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A metisergide no tratamento da epilepsia temporal.

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Academic year: 2017

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A METISERGIDE NO TRATAMENTO DA EPILEPSIA TEMPORAL

JORGE ARMBRUST-FIGUEIREDO

Ao estudarem a ação da metisergide sobre as cefaléias vasculares, Hale e Reed5

, em 1962, verificaram que alguns pacientes que apresentavam al-terações eletrencefalográficas compatíveis com enxaqueca, tinham seus tra-çados normalizados após tratamento com essa droga. Sugeriram, então, possível eficácia desse agente no controle de distúrbios convulsivos.

Em 1965, Armbrust-Figueiredo e col.2

observaram efeito semelhante, ao empregarem a metisergide em um grupo de 48 pacientes com enxaqueca. As alterações do EEG, presentes em 24 casos antes do início do tratamento, desapareceram ao fim de um mês, em elevada percentagem dos casos.

Tais achados, confirmando as suspeitas de Hale e Reed, levaram-nos a experimentar a droga em pacientes com crises epilépticas.

M A T E R I A L E M É T O D O

E s t u d a m o s 78 pacientes com crises psicomotoras e cujos E E G m o s t r a v a m a t i -vidade focai a n o r m a l (ondas "sharp") de projeção em um dos lobos temporais. Destes, 3 0 j á h a v i a m sido tratados p r e v i a m e n t e e m nosso Serviço com drogas a n t i -convulsivantes, m a s c o n t i n u a v a m apresentando crises e os seus E E G persistiam c o m alterações focais. Os outros 48 n ã o se h a v i a m submetido a t r a t a m e n t o específico de modo regular, antes de procurarem nosso Serviço pela primeira vez.

Todos os pacientes a p r e s e n t a v a m crises psicomotoras, simples ou complexas, e na história pregressa de cada um deles h a v i a referência a parto t r a u m á t i c o .

Dos 78 pacientes, 42 eram do sexo feminino; suas idades v a r i a v a m entre 1 6 e 36 anos, e o tempo de duração das crises, de 6 a 18 anos.

Os e x a m e s neurológicos dos pacientes f o r a m normais, exceto em 32 nos quais foi constatada hemi-hipotrofia corporal, atribuída ao t r a u m a t i s m o de parto.

Os E E G f o r a m realizados em aparelho Grass ou Kaiser, de 8 canais, colocan-do-se os eletrodos conforme a técnica usual internacional, c o m derivações m o n o e bipolares. Os e x a m e s foram sempre realizados antes do início do t r a t a m e n t o e r e -petidos ao fim de 1, 3, 6 e 12 meses.

A metisergide * ( b u t a n o l a m i d a do ácido 1-metil-lisérgico) foi e m p r e g a d a em doses que v a r i a r a m de 2 a 6 m g diários, de acordo c o m as necessidades de cada paciente e foi sempre associada a um barbitúrico ( f e n o b a r b i t a l ) , administrado e m uma única dose de 0,1 g à noite.

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A a v a l i a ç ã o dos resultados clínicos foi feita a t r a v é s de entrevistas com os pa-cientes e seus familiares, durante as quais o b t i v e m o s informações sobre o n ú m e r o e intensidade das crises, sobre a freqüência das diferentes manifestações que ocor-riam durante as crises e sobre os disturbios de tipo psíquico.

O tempo de o b s e r v a ç ã o dos pacientes foi de 12 meses.

R E S U L T A D O S

Nossos resultados foram considerados sob dois aspectos: o efeito da droga sobre as manifestações clínicas e sua a ç ã o sobre o E E G .

Manifestações clínicas -—• Dos 78 pacientes, 5 9 ( 7 6 % ) responderam de modo f a v o r á v e l a o t r a t a m e n t o , sendo que 47 ( 6 1 % ) não m a i s apresentaram crises e 1 2 ( 1 5 % ) m o s t r a r a m sensível melhora, com diminuição a c e n t u a d a da freqüência e da intensidade das crises. Os restantes 19 pacientes apresentaram pouca ou n e n h u m a influência à terapêutica.

A c o m p a r a ç ã o dos resultados obtidos nos dois grupos de pacientes, represen-tados na tabela 1, m o s t r a que o grupo tratado pela primeira vez apresentou re-sultados mais satisfatórios que o grupo submetido a t r a t a m e n t o especifico anterior.

O efeito benéfico da droga sobre os 78 pacientes foi observado em diferentes épocas ( t a b e l a 2 ) . Verificamos que j á no terceiro mês, 11 pacientes não apresen-t a v a m crises há, pelo menos, 4 5 dias e que 24 a p r e s e n apresen-t a v a m melhora níapresen-tida e m suas manifestações críticas. N o 9» m ê s de e v o l u ç ã o c o n s t a t a m o s que 21 pacien-tes não h a v i a m sido influenciados de m a n e i r a satisfatória pela droga, o que nos levou a incluir outros m e d i c a m e n t o s no e s q u e m a de t r a t a m e n t o , excluindo-os do presente trabalho.

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Alterações eletrencefalográficas — A a v a l i a ç ã o do efeito da metisergide sobre o E E G m o s t r o u que e m 2 9 ( 3 7 % ) pacientes, os traçados se n o r m a l i z a r a m , em 2 1 ( 2 7 % ) h a v i a m m e l h o r a d o nitidamente e em 2 8 ( 3 6 % ) p e r m a n e c i a m as alterações. D e v e m o s salientar que nestes últimos 28 pacientes estão incluídos os 1 9 que f o r a m excluídos do trabalho, considerando-se as condições do E E G no 9"? m ê s de tra-t a m e n tra-t o .

A época de a v a l i a ç ã o dos traçados aparece na tabela 3.

C O M E N T A R I O S

Hale e Reed5

e Armbrust-Figueiredo e col.2

ao estudarem os efeitos da metisergide sobre a enxaqueca, observaram que as alterações eletrence-falográficas presentes em alguns pacientes desapareciam ou melhoravam ni-tidamente com o tratamento, sugerindo que a droga deveria ser experimen-tada como anticonvulsivante. Por outro lado, sabe-se de há muito, que anticonvulsivantes têm certa atividade no combate às crises de enxaqueca. Friedman e Merritt3

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profilàtica-mente nas enxaquecas, melhorando as alterações eletrencefalográficas simul-taneamente. É reconhecido, também, que alguns anticonvulsivantes, como a difenilidantoína e certos derivados da dibenzo-azepina, têm indiscutível valor terapêutico na neuralgia do trigêmeo; de modo semelhante, a meti-sergide atua eficazmente nessa doença1

.

A semelhança de certos aspectos do comportamento terapêutico da me-tisergide com o dessas drogas nos levaram a experimentá-la no tratamento da epilepsia temporal.

Para o estudo selecionamos uma série homogênea de pacientes; todos eram portadores de epilepsia psicomotora com alterações focais no EEG que se projetavam em um dos lobos temporais. Para melhor avaliação com-parativa, reunimos (1) pacientes que já haviam sido submetidos a prévios tratamentos sob nossa orientação, mas que não tinham obtido resultados satisfatórios com os esquemas terapêuticos propostos, e (2) pacientes que nunca haviam recebido, de maneira regular e conveniente, tratamento com drogas anticonvulsivantes.

Todos os pacientes receberam a metisergide associada ao fenobarbital, obedecendo à orientação que vimos adotando há anos e pela qual um bar-bitúrico deve ser obrigatoriamente incluído em qualquer esquema terapêu-tico que se escolha para os diferentes tipos de epilepsia.

Os resultados que obtivemos demonstram que a metisergide age satis-fatoriamente na epilepsia psicomotora devida a foco de projeção temporal. Dos 78 pacientes estudados, 47 (61%) tiveram suas crises abolidas e 12 (15%) apresentaram melhora evidente quanto à freqüência e intensidade das crises. Os 19 pacientes restantes não foram influenciados de modo sa-tisfatório pela droga, sendo excluídos da pesquisa ao fim de 9 meses de observação.

É freqüente o fato de pacientes com epilepsia temporal apresentarem piora do quadro psíquico quando submetidos a tratamento com alguns anti-convulsivantes, particularmente a primidona. As crises de tipo motor são bem controladas, mas as manifestações de ordem psíquica são exacerbadas, obrigando, muitas vezes, a associação de drogas psicotrópicas. Por essa razão, analisamos cuidadosamente tais sintomas, verificando que a metiser-gide atua de maneira eficaz, reduzindo sensivelmente os distúrbios do hu-mor e do comportamento e as crises de tipo confusional. Por outro lado, não observamos qualquer piora dessas manifestações no grupo estudado. Efeito semelhante ao que observamos nesta investigação só foi constatado por nós com o uso do carbamil-dibenzo-azepina e da metsuximida.

A influência da droga sobre o EEG ficou bem demonstrada. Conside-rando-se o número total de pacientes, inclusive aqueles que foram excluídos do trabalho ao fim de 9 meses de seguimento, verificamos que 50 (64%) dos pacientes tiveram seus traçados normalizados (37%) ou bastante me-lhorados (27%).

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ao passo que somente 64% mostraram regressão parcial ou total das alte-rações eletrencefalográficas.

A possível interferência do barbitúrico sobre os nossos resultados não pode ser afastada. O mesmo ocorreria com a avaliação clínica dos efeitos de outras drogas na terapêutica antiepiléptica, pois não acreditamos que qualquer esquema medicamentoso possa ser suficientemente seguro se o barbitúrico não fôr nele incluído.

As doses utilizadas foram pequenas. Empregamos doses diárias de 2 mg inicialmente em todos os pacientes, sendo que em 14 a dosagem teve de ser elevada para 4 mg e em 22 para 6 mg. Destes 22 pacientes, 19 foram excluídos do trabalho, conforme foi dito acima.

A tolerância ao medicamento foi muito boa, pois 18 pacientes apenas queixaram-se de "tontura" e mal-estar geral nos primeiros dias de trata-mento e 3 referiram insônia ocasional, enquanto recebiam 2 mg diários. Dos 36 doentes que usaram 4 ou 6 mg diários, 21 referiram dores muscu-lares generalizadas, sensação desagradável precordial, náusea ou tensão emo-cional, e que foram transitórias. Embora, em nosso material, as reações secundárias tenham sido de pequena importância e passageiras, devemos as-sinalar a experiência de Graham e col.4

que encontraram complicações gra-ves quando a metisergide foi empregada em doses elevadas durante perío-dos prolongaperío-dos.

De nossos resultados podemos concluir: 1. a metisergide tem ação anticonvulsivante satisfatória, ao menos em pacientes com epilepsia tempo-ral; 2. a metisergide influi sobre a atividade anormal dos focos epileptó-genos, normalizando ou melhorando de maneira evidente as alterações do EEG, em elevada percentagem de casos; 3. a metisergide atua de maneira eficaz sobre as manifestações de tipo psíquico da epilepsia temporal; 4. a metisergide, quando administrada em doses reduzidas, não provoca reações secundárias importantes.

R E S U M O

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S U M M A R Y

Methysergide in the treatment of temporal lobe epilepsy

Methysergide (1-methyl-lysergic acid butanolamide) was used experi-mentally in 78 patients with psychomotor epilepsy and with focal abnormal activity (sharp waves) in one of the temporal lobes, in the EEG. The usual dosage of methysergide was 2 to 6 mg daily (only 36 patients received more than 2 mg daily) and every patient received fenobarbital 0.1 g daily also. Out of the 78 patients, 59 responded well to the treatment; 47 were free of seizures and in 12 there was decrease in frequency and severity of seizures. Psychic symptoms also decreased with the use of methysergide. The EEG was improved in 27 per cent of patients and became normal in 37 per cent, after twelve months of treatment. Slight side effects were reported by 39 pacients but they disappeared in a few days.

R E F E R Ê N C I A S

1 . A R M B R U S T - F I G U E I R E D O , J. A m e t i s e r g i d e n o t r a t a m e n t o d a n e u r a l g i a d o t r i ¬

g ê m e o . E m p u b l i c a ç ã o e m H o s p i t a l ( R i o d e J a n e i r o ) .

2 . A R M B R U S T F I G U E I R E D O , J.; M O U R A R I B E I R O , R . & L I S O N , M . P . — T r a -t a m e n -t o d a e n x a q u e c a p e l a m e -t i s e r g i d e . J. B r a s . M e d . 9 : 7 9 4 - 8 0 1 , 1 9 6 5 .

3 . F R I E D M A N , A . P . & M E R R I T T , H . H . — T r e a t m e n t o f h e a d a c h e . J. A m e r .

M e d . A s s . 1 6 3 : 1 1 1 1 - 1 1 1 7 , 1 9 5 7 .

4 . G R A H A M , J. R . ; S U B Y , H . I . ; L e C O M P T E , P . R . & S A D O W S K Y , N . L . — F i b r o t i c d i s o r d e r s a s s o c i a t e d w i t h m e t h y s e r g i d e t h e r a p y f o r h e a d a c h e . N e w E n g l a n d J. M e d . 2 7 4 : 3 5 9 - 3 6 5 , 1 9 6 6 .

5 . H A L E , A . R . & R E E D , A . F . — P r o p h y l a x i s o f f r e q u e n t v a s c u l a r h e a d a c h e w i t h m e t h y s e r g i d e . A m e r . J. M e d . S c . 2 4 3 : 9 2 - 9 8 , 1 9 6 2 .

Referências

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