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Saúde Sexual e Reprodutiva para Adolescentes: a experiência do Projeto PROESCOLA

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Saúde Sexual e Reprodutiva para Adolescentes: a experiência

do Projeto PROESCOLA

Elisabeth Ferraz Inês QuentalCesar SchwenckNey Costa♦ Palavras-chave: adolescentes; educação sexual; saúde reprodutiva; sexualidade.

Resumo

Desde 1993 a Bemfam vem desenvolvendo projetos de educação em saúde sexual e reprodutiva para adolescentes em parceria com escolas públicas. Até o final de 2003, esse trabalho contemplou 31 escolas em diversos estados do Brasil e contou com vários financiadores. Atualmente, o projeto está sendo desenvolvido em 12 escolas em Natal (RN) e Recife (PE), com o nome de Proescola – Integração atingindo cerca de 18.000 jovens.

Promover práticas sexuais mais seguras entre os/as adolescentes, sob a perspectiva de eqüidade de gênero e facilitar o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e a preservativos, contribuindo para a redução de sua vulnerabilidade às DST/HIV/Aids e à gravidez não planejada estão entre os principais objetivos do Proescola. Com uma visão holística de saúde sexual e reprodutiva e metodologia participativa, o projeto trabalha a educação sexual como tema transversal, impregnando toda a prática educativa e incorporando-se ao plano de trabalho das diferentes disciplinas. Respeitando valores morais e culturais, introduz conceitos como auto-estima, auto cuidado e eqüidade de gênero, e incentiva o exercício da cidadania e o protagonismo juvenil.

Avaliações periódicas, por meio de pesquisas quali-quantitativas, análise de estatísticas e supervisão constante, têm demonstrado ampliação de conhecimento, mudanças de atitude e comportamento entre os adolescentes, e crescente procura por serviços de saúde sexual e reprodutiva. Pode-se dizer, também, que o projeto tem contribuído para criar ambiente confiável e acolhedor para abordar a sexualidade e clarificar mitos e preconceitos, além de favorecer a comunicação entre alunos, professores e pais. Entre diversas lições aprendidas, podemos destacar: a maior efetividade da intervenção quando realizada em parceria com a comunidade escolar, a necessidade de compromisso da direção das escolas e a importância da capacitação e engajamento de professores e alunos multiplicadores.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Demógrafa - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM. Socióloga - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM. Estatístico - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM. Médico Endocrinologista – Secretário Executivo da BEMFAM.

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Saúde Sexual e Reprodutiva para Adolescentes: a experiência

do Projeto PROESCOLA

Elisabeth Ferraz Inês QuentalCesar SchwenckNey Costa

1. Introdução

Considerando os dados sobre gravidez não-planejada e sobre casos de doenças sexualmente transmitidas (DST) entre adolescentes no Brasil, observa-se a necessidade de implementação de novas estratégias de ação educativa em saúde sexual e reprodutiva mais efetiva dirigida a esses jovens. Segundo a “Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde - PNDS 96”, realizada pela BEMFAM em 1996, a porcentagem de adolescentes brasileiras que estavam grávidas ou que já eram mães na época da entrevista foi de 18%. Na região mais pobre do país, o Nordeste, essa proporção aumenta para 21 %.

Além disso, a constatação de que cerca de 30% dos casos de Aids, no período de 1980 a 2002, foram notificados como de adultos jovens de 20 a 29 anos (Boletim Epidemiológico - Aids, dez 2002) permite deduzir que grande parte desse grupo tenha adquirido o vírus HIV ainda na adolescência, o que torna urgente a elaboração de estratégias preventivas direcionadas para esse segmento da população.

As Conferências Mundiais de Cairo e Beijing tiveram uma influência positiva para a legitimação da educação em saúde sexual e reprodutiva, alertando para a necessidade de um programa nacional, direcionado a adolescentes e jovens. Em 1997, o Ministério da Educação publicou os “Parâmetros Curriculares Nacionais” em que determina as diretrizes para um Programa de Orientação Sexual nas escolas.

Entretanto, a educação sexual ainda não está totalmente implantada nas escolas brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. Algumas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação vêm desenvolvendo atividades de educação sexual em suas escolas e, em certos casos, em parceria com ONGs. Paralelamente, existem experiências pontuais como, por exemplo, o projeto desenvolvido pela Bemfam em parceria com escolas públicas de ensino fundamental e médio.

A Bemfam vem de longa data se preocupando com a saúde sexual e reprodutiva de jovens e adolescentes e dedicando esforços na implementação de atividades de informação e

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Demógrafa - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM. Socióloga - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM. Estatístico - Departamento de Pesquisas Sociais – BEMFAM.

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educação, seja em suas clínicas e em programas de saúde reprodutiva que são convênios de cooperação técnica com municípios, seja por meio de projetos sociais.

Em 1993, iniciou um projeto piloto de educação sexual, voltado para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e HIV/Aids (DST/HIV/Aids) e da gravidez não-planejada em escolas de ensino fundamental e médio em dois estados do Nordeste do Brasil: uma em Alagoas e outra na Paraíba. Com o apoio financeiro da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), essa experiência teve grande êxito e, em 1995, estendeu-se a outras escolas desses dois estados.

Posteriormente, essa experiência em educação sexual nas escolas foi ampliada para outros estados do país: Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro. Tal ampliação contou com o apoio da Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde, do Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), da Federação de Planejamento Familiar de Canadá (PPFC) e da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA). Até dezembro de 2000 o projeto de educação sexual em escolas foi implementado em 23 escolas, tendo atingido aproximadamente 20.000 adolescentes e jovens de 10 a 24 anos de idade.

É interessante observar que várias características dos projetos de educação sexual em escolas, desenvolvidos em parceria com a Bemfam, vinham seguindo as orientações contidas nos “Parâmetros Curriculares”, mesmo antes de sua publicação: o enfoque pedagógico relacional e interativo, a metodologia lúdico-participativa, a opção por trabalhar a educação sexual como tema transversal não apenas nas diferentes disciplinas, mas impregnando toda atividade educativa.

Nos últimos três anos o projeto, com a denominação de "Saúde Sexual e Reprodutiva para Adolescentes nas Escolas", mais conhecido como "PROESCOLA", vem tendo apoio da PPFC e do CIDA. O projeto PROESCOLA, iniciado em 2001, está sendo desenvolvido em doze escolas públicas de ensino fundamental e médio, nas cidades de Natal (Rio Grande do Norte) e Recife (Pernambuco), atingindo com suas atividades educativas cerca de 17.600 adolescentes e jovens de 10 a 24 anos de idade.

2.Objetivos 2.1 Objetivo geral

O projeto PROESCOLA tem como objetivo geral contribuir para a redução das

vulnerabilidades de adolescentes e jovens em relação à saúde sexual e reprodutiva sob a perspectiva de eqüidade de gênero.

2.2.Objetivos específicos

9 Ampliar o conhecimento entre adolescentes, jovens e professores/as sobre temas relacionados à sexualidade e à saúde sexual e reprodutiva;

9 Promover a conscientização sobre questões relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos e à violência de gênero entre os adolescentes, em interface com a comunidade escolar;

9 Aumentar o acesso a preservativos, bem como a serviços de saúde sexual e reprodutiva;

9 Criar condições para a institucionalização e auto-sustentação das atividades educativas nas escolas.

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3. Metodologia

De uma maneira geral, existe consenso na literatura de que intervenções que identifiquem necessidades específicas, ampliem o nível de informação, promovam, desenvolvam a manutenção de mudanças de atitudes e comportamentos, tendem a ser mais eficientes.

Sendo assim, a proposta do projeto PROESCOLA pressupõe ênfase numa abordagem que contempla dois aspectos principais: 1) identificação das necessidades de informação dos adolescentes e da problemática local específica; e 2) Capacitação de adolescentes multiplicadores/as e de professores/as para atualização de informações em saúde sexual e reprodutiva, em técnicas de mudança de comportamento e em avaliação (monitoramento e impacto).

Do ponto de vista teórico metodológico, se busca contemplar alguns aspectos básicos do modelo de transformação social de educação em saúde (“Socially Transformatory”), tais como:

• Mudanças no nível das idéias, que requerem desmistificar e tornar mais acessível o conhecimento médico, separando-se os argumentos científicos das considerações morais, como, por exemplo, questões relacionadas ao número de parceiros (aspecto moral) e a troca de fluidos corporais (aspecto científico). As percepções populares, as crenças, bem como preconceitos e medos infundados necessitam ser questionados e analisados criticamente;

• Incentivo à criação de redes de interação entre os diferentes grupos e instituições participantes, no sentido de debater estratégias de redefinição da sexualidade, das relações de gênero, direitos sexuais e reprodutivos, sexo mais seguro, etc. Educadores e educandos comprometidos com a transformação social devem tentar debater e gerar novas idéias para uma educação mais eficaz, criando estratégias que atendam as necessidades locais.

Para o desenvolvimento das atividades educativas, o enfoque pedagógico adotado é o de uma educação sexual relacional e interativa, por meio de uma metodologia lúdico-participativa. Esta metodologia proporciona aos participantes o desenvolvimento da criatividade, da reflexão e do senso crítico. O enfoque lúdico torna mais fácil o trabalho com adolescentes, utilizando jogos e dinâmicas de grupo.

A estratégia para implementação do programa está em consonância com as diretrizes dos “Parâmetros Curriculares Nacionais” do Ministério da Educação que considera a educação sexual como tema transversal, isto é, que contempla toda atividade educativa e incorpora-se ao plano de trabalho das diferentes disciplinas. O enfoque holístico de saúde sexual e reprodutiva, sem ficar limitado à prevenção de DST/HIV/Aids e ao planejamento familiar, é uma característica do projeto. A opção por capacitar e trabalhar com professores de diferentes disciplinas, e não somente de ciências ou biologia, traz uma contribuição interessante e mostra como é possível abordar os temas que se quer trabalhar de forma criativa dentro de cada disciplina.

4.Etapas de Implementação do Projeto

Para alcançar os objetivos propostos, o Projeto PROESCOLA vem sendo implementado por meio de várias etapas. Antes, porém, foi desenvolvido um modelo de intervenção para adolescentes nas escolas com a preparação de grades de treinamento, técnicas e materiais de referência, planos de aulas e guias de atividades.

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Ao se iniciar o processo de implementação, a primeira etapa é a seleção das escolas e estabelecimento de parcerias. Nesta etapa são realizados contatos com as diretorias das escolas e aplicado um questionário simples de caracterização da escola e da comunidade na qual está inserida. O questionário de caracterização possibilita conhecer as condições exigidas para a seleção das escolas como o interesse da direção no projeto, o número de estudantes adolescentes e jovens (10-24 anos), o número de professores/as e profissionais de apoio, a disponibilidade de serviços de orientação pedagógica e psicológica, a existência de atividades esportivas e artísticas, o espaço físico, equipamentos disponíveis, etc.

Após a seleção das escolas é realizada uma sensibilização, direcionada a professores/as, profissionais de apoio, pais e mães de alunos, sobre temas como sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos dos/as adolescentes, gênero, HIV/Aids, etc.

Para investigação de conhecimentos, valores, atitudes e práticas dos/as estudantes com relação à sexualidade, anticoncepção, DST/HIV/Aids e a questões de gênero, é aplicada a uma amostra de estudantes uma pesquisa quantitativa CAP de baseline. Essa pesquisa, realizada antes da implementação das atividades educativas, possibilita conhecer o público alvo e sua necessidade de informação, bem como orientar a intervenção.

Outra etapa do projeto é a capacitação de professores/as para que possam trabalhar com educação sexual em suas respectivas disciplinas. Essa capacitação contempla os seguintes conteúdos programáticos: direitos sexuais e reprodutivos, educação sexual na escola, perfil e postura do educador, comunicação e sexualidade, assertividade e auto-estima, relações de gênero, sexualidade, puberdade e aspectos biológicos e psico-sociais da adolescência, fisiologia da reprodução, planejamento familiar e métodos anticoncepcionais, DST/HIV/Aids, e drogas. Os/as professores capacitados/as são voluntários/as e selecionados/as por seu interesse e capacidade de comunicação com os/as estudantes. Depois da capacitação, assumem o compromisso de incluir temas do projeto em suas aulas regulares, utilizando varias técnicas adaptadas de acordo com a disciplina e idade dos/as alunos/as. Para planejar as aulas, contam com o apoio de uma supervisora de projeto.

A capacitação de adolescentes multiplicadores/as é um dos pontos chave do projeto. Os temas abordados nessa capacitação são os mesmos da de professores/as, adaptados à sua idade e interesses. Os/as multiplicadores também são voluntários/as e selecionados/as entre aqueles/as que apresentam atitudes e qualidades de liderança. Os/as adolescentes capacitados/as se comprometem a atuar na multiplicação de informações entre seus/as colegas e na comunidade, desempenhando um papel ativo nas atividades educativas e participando de manifestações artísticas e de eventos sócio-culturais.

A implementação das atividades educativas é realizada por meio de aulas regulares (ministradas por professores/as capacitados/as), palestras, oficinas, leitura dinâmica de material educativo seguida de debates, manifestações artísticas como teatro, dança, poesia, música, pintura, cartazes, etc., participação em eventos socioculturais, aproveitando dias festivos como o dia das mães, dia dos namorados, dia mundial de luta contra a Aids, feiras de ciências e de cultura, etc. .

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Com o objetivo de reforçar alguns temas que apresentaram dificuldade durante os treinamentos são realizadas diversas reciclagens, tanto para professores/as, como para os adolescentes multiplicadores.

Para apoiar as atividades educativas, são utilizados materiais como cartilhas, manuais, folhetos, revistas, cartazes, vídeos, jogos, etc. Alguns materiais foram elaborados e produzidos durante o projeto piloto de educação sexual, como a revista em quadrinhos "DST/Aids: a turma pode ficar prevenida", dirigida ao público adolescente das escolas e o "Manual de apoio a educadores sobre DST/Aids". Outros materiais foram elaborados pela Bemfam e impressos com apoio do projeto. Além dos materiais da Bemfam, o projeto também fornece às escolas materiais educativos produzidos por outras instituições que abordam temas como sexualidade, gênero, prevenção de DST/HIV/Aids, etc.

Por fim, o projeto disponibiliza para todos/as os/as estudantes das escolas contempladas, bem como para professores/as envolvidos/as nas atividades educativas, o acesso a serviços clínicos (consultas e exames em saúde sexual e reprodutiva) e a preservativos nas Clínicas de Saúde Reprodutiva de Bemfam em Recife e Natal.

5. Avaliação

O processo de avaliação está previsto para todas as etapas do projeto: avaliação de necessidades, avaliação de processo e de resultados, sendo utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas.

A avaliação de necessidades é realizada por meio do levantamento de informações sobre as escolas (questionário de caracterização da escola) e pela aplicação de pesquisa CAP a uma amostra de estudantes (baseline). A avaliação de processo, realizada durante o desenvolvimento do projeto, inclui pré e pós-teste nas capacitações, avaliação qualitativa e informes periódicos das atividades (analítico e estatístico).

A avaliação de resultados é realizada ao final do período de duração do projeto. O cumprimento dadass memettaass aallccaannççaaddaass é é avavaalliiaaddoo poporr memeiioo ddaa ananáálliissee ddooss rerellaattóórriiooss ananaallííttiiccooss a

annuuaaiiss ee ddooss iinnffoorrmmeess eessttaattííssttiiccooss.. A avaliação de aquisição de conhecimentos e mudanças de atitudes e práticas é realizada por meio da comparação da pesquisa quantitativa CAP realizada em dois momentos: antes e ao final da intervenção.

6. Resultados

Os registros estatísticos e os relatórios descritivos de atividades dos três anos de projeto mostram resultados bastante positivos. Em termos de metas quantitativas o PROESCOLA atingiu um total de 17.534 estudantes das doze escolas, possibilitando seu acesso à aulas regulares, palestras, oficinas e outras atividades educativas sobre temas relacionados à saúde sexual e reprodutiva, realizadas por professores/as e adolescentes multiplicadores/as capacitados/as. Participaram dessas capacitações 325 professores/as e 395 adolescentes multiplicadores/as. Além das capacitações, durante os três anos de projeto, foram realizadas 24 sensibilizações para professores, funcionários/as e pais de estudantes.

No que se refere à disponibilização de serviços clínicos e de preservativos, no período de duração do projeto, 8.666 atendimentos em saúde sexual e reprodutiva foram realizados nas clínicas da Bemfam em Natal e Recife. Esses serviços clínicos (consultas e exames) foram prestados gratuitamente a adolescentes e jovens da doze escolas, bem com a professores/as

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engajados/as no projeto. No mesmo período, 38.740 preservativos foram fornecidos gratuitamente a adolescentes sexualmente ativos e a professores/as.

Considerando os resultados qualitativos, observados durante o processo, pode-se dizer que o projeto conseguiu criar um ambiente confiável e acolhedor para a abordagem de temas relacionados à sexualidade, bem como facilitar uma melhor comunicação entre pais e filhos, professores/as e estudantes. Além disso, vem contribuindo para esclarecer mitos e preconceitos em torno da sexualidade, por meio de um tratamento sério, objetivo e respeitoso do tema. Um outro resultado positivo foi ter introduzido discussões sobre as questões de gênero, auto-estima e protagonismo juvenil, bem como sobre a violência baseada em gênero. Essas discussões vêm reforçar o enfoque de eqüidade de gênero e, conseqüentemente, o empoderamento das mulheres.

A aquisição de conhecimentos e mudanças de atitudes e práticas entre os/as adolescentes e jovens podem ser avaliadas por meio da comparação entre os resultados das duas pesquisas quantitativas CAP, realizadas em dois momentos: antes e ao final da intervenção.

Nas duas fases da pesquisa, amostras de estudantes das doze escolas (2.556 antes da intervenção e 2.348 após) responderam um questionário auto-aplicável sobre questões relativas à sexualidade, conhecimentos, atitudes e práticas relacionados às infecções sexualmente transmissíveis, Aids e anticoncepção, e a questões sobre iniciação e atividade sexual atual. O questionário, contempla, ainda, questões sobre atitudes e comportamentos relativos a relações de gênero, de grande importância para um trabalho efetivo na área da sexualidade.

Alguns resultados comparativos entre as duas fases da pesquisa dão uma idéia dos avanços alcançados durante a intervenção.

No questionário da pesquisa pediu-se que os/as estudantes citassem as DST que conheciam ou das quais tinham ouvido falar. A tabela 1 mostra que a Aids, que já havia sido citada por uma grande proporção de estudantes, teve um pequeno aumento percentual de citação. Entretanto outras DST como sífilis, gonorréia, cancro mole e herpes tiveram aumentos consideráveis nas porcentagens de citação. O mesmo pedido foi feito com relação a sintomas de DST e o resultado aponta também para um aumento percentual importante de citações dos principais sintomas (ver tabela 2).

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Em relação a HIV/Aids, a pergunta sobre as formas de transmissão do HIV foi feita apresentando-se uma lista de possibilidades para que os/as entrevistados/as marcassem as opções “Sim”, “Não” e “Não sabe”. A tabela 3 mostra as porcentagens de estudantes que deram respostas afirmativas ou que não souberam responder. Observa-se que as respostas afirmativas para as principais formas de transmissão mantiveram-se altas ou tiveram um ligeiro aumento. Entretanto, vale ressaltar que ainda persistem idéias erradas sobre formas de transmissão tais como “doação de sangue”, “beijo”, “picada de mosquito”, objetos e contatos sociais, apesar de terem diminuído as porcentagens de estudantes que não souberam responder.

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No que se refere à prevenção do HIV, a tabela 4 mostra que o uso da camisinha foi citado por 96% dos/as estudantes nas duas fases da pesquisa, enquanto que a citação do uso de seringas descartáveis aumentou após a intervenção: de 78% para 83%. “Não transar” e “só transar com pessoas conhecidas” foram opções citadas por aproximadamente um quarto e um terço dos/as estudantes, respectivamente, em ambas as fases da pesquisa. Vale ressaltar que as porcentagens dos/as que não souberam responder diminuiu na fase pós-intervenção.

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A anticoncepção é um dos temas contemplados pelo projeto e, como se pode observar na tabela 5, o resultado do pós-teste mostra um aumento grande de conhecimento dos métodos anticoncepcionais, citados espontaneamente pelos/as entrevistados/as. Além de citar os métodos que conheciam, foi pedido aos/às adolescentes que dissessem quais desses métodos protegem contra DST/HIV. Cerca de 74% dos/as estudantes no pré-teste e 79% no pós-teste apontaram a camisinha como o método que oferece dupla proteção.

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A pesquisa investigou também junto aos/às estudantes questões relacionadas à experiência sexual: se já haviam tido sua primeira experiência, com que idade, a relação com o parceiro, se tinham desejado ou não a relação no momento que ocorreu, e se haviam usado algum método anticoncepcional nessa primeira relação. É interessante observar que, antes da intervenção, 60% dos estudantes do sexo masculino e 32% do feminino disseram já ter tido relações sexuais. Essas porcentagens caíram para 46% entre os homens e 21% entre as mulheres após as atividades educativas. Vale ressaltar que o projeto enfatiza o sexo por escolha própria, no momento certo e sem imposição de terceiros, de forma prazerosa e responsável. (tabela 6)

Outro resultado interessante pode ser observado na tabela 7. Essa tabela mostra um aumento importante na proporção de estudantes que disseram ter desejado a sua primeira relação sexual no momento em que esta ocorreu, especialmente entre as mulheres. Com esse resultado pode-se inferir que o projeto vem contribuindo para um maior empoderamento das adolescentes e jovens, conseguido por meio de um trabalho que incentiva a assertividade e a auto-estima sob a ótica da eqüidade de gênero.

A tabela 8 refere-se ao uso de métodos anticoncepcionais na primeira relação sexual. Enquanto na primeira fase da pesquisa 46% dos homens e 54% das mulheres reportaram ter usado algum método na sua primeira relação sexual, após a intervenção essas porcentagens sobem para 52% e 60%, respectivamente. É interessante notar também o aumento do

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percentual de uso do preservativo como primeiro método, significando a preocupação com a dupla proteção, que vem sendo enfatizada nas atividades educativas do projeto.

Por fim, para os/as adolescentes sexualmente ativos foram feitas diversas perguntas, entre as quais a que se refere à ocorrência de alguma gravidez,. a questão sobre freqüência de uso do preservativo e sobre o uso na última relação sexual.

Os resultados mostraram uma diminuição na proporção de adolescentes que reportaram uma gravidez nesse período: na pesquisa realizada antes da intervenção, 33% das alunas disseram já ter engravidado e 19% dos alunos, que já haviam engravidado uma parceira. Na pesquisa pós-intervenção, essas porcentagens caíram para 27% entre as mulheres e 13% entre os homens.

No que se refere ao uso do preservativo na última relação sexual, a tabela 9 mostra um aumento desse uso após a intervenção entre os adolescentes de ambos os sexos, passando de 65% entre os homens e 52% entre as mulheres na fase pré-intervenção para 73% e 55%, respectivamente, após as atividades educativas. Observa-se também um aumento na freqüência de uso do preservativo entre adolescentes dos dois sexos. Antes da intervenção 57% dos homens e 40% das mulheres disseram usar sempre o preservativo. Essas porcentagens subiram para 64% ente os homens e 49% entre as mulheres e seus parceiros.

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7. Considerações

Durante esses dez anos de trabalho voltado para a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens estudantes, em parceria com as escolas, várias são as lições aprendidas e os desafios. A experiência mostrou que, para que o projeto tenha êxito, é de suma importância que se conte com o compromisso efetivo da direção das escolas. É esse compromisso da diretoria com as atividades do projeto que facilita e incentiva a participação de professores e adolescentes multiplicadores, tanto nas capacitações, como nas atividades educativas. Também é esse compromisso que possibilitará a continuidade do projeto na escola, ou seja, a auto sustentabilidade.

Durante esse tempo, a experiência vem mostrando como é importante o papel dos/as adolescentes multiplicadores/as na realização de atividades e eventos educativos, em função de sua maior identificação com o público alvo, de seu entusiasmo e interesse. Paralelamente, observa-se que a participação e o interesse de professores/as, pais, mães e da comunidade escolar vem contribuir para o êxito e continuidade do projeto na escola.

Entretanto, o grande desafio enfrentado por projetos de parceria com escolas é superar as dificuldades estruturais do ensino público fundamental e médio de nosso país, em que as escolas encontram-se em situação precária, tanto no que diz respeito a instalações e materiais como, principalmente no que se refere à baixa remuneração de sua equipe técnico-pedagógica, com conseqüências graves como falta de motivação, sobrecarga, desinteresse e rotatividade, e que se reflete na a qualidade do ensino.

Para desenvolver as atividades educativas do projeto os professores/as envolvidos precisam passar por uma capacitação e preparar seus planos de aula para inserir os novos conteúdos. Para isso, necessitam tempo e dedicação extra. Assim, um dos maiores desafios da equipe técnica da Bemfam tem sido a de desenvolver estratégias para estimular o engajamento desses professores já tão sobrecarregados e desmotivados a assumirem mais essa tarefa.

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Assim, pode-se dizer que o projeto de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes nas escolas - PROESCOLA vem tendo um papel importante na luta pela prevenção de DST/HIV/Aids e da gravidez não-planejada, bem como na promoção da eqüidade de gênero, da cidadania e do protagonismo juvenil entre os/as adolescentes. Como esse projeto tem um trabalho de sensibilização voltado para a mudança de atitudes e comportamentos, a disponibilização de preservativos e de serviços de qualidade em saúde sexual e reprodutiva complementam suas ações.

Referências bibliográficas

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BEMFAM – Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil. Pressupostos teóricos para estruturação do programa de educação sexual e prevenção de DST/AIDS nas escolas. [1997]. Impresso não publicado.

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO – AIDS. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação Nacional de DST e AIDS. v. XV, n.1, dez 2002.

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SCHALL, VT e STRUCHINER, M. (1995) “Educação no contexto da epidemia de HIV/AIDS: Teorias e tendências pedagógicas”. In Czeresnia, D et al. (org.) AIDS: Pesquisa Social e Educação. SP: Hucitec/Abrasco, pp. 84-105.

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