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Casais exogâmicos no Brasil: diferenciais segundo país de nascimento

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Academic year: 2021

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Casais exogâmicos no Brasil: diferenciais segundo país de nascimento

Resumo

A experiência do país com a imigração tem sido acompanhada, em maior ou menor escala em função do período, de um fenômeno presente mesmo nas mais remotas sociedades humanas: a exogamia. A bibliografia sobre exogamia, ou casamentos mistos, é bastante extensa. No entanto, poucos são os estudos com foco na união entre pessoas nascidas no Brasil e as nascidas no exterior, mas que vivem em solo brasileiro. Com vistas a ampliar o conhecimento sobre essa questão, o objetivo deste estudo é elaborar um panorama das uniões exogâmicas, nas quais um dos cônjuges é nascido no Brasil, a partir dos resultados do Censo Demográfico realizado em 2010 pelo IBGE. Verificou-se que a pessoa nascida em outro país tende mais a formar casal exogâmico, com uma pessoa nascida no Brasil, e não endogâmico, com alguém de seu próprio país. Também foi observado que quanto maior o tempo de residência do estrangeiro no Brasil, maior o desequilíbrio na razão de sexo, em favor dos homens, na formação desses casais. Quando se analisa o período mais recente, em que a participação de países da América Latina na origem dos migrantes ganha relevância, a razão de sexo entre os estrangeiros nos casais exogâmicos fica mais equilibrada.

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Introdução

No passado, o Brasil foi considerado país de imigração devido, especialmente, ao período de 1890 a 1930, pós abolição da escravatura, quando o Estado atuou de forma direta na atração de migrantes, principalmente de alguns países europeus e do Japão. A partir de meados de 1980, o Brasil inseriu-se na rota das migrações internacionais recentes, em função da saída de muitos de seus cidadãos para os Estados Unidos, Japão e alguns países europeus, enquanto passou a receber migrantes de países limítrofes e do Hemisfério Norte, além de seus próprios retornados (BAENINGER, 2014). A experiência do país com a imigração tem sido acompanhada, em maior ou menor escala em função do período, de um fenômeno presente mesmo nas mais remotas sociedades humanas: a exogamia. A bibliografia sobre exogamia, ou casamentos mistos, é bastante extensa (ver WILLIANS, 2010). No entanto, poucos são os estudos com foco na união entre pessoas nascidas no Brasil e nascidas no exterior, mas que vivem em solo brasileiro. Ainda que algumas pesquisas tenham trazido reflexões pontuais sobre o tema, o mais comum é encontrar estudos sobre casamentos exogâmicos que envolvem mulheres brasileiras residentes em outro país, uniões inter-raciais ou trocas matrimoniais entre etnias indígenas. Com vistas a ampliar o conhecimento sobre essa questão no território brasileiro, o objetivo deste estudo é elaborar um panorama das uniões exogâmicas, nas quais um dos cônjuges é nascido no Brasil, a partir dos resultados do Censo Demográfico realizado em 2010 pelo IBGE. Mais especificamente, interessa saber se: os imigrantes nascidos no exterior tendem, predominantemente, a formar casais endogâmicos ou exogâmicos; a distribuição dos casais mistos no território nacional tem diferença de incidência em função do lugar de residência; existe equilíbrio entre os sexos nos casais exogâmicos; e se existe homogamia em termos de idade e escolaridade nesses casais.

Metodologia

Foram utilizadas, a partir dos microdados dos resultados da amostra do Censo Demográfico de 2010, as variáveis de sexo, idade, Unidade da Federação de residência, relação de parentesco com o responsável pelo domicílio, país de

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nascimento, ano de ingresso no país (para os nascidos no exterior), conjugalidade, nível de instrução e renda. A partir dessas variáveis foram estimados volumes e porcentagens de migrantes internacionais acumulados (lifetime migrants) e sua participação em casais exogâmicos, assim como a elaboração de perfis de sexo, idade, escolaridade e renda, para efeito de comparação em função do país de nascimento.

Resultados

Foram identificadas 592.570 pessoas nascidas no exterior (migrantes acumulados), com razão de sexo (número de homens para cada 100 mulheres) de 117,3. Se observadas somente as pessoas com idade acima de 10 anos (que respondem sobre conjugalidade), foram contabilizadas 558.071 pessoas. A partir da questão sobre convivência conjugal, registrou-se que, dentre os homens, 70% estavam em união, muito superior às mulheres, das quais 49% estavam na mesma situação. Observou-se que 107.075 eram responsáveis pelo domicílio, Observou-sem preObservou-sença de cônjuge; 124.466 eram cônjuges em cujos casais ambos eram nascidos no exterior, ou seja, 62.233 casais endogâmicos de pessoas nascidas no estrangeiro; e 187.382 eram parte de um casal do qual um dos cônjuges era nascido no Brasil, o que conforma nosso grupo de casais exogâmicos. Estes resultados revelam que as pessoas nascidas no exterior tendem a formar casais com nativos do Brasil em maior proporção do que entre pessoas do mesmo (ou de outro) país estrangeiro. No entanto, existe um importante desequilíbrio em termos de sexo nos casais exogâmicos: os homens nascidos no exterior são 71,5%, enquanto que, consequentemente, as mulheres nascidas em outro país perfazem 28,5%.

Os resultados seguintes abordam somente as pessoas nascidas no exterior que são cônjuges em casais exogâmicos. Com relação ao ano de ingresso no país, 50% das pessoas chegaram antes de 1970, indicando, por um lado, a idade mais avançada dessa população (54,9 anos em média), e por outro a fraca representatividade de imigrantes mais recentes, uma vez que somente 16% chegaram durante os 10 anos anteriores ao Censo.

No que se refere ao continente onde se localiza o país de nascimento, a maioria veio da Europa (51,8%), seguido da América Latina (31,1%), Ásia (11,7%), África (2,7%), América do Norte (2,5%) e Oceania (0,2%). Da Europa, os principais países são Portugal, Itália e Espanha, nessa ordem; Da América Latina, as pessoas nasceram

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em maior proporção no Paraguai, Argentina e Uruguai; na Ásia, o Japão é o país de origem predominante; os demais continentes e países não apresentaram números suficientes para uma análise mais sólida, já que se trata de uma amostra censitária. Com relação ao sexo dos naturais dos continentes elencados, é interessante notar que a proporção de homens dentre os que têm origem na América Latina é de 61,7%, ou seja, ainda que predominante com relação às mulheres, é a mais baixa dentre todos os continentes e a única abaixo da média geral (71,5%).

A distribuição dos casais exogâmicos entre as Regiões do Brasil ocorre em consonância com a distribuição de estrangeiros no país, ainda que com algum destaque para a Região Nordeste, uma vez que abriga 5,6% dos estrangeiros e 7,3% dos casais mistos; as demais Grandes Regiões registram a presença desses casais em proporção ligeiramente inferior à de estrangeiros. Esse resultado, no entanto, varia em função do continente onde se localiza o país de origem: quando considerada a Europa, Nordeste e Sudeste têm maior presença da exogamia; se observados os países da América Latina, serão as Regiões Norte e Sul a ganharem destaque. No que se refere às análises de razão de sexo, idade, tempo de residência, escolaridade e renda entre os membros dos casais, foi observado que os resultados variam muito em função do país de nascimento do imigrante, e serão explorados detalhadamente no trabalho completo. Por esse motivo, neste resumo foram selecionados dois países para efeito de comparação: Itália e Paraguai, com intuito de ter representação dos fluxos mais antigos (Europa) e mais recentes (América Latina), além de terem participação semelhante em volume. Em síntese, as diferenças intensificam-se: imigrantes nascidos na Itália apresentam razão de sexo de 488,5, idade média de 62,6 anos, tempo médio de residência de 42,7 anos. Além disso, em 80% dos casais o homem é mais velho (em 6% a idade é igual entre os cônjuges, em 14% a mulher é mais velha), em 58% o nível de escolaridade era o mesmo (com 26% dos casos com nível mais alto para os homens e 16% para as mulheres) e faixas de renda no trabalho principal maiores para os homens. Aqueles nascidos no Paraguai têm razão de sexo de 77,6 (ou seja, predominância de mulheres), idade média de 37,3 anos e tempo médio de residência de 19,8 anos. Ademais, em 70% dos casos o homem nascido no Paraguai é mais velho (em 24% a mulher é mais velha, e em 6% dos casos têm a mesma idade), em 63% o nível de instrução era o mesmo (no caso de níveis diferentes, as mulheres predominam com nível de instrução mais elevado

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em relação aos homens, em 20% dos casos), e a renda do homem era superior, mas menos desigual que no caso da Itália.

Discussão

No Brasil, verificou-se uma relação positiva entre tempo de residência do estrangeiro e a proporção de casais exogâmicos, respectivamente à sua origem. Nesse sentido, também foi observado que quanto mais antiga é a entrada do estrangeiro, maior o desequilíbrio na razão de sexo, em favor dos homens, na formação desses casais. Esse fato pode ser parcialmente explicado com base em estudos que mostram a predominância de uniões entre mulheres do sul e homens do norte (ASSUNÇÃO, 2016), uma vez que a imigração de europeus no Brasil era mais comum no passado. Quando se analisa o período mais recente, em que a participação de países da América Latina como origem dos migrantes ganha relevância, a razão de sexo nos casais exogâmicos fica mais equilibrada. Se aceita a afirmação anterior, tal tendência ao equilíbrio pode ser relacionada à migração sul-sul.

Os resultados sobre os países escolhidos (Itália e Paraguai) para análises específicas apontam para maiores diferenças entre os sexos em termos dos atributos observados nos membros dos casais quando um deles nasceu na Itália, e maior equilíbrio quando o imigrante nasceu no Paraguai, além da inversão na medida da razão de sexo. Williams (2010) afirma que as desvantagens dos cidadãos do hemisfério sul (ou de países em desenvolvimento) no aproveitamento de oportunidades da migração internacional, em comparação aos nativos do hemisfério norte (ou de países desenvolvidos) podem ser superadas por meio do casamento exogâmico. Esta e outras questões são discutidas na literatura sobre o tema e serão exploradas com mais profundidade no trabalho final.

Referências

ASSUNCAO, V. Migrantes por amor? Ciclo de vida, gênero e a decisão de migrar em diferentes fases da vida. Rev. Estud. Fem., Florianópolis v. 24, n. 1, p. 63-80, Apr. 2016.

BAENINGER, R. O Brasil na rota das migrações internacionais no século XXI. Revista

Jurídica Consulex, v. XVIII, p. 28-30, 2014.

WILLIAMS, L. Global marriages: cross-border marriage migration in global

Referências

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