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Impacto da fasciolose em inspeção higio-sanitária de bovinos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO-DOURO

Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de

Bovinos

ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

ORIENTADORA

Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO-DOURO

Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de

Bovinos

ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

ORIENTADORA

Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves

COMPOSIÇÃO DO JÚRI

Presidente: Doutor Nuno Francisco Fonte Santa Alegria

Vogal: Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves

Vogal: Doutora Maria Madalena Vieira Pinto

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iii DECLARAÇÃO:

NOME: ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO C.C.: 13622066

TELEMÓVEL: (+351) 910628646

CORREIO ELECTRÓNICO: ajgaviao@hotmail.com

DESIGNAÇÃO DO MESTRADO: MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA: Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de Bovinos

ORIENTADOR:

Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves

ANO DE CONCLUSÃO: 2013

Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal e das orientações dos meus supervisores. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.

VILA REAL, OUTUBRO, 2013 ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO

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v Agradecimentos

À minha família, em especial aos meus pais e irmão, pelo apoio incondicional, sem eles nada seria possível.

Aos meus queridos Twix’s: Catarina Gonçalves, Cláudia Morgado, Daniel Costa, Helder Valente, Joana Sousa, Paulo Afonso, Pedro Barbosa, Ricardo Silva, pela amizade, companheirismo e por tudo o que vivemos.

À minha orientadora Professora Doutora Alexandra Esteves por todo o apoio prestado na realização deste trabalho.

Ao Dr. Pedro Lopes por toda a atenção que teve comigo, ajuda e acompanhamento ao longo do estágio no Matadouro de Aveiro.

A todo o corpo de inspeção sanitária do Matadouro de Aveiro: Álvaro Baptista, Ana Neves, António Luzio, Graça Amaral, Joana Vaz, Juan Pisano, Susana Ferreira, por todo o apoio e carinho que demonstraram.

À minha Rita, à minha Tininha e ao meu Prina por tudo, por me aturarem, por me apoiarem e por estarem sempre presentes.

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vii Resumo

A fasciolose é uma das infeções por trematodes mais presentes em ruminantes em todo o mundo. A Fasciola hepatica é um antigo parasita que convive com o homem e animais desde cerca do ano 3500 a.C..

O clima em Portugal favorece o desenvolvimento da Fasciola hepatica que exibe preferência para as áreas ao redor dos grandes rios como o Tejo, Douro, Vouga e Minho.

Segundo estudos, em casos de fasciolose, a eficiência produtiva dos bovinos com infeções suaves diminui 8% e em infeções graves pode diminuir cerca de 20% da produção.

A fasciolose hepática é uma doença comum em bovinos, caprinos e ovinos, também pode infetar porcos, coelhos, equinos e outros mamíferos. Em zonas endémicas é comum encontrar taxas de infeção superiores a 30% ou 50%.

Os mamíferos são infetados quando se alimentam em pastagens contaminadas. A infeção ocorre através da ingestão de metacercárias localizadas sobre a superfície das plantas ou em suspensão na água.

Neste trabalho são apresentados os dados recolhidos acerca dos casos de fasciolose diagnosticados ao longo de quatro meses no matadouro de Aveiro, tendo em consideração o distrito de proveniência dos animais, os meses de maior prevalência, as idades dos bovinos afetados e é apresentado também uma estimativa do valor económico perdido devido à reprovação dos fígados com fasciolose.

Num estágio realizado durante os meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro no Matadouro da Beira Litoral, a principal causa de reprovações de fígados de bovino foi devido a lesões causadas por parasitas, com uma prevalência de fasciolose de 1,97% (para um total de 3253 bovinos abatidos). As lesões observadas causadas por Fasciola hepatica foram: espessamento dos canais biliares, fibrose hepática, focos necróticos, colangite, aumento dos gânglios linfáticos e presença de fascíolas.

Os animais abatidos eram originários de vários distritos do país, embora a grande maioria fosse proveniente do distrito de Portalegre, Aveiro e Coimbra. A maioria dos casos de fasciolose pertencia a animais provenientes de Aveiro, Coimbra e Viseu.

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O valor da perda pela reprovação dos fígados com fasciolose foi estimado em 1997€. Trata-se de um valor elevado, tendo em conta que se contabilizou apenas os casos de quatro meses e considerando que se trata de uma doença debilitante que apresenta perdas económicas em todas as etapas de produção animal.

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ix Abstract

The fasciolosis is one of the infections of trematodes most present in ruminants around the world. The Fasciola hepatica is an old parasite that coexists with man and animals since about the year 3500 b.C.

The portuguese weather promotes the development of Fasciola hepatica which shows preference for areas around big rivers such as the Tejo, Douro, Minho and Vouga.

According to an estimate, in cases of fasciolosis, the productive efficiency of cattle with soft infections fell by 8% and severe infections decreased more than 20% of production.

The fasciolosis is a common disease in cattle, sheep and goats, can also infect pigs, rabbits, horses and other mammals. At endemic areas is common to find infection rates above 30% or 50%.

Mammals are infected when they feed on contaminated pastures. Infection occurs by ingestion of metacercariae located on plant surfaces or in suspension in water.

This work presents the data collected about the cases of fasciolosis diagnosed over four months in the slaughterhouse of Aveiro, taking into consideration the geographic origin of the animals, the months of highest prevalence, the cattle ages affected, and is also presented an estimate of the economic value that was lost due to the rejection of the livers with fasciolosis.

During the months of November December January and February at the slaughterhouse Matadouro da Beira Litoral, the main cause of failures of bovine livers was due to injuries caused by parasites, with a prevalence of fasciolosis of 1.97% (for a full 3253 cattle slaughtered). The lesions caused by Fasciola hepatica were: thickened bile ducts, hepatic fibrosis, focal necrosis, cholangitis, enlarged lymph nodes and presence of flukes.

The slaughtered animals were from various regions of the country, although most had its origin in Portalegre, Aveiro and Coimbra. Most cases of fasciolosis originated in the districts of Aveiro, Coimbra and Viseu.

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The value of the loss by rejection livers with fasciolosis was estimated at €1997. This is a high value, in view that was only counted the cases during four months and considering that it is a debilitating disease that causes economic losses in all stages of animal production.

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xi Índice geral Agradecimentos ... v Resumo ... vii Abstract ... ix Índice geral ... xi Índice de figuras ... xv Índice de mapas ... xv Índice de fotografias ... xv

Índice de tabelas ... xvi

Índice de gráficos ... xvi

Lista de abreviaturas e siglas ... xvii

CAPÍTULO I ... 1 1. Introdução ... 1 2. História ... 3 3. Fasciolose no mundo ... 5 3.1. Fasciolose em Portugal ... 6 4. Impacto económico ... 8

5. Fasciolose nos animais ... 9

5.1. Distribuição geográfica ... 9

6. Distribuição geográfica da fasciolose humana ... 11

7. Taxonomia ... 12

8. Ciclo Biológico ... 13

8.1. Ovos ... 13

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xii 8.3. Esporocisto ... 15 8.4. Rédia ... 15 8.5. Cercárias ... 16 8.6. Metacercárias ... 17 8.7. Forma Imatura ... 17 8.8. Adulto ... 17 9. Morfologia ... 19 10. Ecologia ... 20 11. Hospedeiro Intermediário ... 23 12. Hospedeiros Definitivos ... 24 13. Dicrocoelium dendriticum ... 25

14. Patogenicidade e Sinais Clínicos da Fasciolose nos animais ... 26

15. Fontes de infeção ... 28

16. Diagnóstico ... 28

17. Tratamento e profilaxia ... 29

18. Fasciolose hepática no homem ... 31

18.1. Prevalência da Fasciolose no homem ... 31

18.2. Patogenicidade e Sintomatologia no Homem ... 32

18.3. Fonte de infeção e modo de transmissão ... 32

18.4. Prevenção e controlo ... 33

19. Objetivos ... 34

20. Material e métodos ... 34

21. Matadouro de Aveiro ... 34

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22.1. Inspeção sanitária no abate de bovinos ... 35

22.1.1. Receção de Animais e Controlo Documental ... 35

22.1.2. Inspeção ante mortem ... 36

22.1.3. Inspeção post mortem ... 36

23. Lesões hepáticas encontradas ... 37

23.1. Lesões causadas por Fasciola hepática ... 38

24. Decisão Sanitária ... 41

25. Distritos de origem dos Bovinos abatidos ... 43

26. Distribuição geográfica dos casos de fasciolose ... 44

27. Distribuição dos casos de fasciolose por idades ... 46

28. Custos diretos da reprovação de fígados por fasciolose ... 46

29. Discussão ... 47

30. Conclusão ... 49

BIBLIOGRAFIA ... 51

Anexo 1 – Reprovações totais ... 60

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xv Índice de figuras

Figura 1 - Ovo de F. hepatica ... 14

Figura 2 – Miracídio ... 14

Figura 3 - Rédias ... 15

Figura 4 - esquema de uma cercárias de Fasciola hepatica.. ... 16

Figura 5- Fasciola hepatica na forma adulta. ... 18

Figura 6 - ciclo biológico de Fasciola hepatica. ... 18

Figura 7 - Fasciola hepatica adulta... 20

Figura 8 -Hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica.. ... 24

Figura 9 - Vesícula biliar de pequeno ruminante parasitado por Dicrocoelium dendriticum .. 26

Figura 10 - Imagem histológica de jovem parasita em migração no parênquima hepático. .... 28

Índice de mapas Mapa 1- Países com casos de fasciolose relatados. ... 10

Mapa 2 - Número de casos de fasciolose hepática e a sua distribuição pelos distritos de Portugal. ... 45

Índice de fotografias Fotografia 1 - Fígado de bovino com fasciolose ... 39

Fotografia 2 - Fígado de bovino com fasciolose. Canal biliar proeminente ... 39

Fotografia 3 - Fígado de bovino com fasciolose. Colangite ... 40

Fotografia 4 - Fígado de bovino com fasciolose. Aumento dos gânglios linfáticos ... 40

Fotografia 5 - Fasciola hepatica no exterior de fígado de bovino ... 41

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Fotografia 7 – Suíno com mamite necrótica ... 62

Fotografia 8 – Suíno com osteomielite purulenta e abcesso ... 63

Fotografia 9 – Bovino com Poliartrite ... 63

Fotografia 10 – Pormenor de artrite em bovino ... 64

Fotografia 11 – carcaça de bovino hidroémica ... 64

Fotografia 12 – Pormenor de carcaça de bovino hidroémica ... 65

Fotografia 13 – Suíno com massa tumoral no rim direito ... 65

Índice de tabelas Tabela 1 - Prevalência de fasciolose no matadouro de Aveiro nos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003 ... 7

Tabela 2 - Número de bovinos abatidos por distrito e mês ... 43

Tabela 3- Número de reprovações totais de bovinos, pequenos ruminantes e suínos nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro ... 60

Tabela 4 – Causas de reprovações totais no abate de bovinos ... 60

Tabela 5 – Causas de reprovações totais no abate de pequenos ruminantes ... 60

Tabela 6 – Causas de reprovações totais em suínos ... 61

Índice de gráficos Gráfico 1 – Causas de reprovação de fígados de bovino em matadouro ... 37

Gráfico 2 - Número de casos de fasciolose em cada mês ... 44

Gráfico 4- Distritos com valores em percentagem dos casos de Fasciola hepatica ... 45

Gráfico 5 - Valores em percentagem de bovinos com fasciolose com idade inferior a 24 meses, com idade entre 24 meses e 72 meses e, com mais de 72 meses de idade ... 46

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xvii Lista de abreviaturas e siglas

% - Percentagem

€ - Euro

µm - micrómetro

a.C. – Antes de Cristo

ALT - Alanina aminotransferase

AST – Aspartato aminotransferase

CE – Comunidade Europeia

D.D.O. – Doença de declaração obrigatória

DIV – Divisão de Intervenção Veterinária

et al. – e outros

EUA – Estados Unidos da América

F. hepatica – Fasciola hepatica

IRCA – Informação Relativa à Cadeia Alimentar

Kg – Quilograma

L - litro

MBL – Matadouro da Beira Litoral

mg – miligrama

ml – mililitro

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xviii Nº - Número

ºC – Graus celsius

WHO – World Health Organization

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1 CAPÍTULO I

1. Introdução

A fasciolose é uma das infeções por trematodes mais presentes em ruminantes em todo o mundo, causando morbilidade, mortalidade e problemas socioeconómicos consideráveis (Okewole et al., 2000). A fasciolose é uma doença parasitária causada pelo trematode Fasciola hepatica e é considerada uma zoonose de origem alimentar a nível internacional com impacto na saúde pública, que, em comparação com outras doenças, tem sido um pouco negligenciada (Barriga, 2003).

Embora a Fasciola hepatica tenha uma maior prevalência em países com climas temperados (Mas-Coma, 2005), de acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO) em 2007 a infeção, que no passado estava limitada a áreas geográficas específicas e típicas, agora está difundida por todo o mundo cada vez com mais casos humanos relatados pela Europa, América, Oceânia, África e Ásia. A fasciolose, deve então ser considerada como uma zoonose de grande importância regional e global (Maha et al., 2008).

Sem dúvida, a compreensão da epidemiologia da fasciolose e os fatores que afetam a sua incidência são o pilar sobre o qual devem ser estabelecidos programas de prevenção e controlo eficazes (Maha et al., 2008).

Para uma erradicação eficaz da fasciolose é extremamente importante compreender todos os aspetos relacionados com a sua biologia. Os programas de controlo devem ter em consideração também a diversidade genética do parasita evitando as resistências aos fármacos anti-helmínticos (Santos, 2012).

O impacto económico das zoonoses em geral é observado principalmente na produtividade, no declínio do turismo, diminuição da produção pecuária, morte e eliminação dos animais afetados e as restrições do comércio internacional (Barriga, 2003).

Este parasita trematode provoca efeitos devastadores na saúde animal, humana e a nível socioeconómico. Num estudo realizado em 2005, estimou-se que perto de 600 milhões de

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animais e 2,4 milhões de pessoas de 61 países espalhados por todo o mundo sofrem de fasciolose com perdas económicas estimadas em 3200 milhões de dólares americanos por ano (cerca de 2400 milhões de euros) (Mas-Coma, 2005).

Também no Egito, a fasciolose animal e humana é um problema clínico e epidemiológico de saúde pública. Segundo a Egyptian Academy of Scientific Reserch on Technology Report, as perdas anuais devido à fasciolose animal no Egito foram estimadas em 190 milhões de libras egípcias, o que equivale a cerca de 20 milhões de Euros (Maha et al., 2008).

As perdas económicas relacionadas com a fasciolose devem-se à morbilidade, à taxa de crescimento reduzia, a reprovações dos fígados nos matadouros, aumento da suscetibilidade a infeções secundárias e doenças metabólicas, perda de peso, anemia e diminuição da produção de leite (e a sua qualidade) diminuição da eficiência reprodutiva e em alguns casos a mortalidade dos animais ( Loyacano et al., 2002).

O recente aumento de casos, nos últimos anos, tem sido devido às mudanças climáticas. Pois a humidade e temperatura tem impacto direto nos vários estágios do parasita e dos seus hospedeiros intermediários, tendo influência na eficácia da transmissão (Fox et al., 2011).

Infelizmente, os estudos epidemiológicos existentes não cobrem toda a distribuição geográfica da doença e portanto, os valores de prevalência de fasciolose em animais são ainda imprecisos (Mas-Coma, 2005).

Existem vários métodos de controlo contra a Fasciola hepatica e podem ser utilizados de forma independente ou conciliando vários métodos, como a redução do hospedeiro intermediário, tratamentos de água, químicos contra os moluscos adultos (WHO, 2007).

Assim, a fasciolose não é mais considerada apenas como uma zoonose secundária, é agora reconhecida como uma doença humana emergente ou re-emergente em vários países (Mas-Coma, 2004).

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3 2. História

A F. hepatica é um antigo parasita que convive com o homem e animais desde cerca do ano 3500 a.C.. Foram encontrados ovos de Fasciola em cropólitos humanos duma população da idade da Pedra, que viveu no período Mesolítico e Neolítico, um período marcado pela domesticação dos animais e o desenvolvimento da agricultura (Aspöck, et al., 1999; Bouchet, 1997; Dittmar e Teegen, 2003).

A primeira referência de fasciolose na literatura está contida no Livro Negro de Chirk (manuscrito em idioma galês do século XIII, conhecido também por Chrik Codex e trata de assuntos legais e históricos), publicado por volta do ano de 1200, em que mencionou a doença em ovinos (Froyd, 1969).

A Fasciola hepatica foi observada pela primeira vez em França por Jean de Brie em 1379. Brie referiu a doença como “podridão do fígado” em ovelhas, mas ele não considerou a Fasciola como sendo o agente etiológico da doença, em vez disso, pensou tratar-se de uma consequência de substâncias tóxicas produzidas por certas plantas consumidas pelas ovelhas. No entanto, estas considerações foram importantes uma vez que foram as primeiras considerações feitas sobre um trematode (Andrews, 1999).

No século XVI a fasciolose apareceu na forma de epidemia por toda a Europa, sendo a Holanda e Alemanha os países mais atingidos. O primeiro esboço de uma Fasciola hepatica adulta foi em 1668 por Francesco Redi, que, ao demonstrar que os parasitas põem ovos, Redi destruiu a falsa doutrina da geração espontânea (Mufti, 2011).

A primeira descrição patológica da doença até à altura ainda designada por “podridão do fígado” foi feita em 1755 por Frank Nicholls, um médico que relatou a calcificação dos ductos biliares em bezerros infetados com Fasciola hepática (Mufti, 2011).

Em 1758, Linnaeus identificou a Fasciola hepatica, que em latim “Fasciola” significa faixa ou pequena ligadura e “hepatica” significa fígado (Mufti, 2011).

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Muller em 1773, observou vários tipos diferentes de cercárias nadando na água, mas não encontrou evidências significativas que pudesse relaciona-los com estágios intermediários de parasitas. Mais tarde, em 1803, Johann Zeder relatou a observação da eclosão de ovos de diferentes espécies de trematodes e observou um miracídio em liberdade dentro de água. Christian Nitzsch, em 1807 referiu pela primeira vez, o enquistamento de cercárias. A próxima observação relevante foi em 1818 por Ludwig Bojanus que descobriu as fases de rédia de outros trematodes, pois infelizmente não trabalhava com Fasciola hepatica (Andrews, 1999).

Apesar de todos os avanços, só em meados do século XIX é que a maioria do ciclo de vida foi compreendido.

O alemão David Weinland, em 1875, foi a primeira pessoa a suspeitar que os estágios larvais da Fasciola hepatica ocorrem no hospedeiro intermediário Lymnaea truncatula. Ele verificou que as cercarias enquistam na vegetação aquática presente, a fim de serem ingeridas por ovelhas. Adolpho Lutz, em 1892, infetou com sucesso vários animais herbívoros ao juntar metacercárias no alimento que foi distribuído aos animais, o que veio confirmar que os mamíferos adquirem os parasitas pela ingestão de metacercárias enquistadas nas ervas das quais se alimentam (Andrews, 1999).

A última peça que faltava no ciclo biológico foi descoberta por Dimitry Sinitsin em 1914, que provou que os jovens parasitas, após a libertação dos quistos no intestino delgado no hospedeiro definitivo, penetram na parede do intestino e migram para o fígado através da cavidade peritoneal (Andrews, 1999).

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5 3. Fasciolose no mundo

A fasciolose humana e animal causada pelo parasita Fasciola hepatica ocorre em todo o mundo. No entanto, enquanto que a fasciolose animal ocorre principalmente em países com altas produções de gado bovino e ovino, a fasciolose humana ocorre principalmente em países em desenvolvimento com menos condições de higiene e com hábitos na população que favorecem a infeção (Togerson e Claxton, 1999).

A análise global da distribuição de casos humanos, mostra que a correlação esperada entre fasciolose animal e a fasciolose humana só aparece a um nível básico. Embora seja verdade que a infeção humana não é rara em áreas onde estão presentes herbívoros domésticos infetados. Altas ou baixas prevalências humanas não estão relacionadas com prevalências altas ou baixas de origem animal, respetivamente (Mas-Coma, 2005).

A classificação epidemiológica de fasciolose inclui dois grandes grupos, áreas onde a fasciolose é endémica e áreas onde a fasciolose é esporádica (Mas-Coma, 2004).

Áreas esporádicas, como o próprio nome indica, são aquelas onde relatos de casos humanos e/ou de animais aparecem sem qualquer constância podendo existir relatos de casos num ano e nos anos posteriores não existir casos de fasciolose identificados (Mas-Coma et al., 1999a).

Áreas endémicas podem ser hipoendémicas, com uma prevalência de menos de 1%, mesoendémicas com uma prevalência de 1 a 10% e hiperendémicas com uma prevalência de mais de 10% (Mas-Coma et al., 1999a).

Assim, elevadas prevalências em humanos não são necessariamente encontradas em áreas onde a fasciolose é um grande problema veterinário. Por exemplo, na América do Sul, as áreas hiperendémicas e mesoendémicas em humanos encontram-se principalmente na Bolívia e Perú, onde o problema veterinário é menos relevante do que em países como o Uruguai, Argentina e Chile, onde fasciolose humana é apenas esporádica ou hipoendémica (Esteban et al., 1997). Outro exemplo é dado por Chen que em 1991 na China, onde a infeção animal é frequente, apenas 44 casos humanos foram reconhecidos (Chen, 1991).

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6 3.1. Fasciolose em Portugal

Em Portugal, a Fasciola hepatica pode ser encontrada praticamente por todo o país. Existem relatos de bovinos infetados de norte a sul, Açores e Madeira (Ferreira e Oliveira 1969; Rombert, 1991).

O clima em Portugal favorece o desenvolvimento e propagação da Fasciola hepatica. As temperaturas amenas e a humidade permitem o desenvolvimento saudável dos ovos e a humidade presente nos meses de inverno promove a abundância do seu hospedeiro intermediário, Lymnaea truncatula. A Fasciola exibe uma preferência para as áreas ao redor dos grandes rios como o rio Tejo, Douro, Minho e Vouga. Também está presente em alguns microclimas no Alentejo, Beira Litoral e Algarve (Grácio, 1985; Rombert et al., 1991).

A Fasciola hepatica afeta principalmente ovelhas, seguido de bovinos, suínos e caprinos. Numa escala menor, também afeta cavalos, mulas, burros e roedores (Ferreira e Oliveira, 1960).

Sousa estudou a presença de Fasciola hepatica em animais selvagens, como javalis e veados na Tapada nacional da Mafra, observando as formas adultas nos fígados dos animais. Referiu existir um aumento de casos de parasitismo entre 1992 e 2000 (Sousa, 2001).

Numa análise comparativa com base nos dados das Divisões de intervenção Veterinárias (DIV) de Viseu, Coimbra e Leiria, foi demonstrado que a maioria dos bovinos com fígados reprovados devido a fasciolose eram originários de Aveiro e Coimbra (Conceição, 2001).

Em Portugal, o homem é um hospedeiro acidental e os relatos de fasciolose no homem são escassos. No entanto, é sabido que a fasciolose humana está particularmente presente nas regiões do norte de Portugal (Sampaio, 1986). O 1ºcaso relatado de fasciolose humana em Portugal foi em 1948, e até 1991 um total de 140 casos terão sido diagnosticados no país (Rombert et al., 1991).

A maioria dos casos registados durante o ano de 1990, ocorreram na região centro do país, como consequência de um surto no Ribatejo. Os primeiros casos começaram a aparecer nos meses de fevereiro e março, ou janeiro e fevereiro, o que corresponde a um desenvolvimento

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de Fasciola hepatica a partir de novembro do ano anterior (Rombert e Grácio, 1990). O que coincide com as fortes chuvas típicas deste período do ano (Rombert et al., 1991).

Em relação à Fasciolose animal, tem-se constatado a sua presença constante nos bovinos abatidos, referido ao período de entre 2000 e 2003 (tabela 1). No trabalho realizado por Costa (2007) em que houve registo de rejeição de fígados por fasciolose, 2001 foi o ano com a proporção mais elevada (5,11%), facto que estará relacionado (entre outras causas) com a temperatura e humidade ocorridas no ano anterior, de muitas chuvas, o que propicia o desenvolvimento do ciclo do parasita. Nos últimos dois anos da análise, verificou-se uma redução da prevalência de fasciolose, aferida a nível do matadouro, provavelmente por alterações das condições climáticas (anos mais secos) (Costa, 2007).

Ano Bovinos abatidos Total de fígados reprovados Fígados reprovados por Fasciola hepatica Prevalência de Fasciola hepatica (%) 2000 11268 1443 498 4.41 2001 10012 1519 512 5.11 2002 11716 1632 553 4.72 2003 15101 2167 560 3.70 Tabela 1 - Prevalência de fasciolose no matadouro de Aveiro nos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003 (Adaptado de Costa, 2007. Fonte: Inspeção sanitária)

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8 4. Impacto económico

A ocorrência de uma doença num efetivo, seja ela qual for, tem sempre associada a si um elevado impacto económico, através da redução no volume de produção, redução na qualidade do produto final, ineficácia na utilização dos fatores de produção, custos associados à prevenção e/ou ao controlo da doença, custos na Saúde Pública associados à presença e ao seu controlo, impacto negativo no bem-estar animal, restrições internacionais de circulação do produto devido à presença da doença e aos métodos de controlo implementados (Bennett, 2003).

Numa situação de doença, os animais produzem aquém do seu real potencial genético, por diversos fatores, como ingestão alimentar, digestibilidade alimentar, índice de conversão, produção de leite, entre outros aspetos que são afetados pela doença (Howe e Christiansen, 2004).

A presença de uma doença num efetivo pode ter efeitos não só na produção mas também no valor final dos produtos de origem animal, assim como a necessidade de um maior investimento para obter o rendimento pretendido. Por exemplo, quando por doença há uma diminuição na produção de leite, leva a maiores custos com despesas veterinárias, mais alimento para atingir o mesmo ganho de peso vivo, mais inseminações artificiais para atingir uma gestação e, tudo isto exige um maior tempo despendido, obtendo a mesma quantidade de produção, o que equivale a consideráveis perdas económicas (Costa, 2007).

Segundo uma estimativa, em casos de fasciolose, a eficiência produtiva dos bovinos com infeções suaves diminui 8% e em infeções graves diminui mais de 20% da produção (Costa, 2007).

Em ovelhas, a perda na produção de lã pode variar entre 20 a 39%. As perdas são a vários níveis, no atraso do desenvolvimento, na redução da produção de lã, no leite, carne, a diminuição do valor dos fígados no mercado e a sua rejeição para consumo. Para além disso, a infeção de parasitas nos animais permite a proliferação de Clostridium novyi que pode originar hepatite infeciosa necrótica. (Srihahim e Pholpark, 1991).

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Num estudo feito em 2007 no concelho de Vagos (Aveiro), foram estimadas as perdas diretas pela rejeição dos fígados em matadouro devido a fasciolose, para um ano de baixa prevalência o valor do prejuízo seria de 1175€ enquanto que num ano de elevada prevalência de fasciolose o valor quase duplicaria para 2263€, para um total de 1748 bovinos com origem no concelho de Vagos (Costa, 2007).

5. Fasciolose nos animais

A fasciolose hepática é uma doença comum em bovinos, caprinos e ovinos em muitas partes do mundo. Também pode infetar porcos, coelhos, equinos e outros mamíferos. As taxas de morbilidade e mortalidade variam consoante a região geográfica. Em zonas endémicas é comum encontrar taxas de infeção superiores a 30% ou 50% (Barriga, 2003).

5.1. Distribuição geográfica

A Fasciola hepatica tem uma distribuição mundial em ruminantes, suínos, cavalos e ocasionalmente em humanos, nas zonas temperadas onde haja criação de ruminantes e exista um ambiente favorável ao desenvolvimento do hospedeiro intermediário e das cercárias. Este parasita é mais comum nos trópicos como Africa, Ásia menor e Sudeste asiático, sul da europa, Havai e EUA (Barriga, 2003).

Devido à capacidade de colonização dos hospedeiros intermediários e à capacidade dos parasitas infetarem uma grande variedade de hospedeiros definitivos, a Fasciola hepatica é um parasita bem sucedido na sua expansão da área geográfica original, podendo ser encontrada em praticamente todas as regiões de clima temperado (Andrews, 1999; Mas-Coma e Bargues, 1997).

Este parasita é capaz de sobreviver em zonas de baixas altitudes assim como sobreviver em zonas de grande altitude como os Andes da Bolívia, Perú e Venezuela (Ashrafi, et al., 2007; Mas-Coma, 2003).

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Devido a esta enorme capacidade de adaptação, a Fasciola hepatica é o parasita com uma distribuição geográfica com maior latitude, longitude e altitude atingidas (Mas-Coma et al., 2003).

Infeções com Fasciola hepatica foram relatadas nos seguintes países (mapa 1): no Canadá, Estados Unidos da América, México, Porto Rico, Jamaica, Cuba, Bolívia, Perú, Equador, Uruguai, Argentina, Chile, Brasil, Venezuela, Colômbia, França, Espanha, Portugal, antiga União Soviética, Turquia, Reino Unido, Irlanda, Suíça, Itália, Holanda, Alemanha, Áustria, Polónia, Egito, Quénia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Etiópia, Tanzânia, Zimbabué, Zâmbia, África do Sul, Rússia, Irão, Japão, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Austrália, Nova Zelândia (Esteban et al., 1998; Mas-Coma, 2005; Yilmaz e Godemerdan, 2004).

Mapa 1- Países com casos de fasciolose relatados (pontos laranja) (adaptado, dados de Esteban, 1998; Mas-Coma, et al., 2005; Yilmaz e Godemerdan, 2004).

Em 2007, as autoridades veterinárias nas Filipinas diagnosticaram um nível de infeção de 89,5% na pecuária, o que representou um aumento repentino de casos positivos devido às condições meteorológicas instáveis na zona (Sarmiento, 2007).

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O planalto andino compreende uma região fortemente afetada pela fasciolose. De facto, no Chile, Bolívia e Perú, a incidência de Fasciola hepatica pode variar de 87% em ovinos, 66,6% em bovinos, 27,1% em suínos e 15,4% em burros (Grock, et al., 1998; Mas-Coma, 1998). Na província de Jujuy na Argentina, 80% dos lamas foram considerados infetados com Fasciola hepatica (Cafrune et al., 1996).

A ocorrência de fasciolose em países europeus também é notável. Espanha (29,5%), Irlanda (45%), Reino Unido (10%) e Portugal são países com alta frequência de infeções de Fasciola hepatica e os principais animais infetados são bovinos, ovinos e caprinos (Togerson e Claxton, 1999). Curiosamente na Córsega, Itália, existem habitats em que os seres humanos são contaminados, mas os hospedeiros definitivos principais (herbívoros mamíferos) não estão presentes. Nesses lugares, Rattus rattus (ratazana preta) tem demonstrado ser o principal reservatório com altos valores de prevalência da Fasciola hepatica até cerca de 45,1% (Mas-Coma et al., 2003).

6. Distribuição geográfica da fasciolose humana

Entre 1972 e 1997 foram relatados 7071 casos de fasciolose em humanos em 51 países por todos os continentes, 2951 na Europa, 3267 na América, 354 na Ásia, 487 na África, 12 na Oceânia. Números, que apenas se referem aos casos relatados, que na realidade terão sido, sem dúvida, muito maior do que o reportado (Esteban et al., 1998).

A análise da distribuição geográfica mundial mostra não haver relação direta com as áreas de maior prevalência da fasciolose em veterinária. Existem várias limitações no processo de contagem de casos e a sua distribuição geográfica, pois muitos casos diagnosticados são apenas relatados em publicações internas com uma difusão muito limitada. Outro aspeto é a dificuldade do diagnóstico da doença que em muitos casos é assintomática ou os sintomas e sinais não são patognomónicos, sendo assim, o número real de casos humanos é muito maior do que o relatado (Esteban et al., 1998).

Um total de 2951 casos diagnosticados na Europa, de acordo com Esteban e colaboradores, (1997) Portugal é um dos países com maior número de casos relatados, juntamente com os

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países vizinhos Espanha e França, nos restantes países os casos parecem ser bastante esporádicos.

Em Portugal a doença atinge valores relevantes sendo o norte do país considerando com zona endémica. Sampaio Silva em 1991 referiu a 561 casos em apenas três cidades no norte de Portugal. Num relatório mais recente, o mesmo autor ( Sampaio Silva, 1996), faz referência a 1011 casos diagnosticados num laboratório do Porto entre os anos de 1970 e 1992 (Chen e Mott, 1990).

7. Taxonomia

De acordo com Lofty et al (2008), a classificação taxonómica do parasita Fasciola hepatica é a seguinte:

Filo: Platyhelminthes

Subphylum: Neodermata

Classe: Trematoda (Rodolphi, 1808)

Subclasse: Digenea (Van Beneden, 1858)

Superordem: Anepitheliocystida

Ordem: Echinostomida

Subordem: Echinostomata

Superfamília: Echinostomatidea

Família: Fasciolidae (Railliet, 1895)

Género: Fasciola

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13 8. Ciclo Biológico

O ciclo de vida da Fasciola hepatica é heterogenético e complexo, envolve várias fases e dois hospedeiros, um hospedeiro definitivo mamífero e um molusco anfíbio como hospedeiro intermediário (figura 6) (Andrews, 1999).

Podem existir algumas variações nos ciclos de vida da Fasciola, particularmente em relação aos hospedeiros definitivos, mas os principais fatores que afetam o ciclo de vida tendem a ser a exigência de temperatura adequada e humidade suficiente (Andrews, 1999).

Como todos os trematodes (com exceção para o Schistosoma), a Fasciola hepatica é hermafrodita e a autofecundação é a forma mais comum de reprodução sexual. No entanto pode ocorrer, em situações de stresse, fecundação cruzada (Fletcher et al., 2004).

8.1. Ovos

A taxa de produção de ovos pode atingir os 20 mil a 50 mil por dia (Andrews, 1999). Os ovos têm uma forma oval, são colocados pelo parasita no sistema de ductos biliares do hospedeiro definitivo, passam para o duodeno com a bílis, de seguida, os ovos são libertados para o exterior com as fezes. Os ovos têm uma casca fina, e ainda não estão embrionados nesta fase (figura 1). Apesar da casca fina, são extremamente resistentes (Andrews, 1999).

O desenvolvimento embrionário inicia-se quando os ovos são libertados na água fresca e é regulado principalmente pela temperatura, humidade, luz e características químicas da água.

Os ovos podem resistir a temperaturas entre os 0º a 37ºC mas a temperatura ideal para o seu desenvolvimento é entre 15º a 25ºC. Geralmente, necessitam de 9 a 15 dias para a eclosão (Togerson e Claxton, 1999).

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Figura 1 - Ovo de F. hepatica (adaptado de www.rvc.ac.uk/review )

8.2. Miracídio

O miracídio é o 1º estádio larvar de vida livre e é um organismo que não se alimenta, por isso o tempo de vida é determinado pela quantidade de energia armazenada (Graczyk e Fried, 1999).

O miracídio é uma larva com cílios (figura 2) que nada vigorosamente até alcançar o processo papiliforme retrátil do hospedeiro intermediário, esta etapa é facilitada pela secreção de enzimas proteolíticas que são libertadas pelo hospedeiro intermediário (Simpkin et al., 1980 ; Smythe e Halton, 1983).

É urgente encontrar um hospedeiro intermediário, pois geralmente o miracídio apenas sobrevive 24 horas sem hospedeiro (Andrews, 1999).

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15 8.3. Esporocisto

Depois de penetrar no molusco, o miracídio perde os cílios e transforma-se num esporocisto de forma arredondada que migra pelo sistema digestivo do molusco (Smythe e Halton, 1983).

8.4. Rédia

O esporocisto dá origem a várias rédias por reprodução assexuada, através de divisões por mitose (figura 3). As rédias libertam-se do esporocisto (que posteriormente morre) e migram para o fígado e pâncreas do hospedeiro intermediário (Graczyk e Fried, 1999).

Normalmente cada esporocisto dá origem a 5 ou 8 rédias móveis. Sob condições adversas, a rédias atrasam o seu desenvolvimento e dão origem a uma segunda geração de rédias, também por mitose (Andrews, 1999).

Em condições adequadas as células germinativas das rédias desenvolvem-se e evoluem para cercárias (Andrews, 1999).

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16 8.5. Cercárias

A cercária é libertada em meio aquático quando a temperatura está acima dos 10ºC.

Todo o processo, desde a infeção do molusco até à libertação das cercárias dura normalmente 40 a 80 dias, dependendo da temperatura. Temperaturas mais elevadas reduzem o número de dias necessários (figura 4). (Andrews, 1999; Smythe e Halton, 1983).

Figura 4 - esquema de uma cercárias de Fasciola hepatica. 1- Ventosa oral, 2- esófago, 3- ventosa ventral, 4- células embrionárias, 5- cólon, 6- células flama, 7- túbulo excretor, 8- ducto descendente primário, 9- ducto ascendente, 10- ducto descendente principal, 11- vesícula excretora, 12- ducto excretor caudal. (Adaptado de:

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17 8.6. Metacercárias

Depois de sair do molusco, a cercária anexa-se à vegetação aquática presente. A cauda de cercária cai e as glândulas localizadas na lateral do corpo formam um quisto com quatro camadas. A formação da parede do quisto pode durar até dois dias. A metacercária é a forma infestante para o hospedeiro definitivo (Andrews, 1999).

A eclosão de um único miracídio pode produzir até 4000 quistos infestantes (metacercárias), devido à multiplicação nas fases esporocisto e rédia (Andrews, 1999).

Em condições adequadas (condições de elevada humidade e temperaturas amenas), as metacercárias conseguem sobreviver até 1 ano, mas em condições com baixa humidade, a capacidade de sobrevivência diminui (Suhardono et al., 2006).

8.7. Forma Imatura

Ao serem ingeridas juntamente com a vegetação, as metacercárias entram no intestino delgado do hospedeiro definitivo e perdem o quisto que as envolvia, libertando o parasita juvenil. O desenquistamento ocorre no duodeno devido às elevadas concentrações de dióxido de carbono e temperaturas de 39ºC (Andrews, 1999), a presença da bílis, sais biliares e sucos gástricos também proporcionam a destruição do quisto e a libertação do parasita (Mulcahy et al., 1999).

Os parasitas imaturos penetram na parede intestinal e entram na cavidade peritoneal, no prazo de 24 horas, a partir daí, vão para o fígado onde migram por todo o parênquima hepático consumindo células hepáticas e sangue durante cerca de 6 semanas até que encontram os ductos biliares (Andrews, 1999).

8.8. Adulto

Após cerca de 4 semanas nos ductos biliares, os parasitas atingem a maturidade sexual, geralmente dentro de 3 semanas após a infeção inicial (figura 5). A Fasciola fixa-se nas paredes dos ductos o que causa desgaste do epitélio e rutura dos vasos sanguíneos (Dawes, 1963).

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A infeção tem um período pré-patente de 8 a 12 semanas, podendo manter-se durante anos (Ballweber, 2001). Ocasionalmente podem ocorrer infeções ectópicas, podendo parasitas serem encontrados em quase todos os órgãos (Mas-Coma et al., 1999b).

Figura 5- Fasciola hepatica na forma adulta (Fonte: www.ufrgs.br).

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19 9. Morfologia

A subclasse Digenea compreende uma grande quantidade de espécies com importância médica e económica. Como endoparasitas de vertebrados, apresentam adaptações estruturais para poderem fixar-se aos hospedeiros: glândulas de penetração, glândulas para a produção do material do quisto e órgãos de adesão (Hickman, et al., 2004).

Os Digenea têm também um sistema digestivo incompleto com a boca na extremidade anterior e um sistema reprodutivo bem desenvolvido (Hickman, et al., 2004).

O sistema nervoso é muito simples e os sentidos são pouco desenvolvidos (Hickman, et al., 2004).

A Fasciola hepatica tem um corpo plano em forma de folha e o tegumento externo coberto de espinhos. Geralmente, um adulto atinge os 20 a 30 mm de comprimento com 15 mm de largura (Fairweather et al., 1999; Valero et al., 2005).

As ventosas orais e ventrais localizam-se no cone cefálico. A ventosa oral tem um diâmetro de 1,0 mm (Muller, 2002).

O intestino dos parasitas adultos é muito ramificado com divertículos que se estendem desde a parte anterior do corpo até à parte posterior (Mas-Coma, 2004).

Os órgãos reprodutores femininos estão presentes perto da ventosa ventral e os órgãos reprodutores masculinos estão presentes perto do centro do corpo. Os testículos, altamente ramificados, encontram-se na metade posterior do corpo enquanto que o ovário está localizado logo acima dos testículos e está ligado a um curto útero que se abre para um poro genital acima da ventosa ventral. As glândulas vitelinas estão dispersas pela região lateral e posterior do corpo (figura 7) (Fairweather et al., 1999; Mas-Coma, 2004).

Os ovos de Fasciola hepatica têm uma forma elipsoidal (130-150 µm de comprimento por 60-90 µm de largura) e têm uma casca amarela-acastanhada com um opérculo. As células embrionárias não se distinguem do restante ovo (Valero et al., 2002).

O miracídio tem o corpo em forma cónica coberto por cílios e pode ter 130 por 30 µm (Mas-Coma, 2004).

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Figura 7 - Fasciola hepatica adulta (adaptado de www.scielo.org.pe ).

10. Ecologia

É necessário um conjunto de condições ambientais para a Fasciola hepatica sobreviver. A humidade e temperatura adequada são cruciais, tanto para os hospedeiros intermediários, como para o seu próprio desenvolvimento e crescimento (Mas-Coma, 2004).

A temperatura adequada para o desenvolvimento dos ovos de Fasciola, regista-se entre os 10º e 25ºC, assim como para o desenvolvimento dos estágios de vida livre e formação das metacercárias. O crescimento da Fasciola em ambientes mais quentes, entre 17º a 25ºC reduz a quantidade de tempo necessário para completar o desenvolvimento do parasita (Andrews, 1999).

A Fasciola heapatica é encontrada em quase todas as regiões temperadas, onde ovelhas, cabras, bovinos e outros ruminantes são criados, pois praticamente todas essas áreas têm

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humidade suficiente e temperaturas adequadas, pelo menos durante uma parte do ano, para sustentar uma população de moluscos (Mas-Comas, 2004).

Portanto, a ecologia da Fascioa hepatica está diretamente ligada à ecologia do seu hospedeiro intermediário. Juntamente com a presença de água e temperaturas adequadas, características fisiológicas, composição do solo, e fatores climáticos são da maior importância na faixa de sobrevivência e de reprodução das Lymnaeas e por isso na presença de Fasciolas (Myers et al., 2012).

As Lymnaeas são capazes de se adaptar a amplas condições físicas e químicas extremas com a uma grande variedade de vegetação aquática (Mas-Comas, 2004).

Do ponto de vista ecológico, o habitat das Lymnaeas pode ser dividido em dois tipos gerais: foco primário (ou reservatórios) e áreas de difusão (Chapuis et al., 2007).

Os focos primários estão localizados em ambientes permanentemente húmidos, tais como, rios, lagos, lagoas, canais. Os moluscos são normalmente encontrados em corpos de água estagnada ou perto das margens, onde a água flui lentamente. Os moluscos colocam os ovos na primavera quando a temperatura sobe acima dos 10ºC e continuam a postura, desde que a temperatura se mantenha acima dos 10ºC. Em situações de temperaturas mais altas, os ovos desenvolvem-se mais rapidamente (Chapuis et al., 2007).

Desde as 3 semanas de idade as Lymnaeas começam a por ovos, conseguem produzir até 3 gerações numa única estação desde que tenham água suficiente. Assim, estima-se que um só exemplar de Lymnaea truncatula consegue produzir até 100 mil novos moluscos numa só estação do ano (Acha e Szyfres, 2003).

Durante os verões excecionalmente quentes e secos, muitos moluscos podem morrer, outros entram em estivação e retomam o seu desenvolvimento quando a temperatura desce e as condições húmidas voltam. Durante invernos muito frios, também podem morrer e alguns entram em hibernação e apenas retomam a sua atividade quando as temperaturas sobem acima dos 10ºC (Luzün-Peña, 1994).

As Lymnaeas que por estivação e hibernação conseguem sobreviver às condições adversas das secas, calor e frio, são as responsáveis pela manutenção das gerações seguintes de

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Lymnaeas, e por consequência, das gerações seguintes de Fasciola hepatica (Luzün-Peña et al., 1994).

A temperatura acima dos 10ºC é o fator chave na epidemiologia da fasciolose, pois quando está abaixo de 10ºC os ovos de Fasciola não se desenvolvem, os hospedeiros intermediários não se reproduzem, os esporocistos, rédias e cercárias não se desenvolvem no interior do molusco, e o ciclo do parasita é quebrado (Luzün-Peña et al., 1994).

A adaptação das Lymnaeas às massas de água permanentes, faz com que a transmissão seja possível ao longo do ano, como observado nos países do sul da Europa e ilhas do Mediterrâneo (Valero et al., 1998).

As áreas de disseminação são caracterizadas pela alternância períodos de cheias e secas, mantendo uma grande concentração de Lymnaeas que podem também vir de focos primários trazidas pelas correntes das cheias, ou podem ser reativadas depois da estivação durante períodos de seca. Este tipo de ocorrências sazonais pode levar a surtos graves de fasciolose (Acha e Szyfres, 2003; Chapuis et al., 2007).

Tal como acontece com muitos parasitas, existe um padrão sazonal distinto de surtos de fasciolose com dois períodos principais de infeção, verão e inverno (Altizer et al., 2006).

Os ovos de Fasciola, transmitidos por animais infetados na primavera e início do verão, desenvolvem-se dentro dos hospedeiros intermediários e produzem cercárias e metacercárias até ao final do verão (Fox et al., 2011; Goodall et al., 1991).

Os ovos que são excretados durante o inverno não se desenvolvem até encontrarem as condições adequadas. No início da primavera os ovos iniciam o seu desenvolvimento até ao estado de metacercárias no final da primavera ou início do verão. As metacercárias são ingeridas pelos hospedeiros definitivos produzindo sintomas no verão e outono (Fox et al., 2011; Goodall et al., 1991).

Em regiões de clima tropical ou subtropical, a doença pode ocorrer em qualquer altura do ano (Togerson e Claxton, 1999).

Concluindo, os fatores climáticos como as chuvas, a temperatura do ar, são decisivos para o desenvolvimento de Fasciola hepatica, principalmente porque têm um impacto muito grande

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para o desenvolvimento do hospedeiro intermediário, do qual a Fasciola hepatica não está dependente para completar o seu ciclo biológico (Fox et al., 2011).

11. Hospedeiro Intermediário

A distribuição geográfica dos trematodes, entre outras coisas, está dependente dos seus hospedeiros intermediários. A Fasciola hepatica tem uma ampla gama de hospedeiros intermediários e, geralmente, diferentes regiões do mundo têm diferentes espécies de moluscos como hospedeiro intermediário da Fasciola (Graczyk e Fried, 1999).

Os hospedeiros intermediários são moluscos anfíbios da família Lymnaeidae (Bargues e Mas-Coma, 1997).

No passado, a maioria das espécies em questão foram classificadas como género Lymnaea, mas algumas dessas espécies receberam nova classificação incluindo os géneros Galba, Fossaria, Pseudosuccinea e Stagnicola (Acha e Szyfres, 2003).

As Lymnaeas são moluscos de água doce, de casca fina e alongada de forma ovoide. Alimentam-se de algas e detritos orgânicos e são hermafroditas (Kohl, 2012).

O hospedeiro intermediário mais comum para a Fasciola hepatica é Galba truncatula (Muller, 1774) anteriormente conhecido como Lymnaea truncatula. É o hospedeiro intermediário principal na África, Ásia e Europa (Graczyk e Fried, 1999).

A fasciolose tem uma origem europeia, mas conseguiu expandir-se para o resto do mundo, a novas regiões onde a doença foi introduzida, diferentes variedades de moluscos desempenham um papel muito importante como hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica (Mas-Coma e Bargues, 1997; Mas-Coma et al., 2003).

Espécies que incluem (figura 8): Galba cubensis (Pfeiffer, 1839), Galba viatrix (d’Orbigny, 1835), Lymnaea diaphana (king, 1830) e Pseudosuccinea columella (Say, 1817) na América do Sul. Na América do Norte os hospedeiros intermediários podem ser Fossaria bulimoide (Lea, 1841), Hinkleyia caperata (Say, 1829), Lymnaea humilis (Say, 1822), Galba cubensis e Pseudosuccinea columella. As espécies Galba cubensis e Pseudosuccinea columella

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encontram-se na América Central. Lymnaea tomentosa (Pfeiffer, 1855), Austropeplea ollula (Gould, 1859) e Pseudosuccinea columella na Austrália e Nova Zelândia (Acha e Szyfres, 2003).

A Lymnaea truncatula ou Galba truncatula foi relatada também na América do Sul especialmente em áreas hiperendémicas de Fasciolose (Bargues, 1997; Mas Coma, 2001).

Figura 8 - Hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica. a- Fossaria bulimoide; b- Galba viatrix; c-

Pseudosuccinea columella; d- Galba cubensis; e- Galba truncatula. ( Adaptado de www.psteinmann.net ,

www.dpd.cdc.gov , www.fwgna.org , www.scoopweb.com).

12. Hospedeiros Definitivos

A Fasciola hepatica tem uma grande gama de hospedeiros definitivos como ovinos, caprinos, bovinos, que são os hospedeiros predominantes (Mas-Coma, 2005). Atualmente a Fasciola hepatica tem mostrado a capacidade de expandir o seu leque de hospedeiros definitivos para animais exóticos em todo o mundo (Mas-Coma, 2004). Muitas espécies de herbívoros domésticos e silvestres podem servir como hospedeiro definitivo, no entanto, alguns apenas são hospedeiros temporários e não podem manter um ciclo do parasita por muito tempo, o que faz com que estes animais não cheguem a contaminar as pastagens (Acha e Szyfres, 2003).

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25 13. Dicrocoelium dendriticum

O Dicrocoelium dendriticum é também um parasita relativamente comum nos fígados de bovinos e muitas vezes causa de reprovação dos fígados de bovino em matadouros. É uma infeção hepática frequente em mamíferos, geralmente ruminantes, característica de solos secos, calcários ou alcalinos, que é o habitat natural dos seus dois hospedeiros intermediários. Como primeiro hospedeiro intermediário, o Dicrocoelium dendriticum utiliza os gastrópodes terrestres dos géneros: Zebrina (Zebrina detrita), Helicella (Helicella negleta) e Cionella (Cionella lubrica), como segundo hospedeiro intermediário tem as formigas do género Formica (Formica fusca, F. rufa, F. pratensisi) (Arias et al., 2012).

As cercárias não possuem mobilidade e encontram-se dispersas pelo segundo hospedeiro intermediário. Os adultos destes parasitas residem nos canalículos biliares (figura 9) e foram encontrados não só em ruminantes como também em camelos, cavalos, porcos, coelhos, cães e até humanos (Arias et al., 2012).

Embora as condições climáticas que este parasita necessita sejam distintas das condições necessárias ao desenvolvimento da Fasciola hepatica, o Dicrocoelium dendriticum realiza a postura de ovos ao longo de todo o ano, havendo vários relatos de infeções mistas (Fasciola hepatica em simultâneo com Dicrocoelium dendriticum) no hospedeiro definitivo (bovinos) (Arias et al., 2011).

Dicrocoelium dendriticum penetra nos ductos biliares causando dilatação e inflamação (angiocolite). Macroscopicamente apresentam-se como cordões brancos típicos de angiocolite, mas menos numerosos, mais curtos e mais finos do que na fasciolose (Corrêa, 1976).

Ao contrário da Fasciola hepatica, os adultos de Dicrocoelium dendriticum não são hematófagos, alimentando-se de células epiteliais de descamação e mucina da hipersecreção. Os seus ovos são mais pequenos do que os de Fasciola hepatica (36x30 μm), com forma elipsoide, de coloração castanho-escuro, estão embrionados no momento da postura e têm um opérculo pouco visível (Dorchies, 2006).

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Figura 9 - Vesícula biliar de pequeno ruminante parasitado por Dicrocoelium dendriticum (Fonte: www.capraiaspana.com )

14. Patogenicidade e Sinais Clínicos da Fasciolose nos animais

A patogenicidade tem origem em mecanismos diretos e indiretos. A invasão, estabelecimento, migração, alimentação e multiplicação no hospedeiro provocam efeitos diretos no hospedeiro. Os mecanismos indiretos têm uma maior influência na produtividade e bem-estar do hospedeiro. Uma vez que são parasitas histiófagos na fase imatura e hematófagos na fase madura, as ações de F. Hepatica incluem a ingestão e destruição de tecidos e sangue. Devido ao seu tegumento espinhoso, são ações que levam a uma irritação das superfícies epiteliais com as quais entra em contacto (Cordero del Campillo e Rojo-Vázquez, 1999).

Durante as migrações pode veicular outros agentes infeciosos, pode provocar obstrução do fluxo biliar e facilitar a multiplicação e patogenia de agentes que em condições normais não provocariam doença (Cordero del Campillo e Rojo-Vázquez, 1999).

A migração das fasciolas imaturas no parênquima do fígado provoca hepatite traumática e hemorragias que podem resultar em anemias. Alguns trajetos migratórios, graças à capacidade regenerativa do fígado, são transformados em trajetos fibrosados. (Ballweber, 2001).

As fascíolas adultas ingerem sangue, o que também pode causar anemia, a irritação causada pela presença dos parasitas nos canais biliares leva a uma proliferação do epitélio dos ductos biliares, colangite e necrose da parede dos ductos (figura 10), fibrose na lâmina própria dos ductos podendo vir a calcificar (Ballweber, 2001).

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Segundo Ballweber (2001), a doença clínica pode ocorrer em quatro formas: aguda, subaguda, crónica e subclínica.

A forma aguda é causada pela ingestão a curto prazo de um grande número de metacercárias que invadem o fígado ao mesmo tempo. Os sinais clínicos incluem inapetência, perda de peso, dor abdominal, anemia, ascite e depressão. A morte súbita ocorre em apenas alguns dias. Os ovinos e caprinos são os animais mais afetados pela forma aguda, sendo muito rara em bovinos (Ballweber, 2001).

A ingestão de grande número de metacercárias também pode originar uma forma subaguda da doença, mas a ingestão estende-se num período longo de tempo. Nestes casos, o hospedeiro definitivo apresenta inapetência, diminuição do ganho de peso ou mesmo perda de peso, hemorragia, anemia, insuficiência hepática (aumento da ALT e ASL ) e morte, durante 4 a 8 semanas (Ballweber, 2001).

Uma forma crónica da doença é causada por um número moderado de metacercárias ingeridas durante um período prolongado de tempo, os sinais clínicos incluem diminuição da ingestão de alimentos, diminuição no ganho de peso, redução da produção de leite, anemia, emaciação, edema submandibular e ascite. Os bovinos tendem a apresentar a forma crónica da doença (Ballweber, 2001).

Ao ingerirem uma baixa quantidade de metacercárias num espaço de tempo alargado, os animais adquirem uma forma subclínia da infeção, esta origina apenas uma moderada colangite sem sinais clínicos (Ballweber, 2001).

Então, a sintomatologia causada depende da carga parasitária (número de metacercárias ingerido), a idade do hospedeiro e a sua condição geral de saúde (Arjona et al., 1995).

Em suínos e cavalos, a fasciolose é geralmente assintomática e torna-se clinicamente aparente quando existem outros fatores debilitantes, como a desnutrição ou doenças concomitantes (Amor et al., 2011).

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Figura 10 - Imagem histológica de jovem parasita em migração no parênquima hepático, infiltração celular, hemorragia e células hepáticas em necrose junto ao parasita (Fonte: http://www.facmed.unam.mx/ ).

15. Fontes de infeção

Os mamíferos são infetados com Fasciola hepatica quando se alimentam em pastagens contaminadas. A infeção ocorre através da ingestão de metacercárias localizadas sobre a superfície das plantas. A água também pode ser uma fonte de infeção ao ser ingerida com as metacercárias presentes na superfície da água (Mas-Coma, 2005).

A infecciosidade das metacercárias é dependente do tempo de armazenamento, sendo menor quando os quistos são mais velhos. Além disso, a viabilidade das metacercárias não varia entre os reservatórios de diferentes espécies. Assim, parasitas de reservatórios secundários, tais como porcos e macacos, envolvem o mesmo risco potencial de infeção como os de ovinos e bovinos (Valero e Mas-Coma, 2000).

16. Diagnóstico

O diagnóstico de Fasciolose baseia-se nas manifestações clínicas (dores, febre, hepatomegalia, eosinofilia e anemia) e é confirmado com a presença de ovos nas fezes (O’Neill et al., 1998).

Durante a fase aguda não são observados ovos porque os parasitas ainda não amadureceram e, portanto, para o diagnóstico são utilizados testes imunológicos. No entanto, num estádio

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muito recente da doença os testes não dão positivo a fasciolose. Nesta fase é importante distinguir fasciolose de hepatite aguda que se deve a outras causas. Antecedentes epidemiológicos e a presença de eosinofilia periférica auxilia na identificação da fasciolose (Arjona et al., 1995; Mas-Coma, 2005).

O diagnóstico da fasciolose aguda é frequentemente feita na necropsia com base na observação das lesões hepáticas e na presença de parasitas imaturos. A ultrassonografia não mostra os parasitas que migram mas possibilita a observação da vesícula biliar distendia e os ductos biliares dilatados (Radostits, 2006).

A colecistocentese guiada por ultrassonografia é um excelente método de obtenção de amostras de bílis para demonstração da Fasciola hepatica e dos ovos. Realiza-se o procedimento pelo lado direito do animal no 9º, 10º e 11º espaço intercostal (Ballweber, 2001).

O diagnóstico clínico da fasciolose bovina raramente é estabelecido. Em Portugal continental, a nível animal, não é prática de rotina o recurso a testes serológicos, recorrendo-se pontualmente a exames coprológicos, contrariamente ao que se verifica a nível humano em que o uso das técnicas serológicas está generalizado. (Costa, 2007).

17. Tratamento e profilaxia

O tratamento e controlo no hospedeiro definitivo (bovino) centra-se na escolha do fasciolicida e no momento do seu uso, tendo como base o ciclo epidemiológico da região, o conhecimento do hospedeiro intermediário e a sua pressão demográfica, permitindo prever para uma determinada zona, quais os períodos de eliminação de cercárias e portanto, a contaminação dos pastos e posterior infeção dos mamíferos (Conceição, 2001).

O objetivo é eliminar os parasitas antes da produtividade do animal ser afetada e evitar a contaminação das pastagens com os ovos da fascíola. O momento do tratamento e a escolha do fármaco variam de acordo com as formas de transmissão e com a área geográfica e seu clima (Ballweber, 2001).

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O intervalo de segurança imposto pelos fármacos é o maior fator limitante a quando da escolha do fasciolicida para bovinos. Por exemplo, o triclabendazole, o closantel, o clorsulon e a ivermectina só devem ser aplicados durante o período de secagem das vacas leiteiras. A aplicação de um fasciolicida deve estar enquadrada numa estratégia de controlo, prevendo um número mínimo de tratamentos, a fim de diminuir significativamente o número de metacercárias nas pastagens (Costa, 2007).

Para os bovinos que pastoreiam durante todo o ano em zonas temperadas com invernos amenos, o aconselhável é realizar dois tratamentos, um no final do outono e outro no início da primavera (Costa, 2007).

Em bovinos estabulados, a primeira dose deverá ser administrada na altura do alojamento de Inverno para eliminar os possíveis parasitas adultos e as formas imaturas contraídas durante o pastoreio de Verão e Outono. Posteriormente, a segunda dose deverá ser administrada entre Abril e Maio que é quando os animais regressam às pastagens, prevenindo assim a contaminação dos pastos e a infeção do hospedeiro intermediário (Costa, 2007).

Em novilhos de engorda, a desparasitação deverá ser feita no momento da sua chegada à exploração e repetir-se o tratamento após seis semanas (Costa, 2007).

É importante fazer um uso escrupuloso dos fasciolicidas, com o mínimo de administrações, fazer a rotatividade dos princípios ativos ou a combinação dos mais indicados, de forma a realizar uma terapêutica mais racional evitando o surgimento de resistências aos antihelmínticos (Conceição, 2001).

O controlo do hospedeiro intermediário é uma forma eficaz de impedir o desenvolvimento das metacercárias, com uma boa drenagem dos terrenos, embora se torne inviável em regiões de grande pluviosidade. Ecologicamente, esta prática tem riscos, podendo alterar a fauna dos habitats (Costa, 2007).

Outro método de controlo do hospedeiro intermediário é o uso de moluscicidas que atuam diretamente sobre a população dos moluscos. Sendo este um método dispendioso pelo que raramente é utilizado (Costa, 2007).

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31 18. Fasciolose hepática no homem

O homem é um hospedeiro acidental, o ciclo de infeção na natureza mantem-se entre os animais (especialmente entre ovelhas e bovinos) e os moluscos. Podendo então considerar--se que os animais podem ser vistos como reservatórios da infeção para o homem (Barriga, 2003).

18.1. Prevalência da Fasciolose no homem

A fasciolose hepática no homem tem ocorrido principalmente na Austrália, Bolívia, Equador, Egipto, França, Inglaterra, Irão, Perú e Portugal (Garcia e Bruckner, 1997).

Curiosamente não parece existir uma relação entre a frequência da fascíola hepática animal com a fasciolose hepática em humanos. Embora a infeção bovina seja relatada em abundância no oeste e sudeste dos EUA, os casos de fasciolose humana são raros. Em 1991 (Chen, 1991) foram relatados 44 casos de fasciolose humana na China apesar de a infeção ser muito comum em animais. As maiores epidemias foram relatadas em França, perto de Lyon entre 1956-1957 com cerca de 500 casos e no Valle de Lot em 1957 com cerca de 200 casos. A fonte comum de infeção foi o consumo de agrião contaminado com metacercárias (Malek, 1980).

Na Inglaterra o maior surto conhecido foi de 40 pessoas em 1972. No Egito contaram--se 40 casos em crianças num só ano (El-Karaksy et al., 1999).

Em Cuba, houve mais de 100 casos em 1944 (ao qual devem ser adicionados muitos achados posteriores). No Chile em 1954 diagnosticaram-se 82 casos. Costa Rica, em 1973, contava com 42 casos diagnosticados (Mora et al.,1980).

Esteban em 1999, numa série de 31 sondagens no planalto boliviano, encontrou uma prevalência de fasciolose humana de 15,4%, com variações locais de 0 a 68% (Esteban et al., 1999).

Em 1997 o planalto boliviano foi considerado uma área hiperendémica com uma prevalência de 75% em crianças e 41% em adultos, provavelmente os valores mais elevados de todo o mundo (Esteban et al., 1997).

Imagem

Tabela 1 - Prevalência de fasciolose no matadouro de Aveiro nos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003   (Adaptado de Costa, 2007
Mapa  1-  Países  com  casos  de  fasciolose  relatados  (pontos  laranja)  (adaptado,  dados  de  Esteban,  1998;  Mas- Mas-Coma, et al., 2005; Yilmaz e Godemerdan, 2004)
Figura 1 - Ovo de F. hepatica  (adaptado de www.rvc.ac.uk/review )
Figura 3 - Rédias   (Fonte: www.repository.utl.pt )
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