UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA
DISSERTAC¸ ˜AO DE MESTRADO
Solu¸
c˜
oes Cosmol´
ogicas e locais para uma
Eletrodinˆ
amica modificada
Calistrato Soares da Cˆamara Neto
Submetida para obten¸c˜ao do grau de Mestre em F´ısica
SUM ´
ARIO
1
Introdu¸
c˜
ao
5
2
Eletromagnetismo de Maxwell
7
2.1 Equa¸c˜oes de Maxwell . . . 7
2.2 Formula¸c˜ao das Equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Especial . . . 12
2.2.1 Covariˆancia da equa¸c˜ao da for¸ca de Lorentz . . . 17
2.3 O tensor momento-energia para o campo eletromagn´etico na Rela-tividade Especial. . . 17
3
Eletromagnetismo na Relatividade Geral
19
3.1 O Princ´ıpio da Equivalˆencia e as equa¸c˜oes de Einstein . . . 193.2 O Princ´ıpio da Covariˆancia Geral e o Princ´ıpio do Acoplamento Gra-vitacional M´ınimo . . . 22
3.3 Equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Geral . . . 23
3.3.1 C´alculo Variacional para a Eletrodinˆamica de Maxwell na Re-latividade Geral . . . 25
3.4 O tensor momento-energia para o campo eletromagn´etico na Rela-tividade Geral . . . 26
4
Propostas Alternativas de Eletromagnetismo
28
4.1 Eletrodinˆamica N˜ao-Linear . . . 284.2 Lagrangeanas de Primeira Classe . . . 30
4.3 Lagrangeanas de Segunda Classe . . . 31
4.4 Lagrangeanas efetivas para uma teoria n˜ao-linear . . . 32
5
Aplica¸
c˜
oes `
a Cosmologia
34
5.1 Introdu¸c˜ao. . . 34 5.2 Solu¸c˜ao geral paraΛ = 0 e um campo magn´etico dependente do tempo 37 5.3 Solu¸c˜ao Geral para Λ =constante6= 0 e um campo magn´etico
depen-dente do tempo . . . 39 5.4 Solu¸c˜ao Geral para um campo magn´etico constante e Λ dependente
do tempo . . . 40 5.5 Um coment´ario sobre a solu¸c˜ao para Λ = 0 e um campo magn´
e-tico dependente do tempo a partir de corre¸c˜oes quˆanticas para a eletrodinˆamica cl´assica . . . 44
6
Aplica¸
c˜
oes ao Problema da Massa Puntual Carregada
50
6.1 Introdu¸c˜ao. . . 50 6.2 Equa¸c˜oes fundamentais. . . 50 6.3 Solu¸c˜ao das Equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell . . . 53
7
Conclus˜
oes
75
A
Relatividade Especial
80
LISTA DE FIGURAS
5.1 O painel superior mostra o fator de escala (linha s´olida) e o campo magn´etico
(linha tracejada), enquanto que o painel inferior mostra a densidade de energia
(linha s´olida) e a press˜ao (linha tracejada) para o modelo com
ω= 6,67×10−31m2/N e Λ = 0. B0foi escolhido de tal forma que
q
2ω B0 = 0.2 eB0/Bcr= 0.5. . . 47
5.2 O painel superior mostra o fator de escala (linha s´olida) e o campo magn´etico
(linha tracejada), enquanto que o painel inferior mostra a densidade de energia
(linha s´olida) e a press˜ao (linha tracejada) para o modelo com
ω= 6,67×10−31 m2/N e uma constante n˜ao-nula Λ. Os valores para Λ e B0
s˜ao tais que√λ/α0 = 2×10−4 e
q
2ω
B0 = 0.2. . . 48
5.3 Como na Figura 5.2 mas para √λ/α0 = 5×10−5 e
q
2ω
B0 = 0.05. . . 48
5.4 O fator de escala (linha s´olida) e o parˆametro cosmol´ogico (linha tracejada)
para o modelo com campo magn´etico constante, ω = 6,67×10−31 m2/N, Λ
dependente do tempo e K0 > 0 (
q
2ω
B0 = 1). No painel superior
√
λ0/α0 = 1
enquanto que no painel inferior √λ0/α0= 0.5. . . 49
5.5 Como na Figura 5.4 mas para K0 < 0 (
q
2ω
B0 = 0.1). No painel superior
√
λ0/α0= 1 enquanto que no painel inferior √λ0/α0 = 0.5. . . 49
6.1 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e π
3 >Θ≥
π
6
. . . 66
6.2 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e
−π3 >Θ≥ −
π
2
. . . 66
6.3 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e hπ >Θ≥ 56πi . . . 67
6.4 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para
ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e
0<Θ≤ π6
6.5 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e h−2π
3 <Θ≤ −π2
i
. . . 68
6.6 A figura mostra o campo el´etrico radial E2, rela¸c˜ao (6.41), para
ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e h2π
3 <Θ≤ 5
π
6
i
. . . 68
6.7 A figura mostra o campo el´etrico radial E3, rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e
−π3 >Θ≥ −
π
2
. . . 69
6.8 A figura mostra o campo el´etrico radial E3 , rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e π
3 >Θ≥
π
6
. . . 69
6.9 A figura mostra o campo el´etrico radial E3, rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α= 382 C.m/s e
−π
3 >Θ≥ −π2
. . . 70
6.10 A figura mostra o campo el´etrico radial E3, rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e h−23π <Θ≤ −π2i . . . 70
6.11 A figura mostra o campo el´etrico radial E3 , rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e h2π
3 <Θ≤ 5
π
6
i
. . . 71
6.12 A figura mostra o campo el´etrico radial E3, rela¸c˜ao (6.42), para
ω= 1×10−12 m2/N,α=−382 C.m/s e
0<Θ≤ π6
. . . 71
6.13 A figura mostra o gr´afico da componente g00, solu¸c˜ao (6.55), para
ω= 6,67×10−11 m2/N e α= 1,6×102 C.m/s . . . 72
6.14 A figura mostra o campo el´etrico radial E da solu¸c˜ao (6.58)
(li-nha s´olida) e o campo el´etrico cl´assico (linha tracejada), obtidos para
ω= 6,67×10−11 m2/N e α= 160C.m/s . . . . 72
6.15 A figura mostra o campo el´etrico radial E da solu¸c˜ao (6.58)
(li-nha s´olida) e o campo el´etrico cl´assico (linha tracejada), obtidos para
ω= 6,67×10−11 m2/N e α=−160 C.m/s . . . 73
6.16 A figura mostra o campo el´etrico radial E da solu¸c˜ao (6.60) para
ω=−6,67×10−11 m2/N e α= 160C.m/s . . . 73
6.17 A figura mostra a componente g00 da m´etrica para a solu¸c˜ao de
Reissner-Nordstr¨om (linha s´olida) e a rela¸c˜ao (6.59) obtida numericamente
LISTA DE TABELAS
2.1 Equa¸c˜oes de Maxwell, rela¸c˜oes constitutivas e constantes eletromagn´eticas nos
principais sistemas de unidade . . . 11
2.2 Principais grandezas eletromagn´eticas no SI e no Sistema Gaussiano . . . 12
6.1 A tabela abaixo mostra o comportamento das solu¸c˜oesE1 parar > rc er > rc,
o comportamento assint´otico (r→ ∞) e analisa a validade f´ısica dessas solu¸c˜oes
em rela¸c˜ao ao campo coulombiano. . . 59
6.2 A tabela seguinte mostra, de forma an´aloga a tabela anterior, o comportamento
para as solu¸c˜oes E2. . . 60
6.3 A tabela seguinte mostra, de forma an´aloga a tabela anterior, o comportamento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Solu¸c˜oes Cosmol´ogicas e locais para uma Eletrodinˆamica modificada
Submetida para obten¸c˜ao do grau de Mestre em F´ısica Novembro 2001
Calistrato Soares da Cˆamara Neto ABSTRACT
The present work investigates some consequences that arise from the use of a modified lagrangean for the eletromagnetic field in two different contexts: a spatially homogeneous and isotropic universe whose dynamics is driven by a magnetic field plus a cosmological parameter Λ, and the problem of a static and charged point mass (charged black hole). In the cosmological case, three different general solutions were derived. The first, with a null cosmological parameter Λ, generalizes a particular solution obtained by Novello et al [gr-qc/9806076]. The second one admits a constant Λ and the third one allows Λ to be a time-dependent parameter that sustains a constant magnetic field. The first two solutions are non-singular and exhibit inflationary periods. The third case studied shows an inflationary dynamics except for a short period of time. As for the problem of a charged point mass, the solutions of the Einstein-Maxwell equations are obtained and compared with the
stan-dard Reissner-Nordstr¨om solution. Contrary to what happens in the cosmological case, the
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Solu¸c˜oes Cosmol´ogicas e locais para uma Eletrodinˆamica modificada
Submetida para obten¸c˜ao do grau de Mestre em F´ısica Novembro 2001
Calistrato Soares da Cˆamara Neto RESUMO
No presente trabalho s˜ao investigadas algumas conseq¨uˆencias da utiliza¸c˜ao de uma nova
la-grangeana para a eletrodinˆamica em dois contextos: um universo espacialmente homogˆeneo
e isotr´opico com campo magn´etico mais um parˆametro cosmol´ogico Λ e o problema da massa
puntual carregada e est´atica (buraco negro carregado). No caso cosmol´ogico, foram
obti-das trˆes solu¸c˜oes gerais: a primeira delas, para Λ = 0, generaliza uma solu¸c˜ao particular
obtida por Novello et al [gr-qc/9806076], a segunda admite um parˆametro cosmol´ogico
con-stante e n˜ao-nulo e a terceira corresponde a um campo magn´etico constante sustentado por
um Λ dependente do tempo . As duas primeiras solu¸c˜oes s˜ao n˜ao-singulares e possuem
per´ıodos inflacion´arios. A terceira solu¸c˜ao apresenta uma dinˆamica inflacion´aria exceto por um curto intervalo de tempo. No contexto do problema da massa puntual carregada, a
solu¸c˜ao das equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell ´e obtida e comparada com a solu¸c˜ao padr˜ao de
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado essa oportunidade.
A minha Fam´ılia, pela paciˆencia e colabora¸c˜ao durante todos os anos da minha vida.
Ao meu orientador, Prof. Dr. M´arcio Maia, pelos quatro anos de amizade .
Aos Professores Joel Cˆamara Carvalho e Jos´e Ademir Sales de Lima, pela importante
contribui¸c˜ao nesse trabalho.
Ao colega Jailson, pelos conselhos e pela colabora¸c˜ao importante nos momentos
deci-sivos.
Aos demais colegas e professores da P´os-Gradua¸c˜ao pela amizade e pela contribui¸c˜ao
para a minha forma¸c˜ao acadˆemica.
Ao DFTE e ao Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica da UFRN, pelo apoio importante
para a realiza¸c˜ao desse trabalho.
`
CAP´
ITULO 1
Introdu¸
c˜
ao
A Relatividade Geral tem tido grande ˆexito na sua tentativa de explicar a origem e a
evolu¸c˜ao do universo. V´arias das suas previs˜oes te´oricas foram confirmadas
observacional-mente ao longo do s´eculo XX. Por outro lado, a Teoria da Gravita¸c˜ao de Newton ´e bastante
adequada para descrever a maioria dos fenˆomenos f´ısicos que ocorrem em nossa gal´axia.
J´a a Eletrodinˆamica Cl´assica de Maxwell ´e uma teoria formulada a partir da observa¸c˜ao
macrosc´opica de fenˆomenos eletromagn´eticos e sua aplica¸c˜ao tecnol´ogica atual ´e bastante
extensa. No dom´ınio atˆomico, contudo, essa teoria requer modifica¸c˜oes. A Eletrodinˆamica
Quˆantica ´e uma das propostas para se descrever esse dom´ınio da realidade.
Em uma descri¸c˜ao mais real´ıstica da origem do universo, assim como na an´alise dos
bu-racos negros, a estrutura de pequena escala deve ser considerada [1]-[2]. Nessa estrutura, o
acoplamento entre a gravita¸c˜ao e as outras intera¸c˜oes se modificam em rela¸c˜ao a estrutura
de larga escala.
O presente trabalho analisa algumas eletrodinˆamicas n˜ao cl´assicas e suas correla¸c˜oes com
a gravita¸c˜ao. Esse assunto tem sido extensivamente estudado ao longo das ´ultimas d´ecadas
[3]-[10]. Tratamos aqui, mais especificamente, da altera¸c˜ao de solu¸c˜oes cosmol´ogicas no
con-texto dos modelos de Friedmann-Robertson-Walker (FRW) e de solu¸c˜oes para uma massa
puntual carregada, generalizando a solu¸c˜ao de Reissner-Nordstr¨om [11]. A disserta¸c˜ao est´a
organizada em cap´ıtulos como se segue.
No Cap´ıtulo 2 ´e feita uma introdu¸c˜ao ao Eletromagnetismo de Maxwell, apresentando
as principais equa¸c˜oes na formula¸c˜ao diferencial e na formula¸c˜ao covariante no contexto da
Relatividade Especial. A referˆencia [12] foi a principal fonte utilizada.
No Cap´ıtulo 3 s˜ao apresentados os principais princ´ıpios e equa¸c˜oes da Relatividade Geral.
a partir do Princ´ıpio do Acoplamento M´ınimo.
O Cap´ıtulo 4 apresenta um resumo de algumas das propostas de eletromagnetismo n˜ao
cl´assico e suas principais conseq¨uˆencias. Dentre as fontes utilizadas, a mais analisada para
esse cap´ıtulo foi a referˆencia [4].
O Cap´ıtulo 5 constitui uma aplica¸c˜ao `a Cosmologia do acoplamento escolhido para ser
analisado neste trabalho. Esse cap´ıtulo mostra como uma eletrodinˆamica n˜ao-linear altera
a solu¸c˜ao cosmol´ogica padr˜ao para o universo de FRW. Ao final do cap´ıtulo ´e feita uma
compara¸c˜ao entre a nossa solu¸c˜ao e a solu¸c˜ao da referˆencia [1], obtida a partir de corre¸c˜oes
quˆanticas.
O Cap´ıtulo 6 ´e uma aplica¸c˜ao ao problema da massa puntual carregada. A solu¸c˜ao padr˜ao
de Reissner-Nordstr¨om ´e resgatada e uma nova solu¸c˜ao ´e obtida para uma eletrodinˆamica
n˜ao-linear. Essas duas solu¸c˜oes s˜ao comparadas e algumas diferen¸cas s˜ao apresentadas e
discutidas.
O Cap´ıtulo 7 resume alguns resultados e dificuldades e apresenta propostas de
desenvolvi-mento desse trabalho.
O Sistema Internacional de Unidades (SI) ser´a utilizado ao longo de toda esta disserta¸c˜ao,
salvo men¸c˜ao expl´ıcita em contr´ario.
A assinatura da m´etrica utilizada ´e−2. Os ´ındices gregos assumir˜ao os valores 0, 1, 2 e 3
CAP´
ITULO 2
Eletromagnetismo de Maxwell
Como fundamenta¸c˜ao te´orica para essa disserta¸c˜ao, apresentarei um resumo da parte principal
da teoria da Eletrodinˆamica Cl´assica na Relatividade Especial, a qual ser´a utilizada neste
trabalho.
As Equa¸c˜oes de Maxwell s˜ao apresentadas, tanto nas formas diferencial e covariante,
como a partir de c´alculo variacional. Os aspectos e as conseq¨uˆencias f´ısicas relevantes dessas
equa¸c˜oes tamb´em s˜ao discutidos.
No final do cap´ıtulo, ´e apresentada a formula¸c˜ao covariante da equa¸c˜ao da for¸ca de Lorentz.
Uma explica¸c˜ao mais detalhada do assunto referente a esse cap´ıtulo ´e encontrada nas
referˆencias [11]-[13].
2.1 Equa¸c˜oes de Maxwell
A teoria eletromagn´etica cl´assica foi desenvolvida a partir de um extenso trabalho
experi-mental. Suas leis fundamentais s˜ao, portanto, de natureza emp´ırica. Por essa raz˜ao, elas
n˜ao podem ser provadas do ponto de vista te´orico. Durante mais de dois s´eculos, foram
realizadas diversas experiˆencias que comprovaram macroscopicamente a sua validade. Essas
leis s˜ao expressas pelas quatro Equa¸c˜oes de Maxwell, que s˜ao as equa¸c˜oes fundamentais da
teoria eletromagn´etica.
No SI, as equa¸c˜oes de Maxwell, para fontes no v´acuo, s˜ao [12]
∇ •E~ = ρ
ǫ0
, (2.1)
∇ ×B~ = µ0J~+µ0ǫ0 ∂ ~E
∂t, (2.2)
∇ ×E~ + ∂ ~B
∇ •B~ = 0, (2.4) onde E~, B~, J~, µ0, ǫ0 e ρ s˜ao, respectivamente, o campo el´etrico, a indu¸c˜ao magn´etica, a
densidade de corrente, a permeabilidade magn´etica do v´acuo, a permissividade el´etrica do
v´acuo e a densidade de carga.
A primeira rela¸c˜ao expressa a Lei de Gauss para a eletricidade e pode ser obtida da Lei
de Coulomb para a a for¸ca el´etrica.
A dependˆencia da for¸ca el´etrica com o inverso do quadrado da distˆancia foi mostrada
quantitativamente por Coulomb e Cavendish. Atrav´es das suas experiˆencias com a balan¸ca
de tor¸c˜ao e esferas concˆentricas, eles mostraram essa dependˆencia com pequena precis˜ao .
Experiˆencias mais precisas testam a validade da lei do inverso do quadrado da distˆancia
de duas formas:
(a) Supondo que a for¸ca varia com r2+1δ, onde r ´e a distˆancia entre duas cargas el´etricas, e
estabelecendo um limite superior paraδ.
(b) Admitindo que o potencial eletrost´atico tem a forma do potencial de Yukawar−1e−αr e
estabelecendo um limite para αouα−1. Como α= mγc
¯
h ondemγ ´e a massa do f´oton, c
´e a velocidade da luz no v´acuo e ¯h ´e a constante de Planck dividida por 2π, o teste da
lei do inverso do quadrado da distˆancia pode ser realizado atrav´es do estabelecimento
de um limite superior para mγ.
Williams, Faller e Hill [12], realizando uma experiˆencia semelhante `a de Cavendish,
ob-tiveram o limiteδ ≤(2,7±3,1)×10−16.
Medidas do campo geomagn´etico da terra fornecem um limite para a massa do f´oton de
mγ≤4×10−51 kg ou α−1 ≥108 m.
Experiˆencias mais precisas mostram que a Lei de Coulomb ´e v´alida para r ≥ 10−17 m,
podendo a massa do f´oton ser considerada nula nesse caso.
A segunda equa¸c˜ao ´e uma generaliza¸c˜ao da Lei de Amp`ere. O termoµ0ǫ0∂ ~∂tE foi adicionado
por Maxwell `a Lei de Amp`ere ∇ ×B~ =µ0J~. A introdu¸c˜ao desse termo ´e considerada como
uma das maiores contribui¸c˜oes dada por Maxwell `a teoria eletromagn´etica.
A equa¸c˜ao (2.3) expressa a Lei de Indu¸c˜ao de Faraday e nos permite quantificar o fenˆomeno
da indu¸c˜ao eletromagn´etica.
Tomando-se o divergente da rela¸c˜ao (2.2) e empregando a equa¸c˜ao (2.1), obt´em-se uma
equa¸c˜ao de continuidade relacionando a densidade de corrente e a densidade de carga
∂ρ
∂t +∇ •J~= 0. (2.5)
Outra importante conseq¨uˆencia das equa¸c˜oes de Maxwell ´e que a luz ´e uma onda
eletro-magn´etica e sua velocidade em um determinado meio pode ser medida atrav´es da
permissivi-dade el´etrica ǫe da permeabilidade magn´etica µ desse meio. Para o v´acuo essa velocidade ´e
c= 2,99792458×108m/s, valor este que tem extrema importˆancia nos fenˆomenos ´oticos e no estudo da Teoria da Relatividade. Ela tamb´em ´e uma das constantes fundamentais da F´ısica
e ´e utilizada para definir o metro no SI.
Outra rela¸c˜ao importante do Eletromagnetismo ´e a for¸ca de Lorentz que age sobre uma
part´ıcula carregada q movendo-se com velocidade ~v,
~
F =q(E~ +~v×B~). (2.6)
As equa¸c˜oes de Maxwell no v´acuo s˜ao lineares nos campos E~ e B~. A dispers˜ao crom´atica e a difra¸c˜ao dos raios-X s˜ao exemplos de fenˆomenos f´ısicos em que essa linearidade ´e v´alida.
Diversas observa¸c˜oes experimentais mostram que a linearidade ´e v´alida tanto para campos
macrosc´opicos como para campos criados em n´ıveis atˆomicos.
Existem tamb´em situa¸c˜oes em que efeitos n˜ao-lineares ocorrem. Os materiais
ferro-magn´eticos e os cristais submetidos a intensos feixes de laser s˜ao alguns exemplos.
Em n´ıveis atˆomicos e subatˆomicos, a linearidade pode tamb´em n˜ao ser v´alida. Existe
uma n˜ao linearidade dos campos eletromagn´eticos na Mecˆanica Quˆantica que surge devido
ao Princ´ıpio da Incerteza permitir a cria¸c˜ao de um par el´etron-p´ositron por dois f´otons e um
subseq¨uente desaparecimento do par com a emiss˜ao de dois outros f´otons diferentes. Este
processo ´e conhecido como espalhamento de luz por luz.
Para um meio qualquer, as equa¸c˜oes de Maxwell s˜ao escritas para os campos macrosc´
o-picos, ou seja, n˜ao s˜ao considerados os campos produzidos por cada part´ıcula elementar que
constitui a distribui¸c˜ao de carga e sim a m´edia macrosc´opica dos campos por elas produzidas.
Essas equa¸c˜oes s˜ao
∇ •D~ = ρ, (2.7)
∇ ×H~ = J~+ ∂ ~D
∇ ×E~ + ∂ ~B
∂t = 0, (2.9)
∇ •B~ = 0, (2.10)
ondeD~ ´e o deslocamento el´etrico eH~ ´e o campo magn´etico.
As rela¸c˜oes constitutivas D~ = D~(E~), H~ = H~(B~) e J~ = J~(E~), para meios lineares e isotr´opicos, s˜ao, no SI,
~
D = ǫ ~E, (2.11)
~
H = µ ~B, (2.12)
~
J = g ~E, (2.13)
ondeǫ, µ e g s˜ao, respectivamente, a permissividade el´etrica, a permeabilidade magn´etica e
a condutividade el´etrica do meio. A terceira rela¸c˜ao constitutiva ´e conhecida como Lei de
Ohm.
´
E poss´ıvel tamb´em relacionar D~ e E~ com a polariza¸c˜ao P~ e H~ e B~ com a magnetiza¸c˜ao
~ M,
~
D = ǫ0E~ +P ,~ (2.14)
~
H = 1
µ0 ~
B−M .~ (2.15)
Existem ainda situa¸c˜oes mais gerais em que (2.11), (2.12) e (2.13) s˜ao generalizadas pelas
rela¸c˜oes D~ =D~(E, ~~ B), H~ =H~(E, ~~ B) e J~=J~(E, ~~ B).
A Tabela 2.1 mostra as equa¸c˜oes de Maxwell nos sistemas de unidades mais comuns [12],
assim como os valores de ǫ0 e µ0. As rela¸c˜oes entre D~,E~ e P~ e entreH~, B~ e M~ tamb´em se
encontram nesta tabela.
A Tabela 2.2 mostra como converter as diversas grandezas eletromagn´eticas do Sistema
Tabela 2.1: Equa¸c˜oes de Maxwell, rela¸c˜oes constitutivas e constantes eletromagn´eticas nos
principais sistemas de unidade
Sistema ǫ0 µ0 D~,H~ Equa¸c˜oes de
Max-well
Eletrost´atico 1 c−2 D~ =E~ + 4π ~P ∇ •D~ = 4πρ
∇×H~ = 4π ~cJ+1c∂ ~∂tD
~
H=B~ −4π ~M ∇ ×E~ +1c∂ ~∂tB = 0
∇ •B~ = 0
Eletromagn´etico c−2 1 D~ = c12E~+4π ~P ∇ •D~ = 4πρ
∇ ×H~ = 4π ~J+∂ ~∂tD
~
H=B~ −4π ~M ∇ ×E~ +∂ ~∂tB = 0
∇ •B~ = 0
Gaussiano 1 1 D~ =E~ + 4π ~P ∇ •D~ = 4πρ
∇×H~ = 4π ~cJ+1c∂ ~∂tD
~
H=B~ −4π ~M ∇ ×E~ +1c∂ ~∂tB = 0
∇ •B~ = 0
Heaviside-Lorentz
1 1 D~ =E~ +π ~P ∇ •D~ =ρ
∇ ×H~ = Jc~ +1c∂ ~∂tD
~
H=B~ −π ~M ∇ ×E~ +1c∂ ~∂tB = 0
∇ •B~ = 0
MSKA 4πmc1072
4π
107 D~ =ǫ0E~ +P~ ∇ •D~ =ρ
∇ ×H~ =J~+∂ ~∂tD
~
H= µ10B~ −M~ ∇ ×E~ +∂ ~∂tB = 0
Tabela 2.2: Principais grandezas eletromagn´eticas no SI e no Sistema Gaussiano
Quantidade Gaussiano Internacional
Velocidade da luz c √ǫ1
0µ0
Campo El´etrico(potencial, voltagem) E~(φ, V) √4πǫ0 E~(φ, V)
Deslocamento El´etrico D~ √4πǫ0 D~
Densidade de carga ρ(q, ~J , I, ~P) ρ(q, ~√J ,I, ~P)
4πǫ0
Indu¸c˜ao Magn´etica B~ q4µπ
0
~ B
Campo Magn´etico H~ √4πµ0H~
Magnetiza¸c˜ao M~ qµ0
4πM~
Condutividade g 4πǫg
0
Permissividade el´etrica ǫ ǫ
ǫ0
Permeabilidade magn´etica µ µµ
0
Resistˆencia(Impedˆancia) R(Z) 4πǫ0R(Z)
Indutˆancia L 4πǫ0L
Capacitˆancia C C
4πǫ0
Polariza¸c˜ao P~ √P~
4πǫ0
Densidade de corrente J~ √J~
4πǫ0
2.2 Formula¸c˜ao das Equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Especial
Em 1904, H. A. Lorentz encontrou um tipo de transforma¸c˜ao que deixava as Equa¸c˜oes de
Maxwell invariantes na sua forma. Apesar dessa descoberta, ele n˜ao conseguiu dar um
signifi-cado f´ısico para a mesma. Essa transforma¸c˜ao ´e conhecida como transforma¸c˜ao de Lorentz.
Poincar´e e Lorentz demonstraram a invariˆancia da forma das Equa¸c˜oes de Maxwell sob as
transforma¸c˜oes de Lorentz antes da formula¸c˜ao da Relatividade Especial. A invariˆancia da
forma, ou covariˆancia, dessas equa¸c˜oes, e da for¸ca de Lorentz, implica que as fontesρ e J~e
os campos E~ e B~ transformam-se de uma maneira bem definida sob as transforma¸c˜oes entre
referenciais inerciais.
covariante na Relatividade Restrita. Para a equa¸c˜ao da continuidade (2.5) podemos definir
um quadrivetor correnteJα= (cρ, J1, J2, J3), ondeJ1 =J
x,J2 =Jy,J3=Jz. Dessa forma,
a equa¸c˜ao da continuidade ´e escrita na forma covariante como
∂αJα= 0 . (2.16)
A defini¸c˜ao deJα como quadrivetor decorre do fato que a carga el´etrica q ´e invariante sob
as transforma¸c˜oes de Lorentz. Esta invariˆancia ´e provada experimentalmente. Experiˆencias
mostram que a carga do el´etron n˜ao depende significativamente da velocidade, pelo menos
para velocidades da ordem de 0,4c. Comodq´e invariante edq=ρd3x onded3x´e o elemento
infinitesimal de volume, ent˜aocρse transforma como a componentex0do quadrivetor posi¸c˜ao,
isto ´e, como a componente temporal da quadricorrente. De forma an´aloga,
~
J = (J1, J2, J3) se transforma como as componentes espaciais da quadricorrente.
Das equa¸c˜oes (2.3) e (2.4), obtemos as rela¸c˜oes abaixo para os campos E~ e B~ ~
E = −∂ ~A
∂t − ∇φ, (2.17)
~
B = ∇ ×A,~ (2.18)
ondeA~ ´e o potencial vetor eφ´e o potencial el´etrico. Substituindo-se (2.17) e (2.18) em (2.2), obtemos
∇ × ∇ ×A~ =µ0J~+µ0ǫ0 ∂ ∂t −
∂ ~A ∂t − ∇φ
!
. (2.19)
Usando-se um pouco de ´algebra vetorial e o fato de que∇ × ∇ ×A~ =∇(∇ •A~)− ∇2A~, a equa¸c˜ao (2.19) pode ser escrita como
1
c2 ∂2A~
∂t2 − ∇
2A~+∇∇ •A~+µ 0ǫ0
∂φ ∂t
=µ0J.~ (2.20)
As escolhas do potencial el´etrico φe do potencial vetor A~ n˜ao s˜ao ´unicas. A partir destes
dois potenciais, podemos definir v´arios outros potenciais φ′ e A~′ que tamb´em satisfazem as
equa¸c˜oes (2.17) e (2.18) desde que
φ′ =φ+∂ψ
∂t, (2.21)
~
A′=A~− ∇ψ . (2.22)
onde ψ ´e uma fun¸c˜ao escalar arbtr´aria. A escolha da fun¸c˜ao ψ ´e denominada condi¸c˜ao de
gauge (ou condi¸c˜ao de calibre) . A escolha mais usual ´e a condi¸c˜ao de Lorentz, que ´e dada
pela rela¸c˜ao
µ0ǫ0 ∂φ
Usando-se a condi¸c˜ao de Lorentz na rela¸c˜ao (2.20), obtemos a equa¸c˜ao de onda para o
potencial vetor,
1
c2 ∂2A~
∂t2 − ∇
2A~=µ
0J .~ (2.24)
Substituindo-se a rela¸c˜ao (2.17) em (2.1) e utilizando-se a condi¸c˜ao de Lorentz, obtemos
a equa¸c˜ao de onda para o potencial el´etrico,
1
c2 ∂2φ
∂t2 − ∇
2φ= ρ ǫ0
. (2.25)
A equa¸c˜ao de onda mais geral, rela¸c˜ao (2.20), e a condi¸c˜ao de Lorentz s˜ao escritas em
uma forma covariante se definirmos um quadripotencial Aα = (φ
c, A1, A2, A3) onde A1 =Ax,
A2=Ay,A3=Az. Obtemos assim,
✷Aα−∂α(∂
βAβ) =µ0Jα, (2.26)
∂βAβ = 0, (2.27)
onde o operador✷´e definido no Apˆendice B. Substituindo (2.27) em (2.26), obtemos a forma
covariante das rela¸c˜oes (2.24) e (2.25),
✷Aα =µ0Jα. (2.28)
As componentes dos campos E~ eB~ tamb´em s˜ao obtidas atrav´es de um tensor de segunda
ordem e antissim´etrico: o tensor intensidade de campo eletromagn´eticoFαβ. Observando as
rela¸c˜oes (2.17) e (2.18), definimos este tensor em termos do quadripotencial como
Fαβ =∂αAβ−∂βAα. (2.29)
Na forma matricial, este tensor ´e escrito como
Fαβ =
0 Ex
c
Ey
c
Ez
c
−Ex
c 0 Bz −By
−Ey
c −Bz 0 Bx
−Ez
c By −Bx 0
. (2.30)
Com a utiliza¸c˜ao da m´etrica de Minkowskiηαβ , rela¸c˜ao (B.15), obtemos o tensor
inten-sidade de campo eletromagn´etico covariante na forma matricial
Fαβ =
0 −Ex
c − Ey c − Ez c Ex
c 0 Bz −By Ey
c −Bz 0 Bx Ez
c By −Bx 0
ou pode ser definido por
Fαβ =∂βAα−∂αAβ, (2.32)
onde o quadripotencial covarianteAα´e obtido do contravarianteAαatrav´es da rela¸c˜ao (B.16)
.
A forma covariante das rela¸c˜oes (2.21) e (2.22) ´e
¯
Aα=Aα+∂αΨ. (2.33)
A partir do tensor covarianteFαβ ´e poss´ıvel definir um tensor intensidade de campo
eletro-magn´etico dual F∗αβ. Antes disso, ´e necess´ario definir o tensor de quarta ordem totalmente
antissim´etrico ǫαβγδ, como
ǫαβγδ =
+1 paraα= 0,β = 1,γ = 2, δ= 3 e permuta¸c˜oes pares
−1 para permuta¸c˜oes ´ımpares
0 para quaisquer ´ındices iguais
. (2.34)
O tensor intensidade de campo eletromagn´etico dual F∗αβ ´e definido na Relatividade
Restrita pela rela¸c˜ao
F∗αβ =−1 2ǫ
αβγδF
γδ . (2.35)
Na forma matricial,
F∗αβ =
0 −Bx −By −Bz
Bx 0 Ecz −Ecy
By −Ecz 0 Ecx
Bz Ecy −Ecx 0
. (2.36)
As equa¸c˜oes (2.1) e (2.2) assumem uma forma covariante em termos deFαβ e de Jα atrav´es
da rela¸c˜ao
∂βFαβ =µ0Jα. (2.37)
A forma covariante das outras duas Equa¸c˜oes de Maxwell, (2.3) e (2.4), ´e obtida em termos
deF∗αβ eF
αβ atrav´es da equa¸c˜ao
∂βF∗αβ = 0, (2.38)
ou, alternativamente,
∂αFβγ+∂βFγα+∂γFαβ = 0. (2.39)
Para o caso das Equa¸c˜oes de Maxwell macrosc´opicas (ver Tabela 2.1), define-se mais um
tensorGαβ. Este tensor ´e obtido do tensor Fαβ, substituindo-se as componentes de E~
de c ~D e as componentes de B~ pelas de H~. A forma covariante das Equa¸c˜oes de Maxwell macrosc´opicas s˜ao dadas, ent˜ao, pelas rela¸c˜oes
∂βGαβ = Jα, (2.40)
∂βF∗αβ = 0. (2.41)
Uma outra forma de se obter as Equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Especial ´e
uti-lizando-se a densidade lagrangeana LR para o campo eletromagn´etico. Para obten¸c˜ao dessa
densidade lagrangeana s˜ao utilizados trˆes crit´erios [8] : linearidade, invariˆancia de gauge e
de Lorentz. O primeiro crit´erio exige que as equa¸c˜oes da eletrodinˆamica envolvam derivadas
primeiras dos campos el´etrico e magn´etico. O segundo e o terceiro crit´erio exigem que as
equa¸c˜oes de campo sejam invariantes sob a escolha do calibre e as transforma¸c˜oes de Lorentz.
Portanto, a densidade lagrangeana deve ser uma combina¸c˜ao linear dos invariantes de Lorentz.
Para a Relatividade Especial, os invariantes de Lorentz F eF∗ s˜ao
F =FαβFαβ. (2.42)
e
F∗ =Fαβ∗ Fαβ. (2.43)
Exigindo-se a conserva¸c˜ao de paridade como crit´erio adicional,LR´e dada pela rela¸c˜ao
LR=−
1 4µ0
F −JγAγ, (2.44)
onde o ´ındice R se refere a Relatividade Restrita.
No entanto, sabemos que
FαβFαβ =gαµgβνFαβFµν. (2.45)
As equa¸c˜oes de Euler para a densidade lagrangeana do campo eletromagn´etico s˜ao
∂ ∂xβ
"
∂LR
∂(∂βAα)
#
−∂∂ALR
α
= 0 . (2.46)
Usando-se a densidade lagrangeana (2.44) na rela¸c˜ao anterior e a defini¸c˜ao deFαβ, dada
por (2.29), obtemos
∂LR
∂Aα
=Jα (2.47)
e
∂LR
∂(∂βAα)
= 1
µ0
gαµgβνFµν =
1
µ0
Fαβ. (2.48)
Substituindo as rela¸c˜oes (2.47) e (2.48) na rela¸c˜ao (2.46), obtemos as equa¸c˜oes de Maxwell
2.2.1 Covariˆancia da equa¸c˜ao da for¸ca de Lorentz
O quadrivetor for¸caf que atua em uma determinada part´ıcula ´e definido como
fα = d(mU
α)
dτ = ~ U•f~
c , U0f1
c , U0f2
c , U0f3
c
!
=qFβαUβ, (2.49)
ondeU~ = (U1, U2, U3) eU0s˜ao as componentes espaciais e a componente temporal da
quadri-velocidade Uα. A quadrivelocidade covariante Uβ ´e obtida atrav´es da rela¸c˜ao (B.16) .
A grandezam´e a massa do corpo medida em um referencial em que o corpo est´a em repouso
(massa de repouso) e f~= (f1, f2, f3) ´e a for¸ca tridimensional que age no corpo.
A for¸ca de Lorentz (2.6) que age sobre uma part´ıcula de cargaqtamb´em pode ser expressa
pela rela¸c˜ao
~ F = d~p
dt =q(E~ +~v×B~), (2.50)
onde~p=m ~U = (p1, p2, p3) ´e a parte espacial do quadrivetor momento. Diferenciando ~p em
rela¸c˜ao ao tempo pr´oprio τ e usando a rela¸c˜ao (2.49), temos que a componente espacial do
quadrivetor for¸ca ´e
d~p dτ =
q
c(U0E~ +c ~U×B~). (2.51)
A parte temporal ´e dada por
dp0 dτ =
q
cU~ •E.~ (2.52)
A covariˆancia das equa¸c˜oes (2.51) e (2.52), bem como das equa¸c˜oes de Maxwell, ´e exigida
pela teoria da Relatividade Restrita e representa a covariˆancia da equa¸c˜ao da for¸ca de Lorentz.
2.3 O tensor momento-energia para o campo eletromagn´etico na Relativi-dade Especial
No contexto da Relatividade Restrita, podemos definir um tensor que possui entre as suas
componentes as densidades de energia e de momento do campo eletromagn´etico. Esse tensor
´e chamado tensor momento-energia Tµν e, para o v´acuo, ´e definido pela rela¸c˜ao
Tµν =−4
∂LR
∂F F
α µFαν +
∂
LR
∂F∗F∗− LR
ηµν. (2.53)
Utilizando-se a densidade lagrangeana (2.44) na rela¸c˜ao (2.53), encontramos o tensor
Tµν =
1
µ0
FµαFαν +
1
4
FαβFαβηµν
(2.54)
e as suas componentes
T00 =
1
2 ǫ0E
2+B2 µ0
!
, (2.55)
(T01, T02, T03) = −
1
c(E~ ×B~), (2.56)
T11 =
1 µ0 " 1 2 E2
c2 −B 2
!
− E
2
x
c2 −B 2
y −Bz2
!#
, (2.57)
T22 =
1 µ0 " 1 2 E2
c2 −B 2
!
− E
2
y
c2 −B 2
x−Bz2
!#
, (2.58)
T33 = 1 µ0
"
1
2
E2
c2 −B 2
!
− E
2
z
c2 −B 2
x−By2
!#
, (2.59)
Tmn = −
1
µ0
EmEn
c2 +BmBn
, (2.60)
ondem6=n.
Tij =Tji . (2.61)
As rela¸c˜oes (2.55) e (2.56) expressam, respectivamente, as densidades de energia e
mo-mento do campo eletromagn´etico. A grandeza (E~ ×B~) tamb´em ´e conhecida como vetor de
Poynting .
Subindo-se os ´ındices do tensor momento-energia (2.54) com o aux´ılio do tensor m´etrico
contravariante ηαβ e diferenciando-o em rela¸c˜ao a xβ, obtemos atrav´es das equa¸c˜oes de
Maxwell para o v´acuo
∂βTαβ = 0. (2.62)
As rela¸c˜oes (2.62) e (2.61) expressam, respectivamente, a conserva¸c˜ao da
CAP´
ITULO 3
Eletromagnetismo na Relatividade Geral
3.1 O Princ´ıpio da Equivalˆencia e as equa¸c˜oes de Einstein
A formula¸c˜ao da Teoria da Relatividade teve como sua hip´otese principal a covariˆancia das
equa¸c˜oes de Maxwell e da equa¸c˜ao da for¸ca de Lorentz. Uma das principais conseq¨uˆencias
dessa teoria foi a necessidade de se reformular a Mecˆanica Cl´assica, de modo que suas equa¸c˜oes
permanecessem covariantes sob as transforma¸c˜oes de Lorentz entre referenciais inerciais.
A Relatividade Restrita nada nos fala sobre como as leis da F´ısica se transformam entre
referenciais n˜ao-inerciais e nem se a Teoria de Gravita¸c˜ao de Newton est´a conceitualmente
correta.
Para tentar resolver esses problemas, Einstein propˆos, em 1911, o Princ´ıpio da
Equivalˆencia (PE), que foi o ponto inicial para o desenvolvimento de uma nova teoria de
gravita¸c˜ao. Em 1916, ele publicou a Relatividade Geral, uma teoria mais geral, que tem a
Teoria da Gravita¸c˜ao de Newton e a Relatividade Restrita como casos limites.
A forma forte do Princ´ıpio da Equivalˆencia pode ser enunciada como:
Em cada ponto do espa¸co-tempo em um campo gravitacional arbitr´ario, ´e poss´ıvel escolher um sistema de coordenadas inercial local, tal que, dentro de uma regi˜ao suficientemente pequena e pr´oxima deste ponto, todas as leis da F´ısica tomam a mesma forma que na Relatividade Especial.
Neste enunciado acima, a express˜ao “uma regi˜ao suficientemente pequena e pr´oxima do
ponto” se refere a uma regi˜ao em que o campo gravitacional seja praticamente uniforme.
A principal conseq¨uˆencia desta forma forte do PE ´e que, dentro de uma regi˜ao em que
exista gravidade, os sistemas de coordenadas inerciais s´o podem existir localmente. Outra
conseq¨uˆencia ´e que o conceito de acelera¸c˜ao passa a ser relativo, uma vez que as leis da F´ısica
Como foi dito anteriormente, a Relatividade Geral ´e uma generaliza¸c˜ao da Relatividade
Restrita e da Lei da Gravita¸c˜ao de Newton. Essa ´ultima possui como uma das suas rela¸c˜oes
fundamentais a equa¸c˜ao de Poisson
∇2φ= 4πGρm, (3.1)
ondeφ´e o potencial gravitacional,ρm´e a densidade de massa eG= 6,67×10−11m3kg−1s−2
´e a constante de gravita¸c˜ao universal.
Quando passamos para a Relatividade Geral, o tensor m´etricogαβ faz o papel do potencial
φ e o tensor momento-energia Tαβ passa a fazer o papel da densidade ρm. A componente
00 deste ´ultimo tensor ´e proporcional a densidade de massa e a equa¸c˜ao (3.1) pode ser
generalizada para
Rαβ−
1
2gαβR=kTαβ, (3.2)
ondeRαβ ´e o tensor de Ricci,R´e o escalar de Ricci,k´e a constante de gravita¸c˜ao de Einstein
e Tαβ ´e o tensor momento-energia com dois ´ındices covariantes.
A rela¸c˜ao (3.2) fornece as equa¸c˜oes de Einstein para a gravita¸c˜ao.
O tensor e o escalar de Ricci s˜ao obtidos do tensor m´etrico atrav´es das rela¸c˜oes
Γγαβ = Γγβ α = 1 2g
δγ∂gαδ
∂xβ +
∂gδβ
∂xα −
∂gαβ
∂xδ
, (3.3)
Rαβ =Rβα =
∂2ln√−g ∂xαxβ −
∂Γγ αβ
∂xγ + Γ δ µαΓ
µ δ β−Γ
µ αβ
∂ln√−g
∂xµ , (3.4)
R =Rαα =gαβRαβ, (3.5)
ondeg´e o determinante do tensor m´etricogαβ e Γγαβs˜ao denominados s´ımbolos de Christoffel.
A rela¸c˜ao (3.2) tamb´em pode ser escrita em termos de tensores mistos como
Rαβ−
1 2δα
βR=kT
αβ, (3.6)
ondeδαβ ´e o tensor misto delta de Kronecker.
Definindo o tensor de Einstein como
Gαβ =Rαβ−
1
2gαβR, (3.7)
podemos escrever (3.2) na forma
Gαβ =kTαβ. (3.8)
Esta equa¸c˜ao mostra como a mat´eria (representada pelo tensor momento-energia) afeta a
Se contra´ırmos os ´ındices α e β na rela¸c˜ao (3.2) obtemos
R=−kT, (3.9)
ondeT =Tαα=gαβTαβ ´e o tra¸co do tensor momento-energia.
Utilizando-se (3.9) em (3.2), temos que
Rαβ =k
Tαβ−
gαβT
2
. (3.10)
Para o espa¸co vazio, o tensor momento-energia ´e nulo e as equa¸c˜oes de Einstein se reduzem
a
Rαβ = 0. (3.11)
As equa¸c˜oes de Einstein no espa¸co vazio tamb´em s˜ao chamadas de equa¸c˜oes de Einstein
para o v´acuo. O fato do tensor de Ricci ser nulo n˜ao implica que o espa¸co tempo ´e plano.
Para que isso aconte¸ca ´e necess´ario que o tensor de Riemann se anule. Este tensor ´e definido
como
Rαβγδ=
∂Γα β γ
∂xδ −
∂Γα β γ
∂xγ + Γ µ
β γΓαδ µ−Γ µ
β δΓαγ µ. (3.12)
A constante de gravita¸c˜ao de Einstein k pode ser determinada se tomarmos o limite no
qual a equa¸c˜ao (3.8) se reduz a (3.1). No SI, esta constante tem o valor
k= 8πG
c4 . (3.13)
A derivada covariante de um tensor misto de segunda ordemEβα ´e dada pela rela¸c˜ao
∇kEβα=
∂Eβα ∂xk −Γ
l
β kElα+ Γαk mEβm. (3.14)
Tomando-se a derivada covariante do primeiro membro da equa¸c˜ao (3.6), obtemos
∇β
Rβα−1
2δ
β αR
= 0. (3.15)
Portanto, o tensor momento-energia satisfaz a igualdade
∇βTαβ = 0. (3.16)
Esta rela¸c˜ao expressa a conserva¸c˜ao de energia e do momento na Relatividade Geral.
Uma das propriedades importantes das equa¸c˜oes de Einstein ´e que elas s˜ao n˜ao-lineares em
rela¸c˜ao `as componentes do tensor m´etrico. Conseq¨uentemente, o princ´ıpio da superposi¸c˜ao
Na Relatividade Geral (RG), a distribui¸c˜ao e o movimento da mat´eria s˜ao obtidos atrav´es
das equa¸c˜oes de campo. Conseq¨uentemente, a distribui¸c˜ao e o movimento da mat´eria n˜ao
podem ser determinados separadamente na RG.
Existe ainda outra vers˜ao para (3.2), proposta pelo pr´oprio Einstein, na qual as equa¸c˜oes
de campo tomam a forma
Rαβ−
1
2gαβR+ Λgαβ =
8πG
c4 Tαβ, (3.17)
onde Λ ´e a chamada “constante cosmol´ogica”.
O termo Λgαβ ´e chamado de termo cosmol´ogico e foi introduzido por Einstein para que
se pudesse obter solu¸c˜oes est´aticas para as equa¸c˜oes do campo gravitacional. Sabe-se hoje
que a n´ıvel cosmol´ogico esse tipo de solu¸c˜ao n˜ao ´e v´alida, uma vez que o universo est´a em
expans˜ao.
Nas ´ultimas d´ecadas, a constante cosmol´ogica ressurgiu em v´arios contextos da Cosmologia
Moderna. Observa¸c˜oes recentes envolvendo as supernovas do tipo 1a, indicando um universo
acelerado tˆem levantado a possibilidade de existˆencia atual de uma constante cosmol´ogica
positiva [14]. A constante cosmol´ogica tamb´em tem sido utilizada no contexto do problema
da idade do universo [15] e em contextos inflacion´arios [16].
3.2 O Princ´ıpio da Covariˆancia Geral e o Princ´ıpio do Acoplamento Gra-vitacional M´ınimo
Quando Einstein formulou a Relatividade Geral, ele elegeu dois princ´ıpios como sendo
fun-damentais para a sua teoria. Um deles ´e o Princ´ıpio da Equivalˆencia e o outro ´e o Princ´ıpio
da Covariˆancia Geral. O primeiro foi utilizado para se obter as Leis de Einstein para a
Gravita¸c˜ao, enquanto que o segundo ´e utilizado para encontrar a forma tomada pelas leis da
F´ısica em qualquer referencial.
Sabe-se, da Relatividade Restrita, que n˜ao existe referencial inercial privilegiado, ou seja,
as leis da F´ısica s˜ao as mesmas para os referenciais desse tipo. Na Relatividade Geral, este
con-ceito ´e extendido para todos os referenciais e n˜ao apenas para os inerciais. Conseq¨uentemente,
as equa¸c˜oes que descrevem as leis da F´ısica devem ter a mesma forma para todos os sistemas
de coordenadas. Essa ´ultima afirma¸c˜ao ´e o que n´os conhecemos por Princ´ıpio da Covariˆancia
(a) As equa¸c˜oes na Relatividade Geral devem se reduzir `as equa¸c˜oes da Relatividade Restrita
quando a gravidade estiver ausente ;
(b) As equa¸c˜oes devem ser covariantes para qualquer transforma¸c˜ao geral de coordenadas.
Existe tamb´em outra forma de enunciar o princ´ıpio da covariˆancia geral:
As equa¸c˜oes da F´ısica devem ter uma forma tensorial.
Alguns f´ısicos acham esse enunciado muito vazio, uma vez que ´e poss´ıvel escrever equa¸c˜oes
na forma tensorial sem que estas representem, de fato, leis da F´ısica. Na realidade, o Princ´ıpio
da Covariˆancia Geral apenas nos diz como escrever a forma das equa¸c˜oes da F´ısica quando
a gravita¸c˜ao est´a presente. Como foi dito anteriormente, este princ´ıpio ser´a de grande valor
para se tentar obter as leis da natureza. No entanto, essas leis s´o estar˜ao corretas se tiverem
comprova¸c˜ao experimental.
Outro importante princ´ıpio ´e o do acoplamento gravitacional m´ınimo. Ele nos diz que,
para generalizarmos as equa¸c˜oes da Relatividade Especial para a Relatividade Geral, n˜ao ´e
necess´ario adicionar termos a essas equa¸c˜oes. Essa generaliza¸c˜ao ´e feita substituindo-se o
tensor m´etrico de Minkowskiηαβ pelo tensor m´etrico generalizadogαβ e as derivadas comuns
pelas derivadas covariantes. Este princ´ıpio pode ser mais precisamente enunciado na forma:
Nenhum termo que contenha explicitamente o tensor de Riemman deve ser adicionado `as equa¸c˜oes da F´ısica quando elas s˜ao generalizadas da Relatividade Restrita para a Relatividade Geral.
Atualmente este princ´ıpio ´e pouco utilizado, uma vez que h´a ind´ıcios de que ele n˜ao ´e v´alido
para v´arias equa¸c˜oes da F´ısica. Apesar de n˜ao ter sido formulado por Einstein, este princ´ıpio
foi utilizado implicitamente pelo mesmo no desenvolvimento da Teoria da Relatividade Geral.
3.3 Equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Geral
Quando Minkowski introduziu o tensor intensidade de campo na eletrodinˆamica, ele pensava
que Fαβ deveria transformar-se como um tensor apenas sob as transforma¸c˜oes de Lorentz.
Entretanto, o Princ´ıpio da Covariˆancia Geral afirma que todas as leis da F´ısica devem ser
covariantes sob qualquer transforma¸c˜ao geral. Sendo assim, podemos concluir que Fαβ
transforma-se como um tensor sob qualquer transforma¸c˜ao de coordenadas.
Para a se obter a forma das equa¸c˜oes da F´ısica na Relatividade Geral ´e usual adotar-se
(a) Escrever as equa¸c˜oes na Relatividade Especial ;
(b) Verificar como cada grandeza f´ısica contida nestas equa¸c˜oes se transforma sob uma
trans-forma¸c˜ao geral de coordenadas ;
(c) Substituir o tensor m´etrico da Relatividade Restrita pelo da Relatividade Geral e as
derivadas comuns por derivadas covariantes.
Esses procedimentos constituem o Princ´ıpio do Acoplamento Gravitacional M´ınimo. As
equa¸c˜oes resultantes possuir˜ao covariˆancia geral e ser˜ao verdadeiras na ausˆencia de gravita¸c˜ao.
Sendo assim, elas tamb´em ser˜ao v´alidas em quaisquer campos gravitacionais, desde que o
sistema em quest˜ao seja pequeno comparado com a escala dos campos.
Usando-se os procedimentos (a), (b) e (c), vemos que a defini¸c˜ao do tensor intensidade de
campo eletromagn´etico Fαβ na Relatividade Geral ´e a mesma da Relatividade Restrita, uma
vez que
Fαβ =∇βAα− ∇αAβ, (3.18)
onde∇α e∇β representam as derivadas covariantes.
Repetindo-se o tratamento anterior para as equa¸c˜oes de Maxwell n˜ao-homogˆeneas,
obte-mos a rela¸c˜ao
∇βFαβ =µ0Jα. (3.19)
As derivadas covariantes para os tensores de segunda ordem contravariante e covariante
s˜ao dadas, respectivamente, por
∇γFαβ =
∂Fαβ ∂xγ + Γ
α
δ γFδβ+ Γβν γFαν, (3.20)
∇γFαβ =
∂Fαβ
∂xγ −Γ δ
αγFδβ−Γνβ γFαν. (3.21)
Conseq¨uentemente, a rela¸c˜ao (3.19) pode ser escrita como
∂Fαβ
∂xβ + Γ α
δ βFδβ+ Γβν βFαν =µ0Jα. (3.22)
Utilizando a rela¸c˜ao (3.3) para os s´ımbolos de Christoffel, obtemos
Γβν β = 1 2g
∂g ∂xν =
1
√ −g
∂√−g
∂xν . (3.23)
Como Fαν ´e antissim´etrico e Γβν α ´e sim´etrico, o terceiro termo do primeiro membro de
(3.22) se anula. Usando-se este fato em combina¸c˜ao com (3.23), reduzimos (3.22) a
∂Fαβ
∂xβ +
1
√ −g
∂√−g
∂xν
ou, de forma alternativa,
1
√ −g
(∂√
−gFαν)
∂xν
=µ0Jα . (3.25)
Pode-se definir um novo tensor intensidade de campo eletromagn´etico fαβ e uma nova
quadricorrente jβ atrav´es das rela¸c˜oes
fαβ = √−g Fαβ, (3.26)
jα = √−g µ0 Jα. (3.27)
Multiplicando (3.25) por √−g e usando (3.26) e (3.27), podemos rescrever (3.25) como
∂fαβ
∂xβ =j
α. (3.28)
Derivando (3.28) em rela¸c˜ao a xβ, temos que
∂2fαβ
∂xα∂xβ =
∂jα
∂xα. (3.29)
Comofαβ ´e antissim´etrico, o primeiro membro da equa¸c˜ao acima ´e igual a zero, portanto
∂jα
∂xα = 0. (3.30)
A rela¸c˜ao (3.30) expressa a equa¸c˜ao da continuidade na Relatividade Geral.
As equa¸c˜oes de Maxwell homogˆeneas na Relatividade Restrita s˜ao dadas pela rela¸c˜ao
(2.39). Para a Relatividade Geral, essas equa¸c˜oes s˜ao
∇αFβγ +∇βFγα+∇γFαβ = 0. (3.31)
Usando-se a rela¸c˜oes (3.21) e (3.3) e o fato do tensor intensidade de campo ser
antis-sim´etrico, reduzimos (3.31) a
∂Fβγ ∂xα +
∂Fγα ∂xβ +
∂Fαβ
∂xγ = 0, (3.32)
que ´e a mesma rela¸c˜ao da Relatividade Especial.
3.3.1 C´alculo Variacional para a Eletrodinˆamica de Maxwell na Relativida-de Geral
Uma outra forma de se obter as equa¸c˜oes de Maxwell na Relatividade Geral ´e utilizando a
lagrangeana LG para o campo eletromagn´etico, que ´e dada pela rela¸c˜ao
LG=−
1 4µ0
√
No entanto, sabemos que
FαβFαβ =gαµgβνFαβFµν. (3.34)
As equa¸c˜oes de Euler para a lagrangeana do campo eletromagn´etico s˜ao
∂ ∂xβ
"
∂LG
∂(∂βAα)
#
−∂L∂AG
α
= 0. (3.35)
Usando-se a lagrangeana (3.33) na rela¸c˜ao acima e a defini¸c˜ao de Fαβ, dada por (2.29),
obtemos
∂LG
∂Aα
= −√−gJα e (3.36)
∂LG
∂(∂βAα)
= 1
µ0
√
−ggαµgβνFνµ =
1
µ0
√
−gFβα. (3.37)
Substituindo as rela¸c˜oes (3.36) e (3.37) nas equa¸c˜oes de Euler e utilizando um pouco de
c´alculo tensorial, achamos a equa¸c˜ao
1
√ −g
(∂√
−gFαβ)
∂xβ =µ0J
α. (3.38)
Pode-se ver que as rela¸c˜oes (3.38) s˜ao iguais `as rela¸c˜oes (3.25), representando as equa¸c˜oes
de Maxwell n˜ao-homogˆeneas na Relatividade Geral.
Outra rela¸c˜ao que pode ser generalizada ´e a equa¸c˜ao de movimento de uma part´ıcula
carregada com carga q num campo eletromagn´etico. Usando-se o Princ´ıpio da Covariˆancia
Geral, a rela¸c˜ao (2.49) fica, na presen¸ca da gravita¸c˜ao,
m
dUα
dτ + Γ
α
β γUβUγ
=qFβαUβ. (3.39)
3.4 O tensor momento-energia para o campo eletromagn´etico na Relativi-dade Geral
As equa¸c˜oes de Einstein, dadas pela rela¸c˜ao (3.8), possuem um tensor de segunda ordemTµν,
chamado tensor momento-energia, que representa o momento e a energia de toda a mat´eria
e energia que gera o campo gravitacional.
Tamb´em ´e poss´ıvel definir um tensor momento-energiaTµν para o campo eletromagn´etico.
Esse tensor expressa as densidades de momento e energia do campo eletromagn´etico e, para
uma regi˜ao do espa¸co sem fontes, ´e definido pela rela¸c˜ao
Tµν =−4
∂LG
∂F F
α µFαν +
∂
LG
∂F∗F∗− LG
ondeLG= √L−Gg. Utilizando-se a lagrangeana (3.33) na rela¸c˜ao anterior encontramos que
Tµν =
1
µ0
FµαFαν +
1
4
FαβFαβgµν
(3.41)
que ´e v´alida para a Relatividade Geral.
O tensor momento-energia contravariante do campo eletromagn´etico Tαβ ´e definido pela
rela¸c˜ao
Tαβ =
1
µ0
FαδFδβ+
1
4
FγδFγδgαβ
. (3.42)
Tomando-se a derivada covariante da rela¸c˜ao (3.42) em rela¸c˜ao a xβ e utilizando as
equa¸c˜oes de Maxwell com Jα = 0, obtemos a rela¸c˜ao (3.16), que expressa a conserva¸c˜ao
da energia e do momento na RG.
Combinando-se as rela¸c˜oes (3.8), (3.13) e (3.41), temos que
Gµν =
8πG
c4µ 0
FµαFαν +
1
4
FαβFαβgµν
. (3.43)
As equa¸c˜oes de campo expressadas por (3.43) s˜ao conhecidas como equa¸c˜oes de
Maxwell-Einstein no espa¸co-tempo sem fontes.
Para o espa¸co-tempo com fontes de campo, deve-se incluir todas as quantidades f´ısicas
significativas (mat´eria, press˜ao do fluido, campos eletromagn´eticos, etc) no tensor
momento-energia. Sendo assim, garantimos que a divergˆencia desse tensor ser´a nula e,
CAP´
ITULO 4
Propostas Alternativas de Eletromagnetismo
4.1 Eletrodinˆamica N˜ao-Linear
O estudo da eletrodinˆamica na Relatividade Geral est´a principalmente restrito `a an´alise das
solu¸c˜oes das equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell. A primeira solu¸c˜ao obtida para essas equa¸c˜oes
era baseada na validade do Princ´ıpio do Acoplamento M´ınimo descrito no cap´ıtulo anterior.
No dom´ınio da Relatividade Geral, a energia eletromagn´etica ´e respons´avel pela curvatura
do espa¸co-tempo. No contexto de campos gravitacionais fortes, ou pontos do espa¸co-tempo
de grande curvatura, o acoplamento entre a Eletrodinˆamica e a Gravita¸c˜ao n˜ao ´e bem
con-hecido. Nessas condi¸c˜oes, algumas leis e princ´ıpios cl´assicos como o Princ´ıpio da Equivalˆencia
podem n˜ao ser totalmente v´alidos, podendo surgir alguns desvios em regi˜oes de grande
cur-vatura. Portanto, ´e razo´avel propor uma intera¸c˜ao entre a Gravita¸c˜ao e o Eletromagnetismo
mais espec´ıfica do que a intera¸c˜ao proposta pelo Princ´ıpio do Acoplamento M´ınimo. Essas
intera¸c˜oes s˜ao denominadas acoplamentos n˜ao-m´ınimos.
A utiliza¸c˜ao de acoplamentos n˜ao-m´ınimos entre a Gravita¸c˜ao e o Eletromagnetismo tem
como uma de suas conseq¨uˆencias o surgimento de uma Eletrodinˆamica n˜ao-linear. Essa n˜ao
linearidade no campo eletromagn´etico ´e observada apenas nas equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell,
onde os campos eletromagn´etico e gravitacional se encontram acoplados. As equa¸c˜oes da
eletrodinˆamica obtidas do c´alculo variacional n˜ao evidenciam essa importante conseq¨uˆencia.
Outras formas de se obter uma eletrodinˆamica n˜ao-linear ´e introduzindo, de formaad hoc,
termos aditivos na lagrangeana de Maxwell ou, ainda, atrav´es de corre¸c˜oes quˆanticas.
V´arias propostas para eletrodinˆamicas n˜ao-maxwelianas tˆem sido apresentadas nas ´ultimas
d´ecadas. Uma das motiva¸c˜oes para essas propostas ´e a possibilidade de gera¸c˜ao de campos
eletromagn´eticos de larga escala no universo em est´agios primordiais da sua expans˜ao.
com os termos que s˜ao adicionados `a lagrangeana de Maxwell. Com rela¸c˜ao `a invariˆancia de
Gauge (ver cap´ıtulo 2), podemos distinguir duas classes.
Primeira classe:
L1 = RAµA
µ
µ0
, (4.1)
L2 =
RµνAµAν
µ0
. (4.2)
Segunda classe:
L3 = RFµνF
µν
µ0
, (4.3)
L4=
RFµνF∗µν
µ0
, (4.4)
L5=
RµαFλµFλα
µ0
, (4.5)
L6=
RαβµνFαβFµν
µ0
, (4.6)
L7 =
RαβµνFαβF∗µν
µ0 . (4.7)
onde a constante µ0 aparece nas rela¸c˜oes (4.1)-(4.7) devido a utiliza¸c˜ao do SI.
As lagrangeanas da primeira classe s˜ao obtidas de todas as combina¸c˜oes poss´ıveis do
ten-sor de Ricci e/ou escalar de curvatura com o quadripotencial, donde resulta a n˜ao invariˆancia
de gauge. De forma an´aloga, as lagrangeanas da segunda classe resultam de todas as
com-bina¸c˜oes do tensor de Riemann e/ou suas contra¸c˜oes com o tensor intensidade de campo
eletromagn´etico e/ou o seu tensor dual, donde resulta a invariˆancia de gauge.
Existe ainda uma classe de lagrangeanas efetivas para uma teoria n˜ao-linear, tamb´em
invariante de gauge, mas que n˜ao possui termos que envolvem o tensor de Riemann e/ou
suas contra¸c˜oes. Portanto, essa classe n˜ao envolve acoplamento entre a eletrodinˆamica e
a gravita¸c˜ao como as duas classes mostradas anteriormente, mas ´e constru´ıda a partir dos
invariantes de Lorentz e de gauge. Nessa classe, a n˜ao-linearidade do campo eletromagn´etico
´e observada nas equa¸c˜oes da Eletrodinˆamica.
Lagrangeanas efetivas para uma teoria n˜ao-linear:
L=L(F, F∗). (4.8)
onde os escalares F e F∗ s˜ao definidos, respectivamente, atrav´es das rela¸c˜oes (2.42) e
4.2 Lagrangeanas de Primeira Classe
As constantes de acoplamento para as lagrangeanas de primeira classe s˜ao adimensionais, uma
vez que essas lagrangeanas j´a possuem a mesma dimens˜ao que a lagrangeana de Maxwell.
As rela¸c˜oes principais para esse tipo de acoplamento s˜ao
L=− 1 4µ0
√
−gFµνFµν+
1
µ0
√
−g (λRAµAµ+δRµνAµAν), (4.9)
∇µFµν−2λRAν−2δRµνAµ= 0, (4.10)
∂aFbc+∂bFca+∂cFab = 0. (4.11)
A rela¸c˜ao (4.9) ´e obtida atrav´es da combina¸c˜ao linear das lagrangeanas da primeira classe
com a lagrangeana de Maxwell, onde λe δ s˜ao constantes adimensionais. A rela¸c˜ao (4.10) ´e
obtida da rela¸c˜ao (4.9) atrav´es das equa¸c˜oes de Euler-Lagrange, enquanto que a rela¸c˜ao (4.11)
resulta das defini¸c˜oes (2.32) e (3.18) para o tensor intensidade de campo eletromagn´etico.
Novello [3] e Turner [4] analisaram as altera¸c˜oes que surgem quando s˜ao introduzidos os
acoplamentos da primeira classe nas equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell.
Os principais resultados obtidos s˜ao os seguintes:
A massa do f´oton depende do escalar de curvaturamγ ∼R
1 2.
As solu¸c˜oes das equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell produzem mudan¸cas efetivas na
Eletro-dinˆamica apenas nas regi˜oes de altos valores de curvatura.
Apenas o acoplamento dado pela rela¸c˜ao (4.1) admite uma solu¸c˜ao
de Friedmann-Robertson-Walker (FRW), na qual o fator de escala pode ser obtido
explicitamente em termos do tempo c´osmico [3], enquanto a rela¸c˜ao (4.2) produz uma
solu¸c˜ao anisotr´opica.
A lei da conserva¸c˜ao da carga ´e modificada, permitindo duas possibilidades: a cria¸c˜ao
de carga pelo campo gravitacional ou a conserva¸c˜ao da carga, desde que a derivada
covariante de RAµ seja nula .
O escalar de curvatura n˜ao nulo pode induzir efeitos como, por exemplo, o decaimento
de f´otons em outras part´ıculas [3].
Utilizando o primeiro resultado, temos que a massa do f´oton deveria ser da ordem da
limite inferior para a massa do f´oton que ´e 5×10−63 kg [4]. A n˜ao conserva¸c˜ao da carga
s´o aparece em escalas de horizonte maiores do que 1026 m, entretanto este efeito n˜ao tem
conseq¨uˆencias observacionais conhecidas [4].
Outro aspecto observado ´e que, somente durante as fases de De Sitter e de reaquecimento
em um universo inflacion´ario, para a equa¸c˜ao de estado da poeira , os acoplamentos de
primeira classe podem produzir campos magn´eticos significantes [4].
4.3 Lagrangeanas de Segunda Classe
Como n˜ao possuem a mesma dimens˜ao que a lagrangeana de Maxwell, as lagrangenas de
segunda classe necessitam de constantes de acoplamento com a dimens˜ao de (comprimento)2.
N˜ao s˜ao todas as densidades lagrangeanas deL1 aL7 que satisfazem todas as conserva¸c˜oes
de simetria conhecidas (carga, paridade, etc). L4 e L7 n˜ao obedecem a conserva¸c˜ao de
paridade, pois dependem do tensor intensidade de campo dual.
As rela¸c˜oes principais para esse tipo de acoplamento s˜ao
L= −4µ10√−gFµνF
µν+µ10√−g (bRFµνFµν+cRµνFµδFδν+
+dRµνλδFµνFλδ), (4.12)
∇µFµν− ∇µ[4bRFµν+ 2c(RλµFλν−RλνFλµ) + 4dRλδ µνFλδ] = 0, (4.13)
onde as rela¸c˜oes (4.12) e (4.13) s˜ao obtidas de forma an´aloga as rela¸c˜oes (4.9) e (4.10). As
constantes b, c e d s˜ao constantes de acoplamento. Uma vez que o tensor de Weyl conforme
se anula na geometria conforme de FRW, ent˜ao o termoL3, L5 e L6 ´e reduzido a um par.
Em uma an´alise de acoplamento n˜ao-m´ınimo restrita ao uso da densidade lagrangeana
L3, Novello [5] obt´em duas conclus˜oes: tanto para o acoplamento m´ınimo como n˜ao-m´ınimo,
os f´otons seguem uma geod´esica tipo nula para a geometria de FRW; no acoplamento
n˜ao-m´ınimo, o n´umero de f´otons no universo n˜ao necessariamente ser´a conservado. A quebra
da conserva¸c˜ao de f´otons ´e vinculada `a quebra da invariˆancia conforme do eletromagnetismo,
a qual ´e analisada por Novello [5] e Turner [4] num contexto de FRW com fase inflacion´aria.
Por outro lado, Turner [4] mostra que a quebra da invariˆancia conforme n˜ao possibilita a
gera¸c˜ao de campos magn´eticos de larga escala significantes e utiliza a combina¸c˜ao de L3,L5
e L6 em sua an´alise. Nos prim´ordios do universo, em que a temperaturaT ´e maior do que
1021K [4], os termos de segunda classe dominam o termo referente a lagrangeana de Maxwell,
Em outro trabalho, Acioly [6] analisou a densidade lagrangena L3 no caso est´atico
es-fericamente sim´etrico. A solu¸c˜ao obtida das equa¸c˜oes de Einstein-Maxwell apresenta um
parˆametro a com comportamento similar ao raio de Schwarzschild e se reduz a solu¸c˜ao
padr˜ao de Reissner-Nordstr¨om (veja o cap´ıtulo 6 para uma discuss˜ao mas detalhada sobre
essa solu¸c˜ao) para a constante de acoplamento nula.
4.4 Lagrangeanas efetivas para uma teoria n˜ao-linear
As lagrangeanas efetivas s˜ao constru´ıdas seguindo-se quatro crit´erios principais: invariˆancia
de gauge, invariˆancia de lorentz, conserva¸c˜ao de paridade e n˜ao-linearidade. Essa constru¸c˜ao
fornece uma descri¸c˜ao de como os efeitos do v´acuo alteram os fenˆomenos eletromagn´eticos,
al´em de introduzir modifica¸c˜oes na descri¸c˜ao maxwelliana de toda a eletrodinˆamica.
Al´em dos quatro crit´erios do par´agrafo anterior, consideraremos que qualquer contribui¸c˜ao
para a lagrangeana envolvendo termos da forma ∂cFab deve ser desprezada. Portanto, a
express˜ao da densidade lagrangeana efetiva para a eletrodinˆamica n˜ao-linear ´e
L=− 1 4µ0
F+aF2+bF∗2, (4.14)
onde foram considerados apenas os primeiros termos n˜ao-lineares. As constantes a e b s˜ao
determinadas pela teoria eletromagn´etica utilizada.
Heisenberg e Euler [7] obtiveram corre¸c˜oes quˆanticas de primeira ordem para a eletrodinˆ
a-mica a fim de permitir a cria¸c˜ao de pares el´etron-pos´ıtron virtuais. A densidade lagrangeana
obtida por eles tem a mesma forma da rela¸c˜ao (4.14), onde as constantes a e b s˜ao dependentes
das constantes fundamentais: ¯h ,c eme (massa do el´etron) .
Novello [1] analisou as conseq¨uˆencias cosmol´ogicas dessas corre¸c˜oes quˆanticas at´e a primeira
ordem, que surgem no regime semicl´assico em um universo de FRW. O principal resultado
obtido ´e a retirada da singularidade primordial do modelo padr˜ao da cosmologia. Uma
dis-cuss˜ao mais detalhada dessa solu¸c˜ao ´e apresentada no cap´ıtulo 5, bem como uma generaliza¸c˜ao
para modelos com parˆametro cosmol´ogico Λ.
Dentro do contexto de uma teoria eletromagn´etica n˜ao-linear, Munhoz [8] analisa as
im-plica¸c˜oes da lagrangeana acima em problemas simples de eletrodinˆamica, como o capacitor
de placas paralelas, o elemento infinito de corrente e a birrefringˆencia eletromagn´etica. Os
resultados obtidos para esses problemas mostraram que a adi¸c˜ao de termos n˜ao-lineares de
Em outro artigo, Novello [9] analisa a propaga¸c˜ao da luz em uma
eletrodi-nˆamica n˜ao-linear e mostra que, para regi˜oes do v´acuo em que o campo eletromagn´etico ´e
descont´ınuo, os f´otons se propagam ao longo de geod´esicas que n˜ao s˜ao mais nulas no
espa¸co-tempo de Minkowski, mas em outra geometria efetiva que depende da dinˆamica dos
campos eletromagn´eticos. A origem da n˜ao-lineariedade na eletrodinˆamica pode ser atribu´ıda
ao v´acuo da eletrodinˆamica quˆantica ou a resposta n˜ao linear de um meio diel´etrico. O
resultado mais interessante obtido ´e a possibildade de gera¸c˜ao de dom´ınios compactos onde
os f´otons s˜ao presos por um campo eletromagn´etico n˜ao linear. Isto sugere a possibilidade
de fazer-se uma analogia com o buraco negro gravitacional, na qual esses dom´ınios poderiam
ser denominados de buracos negros eletromagn´eticos.
Ay´on-Beato e Garcia [10] obtiveram solu¸c˜oes exatas para as equa¸c˜oes de
Einstein--Maxwell para a massa puntual carregada com a mesma estrutura da solu¸c˜ao de
Reissner--Nordstr¨om, exceto pela retirada da singularidade f´ısica. Nesta solu¸c˜ao, o m´odulo da carga
el´etrica tem um valor m´aximo e o campo el´etrico ´e sempre regular e se reduz ao campo
cl´assico para valores assint´oticos da cooordenada radial (r). A lagrangeana para o campo
eletromagn´etico utilizada por eles foi escolhida de forma a satisfazer duas condi¸c˜oes: a
cor-respondˆencia com a teoria de Maxwell, ou seja, a lagrangeana se reduz `a de Maxwell para
campos eletromagn´eticos fracos; e a condic˜ao de energia fraca, ou seja, a densidade de energia
deve ser sempre positiva.
4.5 Coment´arios Adicionais
As propostas discutidas nesse cap´ıtulo s˜ao apenas algumas das que foram discutidas e
anali-sadas nas ´ultimas d´ecadas.
Existem tamb´em outras propostas interessantes de eletrodinˆamica n˜ao-linear como a
eletrodinˆamica de Born-Infeld que ´e discutida em Chernitskii [17] e Rasheed [18]. O
acopla-mento da Gravita¸c˜ao e da Eletrodinˆamica Cl´assica com campos escalares ´e outra proposta