MERCOSUL
E
A
NECESSIDADE
DE
HARMONIZAR
As
LEG1sLAÇõEs
DE
TRÂNSITO
'Dissertação apresentada
no Curso
dePós-Graduação
em
Direito da Universidade Federal de Santa Catarina,como
requisito à obtençãodo
Título deMestre
em
Ciências
Humanas
-
Especialidade Direito.Orientadora: Dr”
Odete Maria de
OliveiraFlorianópolis
Í"
_(xk
,___,`,<3; Prof' DraOdete Maria
de OliveiraPresidente
í,_/4/1//1,/A/fg
Prof. nz.
Lao
zúznzzâz-~¢¬: -LA'
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM
DIREITO
DISSERTAÇÃO:
Elaborada por
RICARDO VALENTE
SOUTO DE
CASTRO,
eaprovada por
todos os
membros
da
Banca
Examinadora,
foi julgadaadequada
para a obtençãodo
MERCOVSUL
E
A
NECESSIDADE
DE
HARIVIONIZAR
AS
LEGISLAÇÕES
DE
TRÂNSITO
título de
MESTRE
EM
DIREITO.
Flonanópolis,
março
de 2001
§
\ ' '\/»_›~v~`›»_~%Dra
Odete
Maria
de OliveiraProfessora Orientadora
QM/
_Dr. Christian G.
Caubet
Coordenador do Curso
Ao
meu
ƒilho Pedro, essemodesto legado
como
incentivoa
sua
vidaacadêmica.
AGRADECIMENTOS
À
Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), Curso
dePósàaduação
em
Direito, nas pessoasdo
atualCoordenador
Prof. Dr. Christian G.Caubet
edo
então
Coordenador
Prof. Dr.Ubaldo
Cesar
Balthazar, pela receptividade e consideração, ao corpo docente, extensivos às funcionáriasRosângela Alves
e Gilvana Pires Fortkamp.À
Universidade Federal ,deMato
Grosso
(UFMT),
pelo incentivodo Curso
de
Pós-Graduação
em
Direito. _À
Universidadedo
Valedo
Itajaí(UNIVALI),
na
pessoado
ProfessorAlceu
de Oliveira, pelo apoio recebido.À
Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar de Santa Catarina,nas
pessoas de seus Diretores, senhoresPedro
Renato
Gomes
eAdemar
Jacintode Souza,
pelo apoio recebido.À
ProfessoraDoutora Odete Maria
de Oliveira,paradigma
de serhumano,
cuja
alma
reflete o lato sentidoda
palavra sabedoria.Minha
deferênciaacadêmica
esincera gratidão. -
Aos
meus
pais e innãos,sem
os quaisnão
conseguiria transpor os obstáculosdo
cotidiano.Ao
meu
tioFernando
Souto de Castro,Doutor
e poeta, peloexemplo
intelectual. -
Aos
meus ahmos
de todas as Instituições, pelo incentivo.RESUMO
A
presente dissertação. objetiva analisar as legislações de trânsitodos
Estados-membros do
Mercado
Comum
do
Sul(MERCOSUL)
e observar sobre anecessidade de ser procedida as suas hannonizações, ao confronto da futura etapa de
mercado
comum
desse processo de integração e suasdenominadas
liberdadesde
livre circulação de pessoas, mercadorias, capitais e estabelecimentos, tendo
em
vista,
sem
dúvida, a singular mobilidadeque
essas circulações irão causarno
espaço
territorial de constituição desse blocoeconômico do
Cone
Sul.O
primeiro capítulo concentra-seem
estudos contextuais e introdutórios sobreo
processo de integraçãodo
MERCOSUL
e os efeitos decorrentesdo
fenômeno
da
globalizaçãodo
mercado
mundial,em
visão generalizadaUm
segundo
momento
do
capitulo, ocupa-se de questões práticas, analisando elementosestatísticos coletados junto aos Relatórios
Anuais
-
anos de1998-1999-2000
-
do
DNER
e 16° Distritoda
Polícia Rodoviária Federal,concementes
aO
aspectos evidenciados
no
viés teórico desse estudo.O
segundo
capítulo focaliza as legislações de trânsito dos países signatáriosdo
Tratado de Assunção.Em
análise decunho
comparativo, a pesquisaaborda
os seguintes aspectos administrativos: processo de habilitação dos condutores deveículos,
normas
de segurança de veiculos, e o registro de licenciamento de veículosautomotores.
Os
aspectos delituososnão
são abordados, apesar de se reconhecer aimportância de suas implicações penais. -
O
terceiro capítulo, por sua vez, apresenta aspectos pertinentes ao institutode
harmonização
das legislações,enfocando
oexemplo do modelo
europeu,concentrando-se nas perspectivas para a
harmonização
das legislações de trânsitono
MERCOSUL,
no
que
se refere aos aspectos administrativos enfocadosno
segundo
RESUMEN
Esta disertación se
propone
analizar las legislacionesde
trânsitode
losEstadosmiembros
delMercado
Común
del Sur(MERCOSUR).
Discurreasimismo
sobre la necesidad de proceder hacia la annonia,
tomando
en consideración la etapafutura del
mercado
comm
dentro del proceso de integración, asícomo
la libre circulación de personas, mercancias, capitalesy
establecimientos.Se
tieneigualmente presente la movilidad especial
que
la susodicha circulación causaráen
elâmbito territoral del bloque
económico
delCono
Sur.El primer capítulo se dedica a los estudios contextuales e introductorios sobre
el proceso
de
integración delMERCOSUR
y
los efectos derivados delfenómeno
dela globalización del
mercado
mundial,en una
visión de conjunto..Una
sección delmismo
capítulo trata las cuestiones prácticas, analisando datos estadísticostomados
de los Informes
Anuales
-
.años de1998-1999-2000
-
dleDNER
y
del 16° Distrito de la Policia Federal, concemientes a aspectos sobresalientes en la impostación teórica del presente estudio.El
segundo
capítulo aborda las legaciones de transito de los países signatariosdel Tratado de Asunción.
En
un
anflisis decuño
comparativo la investigación tratalos siguientes aspectos administrativos: proceso de habilitación de los conductores
de vehículos,
normas
de seguridad de vehículosy
registrode documentación
de vehículos automotores.Los
aspectos delictivosno
se abordan, a pesar deque
se renococe la importanciade
sus implicaciones penales.El tercer capítulo presenta aspectos relativos al instituto de
armonización
de las respectivas legislaciones, enfocando elejempo
delmodelo
europeo,concentrándose en las perspectivas para la
compaginación
de las legislacionesde
trânsito
en
elMERCOSUL
en
lo referente a los aspectos adrninislrativos tratadossUMÁRio
RESUMO
... .. ivRESUMEN
... ..v
LISTA
DE
QUADROS
... .. viii1NTRoDUÇÃO
... .. 1CAPÍTULO
I.O MERCOSUL
E
A
LIVRE
CIRCULAÇÃO
... _. 5 1.1. Contextualização Inicial ... .. 51.2.
Mercado
Comum
... ._ 8 1.3.A
Abrangência da
Livre Circulação ... .. 141.4.
A
Mobilidade do
Fenômeno
de lntegração e os Acidentes de Trânsito ... ... .. 231.4.1. Acidentes de Trânsito:
Número,
Tipos de Veículos Envol- vidos e PrincipaisCausas
(1998) ... _.25
1.4.2. Acidentes de Trânsito:Número,
Tipos de VeículosEnvol-
vidos e PrincipaisCausas
(1999) ... .. 311.4.3. Acidentes de Trânsito:
Número,
Tipos de VeículosEnvol-
. vidos e PrincipaisCausas
(20009) ... ..35
1.4.4.
Apreensões
de Veículospor mfrações
Diversas ... ..40
CAPÍTULO
ll -O
MERCOSUL
E AS LEGISLAÇÕES
DE
TRÂNSITO
DE
SEUS
ESTADOS-MEMBROS
... ..45
2.1. Legislação Brasileira ... ._
45
2.1.1. Processo de Habilitação deContudores
de Veículos ... ..46
2.1.2.
Nonnas
deSegurança
dos Veículos ... ..48
2.1.3. Registro e Licenciamento dos Veiculos
Automotores
... _. 51 2.2. Legislação Argentina ... .. 532.2.1. Processo de Habilitação
de Contudores
de Veículos ... .. 532.2.3. Registro e .Licenciamento dos Veiculos
Automotores
... ..57
2.3. Legislação Paraguaia ... _.
58
2.3.1, Processo de Habilitação de Contudores de Veiculos58
2.3.2.Normas
de .Segurança dos Veículos ... ..60
2.3.3. .Registro e Licenciamento .dos Veículos .Automotores ... .. 63
2.4 Legislação
Uruguaia
... ..64
2.4.1.. Processo de Habilitação de Contudores de Veículos ... ..
64
2.4.2.
Normas
deSegurança
dos Veículos ... ..66
2.4.3. Regi.stro e Li.cen.ciam.ento dos Veícul.os
Automotores
... ..67
2.5 Análise
Comparativa
das Similitudes e Diferenças entre asApon-
tadas Legislações ... ... ... ..68
2.5.1. Processos de Habilitações de
Condução
de Veículos ... ._69
2.5.2.Normas
de Segurançados
Veículos ... ... _.72
2.5.3. Registro e Licenciamento dos Veículos Automotores... 73CAPÍTULO»
III -A
NECESSIDADE
DE HARMONIZAR
AS
LEGIS-
LAÇÕES
DE
TRÂNSITO
Dos ESTADOS-MEMBROS
... ... ._vó
3.1O
Institutoda Harmonização
... ..76
3.2
Os
Modelos
Europeu
eCone
Sul ... .. 813.3
O
Avanço
Atingido peloConel
Sul ... ..88
3.3.1. Tentativas
em
Nível Geral ... ..88
3.3.2. Tentativas
em
N`íve1Específico ... .. 933.4 Perspectivas à
Harmonização
das Legislações de Trânsitono
MERCOSUL
... ..95
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... ..99
ANEXO
ÚNICO
... _.102
Quadro
1.Número
deMortos
e Feridos nas PrincipaisRodovias
(1998) .... ._LISTA
DE
QUADROS
Quadro
2. Tipos de Veículos Envolvidosem
Acidentesna BR-101
(1998)Quadro
3.Causas
dos Acidentesna BR-101
(1998) ... ..Quadro
4. Tipos de Veículos Envolvidos eCausas dos
Acidentes dasQuadro
5.Número
deMortos
e Feridos nas PrincipaisRodovias
( 1999) ... ._Demais
Rodovias
(1998) ... ..Quadro
6..Tipo
de Veiculos Envolviosem
Acidentesna
BR-101
(1999)Quadro
7.Causas
dos Acidentesna
BR-101
(1999) ... __Quadro
8. Tipos de Veículos Envolvidos e as PrincipaisCausas
dos Aci-dentes nas
Demais
Rodovias
(1999) ... ._Quadro
9.Mortos
e Feridos nas PrincipaisRodovias
(2000) ... ._Quadro
10. Tipo de Veículos Envolvidosem
Acidentesna
BR-101
(2000)Quadro
11Quadro
12Quadro
13Quadro
14Quadro
15Quadro
16Quadro
17Quadro
18Quadro
19.Quadro
20.Quadro
21Causas
dos Acidentesna
BR-101
(2000) ... ..Tipos de Veículos Envolvidos e
Causas
dos Acidentes nasDemais
Rodovias
(2000) ... ..Causas
deApreensões
de Veículos (1998) ... _.Causas
deApreensão
das Carteiras de Habilitações (1998)Causas
deDetenções dos Condutores
de Veícu1os(_1998) ... _.Causas
deApreensões dos
Veículos (1999) ... ..Causas
deApreensões de
Carteirasde
Habilitações (1999) ... ._Causas
deDetenções dos Condutores
deVeícu1os(1999)
... ..Causas de Apreensões
de Veículos (2000) . ... ..Causas
deApreensões de
Carteira de Habilitações. (2.000)Causas
deDetenções dos Condutores
deVeíc1úos(2000)
... ..26
26
27
29
31 3132
3336
36
37
38
40
41
41
4142
42
43
44
44
O
Mercado
Comum
do
Sul(MERCOSUL)
oriundodo
Tratado deAssunção
firmadoem
26
demarço
de 1991, enquanto bloco emergente de países periféricos,vivencia
um
momento
de balanço institucional paraque
os seus propósitosde
integração
sejam
efetivamente alcançados.V
Para tanto, a grande tarefa
no
atual estágio integrativodo
Cone
Sul, consistena
reafirmação
dos seus alicerces normativo e decisório voltados para a construçãodefinitiva
do
viés institucionalda
intergovemabilidade, afim,
de que seja alcançadaem
etapa posteriorda
integração a supranacionalidade.Í
Nesse
sentido,no
curso deste trabalho será feitauma
análisedos
pressupostos
que
configuram
um
Mercado
Comum,
enfatizando ofenômeno
da
harmonização
das legislações dosestados-membros
e sua importância parao
processo
de
normatização e institucionalização deste mercado. _Assim,
a presente dissertaçãotem
como
objetivo primordial realizarum
estudo sobre as legislações
de
trânsito dosEstados-membros do
Mercado
Comum
do
Sul(MERCOSUL)
e observar sobre a necessidade de ser procedida aharmonização
de suas legislaçõesem
favorda
segurança terrestre de veículosautomotores e
da
mobilidade das pessoas, principalmenteno
momento
em
que o
caracterizada pelas
chamadas
liberdades; liberdade de circulação de mercadorias, pessoas, capitais e estabelecimento.Para tanto, utiliza-se o
método
indutivo, perquerindo, pormeio
de
análisehistórica, a evolução
da
integraçãodo
Cone
Sul a partir dacompactuação
econômica do
Tratado deAssunção
de 1991, tendocomo
países signatários:o
Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.
Por
intermédioda
pesquisa bibliográfica e documental, a pesquisa tenta percorrer seu trajeto teórico e prático.Com
suporte nessas referências,somadas
as evidências estatísticas coletadas junto aos Relatórios Anuais, anos de 1998,1999
e 2000,da
PolíciaRodoviária
Estadual e a Polícia Militar de Santa Catarina, procura-se demonstrar
como
secomportaram
nesses exercícios, amovimentação do
trânsito de veículosautomores
entre as fronteiras dos
países-membros
e suas conseqüências, as quaisvêm
acarretandoprofimda
preocupação por parte das autoridades intemas, sobretudoem
virtude deaumento
considerável de acidentes automobilísticos, principalmenteno
Brasil,
envolvendo
veículos e condutores oriundosda
Argentina, Paraguai e Uruguai, o que, por si só, enseja oporttma discussão quanto à necessária e à urgenteharmonização
das legislações de trânsitodos
países envolvidos.Para desenvolver o objeto proposto, a pesquisa foi dividida
em
trêsmomentos.
O
primeiro, apresentauma
abordagem
contextual sobreMERCOSUL
e alivre circulação de pessoas,
ou
seja, a evolução progressivado
seu processode
integração ante o
fenômeno
de globalizaçãoda
economia
mundial.Com
a observaçãona
experiência vivenciada peloparadigma europeu
_
União
Européia-
esse primeiro capítulo ocupa-setambém
com
o
atual estágiode
integração
do
Cone
Sul e seu avançarao
próximo patamar de
um
mercado
comum,
sua amplitude, seus propósitos complexos, e suas dificuldades, ressaltandoum
conceito genérico de livre circulação de pessoas e mercadorias, enquanto liberdades ftmdamentais desse processo integracionalista.Nessa
linha, enfatiza-se especificamente a livre circulação de pessoas e amobilidade de trânsito e suas conseqüências.
Com
suporteem
dados estatísticos dasmortos e feridos,
ademais
das irregularidades e descurnprirnentos às leis nacionaisde trânsito, sobretudo, nas rodovias catarinenses e suas linhas fronteiriças
com
osdemais
lirnites dosEstados-membros.
O
segtmdo
capítuloda
pesquisa aborda, atravésdo
método
comparativo, aslegislações de trânsito
dos Estados-membros do
MERCOSUL,
onde
foi priorizado os seguintes aspectos administrativos das referidas legislações:normas do
processo de habilitação de condutores de veículos,normas
de segurança dos veículos e asnormas
de registro ede
licenciamentodos
veículos automores. Talmétodo
comparativo presta-se para estabelecer os elementos
que
são constantes e gerais nasanálises das diferenças e similitudes entre as legislações nacionais de trânsito das unidades estatais
do
MERCOSUL.
Revela
notar,que não
foi objetoda
presente pesquisa focalizar questões deinfracionais penais de trânsito, apesar
da
importânciaque
reveste o tema, istoporque
fugiriado
objetivo propostopor
esse estudo.O
terceiromomento,
por sua vez, focaliza o instituto deharmonização
daslegislações sob o ponto
de
vista teórico e conceitual. Já,com
base nesse teorpropositivo, o trabalho passa a discutir sobre a necessidade de ser viabilizada junto aos países signatários
do
Tratadode
Assunção,uma
urgenteaproximação de
suaslegislações,
notadamente
de trânsito.Nesse
sentido, o terceiro capítulo,após
discorrer sobre a temáticada
harmonização, realça as tentativas emergentes feitas
na busca
deharmonizar
asnormas
de trânsito, principahnente, a partirdo
Protocolo deSan
Luis,firmado
em
1996,
na
Argentina, atravésdo
qual os países signatáriospropugnaram
àharmonização
dasnormas no
que
tange à responsabilidade civil decorrente deacidentes de trânsito ocorridos
nos
países integrantesdo
MERCOSUL.
Por
outro lado, ao se abordar as perspectivas e abrangências deuma
necessáriaharmonização
das legislações de trânsito, busca-se resgatar a discussão arespeito
do
próprio aspecto institucionaldo
Mercado
Comum
do Sul,do
seuTratado de
Assunção
edo
Grupo
do
Mercado
Comum
(GMC),
o
qual,órgão
hannonizador
das legislações internas dosEstados-membros
no
âmbito
do
MERCOSUL.
A
elaboração desta pesquisa teve suporteem
obras de autores nacionais e ainda de autoresdo idioma
espanhol, cuja tradução de suas obras e utilização de citaçõesno
texto dissertativo são de total responsabiliade 'do presente pesquisador.Finahnente, objetiva-se
com
esse trabalho,promover
a tentativade
contribuir
com
mais
uma
modesta
sinalizaçãoacadêmica
para o sucessodo
processo de integraçãoem
marcha
do
MERCOSUL,
afim
deque
assuma
contornoscada vez
O
MERCOSUL
E
A
LIVRE
CIRCULAÇÃO
1.1. Contextualização Inicial
O
fenômeno
da
globalizaçãoda
economia
mundial
não
é,no
dizer deIANNI,
“um
fato acabado,mas
um
processoem
marcha”1
e deampla
abrangência, atingindo todos os continentesdo
nosso planeta, conseqüentemente, as nações, sobretudo asperiféricas,
buscam
alternativas a seus efeitos, entre eles, apresentando-seuma
singular
fonna
decompactuação
regional, afim
de sobreviverem aos ditameseconômicos
dos países industrializadoscontundentemente
interdependentes,gerando
um
inexorável efeito de exclusão daseconomias
subdesenvolvidas. Ainda, o citado autor observa:“Em
verdade, aseconomias
das nações industrializadastêm-
setomado
crescentemente interligadas,por
meio
do comércio
global e dos produtosglobais.
Mas
a globalização deixou bastante à parte duasimensas
regiõesdo
globo,compreendendo mais
de60
países,com
cerca de20%
da populaçãomundial
uma
respeitável parcela dos seus recursos naturais: África e
América
Latina (...)” 2.É
neste contexto,que
aseconomias
do
TerceiroMundo vêm
promovendo
a'
IANNI, ozzzvio.
A
sociedade global, p. 24.2
emergência
de blocoseconômicos
regionais.Especificamente na
América
do
Sul, observa-seum
acelerado processo dedesterritorialização,
o
qual, pressupõeum
alargamento das identidades nacionais junto àsnações
circunvizinhas. Tal fato evidencia,segundo
SANTOS,
“(...) osegimdo
traço da globalização da economia: a primazia total dasempresas
multinacionais, enquanto agentes
do mercado
global”3.Acompanhando-se
oexpansionismo
dasempresas
transnacionais, observa-seuma
revolução tecnológicasem
precedentes e totahnente incompatívelcom
a percepção tacanha de Estados- nacionais, geralmente ineficazesem
gestãomacroeconômica,
e, por conseqüência,carecedores
da
capacidade de gerenciamento tecnológico das multinacionais.Nesse
sentido,
SANTOS
ainda enfatiza outros traços importantesda
globalizaçãoda
economia como:
“a erosãoda
eficáciado
Estadona
gestãomacroeconômica.
A
transnacionalização
da
economia
significa, entre outras coisas, precisamente talerosão e
não
seria possívelsem
ela.A
desregulação dosmercados
fmanceiros e a revolução dascomunicações
reduziram amuito
pouco
o privilégio que atéhá
pouco
o Estado detinha sobre dois aspectos
da
vida nacional-
amoeda
e acomunicação
--
considerados atributosda
soberania nacional e vistoscomo
peças estratégicasda
segurança nacional (. . .)”4.Para esse oautor,
também
“outro traçoda
globalizaçãoda
economia
fortemente vinculado à proeminência das multinacionais éo
avanço tecnológico das últimas décadas querna
agriculturacom
a biotecnologia, querna
indústriacom
arobótica, a
automação
etambém
a biotecnologia”5.Ao
focalizar as características das empresas multinacionais,OLIVEIRA,
por
sua vez, enfatiza
que
são essasempresas
os principais atoresdo
processo industrialeuropeu.
“Cada
vezmais
numerosas, de significativo poder e complexidade, integradas por grupos empresariais,de
limites difusos e que, concomitantemente,operam
em
diversos países,encontram
na
União
Européiaum
dos espaçosmais
3 SANTOS, Boaventura
de Souza. Pela mão de Alice, p. 290.
4
Idem, ibidem.
5
adequados”6.
Considerando
o atual e irrefutável cenárioda
globalização, qualqueriniciativa de integração entre os países periféricos
toma-se
um
imperativo para a sobrevivência dessas nações,que
jáprenunciam
um
colapso totalde
suas economias. Neste contexto, os paísesque
hojebuscam
a construçãodo
Mercado
Comum
do
Sul(MERCOSUL),
sinalizamuma
posturanão
de confrontação,mas
deflagrante correlação de forças ante aos blocos regionais
hegemônicos
dos paísescentrais, globalizantes, nos discursos e criminalmente protecionistas
no
tratocomercial. Tal correlação de forças implica, contudo,
numa
redefiniçãodo
conceito de soberania.Segundo
OLIVEIRA,
várias circunstâncias, dentre elas a globalização,vêm
provocando
uma
alteração ao conceito clássico de soberaniaenquanto poder
absoluto
do
Estado-nação. Para a autora:“A
polêmica
em
tomo
de tãocomplexo
problema
apresenta-se relativizada, dividindo a doutrina entre adeptosda
correnteda
soberania única e decorrente da divisibilidadeda
soberania. (...) teoriada
divisibilidade apresenta-se
mais
adequada
à realidade comunitária, por entenderque
o
Estado-membro
continua a exercer suacompetência
soberana, tantode
seupoder
coertivo e
execução intema
como
de seupoder
externo de manifestação”7.O
Tratado de Assunção,firmado
em
26
de
março
de
1991, alerta parao
fatode
que
omodelo
escolhido de integração parao
MERCOSUL,
consistena
busca
deum
mercado
comum,
com
as anteriores etapas caracterizadas.Segundo
ALMEIDA:
“O
MERCOSUL
visa,como
se sabe, àunificação
dosmercados
da Argentina,do
Brasil,
do
Paraguai edo
Uruguai,ou
seja, à constituição deum
tenitóiioeconômico
comum
no
cone sul latino-americano. (...) pretende ser, antesde mais
nada,uma
zona
de livre-comércio,que
é a primeira etapa das diferentes formas de integraçãoentre dois
ou
mais
países. Essazona
de livre-comércio deverá sercomplementada
pelo estabelecimento de
uma
política comercial conjunta dospaíses-membros
em
relação a terceiros países, o que implica
na definição
deuma
tarefaextema
comum,
¢
,., ~
conformando
oque
sedenomina
correntemente uniao aduaneira.Essa
uniaoaduaneira deve ser a
conformação
básicado
MERCOSUL
em
1995,quando
terá6 OLIVEIRA, Odete Maria de. União Européia: processos de integração e mutação, p.27l. 7
inicio, verdadeiramente, a construção
do
mercado
comum”
8.A
caracterizaçãodo
MERCOSUL
como
um
futuromercado
comum,
algoque
começou
a tomar-se flagrante de 1995 até os dias atuais, fazendocom
que, indubitavehnente, seja considerado “(...)um
dosmais
importantes blocoseconômicos
no
mundo
contemporâneo”.
De
tal caracterizaçãoafloram
as reaisintenções dos
países-membros
do
Mercado
Comum
do
Sul que, desde a assinaturado
Tratado deAssunção
buscam
dar ao processo de integraçãouma
conotaçãobem
mais
abrangentedo
que
uma
aliança calcada exclusivamenteno
livrecâmbio
dasrelações comerciais. Aliás, outro
não
poderia ser adimensão do
MERCOSUL,
o qual visa, precipuamente, fazer frente aoexpansionismo
protecionista dos Estadoshegemônicos
desenvolvidos. '1.2.
Mercado
Comum
Assim
como
ofenômeno
associativo dasComunidades Econômicas
Européias,
que culminaram
na
hodiema União
Européia, declaradacomo
tal peloTratado de
MAASTRICHT
de 1992, o processo integrativoque
objetiva oMercado
Comum
do
Sulde
1991,com
suasdemandas
dezona
de livre comércio,essencialmente
marcadas
pela livre circulaçãode
mercadoriassem
nenhum
tipo deentrave, tendo
formalmente
adentradona próxima
etapa de união aduaneira, dirige- serumo
àconsecução
deum
mercado
verdadeiramentecomum.
O MERCOSUL
espelha-se pois,em
parte,no modelo
de integraçãoda
União
Européia, o qual lapidou a perspectiva
meramente
comercial e aduaneirada
entãoComunidade Econômica
Européia(CEE)
que, consolidando os tennos traçados pelo Tratado deRoma,
ampliou
os objetivosdo que
viria a ser de fatoum
mercado
comum
para,num
momento
posterior, optar pelodesenho
deum
mercado
únicointerior, através
do
Tratadodo
Ato
Único
de 1986.Embora
o
Tratado deRoma
de1957, ao instituir a
Comimidade Econômica
Européia “(...)não
indique claramente,8
ALMEIDA,
Paulo Robertode.
0 MERCOSUL
no contexto regional e intemacional, p. 13.9
nem
faz qualquer descriçãodo
quedeve
ser entendido pormercado
comurn”1°, as postulações e disposiçõesda segunda
partedo
tratado,que
estampam
osfimdamentos da
Comunidade,
realçam diretrizes eminentes deum
mercado
comum.
MATHIJSEN
ensina:“Mercado
Comum
é constituído pelachamada
liberdadefundamental,
ou
seja, a livre circulação de mercadorias dentro dacomunidade,
alivre circulação de trabalhadores de
um
para outro EstadoMembro,
a liberdade de estabelecimento, a livre prestação de serviçosna comunidade
e a liberdadede
movimento
de capitais epagamentos”“.
A
Nesse
sentido, o Tratado de Assunção, já a partir de seus objetivos pactuados,também
sinaliza a construção entre seusEstados-membros,
de
uma
relação integrativa calcada nas liberdades
mencionadas
acima.Segimdo
ALMEIDA,
os objetivos
do
Tratado deAssunção
são:a)
A
inserção competitiva dos quatro paísesnum
mundo
caracterizado pelaconsolidação de blocos regionais de comércio,
no
qual a capacitação tecnológica é cada vezmais
importante para o progressoeconômico
esocial.
b)
A
viabilização deeconomia
de escala, permitindo a cadaum
dos
países-membros
ganhos
de produtividade.c)
A
ampliação das correntesde comércio
e de investimentocom
o
restodo
mundo,
bem
como
apromoção
da
aberturaeconômica
regional, favorecendo o objetivo últimoda
integração latino-americanalz.Tais objetivos serão atingidos (implementados)
com
programas de
liberalização comercial, redução de tarifas, políticas
macroeconômicas
coordenadas,tarifa
extema
comum
e o incrementode
acordos setoriais.É
bem
verdade,que
é de sensocomum
entre os doutrinadores,que
a plenitude deum
mercado
comum
pretendida pelo Tratado deAssunção
vem
enfrentando óbices de todaordem
desde 1995,quando
oMERCOSUL
assurniu ocaráter irreversível de bloco
econômico
frente acomunidade
econôrnica1° MATHIJSEN,
P. S. F.
R
Introdução ao direito comunitário, p. 206.“ Idem, p.2o7.
intemacional dirigida pelos países ricos.
As
vicissitudes, já esperadas,advieram
do
inevitável contraste entre os propósitos de diástole
econômica
de seus Estados-membros,
com
a pauperização edependência
econômica-tecnológica de suasrespectivas economias,
mais do que nunca
vulneráveis às investidas protecionistasdos
EstadosUnidos
entre osdemais
Estadosdo
centro.O
obstáculomaior
para a afirmaçãodo
MERCOSUL,
enquantomercado
comum,
tem
sido a dificuldade para a fixação deuma
estrutura tarifáiiacomum
entre seus Estados-membros, e sobretudo,
como
patamar
na
negociação comercialem
relação a terceiros Estados, isto porque, os países centrais,no
resguardo de suas balanças comerciais,imprimem
barreiras protecionistas distintasem
relaçãoao
países-membros
doMERCOSUL,
inviabilizando assim,não
só a tarifa externacomum, mas também
os acordos setoriais, fundamentaisna
edificaçãodo mercado
comum,
ou
seja, aconsecução
deuma
zona
de livrecomércio
na América
do
Sul,como
desideratoda
liberação comercial, é de certaforma
“deglutível” para os paísesricos. Já a conjectura de
um
modelo
integrativonos moldes da União
Européia, torna-se “indigesto” para as nações imperialistas,notadamente
os Estados Unidos, os quaistemem
a perda de partedo
mercado
sul-americano.Dessas
dificuldadesafloram
dúvidas e preocupações. Discute-se a respeitoda
irreversibilidade
ou
não do
Mercado Econômico
do
Sul.ALMEIDA
contundentemente conclui:
“A
consecução
deuma
zona
de livrecomércio
na
regiãonão
parece colocar obstáculo intransponíveis aos países-membros, a despeitomesmo
de dificuldades localizadasenvolvendo
unidadespouco
eficientesnum
ou
noutro setor. Esse objetivo
pode
edeve
ser atingido inclusive graças ao caráterautomático
do programa
de liberação comercia1”l3.Continua observando
o
autor: “a constituição deum
mercado
comum
entretanto,
que
passa pelo estabelecimentode
uma
união aduaneira,não
apresenta omesmo
grau de irreversibilidade. Ele implica,como
se sabe, afixação
de
uma
estrutura tarifária
comum,
susceptível de cobrir todoo
comérciodos
países-membros
com
terceiros paises”14.13 Idem, p.86. 1*
Observa-se
em ALMEIDA,
uma
preocupação
quanto à viabilidade deum
mercado
comum
para oCone
Sul,não
propriamenteem
virtude das investidas externas dos paises protecionistas; mas, considerando a necessidade de ajustesinternos
nos
paísesdo
MERCOSUL,
sobretudo de natureza fiscal e tributária.De
fato, afixação
deuma
estrutura tarifáriacomum,
requer dos paisesque
assinaramo
Tratado de Assunção,
uma
readequaçãode
suas tarifas intemas e externas, eque
exigem
reformas fiscais e tributárias profundas.Considerando
que
asmazelas
orçamentárias e o déficit público são
comuns
entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, a transposiçãodos
obstáculos para a construção deum
mercado
comum
no
Cone
Sul,exigem
esforços de higienização eenxugamento
daseconomias
envolvidas
na
integração. Indiscutivehnente,em
especial, Brasil e Argentina,vêm
dispendendo
esforços visíveisno
sentido depromoverem
reformas estruturaisem
suas economias, visando
um
irnperioso ajuste fiscal paraum
eficientecombate
aos seus respectivos orçamentos deficitários.Por
outro lado, efetivamente, o processode
integração,na
Europa, caracterizou-se poruma
relativa facilidadena
construçãoda
união aduaneira entre seusEstados-membros,
algo diversodo que
vem
ocorrendono
MERCOSUL,
onde,ainda, esse processo de integração
não
apresentauma
pauta aduaneiracomum
ensejadora de abranger a totalidadedo comércio
de mercadorias. Contrariamente aUnião
Européia, oMERCOSUL
ainda depara-secom
barreiras comerciais entre seus própriosEstados-membros.
De
acordocom MATHIJSEN,
com
o TratadoCEE,
todos os direitos aduaneiro existentesforam
eliminados, propiciandoassim
a PautaAduaneira
Comum
(PAC),
irnprescindível para qualquermercado
comum.
O
mesmo
autor enfatiza:
“Embora
uma
união aduaneira propriamente dita se lirnite à abolição das barreiras alfandegáriasno
seu interior e a criação deuma
pauta exteriorcomum,
a liberação
do
comércio entre os EstadosMembros
poderia ser prejudicada se fosse possível limitar, de qualquermodo,
a quantidade de produtos que atravessam asfronteiras entre Estados.
Por
isso, o TratadoCEE
estabeleceu a eliminação deequivalente”15.
Aliás,
como
adiante será abordado, fatorescomo
proibiçõesde
restrições quantitativas à importação e à pauta aduaneiracomum,
são vitais para a livrecirculação de mercadorias dentro
da
Comunidade.
No
contextodo
Mercado
Comum
do
Sul, contraditoriamente, observa-se, entre seusEstados-membros,
um
finne
propósito de assegurar a liberdadeno
comércio intra-comunitário,porém
com
visíveis restrições a produtos importados, inibindo,
por
conseguinte, a circulaçãode
mercadorias.
Obviamente,
qualquer paralelo entre aUnião
Européia
eo
MERCOSUL
requer a observância deque na
Europa, a união aduaneiraque
assegurou seu inicial
mercado
comum,
foi ele construído progressivamenteem
um
largo período de 1958 a 199316, afirn
deaçambarcar
todos os seus Estados-membros.
O MERCOSUL
contudo, obrigatoriamente, teráque
superar suasbarreiras comerciais intemas, agilizar sua união aduaneira, para
enfim
adentrarna
etapa final demercado comum,
em
um
prazobem
menor
do
que a integração européia,não
só pelo seu reduzidonúmero
deEstados-membros
(em
relação à Europa), mas, principahnente, por urna questão de sobrevivência econômica.Nunca
é
demais
enfatizar, que a força motrizda União
Européia foi abusca
comum
para oexpansionismo protecionista europeu;
ao
contrárioda
uniãodo
Cone
Sul, cuja forçamotriz consiste
na
buscacomum
de defesas para aseconomias de
seus paísesintegrantes contra o protecionismo
não
só europeu,mas
sobretudo norte-americano.A
sobrevivênciaeconômica dos
países signatáriosdo
Tratado deAssunção,
depende
e dependeráda
irreversibilidadedo
projeto de integração,como também
da
dimensão
social dessa integração.O MERCOSUL
não pode
fortalecer as grandesempresas multinacionais
em
detrimento daspequenas
emédias
indústrias de seus países-membros.Em
que
pese o fortalecimento das corporações transnacionais atravésdo
fenômeno
da globalização, oMERCOSUL
só vingará, caso sirva de realsustentáculo para o desenvolvimento
econômico
de seusEstados-membros, o que
consiste
na
observânciada
rniserabilidade de seuspovos
ena
pauperizaçãode
suas economias. Preambularmente, o Tratado consignaque
a ampliação das atuais15 1vrArH1JsEN,P.
s. F. R. opta., p. 209-211.
dimensões
de seusmercados
nacionais, atravésda
integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimentoeconômico
com
justiça social.
Convencidos da
necessidade depromover
o desenvolvimentocientifico e tecnológico dos Estados Partes e de
modernizar
suaseconomias
para ampliar a oferta e a qualidade dosbens
de serviço disponíveis, a firnde melhorar
as condições de vida de seus habitantes.Ditos propósitos, a
serem
atingidos peloMERCOSUL,
exigem
esforços contínuos deharmonização
das políticas nacionais dosEstados-membros,
os quais apresentamum
mesmo
quadro
de subdesenvolvimento,em
quepesem
suas divergências.No
dizer deALMEIDA:
“É
certo,por
exemplo,que
as estruturas fiscais, os custos energéticosou
as políticas nacionais de estímulo às atividadesindustriais e agropecuárias,
por
exemplo, aindadivergem muito
em
cada
um
dos países-membros,mas
a suaharmonização
substantiva constitui precisamenteuma
das principais tarefas aque
estão voltados alguns dos grupos técnicos de trabalho subordinados aoGrupo Mercado
Comum”".
O
trabalho nesse âmbitovem
sendo
conduzido
deforma
séria eda maneira
transparente para a sociedade e para ossetores
econômicos
envolvidosna
reestruturação integracionalista.A
perspectivade
um
mercado
verdadeiramentecomum
no
cone sul exige,em
face da situação
econômica
de seus países-membros, políticascomuns
bem
mais
abrangentes
do que o
modelo
de integração européia.As
demandas
sócio-econômicas
dos signatáriosdo
MERCOSUL
são infinitamentemais
contrmdentes eemergentes
em
relação aos paises europeus. Sobretudo,no
trato das legislaçõesvigentes, o
mercado
comum
sul-americano carece deum
processo deharmonização
célere e audacioso, sobpena
de se solapar os alicercesda
integração.Notadamente,
os fatores
da
livre circulação de mercadorias e de pessoas, enquanto frmdamentaisàs
chamadas
liberdades frmdamentais-
sustentáculosdo mercado
comum
-
requerem
urnaabordagem
mais
valorativa,menos
burocrática por parte dos Estadosintegrantes
do
MERCOSUL,
onde
aharmonização
deve ser a tônica principal. Estaharmonização
deverá cingir-sena busca
incessante deum
direitocomum,
não
17
ALMEIDA,
Paulo Robertounificado;
porém
harmonioso
entre si.De
acordocom PABST,
antesdos
processosintegrativos de hoje, havia a aspiração à tutiformização
do
`direito,em
faceda
facilidade
que
talprocedimento
proporcionaria às sociedadeshumanas.
Enfatiza esse autor: “Pelamera
adoção
uniforme de princípios geraisou
de
pontos essenciaisde
determinada relação jurídica, sendo ocaminho da harmonização mais adequado
para atingir a uniformidade, ainda
que
parcial, suas,sem
dúvida,no
seu aspecto ftm‹1zmomz1”**.Embora
oMERCOSUL
aindanão
apresenteuma
estrutura orgânica compatívelcom
um
direito supranacional, a tendência éo
direcionamento dasdiretrizes concernentes à “liberdade fundamental”,
no
sentidoda
viabilizaçãopreemente
deum
direitocomum
entre seusEstados-membros,
tantono
tocante àlivre circulação de mercadorias e de pessoas quanto à liberdade de estabelecimento e a de prestação de serviços e liberdade de capitais.
À
respeitodo
atual estágiodo
MERCOSUL,
DEL°OMO
enfatizaque
“Os
desafios
de seusproblemas
edificuldades são enormes.
Suas
superaçõesvem
sendobuscada
e acada
dia se evidenciamais
próxima. Sente-se,no desenho do
MERCOSUL,
um
climade
obstinado desejo integração
dos povos da América
Latina, seguindoo
exemplo
~ e
invocado
da Uniao
Européia (...) °l9.1.3.
A
Abrangência da
Livre Circulação
Como
já evidenciado, a conttmdênciado
processo integrativona
construçãode
um
mercado
comum
pressupõe a plenitude daschamadas
liberdadesfundamentais.
No
dizer deCARVALHO:
“Para se atingir o estágiomais
pertoda
perfeição
não
é necessário apenasque
as trocas comerciais_
subtendendo-se aqui,as mercadorias
-
sejam liberalizadas,mas
exige-setambém
a liberalizaçãodos
movimentos
de capital eda
circulação de trabalhadores-
factoresde produção
+
1* PABsT,Haro1ôo.
MERCOSUL:
direito no imogrzçâo, p. 20.19
DEL°OMO,
Florisval de Souza.O
MERCOSUL
e a nacionalidade: estudo à Luz do Direitobem
assimcomo
garantirque
os profissionais liberais e asempresas
possam
estabelecer-se noutros países, prestando aí os seus serviços”2°.
O
mesmo
autor enfatiza a “concorrência saudávelassim
estabelecida, o cidadãocomum
terá tudo aganhar
e, desta forma,o
Estadopode
optimizar os seus recursos c elevar o seuProduto Nacional, conduzindo, muitas vezes, a
um
maior
equilibrioda Balança de
Planejamentos”21.
Observa-se que, o desenvolvimento
do
mercado
comum
e a plena integraçãoeconômica
deve objetivarum
aumento
do
Produto Nacional,promovendo
uma
substancial melhoria
nos
níveis de vida das populações dos Estado-partes.O
espelho europeu, evidenciaque
a legitimidadeda
integraçãoemerge da
totalliberdade de trocas de mercadorias e
culmina
na
transnacionalização dasdemandas
societárias, algo inevitável
com
a circulação de pessoas.Ainda,
conforme
CARVALHO,
“(...)quando
as caracteristicasda
união aduaneira for adicionada à livre circulação dos fatores de proteção,nomeadamente
trabalho e capital, entra-seno
estágioda
integração econômica,conhecido
por
Mercado Comum”22.
Embora
a transposiçãoda
etapameramente
de trocas comerciais para ulterioradicionamento dos fatores trabalho-capital, seja lenta e gradual,
especificamente
na
integração
do
Cone
Sul, observa-seum
aceleramentobem
mais
contimdenteem
relação ao
modelo
europeu,na
edificação de todas as liberdadesfimdamentais.
Istoporque,
no
casodo
MERCOSUL,
sobretudo após 1995,há
uma
preocupação muito
grande,
nos meios
institucionais e acadêmicos, quanto à percepção deque
a livrecirculação,
em
seu lato sentido, sinalize evenha
adquirir urna conotaçãocada vez
mais
social e voltada ao fatorhumano.
Ora, qualquer percepção social
do
MERCOSUL
exigeum
acelerado processo de efetivação das etapas constitutivasde
um
mercado
comum,
a saber:a)
O
fim das barreiras aduaneiras e das restrições ao intercâmbio comercial.b) Liberalização
do comércio
com
0 estabelecimento de tarifa externa2°
CARVALHO,
IsabelMam
T. circular iiwememz na Europa, p. 71.21
Idem, ibidem.
comum.
c)
A
livre circulação de pessoas, serviços, bens, mercadorias e capitais.Ao
contráriodo
fenômeno
de integraçãodo
Continente europeu,onde
as citadas etapasforam
paulatinamente construídas, sendoque
a terceira_
livrecirculação
_
só foi objetivada após0
exaurimento das duas etapas antecedentes, a integração sul-americana requeruma
imperiosa simbiose das três etapas elencadas, considerando asdemandas
de desenvolvimento social de seusEstados-membros,
infinitamente,
mais
emergentesque
a realidade dos países europeus.Efetivamente, a livre circulação de mercadorias constitui-se
no
elemento
essencial para o
impulsionamento
das outrasformas
de liberdade(movimentação
de pessoas, de serviços, capitais etc.).A
existência demn
território aduaneirocomum,
como
conseqüência deuma
tarifa aduaneiracomum,
ensejaum
livre circular debens
e serviços imprescindíveis à transição integrativa, resguardando, claro, asiniciativas
econômicas
de cadaEstado-membro.
Um
dos aspectos nevrálgicosda
integração situa-seno
âmbitoda
livrecirculação de pessoas entre os Estados-partes. Espelhando-se
na
União
Européia, distingue-se os trabalhadores assalariados das pessoasque exercem
atividadespor
conta de
outrem
e trabalhadores independentes.Segrmdo
MATHIJSEN,
a livrecirculação de trabalhadores baseia-se
no
princípioda
não-discriminaçãoem
razãoda
nacionalidade, enquantoque
a liberdade dos nacionais dosEstados-membros
dese deslocarem
no
interiorda
Comunidade
é, por via de regra, garantida pelo direitode estabelecimento e pela livre prestação de serviços”.
A
preocupaçãomaior
para os signatáriosdo
Tratado deRoma
foi etem
sido as condições discriminatórias deemprego
e trabalho relativamente aos estrangeiros, sobretudo hoje,em
que
aEuropa
enfrenta
profimda
crise de desemprego,aflorando movimentos
radicais de xenofobia, oque pode comprometer
as diretrizesda
sua união. Tal preocupação,obviamente
se faz presentena
atualemergência da
livre circulação de pessoasno
MERCOSUL,
o qualdeve
buscar soluções semelhantes às encontradas pelaUnião
Européia
que
estabeleceu os seguintes parâmetros:2423 MATHIJSEN, P.s.r‹¬.R. open., p.239. 24 Artigo
a)
A
livre circulação de trabalhadores abrange a possibilidade de concorrer a qualquer emprego,em
igualdade de circunstâncias,com
o trabalhadordo
Estado-membro
em
causa.b)
A
livre circulação de trabalhadores permite o deslocamentosem
qualquertipo de obstáculo
no
tenitóriocomposto
pelo conjuntodos
Estados-membros.
_c)
A
livre circulação confere o direito de residirno
Estado-membro,
onde
exerce o seu trabalho,
obedecendo
às disposições legislativas eadministrativas,
que
regem
oemprego
para os trabalhadores nacionaisdesse Estado.
d)
A
livre circulação abrange a possibilidadede
continuar a residirnum
Estado-membro
quenão
oda
sua origem, pelo fato de aí ter exercido a suaatividade profissional.
A
integraçãodo
Cone
Sul, ao adentrarna
sua etapa demercado
comum
deverá optar pelo livre acesso ao
emprego
e ao direito a qualquer atividade assalariada por parte dos nacionais deum
Estado-membro
em
relação ao outro.A
livre circulação de trabalhadores é
um
processo irreversível para a construçãode
qualquer
mercado
comum,
esse sim,um
dos propósitosdo
referido Tratadoem
seuartigo 1°.
O
apelo à eliminação de qualquer postura discriminatória,como
prenunciado
pelo
MERCOSUL,
deverá obedecer a parâmetros rígidos quanto à observânciados
fatores
humanos.
EnsinaCARVALHO:
“Quando
se falaem
factoresde produção
há, logicarnente,um
que
se salienta: o factorhumano,
vale dizer, o trabalho.Na
verdade, para transforrnar as matérias-primas
em
produtos finais prontos aserem
consumidos
é necessárionão
só a intervenção de máquinas, de instrumentosespecíficos,
mas
sobretudo a intervençãodo homem”25.
Sem
dúvidaque o
serhumano
deve ser o princípio e o firnda
existência de toda a atividadeeconômica;
e o desenvolvimento desta deve determinaro
desenvolvimentoda
sociedade edo
próprio
homem.
'Se
os fatoreshumanos
deve seruma
das fortes tônicas de qualquer processo de integração, outro aspecto desuma
relevância deve serabordado
peloMERCOSUL,
como
foi pelaUnião
Européia, qual seja, a questão previdenciária.O
Tratado
da
CEE
procurou assegurar direitos afim
deque
a livre circulaçãode
trabalhadores
não
implicasseem
perdas de garantias inerentes à segurança social.O
Tratado previu a
adoção do
seguinte sistema:a)
A
totalidade dos períodostomados
em
consideração pelas diversaslegislações nacionais dos países
em
que
o beneficiáiio tenha trabalhado, serãosomados
para o cálculodo montante
das prestações.b) Estas prestações serão pagas aos beneficiários
no
tenitóriodo
Estado-membro
onde
residam.26Estas disposições
foram
ampliadaspor inúmeros
regulamentos, tendopor
objetivo assegurar
que
os regimes de segurança social aplicáveis aos trabalhadores, seriam postosem
execução,em
cadaEstado-membro,
de acordocom
critérioscomunitários. Arnpliando a
dimensão
desse critério,em
julho de 1982, as regrasconcementes
à segurança socialforam
ampliadas para os trabalhadoresindependentes, facilitando o direito de estabelecimento e de livre prestação de
serviços.
No
que
se refere aos trabalhadoresnão
assalariadosou
independentes,o
processo integrativo europeu estabeleceu parâmetros abalizados
no
tocante à livrecirculação.
Notadamente nos
dias atuais,em
que
a globalizaçãoeconômica produz
uma
crescente escassez de oferta de trabalho, oschamados
prestadoresde
serviçosse multiplicam e
cumprem
um
papelcada vez mais
relevante para aexpansão
econômica.
No
Continenteeuropeu
observa-seum
acelerado e irremediávelmovimento
de pessoas,em
especial profissionais liberais,que
buscam
condiçõesde
trabalho
em
paises vizinhos.Conseqüentemente,
qualquer pauta integrativa requeruma
especial atenção ao “direito de estabelecimento” e “se1viços”, termos e classificaçõesestampados
no
Tratadoque
originou aUnião
Européia”.A
liberdade de estabelecimento consisteno
direitoda
pessoa fisica ter acessozf Artigo 51, do Tratado da CEE.
2' Artigos 52 z óó,
e
poder
exercitar atividadeseconômicas
independentes (não assalariadas)em
outropaís. Já a prestação de serviços refere-se a
um
direito atribuído aos nacionais deum
Estado-membro, que
seencontram
trabalhandoem
outro Estadoonde
reside obeneficiário de seus serviços. Há,
conforme
entendimento deMATI-IIJSEN,
uma
similitude entre as duas situações: “(...)
da
mesma
forma'que
em
relação à livrecirculação de trabalhadores, o Tratado
(CEE)
apenas dispõeque
os cidadãos deum
EstadoMembro,
estabelecidos noutro EstadoMembro
afim
de
aí prosseguiremactividades
econômicas
ou
para prestarem serviços nesse Estadodevem
ser tratadoscomo
nacionais desse EstadoMembro”
28.Mais
uma
vez, observa-se apreocupação
dos signatáriosdo
Tratado Comunitário,com
relação à eliminação de quaisquer iniciativas discriminalizadoras e outras restrições, observadas, é claro, as peculiaridades de cada profissão.Os
profissionais liberais,por
exemplo, paraque
possam
exercer suas atividadesem
outros países (integrantesda
União), necessitam deuma
convalidação de seusregistros, títulos e diplomas, por parte
do
Estado sobreo
qual recai sua atividadelaborativa.
Ainda
em
observância aCEE,
o aspectofimdamental
para qualquer processointegrativo, é
o
fato deque
a liberdade ao direito de estabelecimentotambém
seestenda às pessoas jurídicas, desde
que
em
consonânciacom
a legislaçãode
um
Estado-membro,
eque
tenham
sede socialno
interiorda Comunidade.
Portanto, aliberdade de estabelecimento possibilita,
sem
qualquer restrição,o
plenofimcionamento
das sociedades mercantissem
discriminação de nacionalidade.Em
faceda semelhança
entre os institutos e,como
a liberdade deestabelecimento é condicionante para a liberdade de prestação de serviços, vários dispositivos constantes
do
Tratadoda
CEE,
referentes à liberdade de estabelecimento, aplicam-setambém
aos serviços, istoporque
a prestação de serviçosbeneficia
“os cidadãos dosEstados-membros
estabelecidosnum
Estadoda
Comunidade
que
não
odo
destinatárioda
prestação”29. Assim, anotaMATHUSEN,
28 MATHIJSEN, P.S.F.R.
Op.cit., p.238. Ver para o asstmto da livre circulação de pessoas:
JAEGER
JR.,Augusto.
MERCOSUL
e a livre circulação de pessoas. São Paulo: LTr, 2000.29
quanto à prestação de serviços: “Este direito consiste
na
possibilidade de exercer temporáriamente actividadesno
Estadoonde
a prestação é realizada nasmesmas
condiçõesque
esse Estadoimpõe
aos seus nacionais.O
direito de prestaçãode
serviços implica
também
a liberdade de acesso ao território de outro Estadomembro
por partedo
beneficiário dos serviçossem
que
essa liberdade possa ser restringida por outras limitações impostas,por
exemplo, à transferência de pagamentos”3°.O
Tratadoda
CEE
evidencia exceções à liberdade de estabelecimento eserviços.
As
restrições se aplicam às atividades relacionadascom
o setor público.Os
Estados-membros
podem
dispor de leis enormas
regulamentares eadministrativas
que prevejam
regimes especiais para os estrangeiros,em
virtudede
ordem, interna segurança e saúde pública.
Assim mesmo,
tais exceçõesdevem
serjustificadas
no
âmbitoda
Comunidade,
parâmetrostambém
aplicados aos prestadores de serviços.O
artigo 48, n° 3,do
Tratado deRoma,
enfatizaque
a livrecirculação de trabalhadores (assalariado
ou
não)não
podem
ser entendidos senão“(...) sob reserva das limitações justificadas por razões -de
ordem
pública,de
segurança pública e de saúde pública”.
No
dizer deCARVALHO:
“Ordem
pública, aqui entendidaem
sentido lato, constituiuma
cláusula de salvaguardada
soberar1ia”3 1.
Há, portanto, nessas exceções,
uma
reafirmação
deque
a integraçãonão
pode
enão
tem
a condição de solapar a soberania dosEstados-membros;
oque
não
inviabiliza
hannonizações
legislativas entre osEstados-membros no
tratoda
coisapública. Aliás, releva notar
que
nenhuma
integração econôrnica,onde
possibilita-sea livre circulação de
bens
e pessoas particulares,pode
ou
deve se sobrepor aosinteresses públicos, os quais, ao
menos
teoricamente, exteriorizam os anseios das populações dosEstados-membros.
Como
conseqüênciada
livre circulação de pessoas, outra liberdade éenfocadas pelo Tratado de
Roma:
a livre circulação de capitais, econseqüentemente, a livre circulação de pagamentos.
No
tocante a essa liberdade,há
na
União
Européiauma
preocupação
no
sentido de minimizarao
máximo
as3° MATH1JsEN,r>.s.F.R. open., p. 247.
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