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Transtorno de pânico e hipocondria.

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Recebido 03-09-05 Aprovado 17-11-05

Transtorno de pânico e hipocondria

Panic disorder and hypocondriasis

Monica Dib, Alexandre M. Valença e Antonio Egidio Nardi

Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) (Dib M; Nardi AE) Laboratório de Pânico e Respiração IPUB/UFRJ (Dib M) (Valença AM)

Relato de caso –

Case report

Correspondência para: Mônica Dib

Av. Atlântica, 910/1202 – Leme – 20010-000 – Rio de Janeiro-RJ – Tel.: (21) 9224-7505 – e-mail: monicadib@gmail.com

Resumo

A hipocondria é associada a diversos transtornos de ansiedade,

sobretudo ao transtorno de pânico (TP). Estima-se que 50% a 70% dos pacientes com TP tenham sintomas hipocondríacos e que 13% a 17% dos hipocondríacos tenham TP associado. Considera-se que há co-morbidade com hipocondria no TP quando as preocupações com saúde não se restringem aos sintomas das crises de pânico. Relatamos um caso de uma paciente que, durante seu acompanhamento, evoluiu com hipocondria e transtorno de pânico associados. Discutimos as manifestações psiquiátricas manifestadas pela paciente, assim como

analisamos aspectos conceituais, diagnósticos e prognósticos.

Palavras-chave: transtorno de pânico, hipocondria, diagnóstico diferencial,

co-morbidade.

Abstract

Hypocondriasis is associated with several anxiety disorders, including

panic disorder. The available estimates of panic disorder patients with identified hypochondriacal symptoms are 50% to 70%. Complimentary, 13% to 17% of hypochondriac patients were associated with panic disorder. Comorbidity and hypocondriasis occur when health care issues are not delimited by panic disorder symptoms. We reported a patient that, during the follow-up period, has evolved to an associated hypocondriasis and panic disorder scenario. The psychiatric symptoms were properly addressed and discussed, as well the associated conceptual aspects, diagnoses and prognosis.

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Transtorno de pânico e hipocondria

J Bras Psiquiatr, 55(1): 82-84, 2006 83

Introdução

O transtorno do pânico (TP) foi conhecido por diferen -tes terminologias, mas sempre com certa precisão descritiva,

desde a Antigüidade. Foi caracterizado como entidade no -sológica autônoma oficial apenas a partir da terceira revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), com base nos trabalhos de Donald Klein nos anos 1960. Anteriormente o TP integrava oficialmente o grupo das

neuroses de ansiedade e das neuroses fóbicas. Palpitações, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de falta de ar,

asfixia, desconforto torácico, náusea, desconforto abdominal, medo de morrer, parestesias e calafrios podem levar o paciente

com TP a ter preocupações hipocondríacas.

A hipocondria é a preocupação com medo ou a idéia de sofrer de uma enfermidade com base numa interpretação

errônea de sintomas ou funções corporais, em que o indivíduo teme sofrer de uma doença grave (critério A do DSM-IV) apesar de avaliações e garantias médicas apropriadas (critério B do DSM-IV). O transtorno hipocondríaco na Classificação Interna

-cional de Doenças (CID-10) é similar àquele no DSM-IV, incluindo queixas somáticas persistentes ou preocupação duradoura com

a aparência física. Mesmo com avaliação e garantias médicas

apropriadas, os hipocondríacos contam com preocupações

não-delirantes de doença grave baseadas na interpretação

equivocada de manifestações somáticas, o que traz prejuízos com duração mínima de seis meses (DSM-IV).

A discussão dos critérios conceituais e diagnósticos

da hipocondria é freqüente (Abramowitz et al., 2002; Noyes

et al., 2003; Ornbol et al., 2004), assim como a sua relação com o TP (Torres et al., 2002; Hiller et al., 2005; Scrignar, 2004). A hipocondria é observada em 4% a 6% dos indivíduos na área médica (Barsky, 2001). Dois terços dos pacientes

com hipocondria apresentam outro transtorno psiquiátrico

associado, incluindo transtorno depressivo maior (40% dos casos); TP (10% a 20%), transtorno obsessivo compulsivo (TOC) (5% a 10%) e transtorno de ansiedade generalizada (Torres et al., 2002).

Relato de caso

F., 29 anos, branca, casada, católica, balconista, resi-dente no Rio de Janeiro.

Queixa principal (QP): arritmia e falta de ar.

Em 2002, a paciente apresentou um quadro que

denominou de crise nervosa grave, apresentando dispnéia,

taquicardia e sudorese de extremidades, tendo sido levada

para a unidade de emergência de um hospital próximo pelos familiares. Realizou exame físico, exames laboratoriais e eletrocardiograma, todos normais. A suspeita inicial de infarto agudo do miocárdio (IAM) foi descartada.

A partir desse acontecimento F. passou a freqüentar

diversos serviços de saúde na busca de um diagnóstico para

o que denominava ser um problema cardíaco, argumentando

que seu pai e seu avô paterno morreram de IAM. Desde então

F. peregrinou por diversos serviços de cardiologia com o intuito de realizar um check-up cardiológico, sendo internada com

suspeita de IAM toda vez que sentia os seguintes sintomas

paroxísticos: sudorese, taquicardia, dispnéia, tremor e sudo -rese de extremidades e aperto no peito.

Em meados de 2004 F. novamente se submeteu a

exames cardiológicos, queixando-se dos mesmos sintomas.

Os exames nada constataram de anormal. Um cardiologista

encaminhou-a ao atendimento psiquiátrico. Compareceu ao Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Ja

-neiro (IPUB/UFRJ) em novembro de 2004. Veio acompanhada

do marido, pois temia andar na rua sozinha e passar mal. Fazia uso de 5mg diários de diazepam, prescrição feita pelo médico

que a encaminhou ao IPUB. Durante a entrevista aventou

diversas vezes a hipótese de sofrer de arritmia cardíaca. Prescrição inicial: paroxetina, 10mg/dia, no período noturno e manutenção do diazepam 10mg/dia.

A sintomatologia se reduziu em intensidade e freqüência

no primeiro ano de tratamento.

Durante o período entre as consultas, F. entrou em contato diversas vezes para discutir os efeitos colaterais da

paroxetina que leu na bula. Indagou sobre o uso crônico do

antidepressivo e se este poderia promover aumento súbito da pressão arterial ou piorar sua arritmia. Parou o tratamento

de forma abrupta duas vezes, temendo que as medicações pudessem surtir efeitos colaterais que prejudicassem seu

aparelho cardiovascular. Em uma de suas consultas, no final de novembro de 2005, sugerimos um tratamento psicoterápico.

F. reagiu de forma hostil, dizendo: “não sou problemática”, e referindo que seus familiares sempre reclamam de que ela tem mania de doença.

Atualmente F. faz uso de 40mg/dia de paroxetina e

10mg/dia de diazepam. A freqüência e a intensidade dos

sinais e sintomas do TP diminuíram significativamente. Ela

já consegue ir para seu trabalho sozinha e refere que o trata

-mento psiquiátrico ajuda a tratar seu nervosismo. No entanto F. ainda não descarta a hipótese de um problema cardíaco ainda não-diagnosticado.

Discussão

A hipocondria está incluída nos transtornos

somato-formes (DSM-IV), caracterizados pela presença de sintomas físicos que sugerem uma condição médica geral, mas que

não são explicados por uma condição clínica, por efeito

de substâncias ou por um outro transtorno mental, distin

-guindo-se dos demais transtornos somatoformes quando

a idéia de ter uma doença grave ocorrer não somente no

curso do transtorno de somatização (DSM-IV). O diagnóstico

de hipocondria vem sendo discutido por diversos autores

em estudos clínicos e pesquisas sistemáticas que utilizam escalas apropriadas (Hiller et al., 2005; Noyes et al., 2003; Longley, 2005).

Um estudo de prevalência em três grandes capitais

brasileiras mostra que o transtorno somatoforme acomete mais mulheres do que homens: 5,2: 1 (Brasília); 4,3: 1 (São

Paulo) e 2,3: 1 (Porto Alegre) entre mulheres e homens, respectivamente (Naomar et al., 1997). Num estudo realizado

no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF),

(3)

Dib M & Valença AM

84 J Bras Psiquiatr, 55(1): 82-84, 2006

A distinção entre transtornos de ansiedade e somati-zação pode ser muito difícil. No TP podem ocorrer sintomas

somáticos múltiplos, mas isto deve ocorrer durante o ataque de pânico. O TP pode coexistir com transtornos somatoformes quando os sintomas somáticos ocorrerem fora dos ataques de pânico, situação em que ambos os diagnósticos podem ser feitos (Hiller et al., 2005).

A hipocondria e o TP envolvem uma preocupação excessiva com doenças físicas, atenção seletiva corporal,

interpretações catastróficas de sinais ou sensações corporais

como alguma doença grave e comportamentos repetidos de verificação da saúde, como pode ser visto no caso relatado. A co-morbidade entre TP e hipocondria parece ser maior

que o esperado ao acaso, e, ao contrário do TP, onde as preocupações sobre a sintomatologia física tendem a desa -parecer com o controle das crises, no curso da hipocondria

essas preocupações são geralmente de caráter crônico e

intermitente (Shinoda et al., 1999; Katerrndahl, 1999; Torres

et al., 2002). No caso da paciente, suas preocupações com

seu estado de saúde parecem extrapolar o TP, apesar do

controle da sintomatologia da doença, necessitando de uma abordagem específica.

Conclusão

Um manejo diferencial desses pacientes é necessário, pois a relação médico/paciente fica comprometida pela falta de confiança do paciente em função do prejuízo da crítica, pela

dificuldade de delegar o controle ao médico, pela vigilância desses pacientes nas manifestações somáticas e nos efeitos

colaterais dos medicamentos e também pela inabilidade do médico em lidar com pessoas com sinais e sintomas somáticos funcionais diversos (Shinoda et al., 1999; Katerrndahl, 1999; Mayou, Farmer, 2002; De Waal, 2004). São fundamentais a

detecção e a abordagem adequada desses casos difíceis para que se elabore um vínculo com o paciente e a estraté

-gia terapêutica adequada a fim de evitar o uso excessivo e

iatrogênico dos serviços de saúde (Noyes et al., 2003; Bass e May, 2005), evitando assim o retardo no diagnóstico e no

tratamento adequado.

Referências

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Barsky AJ. The patient with hypochondriasis. N Engl J Med, 345: 1395-99, 2001.

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IPUB/UFRJ, Rio de Janeiro.

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Reduz a depressão associada a insônia

e ansiedade, melhorando a adesão ao tratamento

1, 2, 3, 4

Dos pacientes deprimidos

Até

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%

apresentam insônia

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Até

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%

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Paciente

DIA

é aquele com

D

epressão

associada a

I

nsônia e

A

nsiedade

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1.Venegas M., Quiroga F., Iglesias G.; Effect of mirtazapine on chronic insomnia of depressivew patients with anxiety symptoms: correlation with serum cortisol levels; APA; 2005; Poster 2.Nutt DJ; Care of depressed patients . with anxiety symptoms; J Clin Psychiatry; 1999; 60 Suppl 17:23-7; discussion 46-8 3.Pablo Arancibia et al; Mirtazapine orlly disintegrating tablet for the treatment of depressive patients with insomnia and anxiety symptoms; ECNP, 2005; Poster 4.A.Delini-Stula et al; Antidepressant efficacy and patient’s acceptance of a new formulation of mirtazapine (Remeron SolTab) in depressed patients in dayly practice; APA 2005; Poster.

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