AUTONOMIA PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO: UM A CONQUISTA OBTIDA ATRAVÉS
DE UM PROGRAM A DE EXTENSÃO
À
COMUNIDADE.Mitsuko Ohnishi "
Arlete Bernine Fernandes e Silva" " Iwa K . Aida Utyama* "
Nair Miyamoto Mussi *
RESUMO - Os autores do presente trabalho, com o objetivo de enriquecer a formação dos alunos do Curso de Graduação em Enfermagem, propiciando experiências à saúde e ao trabalho em equipe multidisciplinar e, ainda, estender o campo de estágio aos alu nos, na disciplina Fundamentos de Enfermagem, criaram um Programa de Extensão à Co munidade. A cada avaliação do Programa, vê os seus objetivos atingidos, tendo como destaque, a consolidação da autonomia profissional, tanto assistencial como administrativa.
ABSTRACT - The authoresses of the present work, on the pu rpose of enriching profis
sional education of underg raduate students of N u rsing, providing them with learning ex periences focused on primary health care and on working i n m ultidisciplinaty team and, futhermore, to enlarge training opportunities to the students, developed i n the discipline of Fundamental N u rsing, an Extension Program to the Communit. Which has its objecti ves reached on each valuation of the project, w ith relevance on the consolidation of pro fessional autonomy, related to assistantial and administrative aspects.
1. INTRODUÇÃO
o desenvolvimento industrial trouxe mudanças profundas na prática da assistência de enfermagem, a qual passou a ser predominantemente curativa. Com isto, as escolas de enfermagem adaptaram seus currí culos para atender à demanda de preparar profissio nais voltados para assistência de enfermagem em hos pitais (SCRIMIT, 1984).
SOUZA (1981) coloca que o atual ensino de enfer magem proporciona aos estudantes a maior parte de suas experiências formativas nos cuidados com pacien tes hospitalizados. orna-se, então, incoerente e con flitante exigir-se-Ihes, após formados, uma atuação compatível com as necessidades reais do país.
Acompanhando os modelos de currículo da maio ria das escolas de enfermagem brasileiras, o ensino de enfermagem na Universidade Estadual de Londrina também estava voltado para área curativa, sendo que
a assistência primária era muito limitada à teoria. Es ta situação trazia inquietação e insatisfação por parte da disciplina de fundamentos de enfermagem.
COSTA (1978) refere que " ambulatórios são excelen tes campos de estáio para estudantes de enfermagem, locais onde estes podem observar e executar práticas curativas e preventivas interrelacionadas". Porém, se gundo OGUISSO (1984) poucas escolas oferecem cam po de estáio em clínicas ou ambulatórios, de sorte que os alunos tenham condições de exercitar-se no campo de trabalho autõnomo, experimentando de forma de cisória o exercício liberal da profissão. Rá ainda o agra vante do enfermeiro exercer a profissão com indepen dência e autonomia, criando creches, clínicas de repou so para idosos, ambulatórios de enfermagem, etc.
Com o objetivo de enriquecer a formação dos alu nos através do trabalho em equipe multidisciplinar, es tendendo o campo de estágio aos alunos do curso de graduação em enfermagem e com o intuito de
propi-• Professores Assistentes do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina . • • Professores Auxiliares do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina.
ciar una experiência de aprendizagem voltada à as sistência primária à saúde e maior adequação entre o ensino teórico-prático, criou-se um prorama de exten são à comunidade a nível ambulatorial em dezembro de 1981 .
Este programa está sendo dinamizado no ambula tório do Hospital Universitário Regional do Norte do araná desde junho de 1982 , contando com a partici pação de alunos e docentes do departamento de En fermagem, Medicina e Serviço Social.
A função básica do docente de enfermagem neste programa vai ao encontro com a citação de COSTA
(1978), onde atribui ao enfermeiro as atividades admi nistrativas cono planejamento, supervisão, organiza ção, controle e avaliação das atividades desenvolvidas dentro do programa. Além desta, ainda é de sua fun ção atividades de assistência, de ensino e de pesquisa.
Cabe ressaltar que, dentro das atividades desen volvidas, é conferida ao docente e ao estudante de en fermagem total autonomia na sua área de atuação tan to administrativa cono assistencial, de ensino e de pes quisa. Desta forma podemos dizer que, a área de en fermagem conseguiu atraves deste serviço, ampliação de funções profissionais independentes.
A auto-determinação do enfermeiro dentro da equipe de saúde tem facilitado o trabalho da enfermei ra, oferecendo a ela condições de prestar melhor as sistência à saúde em quantidade e qualidade.
2. O PROGRAMA
Objetivos:
- Estender o campo de estágio aos alunos dos cursos de Enfermagem, Medicina e Serviço Social; - Desenvolver no aluno una visão do trabalho em
equipe multidisciplinar;
- Contribuir para a formação profissional dos estaiá rios das áreas afins, mediante a sua atuação num re lacionamento teórico-prático;
- Investigar nos clientes os problemas relacionados com fatores bio-psico-sociais e espirituais e capaci tar o aluno a traçar um diagnóstico e elaborar um plano de atendimento;
- OIientar e encaminhar o cliente aos recursos da comunidade;
- Conscientizar o cliente de seus problemas e atuar cono agente de mudança de comportamento, fren te a sua problemática de saúde;
- Interpretar os fatores bio-psico-sociais e espirituais levantados pelas áreas afins, para melhor atuação da equipe de entendimento;
- Coletar subsídios para melhor adequação dos currí culos s reais necessidades do ensino das áreas afins.
3. IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA
Caracterização da População
Embora o programa tenha se iniciado em 1982 , to talizando um atendimento de 7. 588 clientes até junho de 1986, optou-se por descrever apenas os dados obti dos no período de janeiro a dezembro de 1985, para facilitar a compreensão e melhor situar o leitor no con texto do trabalho.
Os clientes são encaminhados pelos setores de in ternação e de triagem do Pronto Socorro, ambulatório e postos de saúde.
Os dados que apresentamos a seguir foram colhi dos do livro registro e do prontuário do paciente.
Verificou-se una alta percentagem de atendimen to a clientes do sexo masculino, 69, 1 % , sendo apenas 30, 9 % do sexo feminino; a maioria dos clientes, 91 , 3 % , reside em Londrina, sendo que a minoria, 1 ,3 % , per tence aos distritos.
Nota-se um maior atendimento dos clientes do FUNRURAL, 69, 8 % , isto deve-se ao fato de ser o úni co hospital Regional credenciado para atender estes previdenciários. A maior porcentagem está na faixa de menos de 12 anos com 25,0% , e em menor porcenta gem está entre 53 a 62 anos com 7 , 6 % .
Recursos Humanos
O trabalho é desenvolvido por una equipe compos ta pelos seguintes membros: quatro docentes de en fermagem, um de medicina, um docente do departa mento de serviço social, um atendente de enfermagem e alunos dos cursos de raduação em enfermagem, me dicina e serviço social.
A equipe é coordenada por um dos docentes de en fermagem e os demais atuam cono supervisores de área, em escala de rodízio. Compete as docentes de en fermagem: o planejamento, coordenação, organização, controle, avaliação e promoção de ensino e pesquisa, bem cono assistência direta ao cliente.
O docente de medicina faz supervisão de área, par ticipa de reuniões científicas e avaliação e reformula ção do programa, presta assessoramento técnico científico à enfermagem, principalmente quanto à pres crição de drogas e fornecimento de atestados médicos. Os alunos de medicina que estagiam na sala de cu rativo cursam o 5? período, fazendo estágio extracur ricular. Estes desenvolvem as seguintes atividades: or ganização da unidade, execução de técnica de curati vo, reistro ds atividades assistenciais, orientação para auto-cuidado e encaminhamento a outros serviços.
O docente de serviço social orienta e supervisiona indiretamente os alunos do curso de serviço social, e os mesmos desenvolvem estágios curricular, recebem
bolsa trabalho e fazem levantamento de problemas sociais.
Anualmente recruta-se uma média de 100 a 150
es-tagiários. A hbela 1 é um demonstrativo da participa ção dos alunos no período de janeiro a dezembro de 1985.
TABELA 1 - Distribuição dos estagiários segundo o curso e o tipo de estágio.
TIPO DE
ESTÁGIO CURRICULAR EXTRACURRICULAR BOLSISTA TAL CURSO
Enfermagem Medicina
Serviço Social
TAL
n? %
60 45, 5
60 45 , 5
26
26
68
Destaca-se, nesta tabela, uma alta porcentagem de acadêmicos de enfermagem. Estão incluídos alunos do 4? período em estágio curricular; de 5? a 7? período em estágio extracurricular e bolsistas. Os alunos do 4? período desenvolvem atividades assistenciais, educa tivas e de organização diária do setor, com supervisão direta do docente de enfermagem. Os alunos de 5? a 7? períodos de enfermagem que desenvolvem estágio extracurricular, executam as seguintes atividades: es tudo da dinâmica do programa, organização da unida de, avaliação diária da clientela presente, aplicação da metodologia de assistência através do processo de en fermagem, orientações para grupo de clientes previa mente selecionados de acordo com as características das necessidades afetadas, encaminhamento de clien tes para consultas às clínicas correspondentes, inves tigação das causas de abandono ao tratamento atra vés de visitas domiciliares, participação em reuniões científicas e de avaliação do Proama e orientação aos alunos de medicina no que concerne à técnica de cu rativo, organização da unidade, reistro das atividades ssistenciais e educação individual para o auto-cuidado. Ressaltamos que estes alunos têm inteira respon sabilidade no andamento do serviço, quando da ausên cia do docente supervisor de área.
Atuação Assistencial
A consulta de enfermagem é realizada pelos docen tes e alunos de enfermagem, sendo aplicada aos clien tes previamente selecionados, de acordo com s seguin tes características: clientes cujo tratamento depende de acompanhamento pelo problema específico da le são ou daqueles que não têm condição de realizar o
%
19 , 7
19, 7
51 , 5
nO 02 02 02 04 %
1 , 5
1 , 5
1 , 5
3 ,0
nO %
88 66 , 7 88 66 , 7
02 1 , 5
132 100 ,0
auto-cuidado, necessitando retornar ao ambulatório com freqüência.
Aos pacientes que apenas é feita retirada de pon tos, não se aplica a metodologia na sua totalidade, orienta-se para o auto-cuidado e registra-se uma evo lução completa.
As fases da consulta de enfermagem realizada na sala de curativo são as seguintes:
1 � fase - Recepção do cliente. 2 � fase - Histórico de Enfermagem. 3� fase - Diagnóstico e Plano Assistencial.
Para a segunda e terceira fase é utilizado um impresso único para as três áreas atuantes (Anexo 1).
4� fase - Evolução - contém todos os dados da im plementação do plano assistencial, condi ções da lesão, permitindo um completo acompanhamento da evolução do cliente. ara o registro desta atividade é utilizado um impresso único para a área e de enfermagem.
5� fase - Agendamento.
6� fase - Encaminhamento ao serviço social, clí nicas especializadas, posto de saúde/cen tro de saúde.
7� fase - Visita domiciliar.
Encontra-se na hbela 2, as atividades assistenciais básics de enfermagem, no periodo de janeiro a dezem bro de 1985.
TABELA 2 -Distribuição das atividades assistenciais
básicas de enfermagem no serviço, no período de ja neiro a dezembro de 1985.
ATIVIDADES ASSISTENCIAIS N? %
Curativo 1 136 36,9
Orientação individualizada 900 29,3
Retirada de pontos 803 26,1
Encaminhamento 158 5 , 1
alestra 48 1 , 6
Visita domiciliar 30 1 , 0
fAL 3075 ' 100,0
, Alguns clientes receberam mais de uma atividade assistencial.
- ara a execução dos curativos é utilizada uma téc nica elaboada pels docentes de enfermagem a qual está registrada e à disposição dos estudantes. - Orientação individualizada.
O incentivo ao auto-cuidado é observado rigorosa mente. Sempre que o cliente tem condições para fa zer o tratamento domiciliar, recebe todas orienta ções necessárias e o retorno é marcado apenas para avaliação e possíveis mudanças de conduta. Com
is-to, reduz, consideravelmente, o número de atendimentos.
- alestra.
As orientações para a atenção primária à saúde são realizads atavés de palests na sala de espea, ten do como ouvintes os clientes e acompanhantes es pecíficos e também de outras clínicas. As palestras versam sobre os seguintes temas: primeiros socor ros; hiiene pessoal e ambiental; doenças transmis síveis; controle de insetos, roedores e artrópodes e saneamento básico.
- Encaminhamento.
Muitos clientes são encaminhados a postos de saú de próximos à sua moadia, pois não têem condições de realizar o tratamento domiciliar ou são de nível sócio-econõmico carente, não podendo retonar com freqüência ao ambulatório para a avaliação. ara tanto é utilizado um impresso de referência/contra referência, com todas as informações necessárias. - Visita domiciliar.
Quando são observados casos de abandono de tra tamento, a investigação das causas é feita através de visita domiciliar, onde são detectados problemas sócio-econõmicos, como por exemplo: falta de di nheiro e falta de transporte principalmente. Através da visita domiciliar o aluno tem oportuni dade de conhecer a realidade do cliente, facilitan do assim a adequação das orientações.
Existe um luxorama a ser seguido pelo cliente pa ra o seu atendimento no serviço (Figura 1).
FIGURA 1 - Fluxograma para atendimento do cliente na sala de curativo do hospital universitário regional do norte do araná.
CLlNICA ESPECIALIZADA ENTREVISTA CIAL
Atuação administrativa
O pessoal de enfermagem desenvolve as seguintes atividades administrativas:
- Planejamento da área física com participação ativa nos estudos de reforma para adaptação às necessi dades do programa;
- Elaboração do manual de rotinas administrativas, de funcionamento e de atendimento.
- Divulgação do prorama aos Departamentos do Hos pital Universitário Reional do Norte do araná, aos órgãos competentes e as comunidades envolvidas, através dos órgãos de comunicação de massa. - Seleção dos estagiários inscritos.
- Elaboração de escalas de atuação de acordo com os critérios estabelecidos pelos cursos atuantes no programa.
- Distribuição das tarefas diárias. - Reuniões científicas.
- Avaliação periódica do programa.
- Avaliação geral, relatório e reformulação do Programa.
4. COMENTÁRIOS
O programa desenvolvido por uma equipe multi disciplinar traz benefícios para estagiários, clientes e para o próprio serviço, fazendo-nos acreditar que esta atividade é indispensável ao processo ensino aprendizagem.
Acreditamos que quando os alunos de enfermgem vivenciam o trabalho autõnomo do enfermeiro, reper cute na formação dos mesmos, assumindo responsabi lidades clínicas nos serviços de saúde.
Observa-se que o nível de valorização é muito ran de pela execução autônoma das atividades tanto por parte do docente quanto do aluno de enfermagem, por permitir autonomia na tomada de conduta
terapêuti-ca adequada, facilitando o acompanhamento da evo lução clínica do cliente. Esta colocação vai ao encon tro com as idéias de WAGNER citado por SCHIMIT (1978), afirmando que ' 'o enfermeiro é o elemento da equipe de saúde mais apropriado a assumir a coorde nação do planejamento dos cuidados do paciente, con jugando as diversas prescrições no plano integrado e
assistencial ".
5 . CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Observamos um alto nível de satisfação profissio nal do pessoal de enfermagem, envolvido no prorama.
Acreditamos que com esta dinãmica de tabaho es tamos contribuindo em parte para a formação de en fermeiros generalistas, vivenciando experiências que não seriam encontradas somente à nível de assistên cia a clientes em regime de internação.
Recomendamos que as escolas de enfermagem pro porcionem estágios aos seus alunos, procurando inte grar a assistência primária, secundária e terciária no ensino, a nível ambulatorial, para prestação de servi ços à comunidade e ainda utilizar creches, escolas, asi los e outros criando novos campos de trabalho para o enfermeiro. Recomendamos, também, a continuidade desta luta na conquista de novos campos de trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
I . COSTA, M.LC. Atuação do enfermeiro na equipe multiprofis·
sional . Revista Basileira de Enfermagem , Distrito Federal ,
31 :321·39, 1978.
2. OGUISSO, . Ampliação de funções do enfermeiro. Revista au lista de Enfermagem, São aulo, 4(3): 95-8, jul./set. 1984. 3. SCHIMIT, M .J. Natureza das condições de trabalho da enfer magem . Revista aulista de Enfermagem , São Paulo, 4(3): 89-94 , jul./set. 1984.
4. SOUZA , A.M.G. et ali i. Saúde e Ensino de Enfermagem no Bra sil - Condições sobre o parecer 163172. Revista Basileia de Enfermagem, Distrito Federal, 34 : 1 82-88, 1981.
Escolaridade: Natural: ___________ _
L
AN EXO I
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DO NOTE DO PARANÁ
SUBPROJEO: "ASSISTÊNCIA PRIMÁRIA
À
SAÚDE AO PACIENTE PORTADOR DE FERIDA: ATUAÇÃO DE UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR"I - IDENTIFICAÇÃO
Nome: _______Registro:
Data de nascimento: ��_ Sexo: _ Cor: _ Categoria:
Estado Civil: Profissão:
ncial: _________________________ _ ento:
Endereço reside Data de atendim
11 - COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Nome arente Idade Instrução Profissão Salário
III - SITUAÇÃO HABITACIONAL
Casa: Própria: ____Cedida: ____Alugada: ______ _
Alvenaria: ____ Madeira: Outros:
Números de cômodos: _____N? de leitos: _________ _
Banheiro: Sim
O
______Tipo:Não
O
IV - DIAGNÓSTICO E PLANO ASSISTENCIAL
A - Área de Enfermagem: _______________________ _
Assinatura:
COREn: ___________________ _
Data: ��_
B - Área de Medicina: ___________________________ _
Assinatura:
Data: �� __
c -Área de Serviço Social:
Assinatura:
D a t a : �� __
OBSERVAÇÕES:
Assinatura;
COREn: ____________________ _
D a t a : � � __