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Artigo
Original
Eficiência
neuromuscular
dos
músculos
vasto
lateral
e
bíceps
femoral
em
indivíduos
com
lesão
de
ligamento
cruzado
anterior
夽
Fernando
Amâncio
Aragão
a,b,∗,
Gabriel
Santo
Schäfer
c,
Carlos
Eduardo
de
Albuquerque
a,
Rogério
Fonseca
Vituri
a,
Fábio
Mícolis
de
Azevedo
de
Gladson
Ricardo
Flor
Bertolini
aaUniversidadeEstadualdoOestedoParaná,Cascavel,PR,Brasil
bLaboratóriodePesquisadoMovimentoHumano(Lapemh),Cascavel,PR,Brasil cHospitaldeClínicas,UniversidadeFederaldoParaná(UFPR),Curitiba,PR,Brasil
dLaboratóriodeBiomecânicaeControleMotor,FaculdadedeCiênciaseTecnologia(FCT/UNESP),UniversidadeEstadualPaulista“Júlio deMesquitaFilho”,PresidentePrudente,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem20demaiode2013 Aceitoem11demarçode2014 On-lineem1deoutubrode2014
Palavraschave:
Ligamentocruzadoanterior Fadigamuscular
Biomecânica
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Analisaraforc¸aeaintegraldaeletromiografia(IEMG)paraobteraeficiência neuro-muscular(ENM)dosmúsculosvastolateral(VL)ebícepsfemoral(BF)empacientescomlesão deligamentocruzadoanterior(LCA)nasfasespré-operatóriaepós-operatória,compararo membrolesionadonosdoismomentoseusaromembronãocirúrgicocomocontrole. Métodos:FoifeitaacoletadedadosdaEMGedaforc¸adeBFeVLdurantetrêscontrac¸ões iso-métricasmáximasnosmovimentosdeflexãoeextensãodojoelho.Oprotocolodeavaliac¸ão foiaplicadonosmomentospréepós-operatório(doismesesapósacirurgia)eobteve-sea ENMdosmúsculosVLeBF.
Resultados:Nãofoiencontradadiferenc¸anaENMdomúsculoVLentreosmomentosprée pós-cirúrgico.Poroutrolado,houveaumentodaENMdoBFnomembronãocirúrgicodois mesesapósacirurgia.
Conclusões:AENMforneceboaestimativadafunc¸ãomuscularporestardiretamente relaci-onadaàforc¸aeàcapacidadedeativac¸ãodosmúsculos.Entretanto,osresultadosapontam quedoismesesapósoprocedimentodereconstruc¸ãodoLCA,quandonormalmentesão iniciadascargasemcadeiacinéticaabertanosprotocolosdereabilitac¸ão,aeficiência neu-romusculardoVLeBFaindanãoestárestabelecida.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
夽
TrabalhodesenvolvidoemconjuntopeloHospitalUniversitáriodoOestedoParaná(Huop),LaboratóriodePesquisadoMovimento Humano(Lapemh)eUniversidadeEstadualdoOestedoParaná(Unioeste),CampusdeCascavel,Cascavel,PR,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:feraaragao@gmail.com(F.A.Aragão).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2014.03.004
Neuromuscular
efficiency
of
the
vastus
lateralis
and
biceps
femoris
muscles
in
individuals
with
anterior
cruciate
ligament
injuries
Keywords:
Anteriorcruciateligament Musclefatigue
Biomechanics
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective:Toanalyzestrengthandintegratedelectromyography(IEMG)datainorderto deter-minetheneuromuscularefficiency(NME)ofthevastuslateralis(VL)andbicepsfemoris(BF) musclesinpatientswithanteriorcruciateligament(ACL)injuries,duringthepreoperative andpostoperativeperiods;andtocomparetheinjuredlimbatthesetwotimes,usingthe non-operatedlimbasacontrol.
Methods: EMGdataandBFandVLstrengthdatawerecollectedduringthreemaximum isometriccontractionsinkneeflexionandextensionmovements.Theassessmentprotocol wasappliedbeforetheoperationandtwomonthsaftertheoperation,andtheNMEofthe BFandVLmuscleswasobtained.
Results: TherewasnodifferenceintheNMEoftheVL musclefrombeforetoafterthe operation.Ontheotherhand,theNMEoftheBFinthenon-operatedlimbwasfoundto haveincreased,twomonthsafterthesurgery.
Conclusions: TheNMEprovidesagoodestimateofmusclefunctionbecauseitisdirectly relatedtomusclestrengthandcapacityforactivation.However,theresultsindicatedthat twomonthsaftertheACLreconstructionprocedure,atthetimewhenloadingintheopen kineticchainwithinrehabilitationprotocolsisusuallystarted,theneuromuscularefficiency oftheVLandBFhadstillnotbeenreestablished.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
O ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das estruturas maisimportantesparaaestabilizac¸ãodaarticulac¸ãodo joe-lhoe um dosligamentos mais frequentemente lesionados durante asatividades esportivas.1 Produzgrande incapaci-dadeparaomembroetambémproblemasemlongoprazo, comoaosteoartrite.2Mesmoapósareconstruc¸ãocirúrgicae areabilitac¸ão,podempermanecerdéficitssignificativos rela-tivos,porexemplo,àforc¸amusculardosextensoreseflexores dojoelho.3
Afraquezamuscular apósalesão doLCAgera desequi-líbrios entre músculos agonistas e antagonistas durante o movimentodeflexoextensãodojoelhoque,frequentemente, dificultamareabilitac¸ãodeindivíduosquepassarampelo pro-cedimentodereconstruc¸ãodeLCA.Assimetriaspersistentes narazãodetorqueentreextensoreseflexoresdojoelhonessa situac¸ãomostramquãorelevanteéatentativadeidentificar ereverterascausasdafraquezamuscularpersistenteapós lesãoereconstruc¸ãodoLCA.4
Diversos fatores devem ser considerados para a
recuperac¸ãodaforc¸aflexoextensoradojoelhoapósalesãodo LCA.Asprincipaisestãorelacionadasàarquiteturamuscular eàintegridadedaorigemedainserc¸ãomusculares,alémda eficáciadaatividadeneuralquechegaàplacamotora.5,6
Os fatores neurais, particularmente, estão relacionados comaeficáciadaativac¸ãodasunidadesmotorasdurante a contrac¸ãomuscular.Ésabidoquequantomaioronúmerode unidadesmotorasrecrutadasporumestímulo,maiortambém seráaforc¸amuscularresultanteporelegerada.7 Biomecani-camente,aeficiêncianeuromuscularécalculadapelarelac¸ão
entre a quantidade de estímulo neural e a capacidade de gerac¸ãodeforc¸adeummúsculo.8
Assim, asrelac¸ões entre momento de forc¸amuscular e aintegraldosinalde eletromiografia(IEMG), consideradaa melhorvariávelparadescreveraintensidadedoefeito neuro-muscularduranteumaatividademuscularmantida,têmsido usadas para estimar a eficiência neuromuscular(ENM),9–11 que podeserinterpretada como acapacidade de um indi-víduo gerar momento deforc¸a emrelac¸ão aoseu nível de ativac¸ão muscular.8 Não obstante, estudos que envolvem arquiteturamusculareanáliseeletromiográficatêm demons-tradomaiorfacilidadedemedic¸ãoe,principalmente,melhor reprodutibilidadedosresultadosnosmúsculosvasto lateral (VL)ebícepsfemoral(BF)emrelac¸ãoaosseusagonistas,12,13 que os torna representantes adequados do comporta-mento dos grupos muscularesextensor e flexordo joelho, respectivamente.
O retorno às atividades normais ou esportivas após a reconstruc¸ãodeLCAnormalmenteocorreapósosextomês depós-operatório.14Entretanto,emgeraléapartirdasexta semanapós-operatória,emprotocolosacelerados,edécima segundasemanapós-operatória,emprotocolos conservado-res,queospacientesiniciamcargasemcadeiacinéticaaberta esubmetemoLCAamaiorestensões.14,15Apesardisso,não existemmuitosdadossobreoestadodaeficiência neuromus-cularnesseestágiodereabilitac¸ão.
Materiais
e
métodos
Aamostrafoicompostade12indivíduos,dosexomasculino, commédiade29,27±6,90anos,queapresentavamlesãode LCAunilateraleque,apósaavaliac¸ãopré-operatória,fizeram procedimento cirúrgico para reconstruc¸ão do LCA e trata-mentofisioterapêutico.Oprocedimentocirúrgicofoifeitopelo mesmo ortopedista com o uso dos tendões dos músculos semitendíneoegrácil comoenxerto,fixadosno fêmurpelo sistemadeRigidfix®enatíbiacomparafusodeinterferência absorvível,paratodos osindivíduos.Oestudofoiaprovado previamente pelo comitê de ética local, conforme parecer 155/2012-CEP(CAAE06519712.4.0000.0107).
Noperíodopós-operatórioospacientesforam,desdeaalta hospitalaraté areavaliac¸ão de doismeses, acompanhados porfisioterapeutasespecialistas,com sessõesperiódicasde 60minutos,duasvezesporsemana.
Protocolodeavaliac¸ão
Oprotocolodeavaliac¸ãofoifeitonafasepré-operatóriaedois meses após o procedimento cirúrgico. Acoleta dosdados, referentesàforc¸amusculareeletromiografia(EMG),foifeita bilateralmente.
As avaliac¸ões de forc¸a ocorreram no Laboratório de
Pesquisa do Movimento Humano (Lapemh) do Centro
deReabilitac¸ãoFísica(CRF)daUniversidadeEstadualdoOeste doParaná(UNIOESTE),emumaestruturaprópriaparaesse fim,comosujeitosentadosobreumamesaextensoraaltacom oquadrila90◦ deflexãoesemqueexistissecontatoentrea fossapoplíteaeamesae/oucontatodosmembrosinferiores comosolo.Apósoposicionamentoadequado,umacélulade cargade200kgfacopladaàparededolaboratóriofoiajustada aotornozelodopacientepormeiodeumatornozeleira inex-tensível,deformaqueovetordeforc¸afoiexercidosempre em0◦ emrelac¸ãoaoeixodacéluladecarga.Nessaposic¸ão, emquehaviarestric¸ãodomovimentodojoelho,os pacien-teseraminstruídosafazerasériedecontrac¸õesisométricas voluntáriasmáximas(CIVM).
Duranteaexecuc¸ãodasCIVM,emextensãoeflexãodo joe-lho,aarticulac¸ãoeraposicionadaa60◦deflexão(0◦=extensão totaldojoelho).Aposic¸ãodojoelhofoideterminadacom auxí-liodeumflexímetroetodosostestesforamgravadosemuma câmeradevídeoconvencional(Panasonic,NV-GS180), posi-cionadaperpendicularmentea1,5mdedistânciaalinhadaà fossaintercondilardojoelho,paracoletarimagensdomembro inferiornoplanosagitalduranteasCIVM.
Paradeterminac¸ãodoânguloarticulardojoelhonas ima-gens gravadas, antes da realizac¸ão das contrac¸ões foram fixadostrêsmarcadoresde5mmdediâmetronosmembros inferiores:notrocântermaiordofêmur,nalinhainterarticular dojoelhoenomaléololateraldotornozelo.Osdadosdevídeo foramcoletadoscom 30HzpelosoftwareVirtualDubv.0.9.11 epara quesepudesse avaliarcom precisão areal posic¸ão articularfoiusadoosoftwareKinovea(v.0.8.15).
Foramfeitastrêsrepetic¸õesdeCIVM,emcadeiacinética aberta,commanutenc¸ãode5sdecontrac¸ãoeintervalosde 120sderepouso,emcadasentidodomovimento(extensão eflexão).Semprenasavaliac¸õesospesquisadoresforneciam
comando verbal de incentivo para estimular os pacientes duranteacontrac¸ãoisométrica.
OsdadosanalógicosreferentesàEMGeàforc¸aforam obti-doscomumsistemadecoletadedadosbiológicosde12canais (BioEMG1100,Lynx,Brasil),pormeiodoprogramaAqDados (LynxAqDadosv.7.2),quetinhaaindaumcanalcomdadosde umsistemadesincronismodeluzquetambémeracoletado pelacâmeradevídeo,paraidentificac¸ãodomomentoemque eraatingidoopicodeforc¸a.Comopreparac¸ãoparaacoletados dadosdeEMG,apelefoitricotomizadaeposteriormentelimpa comálcool70.AEMGfoicoletadacomeletrodosde superfí-ciedescartáveisposicionadosnosventresdosmúsculosvasto lateral(VL)ebícepsfemoral(BF)emdisposic¸ãobipolar.
Análisedosdados
Paraobtenc¸ãodosdadosdeEMGlimitou-seointervalode0,25 santerioreposterioraopicodeforc¸a.Emseguidaossinais foramretificadosefiltrados(passa-bandade10a500Hz, But-terworthdeterceiraordem)paraobtenc¸ãodovalordaintegral dosinalEMG(IEMG)nodomíniodotemponointervalode0,5 s;dossinaisdosmúsculosVLeBF,apenasdaCIVMemque houveomaiorpicodeforc¸aisométrica,emextensãoeem fle-xãodojoelho.Otratamentodossinaiscoletadosfoifeitoem ambienteMatLab®(Mathworks,EUA).
Osdadosobtidosreferentesàforc¸amuscularforam nor-malizados, a fim de que se pudesse obter uma projec¸ão matemáticamaisfieldaforc¸aexercidaindividualmentepelos músculosVLeBF.Paratanto,foiempregadoocritérioda por-centagemdecontribuic¸ãoequivalentedaquelesmúsculos,em relac¸ãoaototaldaáreadesecc¸ãotransversafisiológica(ASTF) deseusrespectivosgruposmusculares.Dessaforma,foiusada a proporc¸ão de 36% para oVL ede 40% para o BF e ado-tadocomobasetodoogrupomuscularextensoreflexordo joelho como 100%, respectivamente. Essas porcentagens seguem opadrãodescritoemumestudoinvivonoqualos indivíduosda amostra apresentavamidade média,alturae pesosimilaresaospadrõesdospacientesselecionadosnesta amostra.16Posteriormente,aforc¸amuscularfoidivididapara seobter50%daCIVMeocálculodaENMdosmúsculosVLe BFfoifeitopelarazãoentre[Forc¸a/IEMG],a50%dacontrac¸ão muscularvoluntáriamáxima.Esseconceitopartedo pressu-postodequeemcontrac¸õessubmáximasdeaté50%,arelac¸ão forc¸avs.EMGéconstante.17
Análiseestatística
Para a análise estatística foi usado o teste Shapiro-Wilk paraidentificac¸ãodenormalidadedasvariáveis.Otestetde Student independente foi usado para identificac¸ão das diferenc¸asdeforc¸a,IEMGeENMentreosmembroslesadose nãolesadoseotestetdeStudentpareadoparaacomparac¸ão das variáveisentreosmomentospréepós-operatório(dois mesesapósoprocedimentocirúrgico).Foiestabelecidocomo limitedesignificânciap=0,05.
Resultados
Tabela1–Médiaedesviopadrãodoânguloarticulardojoelho,gravadasduranteasCIVMnasfasespréepós-cirúrgica. Nãoforamencontradasdiferenc¸assignificativas
Membro Pré Pós
Extensão Flexão Extensão Flexão
Operado 52,44±5,6 65,9±8,8 53,1±7,9 64,9±6,7
NãoOperado 52,49±5,0 65,2±7,3 51,6±6,8 62,8±8,4
Fonte:Osautores.
operadosenãooperadosnosmomentospréepós-operatórios em relac¸ão ao posicionamento durante a realizac¸ão das CIVMemextensãoeemflexão(tabela1).
Quandosetomoucomoreferênciaomovimentodeflexão dojoelho,nacomparac¸ãodosmomentospréepós-cirúrgico, evidenciou-sequeomembroquesofreuareparac¸ãocirúrgica tevediminuic¸ãosignificativadaIEMGedaforc¸amusculardo BF(tabela2a,b). Poroutrolado, nomembro nãocirúrgico, enquantoaIEMGdiminuiu, amagnitudedaforc¸adoBFfoi mantida(tabela2c).
ParaomúsculoVL,quandocomparadososdois momen-tos,apesardeomembrooperadoapresentardiminuic¸ãoda forc¸amuscularapósareconstruc¸ãodoLCA(tabela2d),a mag-nitudedaIEMGnãosealterou.Comrelac¸ãoaomembronão operado,nãoforamencontradasquaisquerdiferenc¸asquando comparadososmomentospréepós-cirúrgico.
Tanto na fase pré como na pós-operatória, a forc¸a dos músculosBFeVLestavadiminuídanomembrooperadona comparac¸ãoentreosmembros(tabela2e–h).
FoiidentificadoaumentodaENM doBFdomembronão operadonacomparac¸ãodosmomentos préepós-cirúrgico (fig.1).Alémdisso,foipossívelidentificaroaumentodaENM doBFdomembronãooperadocomparadoaomembrooperado naavaliac¸ãoapósdoismeses.Entretanto,nenhumadiferenc¸a relacionadaàENMdoVLfoiencontrada.
Discussão
A eficiêncianeuromuscular está relacionadaà ativac¸ão de fibrasmusculareseàproduc¸ãodeforc¸a,geradaporum deter-minadomúsculo.Sendoassim,éconsideradomaiseficiente aqueleindivíduocapazdeproduziramaiorforc¸amuscular comamenormagnitudedeativac¸ãodasfibrasmusculares.18 Nesteestudobuscou-semensuraraforc¸amusculareaIEMG, paraseobteraeficiêncianeuromusculardosmúsculosVLe
Os asteriscos representam as diferenças significativas encontradas (*p < 0,05) 0
0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03
Operado Não Operado Operado Não Operado
Bíceps Femoral Vasto Lateral
ENM (kg/mV.10
3)
Eficiência neuromuscular
Pré
Pós *
*
Figura1–Médiasedesviospadrãodaeficiência neuromuscular(ENM)dosmúsculosBFeVLnosdois momentosestudados.
Osasteriscosrepresentamasdiferenc¸assignificativas encontradas(*p<0,05).
BF,empacientescomlesãodeLCA,nafasepré-operatóriae nafasepós-operatória.
Após o procedimento cirúrgico o paciente pode ter a tendênciadeprotegeromembrooperado,restringiro movi-mentoediminuiradescargadopesosobreele.Issopodelevar àatrofiaeàfraquezadamusculaturaanterioreposteriorda coxa. Gerber et al.19 observaram atrofia e a diminuic¸ão deforc¸amusculardoquadrícepsedobícepsfemoralde20%e 30%,respectivamente,trêsmesesapósareconstruc¸ãodoLCA, apesardeospacientesestarememprocessodereabilitac¸ão. Essesdadoscorroboramosachadosdopresenteestudo,com
Tabela2–Médiasedesviospadrãodaintegraldaeletromiografia(IEMG)emmV/seg.edaestimativadeforc¸aemkgf exercidapeloBFeVLduranteaflexãoeextensãodojoelho,respectivamente
Membro Operado Nãooperado
Variável IEMG Forc¸aa IEMG Forc¸a
BF Pré 1077,56±1004,64a 5,66±1,77b,e 977,84±531,23c 6,23±1,56e
Pós 588,78±246,79a 4,00±1,06b,f 708,40±354,84c 6,87±1,57h,f
VL Pré 912,61±714,11 10,41±4,27d,g 1028,77±734,34 11,50±2,15g
Pós 749,63±430,92 8,70±3,29d,h 840,59±415,51 11,23±2,35h
relac¸ãoàforc¸aeIEMGdomúsculoBFdomembrocirúrgico, poisfoiobservadaadiminuic¸ãodaforc¸aedorecrutamento neural após o procedimento cirúrgico, possivelmente em virtudedequenaavaliac¸ãopós-operatória,feitadoismeses após a reconstruc¸ão cirúrgica do ligamento, a articulac¸ão, aindaem processo decicatrizac¸ão, apresentava fraqueza e inibic¸ãomuscular.
Paraomembronãooperado,quandocomparadososdados doprécomopós-operatório,verificou-sequetambémhouve diminuic¸ãodaatividadeelétrica(IEMG)domúsculoBF, entre-tantosemalterac¸ãodaforc¸amuscular.Apesardea metodolo-giaempregada nãopermitir amensurac¸ãodireta,supõe-se que esse resultado se deva ao efeito aprendizado causado pelafeiturados testesetambémporcausa dograndeuso domembrocontralateralàlesãoapósoprocedimento cirúr-gico,umavezqueospacientesapresentam,emgeral,receio de fazer forc¸a, descarregar peso emovimentar o membro cirúrgicoapósoprocedimento.20Alémdisso,adiminuic¸ãoda IEMGsemalterac¸ãodaforc¸afoiresponsávelpeloaumentoda ENM do BF. Esse efeito está, provavelmente, relacionado à demanda muscular do membro contralateral gerada pelo excessodeuso.
Noentanto,o mesmonãosedemonstrouválido parao músculoVL,umavezquenãoforamencontradasquaisquer diferenc¸asnasvariáveisestudadas.Essedado,decertaforma, denotaqueo músculo VL dolado nãooperadonão sofreu grandeinfluênciadoprocedimento cirúrgico edoprocesso fisioterapêuticodereabilitac¸ão.
Éimportantesalientarqueoenxertousado,semitendíneo egrácil,éomaiscomumenteusadonoBrasil.Entretanto, apa-rentementenãoapresentaresultadosfuncionaisdiferentesda porc¸ãomédiadotendãopatelar.21
Aproduc¸ão de forc¸a muscular édependente doângulo articularconformearelac¸ãoforc¸a-comprimento.Nojoelho, especificamente,estábemestabelecidoqueoânguloótimo deproduc¸ãodeforc¸aépróximode60◦.22Apartirdasimagens gravadasduranteaexecuc¸ãodasCIVM,foipossívelgarantir quenãofoidetectadadiferenc¸asignificativaentreosângulos articulares,tantoemrelac¸ãoaomovimentocomoaoperíodo préepóscirúrgico.
Alterac¸õesneuromuscularesapósumalesãorepresentam umestadoclínicocomplexo,quepodesemanifestarcoma presenc¸adeinibic¸ãomuscularnamusculaturailesaemtorno daarticulac¸ãocomprometida.23Essarespostaneuraltemduas grandesfinalidadesfisiológicas:(1)diminuiracargaemtorno daarticulac¸ãolesionada,parapromoverumaprotec¸ãocontra novaslesões,24e(2)fornecerestratégiasmotoras compensa-tórias,afimdemanterasfunc¸õesdomembronapresenc¸ada inibic¸ãomuscular.25
Essesargumentos poderiamexplicarosdados encontra-dosnopresenteestudocomrelac¸ãoàcomparac¸ãofeitaentre afasepréepós-operatória,noqueserefereaomúsculoVLdo membrooperado,queremetemàdiminuic¸ãodeforc¸a muscu-lar,semalterac¸õessignificativasparaaIEMG.Possivelmente esseresultadosedeveàpresenc¸adeinibic¸ãomuscular,como objetivodepouparaarticulac¸ãoeevitarumalesãorecidivante precoce.26
Igualmente, é notório que a lesão do LCA está asso-ciada com o pobre controle neuromuscular, o que leva à diminuic¸ão da informac¸ão proprioceptiva em func¸ão da
alterac¸ão da eficiência dos mecanoceptores responsáveis pelo controle neuromuscular,27 à perturbac¸ão do sistema somatossensorial28 e à diminuic¸ão da ativac¸ão e da forc¸a muscular.29 Segundo Hewett et al.,30 a coativac¸ão coorde-nadadosisquiotibiaisequadrícepstemumimportantepapel na diminuic¸ão dorisco de lesão primária eesse equilíbrio agonista-antagonista pode proteger o joelho contra lesões recidivasdoLCAreconstruído.Essesdadossãoindícios fisi-opatológicosquejustificariamosachadosnopresenteestudo noqueserefereàcomparac¸ãoentreomembrocomlesãode LCAeomembrosão.
Comoopresenteestudosófezaavaliac¸ãopós-operatória doismesesapósoprocedimentocirúrgico,omembroainda estavaemprocessoderecuperac¸ão,oquefoicomprovadocom amenorforc¸amuscularencontradanacomparac¸ãoentreos membrosanalisados.Aopc¸ãopelaavaliac¸ãodoismesesapós oprocedimentocirúrgicoocorreunosentidodeseobterem indíciosdoestadodeeficiêncianeuromusculardessesgrupos muscularesnomomentoemqueamaioriadosprotocolosde reabilitac¸ão, emmédia,inicia oprocedimentodeexercícios emcadeiacinéticaaberta.14,15Entretanto,umalimitac¸ãodo estudoéjustamenteanãoavaliac¸ãodossujeitosapós seis meses,oqueaconteceuporcausadagrandeevasãoocorrida apósdoismesesdetratamento.Recomenda-se,contudo,que estudosfuturospossamavaliarascondic¸õesdaENMapósesse período.
Porfim,osresultadosdescritosreforc¸amacomplexidade doprocessoderecuperac¸ãofuncionaldaarticulac¸ãodo joe-lho submetida à reconstruc¸ão e reabilitac¸ão do LCA e a necessidade dese estaratento àrecuperac¸ãoda eficiência neuromusculardosmúsculosenvolvidosnaarticulac¸ãoantes deseretomarematividadesmaisvigorosasquepossamlevar àrecidivadalesãoligamentar.
Conclusão
Houve aumento da ENM do músculo BF no membro não
operado, dois mesesapós acirurgia. Na comparac¸ãoentre membros,oBFoladonãooperadoestavamaiseficientena fasepós-cirúrgica.Nãoforamencontradasdiferenc¸asnaENM domúsculoVL.
Osdadosforc¸a,atividadeeletromiográficaeeficiência neu-romuscular evidenciamassimetriasentreos membrosdois mesesapósacirurgiadereconstruc¸ãodeLCA.Assim,o joe-lhooperadoaindanãoestáaptoparaasatividadesnormais ouesportivas. Alémdisso, valeressaltaraatenc¸ão especial necessáriaporvoltadosegundomêsapósacirurgia,durante oprocessodereabilitac¸ão,noqueserefereaoiníciodafase comcargasemcadeiacinéticaaberta,umavezqueomembro aindapersistecomdiminuídaeficiêncianeuromuscular.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramquenãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
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e
f
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ê
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i
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s
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