• Nenhum resultado encontrado

PREVENÇÃO, REPRESSÃO E CONTROLE DA CRIMINALIDADE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PREVENÇÃO, REPRESSÃO E CONTROLE DA CRIMINALIDADE"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

P R E V E N Ç Ã O , R E P R E S SÃ O E C O N T R O L E DA C R IM IN A L ID A D E

A riosvaldo de C am pos Pires Prof. Titular da Faculdade de Direito da UFMG

I

A rigor, para falar-se em prevenção, faz-se necessário (ou pelo m enos fa r-se -ia necessário ) ex am in ar as causas da crim inalidade, ainda que en

pa ssa n t.

De fato, com o prevenir, sem que se conheça a fenom enologia que se q u er evitar? Prevenir é antecipar-se, predispondo meios que inibam o crim e. A prevenção pode dar-se desde a elim inação do fenôm eno, com o causa (tal estrad a tem um a curva acentuadíssim a e a elim inação dessa curva evitaria a repetição dos acidentes) ou da disposição de meios que, sem elim inar a causa, ev itam o com portam ento condicionante (policiamento ostensivo no trecho pe-rigoso). A penas exem plificando com o problema do trânsito nas estradas.

A repressão vale com o form a de im pedir a continuidade de um deter-m inado codeter-m portadeter-m ento delituoso e, para alédeter-m disso, serviria codeter-m o advertên-cia aos tendentes ao crim e, traduzida no incutim ento do m edo, posicionando um contram otivo ao im pulso criminoso.

Já o controle da crim inalidade, que é o aspecto final dessa trindade, haveria de exercer-se pela atuação nos cam pos legislativo, policial-judicial e penitenciário.

A política de com bate ao crim e exige a reunião das três atividades. E necessário prevenir, reprim ir e controlar a criminalidade.

A eficácia dessa política de combate ao crime deve preceder o conheci-m ento do fenôconheci-m eno criconheci-m inal, buscando a sua erradicação (que é evidente-m ente tarefa ievidente-m possível) ou a sua inibição, até chegarevidente-m os à repressão do fe-nôm eno da criminalidade.

(2)

Todas essas atividades são importantes, ao seu modo. O ideal seria erradicar o crime; não sendo possível, é importante reduzí-lo ao tolerável. Ariosvaldo de Campos P ires---

---II

D esejam os refletir não sobre a criminalidade como um todo, genérica, difusa, mas sobre a criminalidade violenta. É esta que assusta, atem oriza, an-gustia, mudando até mesmo os hábitos dos brasileiros, quer no trabalho, quer na sim ples atividade de lazer, quer no comportamento corriqueiro do dia-a- dia.

Ao seu influxo modificou-se a própria arquitetura dos prédios. A s ca-sas de jardim à mostra, com um pequeno gradil à frente, sofreram radical m e-tam orfose, transformando-se em verdadeiras fortalezas. Os Bancos passaram a ter o seu próprio policiamento. M ultiplicaram-se os serviços de segurança particular, convivendo a sociedade no momento com autênticas milícias para- m ilitares, cuja origem, preparação e finalidade deveriam estar sob o crivo do rígido controle dos órgãos estatais da segurança pública. Seria o caso de in-dagar: tais milícias estariam bem orientadas? Seriam suficientem ente instruí-das e pagas? Quem as disciplina e controla? A polícia? O E xército? D ispori- am do senso ético e do esprit de corps, tão indispensáveis a tais funções? É um a tem ática a ser discutida à parte.

Os passeios noturnos diminuíram. Ninguéfn mais usa ou, pelo menos, ostenta jóias. Até os trajes foram adequados a esconder as pessoas. B anquei-ros e em presários andam em caminhonetes lonadas, usando trajes com uns para não se identificarem partícipes de uma classe diferente da classe com um dos homens.

Vive-se a neurose do medo e da insegurança. Q uadrilhas assaltam à luz do dia, nos lugares de maior movimento, com absoluta tranqüilidade.

A televisão, faz pouco tempo, exibiu cenas colhidas no V iaduto do Chá, em São Paulo. Cenas de estarrecer o mais frio dos homens. U m a qua-drilha trabalhando livremente, escolhendo as suas vítimas, tirando-lhes cor-dões, relógios e bolsas, e os demais transeuntes a tudo assistindo im passíveis, como se nada estivesse acontecendo.

C riou-se o clima de insensibilidade ou do medo. A prim eira é pior, ou seja, a insensibilidade diante do que acontece, diante do crim e que estam os vendo desenvolver-se a poucos passos de nossa pessoa.

Os turtos de veículos ocorrem com uma freqüência monótona. N ão é preciso ir além. Isso e o mais simples, e o mais corriqueiro, o mais com um Os mais graves fenôm enos da criminalidade atual residem no assalto a prédi-os inteirprédi-os. D om inar prédi-os moradores, subjugá-lprédi-os em banheirprédi-os, em m uitprédi-os

(3)

sos acom panhando o assalto o estupro, a morte, o seqüestro, vai se tom ando comum.

C uriosam ente a realidade contraria a previsão do notável HUNGRIA. D iz ele, prevendo a crim inalidade do futuro:

“A o invés do assalto brutal e cruento, a blandícia vulpiana, o enredo sutil, a aracnídea urdidura, a trapaça, a m istificação, o em buste.”

Q ue erro na previsão do notável m estre!

III

M as, pergunta-se, e vem o ponto fundam ental da tem ática: o que fa-zer? Sem aprofundarm os no exam e das causas da crim inalidade violenta, é n ecessário situar o com bate à mesma, sobre alguns planos, que não esgotam , evidentem ente, a m atéria, porque esse tem a é inesgotável.

A - A LONGO PRAZO, MODIFICAÇÃO DAS ESTRUTURAS SOCIAIS GERADORAS DA INJUSTIÇA SOCIAL,

FRUTO DA MÁ DIVISÃO DE RIQUEZAS, GERANDO OS MENORES SEM LAR.

O 5o C ongresso da O N U , sobre prevenção e repressão dos crim es e tratam ento dos delinqüentes, realizado em Genebra, num a das suas conclu-sões, estabeleceu o seguinte:

“N o tem po presente... (em 1975), a prim eira preocupação deve ser de u m a p re v e n ç ã o p rim á ria de ord em g eral e so cial. As a tiv id a d e s intersetoriais devem ser planejadas e integradas em program as gerais do bem -estar social. É necessário mais reform as sociais do que ju ríd i-cas. Ficam os na superfície da delinqüência sem ir ao fundo dos proble-mas. U m a racionalização da prevenção prim ária postula necessaria-m ente unecessaria-m a necessaria-m elhor organização das estruturas políticas e sociais a ex i-girem a transform ação do sistem a econôm ico, a supressão das desi-gualdades e da injustiça na exploração das riquezas naturais e na re-partição do produto do trabalho.”

E, num a subconclusão, o 5o Congresso afirmou:

“A ju stiça social constitui um meio de prevenir a crim inalidade. ’ --- Prevenção, Repressão e Controle da Criminalidade

(4)

Ariosvaldo de Campos Pires —

Em Belo Horizonte anuncia-se que há cerca de duzentos mil menores abandonados. N ão são menores carentes apenas, que, possuindo um lar, ape-nas não dispõem de melhor assistência. São pessoas rigorosam ente abando-nadas, que dorm em sob as marquizes, que andam em bandos, furtando ou as-saltando. São os “trombadinhas” que infernizam as grandes cidades.

Sob certo aspecto, a criminalidade é menor do que seria de se esperar. Sob este aspecto, estamos diante de um milagre, porque se 5% ou 10% dos menores, que se acham em estado de abandono, nas grandes cidades ou na periferia das grandes cidades, se encaminhassem às práticas crim inais, não sei o que seria da nossa sociedade organizada.

B - ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO MENOR ABANDONADO

Subm etê-lo a um regime educativo e assistencial coerente e hum ano; preferentem ente assentá-lo em famílias organizadas, onde passaria a viver a vida em família. Pari passu planejar a família pobre, incentivá-la a ter m enos filhos. Localizar grupos escolares nas próprias favelas ou próxim o delas. D ar a estes menores alimentação e educação. N essa faixa etária o castigo nada vale, pois outra coisa tais menores não tiveram ao curso de suas existências. A correção pelo amor é que será a novidade.

C - POLICIAMENTO OSTENSIVO E EFICAZ

N ad a fu n c io n a m e lh o r, em te rm o s de p re v e n ç ã o , d o q u e a ostensividade da repressão. Vejamos o que acontece nas estradas. U m a só pa-trulha rodoviária inibe o excesso de velocidade numa área de dezenas de qui-lômetros, antes e depois do ponto onde se encontra. Os motoristas, solidariamente, encarregam se de dar avisos, produzindo até um outro mal, o do co n -gestionam ento do trânsito. E isso já estava na palavra de BECCARIA , que dizia no século passado que é melhor prevenir do que reprimir.

Infelizmente, as nossas cidades estão abandonadas. N ão é adm issível que a televisão “fotografe” cenas de assaltos a cidadãos pacatos, em pleno centro de São Paulo, horas a fio, sem que lá tenha aparecido um só agente policial.

D - ALTERAÇÕES NO PLANO LEGISLATIVO

Essa tendência de descrim inalizar e destipificar não é um a posição or-denada por uma reflexão fundada na benevolência para com o crim e. Não.

(5)

---Prevenção, Repressão e Controle da Criminalidade R eside aí um a das medidas fundam entais para que possam os descongestionar a ju s tiç a penal de um sem núm ero de processos de bagatela, que estão a to-m ar a atenção, o cuidado e o teto-m po de toda a engrenageto-m judicial, eto-m detri-m ento daquelas hipóteses cridetri-m inais, que detri-m erecedetri-m a atenção pronta, idetri-m ediata e eficaz da Justiça Penal.

Não creio que o endurecim ento da sistem ática penal vigente melhoraria algum a coisa. A reintrodução da prisão preventiva obrigatória para os cri-mes, cu ja pena exceder um certo limite mínim o (com o acontecia no sistem a original do Código de Processo Penal de 1941) não resolverá nada. Em pou-co tem po teríam os m uito mais processados presos do que pou-condenados presos. E sabem os que o núm ero de condenados não poderia ser contido, nesta qua-d ra atual qua-da viqua-da brasileira, qua-dentro qua-dos presíqua-dios existentes. Q uer qua-dizer, não adiantaria esse tipo de reform a, que é uma reform a “para inglês ver” , é um a m odificação inconseqüente, impertinente e, sobretudo, ineficaz.

N ão crem os, repito, que o endurecim ento do sistem a repressivo seja m edida eficaz no com bate ao crim e. D eixem os a pena de m orte para os m u-seus do passado. N ão vam os trazer um instrum ento que é antipedagógico, na linha de um a pedagogia que visa justam ente a com bater a violência. Se a pe-dagogia estatal orienta-se no sentido de evitar-se a violência, não seria lógico e nem correto fôssem os trazer para a luz do dia um instrum ento que já se encontra m ais ou m enos obscurecido pelas trevas da noite, que é a pena de morte.

A prisão para averiguação é um a outra anom alia. É form a de obrigar as pessoas a dar provas contra si. N ão se pode com eçar um a investigação p elo que deve ser o fim da investigação, que é a prisão.

E - É PRECISO EVITAR-SE A INCHAÇÃO DAS GRANDES CIDADES, O ÊXODO RURAL, OS BOLSÕES DA MISÉRIA

O exam e desta questão exigiria exposição fastidiosa e longa.

D e certo modo, estas condicionantes serviriam à evitação da m argina-lidade social com o um todo e, claro, serviriam com o prevenção ao crim e vio-lento.

IV

D etenham o-nos na form a de crim inalidade que é objeto das preocupa-ções de todos os cidadãos: a violenta. Q uais as form as de crim e violento que

(6)

se m anifestam em nossa realidade? É o homicídio, o roubo e a extorsão, a violência sexual, no trânsito.

Quais as suas causas? O homicídio tem origem na subcultura da vio-lência. É pois, fundamentalmente, um problema cultural. Q ualquer ofensa, em meio menos desenvolvido, a uma pessoa, tem como resposta o em prego da violência.

Há, pelos lados da cidade onde nasci, no Oeste de M inas G erais, um a idéia de que homem que é homem não apanha na cara. Um conceito de honra tão arraigado que o resultado de um tapa na cara é muito diferente do que o resultado de uma surra que a pessoa leva numa briga norm al. E ssa não tem importância. Ele não foi desonrado, mas um tapa na cara é desonra, e a única forma de lavar a honra é com a morte. Até hoje notam -se resquícios desse tipo de solução.

Não podemos nos esquecer, em sede de análise das ações violentas, da presença do álcool. No Conselho Penitenciário do Estado de M inas G erais, nos inúm eros processos que no dia-a-dia examinamos, verificam os que o ál-cool está presente na maioria das violências praticadas. Ou porque o que m a-tou estava embriagado, semi-embriagado ou havia usado álcool; ou a vítim a, ou um terceiro provocador, um circunstante.

É sensível a correlação entre o álcool e a violência.

Roubo e extorsão. Via de regra é o problema econômico o m otivo des-sas ações, preponderantemente. E também um problema de educação, de cul-tura, de inibição dos próprios desejos insatisfeitos.

A extorsão mediante seqüestro ocupa agora o vértice da crim inalidade. Por quê? Porque é a mais fácil de ser praticada. Os riscos são poucos. A im -punidade é quase a regra, pois a única “testem unha” do fato é a própria víti-ma, im pedida de “ver e ouvir” e, excepcionalmente quando “ouve”, torna-se “muda" pela ameaça e pelo medo. E o que é mais im portante: a vantagem proveniente do crime é compensadora, pois os agentes asseguram -se previa-mente da boa condição financeira da vítima.

Como enfrentar essa onda de seqüestros? A resposta não é difícil, vista a questão sob um ângulo puramente técnico. A ação da polícia deve fazer-se à revelia dos interesses da vítima e das famílias. O crime é de ação pública, o que obriga a autoridade a agir, doa a quem doer. Mais: as autoridades não deveriam perm itir o pagamento de resgates. Im possibilitar a transform ação de cruzeiros em dólares. Em pouco tempo, frustrada a prática extorsiva, tal modalidade desapareceria.

V ejam bem . A m atéria foi e n fren tad a, te c n ic a m e n te . N ão c re io que seria p o ssív el e aceitav el, sob o plano h u m an ístico , não p e rm itir as n e g o c ia ç õ e s , p o n d o em risc o a v id a h u m a n a . P e lo m e n o s no Ariosvaldo de Campos Pires--- —---

(7)

Prevenção, Repressão e Controle da Criminalidade B rasil, pois não sabem os com o o povo reagiria ao enfrentam ento da questão sob o ângulo técnico e as vítim as fossem mortas.

Enquanto m elhor reflexão sobre o assunto não ocorre, creio que, quem tem a pagar, deve tom ar as suas precauções. N ão é transform ar o seu lar, o seu trabalho, o seu lazer em um am biente de guerrilha urbana. M as algum as providências podem ser tom adas no plano da segurança pessoal e de fam ilia-res, norm alm ente descuradas.

Passem os aos crim es sexuais. Fundam entalm ente é um a questão edu-cacional, visando à inibição dos instintos. E problem a tam bém de ocasião, pois sem a ocasião não há o crime. As ruas escuras, o trânsito p or lugares erm os. O sair com pessoas desconhecidas.

Crim es de trânsito são os que mais ocorrem. Os que ocupam , de form a preponderante, as estatísticas crim inais. Aqui, sim, tem os um a lei repressora desajustada à realidade. Faltam tipificações: o dirigir em briagado; os com -portam entos perigosos; o dirigir sem habilitação; o excessos de velocidade; o desrespeito aos sinais de trânsito, às passagens de pedestres etc.

V

Portanto, o problem a de um a política criminal dirigida ao com bate ao crim e, com o um todo, e ao crim e violento, como espécie, é cultural, social, legal, ju d icial e penitenciário, a exigir a planificação da política, de com bate à violência, a nível de política governam ental. Não valem por ineficazes, tra-balhos elogiáveis, setorialm ente, mas sem um a planificação estrutural que pu d esse d a r m elhor encam inham ento a todo esse instrum ental disposto a com bater a crim inalidade violenta, reduzindo-a a níveis toleráveis.

Referências

Documentos relacionados

DATA: 17/out PERÍODO: MATUTINO ( ) VESPERTINO ( X ) NOTURNO ( ) LOCAL: Bloco XXIB - sala 11. Horário Nº Trabalho Título do trabalho

A conformação no estado líquido permite a obtenção da peça com a forma final enquanto que a conformação no estado sólido necessita de mais etapas para se obter a peça

Destacam-se, ainda, nessa composição, os produtos semimanufaturados de ferro e aço, conforme informativo econômico da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas

Fiproclear Combo 402 mg/361,8 mg solução para unção punctiforme para cães muito grandes não deve ser eliminado nos cursos de água, porque pode constituir perigo

O Programa Cidade Sustentável livre de embalagens vazias é realizado pela ABAS, coordenado pela PHCFOCO e operacionalizado pela Atitude Ambiental.. Este ano, o objetivo do programa

O Instituto de Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) conduz o sistema de avaliação de cursos superiores no País, produzindo indicadores e um sistema

LIMITES DEFINIDOS PELO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO E ENVIADOS AO CONGRESSO NACIONAL PARA APROVAÇÃO..

Entrando para a segunda me- tade do encontro com outra di- nâmica, a equipa de Eugénio Bartolomeu mostrou-se mais consistente nas saídas para o contra-ataque, fazendo alguns golos