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Médicos de UTI: prevalência da Síndrome de Burnout, características sociodemográficas e condições de trabalho.

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PALAVRAS-CHAVE −Condições de trabalho

−Estresse

−Esgotamento Profissional

−Unidades de Terapia Intensiva

KEY WORDS −Working conditions

−Stress

−Burnout, Professional

−Intensive Care Units

Recebido em: 23/03/2009 Reencaminhado em: 09/06/2009

Burnout, características sociodemográficas e

condições de trabalho

Intensive Care Physicians: burnout syndrome

prevalence, socio-demographic characteristics,

and working conditions

Carlito Lopes Nascimento SobrinhoI Dalton de Souza BarrosII Márcia Oliveira Staffa TironiIII

Edson Silva Marques FilhoII

R E S U M O

A Síndrome da Estafa Profissional constitui um quadro bem definido, caracterizado por exa-ustão emocional, despersonalização e ineficácia. Este trabalho descreve a prevalência da Síndro-me deBurnout, características sociodemográficas e condições de trabalho dos médicos intensivis-tas de Salvador (BA). Realizou-se um estudo de corte transversal, que avalia os médicos que tra-balham em UTI adulto nessa cidade. Foram avaliados 297 plantonistas, sendo 70% homens. Amé-dia de idade e de tempo de formado foi de 34,2 e 9,0 anos, respectivamente. Foram encontrados ní-veis elevados de exaustão emocional (47,5%), despersonalização (24,6%) e ineficácia (28,3%). A prevalência da Síndrome deBurnout, considerada como nível elevado em pelo menos uma di-mensão, foi de 63,3% e de 7,4% nas três dimensões. Aprevalência da Síndrome deBurnoutfoi ele-vada entre os médicos avaliados.

A B S T R A C T

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INTRODUÇÃO

As unidades de terapia intensiva (UTI) são historicamente consideradas uma importante causa de estresse para os pacien-tes e seus familiares. Porém, atualmente tem se destacado que o seu ambiente é estressante também para a equipe profissional. Este estresse pelo trabalho em UTI ocorre principalmente por se tratar de um ambiente fechado, com condições e ritmos de traba-lho extenuantes, rotinas exigentes, questões éticas que requerem decisões frequentes e difíceis, convívio com sofrimento e morte, imprevisibilidade e carga horária excessiva de trabalho1.

Aprimeira reação do estresse ligado ao trabalho é a sensação de exaustão, esgotamento, sobrecarga física e mental, e dificul-dades de relacionamento. As pessoas se tornam mais distantes e frias com relação ao trabalho e aos colegas, uma vez que sentem que é mais seguro ficar indiferentes. Como consequência deste distanciamento, vem a ineficiência2.

O termoburnoutsurgiu, então, como metáfora, para explicar o sofrimento do homem em seu ambiente de trabalho, associado a perda de motivação e alto grau de insatisfação, decorrentes desta exaustão3.

Para Maslach et al.4,burnouté uma síndrome de esgotamento profissional, proveniente da exposição prolongada a fatores in-terpessoais crônicos no trabalho e que apresenta três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e ineficácia. Esta síndro-me normalsíndro-mente acosíndro-mete trabalhadores que atendem ou assis-tem pessoas em situação de risco ou de extrema responsabilida-de4. A exaustão emocional se caracteriza pela sensação de esgo-tamento emocional e físico no trabalho. A despersonalização re-flete o desenvolvimento de atitudes frias, negativas e insensíve-is, traduzindo a desumanização, a hostilidade, a intolerância e o tratamento impessoal. Por fim, a sensação de baixa realização profissional ou ineficácia evidencia que pessoas que sofrem de burnouttendem a acreditar que seus objetivos profissionais não foram atingidos e vivenciam uma sensação de insuficiência e ba-ixa autoestima profissional3.

Poucos estudos avaliaram a prevalência e os fatores associa-dos à Síndrome deBurnoutem médicos intensivistas1,2,5-13.

O objetivo deste trabalho é descrever a prevalência da Sín-drome deBurnout, as características sociodemográficas e as con-dições de trabalho dos médicos intensivistas de Salvador (BA).

MÉTODO

Foi realizado um estudo descritivo, de corte transversal, numa população de 333 médicos intensivistas, de outubro de 2006 a janeiro de 2007. Foram incluídos os médicos que traba-lham em UTI adulto de Salvador (Bahia – Brasil), com registro na Sociedade de Terapia Intensiva da Bahia (Sotiba).

Na coleta de dados utilizou-se um questionário padroniza-do, respondido pelos próprios médicos, não sendo necessário

que se identificassem. O questionário apresentou seis blocos de questões:

1. identificação geral do entrevistado, destinado a caracterizar os indivíduos integrantes da amostra segundo sexo, idade, especialização, tempo de trabalho profissional, carga horá-ria total trabalhada/semana, turnos de trabalho, etc.; 2. características do ambiente de trabalho percebidas pelos

médicos como nocivas à sua saúde (Job Content Questionnai-re– JCQ);

3. qualidade de vida (Whoqol-Bref);

4. queixas de doenças, para avaliar a situação global de saúde dos indivíduos, buscando identificar agravos à saúde; 5. avaliação do nível deburnout(Maslach Burnout Inventory

MBI);

6. questões gerais, fatores estressantes no ambiente de traba-lho e hábitos de vida.

O Questionário Maslach (Maslach Burnout Inventory)4é com-posto por 22 afirmações sobre sentimentos e atitudes que englo-bam três dimensões fundamentais da Síndrome deBurnout, di-vididas em três escalas de 7 pontos, que variam de 0 a 6. Desta maneira, foram descritas, de forma independente, cada uma das dimensões que caracterizam a estafa profissional.

A exaustão profissional é avaliada por 9 itens, a despersona-lização por 5, e a readespersona-lização pessoal por 8. As notas de corte utili-zadas foram as empregadas no estudo de Maslach4.

Para exaustão emocional, uma pontuação igual ou superior a 27 indica alto nível; de 17 a 26, nível moderado; e menor que 16, nível baixo. Para despersonalização, pontuações iguais ou supe-riores a 13 indicam alto nível; de 7 a 12, moderado; e menores que 6, nível baixo4. A pontuação relacionada à ineficácia vai em dire-ção oposta às outras: de 0 a 31, indica alto nível; de 32 a 38; nível moderado; e igual ou superior a 39, baixo.

Apesar de não haver consenso na literatura para o diagnósti-co de Síndrome deBurnout, utilizou-se como critério para a defi-nição deburnouta presença de nível alto em pelo menos uma das três dimensões e também a presença de nível alto nas três di-mensões8.

Os resultados apresentados nesse trabalho se referem a um recorte dos dados coletados. Foram descritos a prevalência da Síndrome deBurnout, o perfil sociodemográfico e aspectos refe-rentes às condições de trabalho dos médicos intensivistas.

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médi-cos devolveram os questionários aos estudantes, garantindo, as-sim, o sigilo e a confidencialidade dos dados. O estudo foi apro-vado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Santa Izabel (CEP-HSI)14. Acoleta de dados foi realizada de outubro de 2006 a janeiro de 2007.

A análise estatística dos dados foi feita com uso do conjunto de programas SPSS for Windows15. Foram utilizados os parâme-tros da estatística descritiva, adotando-se as medidas usuais de tendência central e de dispersão, e cálculos de frequências sim-ples e relativas. A Razão de Prevalência foi utilizada para medir a associação entre as variáveis estudadas. Como o estudo foi po-pulacional, não foram utilizados cálculos de significância esta-tística16,17.

RESULTADOS

Foram entrevistados 297 plantonistas, correspondendo a 89,2% dos médicos elegíveis; 71,7% eram do sexo masculino, e a média de idade foi de 34,2 anos. Entre os entrevistados, 79,4% ti-nham menos de 40 anos de idade; 59,3% titi-nham menos de 10 anos de formados; 27% possuíam título de especialização em Medicina Intensiva; e 46,5% tinham filhos. Com relação à carga horária de trabalho, 66,4% apresentavam carga de trabalho se-manal entre 60 e 90 horas, e 51,0% trabalhavam de 12 a 24 horas semanais em UTI. Arenda mensal aproximada obtida com o tra-balho médico foi superior a R$ 5.000,00 para 79,82% dos médicos avaliados (Tabela 1).

Tabela 1

Características sociodemográficas dos médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007 (n = 297)

Variáveis N* (%)

Sexo masculino 208 (71,7)

Faixa etária (anos)

24–30 113 (38,0)

31–39 123 (41,4)

40–49 49 (16,6)

> 49 12 (4,0)

Estado civil

Solteiro 122 (41,2)

Casado 154 (52,0)

Viúvo 01 (0,3)

Divorciado/separado 19 (6,4)

Possuem filho(s) 137 (46,8)

Título de especialista em MI 79 (27,0)

Tempo de formado (anos)

< 10 anos 175 (59,3)

11–20 anos 92 (31,2)

> 21 anos 28 (9,5)

Carga horária semanal (h)

10–59 39 (13,4)

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A média de tempo de formado dos entrevistados foi de dez anos. A média de tempo de trabalho em UTI foi de 7,4 anos. A média de hospitais em que os médicos entrevistados

trabalha-vam em UTI foi de 1,7 com mediana de 2. E a média de pacientes cuidados por plantão foi de dez (Tabela 2).

Tabela 1

Características sociodemográficas dos médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007 (n = 297)

Variáveis N* (%)

> 91 59 (20,2)

Carga horária semanal em UTI (h)

12–24 149 (51,0)

25–48 107 (36,5)

> 49 37 (12,5)

Renda mensal

até R$ 5.000,00 49 (20,2)

mais de R$ 5.000,00 242 (79,8)

* Respostas válidas.

Tabela 2

Características sociodemográficas e do trabalho dos médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007 (n = 297)

Variáveis Horas

Média ± DP* (limites)

Idade 34,2±6,9 (24–58)

Tempo de formado 10±6,7 (0–33)

Tempo de trabalho em UTI 7,4±6,4 (0–28)

Número de hospitais em que trabalham em UTI 1,7±0,8 (1–6)

Pacientes cuidados por plantão 10±2,9 (03–22)

Carga horária semanal de plantão em UTI 33,7 ± 17,2 (12–96)

Carga horária semanal total de plantão 52,6 ± 24,2 (12–138)

Carga horária semanal total de trabalho médico 74,6 ± 20,7 (12–140)

Carga horária habitual de seu turno de plantão 15,6 ± 8,7 (6–84)

Carga horária de trabalho nos finais de semana 16,3 ± 10,0 (0–48)

Quantidade de horas de trabalho ininterruptas de plantão 21,6 ± 10,1 (6–60)

(5)

A principal especialidade médica dos entrevistados foi Ci-rurgia Geral, 36,3% (103), seguida de Clínica Médica, 32% (91); Cardiologia, 10,6% (30); Anestesiologia, 9,9% (28); Pneumologia, 3,2% (9); Medicina Intensiva, 2,5%(7).

A maioria dos entrevistados (67,7%) informou ter algum hobby, sendo os mais apontados: leitura, cinema, música e espor-tes. Quanto à realização de atividade física habitual no último ano, 61,4% afirmaram que a realizaram, sendo a maioria de duas a quatro vezes por semana.

Os plantonistas avaliados apontaram os ruídos excessivos e a possibilidade de complicações no atendimento dos pacientes internados como os principais fatores estressantes do ambiente de UTI (Tabela 3).

Quando questionados sobre quanto tempo pretendiam tra-balhar em UTI, 55,8% dos médicos intensivistas referiram que pretendiam continuar trabalhando em UTI por até cinco anos; 35% de 5 a 10 anos; e apenas 9,2% por mais de 10 anos.

A maioria dos entrevistados (75,8%, n = 225) referiu alguma queixa ou problema de saúde, sendo as principais: rinite/sinusi-te, 33%; lombalgia, 26,6%; azia, 23,9%, (Gráfico 1). Quanto ao pa-drão de sono dos médicos avaliados, 52,8% (n = 157) referiram que têm dormido menos que o habitual por estarem trabalhan-do; 25% (n = 74) têm sonolência diurna excessiva; e 16,2% (n = 48) têm dificuldade para iniciar o sono.

Dos 297 médicos, 99,7% responderam a todas as perguntas do MBI. Aprevalência de escore alto em uma das três dimensões do MBI foi de 63,4%; a prevalência de escore alto nas três dimen-sões do MBI foi de 7,4%; e a prevalência de escore alto em cada uma das três dimensões analisadas separadamente foi de 47,6% de exaustão emocional, 24,7% de despersonalização e 28,4% de ineficácia (Tabela 4).

Tabela 3

Fatores estressantes na UTI apontados pelos médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007 (n = 297)

Variáveis % (n*)

Ruídos excessivos na UTI 73,7 (219)

Possibilidade de complicações no atendimento aos pacientes 64,5 (189)

justrightProblemas administrativos 63,3 (188)

Lidar com sofrimento e morte 60,2 (178)

Obrigação de lidar com diversas questões simultaneamente 58,9 (129)

Quantidade de pacientes por médico 57,5 (170)

Ritmo acelerado das atividades profissionais 57,1 (169)

Falta de recursos materiais 54,6 (162)

Comprometimento da equipe 51,2 (152)

Relacionamento com a equipe 36,4 (108)

Cuidar do paciente terminal 36,1 (107)

Pressão para dar alta aos pacientes 35,3 (105)

(6)

Tabela 4

Critérios para identificação da Síndrome deBurnoutem médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007

(n = 297)

Critérios N (%)

Exaustão emocional

Baixa 60 (20,2)

Moderada 95 (32,0)

Alta 141 (47,5)

Despersonalização

Baixa 145 (48,8)

Moderada 78 (26,3)

Alta 73 (24,6)

Ineficácia

Baixa 134 (45,1)

Moderada 78 (26,3)

Alta 84 (28,3)

Altos níveis em pelo menos uma das três dimensões 188 (63,3)

Altos níveis em pelo menos duas das três dimensões 88 (29,7)

Altos níveis nas três dimensões 22 (7,4)

Gráfico 1

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A Síndrome deBurnoutnas três dimensões do MBI foi mais prevalente nos médicos que apresentavam carga horária de tra-balho em final de semana > 12 horas (RP: 2,15), carga horária se-manal de plantão em UTI > 24 horas (RP: 2,15) e possuíam renda mensal igual ou inferior a R$ 5.000,00 (RP: 1,84) (Tabela 5).

A Síndrome deBurnoutnas três dimensões do MBI foi mais prevalente nos médicos que não praticavam atividade física re-gular (RP: 5,04), que não apresentavam algumhobby(RP: 3,36), que apresentavam tempo de graduação igual ou inferior a nove anos (RP: 2,13) e que apresentavam idade igual ou inferior a 33 anos (RP: 1,82) (Tabela 5).

Tabela 5

Associação medida pela razão de prevalência entre variáveis sociodemográficas, hábitos de vida e aspectos do trabalho e Síndrome deBurnoutem médicos plantonistas de UTI adulto em Salvador, Bahia, 2007 (n = 297)

Variáveis RP

Sexo masculinoversusfeminino* 1,34

Idade≤33 anosversusidade > 33 anos* 1,82

Não ter algumhobby versusterhobby* 3,36

Não praticarversuspraticar atividade física regular* 5,04

Estado civil – casadoversussolteiro* 1,18

Tempo de formado≤9 anosversus> 9 anos* 2,13

Tempo de plantão ininterrupto > 24 horasversus≤24 horas* 1,07

Tempo de trabalho em UTI≤7 anosversus> 7 anos* 1,54

Quantidade máxima de pacientes por plantão≤10 pacientes (> 10 pacientes)* 1,34

Carga horária semanal de plantão em UTI > 24 horasversus≤24 horas* 2,15

Carga horária semanal de trabalho > 72 horasversus≤72 horas* 1,29

Renda mensal≤R$ 5.000,00versus> R$ 5.000,00 1,84

Ter título de especialista em terapia intensivaversusnão ter título 1,27

RP = Razão de prevalência.

(8)

DISCUSSÃO

O perfil dos médicos plantonistas de UTI de Salvador é de uma população jovem, predominantemente masculina, com menos de dez anos de formados, carga horária excessiva de tra-balho, principalmente em regime de plantão, e que, em sua mai-oria, não possui título de especialista em Medicina Intensiva. A predominância do sexo masculino entre os intensivistas também já foi observada por outros autores5. No entanto, a média de ida-de, tempo de formado e de trabalho em UTI foi inferior à obser-vada em outros trabalhos nacionais e internacionais5,9. Um estu-do realizaestu-do por Schein9, que avaliou médicos de UTI adulto e pediátrico em Porto Alegre (RS), encontrou uma mediana de nove anos de tempo de atuação em UTI e de 14 anos de formado.

A prevalência deburnoutconsiderando escore alto em uma das três dimensões do MBI encontrada no presente estudo foi de 63,4%, e considerando o escore alto nas três dimensões foi de 7,4%. Segundo a literatura, esta prevalência varia muito entre os estudos, dependendo da população avaliada e dos valores con-ceituais utilizados como referência. Níveis elevados deburnout já foram descritos em cerca de um terço dos intensivistas ameri-canos e em 46,5% dos intensivistas franceses1,5. Lima10observou prevalência deburnoutem 53,7% dos pediatras de um hospital público no Sul do Brasil. Já em estudo com mil oncologistas ame-ricanos, Whinppen11encontrou que 56% dos pesquisados evi-denciaram algum grau deburnout. Utilizando os mesmos critéri-os adotadcritéri-os no presente estudo, Tucunduva et al.7, no Brasil, e Grunfeld et al.8, no Canadá, encontraram prevalência deburnout em cerca de 50% de oncologistas. Conclui-se, então, que os médi-cos intensivistas do estudo apresentaram prevalência deburnout maior do que a observada em outras especialidades médicas, como oncologistas e pediatras.

A principal dimensão afetada entre os médicos avaliados foi a exaustão emocional, considerada a primeira reação ao estresse gerado pelas exigências do trabalho. Uma vez exaustas, as pes-soas sentem cansaço físico e emocional, com dificuldade de rela-xar4. Nessas circunstâncias, os recursos internos dos profissiona-is para enfrentar as situações vivenciadas no trabalho, assim como a energia para desempenhar as atividades se encontram reduzidos3. Desta forma, as características desta dimensão per-mitem que ela seja aceita com facilidade pelo profissional ao ex-pressar aspectos consistentes doburnout12.

Diante dos sintomas psicológicos e físicos, o profissional de-senvolve a despersonalização, que se caracteriza por atitudes fri-as e negativfri-as, ocorrendo um tratamento depreciativo dfri-as pes-soas diretamente envolvidas com o trabalho. O trabalhador pas-sa, inclusive, a ser cínico e irônico com os receptores de seu

traba-lho13. Esta é a dimensão com menor prevalência no presente es-tudo.

Uma vez que o profissional se sente ineficiente, com diminuição da autoconfiança e sensação de fracasso, há uma redução na rea-lização pessoal no trabalho4,10. A ineficácia durante a realização das atividades médicas foi observada em quase um terço da po-pulação avaliada. É importante destacar que alguns autores con-sideram esta dimensão como a última reação ao estresse gerado pelas exigências do trabalho4,18.

Em estudo com oncologistas, a falta de tempo pessoal foi apontada como principal motivo para o surgimento da Síndro-me deBurnout7. Thomas13encontrou resultados sugestivos de que a síndrome poderia estar associada com depressão e dificul-dade de cuidar de pacientes. Apesar de muitos estudos avalia-rem a prevalência doburnoutem diversas populações, o maior desafio hoje é identificar os principais fatores (de risco) relacio-nados com esta síndrome. Tanto características pessoais como exigências do trabalho são pesquisadas como determinantes dos sintomas desta síndrome nos diversos estudos.

No presente estudo, a prevalência deburnoutfoi menor entre os médicos que não possuíam título de especialista em MI, que referiram fazer atividade física e ter algumhobby. Asíndrome foi mais prevalente entre os médicos com menos de nove anos de formados, que trabalham em UTI há menos de nove anos e nos que referiram renda mensal inferior a R$ 5.000,00. Também os médicos que trabalhavam mais de 12 horas no final de semana e que apresentavam carga horária semanal de plantão em UTI su-perior a 24 horas apresentaram maior prevalência deburnout.

A maioria da população estudada é composta por médicos que provavelmente trabalham em UTI apenas de forma comple-mentar e temporária, o que levaria a maior predisposição a de-senvolver a Síndrome deBurnout. Este grupo, composto princi-palmente por médicos jovens, no início da carreira, muitas vezes se expõe a cargas de trabalho extenuantes a fim de melhorar a renda, o que pode ocasionar intenso desgaste físico e psicológi-co. No entanto, os estudos atuais ainda são insuficientes para identificar perfis característicos de alto risco paraburnout19.

(9)

doentes. O estudo de corte transversal examina a relação exposi-ção-doença em dada população ou amostra, num momento par-ticular, fornecendo um retrato de como as variáveis estão relaci-onadas naquele momento. Por isso, esse tipo de estudo não esta-belece nexo causal e apenas aponta a associação entre as variáve-is estudadas. Além dvariáve-isso, este estudo teve cunho exploratório, realizando apenas a descrição das variáveis estudadas. Não fo-ram realizadas análises bivariadas nem análises de confundi-mento e interação, procediconfundi-mentos importantes para conclusões mais definitivas16.

Um inconveniente dos estudos que utilizam questionários autoaplicáveis é a opção do entrevistado de não responder a to-das as questões feitas, o que dificulta o controle to-das perto-das de in-formação16.

CONCLUSÃO

Os médicos estudados são predominantemente jovens, do sexo masculino, têm uma elevada carga de trabalho semanal e, em sua maioria, não pretendem trabalhar sempre em UTI. Os resultados apontaram elevada prevalência de Síndrome deBurnoutentre os médicos plantonistas estudados. Deve-se, então, refletir sobre que medidas poderiam ser adotadas para modificar as condições de trabalho e a motivação desses profissionais. Afinal, a UTI é um am-biente em que o médico está constantemente exposto a fatores es-tressantes, relacionados principalmente ao fato de cuidar de paci-entes graves, com risco iminente de morte.

AGRADECIMENTOS

Aos estudantes de Medicina e Psicologia abaixo listados, que participaram das etapas de coleta e digitação dos dados do trabalho.

Flávia Serra Neves, Almir Galvão Vieira Bitencourt, Ales-sandro de Moura Almeida, Ygor Gomes de Souza, Marcelo San-tos Teles, Ana Isabela Ramos FeiSan-tosa, Igor Carlos Cunha Mota, Juliana França, Lorena Guimarães Borges, Manuela Barreto de Jesus Lordão.

REFERÊNCIAS

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CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Carlito L. Nascimento Sobrinho, Dalton de Souza Barros, Márcia O. S. Tironi e Edson S. M. Filho participaram de todas as etapas do trabalho.

CONFLITO DE INTERESSES

Declarou não haver.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA

Carlito Lopes Nascimento Sobrinho Departamento de Saúde

Universidade Estadual de Feira de Santana. BR 116, km.3 , Campus Universitário Novo Horizonte – Feira de Santana CEP. 44031-460 BA

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Gráfico 1

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