estudo, partindo dos obje -tivos e chegando às respostas do que foi proposto. Concluímos, assim, a partir de nossa linha de argumentação, que a parceria público-privada, na produção do espaço urbano, é uma realidade presente na cidade contemporânea, onde, tanto o setor privado, quanto a sociedade civil, representada pelos seus moradores - organizados ou não em asso-ciações de movimento de bairro - participam cada vez mais da construção do espaço público por meio de ações de cooperação.

(21)

18

1. As transformações do espaço público

O

espaço público igura como base importante da expressão popular; elemento

urbanístico que, ora é exaltado pelo poder público na medida em que a criação de alguns deles passa a ser meta de determinadas administrações, ora é apro-priado pela iniciativa privada, que alavanca empreendimentos imobiliários publicizando a criação de áreas que, nem sempre, são de fato abertas ao público.

Nesses espaços é que, muitas vezes, precebemos as reais transformações da so-ciedade; não apenas as características urbanas das cidades, mas as transformações de comportamento, que se revelam de forma direta no momento em que esses espaços tornam-se palco e lugar para manifestações e trocas necessárias para a construção das identidades urbana e social. Segundo Ascher (2010, p.20), essas transformações absor-vidas pelas cidades que são impulsionadas pelas forças e relações sociais: “As formas das cidades, sejam projetadas, sejam resultantes mais ou menos espontaneamente de

dinâmicas diversas, cristalizam e reletem as lógicas das sociedades que as acolhem”. Isso

pode ser interpretado como sendo a vontade – ou necessidade – da sociedade interfe-rindo diretamente na formação das políticas que regem a formação do espaço.

Nesse contexto, este capítulo pretende conceituar o que entendemos por espaço

público e, a partir de sua deinição, relacioná-lo com o objeto deste estudo.

1.1 Conceitos e Definições: o que é o

espaço público contemporâneo?

Antes de tudo e, pela gama de deinições que se aplicam ao tema, será proposta a

escolha dos conceitos mais usados para tratar os espaços públicos de forma a caracte-rizá-lo. Para isso, selecionamos alguns autores que tratam desse assunto como: Hannah Arendt, Jürgen Habermas, Fançois Ascher, Milton Santos, Edward Soja, e outros que se basearam nesses autores para formular suas pesquisas.

Dentro do quadro referencial teórico proposto, muitos autores têm retornado aos conceitos fundamentais que caracterizam a esfera pública, privada e social cunhados

por Arendt e Habermas. Essas revisões bibliográicas buscam na ilosoia e nas ciências

políticas esclarecer determinadas questões que constroem o que entendemos hoje por espaço público.

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Neste trabalho, não poderia ser diferente, pois a discussão sobre o que é esse es-paço nos fornece a base teórica necessária para avaliar em qual contexto a Praça Victor

Civita está inserida e, outrossim, para classiicá-la como um equipamento urbano que

serve ao público.

Insere-se no contexto do espaço público construído através da parceria público-privada, a discussão das diferenças entre o que é público e o que é privado.

Sa-bemos que o espaço está em constante transformação e, para classiicá-lo como público,

necessitamos entender como a dialética entre o público e o privado se dá em nossa so-ciedade, com suas apropriações, esvaziamentos, individualismos e coletividade.

Como observou Arendt (2007), após a Segunda Guerra Mundial, a esfera pública

entra em decadência, sendo substituída pelo que Habermas (1984, apud CUSTÓDIO et

al., 2011) chama de esfera social, caracterizada basicamente pelas novas relações de

mer-cado (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 5). Sendo assim, é pertinente utilizar a proposição feita por Ascher (2010, p. 18) ao colocar que o novo urbanismo, ou neourbanismo, é pautado

nas mutações das sociedades que implicam em “necessárias transformações na concep-ção, produção e gestão das cidades e do território”.

Assim como o urbanismo moderno atribuía ao público tudo aquilo que era exter-no, ou seja, o espaço exterexter-no, as grandes infraestruturas e os espaços de uso coletivo, o neourbanismo deve compreender que a individualização é o sentido no qual nossa sociedade tem se desenvolvido e, portanto, a noção de público deve também considerar essa característica para seu entendimento.

Essas transformações sofridas na nossa sociedade e, por extensão, no espaço, foram ressaltadas por Milton Santos (2012) para o entendimento da lógica imposta pela forma e conteúdo do espaço. Em seus estudos, foi possível reconhecer a sinergia entre o espaço

geográico e o espaço social, formando um só espaço, “o local e a localização”, onde, quan -do o primeiro é entendi-do como objeto em um lugar, o segun-do está em constante movi-mento, impulsionado pelas forças sociais que o transformam. Nesse sentido, Santos (2012,

p. 13) airma: “[...] cada lugar está sempre mudando de signiicação, graças ao movimento

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20

como tudo aquilo que é divulgado, visto e ouvido por todos (ARENDT, 2007).. Vejamos nas citações abaixo os seguintes apontamentos:

[...] tem como público tudo aquilo que é aberto, acessível, ou seja, que não há restrições quanto à entrada e/ou circulação. [...]. Tem como

privado tudo aquilo que pode ser considerado próprio da intimidade ou que é restrito ao mundo familiar. Temos então o espaço público como o oposto à privacidade, associando dicotomias como: casa x rua, conhecimento x estranho, fechado x aberto, segurança x perigo.

(LAVALLE, 2005 apud CÂNDIDO, 2008, p.19).

O termo “público” para Arendt (1999) nos remete a dois fenômenos

que se relacionam, mas não são idênticos. O primeiro refere-se à apa-rência, ou seja, a tudo o que pode ser visto e ouvido por todos, sendo esta a característica que dá realidade ao mundo em que vivemos e à

nossa própria existência. O segundo signiica o mundo que é comum

a todos nós, o mundo do artefato humano, ou seja, que é produzido e

negociado pelas mãos humanas (ARENDT, 1999 apud CÂNDIDO, 2008,

p. 21).

Freire (2006, p. 78) sintetiza com precisão as diferenças entre o público e o privado:

Dentro do republicanismo, o privado é aquilo que está afeito e dentro do âmbito da particularidade dos indivíduos, o que de forma alguma exclui sua função pública, uma vez que as particularidades se entre-cruzam na existência social e se imbricam na construção da sociedade; eis uma das peculiaridades que o republicanismo nos brindou. A pro-priedade privada não é um lugar onde se pode exercer um domínio ilimitado, mas o contorno de uma extensão sob o cuidado de particu-lares. Antes de ser uma ampliação da liberdade, é uma limitação, uma privação.

O público é aquilo que está afeito e dentro do âmbito da comunidade cívica dos cidadãos, o que é comum, que expande e potencializa as particularidades numa totalidade maior, podendo ser uma cidade, uma nação ou um país. É mais do que a soma das individualidades, pois daí se teria apenas uma multidão ou uma extensão territorial: não é uma mera soma aritmética, mas uma fusão que resulta em força moral e cultural, que forma uma identidade nacional.

No entanto, a noção do que é público não estará completa se não discutirmos a diferença entre público e Estatal.

(24)

Segundo o Dicionário Houaiss (2004) Estatal é aquilo “relativo ou pertencente ao Estado (‘país soberano’)”, sendo formado por alguns elementos básicos que podem

di-vergir em identiicação e número dependendo do autor (DALLARI, 2013). Para o nosso

estudo, trabalharemos com a teoria de que o Estado é caracterizado por três elementos:

o povo, o território e a igura estatal - governo -, que exerce soberania sobre os outros dois elementos. (DONATO DONATI apud DALLARI, 2013, p. 79).

É essa soberania Estatal que está relacionada à produção do espaço público con-temporâneo, à medida que este é construído sobre as permissões e regras do Estado.

Para Laband (apud DALLARI, 2013, p. 93), a soberania do Estado é traduzida como seu

poder sobre o território, atuando como seu proprietário, podendo usá-lo e disponibilizá -lo com poder absoluto e exclusivo (DALLARI, 2013), esclarecendo que aqui não estamos tratando de propriedades privadas.

É verdade que o Estatal é entendido como público e, portanto,opões-se ao privado, no entanto, tem função clara no desenvolvimento social e econômico em uma República como nos mostra Freire (2006, p. 77):

[...] o privado não se contrapõe ao público, pelo contrário, desde que se

constitua a res publica, o privado adquire (ou deve adquirir) uma fun-ção social relevante (além de permitir o bem particular, é claro), e tem a função de possibilitar o desenvolvimento social ou público, ou seja,

visa o bem comum: não há necessariamente conlito entre os interesses

particulares e os interesses públicos, e o desenvolvimento dos cidadãos particulares é também o desenvolvimento da República. O valor ético dos interesses depende apenas do uso que se faça dos instrumentos para obtê-lo.

A Praça Victor Civita, mesmo tendo sido concebida, implantada e gerida através da parceria com a iniciativa privada, faz parte do território pertencente ao Estado. Também é importante ressaltar que o que é Estatal é, em princípio, público; todavia, o que é público pode não ser Estatal, se não faz parte do aparato do Estado (BRESSER-PEREIRA; GRAU,

1999, p. 17). Revendo os conceitos sobre o que é público podemos extrapolar essa teoria

para a construção do entendimento do que seria o espaço público.

Como podemos, então, deinir o que é o espaço público na cidade contemporâ

(25)

22

características da pós-modernidade, advinda do modo moderno de se construir a cidade. Esse espaço, portanto, está carregado de signos que transmitem os elementos-chave da sociedade quando explicitam as relações em rede, a substituição da indústria pelos

ser-viços, o im do planejamento central, as operações urbanas etc.

É sobre essa nova sociedade, interconectada através de redes, que Ascher (2010, p. 45) comenta, trazendo a solidariedade como elemento essencial para a discussão da construção da cidade contemporânea:

[a estrutura social de redes] funda uma nova solidariedade[...] uma so -lidariedade “comutativa”, que relaciona pessoas e organizações

perten-centes a uma multiplicidade de redes interconectadas. O desaio para a democracia consiste então em transformar essa solidariedade ”relexi -va”, ou seja, uma consciência de pertencimento a sistemas de interesse coletivo.

E essa sociedade dinâmica, ligada por redes, não se fecha para a cidade, pelo con-trário, através da comunicação mais rápida, é capaz de se mobilizar e avaliar melhor o es-paço que a ela é oferecido. Vejamos o que Ascher (2010, p. 67) tem a nos dizer sobre isso:

A terceira revolução urbana não gera, portanto, uma cidade virtual, imó-vel e introvertida, mas sim uma cidade que se move e se telecomunica, constituída de novas decisões de deslocamento das pessoas, bens e in-formações, animada pelos eventos que exigem a copresença, e na qual a qualidade dos lugares mobilizará todos os sentidos, inclusive o toque, o gosto, o cheiro.

Voltando ao neourbanismo de Ascher (2010, p. 84), que está aqui entendido como

uma forma cunhada pelo autor para denominar a sociedade na cidade contemporânea, temos que esta:

[...] privilegia os objetivos, os resultados a ser obtidos, e incentiva os

atores públicos e privados a encontrar modalidades de realização

des-ses objetivos, os mais eicientes para a coletividade e para o conjunto

de agentes.

Portanto, além da coletividade ligada por meio de redes, a velocidade das

trans-formações e os signos citados anteriormente reletem a fragmentação e a ideia de co -lagem que a pós-modernidade trouxe com o rompimento do moderno que “privilegia

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as soluções permanentes, coletivas e homogêneas, a im de responder às demandas da habitação, do urbanismo, do transporte, do lazer, do comércio.” (Ascher 2010, p. 87).

Nesse sentido, o espaço público da cidade contemporânea acaba por absorver essas características e pode até passar a ser efêmero, de pouca duração; o espaço urba-no já não é mais projetado para ser eterurba-no e sim para ser transformado à medida que a sociedade assim desejar.

Vejamos o que diz Harvey (2012, p. 69) sobre a cidade pós-moderna:

Como é impossível comandar a metrópole exceto aos pedaços, o projeto

urbano [...] deseja somente ser sensível às tradições vernáculas, às his -tórias locais, aos desejos, necessidades e fantasias particulares, gerando

formas arquitetônicas especializadas, e até altamente sob medida, que podem variar dos espaços íntimos e personalizados ao esplendor do

es-petáculo, passando pela monumentalidade tradicional.

E completa comparando a fase anterior, modernista, com a atual:

Enquanto os modernistas veem o espaço como algo a ser moldado para propósitos sociais e, portanto, sempre subserviente à construção de um

projeto social, os pós-modernistas o veem como uma coisa indepen-dente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios

estéti-cos que não têm necessariamente nenhuma relação com algum objetivo social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da

beleza “desinteressada” como ins em si mesmas. (ibid., p. 69).

Para Borja (1998), uma forma de entender as transformações sofridas pela cidade

é justamente analisando o espaço público, uma vez que sua importância na questão

das novas dinâmicas urbanas torna sua concepção um desaio a ser vencido. Essa “nova

realidade urbana” é traduzida pelo autor por meio do binômio mobilidade-centralidade como nos mostra a seguir:

Estamos convencidos que a dialética mobilidade-centralidade é uma questão chave do urbanismo moderno. E que a concepção dos

es-paços públicos é, por sua vez, um fator decisivo, embora não seja o

(27)

24

Dentro do urbanismo moderno, ao qual se refere Borja (1998), o espaço público,

como território a ser regulamentado pelo Estado, passa a ter um caráter jurídico e é por

meio deste que ele o deine:

O espaço público é um conceito jurídico: um espaço submetido a uma

regulação especíica por parte da administração pública, proprietária e

que possui a faculdade de domínio do solo, que garanta a acessibilidade

a todos e que ixe as condições de sua utilização e sua instalação de ati -vidades (tradução nossa).

Mas ainda devemos considerar o caráter sócio-cultural que também deine o es -paço público como vimos anteriormente; e é importante notar que o es-paço público pode, nem sempre, ter a demarcação judicial, já que algumas vezes espaços privados abandonados podem ser apropriados pela comunidade, tranformando-os em locais para recreação, como, por exemplo, os campos de futebol de várzea localizados em cidades

menores ou em bairros da periferia das metrópoles. Ou seja: “o que deine a natureza do espaço público é o uso e não o estatuto jurídico” (BORJA, 1998).

Abrahão (2008, p. 45) quando discute o entendimento de Borja sobre o espaço

público esclarece:

Há, em Jordi Borja, forte convicção de que o espaço público é um ins-trumento urbanístico fundamental para o resgate da cidade democrática contemporânea, seriamente ameaçada pela dissolução, fragmentação e privatização dos seus espaços.

Com base nessas referências, podemos concluir até aqui que o espaço público se

deine como o espaço onde a sociedade se manifesta publicamente, onde se dá a troca

das relações interpessoais e onde podemos exercer e notar as transformações sociais de cada tempo.

Com a ascensão da classe média urbana, no século XX, e, a partir disso, a crescente necessidade de aquisição de bens de consumo, as pessoas passam a ter de encontrar um espaço onde seria possível exibir o status conquistado. O espaço público passa ser, então, o espaço de quem consome: o consumo da cultura, da ação e do estilo. Nas palavras de Custódio et al. (2011):

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A cidade passa então a ser tida como lócus de um grande espetá-culo, onde são considerados importantes os “espaços” para ver e ser visto, os “espaços” de vitrine e pretensa transparência (VIRILIO, 2005:24)4; onde o consumo da forma, da função e dos conteúdos

pro-gramados (ideológicos-simbólicos) se alimenta das incertezas do mun-do globalizamun-do, a um só tempo, sucateamun-dor e reforçamun-dor de identidades e procedimentos.

Mas é nesse espaço de consumo e consumível que é exercida a construção da cidadania e que, apesar da sua quase substituição pelos shoppings centers, ainda são

utilizados pela população (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 8).

Cabe aqui questionar até que ponto a vida contemporânea tem atraído ou

esva-ziado o espaço público urbano. O Arquiteto Michael Brill (1989, apud ABRAHÃO, 2008, p. 146), discorrendo sobre a vida pública na sociedade americana, a deiniu como o lócus das principais trocas sociais, apontando que seu esvaziamento havia ocorrido pela perda dos limites entre o público e o privado e pelas leis de zoneamento nas cidades norte-a-mericanas, que desagregavam a vida comunitária e, consequentemente, limitavam as trocas sociais da vida pública.

No entanto, mesmo que importantes autores tenham estudado e apontado o esva-ziamento do espaço público, ele ainda continua sendo o lugar das trocas e das interações sociais encerrando a vida pública e a construção da cidadania, à medida que também dita as regras de convivência da sociedade. Nesse sentido, o espaço público pode ser o “mundo subjetivo das vivências e das emoções”, além de ser o local do exercício da

“di-versidade e conscientização” (QUEIROGA, 2001, p. 214-215).

O espaço abstrato é materializado pelas relações sociais; são elas que dão vida, mo-vimento e sentimento, tornando-o conteúdo e natureza, forma e lugar. Assim, podemos entender que é nesse lugar que se reproduz a vida cotidiana como nos mostra Carlos (2001, p. 35):

O Lugar é, assim, a porção do espaço apropriável para a vida, revelando o plano da microescala: o bairro, a praça, a rua, o pequeno e restrito comércio que pipoca na metrópole, aproximando seus moradores, que

4 VIRILIO, P. (2005:24) escreve: “A transparência torna-se evidente, uma evidência que reorganiza a

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26

podem ser mais do que pontos de troca de mercadoria, pois criam

pos-sibilidades de encontro e guardam uma signiicação como elementos de

sociabilidade.

Para Santos (2012, p. 322), é no lugar que os códigos racionais traduzidos por “ações condicionadas” se manifestam e vão além da sociabilização da vida cotidiana, passando para um campo onde emoções e criatividade se evidenciam construindo a personalidade de cada sociedade:

No lugar – um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas,

irmas e instituições – cooperação e conlito são a base da vida em

comum. Porque cada um exerce uma ação própria, a vida social se in-dividualiza; e porque a contiguidade é criadora da comunhão, a politica se territorializa, com o confronto entre organização e espontaneidade. O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, por meio da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.

No entanto, é necessário ressaltar que os conceitos de espaço que queremos

aqui apresentar estão relacionados ao espaço físico-social, o qual classiicamos como espaço público. Esse espaço não se conigura apenas no espaço per se, mas, como já visto antes, em palco para as diversas transformações e experiências sociais, como

nos mostra Soja (1993, p. 101): “O espaço em si pode ser primordialmente dado, mas a

organização e o sentido do espaço são produto da translação, da transformação e das experiências sociais”.

Além disso, não podemos deixar de destacar a relação que este espaço tem com a

cultura e a natureza, o que Castells chamou de “debate sobre a teoria do espaço” (1977, apud SOJA, 1993, p. 106). Essa construção do lócus como espaço para as interações sociais também leva em consideração fatores determinantes como, esses apresenta-dos por Castells; desse modo podemos compreender o espaço como a conjunção de elementos que se somam para formar uma estrutura sócio espacial necessária à comunidade.

Vejamos o que diz Santos (1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 43) a respeito da relação espaço-paisagem e espaço-conteúdo:

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“[...] o espaço é um misto, um híbrido, um composto de formas-conte

-údo” (1996, p. 35). “A forma e o conteúdo somente existem separada -mente como ‘verdades parciais’, abstrações que so-mente reencontram

seu valor quando vistos em conjunto” conforme R. Ledrut (1984, p. 38) citado por Milton Santos (1996, p. 80).

Esses conceitos dominantes da pesquisa, público, Estatal e espaço, pretendem en-cerrar a ideia do espaço público propriamente dito, também denominado por Espaços

Livres Públicos, conforme Magnoli (1982, apud CUSTÓDIO et al., 2011, p. 3) conceitua: “O Espaço Livre é todo espaço não ocupado por um volume ediicado (espaço-solo, espaço -água, espaço-luz) ao redor das ediicações e que as pessoas têm acesso”.

Sem querer esgotar os diversos conceitos de espaço e, muito menos, sem a preten-são de analisá-lo quanto à sua produção, este trabalho aborda o espaço como lócus da complexidade das relações humanas que nos incita a pesquisar o que é um bom espaço público para que essas relações se deem de modo a manter a fruição das cidades. Para

Lefebvre (1975, p. 223 apud CARLOS, 2001, p.42):

No espaço se encontram a brecha objetiva (socioeconômica) e a brecha subjetiva (poética). No espaço se inscrevem e ainda mais, se “realizam” as diferenças, da menor à extrema. Desigualmente iluminado, desigual-mente acessível, cheio de obstáculos, obstáculo ele mesmo diante de iniciativas, modelado por eles, o espaço torna-se o lugar e o meio das

diferenças [...]. Obra e produto da espécie humana, o espaço sai da som -bra, como um planeta em eclipse.

Portanto, o espaço só se tornará público se nele houver a troca entre as pessoas, relações interpessoais que, mesmo quando desconhecidas entre si, compartilham e, portanto, trocam a vivência e a experiência de estarem num mesmo lugar. Para Gomes

(apud ALEX, 2008, p. 19), “os atributos de um espaço público são aqueles que têm re

-lação com a vida pública [...] E, para que esse “lugar” opere uma atividade pública, é

necessário que se estabeleça, em primeiro lugar, uma copresença de indivíduos”. Entretanto, devemos ainda questionar se essa vida pública, repleta de diversidade e de trocas cabe em nosso modelo cultural. Essa discussão veio à tona nos Estados Unidos

na década de 1960 quando - impulsionados pelos valores discutidos por Jane Jacobs em

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28

estava sendo construído na maioria das grandes cidades americanas, o urbanismo busca um retorno aos valores da vida pública exercida em seus espaços livres.

O arquiteto Michael Brill (1989 apud ALEX, 2008, p. 20) foi um dos que chamou a

atenção para o fato dessa tentativa de resgatar algo que nunca existiu, visto que a socie-dade americana nunca exerceu a vida pública como a praticada nos moldes europeus e, portanto, seria incapaz de vivenciá-la da forma como estavam idealizando os urbanistas

daquela época. Alex (2008, p. 20) comenta o pensamento de Brill:

Para Brill, essa nostalgia tornou-se uma ideologia de projeto, para a qual o espaço público “tradicional” traria automaticamente de volta aquela “antiga vida pública perdida”, que provavelmente nunca existiu dessa

forma nos Estados Unidos. O autor airma que, no contexto america

-no, pautado pela segmentação, pluralismo e estratiicação da sociedade, não há lugar para uma vida pública diversiicada, democrática e sem

distinção de classes.

De fato, como ressalta Brill, as sociedades vivenciam o espaço público conforme sua cultura e seus costumes; no entanto, é senso comum que este espaço é o lócus da cidade acessível a todos, capaz de exibir as transformações da sociedade, que, individual ou co-letivamente, exerce as trocas interpessoais e se manifesta publicamente. Esse espaço, por seu caráter público, contém as relações humanas e para elas deve ser construído.

O espaço público é, então, deinido como palco dos acontecimentos das manifesta -ções urbanas, coletivas ou individuais, local que pode ser de passagem ou permanência, de encontro ou de contemplação, sempre estruturante e vinculador da vida urbana.

O espaço público em seus tipos, características e diferenças que podem ser encon-trados na cidade contemporânea é o que veremos a seguir.

1.2 Tipologias que caracterizam o espaço público

Na arquitetura, a tipologia pode ser entendida, não como um modelo a ser segui-do, e sim como uma ideia que carrega em si símbolos nem sempre explicitamente histó-ricos, sendo resultado da soma de referências existentes em torno de um mesmo tema.

Argan (2008, p. 268) coloca que “a criação de um “tipo” depende da existência de

uma série de construções que tenham entre si uma evidente analogia formal e funcional.” É com essa referência que traremos para este estudo um apanhado das tipologias que

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encerram o espaço público, tal qual nós o conhecemos, a im de caracterizarmos nosso

objeto de estudo dentro desse espectro.

Como já mencionado no item anterior, o Espaço Livre (EL) apresenta várias tipolo-gias que contemplam ruas, calçadas, avenidas, calçadões, jardins, matas, parques, pátios,

praças, quintais, rios, vazios urbanos e outros (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 3). Os ELs ur -banos podem ser de natureza, pública ou privada, e, neste trabalho, trataremos dos ELs

públicos considerando aqueles que são acessíveis a todos. Alex (2008, p. 19) considera

que a palavra “público” deve ser empregada para determinar locais “abertos e acessíveis, sem exceção, a todas as pessoas”.

Os espaços livres públicos assumem várias formas e ocupam diversos lugares na

cidade, moldando-se e reletindo as transformações e dinâmicas da sociedade. Nesse sentido, os ELs urbanos podem ser enquadrados em três tipos-padrão (CUSTÓDIO et al.,

2011, p. 4): o primeiro pode ser entendido como aquele de circulação, convívio e lazer, como por exemplo, as calçadas, parques, praças e ciclovias.

O segundo tipo de ELs é o de preservação e conservação ambiental. Esses espaços são determinados por meio de legislação e se caracterizam por formações como encos-tas, dunas, mangues, rios e matas. Por último, um terceiro tipo é proposto, onde podem ser enquadrados os espaços destinados às infraestruturas, como por exemplo, estações de tratamento de água e esgoto, cemitérios, estações de metrô, aterros sanitários etc.

(CUSTÓDIO et al., 2011).

Esses espaços representam diversos papéis na sociedade, sendo usados para a ex-pressão humana, para atividades de lazer, contemplação, circulação, preservação am-biental e drenagem, além de poderem ser vistos como patrimônio que constituem a

identidade social de uma comunidade (MACEDO, CUSTÓDIO et al. 2009, p.5 apud CUS

-TÓDIO et al., 2011, p. 3).

Dentre os ELs públicos urbanos, as praças e parques são os tipos mais comuns

no Brasil (MACEDO, 1999, CUSTÓDIO et al., 2011, p. 10). Entretanto, os parques exercem maior atração à população, principalmente aos inais de semana, mesmo havendo praças com boa manutenção nos bairros residenciais (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 11).

Além de classiicarmos os espaços livres por meio de seus tipos, podemos, ainda, agrupá-los através de seus subtipos e caracterização (CUSTÓDIO et al., 2011). Dentro des

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30

de caráter ambiental, de circulação e seus associados e particulares. Deinido o tipo, esses podem ser desdobrados em subtipos que especiicam seu uso determinado, possibilitan

-do a redução que nos ajuda a compreender e classiicar melhor o espaço público que

estamos estudando.

Para este estudo, considerando a classiicação proposta por Custódio et al. (2011), podemos deinir que, dentre os ELs elencados, o Espaço Livre de práticas sociais melhor

representa nosso objeto, uma vez que, seu subtipo – praça, contém elementos que a ca-racterizam como um espaço para desenvolvimento de atividades contemplativas, recre-ativas, mistas (lazer, cultura, esporte), de conservação e até memorial, já que uma parte do patrimônio histórico da cidade foi conservado. O anexo A – Tipos de Espaços Livres

apresenta essas classiicações em sua completude.

Outros autores também classiicaram esses espaços; Lima (Org, 1994 apud LOBO -DA; DE ANGELIS, 2005) conceitua essas áreas com termos como espaço livre, que é um conceito mais abrangente, pois integra outros espaços e se diferencia daqueles ocupados

por construções dentro da área urbana. Áreas verdes é um termo que também igura

nas proposições de Lima5 e caracteriza espaços com predomínio de vegetação como nas

praças, parques, jardins públicos, canteiros centrais, rotatórias etc. Em contrapartida, o parque urbano tem uma função ecológica preponderante, além de integrar atividades de lazer e estética e é diferenciado das outras áreas pela sua dimensão.

Podemos dar destaque ao que Lima6 deine como praça, pois sua deinição a ca

-racteriza como área cuja principal função é o lazer e, mesmo não sendo permeável pela presença de área verde, pode ter a função de contemplação e convivência.

A denominação que Llardent (1982, p. 151 apud LOBODA; DE ANGELIS, 2005) usa

para essas áreas está resumida em três dimensões, onde a primeira é um sistema de

espaços livres que engloba o espaço livre caracterizado por áreas verdes livres de edii -cações e que, por sua vez, integra as “zonas verdes”, cujas áreas com predominância de vegetação correspondem ao que se denomina como parques, praças e jardins.

5 (LIMA, org., 1994 apud LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. Áreas verdes pú

-blicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência, Guarapuava, PR v.1 n.1 p. 125-139 jan./jun. 2005. Disponível em: <http://www.unicentro.br/EDITORA/REVISTAS/AMBIENCIA/v1n1/artigo%20125-139_.

pdf>. Acesso em: 07 mai. 2012 6 Ibid.

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Alex (2008) deine a praça “não apenas como um espaço físico aberto, mas também como um centro social integrado ao tecido urbano” e ainda cita Kevin Lynch (1981, apud

ALEX, 2008, p. 23) para evidenciar sua argumentação:

The square ou plaza. Este é um modelo diferente de espaço aberto ur-bano, tomado fundamentalmente das cidades históricas europeias. A plaza pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área

“intensamente” urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e deinida por ediicações de alta densidade e circundada por ruas ou em contato com

elas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam encontros: fontes, bancos, abrigos e coisas parecidas. A vegetação pode ou não ser proeminente. A piazza italiana é o tipo mais comum. Em al-gumas cidades americanas em que a densidade das pessoas nas ruas é

alta o suiciente, essa forma tem-se sucedido elegantemente. Em outros

lugares, essas plazas emprestadas podem ser melancólicas e vazias.

Alguns autores, no entanto, deinem a praça considerando sua forma preponderan

-te ao seu viés social, como por exemplo Claire Cooper-Marcus e Carolyn Francis (1990, apud ALEX, 2008, p. 24) que consideram a praça como “[...] uma área pavimentada do espaço externo de onde os carros são excluídos. [...] a superfície predominante é a pavi

-mentada [hard surfasse] e, se a área plantada exceder a superfície pavimentada, deve-se

deini-la como park”.

No Brasil, dentro de um contexto de sucessivas mutações sociais, podemos dizer que as praças acompanharam essas transformações. Depois de ter passado por um período em que desempenhou a função de elo entre a comunidade e a Paróquia da cidade colonial brasileira, além de na segunda metade do século XIX, passar a ser objeto de projetos com

foco no paisagismo, em 1920 os parques e praças nacionais passam a ser uma opção de

lazer, tendo não mais somente a função contemplativa (ROBBA; MACEDO, 2010).

Embora a formação cultural do espaço tenha surgido e se transformado ao longo do tempo, sua inspiração de forma sempre foi europeia, principalmente no momento do ecletismo, em que se buscava um padrão europeu que nunca foi alcançado por falta de

investimento. Essa situação fez surgir o que Queiroga (2001, p. 60) classiica como “pra -ças-jardim” e “praças-ajardinadas”.

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32

expatriação estrutural de recursos, se criaram alguns poucos jardins, so-bretudo nas maiores cidades de então, e muito mais “praças-jardim” e “praças-ajardinadas”.

No entanto, a função da praça se diversiica no país, tornando-a um espaço público

necessário, como lembra Bartalini (2007, p. 1):

As praças também nasceram de necessidades: de espaço para abrigar as atividades de troca e para a tomada de decisões coletivas; de endereço para os encontros7, para as festividades, de um símbolo para a

comuni-dade, enim, de um “centro” facilmente acessível para a realização das

mais variadas funções.

Sendo assim, as classiicações feitas por Queiroga (2001) apresentam diferenças.

Para ele, a “praça-ajardinada” é o que chamamos de praça e a “praça-jardim” é um híbri-do de praça e jardim que, por ser demasiadamente ajardinada, não oferece lugares onde o público possa se expressar, desfavorecendo as aglomerações de pessoas, elemento

essencial que caracteriza uma praça. Como exemplo de praça-jardim Queiroga (2001, p.

60) cita a Praça Buenos Aires8, no bairro de Higienópolis em São Paulo. Na “praça-jardim”, a atividade pública torna-se “enfraquecida diante do conceito de praça e das potenciali-dades de ações da esfera da vida pública”.

Derivando a “praça-ajardinada” e dividindo o espaço entre ajardinado e pavimen-tado como elementos de diferenciação entre as tipologias mais encontradas no Brasil, ainda temos dentre essas duas tipologias, a que chamamos de parque. O parque, no

en-tanto, possui características especíicas que propiciam mais o lazer e o paisagismo do que

propriamente a concentração e interação pública. Vejamos como se dá essa distinção:

As praças ajardinadas distinguem-se dos parques pois nestes, o sistema de ações e objetos privilegia, em essência, o lazer, o passeio, a fruição da paisagem, o descanso e a recreação e não o encontro e a manifestação pública. A fragmentação em subespaços é mais intensa no parque que

7 Sobre os jardins públicos brasileiros, sobretudo do século XIX, cf. SEGAWA, Hugo. Ao amor do público:

jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 60.

8 Classiicada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente como Parque Buenos Aires desde 1988. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/parques/ regiao_centrooeste/index.php?p=5732>. Acesso em 29 set. 2013.

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na praça, esta é, por excelência, voltada a co-presença, enquanto no

parque dá-se a dispersão mais que a reunião. (QUEIROGA, 2001, p. 61).

No Brasil, que apesar de ter sofrido inluência europeia na constituição de suas pra -ças, habituou-se a chamar de praça áreas verdes públicas arborizadas ou simplesmente gramadas como, por exemplo, as rotatórias e canteiros centrais de avenidas nem sempre acessíveis ao público devido ao tráfego e à falta de estrutura de lazer. Robba e Macedo

(2010, p.17) deinem praças como: “espaços livres de ediicação, públicos e urbanos, des -tinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos”. No entanto, ainda pode ser motivo de dúvida a distinção entre parque e praça. Usualmente, no município de São Paulo, a implantação, manutenção e gestão dos parques está sob responsabilidade da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e as praças sob responsabilidade das subprefeituras, possuindo elementos que os dis-tinguem entre si.

Segundo Buzzo et al. (2012), as principais diferenças entre os parques e praças são que os parques possuem cerca e horários de funcionamento, estruturas de apoio, como banheiros e bebedouros, possui segurança terceirizada, sendo administrados por um con-selho gestor, enquanto as praças, tendem a não ter gradeamento e ter acesso irrestrito.

Isso posto, podemos caracterizar a Praça Victor Civita, objeto de nosso estudo, como um Espaço Livre público, de práticas sociais de uso misto: uma praça; entretan-to, algumas de suas características a enquadram como um parque, como por exemplo, ter horário de funcionamento determinado. Porém, a fundamental característica – estar

sob a responsabilidade da Subprefeitura de Pinheiros – a deine como praça e assim a classiicaremos.

É evidente que, como veremos mais à frente, nem todos os elementos apontados

por Lynch (1981, apud ALEX, 2008) são encontrados na Praça Victor Civita, pois esta foi

criada em local onde antes funcionava outro equipamento urbano; no entanto o partido adotado em seu projeto sugere o lazer e a convivência como principais âncoras do espa-ço, caracterizando-a, portanto, como uma praça.

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Como vimos, dentro do espectro das tipologias apresentadas, a praça tem

caracte-rísticas especíicas e formais que a deinem como espaço público, voltado para a convi -vência, exercida por meio das práticas sociais e de lazer, além de ser um espaço dotado de certos elementos construtivos, como acesso, mobiliário, vegetação, água, sombra, limpeza, segurança e recreação, que podem ser encontrados em bons projetos e repre-sentam a forma contemporânea da praça.

Nos espaços públicos, percebemos as transformações urbanísticas e comporta-mentais da sociedade. É a sociedade que interfere na formação de políticas que pautam a formação do espaço. Dentro da lógica de público e privado, encontramos elementos

te-óricos capazes de nos fazer entender como um espaço pode ser deinido como público.

Se o urbanismo moderno atribuía ao público o que era externo e de uso coletivo, a sociedade contemporânea deve considerar o individualismo como uma nova forma de olhar o público; e é o movimento social, inerente ao espaço, que transforma o entendi-mento do que é público e do que é privado.

Daí, a noção de público e privado é importante para se pensar na função do espaço público. O privado pode ser entendido como o que está na particularidade de uma pes-soa, e o público, o que diz respeito à comunidade cívica. Mas mesmo que entendamos o público e o privado como conceitos antagônicos, eles não se contrapõem entre si, pois o privado também tem uma função social expressiva que visa o bem comum.

Na análise do espaço público, podemos entender as transformações na sociedade que também repercutem na tipologia que encontramos para caracterizar esses lugares.

A natureza do espaço é deinida pelo seu uso e absorve as diversas fases nas quais a vida

urbana se insere. É o caso dos diversos usos que o espaço agregou ou abandonou ao longo da história, passando de lugar de troca e protesto para o de lazer e contemplação.

Dentro das tipologias estudadas, a Praça Victor Civita, apesar de não possuir todos os elementos formais que caracterizam uma praça, encerra grande parte dos princípios fundamentais que explicam uma praça em seu programa, concentrando atividades de lazer, educativa e cultural. Podemos assim perceber que, em sua criação, o espaço deve prever que as trocas e atividades pessoais devem acontecer livremente, mesmo havendo regras que organizem a sociedade e o coletivo.

Podemos, então, deinir o espaço público como aquele aberto e acessível a todos,

onde são exercidas as manifestações individuais ou coletivas capazes de transmitir e

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demonstrar as relações e transformações vividas pela sociedade. Esse espaço compreen-de diversas tipologias, compreen-descompreen-de àquelas que garantem a circulação, como as calçadas, até

a praça, local de lazer e convívio social, que possui elementos especíicos que a caracte

-rizam e que encerram as práticas sociais, de convívio e lazer, relexos esses das transfor -mações da sociedade.

Na cidade atual, a sociedade está conectada por redes que têm a solidariedade como elemento indispensável para a discussão da construção do espaço público con-temporâneo, visto como um espaço efêmero que se transforma à medida que a socieda-de quer ou necessita.

A praça, mesmo tendo sofrido transformações em seu estilo, ainda permanece como referencial de lazer, tranquilidade e qualidade de vida para a população. No entan-to, apesar da responsabilidade que o poder público tem em fornecer espaços de

qua-lidade à população, nem sempre o planejamento inanceiro municipal leva em conta a

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2. A parceria público-privada na

construção do espaço público

C

ódigos e regulações de uso e ocupação do solo – mais precisamente leis que autorizam os empreendimentos imobiliários a terem uma taxa de ocupação do terreno maior que a permitida em uma determinada região, desde que estes

des-tinem parte de sua área a espaços livres com acesso ao público – oicializaram as PPPs para a construção do espaço público. Mas a parceria público-privada não icou só nessa

concessão de uso de área; hoje, muitas cidades do mundo têm transferido a construção e manutenção de praças e outras áreas verdes municipais aos cuidados de empresas que, em troca de publicidade, cuidam dessas áreas.

Essa condição, em que o poder público partilha com a iniciativa privada – e muitas vezes com a população, os cuidados na manutenção da cidade, não é novidade. Nos

Estados Unidos, desde a década de 1960, são feitas parcerias, que nem sempre são bem vistas pela sociedade, mas que reletem a forma da cidade contemporânea que podemos

entender como esforços conjuntos para construção coletiva do espaço. Vejamos o que Ascher (2010, p. 56) nos diz a respeito:

Todavia, um novo tipo de regulação parece se esboçar, ao qual

poderí-amos classiicar de “regulação de parceria”, na medida em que os ato

-res, com lógicas diferenciadas e com interesses divergentes e conlitan -tes em uma série de pontos, se esforçam ou são obrigados a elaborar gestos comuns, negociar compromissos duradouros e criar instituições coletivas.

Mesmo sendo um sinal claro de nossa contemporaneidade, as parcerias públi-co-privadas, usadas na construção e gestão do espaço público, têm sido muitas vezes contestadas por trazerem ao espaço um caráter de espaço privado construído em área

pública. Além disso, esses espaços sofrem códigos e regulações nem sempre deinidos

apenas pelo poder público, pois permitem ao gestor do espaço estabelecer regras que cerceiem ou ao menos inibam a plena utilização do espaço público. Essa preocupação é

clara há muito tempo para alguns urbanistas. Sobre isso Lefebvre (1972, apud CARLOS, 2001,

p. 49-50) nos mostra sua visão entre a cidade-realidade presente e a realidade so-cial, repleta de relações a serem estabelecidas. Nesse sentido, as regulamentações,

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