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O discurso educacional do Maranhão na Primeira República: uma análise de conteúdo

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(1)

\

o

DISCURSO EDUCACIONAL

DO MARANHAO NA PRIMEIRA REPÚBLICA:

~

-

-UMA ANALISE DE CONTEUDO

(2)

BEA'.i:RIZ ~TINS DE ANDRADE

Tese submetida corno requi

sito parcial para a obten

ção do grau de Mestre em

Educação.

RIO DE JANEIRO

Fundação Getúlio Vargas

Instituto de Estudos Avançados em Educação

Departamento de Filosofia

(3)

A KENARD

esposo e amigo

apoio de todas as horas

111

(4)

AGRADECIMENTOS

Devo agradecimentos a uIT.a serie de

que, com seu incentivo ou ajuda, de alguma forma

ram para a realização deste trabalho.

pessoas

colabora

Na impossibilidade de nomear todas, menciono

algumas, fazendo-as representantes daquelas que omiti.

Meus agradecimentos sinceros:

Ao Magnífico Reitor Jose Maria Cabral Marques

e

ã

Pro-Reitora de Ensino e Pesquisa, Margarida Maria

Rêgo Barros Pires Leal, da Universidade Federal do

do

Mara

nhão, po~ me haverem possibilitado

para a execução desta pesquisa.

-

.

a necessar~a liberação

Ao professor Jomar Moraes, pesquisadcr

sãvel, pela sugestão inicial do tema e pela ajcda na

ta de alguns dados fcndamentais.

incan

cole

À professora Maria Ângela Vinagre de Almeida,

orientadora e amiga, pela pertinência dos críticas feitas

e pela expressão constante de apoio, respei~n e estímulo no

decorrer do trabalho.

Às professoras Circe Navarro Rivas e Nelly

Aleotti Maia pela confiança em mim depositada, aceitando

participar do exame desta dissertação antes de conhecer o

seu teor.

Aos professores do IESAE que, no dia a dia do

curso, me ajudaram a crescer intelectualmente e

nas descobertas iniciais.

IV

(5)

gicos, desacreditando-o dessa forma. Atu

almente, grupos com quaisquer

pontos-de-vista usam esta arma contra todos os de

ma~s. Corno resultado, estamos ingressa~

do em uma nova epoca do desenvolvimento ~n

telectual e social".

Karl Mannheim, "Ideologia e Utopia".

(6)

Esta pesquisa, a partir do pressuposto de que

na sociedade maranhense da Primeira Republica j~ existia

uma divisão social de trabalho definida, em que as classes

dominantes detinham o conhecimento, criando uma distribui

ção de saber que legitimava a distribuição na esfera do po

der, empreende a reconstituição historica da sociedade da

época bem como do seu sistema educacional, no sentido de

contextualizar a análise do discurso de alguns intelectu

ais maranhenses, procurando mostrar o seu caráter eminen

temente conservador e o seu comprometimento com o poder

de Estado, na medida em que veiculavam a ideologia oficial

e provocavam a alienação das massas.

Este estudo tenta mostrar ainda como a educa

ção foi se tornando, com o advento da Republica, cada vez

mais importante em sua função adicional de reprodutora das

estruturas de poder e como a escola já objetivava,

naque-la época, inculcar a ideologia das cnaque-lasses dominantes e re

produzir as diferenças sociais entre os individuos.

(7)

,

Departing from the viewpoint that the Mara

nhense society of the First Republic knew a well - defined

social division of work in which the dominant classes deli

berately detained knowledge in the sphere of power, this

paper undertakes a study of the historical reconstitution

of society of the times as well as its educational system

~n an attempt to contextualize the analysis of discourse

of several Maranhenses intellectuals, clarifying their em~

nently conservative character and pointing out their com

promise with the structures of po~er of the State ~n their

attempt to transmit the official ideology; and in so doing

provoke the alienation of the masses.

with the advent of the Republic, education be

carne increasingly important in its role as reproductor of

the structures of power, as inculcator of the ideology of

the dominant classes and as breeder of social differences

between individuaIs. These concepts are discussed and ana

lyzed in the following thesis.

(8)

1. INTRODUÇÃO 1

1.1 - Justificativa da pesquisa . . . 1

1.2 - Formu1aç~0 dos objetivos . . . . 1.3 - Estruturaç~o da pesquisa e procedimentos m~ todo 1 ~g i co s . . . 3

1 . 4 .- R e f e r e n c i a 1 t e ~ r i c o . . . 6

2. RECONSTRUINDO A REALIDADE SÓCIO-ECONÔHICA . . . 13

2.1 - Da colônia . . . 13

2.2 - Do Imperio . . . 18

2.3 - Da República . . . 25

3. RECONSTRUINDO A REALIDADE EDUCACIONAL . . . 41

3.1 - Dos jesuítas ao sistema de ensino repub1ica-n o . . . • . . . • . . . • . • . . • . • • . • • . • . • . . • • .. 4 1 4. ANALISANDO O DISCURSO EDUCACIONAL . . . 70

4.1 - Preâmbulo . . . 70

4.2 - E ducaç~o

f

Teoria . . . 70

4.3 - Educaç~ofSociedade . . . 87

4.4 - Educaç~ofPoder . . . • . . . 105

4.5 - Educaç~ofIdeo10gia . . . 121

5. CONCL USAO . . . 139

6. OBRAS ANALISADAS . . . • . . . 144

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA . . . 150

(9)

1 - INTRODUÇÃO

1.1 - Justificativa da pesquisa

Nos últimos anos, a preocupaçao com a

-

educa

çao brasileira é evidenciada por inúmeros estudos que vem

sendo realizados em todos os setores, buscando explicar os

desajustes referentes

ã

atividade educacional no Brasil.

Apesar desse esforço louvável, empreendido so

bretudo através de pesquisas fomentadas pelos cursos de

Pós-Graduação em Educação do pais, restam muitas zonas in

tocadas, grandes espaços em branco, que ainda não despert~

ram o interesse dos estudiosos.

No Maranhão, por exemplo, sobretudo no peri~

do que este trabalho pretende abranger - 1889-1930 - nenhum

estudo de caráter histórico-filosófico havia sido

no sentido de conhecer o pensamento educacional tal

feito

como

se encontrava expresso em textos, oficiais ou não, de inte

lectuais da época. E embora muitos deles tenham seus nomes

consagrados em praças, 2venidas, ruas ou Colégios de são

Luis, como e o caso de hnt~nio L;bo, Benedito Leite, Mag~

lhães de Almeida, Godofredo Viana, Herculano Parga, Barba

sa de Godóis ou Rosa Castro, são quase totalmente desconh~

cidos pelas novas gerações. Dessa forma, o que fizeram ou

o que escreveram sobre educação, nesse periodo, permanecia

no limbo, aguardando que ;lguem se aventurasse a descobri

-los, desvendando a sua real intencionalidade, a sua pr~

posta prática concreta e a sua influência no todo social

da época.

Problemas cronicos, que angustiam pela sua

permanencia e insolubilidade ao longo dos anos, como o do

analfabetismo ou semi-analfabetismo de grande parte da p~

pulação, o baixo nivel do ensino ministrado, ou ainda, o

da separação escola-povo, certamente têm suas raízes no

(10)

,.

apresentavam naquele periodo, o que se pensava a

.

respeito

e que medidas foram tomadas para solucioná-los.

Neste sentido, tentou-se elucidar pontos es

senciais da formação histórico-cultural maranhense num es

forço revisionista que, embora fragmentário e pontilhado

de óbvias limitações, foi lastreado em sistemática e farta

documentação, resultando nesta pesquisa que, ao trazer a

luz a problemática educacional da epoca e as soluções ten

tadas para resolvê-la, ao desvendar ensaios e acertos do

passado, estará, certamente, contribuindo para reavivar a

memória nacional e para evitar que se venha a repetir no

futuro os mesmos erros cometidos em outras epocas.

1.2 - Formulação dos objetivos

A preocupaçao com a educação, com as

de ensinar e aprender, so se manifesta quando o povo

-ge um estágio social mais desenvolvido. Como afirma

dão:

"Somente quando o povo enfrenta~ por exerrrplo~

a questão da divisão social do trabalho e~

portant03 do poder3 é que ele começa a viver e a pensar como problema as formas e os pr~

cessos de transmissão do saber" 1

formas

atin

Bran

o

fato de se escrever e publicar trabalhos so

bre educação ou destinados a educar, numa sociedade como a

do Naranhão, na Primeira República, co; prova o grau de evo

lução sócio-econ;mica desse Estado onde a escola certamen

te já funcionava como fator importante de definição da di

V1sao social de trabalho. Este fato, evidente nos dias

atuais, tem por base a ideia de que, aqueles que concluem

os cursos escolares e recebem o diploma final são os mais

aptos porque herdeiros de uma parcela da cultura conecta

(11)

e, portanto, com legitimidade garantida para o exercício

do poder sobre a maioria da mão-de-obra sem qualificação.

Nesse sentido, pressupos-se que, em se tratan

do de uma sociedade onde já existia uma divisão social de

trabalho definida, nela as classes dominantes detinham o

conhecimento criando uma distribuição de saber que legit!

mava a distribuição já existente na esfera do poder.

Desse modo, importava descobrir através dos

textos: Como os seus autores cumpriam a função de agentes

de hegemonia, e como, nas condições históricas daquela de

terminada formação social, se apresentava o aparelho esco

lar na sua tarefa de reprodução da ideologia dominante.

Assim, o objetivo fundamental desta pesquisa

foi tentar conhecer, através de textos de intelectuais, o

discurso educacional do Maranhão, na Primeira República,

analisando:

- o seu comprometimento com o poder

cido e com o sistema político vigente;

estabele

- a sua conexao íntima com o meio social, na

medida em que servia

ã

reprodução das desigualdad~existen

tes;

- a sua contribuição no reforço e

de valores, crenças e, em última instância, da

das classes dominantes.

inculcação

ideologia

1.3 - Estruturação da pesquisa e procedimentos metodológi

cos

Como a educação e parte integrante do todo so

cial, somenté captado por suas determinações economico-so

ciais, e considerando também que os fatos e os fenômenos têm

um movimento interno que provem deles mesmos e um movimen

(12)

cluiu-se que tratar isoladamente o fato educacional, sem

levar em conta o conjunto de suas relações com os demais fe

nomenos, seria priva-lo de sentido, de explicação e mesmo

de conteúdo.

Dessa forma, esta pesquisa, que recebeu o t i

tulo de O discurso educacional do Maranhão na Primeira Repú

blica uma analise de conteúdo, constou de três etapas

fundamentais. Na primeira, tentou-se reconstruir o contex

to social da epoca, considerando-se os

cos e econômicos bem como as condições

dados sócio-politi

e acontecimentos his

tóricos que possibilitavam a compreensão da

educacional em sua totalidade.

problemática

Na segunda, com base em textos oficiais

sagens e relatórios de governadores e secretarios de

(men

Esta

do) da epoca, ensaiou-se refazer a situação da educação no

Estado pelo interrelacionamento dos fatos educacionais com

os elementos históricos ja conhecidos, na busca de uma ex

plicação satisfatória às contradições detectadas.

Na terceira etapa, empreendeu-se a analise de

conteúdo contextualizada de livros e artigos sobre educa

çao, previamente selecionados,de intelectuais maranhenses.

A seleção dos textos obedeceu aos seguintes

criterios: serem de autores maranhenses; terem sido escri

tos no Maranhão; versarem sobre educação e terem tido re

percussão e influência em sua epoca.

Para a consecução dos objetivos da

foram observados os seguintes procedimentos~

pesquisa,

- levantamento em arquivos e bibliotecas das

publicações sobre educação de caráter oficial

tas no Maranhão, no período delimitado.

-ou nao, fei

- leitura e seleção dos textos, levando-se

em conta nessa seleção, além dos criterios ja estipulados, a

(13)

- levantamento dos dados sócio-políticos e

economicos do período que permitissem a compreensao da pr~

blemática educacional em seu respectivo contexto.

- interpretação dos dados levantados, coteja~

do-se fatos educacionais e fatos sociais, num interrelacio

namento sistemático de acordo com a linha traçada para

trabalho.

o

- análise da matéria educacional obtida em to

dos os seus detalhes, em suas diversas formas de desenvol

vimento com vistas a responder às questões básicas formula

das para a orientação da pesquisa, tais como:

-Quais as teorias a que se poderia vincular

os textos selecionados? Quais as influências externas (de

outros países) mais evidentes neles?

-A que solicitações da sociedade (brasilei

ra/maranhense) eles respondiam e de que forma explicavam es

sa sociedade?

Em que medida refletiam os valores da clas

se dominante e expressavam as relações de poder presentes

na sociedade da época?

No sentido de melhor cumprir a etapa referen

te à análise do discurso, pensou-se, de início, exam1nar se

paradamente cada texto, expondo as várias linhas de pens~

mentos individuais. Considerando, no entanto que o homem

reflete em sua açao o contexto sócio-políticn e

econom1-co em que está inserido e econom1-considerando que o pensamento

educacional de uma época não é o pensamento deste ou daqu~

le educador, deste ou daquele grupo de intelectuais, desta

ou daquela parcela da sociedade, mas uma combinação de to

dos estes elementos que culminariam em uma determinada dire

çao no sentido de tornar-se norma de ação coletiva, ativi

dade pratica em seu conjunto, julgou-se mais adequada a or

ganização da pesquisa a partir de temas que contivessem as

diversas concepções levantadas, com base nas indagações

(14)

J

I

I

~

i ! I ! ~

i

1

,I

J

\

tese final.

Com fundamento nas respostas obtidas, os te

mas foram reunidos em quatro tópicos, que expressavam as

principais relações encontradas: Educação/Teoria, Educa

ção/Sociedade, Educação/Poder e Educação/Ideologia.

Dentro do primeiro item, foram agrupadas as

idéias em torno das concepções de educação procurando-se a

vinculação delas com sistemas teóricos vigentes no

do.

perí~

No segundo item, foram reunidas as idéias so

bre educação e sociedade buscando-se descobrir, através

dos textos, a conexão íntima da escola com o meio social e

as formas como ela colaborava na reprodução do mesmo.

Para o terceiro item foram levadas em conta

as indagações sobre o comprometimento do texto

ou do sistema escolar com o poder estabelecido

(do autor )

ou com o

sistema político vigente, tentando-se verificar como ex

pressavam as relações de poder presentes na sociedade da

epoca.

Finalmente, no último item, mereceu especial

atenção a relação educação/ideologia, vendo-se do ponto

de vista da praxis, qual a contribuição do sistema educa

cional da época para o reforço e inculcação da ideologia

das classes dominantes.

É importante lembrar que, embora tenham

organizados separadamente com o fim de facilitar a

sentação do trabalho, hi uma profunda interpenetração

sido

apr~

dos

temas que anula qualquer tentativa de tornar estanques suas

partes.

1.4 - Referencial teórico

Embora se tenha ao longo do trabalho

tado o instrumental teórico utilizado na leitura,

explici

(15)

,

e interpretação dos textos, acreditou-se necessario,ã gul

sa de esclarecimento, apresenta-lo formalmente em seus po~ tos fundamentais, na medida em que se conceitua a termino

logia basica empregada.

2

A partir do pensamento de Carr de que a His

tória consiste essencialmente

olhos do presente e ã luz dos

em ver o passado através dos

seus problemas, e sabendo

que a História é o passado e o presente é o novo, p~de-se

concluir que quem ignora a História, esta desprovido dos

elementos essenciais para o julgamento do presente, Ja que

.

-no passado estão as raízes do presente. Novo só faz senti

do quando se contrapõe a velho, podendo-se dizer então que

melhor conhece uma situação modificada quem conheceu a si

tuaçao anterior.

Assim, o relacionamento presente/passado pe~

meou todo o trabalho, no qual se procura compreender os me

canismos pelos quais a educação se revela fundamental no

capitalismo, nao só a nível ideológico mas também a

concreto das relações econômicas que fundamentam a

dade.

sendo

-nível

socie

estu

dadas, nao

Como os homens,

foram indivíduos

cujas açoes estão

isolados agindo no vacuo, mas

atuaram num contexto e sob o estimulo de uma determinada

sociedade, cabe entender que é a partir da atividade huma

na, a partir do seu processo de vida real que se represe~

-ta o desenvolvimento dos reflexos

lógicas.

e das repercussoes ideo

Os homens pensam tendo como base aquilo que

fazem e o modo mediante o qual se relacionam neste fazer

Daí porque as relações de produção (ou seja, as relações

dos homens com as coisas e dos homens entre si) sejam apr~

*

sentadas por Marx como o fundamento da estrutura sendo,

(16)

a seu ver, sempre relações sociais e estas, na sociedade ca

pitalista, relações de classe.

Por sua vez as relações de produção sao o fun

damento das relações de propriedade com seu sistema de

leis e de instituições jurídicas que ocasionam a divisão

da sociedade em classes, divisão esta que decorre das rela

ções de propriedade.

Vale considerar ainda que os indivíduos quaE.

do nascem já encontram delineada a sua posição na vida bem

corno a forma do seu desenvolvimento pessoal, agrupando-se

em urna classe, não so para se ajudarem mutuamente, mas p~

lo fato de terem de travar urna luta comum contra urna outra

classe.

A reprodução das relações de produção e asse

gurada pela superestrutura jurídico-política e ideologica

e e nas formas e sob as formas da sujeição ideológica que

e assegurada a reprodução da qualificação da força de tra

balho.

Assim, a estrutura social e o Estado resultam

do processo de vida de indivíduos determinados e da forma

corno eles atuam partindo de bases, condições e limites ma

teriais determinados e independentes de sua vontade.

o

Estado, no sistema capitalista, surge corno

"máquina" de repressão que permite às classes dominantes

assegurar a sua dominação sobre a classe op~rária e

elemento de coesão dos diversos setores da sociedade.

corno

Embora considerado corno o aparelho central de

poder, cumpre, no entanto, lembrar, apoiados em Foucault,

que o "0 poder não

é

um objeto naturaZ~ uma coisa;

é

uma prática so

ciaZ

e~

como

taZ~

constitu{da historicamente". 3

Em outras palavras, o poder nao esta situado

nos níveis de estrutura ou num determinado nível de estru

tura, mas e um efeito do conjunto desses n~ve~s.

..

.

(17)

"0 conceito de poder não pode assim ser apli cado a um n{vel

de

estrutura; quando se fala, por exemp lo,

de

poder de Es

ta

do , não se pode indicar com isso o modo

de

articulação e de intervenção do Estado nos outros n{veis de estrutura, mas sim o poder de uma classe

de

terminada, a cujos interesses o Estado corres ponde, sobre outras classes sociais" 4

Nesse ponto, há que considerar que a classe

que tem o poder material numa dada sociedade é tamb;m aqu~

la que domina espiritualmente, pois se dispõe dos meios de

produção material, dispõe, igualmente, dos meios de prod~

ção intelectual, o que faz com que seus pensamentos

também os pensamentos dominantes de sua epoca.

sejam

Resumindo, pode-se dizer que a realidade so

cial objetiva é constituída não somente por grupos humanos

unidos por relações recíprocas e com interesses comuns,mas

*

também por um sistema de idéias, a ideologia ,que expre~

sa esses interesses e que modela as atitudes e os comport~

mentos dos homens.

Assim a ideologia, no sentido em que e tomada

neste trabalho, e segundo Marilena Chauí:

"nasce para fazer com que os homens creiam que suas vidas são o que são em de~orrência

da ação de certas entidades (a Natureza, os deuses ou Deus, a Razão ou a Ciência, a Socie

*

Entende-se aqui ideologia como "o sistema de idéias que reflete o

mundo do ponto de vista de uma classe" (Sdrtre, Questão de méto

do, p. 45). Goldmann fundamenta a diferença entre ideologias e V1

sões de mundo no caráter parcial e deformador das primeiras e to

tal das segundas, vinculando "as visões de mundo às classes soci,..." ais ,enquanto possuam ainda um ideal visando o conjunto da

comuni-dade, humana, e as ideologias a todos os outros grupos sociais e

~s classes sociais em declínio, quando nada mais fazem senao de

(18)

dade, o Estado) que existem em si e

por

si e

às quais

é

legItimo e legal que se

submetam"~

sendo um dos meios, e o mais eficaz, usados pelas

dominantes para exercer a dominação fazendo com que

nao seja percebida como tal pelos dominados.

classes

esta

Chauí explica ainda que a ideologia, um cor

pus de normas e de representações encarregado de fabricar

a unidade social pela dissimulação das divisões internas,

so se torna possível, objetivamente, pelo fenômeno da alie

nação, isto e, pelo

"fato de que, no plano da experiência vivida

e imediata, as condições reais de

existência

social dos homens não lhes apareçam como

pr~

duzidas

por

eles, mas, ao contrário, eles se

percebem produzidos

por

tais condições

e

atribuem a origem da vida social

a

forças

ignoradas, alheias às suas, superiores e inde

pendentes". 6

Dessa forma, representando a realidade de for

ma invertida, a alienação, que pode ser considerada como

o pedestal da ideologia e entendida como processo de fabri

cação da universalidade abstrata, precisa ser ampliada ao

maximo e vivida e exercida numa sociedade, para que fun

cione como fonte de auto-preservação da sua classe dominan

te.

A tarefa de difusão da ideologia dominante e

da expansão das formas de alienação, cabe, sobretudo,

-

as

instituições sociais e delas a escola tem o papel prevale~

te suplantando mesmo a Igreja que tinha a primazia nas for

mações sociais pre-capitalistas.

Assim a escola, numa sociedade em que predomi

ne o modo de produção capitalista, que para se manter ne

cessita de uma instância educativa distanciada da produção

(19)

I

-.

trabalho manual, vem a desempenhar a função de Aparelho

*

Ideológico de Estado função essa definida e explicitada

por A1thusser que afirma ainda: "Nenhwna classe pode dur>avelme?!:..

te deter> o poder> de Estado sem exer>cer> simultaneamente a sua hegemonia sobr>e e nos Apar>e lhos I deo lógicos de Es tado" 7.

Corno o sistema escolar, enquanto Aparelho Ide~

lógico de Estado, e essencialmente aparelho de reprodução

de classes e de reprodução das relações de produção da so

ciedade de classes, tornou-se necessário, no corpo do tra

ba1ho, explicitar as formas que tornou o Estado no Brasil

bem corno a dinâmica das classes sociais peculiar

ã

sua for

mação social, urna vez que

e

dentro da articulação específi

ca Estado-estrutura de classes, que se procedeu

ã

do papel da educação.

análise

Corno as relações de poder e as relações educa

cionais só se expressam na prática social que, corno tal,

são constituídas historicamente, foi preciso conhecer em

profundidade essa prática social a fim de apreender o seu

movimento e as suas conexoes internas.

-E para ver como a escola de fato opera, para

estudar a função dos sistemas de ensino ao nível ideo1ógi

co, fez-se necessário apreender como a escola colabora na

interiorização de toda urna pauta de distinções sociais,

que traduzem na linguagem da "sL!PeY'ioY'idade" e da

"infeY'ioY'i-dade

"3

o que s e s u s t e n ta, em Ú 1 t i m a in s t â n c i a ~ e m r e 1 a ç õ e s de força.

*

A1thusser designa por Aparelho Ideológico de Estado a "um certo nu

mero de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a

forma de instituições distintas e especializadas". Enuncia sete de

las: o AlE religioso; o AlE escolar; o AlE familiar; o AlE

jurídi-co; o AlE polítijurídi-co; o AlE sindical; o AlE da informação e o AlE

cultural. (Louis A1thusser, Ideologia e Aparelhos Ideológicos de

(20)

I

,

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que

é

educação. são Pau

2

3

10, Editora Brasi1iense, 1981, p. 16.

CARR, Edward H. O que

é

história? 2a. edição. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra S. A. , 1978, p.

22.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janei

ro, Edições Graa1, 1979, p. XII~

4 POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais.

são Paulo, Martins Fontes, 1977, p. 96.

5 CHAUf, Mari1ena de Souza. O que

é

Ideologia. 2a. ed. são Paulo, Editora Brasi1iense, 1980, p. 87.

6 Id. Ibid, p. 86.

7 ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos

de Estado. são Paulo, Livraria Martins Fontes, s/d.,

(21)

,

2 - RECONSTRUINDO A REALIDADE SÕCIO-ECONÔMICA

2.1 - Da Colônia

"Não podemos ter nesta geração a histó

ria definitiva, mas podemos dispor da

história convencional e mostrar

o po~

to a que chegamos entre uma e

outra,

agora que todas as informações

estão

ao nosso alcance e que cada

problema

tem possibilidade de solução".

(Harry B. ActonJ

Estudar o processo educacional no Maranhão da Primei

ra República requer obviamente que se comece pela situação só

cio-política do Estado, que, por sua vez, remete ao estudo

da situação econômica, elemento fundamental para a

compre-ensao das contradições existentes, a qualquer desses ní

veis.

Como explicar, por exemplo, o subdesenvolvi

mento cultural sem explicar o subdesenvolvimento economi

co? E como explicar ambos, naquele período, sem buscar suas

origens mais remotas, a partir da estrutura colonial escra

vista? Daí a necessidade de conhecer a sociedade maranhen

se em suas diferentes etapas para tentar apreender as cau

sas dos avanços e recuos do Estado na totalidade do proce~

so evolutivo do País.

Durante a etapa colonial, quando o Brasil so

fria a intervenção da Metrópole Portuguesa, que mantinha

atraves de seus aparelhos jurídico-político e ideológico,a

exploração econômica do País, o sistema de dominação utili

zado era o chamado Pacto Colonial, que tantos males causou

ã

economia nacional.

(22)

ra estava articulada ao setor internacional por praticas

mercantilistas. Essas praticas, que constituiam o Pacto Co

lonial, eram, segundo Manoel Maurício de Albuquerque: o mo

nopólio comercial, a organização de uma estrutura econômi

ca especializada e dependente, além de normas de coação

fiscal e privilégios econômicos e financeiros concedidos a

certas entidades, como, por exemplo, a Igreja. De modo mais

específico descreve o referido autor:

"0 MonopóUo Comercial era o elemento básico

para que se realizasse

o

objetivo

primacial

do expansionismo colonial nesta etapa

de

transição entre o Feudalismo e o Capitalismo.

A burguesia comercial metropolitana

detinha

o

controle da compra dos produtos coloniais,

embora nem sempre

o

fizesse com exclusividade

devido a conjunturas especificas da Formação

Social Portuguesa; esse esquema

dominante

era completado com

o

privilégio da venda

na

Colônia dos produtos importados,

inclusive

os escravos africanos cujo tráfico

represe?:..

tava um dos setores de maior investimento

e

de reprodução e circulação de capital na eco

nomia da Co lônia" .

1

Assim, a infra-estrutura economica do País,

nessa fase, era de uma grande simplicidade, ja que a terra

era a única força produtiva, da que derivava uma estrutura

social também extremamente simp1e~, que reunia de um lado os proprietários rurais e do outro a grande massa dos tra

ba1hadores despossuídos, fôssem eles escravos ou livres.

Em meio a uma população miserável de índios,

mestiços e negros escravos, os grandes proprietários pud~

ram assentar, numa base dominantemente escravista, a exp1~

ração rural: lavouras de cana, engenhos de aç~car e exten

(23)

r

"A diversidade das várias zonas econôrrricas em

que se divide o pais não altera

sensivelmen

te este quadro fundamental. Na extensa faixa

costeira, onde impera a lavoura açucareira, o

caráter da grande exploração é incontestável.

Na zona da pecuária, localizada no sertão

no~

destino e que se estende do médio são Prancis

co ao Maranhão, o regime dos grandes

latifú~

2

dios é t{pico"

Essa afirmação é ratificada por Tribuzi, quando diz:

"Durante o século

XVII,

além da coleta de al

guns produtos extrativos, a atividade econômi

ca maranhense cifra-se na produção de açucar

e aquardente de cana e mandioca; e, na

pec~

ria bovina, cujo efetivo, em

1750,

ultrapassa

a população incorporada ao dom{nio

port~

3

guês".

Em resumo, a economia maranhense, essencial

mente rural e dominantemente escravista no período coloni

aI, relacionava-se, através do setor mercantil português

ao mercado mundial em crescimento e no qual eram hegemônl

cas as formações sociais em transição para o Capitalismo na

Europa ocidental.

o

elemento capitalista do nosso·mercado nial era imposto de fora para dentro e efetivava-se

colo

atra

vês dos mecanismos jurídico-políticos e econômicos dos me~

cados metropolitanos, que ditavam os modos de apropriaçao

e de expropriação e, portanto, de acumulação de

pré-capitalistas.

capital,

No Maranhão, como no resto do país, se produ

zia para exportar e não se exportava porque se produzia,

o que assinala a situação de dependência do Estado, sobre

tudo, se forem levadas em conta as proibições,

da Metrópole, do cultivo de diversos produtos

por parte

(24)

f

de práticas extrativistas como a exploração de salinas e

mesmo de atividades artesanais e manufature iras que não in

teressavam a Portugal.

Por tudo isso e também devido

ã

escassez de mão-de-obra, a economia maranhense, até o século XVIII,foi

totalmente incipiente e, como ressalta Tribuzi:

"0 Maranhão só

passa

a constituir-se reaZida

de econômica

ponderável~

no contexto colonial

português~

quando

o

Marquês de Pombal decide

criar condições objetivas de

expansão~ atr~

vés da Segunda Companhia Geral de Comércio do

Grão-Pará e Maranhão

(1755)~

cujo

monopólio

mercantil era condicionado a r{gidas

exigê~

cias de suprimento de mão-de-obra

escrava~

implementos e insumos agPÍcolas e crédito aos

4

produtores" .

Com esse estímulo, e com a ênfase dada

Metrópole ao cultivo do algodão, que alcançava bom

pela

preço

no mercado mundial, a economia do Estado se fortalece e en

tra em fase de expansão, provocando um rápido aumento

escravaria negra e a incorporaçao e utilização de

agrícolas de ma~or produtividade.

da

-areas

Como a evolução política segue passo a passo

a transformação econômica que se opera em todo o Brasil, a

partir do século XVIII, rompe-se o equilíbrio político do

regime colonial pelo choque das forças contrárias que assi

nalam a contradição fundamental entre o desenvolvimento do

país e o limitado quadro do regime colonial.

Prado Júnior diz muito bem:

a superestrutura poHtica do Brasil-colônia

que~

já não correspondendo ao estado das for

ças produtivas e

a

infra-estrutura econômica

do

pa{s~

se

rompe~

para

dar

lugar a outras

f~

(25)

cas e capazes de conter a sua evoZuçãO. A

re

percussao deste fato no terreno poZ{tico

a

revoZução da Independência -

nãO

é mais

que

o termo finaZ do processo de diferenciaçãO de

interesses

nacionais~

Zigados ao desenvoZvi

-mento econômico do

pa{s~

e

por isso mesmo dis

tintos.

·dos

da·

ti'Ópo Ze -e con tronos

á

e Zes ;,

~5

o

Maranhão, embora extinta a Companhia do Grão - Pará e Maranhão (1778) e diminuído o ritmo de progresso,

permaneceu com uma situação econômica estável ate o Impe

rio, quando são Luís ocupava a quarta posição entre as ci

dades brasileiras, em população e importância, contribuin

do de forma notável para o erário da Corte e

"fornecendo

ao

Tesouro ReaZ mais tributos do que o resto do

Império~

excetuadas

(aZ

gumas) provtncias brasi Zeiras"

6.

Realizada a Independência - que para ser pe~

feitamente entendida tem que ser vista e analisada no am

pIo quadro do desenvolvimento da revolução burguesa no

Ocidente e na America - faltava ao Maranhão, reduto de le

aldade

ã

Coroa, desligar-se da Metrópole com quem mantinha

um contato mais íntimo do que com o resto do Brasil, o que

só veio a ocorrer em 28/07/1823, passando, então, oficial

ment~, a integrar o Imperio do Brasil como uma de suas pr~

~

.

Vl.nCl.as.

Alem do contexto polar senhor/e~cravo, basea

do no trabalho servil, em que se resumia a sociedade colo

nial, existia, agora, uma camada intermediária a que, so

bretudo o desenvolvimento do comercio dera extraordinário

impulso.

"Essa camada intermediária - a pequena

burgu~

sia

precoce~

que

é

uma das peculiaridades de

nossa formação social - constitui a área

em

que a cultura encontra clima e se

desenvol

ve".

?

(26)

sia, aparecida no Brasil antes da burguesia propriamente

dita, uma dupla função veicu1adora: do ponto de vista polI

tico ela responderia pela transplantação aqui de reivindi

cações e postulações que constituem o núcleo da ideologia

burguesa em ascensão, e do ponto de vista cultural, respon

deria pela transplantação dos valores esteticos oriundos

do avanço da burguesia no Ocidente europeu.

Quanto às camadas populares, elas nao se

-

en

contravam politicamente maduras para fazerem prevalecer

suas reivindicações, nem as condições objetivas do Brasil

eram ainda favoráveis à sua libertação econômica e social,

tanto assim que

"se fez a Independência praticamente

à

revelia

do

povo, e se isto lhe poupou sacriftcios também afastou

por

completo

sua participação na nova ordem polttica" 8

Na realidade, os movimentos de emancipaçao ti

nham por finalidade permitir que os agentes privilegiados

da economia colonial pudessem atingir os requisitos legais

e po1iticos de sua autonomia econômica.

Resumindo, pode-se dizer que, apesar do seu

comercio em expansão, de 1756 à abertura dos portos (1808),

e apesar da relativa estabilidade econômica mantida nas de

cadas seguintes, o Maranhão saiu do periodo colonial em

condições precárias, uma vez que a exploração da terra se

fazia por processos primitivos, a indústria não passava de

um paupérrimo artesanato, os transportes e comunicações

eram os mais rudimentares possiveis e a única forma de ener

gia empregada era a força humana e animal.

2 . 2 - Do Im p

e

r i o

Muitos historiadores veem o per iodo

como uma transição entre o passado colonial e o

Imperial

presente

moderno constituindo-se, assim, numa das fases mais inte

ressantes para o estudo e compreensão da evolução brasi1ei

(27)

riormente,

Para Prado Júnior:

"A

significação histórica do Império se mede

pelo grau com que se fez a transfoY'mação

da

estrutura colonial para a moderna. A complexi

dade do Brasil de hoje, em que encontramos la

do a lado uma civilização moderna, que se em

parelha

à

dos povos mais desenvolvidos

da

atualidade e fOY'mas antiquadas que

sobraram

da colônia, explica-se precisamente pela his

tória do segundo reinado, onde se situa

em

sua parte fundamental e essencial,

o

processo

da modificação social sofrida pelo pats"

9.

A província do Maranhão, como j

ã

f o i d i to ante ocupava uma posição de destaque no contexto do

Imperio, não sã no plano econômico como no político e no

cultural. A respeito, assim se expressa Meireles:

"0 Império, repetimos, foi a Idade

de

Ouro do

Maranhão, não obstante quando em vez

os

aza

res da balança comercial, as altas e

baixas

inesperadas do algodão, não raro

provocadas

pelo "trust" inglês que

o

explorava e

monop~

lizava causassem algum pânico

à

praça e arras

tasse um ou outro fazendeiro ou comerciante nz

~

10

cional, menos prevenido, a

bancarrota".

E acrescenta, ao falar sobre a situação privil~

.,

.

giada da sua proY~nc~a:

" ... principalmente no Segundo Reinado, qua!!:..

do, como galardão maior, a força da inteligê!!:..

cia de seus filhos conquistou para ela

o

tttu

lo de glória com que se têm enobrecido as ge

rações subseqüentes -

o

de A tenas do Bras i Z". 11

A sociedade mar anhens e da e po ca, in tegrada por

jovens educados nos melhores colegios e universidades euro

(28)

dores do Imperio), era cheia de preconceitos, mantendo uma

rigida divisão de classes e rivalizando a sua classe

nante em educação e bom gosto com a colônia inglesa,

estabelecida, e considerada esnobe e racista.

domi

ali

No entanto, apesar da relativa estabilidade fi

nanceira, a formação econômica maranhense, dentro do qu~

dro social e cultural do escravismo, sem a possibilidade de

elevar o seu padrão tecnológico nem de contar com um merca

do interno significativo, tinha o seu processo produtivo con

dicionado pelo mercado externo, que o obrigava

ã

monocul tura e o fazia balançar em ondas de prosperidade ou depre~

são de acordo com as conjunturas internacionais.

Tribuzi refere que:

" o processo econômico do Impé-E-o no Mara nhão não sofreu até quase o final do século XIX mudanças qualitativas importantes. Conti nuou a basear-se na expansão quantitativa da massa da mão-de-obra escrava, na amp la dispo-nibilidade de terra e, posto que o rrKJnopólio comercial português da exportação tivesse ce!!.. sado e, conseqüentemente, a margem de apropria çao local sobre a renda gerada tenha cresci do, a produção pe lo mecanismo escravista con tinuava a ser definida "de fora" condição que lhe tornava altamente vulnerável a contingê!!:. cias internacionais de preços a que, bem ou mal, procurava ajustar-se sem conseguir, CO!!

tudo, livrar-se de seus efeitos negativos". 12

Politicamente tambem o Maranhão, com seus pr~

sidentes substituídos a cada queda de Ministério e a cada

oscilação partidária na Corte, não pôde contar em todo es

se periodo com uma só administração eficiente e realmente

proveitosa para a província, limitando-se os governantes no

meados a meras disputas partidárias ou a "responderem.pelo e~

pediente"; como tão bem definiu Meireles.

(29)

.JIII

que só o Maranhão, nos dezessete anos que compreendem o

primeiro reinado e as regências, teve dezenove presidentes,

e noventa e dois nos quarenta e nove anos do segundo rein~

do, incluídos os eventuais substitutos, o que permite o co

mentário do historiador maranhense: "Se~

naquele primeiro

PE..

rlodo

da monarquia~

a média fôra de quase

um (presidente)

por ano~

nes

t

a segun

da

s t.na para quase

uh ' ,

do'

t.s

,,13 E a a f' ~rmaçao - d e que:

"A história do segundo reinado no

Maranhão~

afora as lutas do dualismo

polltico-parti~

rio

entre conservadores e

liberais~

é

quase

exclusivamente a enumeração cronológica dos

que se sucederam em

meses~

às vezes em sema

nas e raramente em anos na curul governamen

tal"

14.

Apesar de tudo, foi nesse período que se ini

ciou o soerguimento do baixo nível material legado pela c~ lônia, por efeito naturalmente, do desenvolvimento da Ciên

cia e da Tecnologia, a nível internacional. Rã uma evolu

ção sensível das instituições políticas e administrativas,

cabendo ao Império transformar o trabalho servil em traba

lho livre, de que a abolição do tráfico em '1850, foi o ato

propulsor da deflagração do processo, que viria causar de

sastrosas conseq~ências

ã

Província do Maranhão.

A utilização da mão-de-obra escrava baixava

os custos da produção tornando-a concorrencial em relação

a outros produtos coloniais junto aos centros consumidores

externos, garantindo a continuidade e a reprodução do sis

tema econômico que sustentava a classe escravista no Bra

s i l .

Segundo Albuquerque:

"Dessa

forma~ o

Estado Escravista Monárquico

reproduzia

o

sistema de classe pelo exerc{cio

da

dominação

da

ordem social vigente e dos ti

pos de exploração econômica que nele

se repr~

(30)

para que tal sistema pudesse ser aceito pelo

conjunto social sem obstáculos maiores" 15

A Abolição, impondo a mudança radical nao

-

ap~

nas da relação de propriedade mas também da estrutura eco

nômica, teve como efeito o estabelecimento de relações de

trabalho capitalista que desagregaram inapelavelmente as

velhas instituições monárquicas.

Com uma população de origem africana que che

gou a superar, embora de pouco, a dos senhores brancos, o

processo da Abolição no Maranhão, transformando radicalmen

te as relações de trabalho, encontrou despreparados senho

res e escravos, resultando numa desordem total do sistema

produtivo agrário, tanto que:

fI • • •

no próprio ano de

1888~

a desvalorização

da fazenda agricola maranhense atingiu 90%

( ... ) Das fazendas afastavam-se os

senhores

com a mesma ansiedade com que os ex-escravos

deixavam os ranchos do seu cativeiro.

Estes

tinham horror do passado;

aqueles~

medo

do

16

presente"

Não admira, portanto, que no Maranhão a liberta

ção dos escravos tenha provocado tais efeitos, uma vez que

o se~ sistema produtivo, sem nenhum recurso tecnológico m~

derno, somente através da mão-de-obra escrava, de baixo

custo de manutençao, tinha possibilidade de ,obter lucros.

o

Relatório da Associação Comercial do do, no ano de 1889, dizia, entre outras coisas:

'~

safra do aç;car foi muito diminuta devido

ao abandono

da

maior parte dos

engenhos~

só por falta de

braços~

como também por

-nao

-nao

disporem os seus possuidores de meios necessá

rios para o devido custeio. Outro assunto

di~

no de sérias ponderações se nos depara ao en

cararmos a desorganização sofrida pela lavou

ra

com a extinção do elemento servil. Os

li

(31)

bertos~

apenas decretada a patriótica Lei de

13

maio~

tornaram-se rebeLdes a todo e

qual

quer ramo de

lavoura~

abandonando-se

à

intei

ra

ociosidade. Quase todos os sistemas que

e~

tão apareciam de contrato para regular o tra

balho da

Zavoura~

foram sem proveito

aplica

dos pe los fazendeiros"

1?

-Na realidade, desde 1870, vinha ocorrendo o ames

quinhamento da mais importante produção do período colo

nia1, o açucar, e a evo1uçao de outra monocu1tura bras11e1 "..

-

.

.

ra, o cafe. A partir daí, o norte se diversificou do sul,

pois enquanto o primeiro, ao decrescer a produção, passou

a exportar sua mão-de-obra escrava para outras regiões, i~

c1usive o sul, o segundo, em franco progresso, já se previ

nia contra escassez de braço trabalhador estimulando a imi

gração europeia. Faoro confirma:

"Desprotegidos de crédito

territoriaL~

os en

genhos vendem seus

escravos~

perdendo a

prin-cipal garantia do

crédito~

no prelúdio dos fo

gos apagados que tomaria conta da costa

nor

deste~

no último quartel do sécuLo.' Enquanto

o café navega em vento

próspero~

morre o açu

car~

destru{do pelo peso de sua

principal

18

força~

o escravo"

.

A todas essas transformações da estrutura eco

nômica e política do país, correspondem naturalmente pr~ fundas modificações sociais nas relações de classe e cate

gorias sociais, sua psicologia e modos de vida.

Com a formação de uma sociedade mais comp1~

xa, fruto de um crescimento demográfico considerável, em

que se amplia rapidamente a divisão de trabalho e em que

se torna possível a realização econômica de indivíduos iso

lados, há um aumento progressivo do poder aquisitivo e o

conseqüente desenvolvimento do mercado interno.

(32)

"Nessas

transfop,mações~

a pequena

burguesia

e particularmente as suas componentes intelec

tuais~

desempenha papel de

destaque~

abrindo

caminho~

como aguerrida

vanguarda~

à

nascen

te

burguesia~

que avança devagar e manobra em

retirada sempre que depara condições de

luta

mais exigentes. As transformações assinalam a

crescente complexidade social que decorre do

crescimento da riqueza e da amplitude que

o

poder po

U

tico deve as sumir"

19.

o

país europeizava-se, segundo os modelos in gleses, subvertendo os hábitos lusitanos ate então dominan

teso O desenvolvimento da cultura intelectual, o estabele

cimento de um ritmo de vida mais afinado com o momento in

ternacional e o maior contato com o mundo exterior acabam

por revolucionar completamente a sociedade brasileira nes

se curto espaço de meio seculo.

Para o brasileiro dessa epoca, ser moderno si~

nificava conhecer e adotar as ideias liberais que acentu~

vam o valor da ordem natural e da atividade particular. Nas

palavras de Faoro:

"Liberalismo poUtico casa-se haP<moniosamente

com a propriedade

rural~

a ideologia a

servi-ço da emancipação de uma classe da túnica cen

tralizadora que a entorpece. Da

imuni~ade

do

núcleo agrtcola expande-se a reivindicação fe

aeralista~

empenhada em libertá-lo dos contro

les estatais" 20.

O sistema politico do Imperio que fora organi

zado em função dos interesses escravistas dominantes re

presentava, agora, um obstáculo

ã

ascensão da burguesia e pequena burguesia.

Assim, a ideologia liberal articulada aos p~

(33)

dos Unidos, contribuiu para produzir, no Brasil, a

gia republicana que pregava uma democracia total e

trita, capaz de legitimar o golpe militar de 15 de

bro.

2.3 - Da República

o

programa republicano, buscando dar

ideolo

irres

novem

amplitu

de e florescência ao liberalismo econômico, foi, pouco a

pouco, integrando os grupos de interesses contrários a es

trutura de poder que a Monarquia mantinha.

Com a ajuda do positivismo, que encontrou no

Brasil uma acolhida muito maior da que teve na França, a

feição ideológica do país foi sofrendo profunda transform~

ção. Atraves da palavra de Benjamin Constant, professor de

Matemática na Escola Militar, um dos maiores sectários de

Augusto Comte no Brasil, as novas ideias penetraram nas

Forças Armadas, que, condensando as contradições

tes, as exigências de descentralização e a ação

existen

propaga~

dística do positivismo, tornaram-se as responsáveis dire

tas pelos acontecimentos que resultariam na mudança do re

gime político.

Assim, a 15 de novembro de 1889, o marechal

Deodoro da Fonseca,

ã

frente dos soldados e instigado p~

los republicanos, derrubou o ministério, organizado alguns

meses antes pelo visconde de Ouro Preto, proclamando a Re

pública e fazendo D. Pedro 11 partir para o exílio rumO a

Lisboa.

As antigas províncias tornaram-se Estados, c~ da qual com sua Constituição (naturalmente em consonancia

com a Carta Federal) e com seu Governador ou Presidente es

colhido, como o da República, em eleição direta. E, na opi

nião de Albuquerque:

(34)

ra

República significou na Formação Social

Brasileira

o

estabelecimento da

dominân

cia efetiva do Capitalismo. Esta

transfor-mação na estrutura do aparelho estatal foi

resultado da fusão superdeterminada

de

contradições

econômicas~

poltticas e ideo

lógicas.

Entretanto~

no plano

das

relações

com

os

centros hegemônicos do capitalismo

internacional~

essa mudança não objetivava

uma transformação nem do lugar nem

,lia

função

de dependência que a Formação Social Brasi

l . e~ra

ocupava neste

s~stema . "

.

21

Com efeito, a implantação da República não aI

terou as relaç~es de dependincia que a estrutura ec~n~mica

brasileira mantinha com o Capitalismo Internacional. A úni

ca mudança nesse aspecto digna de menção foi o aumento pr~

gressivo das articulaç~es com os Estados Unidos que acaba

ram por superar a anterior primazia inglesa. No entanto,

internamente,

ê

a partir dessa época que se estabelecem r~

laç~es de trabalho tipicamente capitalistas: assalariamen

to e separação do trabalhador dos meios de 'produção.

Ã

medida em que a produção e reprodução de ri

quezas passa a ser articulada sob essa nova modalidade, o

Brasil atinge uma etapa de desenvolvimento capitalista,de~

tro de um esquema de desenvolvimento ainda desigual que

passa por ritmos diversos, vencendo crises, destruindo va

lores, mas avançando sempre.

Ao se desenvolver em nosso País, o capitali~

-mo nao conseguiu fazer desaparecer as formas tradicionais

de produção como as economias de subsistincias do setor

agrícola, o artesanato rural e urbano ou a indústria a do

micílio.

Assim p~de escrever Kowarick:

" ..• o

mais importante

é

que tanto a manuten

(35)

ção de 'novas' são parte integrante de um mo

do de produção

que~

não obstante ser em

sua

dinâmica essencial de corte nitidamente capi

talista no processo de sua

acumulação~

as ar

ticula e dela se alimenta. Em outros

termos~

não se trata de duas

estY'Uturas~

uma 'moderna'

e outra 'tradicional'

~

'arcaica' ou 'marginal '.

Trata-se de uma única lógica

estrutural~de

ti

po

capitalista~

a qual ao mesmo tempo gera e

mantém formas de inserção na divisão social

do trabalho

nãO

tipicamente capitalistas que

longe de serem um peso morto constituem

par

tes integrantes do processo de

acumulação,,22~

No Maranhão, onde a sociedade e a estrutura

econômica permaneciam coloniais, naturalmente, que a tran~

formação da mão-de-obra escrava em mão-de-obra assalariada

e a transferência para o Centro-Sul do país do pólo da eco

nomia nacional (o que implicava num maior compromisso do

Governo Federal, no que tange ao atendimento de reivindic~

ções, com aquelas regiões em detrimento do Norte e Nordes

te) iriam provocar violento impacto e efeitos desastrosos.

Analisando a situação,' escreve Viveiros:

"A

liberdade dos escravos e o advento da Repf

blica~

uma desorganizando o trabalho agrlcola

e outro criando novas obrigações para. o Esta

do~

determinaram no Maranhão uma tremenda cri

se econômica que se prolongou por um lapso de

tempo de cerca de um quarto de século.

O

aba

lo fôra

formidável~ diminuindo~

num imprevi!!..

estarrecente~

as nossas fontes de renda.

Dei

xamos de produzir um dos nossos gêneros

de

consumo e

de

exportação - o

açúcar~

decresce

mos no

algodão~

nunca mais atingindo o costu

meiro limite de 60.000

fardos~

paralisamos em

relação ao arroz e apenas progredimos na man

(36)

T

• f

o II 23

-z-n -z-mos .

Numa tentativa de deter a derrocada iminen

te, de vencer os embaraços causados pela falta de capitais

e braços, os maranhenses procuraram transformar o seu Esta

do agricola em Estado industrial e num espaço de dez anos

de 1885 a 1895, construíram, com recursos próprios, um pa.E,

que industrial respeitavel, que ocupava o segundo lugar do

pais, no setor, com 27 fabricas (sendo 17 pertencentes a

sociedades anônimas e 10 particulares), só suplantado por 24

Minas Gerais que tinha trinta e sete.

A indústria passou a ser o escopo dos mara

nhenses que, como outros brasileiros, queriam aproveitar as

lições da experiência e da civilização americanas. Com ma

quinas que dispensavam quase totalmente o auxilio braçal,

a indústria apresentava-se como solução democratica, a cur

to prazo, para fazer a felicidade dos operarios e para tri

plicar os capitais dos investidores.

Albuquerque confirma:

'Wa etapa de transição do Escravismo para

o

Capitalismo, a atividade fabril teve o seu

.

pri

-meiro surto apreciável: o número de

estabele

cimentos triplicou e o capital investido ele

vou-se,

sendo 60% aplicado na atividade têx

til e

15%

na do fabrico de gêneros aliment{

-cioso

O desenvolvimento da produção de

tecidos

está diretamente articulado

à

expansão

do

plantio do algodão cujo cultivo para

export~

ção recebeu o est{mulo do afastamento da con

corrência do similar norte-americano

devido

à

Guerra de Secessão. Terminado o conflito, a

fibra nacional encontrou no consumo

interno

um recurso para evitar o colapso da sua

prod~

ção, realizada dominantemente no Maranhão

e

25

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