UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIˆENCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE F´ISICA TE ´ORICA E EXPERIMENTAL PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA
UM ESTUDO NA TEORIA DO MOVIMENTO
BROWNIANNO COM VISCOSIDADE VARI ´
AVEL
AUTOR: JO ˜AO MARIA DA SILVA
ORIENTADOR: PROF. Dr. JOS´E ADEMIR SALES DE LIMA
Disserta¸c˜ao de mestrado apresentada ao Departamento de F´ısica Te´orica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial `a obten¸c˜ao do t´ıtulo de MESTRE em
F´ISICA.
Sum´
ario
1 Quatro Abordagens para o Movimento Browniano 5
1.1 Introdu¸c˜ao . . . 5
1.2 Movimento Browniano e equa¸c˜ao de difus˜ao: O Tratamento de Einstein . . 6
1.3 O Tratamento de Langevin . . . 15
1.4 A Equa¸c˜ao de Fokker-Planck . . . 22
1.5 Caminhadas Aleat´orias: Tratamento de M. Kac . . . 27
1.6 A Equa¸c˜ao de Difus˜ao Generalizada . . . 31
2 Descri¸c˜ao Lagrangiana para Sistemas com Amortecimento Vari´avel 36 2.1 Introdu¸c˜ao . . . 36
2.2 Lagrangiana Para Sistemas Dissipativos . . . 37
2.3 O q-Oscilador . . . 40
2.4 Um exemplo: Dinˆamica de Campos Escalares em Cosmologia . . . 46
3 Sistemas com Amortecimento Vari´avel: Formalismo de Langevin 49 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 49
3.2 Equa¸c˜ao de Langevin com Viscosidade Dependente do Tempo . . . 50
3.3 Equa¸c˜ao de Langevin Com Ru´ıdo Colorido . . . 56
3.4 Ru´ıdo Colorido: O Caso Geral . . . 63
3.5 Part´ıcula Ligada por um Potencial Harmˆonico . . . 67
3.6 Difus˜ao Anˆomala e Normal em Sistemas com Mem´oria . . . 71
3.7 Conclus˜oes e Perspectivas . . . 75
A Um M´etodo de Integra¸c˜ao Mais Geral 77
B O q-Oscilador: Uma Solu¸c˜ao Formal 80
Lista de Figuras
1.1 As curvas mostram a evolu¸c˜ao temporal da distribui¸c˜ao de probabilidade η(x, t) no regime difusivo unidimensional. Para tempos pr´oximos de zero a curva azul representa uma fun¸c˜ao delta centrada em torno da origem x0 = 0. Com o passar do tempo esta curva evolui como uma distribui¸c˜ao
gaussiana de largura vari´avel. . . 14 2.1 O balde de massaM est´a suspenso por um fio de comprimentol. O sistema
executa um movimento harmˆonico simples, mas tem sua amplitude vari´avel devido `as gotas de ´agua da chuva caindo numa taxa constante. A massa M cresce obedecendo a rela¸c˜ao M =meλt. . . 38
2.2 Evolu¸c˜ao do coeficiente de fric¸c˜aoγq(t) para diferentes valores do parˆametro
livre q. O gr´afico `a esquerda representa o comportamento paraq <1, e no outro, `a direita, a evolu¸c˜ao para q >1. . . 42 2.3 Comportamento caracter´ıstico da amplitude dos q-osciladores. Da
Nota¸
c˜
ao e Algumas Defini¸
c˜
oes
Constante de Boltzmann: kB
N´umero de Avogadro: Na
Coeficiente de difus˜ao: D
Coeficiente de difus˜ao generalizado: Dq(t)
Coeficiente de viscosidade: γ Constante universal do gases: R
Raio das part´ıculas em movimento browniano: rp
Constante de Hubble: H0
Fator de escala do universo: a(t)
Fun¸c˜ao Gamma: Γ(n) = (n−1)(n−2)(n−3)...(n−m)Γ(n−m) = (n−1)! Fun¸c˜ao de Bessel de primeira esp´ecie: Jν(x) = Σ∞s=0
(−1)s
s!(n+s)!(
x
2) 2s+n
Fun¸c˜ao de Bessel de segunda esp´ecie: Yν(x) = cosνπJν(x)
−J
−ν(x)
sinνπ
Fun¸c˜ao de Bessel modificada de ordem zero: I0
Distribui¸c˜aoq-exponencial: eq(x) = [1 + (1−q)x]1/1
Agradecimentos
• Ao meu bom Deus criador de todas as coisas, por ter me concedido o dom do pensar.
• Ao Prof. Dr. Jos´e Ademir Sales de Lima, pela escolha do tema, pela orienta¸c˜ao, pela dedica¸c˜ao, pelo amigo que tem sido, e principalmente, pela confian¸ca depositada em mim. Meus sinceros agradecimentos pela sua extrema preocupa¸c˜ao no encaminhamento deste trabalho e pela aten¸c˜ao que tem me dedicado durante todo esse tempo.
• A minha m˜ae, ao meu pai, enfim, `a toda minha fam´ılia, por ter me` incentivado e me fornecido o suporte emocional e moral.
• Meus sinceros agradecimentos a todos os meus amigos do DFTE: `a Rose Cl´ıvia pelos momentos de descontra¸c˜ao e pela sua ajuda nos momentos dif´ıceis, isso fortaleceu nossa amizade. `A Jos´e Roberto pelos momentos agrad´aveis com suas historinhas e piadas, `a Pedro Carlos pelo amigo que tem se mostrado, `a Edcarlos, Jo˜ao Vital, Jean Ricardo, Carlos Heitor, Marcelo Durval, Marcelo Bruno, Armando Ara´ujo e Edalmir. `A F´abio Sales pela sua extrema competˆencia em representar os estudantes da p´os-gradua¸c˜ao. `A Francisco Carlos pela amizade e pelas brincadeiras nas horas vagas. `A Rubens, Ana Cristina, Robson, Neemias e outros mais que agora n˜ao me vem `a mente. Aos antigos e atuais integrantes do P.E.T, por estarem sempre presente, principalmente nos finais de semana, enfim, `a todos que, de uma forma ou de outra, contribu´ıram para a conclus˜ao deste trabalho.
Resumo
Neste trabalho n´os investigamos o comportamento estoc´astico de uma grande classe de sistemas com amortecimento vari´avel descritos por uma lagrangiana dependente do tempo. Nossa abordagem estoc´astica ´e baseada no formalismo de Langevin descrevendo o comportamento de uma part´ıcula browniana cl´assica de massa m. Duas situa¸c˜oes de interesse f´ısico s˜ao consideradas. Inicialmente, uma aplica¸c˜ao do tratamento padr˜ao de Langevin (ru´ıdo branco) para viscosidade vari´avel ´e discutido em detalhe. Na segunda abordagem, um ponto de vista mais geral ´e adotado supondo uma dada express˜ao para o chamado ru´ıdo colorido. Em ambos os casos as equa¸c˜oes diferenciais b´asicas s˜ao analiticamente resolvidas, e todas as quantidades fisicamente relevantes s˜ao explicitamente determinadas. Os resultados dependem de um parˆametro arbitr´ario (q) medindo como o comportamento dinˆamico do sistema se afasta daquele apresentado pela part´ıcula browniana com viscosidade constante. V´arios tipos de comportamentos estoc´asticos (subdifusivos and superdifusivos) s˜ao obtidos quando o parˆametro livre q varia continuamente. Contudo, no limite
Abstract
Introdu¸
c˜
ao
Os estudos experimentais e te´oricos sobre teoria de flutua¸c˜oes em f´ısica e ´areas relacionadas tˆem feito avan¸car consideravelmente nossa compreens˜ao sobre a natureza dos processos estoc´asticos. Em particular, a f´ısica estat´ıstica e a termodinˆamica para processos fora de equil´ıbrio tˆem nos proporcionado uma vis˜ao cada vez mais elaborada do comportamento f´ısico de tais sistemas.
´
E bem conhecido que muitos fenˆomenos na natureza se conectam por quantidades que podem variar com o tempo de maneira bastante complexa e irregular, como por exemplo, a posi¸c˜ao e a velocidade de uma part´ıcula executando movimento browniano. A origem desse fenˆomeno remonta ao ano de 1828 quando Robert Brown, botˆanico inglˆes, verificou que pequenos gr˜aos de p´olen imersos na superf´ıcie de um l´ıquido adquiriam uma esp´ecie de movimento irregular.
´epoca. Entretanto, `a medida em que o s´eculo XIX chegava ao fim, se generalizava a aceita¸c˜ao da realidade dos ´atomos e das mol´eculas, ainda que permanecessem alguns grupos de resistˆencia. Mesmo de posse dessas e outras observa¸c˜oes, n˜ao foi poss´ıvel estabelecer, na ´epoca, uma teoria satisfat´oria que tornasse claro a verdadeira essˆencia do movimento browniano, e por isso, este fenˆomeno permaneceu por um longo tempo na fronteira da f´ısica como um grande mist´erio.
Somente no in´ıcio do s´eculo XX, com base na id´eia de press˜ao osm´otica e na sua rela¸c˜ao com a teoria da difus˜ao, Einstein consegue chegar a primeira dedu¸c˜ao te´orica das leis que governam o movimento browniano [1]. Sua subseq¨uente verifica¸c˜ao experimental feita por Jean Perrin, contribu´ıram de forma significativa para o reconhecimento da realidade f´ısica da estrutura atˆomico molecular da mat´eria.
Numa s´erie de experimentos cujos primeiros resultados foram publicados em 1908, Perrin conseguiu obter uma precis˜ao at´e ent˜ao inigual´avel na confirma¸c˜ao de quase todas as previs˜oes de Einstein. Nesses primeiros experimentos, Perrin testou uma f´ormula para a distribui¸c˜ao vertical de part´ıculas em suspens˜ao sob a influˆencia da gravidade. Desafiado pelos cr´ıticos da ´epoca, ele aplicou seus m´etodos na determina¸c˜ao do n´umero de Avogadro, obtendo resultados em excelente acordo com as previs˜oes te´oricas de Einstein.
Os estudos de Einstein sobre o movimento browniano constituem um dos pontos altos da longa tradi¸c˜ao de pesquisa sobre a teoria cin´etica do calor1 e ainda das suas pr´oprias contribui¸c˜oes para esse campo. Tais trabalhos serviram tamb´em como ponto de partida para estabelecer os estudos dos fenˆomenos de flutua¸c˜oes como um novo campo na ´area da f´ısica te´orica, pois
1Grandes contribui¸c˜oes para a teoria cin´etica do calor foram obtidas por Clausius, Maxwell, Boltzmann
os m´etodos por ele criado abriram novos horizontes para a f´ısica estat´ıstica2 e para uma teoria geral dos processos estoc´asticos.
Atualmente, os processos estoc´asticos constituem uma ferramenta da F´ısica extremamente apropriada para se investigar sistemas de n˜ao equil´ıbrio nos mais diferentes dom´ınios, incluindo economia, biologia, f´ısica da mat´eria condensada, astrof´ısica e cosmologia [2-5]. Por exemplo, no campo das ciˆencias econˆomicas, ´e poss´ıvel investigar um sistema que possue caracter´ısticas semelhantes a de um sistema randˆomico. Nesse caso, conceitos de f´ısica estat´ıstica, tais como dinˆamica estoc´astica, correla¸c˜ao de curto e longo alcance e auto-similaridade, permitem um entendimento do comportamento global do sistema [6]. Usualmente, tais sistemas est˜ao entre os mais fascinantes e intrigantes sistemas complexos que podem ser investigados.
´
E neste contexto das teorias que descrevem os processos estoc´asticos que se insere o presente trabalho. Em poucas palavras, nosso objetivo b´asico ´e estender o tratamento de Langevin para uma classe de sistemas lagrangianos com amortecimento vari´avel.
No cap´ıtulo I, faremos uma revis˜ao detalhada da teoria padr˜ao do movimento browniano apresentando quatro maneiras independentes de reproduzir os mesmos resultados. Primeiramente, discutiremos o tratamento de Einstein [1] que foi de fundamental importˆancia para a consolida¸c˜ao da teoria, e em seguida, o tratamento de Paul Langevin [7] obtido via uma equa¸c˜ao diferencial estoc´astica. Posteriormente, apresentaremos o tratamento em termos da equa¸c˜ao Fokker-Planck [9], e finalmente, a abordagem via caminhadas aleat´orias proposta por M. Kac [8].
No cap´ıtulo II ´e feito uma revis˜ao da f´ısica envolvendo alguns sistemas
2Em seus trabalhos sobre mecˆanica estat´ıstica, Einstein chamou aten¸c˜ao para o importante papel das
com amortecimento vari´avel. A teoria ´e desenvolvida atrav´es de uma
q-lagrangiana que generaliza a lagrangiana padr˜ao e incorpora de forma natural os efeitos de amortecimentos dependentes do tempo. Tais sistemas ser˜ao genericamente denominados de q-osciladores, sendo o oscilador amortecido com viscosidade constante um caso particular.
Cap´ıtulo 1
Quatro Abordagens para o
Movimento Browniano
1.1
Introdu¸
c˜
ao
O movimento irregular de pequenas part´ıculas imersas num banho t´ermico (ou num l´ıquido) e vis´ıveis com o aux´ılio de um microsc´opio, foi primeiramente observado pelo botˆanico Inglˆes Robert Brown em 1828. Ele notou que essas part´ıculas em suspens˜ao adquiriam uma esp´ecie de movimento err´atico que posteriormente ficaria popularmente conhecido pelo nome de Movimento Browniano (MB). Durante muito tempo, um
estendida por muitos outros f´ısicos. Importantes contribui¸c˜oes foram dadas por Langevin [10], Fokker [11], Planck [12], Burger [13], F¨urther [14], Ornstein [15], Smoluchowski [16] e outros mais. Em virtude de um grande n´umero de trabalhos terem se dedicado a generalizar e compreender tal problema, discutiremos neste cap´ıtulo, como ´e poss´ıvel abordar o movimento browniano de quatro maneiras distintas, a saber: o tratamento de Einstein, o de Paul Langevin, a abordagem via equa¸c˜ao de Fokker-Planck, e finalmente, as caminhadas aleat´orias de M. Kac.
O movimento browniano tem sido intensamente investigado do ponto de vista f´ısico e matem´atico, como um exemplo importante de processo estoc´astico e constitue uma ferramenta fundamental para o estudo de sistemas f´ısicos de n˜ao equil´ıbrio. Tais sistemas s˜ao encontrados em diferentes ´areas da f´ısica, desde a n´ıvel microsc´opio, como verificado na difus˜ao de part´ıculas num solvente at´e escalas de ordem astronˆomicas, tal como observado em sistemas estelares [17]. Um exemplo interessante desse ´
ultimo tipo ´e um Buraco Negro (BN) no centro de um sistema estelar denso. Quando sua massa ´e muito grande, o BN adquire um movimento que ´e semelhante ao de uma part´ıcula em suspens˜ao num l´ıquido ou g´as [18].
1.2
Movimento Browniano e equa¸
c˜
ao de difus˜
ao: O
Tratamento de Einstein
pequeno em compara¸c˜ao com os tempos de observa¸c˜ao, mas suficientemente longo para que os movimentos executados por diferentes part´ıculas no intervalo de tempo τ possam ser considerados eventos independentes.
Suponhamos que existamN part´ıculas em suspens˜ao num l´ıquido. Num intervalo de tempo τ, as coordenadas x das part´ıculas variam de △x = ρ, onde ρ pode assumir valores diferentes (positivo ou negativo) para cada part´ıcula. Uma determinada lei de distribui¸c˜ao de probabilidades deve ser satisfeita pela vari´avel ρ: o n´umero de part´ıculas dN que sofrem um deslocamento entre x e x+ ρ no intervalo de tempo τ, pode ser expresso por uma equa¸c˜ao da forma [1]
dN = N φ(ρ)dρ (1.1)
com a distribui¸c˜ao φ(ρ) satisfazendo a condi¸c˜ao de normaliza¸c˜ao
Z +∞
−∞ φ(ρ)dρ = 1, (1.2)
onde φ(ρ) ´e uma fun¸c˜ao par (φ(ρ) = φ(−ρ)) e diferente de zero apenas para valores muito pequenos. Sejaη(x, t) o n´umero de part´ıculas por unidade de comprimento e calculemos a distribui¸c˜ao de part´ıculas no instante t+τ, a partir da distribui¸c˜ao delas no instante t. Baseado na defini¸c˜ao da fun¸c˜ao
φ(ρ), o n´umero de part´ıculas que no instante t+τ se encontram entre x e
x+ρ, ´e dado por[1]:
η(x, t+τ)dx = dxZ ρ=+∞
ρ=−∞ η(x+ρ, t)φ(ρ)dρ. (1.3)
Comoτ ´e muito pequeno, podemos fazer uma expans˜ao at´e segunda1 ordem no tempo
η(x, t+τ) =η(x, t) +τ∂η(x, t) ∂t +
τ2
2
∂η2(x, t)
∂t2 + ..., (1.4)
1Einstein considerou em seus resultados apenas a expans˜ao em primeira ordem. Por raz˜oes que ser˜ao
al´em do mais, como ρ tamb´em ´e pequeno, desenvolveremos η(x+ρ, t) em potˆencias at´e segunda ordem em ρ
η(x+ρ, t) = η(x, t) +ρ∂η(x, t) ∂x +
ρ2
2!
∂2η(x, t)
∂x2 + .... (1.5)
Inserindo esses dois ´ultimos resultados na integral (1.3), obtemos
η+∂η
∂tτ+ τ2
2
∂2η
∂t2 = η
Z +∞
−∞ φ(ρ)dρ+
∂η ∂x
Z +∞
−∞ ρφ(ρ)dρ+
∂2η
∂x2
Z +∞
−∞
ρ2
2 φ(ρ)dρ+... (1.6) No lado direito dessa equa¸c˜ao, o segundo, o quarto e sexto termos etc, s˜ao todos identicamente nulos uma vez que φ(ρ) = φ(−ρ). Logo, considerando a equa¸c˜ao (1.2) e desprezando termos de terceira ordem em diante, temos
τ
2
∂2η ∂t2 +
∂η ∂t = D
∂2η
∂x2, (1.7)
onde
D = 1
τ
Z +∞
−∞
ρ2
2 φ(ρ)dρ. (1.8)
A equa¸c˜ao (1.7) representa uma esp´ecie de difus˜ao generalizada. A quantidade η(x, t) ´e a concentra¸c˜ao de part´ıculas por unidade de comprimento em torno de x num instante arbitr´ario e a constante D ´e o coeficiente de difus˜ao. No limite
τ
2
∂2η ∂t2 <<
∂η
∂t (1.9)
a equa¸c˜ao (1.7) se reduz para
∂η ∂t = D
∂2η
∂x2, (1.10)
do movimento browniano tal como analisado por Einstein. Como um exemplo ilustrativo desse tratamento, vamos obter a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (1.10) quando o processo difusivo satisfaz a seguinte condi¸c˜ao inicial
η(x, t = 0) = N δ(x), (1.11)
onde N ´e o n´umero total de part´ıculas e δ denota a fun¸c˜ao de Dirac. De fato, a condi¸c˜ao inicial acima implica que
Z +∞
−∞ η(x, t = 0)dx =
Z +∞
−∞ N δ(x)dx = N. (1.12)
A solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (1.10) ´e mais facilmente obtida considerando o m´etodo de integral de Fourier. De acordo com esse m´etodo, a concentra¸c˜ao pode ser definida como [19]
η(x, t) = √1 2π
Z +∞
−∞ ηk(t)e
ikxdk, (1.13)
onde os coeficientes da expans˜ao s˜ao determinados pela transformada inversa
ηk(t) = 1 √
2π
Z +∞
−∞ η(x
′, t)e−ikx′
dx′. (1.14)
Calcularemos as derivadas temporal e espacial deη(x, t) e substituiremos os resultados na equa¸c˜ao de difus˜ao (1.10). Vemos de (1.13) que as derivadas s˜ao dadas por:
∂η ∂t =
1 √
2π
Z +∞
−∞
∂ηk
∂t e
ikxdx, (1.15)
∂2η ∂x2 = −
1 √
2π
Z +∞
−∞ k
2η
k(t)eikxdk (1.16)
que substitu´ıdas em (1.10), resulta na seguinte express˜ao
1 √
2π
Z +∞
−∞
∂ηk
∂t e
ikxdx+ √1 2π
Z +∞
−∞ Dk
2η
ou equivalentemente, 1 √
2π
Z +∞
−∞ (
∂ηk
∂t +Dk
2η
k)eikxdk = 0. (1.18)
Como a equa¸c˜ao acima ´e v´alida para todo instante, seu integrando deve ser identicamente nulo, de forma que
∂ηk
∂t +Dk
2η
k = 0, (1.19)
cuja solu¸c˜ao pode ser escrita imediatamente como:
ηk(t) = ηk0e−Dk
2t
. (1.20)
Com este resultado, a defini¸c˜ao (1.13) toma a seguinte forma:
η(x, t) = √1 2π
Z +∞
−∞ ηk0(t)e −Dk2t
eikxdk. (1.21)
Por outro lado, considerando que
η(x,0) = √1 2π
Z +∞
−∞ ηk0(t)e
ikxdk, (1.22)
temos para a transformada inversa
ηk0 = 1 √
2π
Z +∞
−∞ η(x
′,0)e−ikx′
dx′, (1.23)
e de (1.21), a concentra¸c˜ao de part´ıculas pode ser reescrita como
η(x, t) = 1 2π
Z +∞
−∞ η(x
′,0)dx′Z +∞
−∞ e
−Dk2t
eik(x−x′)dk = 1
2π
Z +∞
−∞ η(x
′,0)dx′Z +∞
−∞ e
−Dk2t
×
{cos[k(x−x′)] +isin[k(x−x′)]}dk. (1.24)
Note que a segunda parcela na express˜ao acima ´e igual a zero, pois trata-se do produto de uma fun¸c˜ao par por uma fun¸c˜ao ´ımpar, com a equa¸c˜ao se reduzindo para
η(x, t) = 1 2π
Z +∞
−∞ η(x
′,0)dx′Z +∞
−∞ e
−Dk2t
A integra¸c˜ao deste resultado ´e mais facilmente obtida considerando as seguintes mudan¸cas de vari´aveis: k = y, ρ = x − x′ e α = Dt, com a express˜ao (1.25) tomando a seguinte forma
η(x, t) = √ 1 4πDt
Z +∞
−∞ η(x
′,0)e−(x−x′)2
4Dt dx′. (1.26)
Para integrar essa express˜ao, devemos notar que de acordo com a condi¸c˜ao (1.11), em t = 0 todas as part´ıculas est˜ao centradas em torno da origem, ou seja, η(x′,0) = N δ(x′). Segue portanto, que a concentra¸c˜ao pode ser escrita como
η(x, t) = √ N 4πDte
−x2
4Dt. (1.27)
O resultado acima nos mostra que as part´ıculas se comportam como num processo gaussiano difusivo. A fun¸c˜ao η(x, t) inicialmente representa uma delta centrada em torno da origem x = 0. No entanto, como veremos a seguir, `a medida que o tempo passa ela evolui como uma distribui¸c˜ao gaussiana de largura vari´avel.
Uma vez calculado a fun¸c˜ao η(x, t), ´e interessante determinar a distribui¸c˜ao de probabilidade de que uma part´ıcula da amostra ocupe a posi¸c˜ao entre x e x + ρ, quando em t = 0, iniciou seu movimento da posi¸c˜ao x0 com velocidade inicial v0. O conhecimento de tal fun¸c˜ao ´e de fundamental importˆancia para se obter quantidades de interesse f´ısico, tais como o deslocamento quadr´atico m´edio e a variˆancia na velocidade. A distribui¸c˜ao de probabilidade pode ser obtida dividindo-se a concentra¸c˜ao pelo n´umero total de part´ıculas. Ou seja,
P(x, t) = η(x, t)
N =
1 √
4πDte
−x2
4Dt. (1.28)
Comparando essa equa¸c˜ao com a distribui¸c˜ao de probabilidades gaussiana
P(x) = √ 1 2πσ2e
−(x−<x>)2
2σ2 , (1.29)
Este resultado significa que na teoria do movimento browniano, as grandezas fisicamente relevantes est˜ao diretamente relacionadas com os primeiros e os segundos momentos, que ´e uma propriedade geral da distribui¸c˜ao gaussiana. Tais momentos podem ser calculados da rela¸c˜ao:
< xn >= Z +∞
−∞ x
nP(x, t)dx. (1.30)
Utilizando a fun¸c˜ao distribui¸c˜ao (1.29), o valor de < x > e σ2 podem ser obtidos diretamente por c´alculos alg´ebricos considerando a express˜ao geral. O primeiro momento ´e o deslocamento m´edio2,
< x >= Z +∞
−∞ x
1 √
4πDte
−x2
4Dtdx = 0. (1.31)
Seguindo a mesma prescri¸c˜ao, o segundo momento da distribui¸c˜ao ´e o deslocamento quadr´atico m´edio3 que pode ser escrito como (veja [19])
< x2 >= √ 2 4πDt
Z ∞
0 x
2e−x2
4Dtdx = 2Dt (1.32)
que na teoria do MB ´e conhecida como rela¸c˜ao de Einstein. O coeficiente de difus˜ao D na equa¸c˜ao (1.32) deve ser uma fun¸c˜ao da temperatura e dos parˆametros geom´etricos da part´ıcula. Einstein mostrou que para part´ıculas esf´ericas de raio rp, o coeficiente D pode ser calculado a partir da mobilidade b e da temperatura do meio no qual a part´ıcula se encontra. O parˆametro b, denominado de mobilidade, pode ser obtido da fluidodinˆamica, mais precisamente a partir da lei de Stokes [20]. A rela¸c˜ao exata satisfeita por D ´e:
D = kBT b =
kBT
6πγrp (1.33)
onde γ representa o coeficiente de viscosidade do meio, rp ´e o raio das part´ıculas e b = 1/6πγrp. Com isso, o deslocamento quadr´atico m´edio das part´ıculas no MB fica perfeitamente determinado [21], a saber
2Pois o integrando ´e composto pelo produto de uma fun¸c˜ao par por uma fun¸c˜ao ´ımpar.
3Para avaliar essa integral, basta fazer uso da seguinte rela¸c˜ao: R+∞ −∞ x
ne−αx2dx= 1
2 Γ(n+1
2 )
α(
n+1
< x2 >= RT 3πNaγrp
t. (1.34)
Na express˜ao acima utilizamos o fato de que a constante de Boltzman kB pode ser escrita como
kB =
R Na
, (1.35)
onde R ´e a constante universal dos gases e Na ´e o n´umero de Avogadro. Portanto, vemos que a part´ıcula se comporta como um processo difusivo com < x2 > ∝ t. Toda essa formula¸c˜ao unidimensional pode ser consistentemente extendido para trˆes dimens˜oes. Neste caso, n˜ao ´e dif´ıcil demonstrar que [20]
< r2 >= 6kBT bt =
RT πNaγrp
t, (1.36)
onde utilizamos o fato de que kB = R/Na.
As medidas experimentais do valor de < r2 > feitas por Jean Perrin em 1911, permitiram pela primeira vez se fazer uma estimativa do n´umero de Avogadro4 [22], obtendo-se resultados bastante precisos para a ´epoca. Dessa forma, o movimento browniano tratado via descri¸c˜ao de Einstein, passou a ser entendido como um m´etodo direto de se obter tal n´umero, visto que os resultados estimados por outros autores n˜ao estavam de acordo com tais experiˆencias.
Einstein posteriormente observou que seus resultados apresentavam inconsistˆencia para escalas de tempos curtas em compara¸c˜ao com os tempos caracter´ısticos do sistema. Uma maneira bastante f´acil de perceber tais dificuldades ´e calculando a velocidade da part´ıcula diretamente da equa¸c˜ao (1.36)
v =
v u u t
RT
2πNaγrp 1 √
t1/2. (1.37)
4Na ´epoca, Einstein j´a conhecia a constante universal dos gasesR e a constante de Boltzmann k
B,
combinou uma rela¸c˜ao entre elas duas dada porkB=R/Na e dessa maneira foi poss´ıvel estimar o valor
Como pode ser visto na express˜ao acima, no limite t −→ 0, a velocidade
v −→ ∞, sendo esta a raiz da dificuldade.
Figura 1.1: As curvas mostram a evolu¸c˜ao temporal da distribui¸c˜ao de probabilidade η(x, t) no regime difusivo unidimensional. Para tempos pr´oximos de zero a curva azul representa uma fun¸c˜ao delta centrada em torno da origem x0 = 0. Com o passar do
tempo esta curva evolui como uma distribui¸c˜ao gaussiana de largura vari´avel.
permanecem v´alidos para um regime de tempo suficientemente longo em compara¸c˜ao a escala de tempo caracter´ıstica do sistema.
Para corrigir essas dificuldades, precisar´ıamos considerar o termo de derivada segunda com respeito ao tempo na equa¸c˜ao de difus˜ao (1.10). Em outras palavras, ´e importante considerar a solu¸c˜ao anal´ıtica da equa¸c˜ao (1.7), j´a que ela incorpora naturalmente o termo ∂η2/∂t2, sugerindo que para tempos curtos teremos uma descri¸c˜ao ondulat´oria. Isso ser´a feito com detalhe na se¸c˜ao (1.6). Por enquanto, vamos proseguir examinando as diversas abordagens da teoria padr˜ao do movimento browniano.
1.3
O Tratamento de Langevin
Poucos anos ap´os o trabalho de Einstein, o f´ısico francˆes Paul Langevin [10], posteriormente seguido por F¨urther [14], Ornstein [15] e outros mais, iniciaram uma s´erie de estudos numa tentativa de abordar uma poss´ıvel generaliza¸c˜ao daqueles resultados. Tal abordagem, comumente conhecida como tratamento de Langevin, ser´a examinada com detalhe nesta se¸c˜ao.
O tratamento de Langevin para o movimento browniano de uma part´ıcula livre, isto ´e, na ausˆencia de um campo de for¸ca externo, ´e baseado na dinˆamica de uma equa¸c˜ao diferencial estoc´astica, mais popularmente conhecida como equa¸c˜ao de Langevin [7]
dv
dt = −γv+ ξ(t), (1.38)
onde v denota a velocidade da part´ıcula. Nesta equa¸c˜ao, a influˆencia do meio sobre o movimento da part´ıcula ´e decomposta em duas partes. Em primeiro lugar, existe uma for¸ca que varia lentamente, F = −γv, representando uma fric¸c˜ao dinˆamica sobre o movimeto da part´ıcula, onde
de observa¸c˜ao. Em outras palavras, ξ(t) ´e uma for¸ca flutuante que ´e uma caracter´ıstica b´asica de uma equa¸c˜ao diferencial estoc´astica. Esta fun¸c˜ao possui propriedades que Langevin definiu por duas condi¸c˜oes
< ξ(t) >= 0, (1.39)
< ξ(t)ξ(t′) >= Γδ(t−t′). (1.40)
De acordo com Ze’ldovich [23], essas propriedades caracterizam o chamado ru´ıdo branco (ver discuss˜ao nas p´aginas. 54 e 55).
A solu¸c˜ao anal´ıtica de (1.38) pode ser obtida pelo seguinte procedimento. Come¸camos por escrever a solu¸c˜ao da seguinte maneira (veja [7]):
v(t) = u(t)e−γt, (1.41)
onde u ´e uma fun¸c˜ao de t a ser determinada. Calculando a derivada temporal da express˜ao acima e substituindo o resultado na equa¸c˜ao original (1.38), vemos que ela satisfaz
du dt = e
γtξ(t), (1.42)
cuja solu¸c˜ao ´e trivialmente obtida:
u(t) =u0 +
Z t
0 e
γt′
ξ(t′)dt′, (1.43)
e substituindo em (1.41) temos que a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao de Langevin ´e dada por [7]
v(t) = v0e−γt +e−γt
Z t
0 e
γt′
ξ(t′)dt′. (1.44)
Devemos agora usar as propriedades da fun¸c˜ao ξ(t) para determinar a m´edia e a variˆancia na velocidade. Fazendo uso da propriedade (1.39) obtemos o valor m´edio da velocidade
Para determinar a dispers˜ao na velocidade, devemos primeiramente calcular a diferen¸ca v− < v >. Assim, obtemos
v− < v >= e−γtZ t
0 e
γt′
ξ(t′)dt′, (1.46)
que elevando ao quadrado segue a rela¸c˜ao
(v−< v >)2 = e−2γtZ t
0
Z t
0 e
γ(t′
+t′′
)ξ(t′)ξ(t′′)dt′′dt′, (1.47)
a qual, tomando a m´edia, utilizando a propriedade (1.40) e afetuando a integra¸c˜ao pode ser escrita como
(△v)2 = Γ
2γ(1−e
−2γt). (1.48)
onde (△v)2 =< v2 > − < v >2. Para determinar a constante Γ, lembremos que o regime estacion´ario ´e alcan¸cado para intervalos de tempos muito longos quando comparados com os tempos de flutua¸c˜ao da fun¸c˜ao ξ(t), de modo que < v > em (1.45) se anula, e segue tamb´em de (1.48) que
< v2 >= Γ
2γ. (1.49)
Por outro lado, o teorema da equiparti¸c˜ao, imp˜oe que a energia cin´etica m´edia de uma part´ıcula em movimento corresponde a 12kBT para cada grau de liberdade, mais precisamente
1
2m < v
2 >= 1
2kBT, (1.50)
onde kB ´e a constante de Boltzmann. Relacionando as duas ´ultimas equa¸c˜oes, obtemos a rela¸c˜ao exata entre o coeficiente Γ e a temperatura do meio externo, a saber
Γ = 2γkBT
m . (1.51)
x = x0 +
Z t
0 v(t
′)dt′ (1.52)
onde x0 ´e a posi¸c˜ao da part´ıcula em t = 0. Considerando o valor de v(t) dado pela express˜ao (1.44), segue o resultado:
x = x0 +v0
Z t
0 e
−γt′
dt′+ Z t
0 e
−γt′Z t ′
0 ξ(t
′′)eγt′′
dt′dt′′, (1.53)
o qual, efetuando a integral em t’ e invertendo a ordem da ´ultima parcela, obtemos
x = x0 +v0 1
γ(1−e
−γt) + 1
γ
Z t
0 ξ(t
′′)(1−eγ(t′′
−t))dt′′. (1.54)
Desta equa¸c˜ao obtemos tamb´em o deslocamento m´edio
< x >= x0 +v0 1
γ(1−e
−γt), (1.55)
sendo o deslocamento quadr´atico m´edio obtido calculando-se primeira-mente a diferen¸ca
x−< x >= 1
γ
Z t
0 ξ(t
′′)(1−eγ(t′′
−t))dt′′ (1.56)
de onde obtemos
(x−< x >)2 = 1
γ2
Z t
0
Z t
0 ξ(t
′)ξ(t′′)(1−eγ(t′
−t))(1
−eγ(t′′−t))dt′dt′′. (1.57)
Tomando a m´edia na express˜ao acima, usando a propriedade (1.40) e efetuando as integrais, encontramos
(△x)2 = Γ
γ2{t− 2
γ(1−e
−γt) + 1
2γ(1−e
−2γt)
}. (1.58)
Desta express˜ao, segue que no regime de tempos longos, o termo dominante ´e o primeiro, com a variˆancia na posi¸c˜ao se reduzindo para
(△x)2 = Γ
e considerando o resultado (1.51) para o coeficiente Γ, temos que
(△x)2 = 2kBT
mγ t, (1.60)
ou equivalentemente
(△x)2 = 2Dt (1.61)
que ´e o resultado de Einstein e D ´e o coeficiente de difus˜ao que pode ser dado por kBT /mγ ou pela equa¸c˜ao (1.33).
Portanto, vemos que no regime de tempos longos em compara¸c˜ao com os tempos pr´oprios do sistema, a abordagem de Langevin ´e equivalente a descri¸c˜ao de Einstein.
A partir de agora, ´e interessante determinar a distribui¸c˜ao de probabilidade relativa `a vari´avel v, pois ela pode ser vista como uma outra maneira de calcular quantidades de interesse f´ısico conforme mostrado na se¸c˜ao anterior. Como vimos, a velocidade de uma part´ıcula livre imersa num meio viscoso e sujeita a for¸ca estoc´astica ξ(t), varia de acordo com a equa¸c˜ao de Langevin. A distribui¸c˜ao de probabilidade ´e mais facilmente obtida discretizando o tempo em intervalos iguais, simplesmente escrevendo
t = nτ. Dessa maneira, a equa¸c˜ao (1.38), pode ser reescrita como (veja [7])
vn+1 −vn
τ = −γvn +cξn, (1.62)
onde c ´e uma constante a ser determinada. Tal equa¸c˜ao ainda poder ser reescrita na seguinte forma
vn+1 = αvn+cξn, (1.63)
onde estamos considerando o fato de que α = (1− γτ). A constante c ´e determinada a partir das m´edias temporais das fun¸c˜oes ξ(t) e ξ(t′), e n˜ao ´e dif´ıcil verificar que seu valor ´e dado por c =
r
Γ
´e obter uma express˜ao geral para a velocidade vn, entretanto, precisamos antes de mais nada, determinar alguns valores para vn+1, afim de obter uma express˜ao geral para vn. Alguns resultados s˜ao computados
v1 = √
Γτ ξ0; (1.64)
v2 = √
Γτ{αξ0 +ξ1}; (1.65)
v3 = √
Γτ{α2ξ0 +αξ1 +ξ2}; (1.66)
v4 = √
Γτ{α3ξ0 + α2ξ1 + αξ2 + ξ3}; (1.67)
v5 = √
Γτ{α4ξ0 + α3ξ1 +α2ξ2 +αξ4}. (1.68)
Considerando os resultados acima, n˜ao ´e dif´ıcil perceber que o termo geral pode ser escrito como [7]
vn = n−1
X
l=0
ωl, (1.69)
onde ωl ´e definido por
ωl = √
Γτ αlξn−1−l. (1.70)
Nestes resultados estamos simplesmente supondo que v0=0. Para se calcular a densidade de probabilidade da vari´avel vn, no caso de n suficientemente grande, basta usar a expans˜ao da fun¸c˜ao caracter´ıstica5 em cumulantes at´e segunda ordem [7]
g(k) = eiak−b2k2 (1.71)
5Podemos interpretar a fun¸c˜ao caracter´ıstica como sendo uma fun¸c˜ao geradora dos momentos. A
expans˜ao de uma fun¸c˜ao caracte´ıstica geral pode ser escrita como φ(k) =R
eikxp(x)dx=R
p(x)dx(1 + ikx−2!1k2x2−
1
3!k3x3+...) = 1 +ik < x >−
k2
2! < x2>+...+ (ik)n
n! < x
onde a e b, s˜ao respectivamente a m´edia e a variˆancia. No nosso caso, se a vari´avel aleat´oria vn ´e definida pela express˜ao (1.69), ent˜ao a fun¸c˜ao caracter´ıstica relativa a tal vari´avel ´e definida como sendo
gn(k) =< eikvn >= n−1
Y
l=0
< eikωl >, (1.72)
pois as vari´aveisωl s˜ao todas independentes. Supondo que a distribui¸c˜ao de probabilidade da vari´avel ξl seja uma gaussiana de m´edia zero e variˆancia 1, segue que a distribui¸c˜ao da vari´avel ωl tamb´em ser´a uma gaussiana de m´edia zero, no entanto, de variˆancia b = α2lΓτ. Logo
< eikωl >= e−α2lΓτk
2
2 (1.73)
e de (1.72) segue que
gn(k) =e−Γτ
Pn−1
l=0α2
lk2/2
= e−bnk2/2, (1.74)
onde o termo bn ´e dado por
bn = −Γτ n−1
X
l=0
α2l = Γτ1−α
2n
1−α2 . (1.75)
Como ´e bem conhecido, a distribui¸c˜ao de probabilidade ´e obtida atrav´es da antitransformada de fourier da fun¸c˜ao gn(k), mais precisamente
Pn(vn) = 1 2π
Z ∞
−∞gn(k)e
−ikvndk = 1
2π
Z ∞
−∞e −bnk
2
2 (coskvn−isinkvn)dk.
(1.76) Nesta express˜ao, apenas o primeiro termo se mant´em, pois o segundo se trata do produto de uma fun¸c˜ao par por uma fun¸c˜ao ´ımpar, com a equa¸c˜ao se reduzindo para
Pn(vn) = 1 2π
Z ∞
−∞e −bnk
2
2 coskv
ndk = 1 √
2πbn
e−vn2/2bn. (1.77)
escrita como
Pn(vn) = 1
q
2πb(t)e
−vn2/2b(t), (1.78)
onde b(t) ´e o limite de bn, dado por
b(t) = Γ
2γ(1−e
−γt) = kBT
m (1−e
−γt). (1.79)
Portanto, quando t→ ∞ observamos que b(t) → KTm e a distribui¸c˜ao da vari´avel aleat´otria vn segue uma maxwelliana dada por [17]
P(v) = ( m 2πkBT
)12 exp(− mv
2
2kBT
). (1.80)
1.4
A Equa¸
c˜
ao de Fokker-Planck
Como vimos na se¸c˜ao 1.3, a equa¸c˜ao de Langevin na forma (1.38) descreve o movimento de uma part´ıcula de massa m imersa em um fluido com coeficiente de viscosidade γ. Este mesmo sistema pode ser descrito atrav´es de uma equa¸c˜ao de movimento que governa a evolu¸c˜ao temporal de uma distribui¸c˜ao de probabilidades. Tal equa¸c˜ao ´e comumente conhecida como equa¸c˜ao de Fokker-Planck e constitue o objeto de investiga¸c˜ao desta se¸c˜ao. A equa¸c˜ao de Fokker-Planck ´e um tipo especial de equa¸c˜ao mestra (veja [9], [24]), freq¨uentemente usada como uma boa aproxima¸c˜ao para descrever processos markovianos mais gerais. Suas elegantes propriedades matem´aticas servem de ferramentas indispens´aveis para fazer aplica¸c˜oes em diferentes situa¸c˜oes f´ısicas, particularmente em sistemas n˜ao lineares.
Suponha uma equa¸c˜ao de Langevin da seguinte forma (veja [7])
dx
dt = f(x) +ξ(t), (1.81)
onde a vari´avelx denota a coordenada generalizada, que em princ´ıpio pode ser de velocidade ou de posi¸c˜ao. A equa¸c˜ao de Fokker-Planck para uma vari´avel pode ser escrita na forma (como exemplo, veja [9])
∂η(x, t)
∂t = − ∂
∂x[f(x)η(x, t)] +
Γ 2
∂2η(x, t)
onde f(x) est´a relacionado com a natureza da for¸ca atuando na equa¸c˜ao (1.81) e η(x, t) ´e a distribui¸c˜ao de probabilidade de encontrar a part´ıcula no intervalo de coordenada x e x+dx. A equa¸c˜ao (1.82) tamb´em pode ser reescrita como
∂η(x, t)
∂t +
∂S(x, t)
∂x = 0, (1.83)
que representa uma equa¸c˜ao de continuidade para a densidade de probabilidade η(x, t), enquanto a quantidade S(x, t) deve ser interpretada como sendo uma corrente de probabilidade definida por
S(x, t) =f(x)η(x, t)− Γ 2
∂η(x, t)
∂x . (1.84)
A integra¸c˜ao de (1.83) no intervalo que x assume valores [a, b] nos fornece
∂ ∂t
Z b
a η(x, t)dx = S(a, t)−S(b, t) (1.85)
e como
Z b
a η(x, t)dx = 1, (1.86)
segue que
S(a, t) =S(b, t). (1.87)
Portanto, a conserva¸c˜ao da probabilidade total n˜ao deve ser uma conseq¨uˆencia apenas da equa¸c˜ao de Fokker-Planck mas tamb´em das condi¸c˜oes de contorno.
Vamos determinar a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Fokker-Planck na forma (1.83) para o caso estacion´ario, ou seja, para o caso em que η(x, t) n˜ao depende explicitamente do tempo. Assim, segue de (1.84)
f(x)η(x) = Γ 2
∂η(x)
∂x = 0, (1.88)
pois no regime estacion´ario o valor de s(x, t) n˜ao exerce nenhuma dependˆencia com o tempo. A solu¸c˜ao da equa¸c˜ao acima pode ser escrita como
η(x) =AeΓ2 R
onde a constante A ´e obtida da condi¸c˜ao de normaliza¸c˜ao de η(x). Temos que
A =
Ã
m
2πkBT
!1/2
, (1.90)
com a densidade de probabilidade assumindo a forma
η(x) =
"
m
2πkBT
#1/2 exp Ã Γ 2 Z
f(x)dx
!
. (1.91)
Para o caso de uma for¸ca viscosa,f(x) = −γv, a solu¸c˜ao acima ser´a escrita como
η(v) =
Ã
m
2πkBT
!1/2
exp
−
mv2
2kBT
, (1.92)
que ´e a distribui¸c˜ao de velocidades de Mawell. Outro exemplo interessante ´e observado quando a for¸ca atuante no sistema ´e do tipo el´astica, ou seja,
f(x) =−kx. Neste caso a solu¸c˜ao pode ser dada por [7]
η(x) =
Ã
k
2πkBT
!1/2
exp
−
kx2 2kBT
, (1.93)
que ´e tamb´em uma maxwelliana.
A solu¸c˜ao geral v´alida para qualquer tempo ´e obtida resolvendo diretamente a equa¸c˜ao (1.82). Para o caso de uma for¸ca viscosa −γv, a equa¸c˜ao de Fokker-Planck (1.82) pode ser escrita como [9]
∂η(v, t)
∂t = γ ∂
∂v[vη(v, t)] +
γkBT
m
∂2η(v, t)
∂v2 , (1.94)
com solu¸c˜ao dada por [29]:
η(v, t) =
m
2πkBT(1−e−2γt)
1/2 exp −
m(v −v0e−γt)2 2kBT(1−e−2γt)
. (1.95)
Comparando a express˜ao acima com a distribui¸c˜ao gaussiana (veja equa¸c˜ao 1.29), vemos que o valor de < v > ´e dado por
e a variˆancia (△v)2 como
(△v)2 = m 2πkBT
(1−e−2γt). (1.97)
Portanto, vemos que para intervalos de tempos suficientemente longos, esses resultados nos mostram que o sistema relaxa para o estado de equil´ıbrio e a distribui¸c˜ao de probabilidades se reduz para uma maxwelliana. Vemos tamb´em que o movimento browniano de uma part´ıcula livre, pode ser descrito tanto do ponto de vista da equa¸c˜ao de Langevin quanto da equa¸c˜ao de Fokker-Planck, de forma que quando esses dois m´etodos s˜ao comparados, nos fornecem os mesmo resultados.
A partir de agora, o nosso objetivo ´e fazer uma poss´ıvel conex˜ao com o problema da caminhada aleat´oria e a equa¸c˜ao de Fokker-Planck. Como discutido na se¸c˜ao anterior, um caminhante aleat´orio que se desloca ao longo de uma coordenada x obedece a uma distribui¸c˜ao de probabilidade da forma
ηN(m) =
N!
(N+m2 )!(N−2m)!p
N+m
2 (1−p)
N−m
2 , (1.98)
obedecendo a seguinte rela¸c˜ao de recorrˆencia
ηN+1(m) = pηN(m −1) +qηN(m+ 1). (1.99)
A passagem para o cont´ınuo ´e feita levando a fun¸c˜ao de vari´aveis discretas
ηN(m) numa fun¸c˜ao de vari´aveis cont´ınuas η(x, t). Conforme j´a foi visto, ´e f´acil mostrar que
ηN+1(m) =η(t+τ, x), (1.100)
ηN(m+ 1) = η(t, x+l), (1.101)
e
Substitu´ındo esses resultados na equa¸c˜ao (1.99) e fazendo uma expans˜ao em s´erie de Taylor at´e termos de segunda ordem, obtemos
∂2η(x, t)
∂t2 + 2
τ
∂η(x, t)
∂t =
2l(q −p)
τ2
∂η(x, t)
∂x + l2
2τ2
∂2η(x, t)
∂x2 . (1.103)
A express˜ao acima representa uma equa¸c˜ao de Fokker-Planck generalizada para a distribui¸c˜ao de probabilidade η(x, t), pois cont´em uma derivada segunda da fun¸c˜ao η com respeito ao tempo. Note que, considerando o mesmo tipo de aproxima¸c˜ao (ver Eq.(1.9))
∂2η(x, t)
∂t2 << 2
τ
∂η(x, t)
∂t , (1.104)
ficamos com
∂η(x, t)
∂t = −
l(p−q)
τ
∂η(x, t)
∂x + l2
4τ
∂2η(x, t)
∂x2 , (1.105)
ou equivalentemente (veja [7])
∂η(x, t)
∂t = −c
∂η(x, t)
∂x +
Γ 2
∂2η(x, t)
∂x2 , (1.106)
onde estamos utilizando o fato de que c = l(pτ−q) e Γ = 2τl2. A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao acima pode ser escrita como
η(x, t) =
1 2πl2 τ t 1/2 exp −
[x− l(pτ−q)t]2 2l2
τ t
, (1.107)
onde podemos ver que a m´edia6 e a variˆancia podem ser dadas respectivamente por
< x >= l(p−q)
τ t, (1.108)
(△x)2 = l 2
τ t. (1.109)
Portanto, observamos que o problema da caminhada aleat´oria est´a intimamente relacionado a equa¸c˜ao de Fokker-Planck, de forma que as grandezas de interesse f´ısico podem ser obtidas diretamente da fun¸c˜ao distribui¸c˜ao.
6Esse resultado nos mostra que parap=q= 1/2, o valor de< x >´e nulo como haver´ıamos de esperar.
1.5
Caminhadas Aleat´
orias: Tratamento de M. Kac
O problema do caminhante aleat´orio, ´e dotado de um car´ater bastante universal em f´ısica. No magnetismo, por exemplo, um ´atomo de spin 1/2 tem um momento magn´etico ~µ e de acordo com a mecˆanica quˆantica, o spin pode est´a “up” ou “down”, com respeito a uma dada dire¸c˜ao. Se essas possibilidades s˜ao igualmente prov´aveis, ent˜ao qual o momento magn´etico m´edio < ~µ > para uma amostra contendo N ´atomos? Um outro problema bastante familiar, corresponde a difus˜ao de part´ıculas num meio intermolecular. Suponha que uma part´ıcula percorre uma distˆancia m´edia l entre duas colis˜oes sucessivas com as mol´eculas do meio. Qual ser´a a distˆancia percorrida ap´os N colis˜oes?
O principal crit´erio de solu¸c˜ao para o problema da caminhada aleat´oria, na sua forma mais geral, ´e facilmente entendido considerando a vers˜ao mais simples do problema em uma dimens˜ao tal como originalmente investigado por M. Kac [8]. Suponha que um caminhante aleat´orio partindo da origem e se deslocando em linha reta, realiza n1 passos de comprimento fixo l para a direita com probabilidade p ou realiza n2 passos para a esquerda com probabilidade q = 1 − p, de modo que p + q = 1. Al´em do mais, estamos considerando que os passos s˜ao eventos mutuamente independente. O problema ´e determinar qual a probabilidade PN(m) de encontrar o caminhante na posi¸c˜ao x = ml, onde −N ≤ m ≤ N, depois de ter dado N
passos. O n´umero total de passos ´e
N = n1 +n2, (1.110)
sendo m a grandeza que parametriza a distˆancia l´ıquida percorrida, isto ´e,
m = n1 −n2. (1.111)
a partir da origem ´e dada por
x = (n1 −n2)l = ml. (1.112)
Considerando que os passos s˜ao estatisticamente independentes, de probabilidades p e q, ent˜ao a probabilidade de realizar n1 passos para a direita e n2 passos para a esquerda ´e independente da sequˆencia de passos e pode ser escrita como (veja [27])
p.p.p...p×q.q.q...q = pn1qn2. (1.113)
Existem v´arias maneiras de arranjar os N passos de forma que n1 seja o n´umero de passos para a direita e n2 seja o n´umero de passos para a esquerda. Na verdade, descobrir o n´umero de maneiras de arranjar os passos n1 e n2, ´e descobrir de quantas maneiras distintas podem ser arranjados n1 + n2 objetos, sendo que a permuta¸c˜ao de qualquer um dos objetos (n1 + n2) ´e irrelevante. Tal fato significa que o n´umero de probabilidades distintas ´e exatamente [25]
N!
n1!n2!
. (1.114)
A probabilidade totaluN(n1) de realizar n1 passos para a direita en2 para a esquerda num total de N passos, em qualquer ordem, ´e dada pelo produto [27]
uN(n1) =
N!
n1!(N −n1)!
pn1qN−n1, (1.115)
pois todas as sequˆencias s˜ao independentes. Como vemos, o valor de
uN obedece a ent˜ao chamada distribui¸c˜ao binomial. Lembrando que a expans˜ao binomial de (p+ q)N, onde p e q s˜ao dois n´umeros quaisquer, ´e dada por
(p+q)N = XN
n=0
N!
n1!(N −n1)!
pn1qN−n1, (1.116)
segue que a distribui¸c˜ao uN(n1) ´e normalizada [19], ou seja, N
X
n1=0
uN(n1) = N
X
n=0
N!
n1!(N −n1)!
A partir de agora, vamos determinar a probabilidade PN(m) do caminhante se encontrar na posi¸c˜ao x = ml. Das equa¸c˜oes (1.110) e (1.111), temos que
n1 =
N +m
2 , n2 =
N −m
2 , (1.118)
e substituindo esses resultados em (1.115), segue que a distribui¸c˜ao,PN(m), ´e dada por
PN(m) =
N!
(N+m2 )!(N−2m)!p
N+m
2 q
N−m
2 , (1.119)
ou, equivalentemente,
PN(m) =
N!
(N+m2 )!(N−2m)!p
N+m
2 (1−p)
N−m
2 . (1.120)
Para fazer a conex˜ao com fenˆomenos de difus˜ao, temos que descrever o problema do caminhante aleat´orio por meio de uma equa¸c˜ao diferencial envolvendo vari´aveis cont´ınuas. Supondo que τ seja o tempo necess´ario para realizar um passo, ent˜ao PN(m) dado por (1.120) ´e a probabilidade da part´ıcula se encontrar na posi¸c˜ao x = ml no tempo N τ. Somente uma part´ıcula que esteja emx = (m−1)l oux = (m+1)l no tempot = (N−1)τ
poder´a atingir a posi¸c˜aox = ml. No passo seguinte, a probabilidadePN(m) obedece a rela¸c˜ao de recorrˆencia (veja [8] )
PN+1(m) =pPN(m−1) +qPN(m+ 1). (1.121)
fun¸c˜ao cont´ınuaη(N τ, ml) = η(t, x). Reescrevendo a rela¸c˜ao de recorrˆencia (1.121) para η(t, x), temos
PN+1(m) =η((N + 1)τ, ml) =η(N τ +τ, ml) = η(t+ τ, x), (1.122)
PN(m+ 1) = η(N τ,(m+ 1)l) =η(N τ, ml+l) = η(t, x+l), (1.123)
PN(m−1) = η(N τ,(m −1)l) =η(N τ, ml−l) =η(t, x−l). (1.124)
Portanto, pode ser observado de (1.121) que a seguinte rela¸c˜ao de recorrˆencia para a nova fun¸c˜ao cont´ınua η(N τ, ml) deve ser satisfeita
η(t+ τ, x) = pη(t, x−l) +qη(t, x+l). (1.125)
Expandindo ambos os lados em s´erie de Taylor at´e termos de segunda ordem, temos
η+τ∂η ∂t+
1 2τ
2∂2η
∂t2 = p
η −l
∂η ∂x +
l2
2
∂2η ∂x2
+q
η +l
∂η ∂x +
l2
2
∂2η ∂x2
, (1.126)
ou ainda
η +τ∂η ∂t +
1 2τ
2∂2η
∂t2 = (p+q)η +l(q −p)
∂η
∂x + (p+q) l2
2
∂2η
∂x2. (1.127)
Considerando o fato de que a probabilidade total satisfaz p+q = 1, temos que
τ
2
∂2η ∂t2 +
∂η ∂t =
l
τ(q −p) ∂η ∂x +
l2
2τ ∂2η
∂x2, (1.128)
Algumas aproxima¸c˜oes interessantes devem ser discutidas na equa¸c˜ao (1.128). Primeiramente, verificamos que a conex˜ao direta com o movimento browniano difusivo ´e estabelecida quando assumimos que p = q = 1/2. Neste caso, definindo
D = l 2
2τ (1.129)
a equa¸c˜ao (1.128) se reduz para
τ
2
∂2η
∂t2 +
∂η ∂t = D
∂2η
∂x2, (1.130)
que ´e precisamente a equa¸c˜ao (1.7). Por se tratar de uma equa¸c˜ao diferencial hiperb´olica, o resultado acima representa uma difus˜ao generalizada de part´ıculas. A equa¸c˜ao de difus˜ao usual que serviu de base para o tratamento de Einstein ´e novamente recuperada quando fazemos o mesmo tipo de aproxima¸c˜ao (veja a equa¸c˜ao (1.9))
τ
2
∂2η ∂t2 <<
∂η
∂t, (1.131)
com a equa¸c˜ao (1.130) se reduzindo a forma usual
∂η ∂t = D
∂2η
∂x2. (1.132)
Portanto, a conex˜ao com o cont´ınuo fica perfeitamente estabelecida, de modo que todo o tratamento posterior, em particular, o c´alculo dos valores m´edios das grandezas relevantes, permanece idˆentico ao da se¸c˜ao (1.2).
1.6
A Equa¸
c˜
ao de Difus˜
ao Generalizada
Como vimos nas se¸c˜oes (1.2) e (1.5), se expandirmos at´e segunda ordem a fun¸c˜ao η(x, t), obtemos uma equa¸c˜ao generalizada para a difus˜ao de part´ıculas, a qual ´e do tipo hiperb´olica. Com uma aproxima¸c˜ao conveniente (τ2∂∂t2η2 <<
∂η
utilizada para descrever transmiss˜ao de calor e difus˜ao de part´ıculas, constitue na verdade, um modelo aproximado para uma descri¸c˜ao menos rigorosa de tais fenˆomenos. Um argumento favor´avel a essa vis˜ao se baseia na id´eia de que equa¸c˜oes parab´olicas do tipo (1.132) transmitem sinais com velocidades infinitas. Naturalmente, tal resultado ´e inconsistente j´a que a velocidade m´axima com a qual uma perturba¸c˜ao se propaga num determinado meio el´astico, ou num fluido, deve ser da ordem da velocidade do som. Entretanto, (1.132) pode ser aplicada para regimes de tempo suficientemente longos quando comparados aos tempos caracter´ısticos do sistema.
Se considerarmos que em cada intervalo de tempo τ a part´ıcula se desloca aleatoriamente com uma velocidade c = τl, vemos que a equa¸c˜ao (1.130) pode ser reescrita como
∂2η ∂t2 +
c2 D
∂η ∂t = c
2∂2η
∂x2, (1.133)
que representa uma equa¸c˜ao de onda amortecida para a caminhada aleat´oria. Tal equa¸c˜ao deve ser relevante do ponto vista conceitual, j´a que a introdu¸c˜ao de uma derivada segunda com respeito ao tempo em η(x, t), pode ser ´util para resolver algumas ambiguidades presentes na descri¸c˜ao de Einstein. Conforme mencionado antes, essas dificuldades surgem naturalmente devido ao fato de que equa¸c˜oes do tipo (1.132) apresentam inconsistˆencias para pequenos intervalos de tempos. Entretanto, tais dificuldades podem ser corrigidas se ao inv´es de considerarmos a equa¸c˜ao de difus˜ao usual, que ´e do tipo parab´olica, considerarmos a equa¸c˜ao (1.130) que ´e uma equa¸c˜ao do tipo hiperb´olica.
Para estudar a influˆencia do termo ∂2η/∂t2 vamos considerar uma onda plana se deslocando num meio infinito. Em x = 0 ´e assumido que
(1.130), pode ser escrita como [28]
η(x, t) = eAxei(ωt−Bx), (1.134)
que nos fornece
A2 = ω2 1
2c2[(1 + c 4
D2ω2)1/2 + 1]
, (1.135)
onde c ´e a velocidade m´edia das part´ıculas e ω ´e a freq¨uˆencia de vibra¸c˜ao da onda. A constante B ´e dada por
B2 = ω 2
2c2[(1 +
c4 D2ω2)
1/2 + 1]. (1.136)
A velocidade de propaga¸c˜ao da onda pode ser escrita como
v2 = ω 2
B2 =
2c2
[(1 + Dc24ω2)1/2 + 1]
< c2. (1.137)
Para o caso em que ω << c2/D, ou equivalentemente,
∂2η ∂t2 <<
∂η
∂t, (1.138)
as rela¸c˜oes anteriores se reduzem a
A2 = B2 = ω
2D, (1.139)
v2 = 2ωD, (1.140)
A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao (1.130) para as condi¸c˜oes η(x,0) = δ(x) e (∂η/∂t)t=0 = 0 pode ser escrita como [28]
η(x, t) = e−t/τ
"
1
2δ(x+ct) + 1
2δ(x−ct)
#
+
1 2cτJ0[
(x2 −c2t2)1/2
cτ ] + t
2τ
J1[(x2 −c2t2)1/2/cτ]
(x2 −c2t2)1/2 , (1.141)
que ´e v´alida para | x |≤ ct. Na express˜ao acima, J0 e J1 s˜ao fun¸c˜oes de Bessel de primeira esp´ecie.
Para o caso | x |> ct, n´os recuperamos a solu¸c˜ao de D’Alambert para uma onda plana amortecida se deslocando na dire¸c˜ao x
η(x, t) = e−t/τ
"
1
2δ(x+ct) + 1
2δ(x−ct)
#
. (1.142)
A equa¸c˜ao acima nos mostra que a velocidade de propaga¸c˜ao da onda nunca excede a velocidade das part´ıculas. Como o produtocτ ´e da ordem do livre caminho m´edio λ, o argumento das fun¸c˜oes J0 e J1 cresce rapidamente qundo | x | ´e muito menor que ct. Neste caso podemos usar a expans˜ao assint´otica para as fun¸c˜oes de Bessel
Jν(x) ≈ 2
πxcos
"
x− π
2(p+ 1 2)
#
. (1.143)
Com isso, (1.141) fica escrita como
η(x, t) = e−t/τ
"
1
2δ(x+ ct) + 1
2δ(x−ct)
#
+
e−τty
2
4cτ
"
πt
2τ(1−y
2)1/2
#−1/2 h
1 + (1−y2)−1/2i (1.144)
No limite y << 1, ou equivalentemente x << ct (tempos longos), o segundo termo da solu¸c˜ao acima tende para
η(x, t) = 1
(2c2τ tπ)1/2e
−x2/2c2τ t
= 1
(4πDt)1/2e
−x2/4Dt
(1.145)
onde reintroduzimos D pela equa¸c˜ao (1.129). A fun¸c˜ao acima representa exatamente a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de difus˜ao usual, que serviu de base para a descri¸c˜ao de Einstein, como pode ser verificado na se¸c˜ao (1.2).
Cap´ıtulo 2
Descri¸
c˜
ao Lagrangiana para Sistemas
com Amortecimento Vari´
avel
2.1
Introdu¸
c˜
ao
O conhecimento adquirido na investiga¸c˜ao de sistemas oscilat´orios tem uma extensa literatura na f´ısica. Em particular, um consider´avel esfor¸co foi dedicado ao estudo do comportamento temporal de osciladores harmˆonicos (amortecido e for¸cado) no dom´ınio cl´assico, estat´ıstico e quˆantico [31-53]. O crescente interesse por tais sistemas vem da possibilidade de modelar uma grande variedade de fenˆomenos f´ısicos alterando ligeiramente sua estrutura vibracional b´asica. Estudos modernos nesse campo est˜ao diretamente relacionados a modelos dissipativos para dinˆamica de terremotos e avalanches em sistemas granulares [32], descri¸c˜ao de ´ıons quˆanticos altamente resfriados [33], estudos n˜ao cl´assicos da luz [34], bem como o movimento de ´ıons e ´atomos em armadilhas iˆonicas e magneto-´opticas [35].
e velocidades na fun¸c˜ao lagrangiana [37]. Na proposta de Bateman, os efeitos de amortecimentos s˜ao incorporados ao oscilador harmˆonico simples atrav´es de uma exponencial dependente do tempo que generaliza a descri¸c˜ao lagrangiana padr˜ao para sistemas conservativos. Embora apresente algumas ambiguidades conceituais na sua descri¸c˜ao quˆantica [43]-[52], este modelo ´e considerado relevante tanto do ponto de vista te´orico quanto conceitual, tendo recebido consider´avel aten¸c˜ao na literatura.
Neste cap´ıtulo descreveremos um tratamento lagrangiano para sistemas dissipativos que generaliza a abordagem de Bateman, cujo comportamento estoc´astico ser´a discutido na parte original desse trabalho (ver cap. III).
2.2
Lagrangiana Para Sistemas Dissipativos
Iniciaremos esta se¸c˜ao focalizando nossa aten¸c˜ao no seguinte problema: vamos considerar um pˆendulo descrevendo pequenas amplitudes de oscila¸c˜ao cuja massa varia satisfazendo uma rela¸c˜ao do tipo M = meλt. Tal sistema pode ser representado por um balde preso a um fio de comprimento
l descrevendo um movimento oscilat´orio simples. A varia¸c˜ao de sua massa deve-se unicamente `as gotas de ´agua caindo numa taxa constante (ver figura 2.1).
Classicamente, tal sistema pode ser descrito pela lagrangiana [49]
L = 1 2(me
γt) ˙x2 − 1 2(me
γt)ω2x2, (2.1)
ou equivalentemente [50],
L = 1 2Mx˙
2 − 1
2M ω
2x2. (2.2)
A lagrangiana acima, descreve um oscilador harmˆonico simples de freq¨uˆencia ω2 = g/l, entretanto a massa ´e vari´avel M = meγt, onde m
Figura 2.1: O balde de massa M est´a suspenso por um fio de comprimento l. O sistema executa um movimento harmˆonico simples, mas tem sua amplitude vari´avel devido `as gotas de ´agua da chuva caindo numa taxa constante. A massa M cresce obedecendo a rela¸c˜aoM =meλt.
pode ser escrita como [50]
Mx¨+ ˙Mx˙ + ∂V
∂x = 0, (2.3)
que representa um sistema com massa vari´avel. O momento canˆonico ´e definido da maneira usual [36]
pc =
∂L
∂x˙ = Mx,˙ (2.4)
que tamb´em ´e o momento cin´etico. Da mesma forma, a hamiltoniana ´e definida por [20, 36]
H = px˙ −L = 1 2Mx˙
2 +V(x) = p
2 c
2M +V(x) =E (2.5)
por meγt a lagrangiana se reduz para [49]
L(x,x, t˙ ) = eγt
"
1 2mx˙
2
− 1
2mω 2x2
#
(2.6)
cuja equa¸c˜ao de movimento pode ser escrita como
¨
x = −γx˙ −ω2x = 0, (2.7)
que mostra explicitamente a presen¸ca da for¸ca de fric¸c˜ao −γmx˙ e que tamb´em descreve o oscilador harmˆonico unidimensional. O momento canˆonico ´e definido da maneira usual
pc =
∂L ∂x˙ = e
γtp
cin, (2.8)
da mesma forma a hamiltoniana ser´a escrita como
H = eγtE. (2.9)
Portanto, vemos que o momento canˆonico pc ´e diferente do momento cin´etico pcin, assim como a hamiltoniana ´e diferente da energia total do sistema. No entanto, tal energia pode ser obtida multiplicando (2.7) por
˙
x, que nos fornece
dE
dt = Fdx,˙ (2.10)
onde Fd = −γmx˙ ´e a for¸ca dissipativa. Assim, vemos que o lado direito da equa¸c˜ao acima ´e a potˆencia dissipada devido a for¸ca de fric¸c˜ao, mostrando que (2.6) deve ser interpretada como a lagrangiana de um sistema dissipativo, cuja for¸ca viscosa ´e proporcional a velocidade.
2.3
O
q
-Oscilador
Uma classe mais geral de sistemas amortecidos que n˜ao podem ser descritos dentro da aproxima¸c˜ao lagrangiana de Bateman ´e representado por osciladores sujeitos a uma fric¸c˜ao dependente do tempo. Nesta se¸c˜ao, vamos nos concentrar nesta categoria de comportamento oscilat´orio, para o qual foi recentemente proposta uma lagrangiana dependente do tempo descrita por um parˆametro cont´ınuo q tomando valores sobre os n´umeros reais. Assumiremos que o potencial tem pontos de retorno. Por simplicidade, consideraremos somente o caso unidimensional. Tal esp´ecie de sistemas ser´a genericamente chamados deq-osciladores. Para uma classe especial de potenciais, as equa¸c˜oes de movimento resultantes s˜ao resolvidas considerando diferentes taxas de amortecimentos e regimes desta fam´ılia param´etrica de osciladores. Como veremos adiante, o oscilador harmˆonico simples ´e um atrator est´avel para esta classe de sistemas vibracionais. Isto significa dizer que uma larga classe de fenˆomenos transientes onde a energia ´e parcialmente dissipada, entram em um regime oscilat´orio simples depois de uma escala de tempo finita. O comportamento dinˆamico dos
q-osciladores com amortecimento dependente do tempo, pode ser descrito pela seguinte lagrangiana [53]
Lq(x,x, t˙ ) = eq(γt)[ 1 2mx˙
2
−V(x)], (2.11)
onde γ ´e uma constante arbitr´aria com dimens˜ao de inverso de tempo. A fun¸c˜ao eq(γt) ´e chamada q-exponencial, a qual ´e definida por
eq(γt) = [1 + (1−q)γt]1/1−q, (2.12)
como tamb´em o q-an´alogo de muitas fun¸c˜oes especiais tamb´em tem sido estudado, veja [55] e referˆencias l´a citadas. Naturalmente, uma vis˜ao mais rigorosa desta distribui¸c˜ao est´a al´em do presente estudo. No nosso caso, vamos consider´a somente a propriedade fundamental da q-exponencial que ´e definida como [56]
lim
q→1eq(y) =e
y. (2.13)
Portanto, quando q → 1 vemos que eq(γt) → eγt e a q-lagrangiana (2.11) se reduz a forma original de Bateman quando assumimos V(x) = m2ω02x2
[38]. A fun¸c˜ao hamiltoniana correspondente ´e escrita como
Hq(x, p, t) = ˙x∂Lq
∂x˙ −Lq =
p2
2m
1
eq(γt)
+ V(x)eq(γt), (2.14)
que se reduz a hamiltoniana de Bateman
H = e−γt p
2
2m +e
γtV(x) (2.15)
no limite q → 1. A dependˆencia temporal expl´ıcita de (2.14) implica que
Hq(x, p, t) n˜ao ´e a energia do sistema, ou seja, ele ´e de fato n˜ao conservativo. A equa¸c˜ao de movimento obtida da q-lagrangiana (2.11) pode ser dada por
mx¨+mγq(t) ˙x+
dV
dx = 0, (2.16)
onde
γq(t) =
γ
1 + (1−q)γt. (2.17)
0 20 40 60 t (s)
0.00 0.05 0.10 0.15
γq
(t)
q = 0.5 q = 0.8 q = 0.95 q = 0.99 q = 1.0
0 20 40 60
t(s) −2.0
−1.0 0.0 1.0 2.0
γq
(t)
q = 1.1 q = 1.2 q = 1.5
Figura 2.2: Evolu¸c˜ao do coeficiente de fric¸c˜ao γq(t) para diferentes valores do parˆametro
livreq. O gr´afico `a esquerda representa o comportamento paraq <1, e no outro, `a direita, a evolu¸c˜ao para q >1.
amortecidas s˜ao um atrator est´avel para o q-oscilador com amortecimento vari´avel. Isto ´e uma diferen¸ca fundamental entre o oscilador amortecido usual com constante γ e o q-oscilador discutido aqui. O comportamento de γq(t) para diferentes valores de q ´e mostrado na Fig. (2.2).
Para q < 1, o coeficiente γq(t) diminue continuamente com o tempo sendo a taxa de decrescimento mais r´apida para menores valores de q. Por´em, para q > 1, γq(t) inicialmente aumenta se aproximando de um valor infinito em t = [γ(q−1)]−1, e ent˜ao muda abruptamente seu sinal, se aproximando de zero para grandes valores do tempo. Naturalmente, estas caracter´ısticas apontam um comportamento qualitativo bastante diferente para uma distribui¸c˜ao natural de q-osciladores em duas subclasses. A primeira ´e um subconjunto bem comportado caracterizado por q < 1, enquanto a segunda (o caso anˆomalo) tem q maior que a unidade.
varia¸c˜ao da energia do sistema. A energia total ´e definida por
E = 1 2mx˙
2 +V(x). (2.18)
Reescrevendo a express˜ao (2.14) em termos do par (x,x˙) obtemos
Hq = eq(γt)[1 2mx˙
2 +V(x)] = e
q(γt)E, (2.19)
agora derivando (2.18) com respeito ao tempo e usando a equa¸c˜ao de movimento (2.16) ´e f´acil mostrar que a taxa de dissipa¸c˜ao da energia pode ser escrita como
dE
dt = −mγq(t) ˙x
2 =
− mγx˙
2
1 + (1−q)γt. (2.20)
Esta express˜ao mostra que a taxa de varia¸c˜ao da energia vai efetivamente a zero para escalas de tempo muito maior que|γ(1−q)|−1. Neste limite, para todas as proposta pr´aticas, o q-oscilador se aproxima do regime oscilat´orio harmˆonico. No entanto, para q > 1 e tempo t > |γ(q − 1)|−1 temos uma mudan¸ca de sinal nas express˜oes acima. Conseq¨uentemente, embora se aproximando do mesmo regime final depois desta escala de tempo, a segunda classe deq-osciladores se comporta na maior parte do tempo como um oscilador harmˆonico for¸cado sob a a¸c˜ao de uma for¸ca dependente do tempo
Fext = |γq(t)|x.˙ (2.21)
Agora vamos considerar o mais interessante dos q-osciladores do ponto de vista f´ısico, aquele para o qual q ´e muito menor que a unidade. Para mostrar as solu¸c˜oes anal´ıticas da equa¸c˜ao (2.16), vamos considerar o potencial do oscilador harmˆonico, V(x) = 12mω02x2. Introduzindo um tempo auxiliar
T = 1 + (1−q)γt, (2.22)
a equa¸c˜ao de moviment (2.16) toma a seguinte forma
d2x dT2 −
1 (q −1)
1
T dx dT +δ
2
onde
δq =
ω0
γ(1−q). (2.24)
A solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao de movimento (2.23) ´e dada por [56]
x(T) =Tνζν(δqT) (2.25)
onde ζν denota combina¸c˜oes lineares das fun¸c˜oes de Bessel de ordem ν que depende do par ˆmetro q, da seguinte forma
ν = q
(q−1). (2.26)
Agora, retornando a antiga vari´avel t, a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao de movimento (2.16) pode ser escrita como [53]
x(t) = [eq(γt)]−q/2{AJν(ω0t+δq) +BYν(ω0t+δq),} (2.27)
onde Jν e Yν s˜ao fun¸c˜oes de Bessel de primeira e segunda esp´ecie respectivamente, e A e B s˜ao constantes a serem determinadas de acordo com as condi¸c˜oes iniciais. Para as condi¸c˜oes iniciais arbitr´arias x(0) = x0 e ˙x(0) = v0 as constantes A e B s˜ao
A = π
2δq[x0Yν−1(δq)−
v0
ω0
Yν(δq)] (2.28)
e
B = −π
2δq[x0Jν−1(δq)−
v0
ω0
Jν(δq)]. (2.29)
A Fig.(2.3) mostra os gr´aficos do q-oscilador para alguns valores do parˆametro q sobre o intervalo 0 < q <1.
Nestes gr´aficos as condi¸c˜oes iniciais foram escolhidas como sendo v0 = 0,